Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Estado e Construção Do Código Disciplinar Da Didática Da História PDF
Estado e Construção Do Código Disciplinar Da Didática Da História PDF
709
Resumo:
Estudos e investigações que tomam os manuais como objeto de análise vêm sendo
realizados sob diferentes perspectivas. Este trabalho insere-se nessa tradição de
pesquisa, mas também parte do pressuposto da existência da Didática da História
como disciplina escolar produzida no interior dos cursos de formação de professores
e, assim, buscou entender a construção do seu “código disciplinar” em determinado
momento da sociedade brasileira. O conceito de “código disciplinar” (FERNÁNDEZ
CUESTA, 1998) enfatiza a importância dos manuais como elementos fundamentais
na construção das disciplinas escolares e permite apreendê-los em relação com os
modos de educar da sociedade em que foram produzidos. O período analisado
situa-se entre as décadas de 1940 e 1970 e mostrou o Estado ocupando um lugar de
destaque na produção de manuais destinados à formação de professores de História,
editados principalmente pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) e
Campanha de Desenvolvimento da Escola Secundária (CADES). Em sua maioria,
esses manuais foram produzidos por docentes que ensinavam disciplinas relacionadas
ao ensino de História em escolas de formação de professores (cursos de licenciatura
e escola Normal), o que é um indício da existência da Didática da História como
disciplina escolar e dos modos de educar historicamente no período analisado.
Palavras-chave: História-Estudo e ensino. Didática.
Faz-se necessário observar que, das obras brasileiras, três delas foram
publicadas no período do governo democrático do presidente João Goulart
(1961-64), apenas duas, das obras identificadas, pertencem ao período da
Ditadura Militar (1964-84). Foi o regime militar, no governo do general
Emilio Garrastazu Médici (1969-1974), que impôs uma reforma de ensino,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira no 5.692, de 1971, pela
qual o ensino de Estudos Sociais foi compulsoriamente tornado obrigatório
e estendido para as oito séries do então Primeiro Grau.
Considerações finais
O Parecer 853/71 (BRASIL, 1972), imposto pelo Conselho Federal
de Educação, fixou o núcleo comum obrigatório para os currículos do 1o
e 2o graus. A doutrina do Currículo da Lei n. 5692/71 (BRASIL,1972)
impõe os Estudos Sociais como matéria. Desta forma, os conteúdos
poderiam ser tratados como Atividades (1a a 4a série do Primeiro Grau
sob o nome de Integração Social); Áreas de Estudo (5a a 8a série Primeiro
Grau sob o nome de Estudos Sociais) e Disciplina – História (somente no
2o Grau). Como se pode observar, o ensino de História ficou restrito ao
Segundo Grau, inserido na grade curricular com carga horária máxima de
duas horas semanais, durante um ano deste curso.
A obrigatoriedade do ensino de Estudos Sociais percorreu todo o
período da Ditadura Militar Brasileira (1964-1984), período em que,
principalmente os professores e profissionais da História, foram objeto
de perseguições e censuras. A imposição dos Estudos Sociais foi
acompanhada de um grande movimento de resistência e luta pela volta do
ensino de História nas escolas brasileiras, configurando um novo momento
na construção do código disciplinar da Didática da História.
Notas
1 Os trabalhos de Jorn Rüsen (1987) e Henri Moniot (2001) têm sido
referência nessa área.
2 Para os conceitos indicados cf. Chevallard (2000) e Chervel (1990).
3 Sobre a Biblioteca de Educação e o trabalho de Lourenço Filho cf.
Monarcha (1997).
4 Das obras sobre Estudos Sociais que foram identificadas para o perío-
do, apenas esta foi publicada por editoras privadas, as outras são pu-
blicações de órgãos do próprio Ministério da Educação.
Referências
ABUD, Kátia. O ensino de História como fator de coesão nacional: os
programas de 1931. Revista Brasileira de História, São Paulo, n. 25/26, p.
163-174, 1993. Dossiê: Memória, História, Historiografia.
AMADO, Gildásio. [Apresentação]. Revista Escola Secundária, Rio de
Janeiro, n. 1, p. 5, jun. 1957.
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Um objeto variável e instável: texto,
impressos e livros didáticos. In. ABREU, Márcia (Org.). Leituras, história e
história da leitura. Campinas: Mercado de Letras, 2000. p. 529-575
BRASIL. Ministério da Educação. Habilitações profissionais no ensino
de 2o Grau: diretrizes, normas, legislação. Brasília: Editora Expressão e
Cultura, 1972.
BRIAND, J. P.; CHAPOULIE, J. M. L’institution scolaire et la
scolarization: une perspective d’ensemble. Revue Française du Sociologie,
Paris, n. XXXIV, p. 3-42, 1993.
CAMPANHA de Desenvolvimento da Escola Secundária – CADES.
Revista Escola Secundária, Rio de Janeiro, v.1/19; jun.1957/dez.1963.
CASTRO, Josephina; GAUDENZI, Silva. Estudos sociais na escola primária.
Rio de Janeiro: MEC/INEP, 1964.
CHERVEL, A. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um
campo de pesquisa. Revista Teoria & Educação, Porto Alegre, n. 2, p.17-
227, 1990.
CHEVALLARD, Yves. La transposición didáctica: del saber sabio al saber
enseñado. Buenos Aires: Aique, 2000.
COUSINET, Roger. L’enseignement de l’Histoire et l ‘education nouvelle. Paris:
Les presses d’ile de France, 1950.
Abstract: Resumen:
Studies and research that analyze Estudios e investigaciones que utilizan
manuals have been conducted from a los manuales como objeto de análisis
variety of perspectives. This project falls vienen siendo realizados sobre diferentes
into this research tradition and is based perspectivas. El presente trabajo se
on the presupposition of the existence encuentra en esa tradición de
of a Didactic of History as a school investigación, partiendo del presupuesto
subject produced within teacher de la existencia de la Didáctica de la
training courses. The paper thus seeks Historia como una disciplina escolar
to understand the construction of their producida en el interior de los cursos de
“subject code” at a given moment of formación de profesores, buscando
Brazilian society. The concept of a entender la construcción de su “código
“subject code” (FERNANDEZ disciplinar” en un momento
CUESTA, 1998) emphasizes the determinado de la sociedad brasilera. El
importance of manuals as basic concepto “código disciplinar”
elements in the construction of school (FERNANDEZ CUESTA, 1998)
subjects, and allows understanding enfatiza la importancia de los manuales
them in relation to the modes of como elementos fundamentales en la
construcción de las disciplinas escolares y
educating in the society in which they
permite comprenderlas en relación a los
were produced. The period analyzed
modos de educar la sociedad en que
extends from the 1940’s – 1970’s and
fueron producidos. El período analizado
shows the State occupying a prominent
se sitúa entre las décadas de 1941 y 1970,
place in the production of manuals
mostrando un lugar de destaque por
aimed at the training of History
parte del Estado en la producción de
teachers. They were published
manuales destinados a la formación de
principally by INEP and CADES.
profesores en historia, editados
Most of these manuals were produced principalmente por el INEP y CADES.
by teachers who taught courses related Esos manuales, en su mayoría, eran
to teaching History in teacher training producidos por docentes que enseñaban
schools (teaching colleges and Normal disciplinas relacionadas a la enseñanza de
schools), which is an indication of the la historia en las escuelas de formación
existence of the teaching of History as de profesores (Profesorados y Escuela
a school subject and of the historic Normal), indicando en el período