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Volume 4
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I
Ilhéus, 2012
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Universidade Estadual de
Santa Cruz
Reitora
Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Vice-reitor
Prof. Evandro Sena Freire
Pró-reitor de Graduação
Prof. Elias Lins Guimarães
Ministério da
Educação
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Letras Vernáculas | Módulo 4 | Volume 4 . Literatura de Língua Portuguesa -
História, Sociedade e Cultura
1ª edição | Junlo de 2012 | 462 exemplares
Copyright by EAD-UAB/UESC
Capa
Sheylla Tomás Silva
Impressão e acabamento
JM Gráfica e Editora
Ficha Catalográfica
ISBN: 978-85-7455-283-5
CDD 869.09
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EAD . UAB|UESC
Coordenação UAB – UESC
Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado
Elaboração de Conteúdo
Profª. Drª. Inara de Oliveira Rodrigues
Prof. Dr. Paulo Roberto Alves dos Santos
Instrucional Design
Profª. Ma. Marileide dos Santos de Oliveira
Profª. Ma. Cibele Cristina Barbosa Costa
Profª. Ma. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes
Revisão
Prof. Me. Roberto Santos de Carvalho
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PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS
PARA CONHECER
SAIBA MAIS
Aqui você terá acesso a informações que complementam seus
estudos a respeito do tema abordado. São apresentados
trechos de textos ou indicações que contribuem para o apro-
fundamento de seus estudos.
VERBETE
Significado ou referência de uma palavra utilizada no texto
que seja importante para sua compreensão.
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DISCIPLINA
EMENTA
Estudo das Literaturas de Língua Portuguesa a
partir da análise crítico-reflexiva de autores e
obras singulares e fundamentais.
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OS AUTORES
Inara de Oliveira Rodrigues
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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Bom trabalho!
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SUMÁRIO
UNIDADE 1
AULA 1 - PORTUGAL: PRÁTICA, CULTURA E LÍNGUA
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................17
2 A FORMAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS ............................................................................18
2.1 A Idade Média: definição de território e organização de um Estado..............................18
2.2 As atividades econômicas ......................................................................................22
2.3 A formação cultural de Portugal ..............................................................................23
3 A LÍNGUA PORTUGUESA .................................................................................................27
ATIVIDADES .............................................................................................................32
RESUMINDO .............................................................................................................36
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................37
AULA 3 - O HUMANISMO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................69
2 O HUMANISMO EM PORTUGAL .........................................................................................69
2.1 As mudanças: do ensino à percepção do mundo .....................................................69
2.2 As crônicas de Fernão Lopes ................................................................................74
3 GIL VICENTE: O VELHO E O NOVO COMO PRENÚNCIO DE OUTRA ERA ..................................79
3.1 O teatro medieval português ................................................................................79
3.2 O teatro de Gil Vicente ........................................................................................81
ATIVIDADES ............................................................................................................92
RESUMINDO ............................................................................................................93
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................93
AULA 4 - O RENASCIMENTO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................99
2 O RENASCIMENTO EM PORTUGAL ....................................................................................99
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3 A POESIA LÍRICA DE LUÍS DE CAMÕES ........................................................................... 102
4 A POESIA ÉPICA DE CAMÕES ........................................................................................ 108
4.1 Os Lusíadas ..................................................................................................... 112
4.1.2 A estrutura da epopeia camoniana ............................................................. 116
5 O LEGADO DE OS LUSÍADAS ......................................................................................... 121
6 QUADROS-SÍNTESE DE OS LUSÍADAS ............................................................................ 122
ATIVIDADES .......................................................................................................... 123
RESUMINDO .......................................................................................................... 126
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 126
UNIDADE 2
AULA 6 - ACORDES ÁRCADES E ECOS CAMONIANOS NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 163
2 ECOS DE CAMÕES NAS MONTANHAS MINEIRAS ............................................................... 164
3 HERANÇA DE CLÁUDIO MANUEL: O PARDO DE VERGONHAS DESCOBERTAS COMO HERÓI ..... 171
3.1 Basílio da Gama: criador de belas imagens do índio e da natureza ............................ 172
3.2 Santa Rita Durão: conhecimento sobre a vida do índio ............................................ 178
3.3 Os fundadores do indianismo ............................................................................... 186
ATIVIDADES .......................................................................................................... 190
RESUMINDO .......................................................................................................... 191
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 192
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2.2.4 Como se formaram os atuais sistemas literários dos PALOP? .......................... 208
3 DA ÉPOCA COLONIAL AOS ANOS DE 1960 ...................................................................... 210
3.1 Cabo Verde ...................................................................................................... 210
3.2 São Tomé e Príncipe .......................................................................................... 212
3.3 Angola ............................................................................................................ 215
3.4 Moçambique .................................................................................................... 217
3.5 Guiné-Bissau ................................................................................................... 220
ATIVIDADES .......................................................................................................... 222
RESUMINDO .......................................................................................................... 227
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 227
UNIDADE 3
AULA 8 - O ROMANTISMO E A AFIRMAÇÃO DA NACIONALIDADE
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 233
2 NOVOS CONTEXTOS, NOVAS HISTÓRIAS ........................................................................ 233
3 A ESTÉTICA ROMÂNTICA EM PORTUGAL ......................................................................... 236
3.1 A prosa de Almeida Garrett ................................................................................ 236
3.2 Outros autores relevantes .................................................................................. 243
4 O ROMANTISMO NO BRASIL ......................................................................................... 247
4.1 José de Alencar e a atualidade do passado ........................................................... 252
ATIVIDADES .......................................................................................................... 257
RESUMINDO .......................................................................................................... 266
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 266
AULA 10 - MODERNISMOS
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 309
2 DO SÉCULO XIX AO XX: TRANSFORMAÇÕES E DESAFIOS ................................................. 310
3 OS MODERNISMOS ...................................................................................................... 311
3.1 O grupo Orpheu: heranças e rupturas ................................................................... 311
3.1.1 A poética de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro................................... 319
3.2 A antropofagia brasileira: para além da Semana de 22 ............................................ 326
ATIVIDADES .......................................................................................................... 333
RESUMINDO .......................................................................................................... 337
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REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 339
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1ª
unidade
AULA 1
PORTUGAL: PRÁTICA,
CULTURA E LÍNGUA
OBJETIVOS
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Portugal: prática, cultura e língua
1Unidade 1 . Aula
1 INTRODUÇÃO
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Portugal: prática, cultura e língua
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co preciso que, no latim da Igreja, Deus é
Unidade 1 . Aula
Pai, isto é, senhor do universo e dos exér-
citos celestes. É também essa a origem da
expressão jurídica‘pátrio poder’, para re-
ferir-se ao poder legal do pai sobre filhos,
esposa e dependentes (escravos, servos,
parentes pobres). Se ‘patrimônio’ é o que
pertence ao pai, ‘patrício’ é o que possui
um pai nobre e livre, e ‘patriarca’ é a socie-
dade estruturada segundo o poder do pai.
Esses termos designavam a divisão social
das classes em que patrícios eram os se-
nhores da terra e dos escravos, formando
o Senado romano, e povo eram os homens
livres plebeus, representados no Senado
pelo tribuno da plebe (CHAUÍ).
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Portugal: prática, cultura e língua
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que vigorou em Portugal e na Europa até o século XIV.
Unidade 1 . Aula
A explicação das ações do homem como consequência
da intervenção de forças divinas revela a ignorância em relação
ao pensamento lógico e racional, bem como estimulava as
práticas religiosas e a busca de santificação, com a pregação
do amor e da humildade. A convergência de interesses
fez com que Igreja e nobreza agissem conjuntamente no
controle do conhecimento e, assim, formavam o único
segmento com domínio da escrita e da leitura, por isso
somente os indivíduos oriundos dessas duas classes tinham
acesso à cultura letrada.
O conhecimento escrito se restringia ao âmbito
dos mosteiros e circulava em latim, a língua de todo o
mundo cristão, porque estava acima dos reinos, mas escrita
Figura 1.1.2 - Copistas
e falada unicamente por quem tinha estudo. Os clérigos Fonte: http://sumateologica.files.
wordpress.com/2011/02/monge_
exerciam a função de difusão da fé e do ensino das práticas escriba_medieval.jpg
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Portugal: prática, cultura e língua
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começou a se submeter aos desígnios do mercador, criando
Unidade 1 . Aula
outro problema: o aumento de preços. O comprador
estipulava o valor do produto, tomando por referência a
cotação externa, incluindo amplas margens para cobrir os
riscos do transporte marítimo e o lucro do mercador. O
produtor, por sua vez, via-se forçado a baratear seu produto
e a aviltar a mão de obra.
A mais-valia da agricultura ficava com o homem da
cidade, aquele que não tinha ação direta no cultivo, dando
origem a um capitalismo urbano de raiz rural, com reflexos
na estrutura social (ABDALA JÚNIOR; PASCHOALIN,
1990). No embate entre esses dois grupos, prevaleceu a
posição de quem defendia a atividade mercantil externa,
como se percebe pelo ciclo das grandes navegações dos
séculos XV e XVI. Mais adiante, quando estudarmos Os
Lusíadas, veremos que Camões abordou o problema,
representado, principalmente, no episódio do “Velho do
Restelo”, uma das passagens significativas da obra.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
saiba mais
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Portugal: prática, cultura e língua
1
cultura escrita se restringia praticamente ao clero e à nobreza.
Unidade 1 . Aula
A reprodução de cópias de livros em folhas de pergaminho
era demorada e cara e exigia condições de trabalho existentes
apenas nos conventos. Assim, a escrita permanecia como
veículo secundário de transmissão cultural que se dava
prioritariamente pela oralidade, pelos jograis, pelos cantores
e músicos ambulantes. A divulgação ocorria nas feiras, nos
castelos, nas cidades, por meio de um repertório musical e
literário.
A cultura escrita permanecia em poder dos padres
e, pelas razões mencionadas anteriormente, eles faziam
a mediação entre o saber dos livros e o saber popular.
Surgiram, assim, duas literaturas – a escrita e a oral –
apresentando características e especificidades distintas.
Os livros reproduzidos nos conventos destinavam-se à
preparação dos clérigos e ao serviço religioso, consistindo
basicamente de obras de devoção e tratados escritos em
latim. A literatura oral dos jograis tinha como alvo o público
iletrado composto por vilões, burgueses e parte da nobreza.
Seu conteúdo tomava como inspiração a vida e o interesse
desse público, consistindo em poemas e narrativas na forma
de verso (SARAIVA, 1996).
A morosidade e o preço elevado das reproduções
de cópias manuscritas de livros impediam a disseminação
mais ampla da cultura escrita, restringindo-a aos religiosos,
tanto que a palavra clérigo se tornou sinônimo de letrado.
Em contrapartida, a cultura transmitida oralmente fixava os
padrões de vida, a visão de mundo, os princípios e valores
éticos, o patrimônio literário e a sabedoria popular.
A expressão característica do Feudalismo na literatura
foram os cantares épicos, como os dos Nibelungos, os
da mitologia nórdica, as canções de gesta francesas. Na
Península Ibérica, o interesse pela literatura heroica se
manteve por mais tempo em razão da longa duração da
mentalidade belicosa, estimulada pelas lutas contra os árabes.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
saiba mais
As epopeias medievais, ou canções de gesta, são longos poemas, em versos de oito, dez
ou doze sílabas, reunidos em estrofes de extensão desigual, cada uma delas terminando por
assonância numa vogal, em vez de rima. Era cantada diante de um auditório acompanhada
de um instrumento de cordas semelhante à viola.
O termo gesta é um neutro plural latino que significa “coisas feitas”, mas, posteriormente,
tornou-se um feminino singular com o sentido de “história”. Trata-se de um poema ou
conjunto de poemas cujos temas referem-se a um mesmo grupo de eventos lendários ou
de protagonistas. O assunto se desenvolve em torno de personagem ou acontecimento real,
modificado pela lenda e pela transmissão oral, o que se atesta pelas inúmeras versões de
cada história.
Os acontecimentos se dão na Alta Idade Média com invasões e lutas pela conquista de
territórios. Inicialmente as histórias são contadas oralmente e, depois, escritas em versos, e
ganham versões em prosa após alguns séculos. Entretanto, não devemos considerar, nesse
gênero, a oposição verso/prosa, pois ela não havia naquele tempo, quando toda literatura,
narrativa ou não, era feita em versos. As epopeias medievais exaltam as proezas de um herói,
num período em que os estados nacionais ainda estão em formação. Mostram um mundo
masculino, de batalhas, lutas por poder e combates a serviço de Deus. Há três grandes
epopeias desta época: a Canção de Rolando, francesa; o Cantar de Mio Cid, espanhola e
Canção dos Nibelungos, germânica.
para conhecer
O Cantar de Mio Cid trata dos feitos de Ruy Diaz de Vivar ou Rodrigo Diaz de Vivar, que
esteve à frente de lutas ocorridas na Península Ibérica, no século XI, contra a autoridade do
rei. O poema se compõe de mais de 3700 versos, distribuídos em estrofes irregulares.
A Canção de Rolando narra o heroísmo do conde Rolando, sobrinho de Carlos Magno, que
morre na batalha de Roncesvales, ocorrida no século VIII. Alguns fatos e personalidades
históricos sofrem alterações, adequando-se ao ambiente do século XI, época em que o poema
apareceu e que também foi o período das Cruzadas e da reconquista da Península Ibérica
pelos cristãos.
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Portugal: prática, cultura e língua
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contrastando com o sentimento hierárquico e rude das canções
Unidade 1 . Aula
de gesta, cuja temática remetia aos horrores dos combates,
existia a poesia lírica, de origem provençal. A Provença,
região situada ao sul da França, teve papel comercial relevante
durante o período das Cruzadas e seus trovadores serviram de
modelo para a poesia medieval posterior. De conformação mais
individualizada, essas poesias tematizam, entre outros assuntos
da época, a superação da distância social pelo amor, a transposição
das relações políticas entre as classes pela vassalagem para o
plano da submissão amorosa do amante, a descrição da mulher
como objeto amoroso, marcado pela delicadeza, a sutileza e a
suavidade – um claro processo de idealização amorosa.
O surgimento e a propagação do lirismo provençal
estão vinculados ao desenvolvimento da vida cortesã, que se
concentrava nos palácios, em torno dos reis e dos nobres,
refletindo sua adaptação à vida sedentária, que exigiu a criação
de distrações como forma de ocupar o tempo ocioso.
3 A LÍNGUA PORTUGUESA
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Portugal: prática, cultura e língua
1
brasileiro se enriqueceu e, segundo Jorge Couto (citado
Unidade 1 . Aula
pela professora Rosa Virgínia no texto referido), “nos finais
de Quinhentos, a presença africana (42%) já se estendia a
todas as capitanias, ultrapassando no conjunto, qualquer
dos outros grupos – portugueses (30%) e índios (28%) -
apresentando um crescimento espetacular nas capitanias
de Pernambuco e Bahia, esta última sextuplicando seus
habitantes negros”.
Deve-se considerar, ainda, que o quadro geral do
multilinguismo de nosso país completa-se com a chegada
dos emigrantes europeus e asiáticos, sobretudo a partir do
século XIX.
Com relação ao português falado nos países
africanos e asiáticos, deve-se considerar, no caso de Angola
e Moçambique, que:
saiba mais
Os crioulos são línguas naturais, de formação rápida, criadas pela necessidade de expressão e comuni-
cação plena entre indivíduos inseridos em comunidades multilingues relativamente estáveis. Procurando
superar a pouca funcionalidade das suas línguas maternas, estes recorrem ao modelo imposto (mas
pouco acessível) da língua socialmente dominante e ao seu saber linguístico para constituir uma forma
de linguagem veicular simples, de uso restrito, mas eficaz, o pidgin, que posteriormente é gramatical-
mente complexificada e lexicalmente expandida, em particular pelas novas gerações de crianças que a
adquirem como língua materna, dando origem ao crioulo.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Chamam-se de base portuguesa os crioulos cujo léxico é, na sua maioria, de origem portuguesa. No en-
tanto, do ponto de vista gramatical, os crioulos são línguas diferenciadas e autônomas. Sendo a língua-
base aquela que dá o léxico, podemos encontrar crioulos de diferentes bases: de base inglesa (como o
Krio da Serra Leoa), de base francesa (como o crioulo das Seychelles), de base árabe (como o Kinubi de
Uganda e do Quénia) ou outra.
Os crioulos de base portuguesa são habitualmente classificados de acordo com um critério de ordem
predominantemente geográfica embora, em muitos casos, exista também uma correlação entre a locali-
zação geográfica e o tipo de línguas de substrato em presença no momento da formação.
Na África formaram-se os Crioulos da Alta Guiné (em Cabo Verde, Guiné-Bissau e Casamansa) e os do
Golfo da Guiné (em S. Tomé, Príncipe e Ano Bom). [...]
Na Ásia surgiram ainda crioulos de base portuguesa na Malásia (Malaca, Kuala Lumpur e Singapura) e
em algumas ilhas da Indonésia (Java, Flores, Ternate, Ambom, Macassar e Timor) conhecidos sob a de-
signação de Malaio-portugueses.Os crioulos Sino-portugueses são os de Macau e Hong-Kong.
Figura 1.1.5
Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/index.html. Acesso em nov. 2010.
LEGENDA:
Países ou territórios com o português como língua materna e/
ou língua oficial:
1 Crioulos da Alta Guiné; 2 Crioulos do Golfo da Guiné; 3 Crioulos
Indo-portugueses;
4 Crioulos Malaio-portugueses; 5 Crioulos Sino-portugueses; 6
Crioulos do Brasil
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Portugal: prática, cultura e língua
1
linguística que o português apresenta em todo seu grande
Unidade 1 . Aula
território, espalhado por quatro continentes. Os linguistas
divergem a respeito dessa diversidade. Para alguns, os atuais
português de Portugal (PE) e o português do Brasil (PB)
são línguas diferentes, enquanto outros, porém, constituem
variedades bastante distanciadas dentro de uma mesma língua.
No site do Instituto Camões, você pode acessar o Fórum dos
Linguistas e ampliar seus conhecimentos sobre esse tema.
atenção
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
ATIVIDADES
AT
ATIVI
IVI
IV
ATIVIDADES
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Portugal: prática, cultura e língua
Língua portuguesa
1
Olavo Bilac
Unidade 1 . Aula
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Língua
Caetano Veloso
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Portugal: prática, cultura e língua
– Você e tu
1
– Lhe amo
Unidade 1 . Aula
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar
desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais
pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem
filmes
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
livros
sites
RESUMINDO
RESUMINDO
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Portugal: prática, cultura e língua
REFERÊNCIAS
REFE
RE FER
FE
1
REFERÊNCIAS
Unidade 1 . Aula
ABDALA JÚNIOR, Benjamin; PASCHOALIN, Maria
Aparecida. História social da literatura portuguesa. São
Paulo: Ática, 1990.
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Suas anotações
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1ª
unidade
AULA 2
LITERATURA MEDIEVAL
OBJETIVOS
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Literatura Medieval
2Unidade 1 . Aula
1 INTRODUÇÃO
2 A PROSA MEDIEVAL
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Literatura Medieval
2
não se conhece uma que seja autenticamente portuguesa. De
inclinação mística, apresentam o cavaleiro de acordo com a
Unidade 1 . Aula
concepção da Igreja: casto, fiel, dedicado, humilde, íntegro
moralmente, resistente às tentações, à procura da honra e/
ou da vida eterna. Como ele sabe que é o escolhido, tem
força para superar os obstáculos e, ao final da peregrinação,
é compensado com sua elevação moral e espiritual.
Você pode observar a impregnação das novelas pela
ideologia de orientação religiosa do período medieval por
outros traços do herói: era obrigado a cumprir juramentos;
sua caracterização corresponde ao ideal das Cruzadas
de expansão da fé católica e da conquista de bens; presta
vassalagem a senhores e se submete ao poder da fé. As
novelas mais conhecidas foram História de Merlim, cuja
versão portuguesa desapareceu, José de Arimateia e a
Demanda do Santo Graal.
Em oposição ao modelo do cavaleiro perfeito,
surgiu a novela Amadis de Gaula (1508), cujo autor se
desconhece. Apesar de sua integridade e do amor cortês
e vassálico, Amadis rompe com a ordem vigente, porque
se casa com Oriana, razão pela qual essa novela é tomada
como marco da transição entre a Idade Média e a Idade
Moderna.
É comum encontrar referências a três ciclos das
novelas cavalheirescas, o bretão ou arturiano, tendo por
protagonistas o Rei Artur e seus cavaleiros; o carolíngio,
em torno de Carlos Magno e os doze pares da França;
e o ciclo clássico, relativo às novelas de temas greco-
latinos. Em Portugal, só o primeiro deixou vestígios,
influenciando costumes da sociedade medieval e
estimulando o surgimento de uma produção literária de
grande aceitação em pleno século XVI, quando os valores
medievais já pertenciam ao passado.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
3 O TROVADORISMO E AS CANTIGAS
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Literatura Medieval
2
que vivia de ganhos obtidos sem esforço.
Unidade 1 . Aula
3.1 Os cancioneiros
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
saiba mais
João Soares de Paiva, nascido por volta de 1140, é
As cantigas medievais
apontado como o trovador mais antigo. Seu nome e a época
eram escritas e cantadas em que viveu são referenciais como marco do nascimento da
em galego-português, ou
galaico-português, cujas literatura escrita em Portugal. Há quem cite a “Cantiga da
origens e características
são muito discutidas pelos
Ribeirinha”, de 1189 ou 1198, como texto literário inaugural,
especialistas. Para apro- mas, de acordo com os estudos de António Saraiva e Oscar
fundamento sobre o tema,
uma boa leitura é o artigo Lopes (1996), Paio Soares Taveirós, seu autor, não seria o
“Sobre a noção de galego
português”, de Xoán Car-
mais antigo. Antes dele existiu Sancho I (1154-1211), o
los Lagares Diez, publica- segundo rei de Portugal, filho de Dom Afonso Henriques,
do nos Cadernos de Letras
da UFF, disponível em: o Afonso I.
http://www.uff.br/cader-
As cantigas se dividem nas seguintes modalidades:
nosdeletrasuff/35/artigo4.
pdf. cantigas de amor, cantigas de amigo, cantigas de escárnio e
cantigas de maldizer.
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Literatura Medieval
2
De acordo com Saraiva e Lopes (1996), o amor é o
tema predominante, representado como um ideal inatingível,
Unidade 1 . Aula
atenção
a pele alva, os cabelos claros e, fisicamente, são delicadas. seu tempo. Com relação à
produção literária femini-
Nas expressões, destacam-se pelo riso contido, pelos gestos na, por exemplo, é sinto-
mático que somente bem
refinados e pela postura comedida. O recado da dama impõe mais tarde, na história da
um código ao homem, segundo o qual deve se portar com literatura ocidental, fora
algumas raras exceções,
servilidade e discrição. Ele jamais revela a identidade da as mulheres tenham con-
seguido espaço de publi-
amada porque a indicação de qualquer sinal que levasse ao cação e reconhecimento,
reconhecimento contrariava o princípio da idealização. Assim, pois, durante muito tem-
po, elas não tinham direi-
externa seu amor a um símbolo destituído de sensualidade tos, não tinham acesso ao
ensino nem à alfabetiza-
e nisso mostra outro indício da vinculação das cantigas com ção.
os costumes da época. Por esse procedimento do poeta,
testemunhamos sua preocupação em assegurar respeito às
convenções da nobreza.
Em síntese, percebemos que certas características
das cantigas evidenciam as simetrias entre a literatura e a
estrutura social vigente em Portugal, no período medieval.
O amor escondido equivale ao convencionalismo social
das cortes, nas quais os deveres e os papéis dos indivíduos
estavam bem definidos. O interior dos palácios se restringia
à nobreza e quem tinha acesso a seus salões, sem pertencer
à aristocracia, ocupava espaço que não lhe pertencia. Sua
presença ali indicava concessão dos senhores e de suas damas
ao permiti-la, ou seja, denunciava a condição de vassalo e a
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Literatura Medieval
2
quando non quis que lh’outra foss’igual.
Unidade 1 . Aula
Quando não quis que outra lhe fosse igual.
Quer’/eu/em/ma/nei/ra/de/pro/em/çal
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
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Literatura Medieval
2
exaltada de forma idealizada, e pela qual, não raramente, o
poeta sentia uma grande coita amorosa (o sentimento da
Unidade 1 . Aula
dor amorosa), capaz de levá-lo (poeticamente) à morte. É
o que vemos na cantiga abaixo, também da autoria de D.
Dinis (CV 127, CBN 489):
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Literatura Medieval
2
a poucos versos, evidenciando vinculações ao canto e à
dança, o que significa que não eram autônomas. A estrutura
Unidade 1 . Aula
construída por paralelismos e o refrão presentes como seus
elementos típicos fazem crer na existência de um coro. A
disposição das estrofes em pares pressupõe a alternância de
dois ou de grupos de cantores.
De um modo geral, podemos perceber que boa parte
das cantigas de amigo permite entrever cenas que ilustram
atividades do cotidiano feminino: na fonte, lavando roupas
ou os cabelos; na romaria, à espera do amigo ou fazendo
promessas aos santos pelo seu regresso, entre outras.
Também notamos que o lirismo das cantigas de amigo se
aproxima das formas narrativas e dramáticas, pois há ação
com diálogos e monólogos, em um cenário mais rústico e
natural. Além disso, os elementos naturais como fontes,
rios, árvores, aves agem sobre o eu feminino, inspirando o
amor, a confissão do desejo, nos levando a reconhecer uma
diferença em relação às cantigas de amor: a sensualidade, por
vezes descrita com realismo, revela uma realidade menos
solene, sem o convencionalismo da corte. Nela os jogos
amorosos aparecem explicitamente, livres dos subterfúgios
da conquista e apontam para a possibilidade de realização
carnal da relação amorosa, como afirma Natália Correia
(1978):
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Literatura Medieval
2
que el mi mostre mui cedo a luz,
maismostra-mi as noites d’ avento,
Unidade 1 . Aula
mais, se masessecon meu amigo,
a luz agora seria migo.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
saiba mais
Se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!
Martim Codax foi um jo-
gral ou segrel galego, do
qual restaram apenas
Ondas do mar levado,
sete cantigas de amigo, se vistes meu amado!
em que canta a cidade E ai Deus, se verrá cedo!
galega de Vigo. É o mais
publicado e estudado de
todos os poetas galego- Se vistes meu amigo,
portugueses. “A sua fama o por que eu sospiro!
deve-se também ao facto E ai Deus, se verrá cedo!
de os seus textos serem
os únicos que chegaram
até nós acompanhados da Se vistes meu amado,
respectiva notação musi- por que hei gran cuidado!
cal, encontrada, em 1914,
E ai Deus, se verrá cedo!
no manuscrito conhecido
como «Pergaminho Vin-
del»”, atualmente arqui- Ondas do mar de Vigo
vado na Pierpont Morgan Se vistes o meu amigo!
Library, em Nova York.
Ai Deus, voltará cedo?
Fonte:www.astormentas.
com/din/biografia. Ondas do mar levantado
asp?autor=Martim
+Codax.
Se vistes o meu amado!
Ai Deus, voltará cedo?
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Literatura Medieval
2
Se vistes o meu amado, confrontos de trovadores
Por quem tenho grande cuidado! que representam os gru-
Unidade 1 . Aula
pos sociais diversifi cados
Ai Deus, voltará cedo?
nos quais se constituíam
as sociedades ibéricas, e
também em confrontos que
envolvem as diversas po-
sições políticas motivadas
A simplicidade dos dísticos seguidos do refrão
pelas grandes questões da
confere forte musicalidade ao texto, marcado pelo época. Devemos lembrar,
por exemplo, que no sécu-
lamento da moça que espera o amado, angustiada por lo XIII tanto em Portugal
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Literatura Medieval
2
em meu trobar, pero muito trobei;
Unidade 1 . Aula
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Literatura Medieval
2
ainda, que, ao zombar do outro, o trovador revela certo grau
de inveja e parece querer se mostrar superior ao rival.
Unidade 1 . Aula
CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS DE AMOR E DE AMIGO
Cantigas de amigo
Cantigas de amor
• voz da mulher, embora composta
• origem da Provença, região ao
por homem;
sul da França;
• o ponto de vista é feminino so-
• refletem a relação social de sub-
bre a relação amorosa;
missão;
• expressam o sofrimento da mu-
• em geral, tratam de um relacio-
lher: a espera pelo namorado
namento amoroso;
(amigo), a dor diante do amor não
• o “eu” declara seu amor a uma
correspondido, as saudades, os ci-
dama;
úmes;
• mulher ocupa posição social su-
• as confidências são dirigidas à
perior, é inatingível;
mãe ou a amigas;
• o “eu” implora pela aceitação de
• presença de elementos da natu-
sua dedicação e submissão;
reza;
• “eu lírico” masculino.
• mostram o ambiente familiar.
Cantigas de escárnio
• crítica (sátira) indireta e a al-
Cantigas de maldizer
guém;
• referem-se diretamente às pes-
• emprego de palavras de duplo
soas;
sentido;
• indicam explicitamente particu-
• crítica disfarçada pela ironia;
laridades físicas ou morais;
• comentários mais gerais sem in-
• ponto de vista negativo de reis,
dividualizar;
religiosos e pessoas da nobreza;
• representam as pessoas de
• algumas têm caráter picante.
modo desfavorável;
• referem-se a situações das cor-
tes e dos castelos.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Literatura Medieval
ATIVIDADES
ATIV
ATIV
VI
ATIVIDADES
2
da biblioteca etc.), selecione uma passagem de novela
Unidade 1 . Aula
medieval, depois responda: de que modo esses textos
representam os valores do feudalismo?
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Dizia lafremosinha:
ai, Deus, val!
vocabulário
Com’estou d’amor ferida!
• fremosinha: formosinha ai, Deus, val!
• ai, Deus, val!: ai, valha-
me Deus!
• bem talhada: bem feita, Dizia la bem talhada
elegante, bonita. ai, Deus, val!
• coitada: infeliz, cheia de
Com’estou d’amor coitada!
sofrimento amoroso.
ai, Deus, val!
filmes
Vídeos no youtube:
Amália Rodrigues: ‘Cantigas Medievais’
- “Lá Vão As Flores”- Fado-World Music
Cantigas de Santa Maria (URL v=A_
G68CbDIqc&feature=fvw).
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Literatura Medieval
RESUMINDO
RESUMINDO
RE
ESU
S
2
literárias do período medieval, com destaque para as cantigas
Unidade 1 . Aula
trovadorescas, reconhecendo as implicações entre a literatura e
o contexto histórico-cultural das produções artísticas.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
R
RE
REFE
EFE
F R
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Suas anotações
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1ª
unidade
AULA 3
O HUMANISMO
OBJETIVOS
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O Humanismo
1 INTRODUÇÃO
3Unidade 1 . Aula
A partir de meados do século XV se sucederam
acontecimentos que enfraqueceram o poder da Igreja em
relação à influência exercida na Idade Média. Como já vimos,
no estágio inicial da formação de Portugal, o ensino visava à
formação de religiosos. Com a criação de estabelecimentos de
estudos gerais, a educação formal deixou de ser exclusividade
dos clérigos, reduzindo o seu controle sobre a transmissão
do conhecimento. Em consequência, surgiram descobertas
e inovações científicas responsáveis pela inauguração de
uma nova era da história, como se verá a seguir.
2 O HUMANISMO EM PORTUGAL
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O Humanismo
3
Disso resultou uma participação significativa no comércio
Unidade 1 . Aula
da época e a conquista de territórios na América, na África e
na Ásia (SARAIVA, 1984).
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O Humanismo
3
objetivo e a orientação transcendental, que explicava a realidade
Unidade 1 . Aula
pela intervenção de Deus. Da mesma forma, a valorização Figura 1.3.2 - Dante Alighieri.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/
da cultura grega, de caráter racional, conviveu com a cultura wikipedia/commons/6/6f/Portrait_
de_Dante.jpg
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O Humanismo
3
Os méritos maiores de Fernão Lopes talvez tenham
Unidade 1 . Aula
sido a perspicácia e a sua sensibilidade, reveladoras de dotes
de um artista da palavra. O estilo de sua escrita é simples
e coloquial, porém elegante, sóbrio, de técnicas apuradas,
que supera os limites da narração ou da descrição. Há
cortes inesperados, interrupções abruptas, simultaneidades,
digressões. Sua expressão é vibrante e arrebatadora, seus
diálogos conferem dramaticidade, a plasticidade permite
a visualização palpitante dos quadros representados, as
personagens têm densidade psicológica, porque hesitam,
fraquejam, são ambiciosas, enfim, apresentam as fraquezas
humanas (ABDALA JÚNIOR; PASCHOALIN, 1990).
Atestamos, ainda, sua capacidade por outras marcas
que evidenciam aptidões próprias do escritor de ficção,
embora não fosse este o seu propósito. Seu domínio da palavra
permitiu-lhe o emprego de artifícios para prender a atenção
do leitor, com quem quase conversa. Da mesma forma, dá
teatralidade e unidade às ações, combina feitos individuais
com movimentos de massa, faz acontecimentos múltiplos
convergirem para um desfecho, alterna tons, intercalando
o colérico com o suave, o irônico com o depreciativo. Tudo
isso termina por dar vivacidade à narração na imaginação do
leitor, aproximando a descrição de fatos objetivos, como é
mais comum à história, da representação subjetiva, como
fazem os romancistas (SARAIVA; LOPES, 1996).
Boa parte das crônicas de Fernão Lopes se perdeu,
restando apenas três: a Crônica del-rei D. Pedro I, a Crônica
del-rei Dom Fernando e a Crônica del-rei D. João I. A
primeira traça o perfil psicológico do rei, a partir da narração
de acontecimentos de seu reinado. É famosa a descrição dos
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O Humanismo
3
trombas de prata. E fez acender tochas, e meteu-se pela
vila em dança com os outros.
Unidade 1 . Aula
As gentes, que dormiam, saíam às janelas, a ver
que festa era aquela, ou por que se fazia; e quando
viram daquela guisa el-Rei, tomaram prazer de o ver
assim ledo. E andou el-rei assim gram parte da noite,
e tornou-se ao paço em dança, e pediu vinho e fruta, e
lançou-se a dormir...
E não curando mais falar de tais jogos: ordenou
el-Rei de fazer conde e armar cavaleiro João Alfonso
Telo, irmão de Martim Afonso Telo, e fez-lhe a mor
honra, em sua festa, que até aquele tempo fora visto
que rei nenhum fizesse a semelhante pessoa; pois el-
Rei mandou lavrar seiscentas arrobas de cera, de que
fizeram cinco mil círios e tochas; e vieram do termo de
Lisboa, onde el-Rei então estava, cinco mil homens das
vintenas para terem os ditos círios. E quando o conde
houve de velar suas armas, no mosteiro de S. Domingos
dessa cidade, ordenou el-Rei que desde aquele mosteiro
até os seus paços, que é assaz grande espaço, estivessem
quedos aqueles homens todos, cada um com seu círio
aceso, que davam todos mui grande lume; e el-Rei,
com muitos fidalgos e cavaleiros, andava por entre eles,
dançando e tomando sabor.
E assim despenderam gram parte da noite.
Em outro dia, estavam mui grandes tendas armadas
no Rossio, acerca daquele mosteiro, em que havia grandes
montes de pão cozido, e assaz de tinas cheias de vinho, e
logo prestes por que bebessem. E fora estavam ao fogo
vacas inteiras em espetos a assar, e quantos comer queriam
daquela vianda, tinham-na muito prestes e a nenhum não
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
era vedada.
E assim estiveram sempre, enquanto durou a festa,
na qual foram armados outros cavaleiros, cujos nomes
não curamos dizer.
(Citado a partir de: SARAIVA, 1993, p. 46).
Verbetes
Longas = instrumento musical tocado por trombeteiro;
Trebelhos = brincadeira envolvendo pulos e saltos; Ho-
mens das vintenas = homens obrigados ficar à disposição
do rei, divididos em grupos de vinte (Fonte: SARAIVA,
1993).
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O Humanismo
para conhecer
3
Iluminuras, “Obra rara – Biblioteca da Câmara dos
Deputados”: nele você conhecerá um pouco mais
Unidade 1 . Aula
sobre a vida e obra de Fernão Lopes.
Fonte: http://youtu.be/XvHlzPJTbkw.
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O Humanismo
3
por jograis cômicos.
Unidade 1 . Aula
Nos palácios, tiveram boa aceitação as pantomimas,
isto é, representações apenas por meio dos gestos das
novelas de cavalaria que, por vezes, se limitavam “a vistosos
desfiles de personagens ou de símbolos da majestade régia”
(SARAIVA; LOPES, 1996, p. 191-192). Os milagres, os
mistérios, as farsas e as pantomimas sintetizam o teatro
da Idade Média que, apesar de carecer de elementos
fundamentais para a dramaturgia, foi a base para a produção
de Gil Vicente.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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O Humanismo
3
e se estendeu por três reinados. A estreia foi com o Auto da
Unidade 1 . Aula
visitação ou Monólogo do vaqueiro (1502), encenado para
comemorar o nascimento de D. João III, e recebido com
entusiasmo. Conquistando a admiração de Leonor, irmã
do rei D. Manuel, Gil Vicente recebeu o apoio necessário
para desenvolver suas atividades e com isso fundar o teatro
português.
As oscilações que a obra de Gil Vicente expressa
não se devem unicamente ao confronto de concepções
antagônicas de mundo, em que a visão teocêntrica
do medievalismo resistia ao pensamento lógico e
antropocêntrico do Renascimento. Vivendo no interior
dos palácios, acompanhou de perto as decisões de reis com
atitudes contraditórias, embora compreensíveis diante do
quadro de mudanças radicais que aconteciam no período.
D. João II se esforçou para diminuir a influência da
nobreza ao longo de seus quinze anos de reinado, iniciado
em 1481, e em concomitância estimulou as navegações.
D. Manuel foi rei de 1495 a 1521 e tomou decisões em
outro sentido, como veremos (ABDALA JÚNIOR;
PASCHOALIN, 1990).
Não devemos esquecer que a Revolução de Avis teve
o apoio do segmento social que se dedicava ao comércio,
sendo o próprio rei mercador e monopolista. Essa situação
perdurou por cerca de duzentos anos, colocando Portugal em
situação diferente da existente em outros países da Europa,
onde a nobreza vivia de ganhos com a exploração da terra.
Os portugueses preferiam investir os lucros em transações
comerciais e atividades paralelas como o transporte e as
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O Humanismo
3
o propósito de amplificar seus efeitos emotivos.
Unidade 1 . Aula
Gil Vicente, entretanto, ignorou o rigor das regras
do teatro clássico, contrariando a máxima aristotélica da
eliminação de tudo que não contribuísse para o efeito final. Figura 1.3.9 - Farsa de Inês Pereira.
Fonte: http://www.joraga.net/gilvicente/
Em suas peças, aparecem temas diversos, seus autos e farsas pags/ximagens23InesPereira.htm
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O Humanismo
3Unidade 1 . Aula
ESTÃO EM CENA O DIABO, BERZEBU, E SEU AMIGO,
DINATO, ESTE PREPARADO PARA ESCREVER
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O Humanismo
3
Ninguém: Que mais buscas?
Unidade 1 . Aula
Todo Mundo: Lisonjar.
Ninguém: Eu sou todo desengano.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
intenções moralizantes.
Esse fragmento do Auto da Lusitânia ainda nos
permite identificar outros elementos da realidade social
e econômica da época de Gil Vicente. Todo Mundo é um
homem rico e é mercador, ou seja, tudo indica que sua
fortuna foi acumulada com ganhos obtidos com o comércio.
Como vimos, o segmento dos comerciantes exerceu forte
influência no controle do poder político em Portugal
por aproximadamente duzentos anos e se empenhou na
realização das viagens marítimas e nas conquistas territoriais
que ocorriam naquele momento. Como homem afortunado,
Todo Mundo está identificado com o segmento que apoiava
as decisões do rei, permitindo que pensemos nos interesses
nem sempre declarados que moveram as chamadas grandes
descobertas.
É importante destacar que, apesar de criticar toda a
sociedade, Gil Vicente poupou de sua mordacidade a família
real, provavelmente porque dependia dela economicamente.
Também chama a atenção o fato de não questionar as
instituições, dirigindo-se sempre contra os indivíduos,
como exemplificam as sátiras envolvendo o clero, nas quais
não observamos qualquer indagação às verdades da fé cristã
(ABDALA JÚNIOR; PASCHOALIN, 1990). Antes, pelo
contrário, sua visão de mundo é teocêntrica, assim como se
opunha às mudanças em curso na época, temeroso de que elas
colocassem em risco a integridade do povo português. Daí o
moralismo de seus autos na crítica à corrupção, ao adultério,
à ambição.
As peças de Gil Vicente podem ser divididas, de acordo
com certas particularidades que apresentam (SARAIVA;
LOPES, 1996). Os autos pastoris são farsas de assunto
campestre, enquanto que farsas como Inês Pereira e os autos
cavalheirescos formam o teatro de enredo. Do ponto de vista
da estrutura cênica existe a farsa, com episódio simples de
um caso ou um tipo identificado por características morais
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O Humanismo
3
que visa apenas a facilitar a compreensão da obra de Gil
Unidade 1 . Aula
Vicente em sua multiplicidade de faces. A divisão que
estabelecemos parte de uma proposta definida por José
António Saraiva e Oscar Lopes (1996):
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ATIVIDADES
AT
ATIV
VI
ATIVIDADES
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O Humanismo
RESUMINDO
RESUMINDO
RE
ESU
3
medievais para os valores da modernidade. Nas crônicas
Unidade 1 . Aula
de Fernão Lopes, percebemos a humanização dos reis, em
narrativas que buscam unir a tentativa do autor em garantir a
objetividade da história, com a utilização de recursos literários
capazes de manter o interesse do leitor. No caso de Gil Vicente,
vimos que ele foi o fundador do teatro em língua portuguesa
e um dos grandes renovadores do teatro moderno. Suas peças
retratam as contradições do período, pois nelas encontramos
sinais da mentalidade medieval de orientação teocêntrica, em
processo de enfraquecimento, e prenúncios da concepção de
mundo que entrava em vigor, colocando o homem no centro de
todas as coisas, com base na lógica, na razão e nas descobertas
científicas. Num outro plano, vislumbramos mais pontos de
conexão entre sua obra e a realidade social, cultural e política
do Humanismo, porque suas peças nos remetem à sociedade
portuguesa do século XVI e suas mazelas, suas relações de
poder, seus princípios morais e éticos.
R
REE REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
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Suas anotações
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1ª
unidade
AULA 4
O RENASCIMENTO
OBJETIVOS
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O Renascimento
1 INTRODUÇÃO
4
concepção de mundo da Idade Média e refletem a época de
Unidade 1 . Aula
lutas e conquistas em nome da fixação de um território, do
catolicismo e por relações econômicas de submissão e fidelidade
à nobreza. Assim, nós as identificamos como o correspondente
literário do ideal que orientou as Cruzadas e, mais tarde, a vida
reclusa do ambiente dos castelos. O teatro de Gil Vicente surgiu
em seguida, no momento de transição entre a Idade Média e o
Renascimento, caracterizado pela oposição entre o pensamento
teocêntrico, profundamente vinculado à religião, e a concepção
de mundo em que o homem ocupa papel central, com base
na lógica e na razão. O espírito humanista do Renascimento,
aberto ao pensamento lógico, enfraqueceu os poderes da Igreja e
estimulou grandes avanços tecnológicos, inaugurando uma fase
de transformações profundas em todas as áreas, de ampliação
de fronteiras geográficas e de conhecimento. Essas mudanças se
refletiram na criação literária, introduzindo assuntos e ambientes
novos e, sobretudo, levando os escritores a encarar o mundo
sob outra perspectiva. A partir de agora, conheceremos Luís de
Camões, a maior expressão literária do Renascimento e um dos
maiores nomes da literatura em língua portuguesa.
2 O RENASCIMENTO EM PORTUGAL
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O Renascimento
4
gas pisctórias) ou caçadores
para o Renascimento em Portugal foi o retorno de Sá (éclogas venatórias);
Unidade 1 . Aula
de Miranda (1481 ou 1485-1558) da Itália, onde fora elegia: poema de fundo me-
lancólico, que fala dos senti-
estudar e terminou conhecendo as novidades estéticas. mentos tristes ou é inspirada
neles;
Em 1527, depois de ausente seis anos, Sá ode: composição pequena,
de Miranda regressa da Itália, onde contatara com de caráter erudito, com ele-
vação do pensamento, so-
estudiosos peninsulares impregnados das novas ideias, bre vários assuntos. As odes
podem ser classificadas em
levando-as para Portugal. [...] Estando o solo preparado pendáricas (cantam heróis ou
desde há muito tempo, demorou pouco para o empenho acontecimentos grandiosos),
anacreônicas (cantam o amor
de Sá de Miranda alcançar êxito em atingir os confrades e a beleza) e satíricas (cele-
bram assuntos morais e/ou
com as novidades literárias de origem italiana (MOISÉS,
filosóficos);
1992, p. 50). epístola: composição em
que o autor expõe suas ideias
Na viagem, Sá de Miranda viu de perto uma e opiniões, em estilo familiar.
realidade cultural em estágio ainda não alcançado pelos Pode ser doutrinária, amoro-
sa ou satírica. É feita à ma-
portugueses e conviveu com importantes escritores neira de uma carta;
epitalâmio: composição em
daquele tempo. Quando retornou, as novidades que honra aos recém casados,
levou para Portugal renovaram a literatura lusitana, pois própria para ser recitada em
bodas;
foi o responsável pela introdução da ode, do soneto, da canção: composição erudi-
ta, de longas estrofes, ver-
écloga, da elegia, da epístola, entre outros gêneros. sos decassílabos, por vezes
A principal característica do Renascimento entremeados com outros de
seis sílabas (heroicos) e de
foi a valorização das culturas grega e latina, tomando- caráter amoroso;
epigrama: composição de 2
as como modelos por serem, segundo os conceitos da
ou 3 versos com pensamen-
época, exemplos da perfeição. Daí o surgimento de uma tos engenhosos.
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O Renascimento
4
de aposentadoria que, além de modesta, era paga com atraso.
Unidade 1 . Aula
Apesar de se tornar conhecido, morreu pobre em 1589 ou
1590. Seu enterro foi pago por uma instituição beneficente
(SARAIVA; LOPES, 1996).
O mais importante é entendermos que,
independentemente das aventuras que protagonizou e das
situações incomuns que vivenciou, sua fama se justifica pelo
que escreveu. A grandiosidade de Os Lusíadas, principal
obra literária do Renascimento, é mais do que suficiente
para colocá-lo entre os grandes nomes da literatura de
todos os tempos. Há outros motivos que comprovam
sua importância, a começar pela poesia lírica que inspirou
seguidores nos séculos seguintes.
O estudo da lírica de Camões nos confronta com
um problema porque ele morreu sem ter publicado sua
obra do gênero, assim, apesar da divulgação logo após
seu falecimento, “eram poesias compiladas de vários
manuscritos que estavam nas mãos de colecionadores”
(ABDALA JÚNIOR; PASCHOALIN, 1990, p. 38). O
fato é relevante porque diz respeito à forma como esses
textos foram fixados. Em outras palavras, é impossível
definir se os poemas que conhecemos são fiéis àquilo que
Camões escreveu, pois não foram revisados por ele depois
de impressos. De qualquer maneira, podemos estudá-los e
verificar como essa produção se caracteriza.
A primeira constatação é de que a temática amorosa
predomina. Muitos críticos relacionam esse fato a episódios
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O Renascimento
4
tuir em autobiografia.
Ondados fios de ouro reluzente
Tomás de Aquino (1225-
Unidade 1 . Aula
Que, agora da mão bela recolhidos, 1274) foi o grande filósofo
Agora sobre as rosas estendidos, da escolástica, doutrina
Fazeis que a sua beleza se acrescente; e filosofia cristã da Idade
Média, que procurou com-
binar a racionalidade de
Olhos, que vos moveis tão docemente, Platão e Aristóteles com
Em mil divinos raios encendidos, a fé católica e os ensina-
mentos bíblicos.
Se de cá me levais alma e sentidos,
Que fora, se de vós não fora ausente?
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O Renascimento
4
anseios de sua interioridade. Podemos dizer que, no lirismo
Unidade 1 . Aula
camoniano, a forma e o conteúdo do mundo se confrontam
com a existência humana, num embate de dilaceramentos.
O ideal de beleza, amor puro, razão, verdade e justiça vive
em permanente conflito com a realidade sofrida e amarga.
Desse contraste nasce o sentimento lírico, por vezes cético e
pessimista, por vezes revestido de esperança, com perspectivas
de plenitude.
A poesia lírica de Camões, com destaque para
os sonetos, representa aquilo que mais significativo ele
produziu, porque estão dentro dos padrões literários de
seu tempo. Obedecem ao princípio da imitação, no sentido
de tomar um modelo e acrescentar-lhe a visão particular de
mundo “com toda a liberdade de seu gênio poético, e não
raro suplantou os mestres” (MOISÉS, 1983, p. 72). Suas
qualidades de sonetista podem ser comprovadas a seguir:
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O Renascimento
4
necessariamente, as viagens marítimas. As primeiras foram
Unidade 1 . Aula
realizadas no início do século XV, com expedições a ilhas como
Canárias, Madeira, Açores (SARAIVA, 1984). Essas empreitadas,
entretanto, não se comparam com a aventura comandada por
Vasco da Gama e, depois, por Pedro Álvares Cabral, devido ao seu
grande significado político e econômico, daí sua importância para
a literatura:
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
saiba mais
Fonte:http://aviagemdosargonautas.blogs.sapo.pt/123903.html. Acesso em
nov. 2011.
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/viajantes4.htm
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O Renascimento
4
Os homens, por sua vez, entregam-se à guerra e usam de todos os
Unidade 1 . Aula
saiba mais
atributos para combater e vencer os adversários, sejam eles humanos
ou divinos. Como recompensa pelas vitórias, adquirem proporções Reforma Luterana.
No ano de 1517, insa-
sobre-humanas e podem ser premiados com a imortalidade. tisfeito com a situação
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
4.1 Os Lusíadas
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O Renascimento
4Unidade 1 . Aula
Figura 1.4.7 - Vasco da Gama.
Fonte: http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Vasco_da_Gama_-
_1838.png
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O Renascimento
4
autor.
Unidade 1 . Aula
Segundo a definição de Aristóteles, a epopeia se opõe
ao lirismo, por causa do caráter heroico, ou seja, porque a
tensão e a emoção devem ser provocadas pela descrição das
ações de guerra; porém na prática esta distinção se anula. Nos
épicos de Homero existem situações extremamente líricas,
como o reencontro entre Ulisses e Penélope; a diferença é
que a situação faz parte das ações ligadas ao herói, portanto
do enredo central. Na obra de Camões, devemos ver as
cenas amorosas sob a perspectiva de mundo do homem
renascentista, ou seja, de um momento de embate entre
o teocentrismo medieval e o antropocentrismo lógico e
racional.
Camões celebrava a conquistas dos mares pelos
portugueses, em outras palavras, apresenta-os como
representantes do homem renascentista, portanto do novo
homem, naquilo que havia de melhor e mais grandioso,
pois, graças ao conhecimento científico resultante da sua
capacidade de usar a razão, criava avanços tecnológicos e se
mostrava capaz de dominar a natureza. Se tais realizações
tinham um tanto de energia física, eram, antes de tudo, vitória
da disposição moral, cuja grandeza não se pode medir e que
se impunha diante de forças igualmente incomensuráveis,
até então jamais vencidas pela ação humana.
Podemos apontar outra peculiaridade de Os
Lusíadas que marca diferenças significativas em relação às
epopeias greco-romanas, nas quais Camões se inspirou. O
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O Renascimento
As sílabas métricas
A contagem vai até a última sílaba tônica; ocorre a junção de
vogais que se atraem pela sonoridade:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Ve/reis/ a/mor/ da/ pá/tria,/ não/ mo/vi/do
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
De/ prê/mio/ vil,/ mas/ al/to e/ qua/se e/ ter/ no:
4Unidade 1 . Aula
Cesura: pausa no interior de um verso, no geral longo,
que não deve ser confundida com a pausa de leitura, que é
variável de leitor para leitor. Pode ocorrer:
no princípio: “Cantei; //mas se me alguém pergunta
quando”, Camões
no meio: “é ferida que dói, // e não se sente”,
Camões)
ou perto do fim do verso: “enquanto não quiserdes
vós, // Senhora”, Camões
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O Renascimento
4
chegam a Portugal.
Unidade 1 . Aula
Alguns dos episódios de Os Lusíadas apresentam
significado simbólico, como é o caso do sonho de D.
Manuel, no canto IV, que aparece como representação da
política de expansão territorial dos portugueses. O Velho
do Restelo simboliza a política agrária, ou seja, aqueles que
se opunham às navegações, em outras palavras, aos interesses
econômicos dos comerciantes. O Gigante Adamastor é a
força da natureza e seus perigos como obstáculos para os
navegadores e, por extensão, para os portugueses e para a
humanidade. É importante observarmos que aparece no
canto V, exatamente na metade do poema. No canto VI,
consta o episódio dos Doze da Inglaterra, numa referência
ao cavalheirismo medieval português. A Ilha dos Amores
corresponde aos prêmios e honrarias a que os grandes heróis
têm direito. Ainda encontramos os episódios naturalistas,
representados por aqueles em que ocorrem fenômenos
naturais (ABDALA JÚNIOR; PASCHOALIN, 1990).
De acordo com as normas estabelecidas por
Aristóteles, a epopeia deve apresentar unidade, variedade,
verdade e integridade. Em Os Lusíadas encontramos todas
essas qualidades, porque o princípio da unidade é garantido
pela harmonia da ação. Os episódios são dinâmicos e
diversificados, garantindo a variedade. A verdade aparece
na representação de um assunto histórico e, por fim, a
integridade consiste na ação completa, ou seja, com início,
meio e fim.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
saiba mais
Inês de Castro (1323-1355), filha ilegítima de nobres da Galícia, foi para Por-
tugal como dama de honra de D. Constança, quando esta se casou com o prín-
cipe herdeiro D. Pedro, filho do rei de Portugal, D. Afonso IV. Na corte tornou-se
amante do príncipe herdeiro, com quem se casou secretamente depois dele en-
viuvar. O rei e parte da nobreza não aceitaram o casamento, decidindo-se pela
morte de Inês numa ocasião em que D. Pedro se ausentou. As circunstâncias
dramáticas que envolveram a paixão de Inês e Pedro transformaram o fato em
matéria da ficção, sendo mencionado em Os Lusíadas, e em outras obras lite-
rárias.
Fonte: SARAIVA, J. H. História Concisa de Portugal. Europa-América: Lisboa,
1984.
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O Renascimento
5 O LEGADO DE OS LUSÍADAS
4
com sabor de aventura por diversos lugares, chegando a
Unidade 1 . Aula
paragens distantes, como a China. Embora seu épico não
seja mero relato das andanças, é evidente que nele existem
dados recolhidos nos continentes por onde andou. E
nisso reconhecemos mais seus méritos, porque soube tirar
proveito artístico dos elementos oferecidos pela realidade,
equilibrando-os talentosamente com a inspiração patriótica.
O nome de Camões está vinculado ao período
mais marcante da história de Portugal. As descobertas
foram realizações grandiosas, proporcionando riquezas
que elevaram o país à posição de destaque entre as nações
e orgulharam sua população. O poeta se juntou a seus
conterrâneos na glorificação de seu país, porém sem
esquecer sua condição de artista. Por isso, deu caráter lírico a
episódios históricos significativos, ao mesmo tempo em que
adequava uma forma literária do passado, às necessidades da
época em que vivia (SARAIVA; LOPES, 1993).
O valor de Os Lusíadas ultrapassa os limites do
século XVI e da literatura em língua portuguesa porque
se tornou uma obra representativa de toda uma época,
não apenas como criação artística. Nela encontramos a
representação de aspirações humanas, como o desejo de
conquistas e de superação de dificuldades, fazendo com que
Camões “pela representação universal de seu pensamento,
fruto de um singular poder de transfiguração poética, típica
do visionário e do gênio, seja considerado um dos maiores
poetas de todos os tempos” (MOISÉS, 1992, p. 60).
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
6 QUADROS-SÍNTESE DE OS LUSÍADAS
ESTRUTURA EXTERNA
Cantos 10
Estrofes por canto variável
Total de estrofes 1102
Versos por estrofes 8
Total de versos 8816
Tipo de verso decassílabos
Rimas cruzadas e emparelhadas ABABABCC
ESTRUTURA INTERNA
Introdução - estrofes
Apresentação do assunto
1 a 18, canto I
Invocação – estrofes
Pedido de inspiração para as Tágides.
4e5
Dedicatória – estrofes
O poema é dedicado a D. Sebastião.
6 a 18
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O Renascimento
ATIVIDADES
ATIVIDADES
AT
ATIV
IVI
VI
4
se dana = se corrom-
Que, quem o tem, não sabe o que deseja. pe, se perde
Unidade 1 . Aula
Não há cousa, a qual natureza seja,
Que não queira perpétuo seu estado;
Não quer logo o desejo o desejado,
Por que não falte nunca onde sobeja.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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O Renascimento
4Unidade 1 . Aula
filmes
sites
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
RESUMINDO
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REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
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O Renascimento
4
SOUSA, Maria Leonor Machado de. Soneto. Disponível
Unidade 1 . Aula
em: http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/S/soneto.
htm.
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Suas anotações
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2ª
unidade
AULA 5
CONCERTOS BARROCOS
OBJETIVOS
Identificar os principais aspectos estético-culturais do período
Barroco em Portugal e no Brasil, percebendo as relações
histórico-sociais entre os dois países e como se desenvolveu a
formação da Literatura Brasileira.
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Concerto Barroco
1 INTRODUÇÃO
5
Portugal saiu da condição de condado espremido entre
Unidade 2 . Aula
importantes reinos e o mar para a posição de um país que
conquistou vastos territórios. Observamos que as atividades
literárias seguiram trajetória análoga durante esse período,
partindo de manifestações da tradição oral, como as cantigas,
para atingir o estágio de paradigma da cultura escrita
renascentista com Os Lusíadas. Em ambos os campos, o país
se destacou, tornando possível comparar a grandiosidade
das navegações e das conquistas territoriais com a do poema
épico escrito por Camões, que apresenta dimensões tão
monumentais quanto o alargamento de fronteiras decorrente
da possessão do Brasil. O processo de fixação dos portugueses
aqui e a colonização que implantaram provocaram confrontos
culturais com os nativos e os africanos, esses trazidos como
escravos num sistema de exploração, justificado pelas
concepções mercantilistas da época.
Esses confrontos compõem alguns dos mais tristes
e trágicos acontecimentos da história moderna, quando
populações inteiras foram dizimadas. Além disso, as
influências culturais do índio e do negro na formação da
cultura brasileira foram negadas por muito tempo, mas
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Fonte: http://cidadanialusofona.
files.wordpress.com/2010/04/
desembarquecabral.jpg
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Concerto Barroco
5
Em Portugal, os reflexos das iniciativas de combate à
Unidade 2 . Aula
expansão protestante apareceram pela criação do Tribunal do
Santo Ofício, instituição de caráter judicial, com o propósito
de inquirir heresias, isto é, investigar práticas contrárias
aos princípios da fé católica, daí a redução para Inquisição
(SARAIVA, 1984). No Brasil, os reflexos da disputa com
os protestantes aparecem principalmente pela presença
de membros da Companhia de Jesus. Criada em 1534, na
Espanha, por Inácio de Loyola, logo se instalou no país
vizinho, onde obteve permissão para a criação de escolas, o
que também aconteceu no Brasil. Organizados com base na
estrutura militar, seus membros se consideravam soldados
da Igreja e desenvolviam vários tipos de atividades com o
intuito de expandir o catolicismo.
Ao se definir pela posse efetiva da colônia, a coroa
portuguesa tomou medidas com o objetivo de oferecer
condições para a fixação de famílias na nova terra, como
a fundação de cidades e a designação de funcionários para
o exercício de cargos políticos e administrativos. Com os
primeiros colonos vieram os padres Jesuítas, a quem coube
erguer escolas. Os jesuítas assumiram a incumbência por
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
leitura recomendada delegação do rei, cujo erário não dispunha de recursos para
arcar com os custos necessários à construção e manutenção
A definição do que são os
primeiros textos literários dos estabelecimentos de ensino (SODRÉ, 1988). Se por um
escritos no Brasil é as-
sunto complexo, porque
lado os religiosos difundiam o conhecimento com a intenção
envolve a discussão de cri- de divulgar a fé católica e de formar quadros para a sua ordem,
térios usados para apontar
obras e autores pioneiros. por outro tiveram papel importante para o desenvolvimento
Por exemplo, o que defi-
ne se um texto do período
das atividades literárias no Brasil. Além de contribuir para a
colonial é brasileiro? É o formação de leitores, figuram entre os primeiros indivíduos a
local onde foi escrito? É a
intenção do autor? É a fei- escreverem textos históricos e literários.
ção literária que adquiriu
Assim, as primeiras iniciativas de divulgação e
com o passar do tempo?
É o local de nascimento produção de literatura em nosso país se desenvolveram em
do autor? É o local onde
o autor desenvolveu suas grande parte pela ação dos jesuítas. Em consequência, foram
atividades? Para aprofun-
orientadas pelo espírito expansionista do catolicismo ditado
dar essas questões, suge-
rimos a leitura do livro A pela Contrarreforma, sob o influxo do ambiente opressor
formação da literatura
brasileira: momentos de-
imposto pela instalação do Tribunal do Santo Ofício.
cisivos, de Antonio Candi-
do, disponível na biblioteca
da UESC, e O sequestro
do barroco na formação
da literatura brasileira:
3 SEMENTES LANÇADAS AOS ECOS DE GIL
o caso Gregório de Ma- VICENTE E CAMÕES
tos, de Haroldo de Cam-
pos, texto disponível em:
< h t t p : / / w w w. 4 s h a r e d .
De maneira geral, os textos escritos no Brasil durante
com/document/yfUz4UoR/
CAMPOS_Haroldo_-_O_ o século XVI se destacam pelo valor histórico, devido às
Sequestro_d.html>.
informações sobre os diversos aspectos da natureza, o tipo de
vida que levavam os índios e as possibilidades de exploração
econômica. São importantes também porque mostram,
por um lado, o fascínio dos portugueses frente ao novo,
ao desconhecido, àquilo que aos seus olhos parecia exótico
e exuberante. Por outro, revelam a posição do europeu,
portanto do homem branco de pensamento influenciado
pela fé católica, diante de outra cultura, do diferente. Quase
sempre redigidos por membros das primeiras expedições
exploratórias, esses textos têm características de relatório.
Por isso são chamados crônicas ou relatos de viagem e,
no seu conjunto, recebem a denominação de literatura de
informação.
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Concerto Barroco
Fonte: http://veja.abril.com.br/
idade/descobrimento/imagens/
descobrimento6.jpg
5
escrita com o propósito de noticiar ao rei D. Manuel
Unidade 2 . Aula
a chegada ao Brasil, ou, como diz o autor, “o achamento
desta vossa terra nova”. Nela, descreve brevemente a
travessia do “mar longo”, enaltece as belezas, empregando
adjetivos como “formosa”, “graciosa”, entre outros. Revela
encanto diante da natureza, mencionando a abundância de
águas e reiterando seu espanto com a densa floresta e com
a presença de “grandes arvoredos”. O elemento que mais
chamou sua atenção foi o habitante nativo, do qual se ocupa
mais demoradamente, encerrando o relato, dizendo que sua
conversão ao catolicismo era o melhor fruto a ser colhido
aqui.
Existem outras crônicas de viagem, sendo as mais
conhecidas o Diário de navegação (1530), de Pero Lopes
de Souza; o Tratado da terra do Brasil (1576), de Pero de
Magalhães Gandavo; e o Tratado descritivo do Brasil (1587),
de Gabriel Soares de Souza. Um dos pontos de convergência
entre estes registros é o fascínio pelos elementos da natureza
e a surpresa diante do índio, tratado sempre como ser
inferior por causa de práticas culturais e comportamentos
incompreensíveis para o homem europeu. Em outras
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Concerto Barroco
5
Santa Maria Itaparica (1704-1768, provavelmente) que
Unidade 2 . Aula
buscou inspiração no mesmo episódio para escrever a sua
“Descrição da Ilha de Itaparica”. Percebemos que no épico
camoniano os prazeres proporcionados pela natureza
estão associados à sensualidade de ninfas correndo nuas
pelas praias, transformando a Ilha dos Amores num lugar
de deleite, oferecido como prêmio aos portugueses por
suas conquistas. Curiosamente, os autores brasileiros
eliminam o caráter sensual de seus poemas, distanciando-
se de uma realidade em que a ideia de paraíso se misturava
ao sentimento de posse e violência contra o nativo com “a
prática frequente do estupro das índias pelos portugueses,
no litoral da colônia americana” (CUNHA, 2006, p. 41).
Esses autores normalmente são qualificados
pelas histórias da literatura tradicionais como poetas de
menor importância. É certo que nenhum deles produziu
obra inovadora ou surpreendente pela originalidade e
facilmente se percebe como cópias mal disfarçadas de
Camões. Entretanto, convém mencioná-los como forma
de valorizar o esforço que fizeram para configurar uma
imagem literária do espaço geográfico brasileiro. Nesse
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Concerto Barroco
aos sete anos veio para a Bahia, onde o pai passou a exercer
cargo administrativo, permanecendo aqui até 1641, quando
se transferiu para Portugal. De 1652 a 1661, entremeou
períodos de residência na metrópole com outros de retorno à
colônia, de onde se ausentou por vinte anos para então voltar
em definitivo.
Seu nome está incluído na literatura brasileira pela
obra de oratória, modalidade comum na Antiguidade, mas em
desuso nos séculos recentes. Nos quinze volumes dos Sermões,
publicados já na maturidade, revigorou o gênero, utilizando-o
como instrumento para a defesa de ideias e a divulgação do
catolicismo junto ao índio e ao colono português. O volume
inicial apareceu em 1679, sucedido por outros onze, divulgados
enquanto o autor vivia. Os tomos restantes surgiram em 1699,
5
1710 e 1748, completando a primeira edição integral da obra
Unidade 2 . Aula
(MARTINS, 1992).
Com opiniões claras e firmes, manifestou-se a
respeito de assuntos diversos como a invasão holandesa, o
modelo ganancioso da colonização portuguesa, a escravidão
e a perseguição aos judeus. A respeito do tratamento dos
portugueses aos africanos, o ardor católico o induziu a
incorrer em contradição, pois invocava o argumento da
igualdade entre os homens, porém via no servilismo uma
ação positiva porque permitia aos negros o conhecimento
da fé católica e a salvação de suas almas (STEGAGNO-
PICCHIO, 1997).
Padre Vieira teve trajetória complexa, cuja explicação
está nas cinco “metamorfoses” pelas quais passou, segundo
Wilson Martins, numa referência às suas ações como
missionário, político, orador sacro, profeta e escritor.
Na opinião do crítico, Vieira se sentiu mais atraído pelos
problemas de seu tempo do que pela catequese, ocupando-
se deles como missão a ser cumprida. Essa preocupação
o levou a exercer as outras atividades, chegando a ocupar
cargos importantes como diplomata e conselheiro de D.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
João IV.
Foi orador sacro e profeta a vida inteira, ou pelo
menos desde os vinte e poucos anos, quando iniciou a
atividade sacerdotal. A retórica, no sentido de se expressar
bem, fazendo bom uso das palavras, foi o seu instrumento
em todas as ocupações a que se dedicou. Tal habilidade fez
de Vieira “um dos pontos mais altos da oratória sacra em
todo o mundo” (MARTINS, 1992, p. 173). Para Luciana
Stegagno-Picchio, “em torno da sua personalidade e sobre
o exemplo de sua pregação, floresceu na Bahia uma escola
de oratória sacra [...], que incide profundamente sobre a
cultura do tempo” (1997, p. 105).
Assim como Wilson Martins, a professora italiana
inscreve Antônio Vieira nas literaturas brasileira e
portuguesa. Sua posição se assemelha a de António Saraiva
e Oscar Lopes, que destacam seu nome com a dedicação
de várias páginas à avaliação da sua obra, fato que chama a
nossa atenção porque são bem menos generosos em relação
a outros escritores brasileiros do período colonial. Entre os
elogios, salientam a capacidade de Vieira para renovar um
gênero em decadência: “Esta conjugação de uma arte de
discorrer já inadequada ao senso comum dominante com
uma orientação que era, afinal, tão prática faz da oratória
de Vieira uma das expressões mais consumadas, mais tensas,
mais desenvolvidas e explícitas das formas culturais que
estão na base da tradição sermonária” (SARAIVA; LOPES,
1998, p. 521-522).
Devemos atribuir os elogios dos historiadores
portugueses à competência de Vieira na formulação de ideias
e a sua capacidade de reflexão sobre assuntos complexos. Em
outras palavras, o pertencer intelectualmente à Europa de que
fala Wilson Martins tem a ver com as ações do religioso em
defesa dos interesses de Portugal junto ao governo de diversos
países. Para tanto, empregou suas energias vigorosamente
naquilo que melhor sabia fazer, ou seja, o uso da palavra,
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Concerto Barroco
5
necessidade, senão que nos liberteis: Re-
dime-nos? E na casa da Senhora da Ajuda,
Unidade 2 . Aula
que devemos esperar com maior confian-
ça, senão que nos ajudeis: Adjuva nos? Não
hei de pedir pedindo, senão protestando e
argumentando, pois esta é a licença e liber-
dade que tem quem não pede favor, senão
justiça. Se a causa fora só nossa, e eu viera
a rogar só por nosso remédio, pedira favor
e misericórdia. Mas, como a causa, Senhor,
é mais vossa que nossa, e como venho a
requerer por parte de vossa honra e glória,
e pelo crédito de vosso nome: Propterno
memtuum: razão é que peça só razão, justo
é que peça só justiça. Sobre este pressu-
posto vos hei de arguir, vos hei de argu-
mentar, e confio tanto da vossa razão e da
vossa benignidade, que também vos hei de
convencer. Se chegar a me queixar de vós,
e acusar as dilações de vossa justiça ou as
desatenções de vossa misericórdia: —
Quare obdormis, quare oblivisceris? — não
será esta vez a primeira em que sofrestes
semelhantes excessos a quem advoga por
vossa causa. Às custas de toda a demanda,
também vós, Senhor, as haveis de pagar,
porque me há de dar vossa mesma graça as
razões com que vos hei de arguir, a eficácia
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Concerto Barroco
5
literatura sacra e pelo valor que representa para a cultura da
Unidade 2 . Aula
época. António Saraiva e Oscar Lopes (1998) nos oferecem
mais motivos, quando afirmam que foi das figuras mais
representativas das letras portuguesas do século XVII,
sendo modelo para a prosa da época. Ainda, de acordo com
os historiadores lusitanos, se nossa curiosidade for além dos
seus sermões, encontraremos nas cartas e nos documentos
que escreveu um quadro expressivo da vida dos índios, da
fauna, do modo de vida, das relações dos nativos com os
portugueses.
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Concerto Barroco
5
A crítica corrosiva e áspera que encontramos em
seus textos evidencia que Gregório de Matos foi um homem
Unidade 2 . Aula
preocupado com o mundo ao seu redor, portanto observador
atento daquilo que se passava diante de seus olhos. Aliados
a esse olhar crítico e questionador, estavam atributos como
o talento, a inteligência e a curiosidade intelectual, o que
lhe permitiu conhecer literatura e cultura geral (TEIXEIRA,
1977). Segundo Sodré, contudo, há indícios de que sua base
cultural tinha pouca solidez:
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5
dificuldades para exercer a autoridade se fizeram perceber em
Unidade 2 . Aula
diversos setores, provocando desencontros administrativos
de toda natureza. As invasões dos holandeses ao Brasil e o
tempo que permaneceram em Pernambuco exemplificam
as complicações vividas no período (SARAIVA, 1984).
Em outras palavras, assim como fragilizou a capacidade
de garantir a posse territorial da colônia, a ausência de uma
orientação governamental clara propiciava a germinação de
distorções que se materializavam pelos desrespeitos a normas
comportamentais e a padrões morais.
Analisando a poesia de Gregório de Matos por
esse enfoque, podemos enxergar nela a expressão de um
indivíduo consciente das transgressões a princípios e da
necessidade de questionamento da realidade. O fato de ele
ter se deixado envolver pelas circunstâncias não desmerece
sua postura, porque elimina o caráter moralizador da crítica
que faz à sociedade.
Serve como exemplo um de seus sonetos
mais populares, no qual descreve a incapacidade dos
administradores públicos:
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Concerto Barroco
5Unidade 2 . Aula
E dirá, quem me vir com tantas chamas,
Que Vicência me fez a caridade,
Porque o leite mamei das suas mamas.
(Disponível em www.dominiopublico.br)
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Concerto Barroco
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a conversão de indivíduos de outras práticas religiosas ao
Unidade 2 . Aula
catolicismo, como Anchieta havia feito no século anterior.
Ao perceber que a crença religiosa não restringia sua visão
de mundo aos limites determinados pela doutrina católica,
inscreveu-se na nossa literatura. Gregório de Matos superou
Bento Teixeira e Manuel Botelho de Oliveira pelo talento
e pela capacidade de transfigurar a realidade artisticamente,
transformando elementos do seu cotidiano em matéria para
a criação literária. Pena que os bons frutos que produziu não
tenham gerado sementes.
A obra de Gregório de Matos revela que sua atenção se
voltava para fatos próximos, ligados a assuntos do cotidiano,
apesar de ter ocupado cargos importantes. Ao tratar de
problemas como o despreparo dos administradores, a
corrupção, a frouxidão dos costumes, a promiscuidade, enfim
dos problemas do dia a dia da colônia, leva-nos a acreditar que
teve uma vivência mais enraizada no Brasil. Sua poesia nos faz
pensar numa preocupação mais concentrada nos problemas
daqui e, com repetidas manifestações de apego ao Brasil,
permite que enxerguemos nela um sentimento de nativismo
(TEIXEIRA, 1977). Nesse sentido, foi mais brasileiro do que
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Vieira.
Precisamos considerar, porém, que foi uma voz isolada e
que permaneceu em silêncio até o final do século XIX, quando
sua poesia se tornou conhecida dos brasileiros. Isto quer dizer
que, apesar da importância dentro da literatura brasileira, a
contribuição de Gregório de Matos para o desenvolvimento
dela foi praticamente nula, pela inexistência de diálogo de sua
poesia com aquela produzida pelas gerações posteriores. A
descoberta tardia de sua obra impediu que os poetas nascidos
no século XVIII tivessem contato com ela, isto é, só se passou a
saber de sua existência quando era impossível exercer influência
sobre alguém porque já não se enquadrava aos padrões de
criação artística em vigor na década de 1880.
Ativid
ades
ATIVIDADES
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Concerto Barroco
5
louvar e que repreender. Suposto isto, para que procedamos
Unidade 2 . Aula
com clareza, dividirei peixes, o vosso sermão em dois pontos:
no primeiro louvar-vos-ei as vossas virtudes, no segundo
repreender-vos-ei os vossos vícios. E desta maneira satisfaremos
às obrigações do sal, que melhor vos está ouvi-las vivos, que
experimentá-las depois de mortos.
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A masculina é um Aricobé
Cuja filha Cobé um branco Paí
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Concerto Barroco
5
A reprimir-lhe o sangue, que não corra. • Piraguá: pode ter três senti-
dos: localidade não identifica-
Unidade 2 . Aula
da; apócope de epiraguara, si-
Animal sem razão, bruto sem fé, nônimo de caipira; pilão.
Sem mais Leis, que as do gosto, quando erra, • Pisado: socado no pilão.
• Pititinga: nomes de peixe;
De Paiaiá virou-se em Abaeté.
manjuba ou enchova.
• Tatu: talvez se refira a um
Não sei, once acabou, ou em que guerra, famoso chefe indígena. (MA-
Só sei, que deste Adão de Massapé, LARD, 1998).
• Camisa de urucu: referência
Procedem os fidalgos desta terra.
à tinta de urucu com que os ín-
dios pintam o corpo.
• Cuma: com uma (elipse)
• Gorra: gorro.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Resumindo
Re RESUMINDO
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Concerto Barroco
REFERÊNCIAS
Referências
Re
efe
f rrê
ê
5Unidade 2 . Aula
MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira. 4.
ed. v. 1 1550-1794. São Paulo: T. A. Queiroz, 1992.
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2ª
unidade
AULA 6
OBJETIVOS
Reconhecer as principais proposições estéticas e a
importância dos autores árcades na formação da
Literatura Brasileira, identificando os ecos camonianos no
Arcadismo brasileiro.
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
1 INTRODUÇÃO
6
de Anchieta surgiram com feições literárias e são valorizados
Unidade 2 . Aula
como tais, mas se destinavam à conversão dos índios ao
catolicismo. Os Sermões, de Antônio Vieira, nasceram
como fruto do interesse da época pelos modelos greco-
romanos e se tornaram exemplos do bom aproveitamento
de formas superadas, graças ao talento do padre jesuíta.
Por fim, existem as produções concebidas com intenções
estéticas que, independente de qualquer julgamento, devem
ser valorizadas por expressar a vontade consciente de criar
um objeto artístico, pelo esforço na imitação de grandes
escritores e pela preocupação em incorporar aspectos da
realidade brasileira. Como vimos, quem melhor cumpriu
todos esses objetivos foi Gregório de Matos. Sua poesia,
entretanto, ficou desconhecida por longo tempo, por isso é
um autor que não se inscreve entre aqueles que promoveram
a continuidade literária, ou seja, a sucessão de uma geração de
escritores por outra. Esse processo só se efetivou na literatura
brasileira a partir do século XVIII, como começaremos a ver
daqui pra frente.
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
6
mineração, a extração na lavra e o envio para a Europa eram
Unidade 2 . Aula
permanentes, proporcionando fluxo ininterrupto de carga
e de pessoas, sendo importante levarmos em consideração
outro fator. Anteriormente, as cidades se situavam a grandes
distâncias uma das outras, situação que se modificou com a
nova realidade econômica, quando a presença de minerais
propiciou o surgimento de concentrações pouco afastadas
geograficamente. Tal fato favorecia os deslocamentos,
atraía gente de outras regiões e exigia a criação de serviços
e atividades para atender as necessidades das pessoas
(SODRÉ, 1998).
Oambientecitadinoémaispropícioaodesenvolvimento
das atividades literárias porque favorece a aproximação entre
os indivíduos, estimulando sua organização em grupos. O
espírito associativo é indispensável à literatura porque a obra
nasce para circular de mão em mão (CANDIDO, 1981), ou
seja, precisa ser lida, comentada, debatida. Devemos considerar
ainda que, na época, os indivíduos letrados se concentravam
nas cidades, por isso o crescimento urbano favoreceu a
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
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fascínio de algumas tendências literárias de então por rochas
Unidade 2 . Aula
e cavernas, “talvez pela irregularidade poderosa com que
representam movimentos plásticos” (CANDIDO, 1981, p. 96).
O sofrimento íntimo que dilacera o eu lírico se deve à oposição
de sentimentos do poeta, dividido afetivamente entre Brasil e
Portugal. Homem apegado ao local de nascimento, sempre
esteve ligado emocionalmente a suas raízes, das quais extraía
o objeto de seu interesse, como podemos observar no soneto
LXII:
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
saiba mais
6
Nunes. Disponível em: http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/I/iluminismo.
htm.
Unidade 2 . Aula
contestadora, manifestou suas insatisfações políticas e
fomentou conspirações contra a metrópole. Tais fatos são
sinais do crescimento do nativismo, pois os habitantes da
colônia não se sentiam portugueses. Em contrapartida,
o adjetivo “brasileiro”, empregado com o propósito de
desqualificar os nascidos aqui, passou a ser motivo de
orgulho para eles (SODRÉ, 1988).
Podemos compreender, pois, que, em meio a esse
ambiente, Cláudio Manuel da Costa tenha se preocupado
com assuntos locais, por vezes, com ares patrióticos, como
podemos observar no soneto XCVIII:
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
saiba mais
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grantes das elites, alguns poucos denunciados foram condenados à prisão
e ao degredo na África. O único a assumir as responsabilidades pela trama
Unidade 2 . Aula
foi Tiradentes. Para reprimir outras possíveis revoltas, Portugal decretou o
enforcamento e o esquartejamento do inconfidente de origem menos abas-
tada. Seu corpo foi exposto nas vias que davam acesso a Minas Gerais. Era
o fim da Inconfidência Mineira. Mesmo tendo caráter separatista, os incon-
fidentes impunham limites ao seu projeto. Não pretendiam dar fim à escra-
vidão africana e não possuíam algum tipo de ideal que lutasse pela indepen-
dência da ‘nação brasileira’. Dessa forma, podemos ver que a inconfidência
foi um movimento restrito e incapaz de articular algum tipo de mobilização
que definitivamente desse fim à exploração colonial lusitana”.
Fonte: http://www.brasilescola.com/historiab/inconfidencia-mineira.htm.
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
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como pela representação do índio. Se levarmos em consideração
Unidade 2 . Aula
acontecimentos históricos e fenômenos sociológicos, ou seja,
as insatisfações com a coroa portuguesa e o despertar de um
nativismo, encontraremos outros caminhos que permitem
a aproximação entre os poetas do século XVIII. Com isso,
podemos entender certas particularidades da literatura
produzida no período como reflexo do contexto social.
As motivações que levaram os poetas do Arcadismo
brasileiro a se interessar por assuntos locais variam. Cláudio
Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto, por exemplo, tiveram
postura de comprometimento com os problemas imediatos de
um segmento social, enquanto Basílio da Gama e Santa Rita
Durão foram movidos por outros interesses pessoais, como,
por exemplo, a intenção de conquistar a simpatia do Marquês
de Pombal, para com isso alcançar favores e benefícios.
Basílio da Gama publicou O Uraguai em 1769.
Composto em versos decassílabos brancos e dividido em cinco
cantos, o poema representa a luta de portugueses e espanhóis
contra os índios das missões controladas pelos padres jesuítas.
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
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plasticidade e o colorido sugerido pelos elementos naturais
Unidade 2 . Aula
e humanos nativos. Há belos quadros que expressam o viço
da mata, o frescor das águas, o multicolorido das plumas e
das flores, segundo Antonio Candido (1981).
Juízo semelhante faz Luciana Stegagno-Picchio
(1997, p. 139), sintetizando os atributos do frei jesuíta pela
“elaboração de versos musicais nos quais se percebe o eco
de Virgílio, de Petrarca, do Tasso ou de Camões, mas em
que a natureza tem cores de impressão setecentista”. Apesar
da elevação à condição de herói, o indígena é caracterizado
como homem rude, sem disciplina, sem valor, sem armas, ou
seja, um indivíduo inferior do ponto de vista do colonizador,
como se observa no canto II. Quem emite o juízo é Gomes
Freire e devemos compreendê-lo como representativo da
visão da civilização europeia, que não reconhece no modo
de vida do elemento autóctone uma cultura diferente porque
via nela a ausência de cultura.
Basílio da Gama repete na ficção aquilo que Caminha
escreveu a respeito dos habitantes da terra da qual os
portugueses se apossavam. Apesar da simpatia com que se
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
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Freire. É bom lembrar que, no século XVIII, Portugal e
Unidade 2 . Aula
Espanha estavam entre as nações de maior poderio militar,
entretanto tais contradições não desqualificam a obra nem
desmerecem seu autor. Se expressam valores que hoje
consideramos absurdos, é porque correspondem a uma época
cuja visão de mundo, felizmente, já foi superada.
Paralelamente aos combates pela posse da terra,
ocorre a disputa pelo amor de Lindoia, esposa de Cacambo,
o chefe indígena. A jovem é desejada pelo inescrupuloso
padre Balda, administrador das missões que, com a intenção
de conquistá-la, aprisiona e mata seu marido, dando-lhe uma
bebida misteriosa. Tanajura, velha índia dotada de poderes
sobrenaturais, conduz a bela viúva até uma gruta, onde revela
por meio de visões o assassinato de Cacambo. Transtornada,
Lindoia entra em profundo estado de prostração e se deixa
ficar na caverna, onde foi picada por uma serpente, morrendo
em seguida.
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
6
As informações a respeito de Caramuru são
Unidade 2 . Aula
contraditórias e nem todas são comprovadas, embora obras
como o Tratado descritivo do Brasil (1587), de Gabriel Soares
de Souza, e a Crônica da Companhia de Jesus do Estado do
Brasil (1663), do padre Simão de Vasconcelos, mencionem
fatos relativos a sua vida. Além desses autores, Santa Rita
Durão também usa como fonte A relação da viagem que fez
ao Brasil a Armada da Companhia, do ano 1655 (1657), de
Francisco de Brito Freire, e A história da América Portuguesa
(1730), de Sebastião da Rocha Pita (CANDIDO, 1981).
Santa Rita Durão toma o naufrágio como mote para
descrever a colonização da Bahia pelos portugueses e segue
à risca a forma de Camões em Os Lusíadas, estruturando
seu poema em dez cantos, com estrofes de oito versos
e o esquema de rima ABABABCC. Compreende-se sua
postura, pois se ele considerava o assunto equivalente
ao abordado pelo português, é natural que recorresse aos
mesmos recursos para destacar a sua relevância. Importa
lembrar que no século XVIII Portugal estava em situação
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
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um lado os dóceis e confiáveis e, do outro, os bárbaros,
Unidade 2 . Aula
correspondendo, respectivamente, aos convertidos e aos
que ainda não haviam se dobrado ao cristianismo. O artifício
é uma forma indireta de reforçar os elogios ao trabalho
dos jesuítas, engrandecido mais explicitamente em outras
passagens:
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
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vários estágios em que se deu a fundação do país. A chegada da
Unidade 2 . Aula
esquadra de Cabral ao Brasil, apesar de pertencer ao processo,
não apresenta caráter fundacional:
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
Durão tomou como ponto de partida a dição, o seu autor é Homero, cuja ativida-
de literária se baseia nas tradições orais,
superioridade do homem europeu e de sua transmitidas de geração em geração, sobre
as expedições gregas a Tróia (no Noroeste
cultura, tornando possível a aceitação da da Ásia Menor). A lenda troiana narra o se-
obra porque esta era a mentalidade da época. guinte: Paris, filho de Príamo, rei de Tróia,
rapta a bela Helena, esposa de Menelau.
A professora Eneida da Cunha chama a nossa Forma-se então, para vingar a afronta,
uma confederação grega sob as ordens de
atenção para outra distinção entre Diogo e Agamémnon, irmão de Menelau. Os che-
Vasco da Gama, que é o fato de Caramuru fes gregos (Agamémnon, Menelau, Aqui-
les, Ajax, Ulisses, Heitor, Eneias e outros)
não ter ascendência heroica, porque seu assediam Tróia durante dez anos e, após
múltiplos episódios heróicos, conquistam-
heroísmo é acidental, “construído a partir na e incendeiam-na. Ulisses (ou Odisseus)
de um insucesso: do naufrágio próximo demora dez anos a regressar a sua casa,
correndo pelo caminho uma infinidade de
ao litoral da Bahia de Todos os Santos, em aventuras. Essas duas obras caracterizam-
flagrante contraste com a viagem desejada e se pela sua universalidade, pois superam
6
as barreiras do tempo (há mais de vinte e
venturosa de Vasco da Gama” (2006, p. 54). cinco séculos que são lidas com interesse)
Unidade 2 . Aula
e do espaço (todos os povos do Ocidente
Nem tudo, porém, é demérito no as conhecem e admiram). Na Odisseia o
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plasticidade.
Unidade 2 . Aula
Em sua opinião, Basílio é um dos melhores poetas
brasileiros e, por causa de seu talento, percebe o mundo sensível,
dá movimento e fluidez à descrição, proporcionando prazer
ao leitor. Seu modo de escrever valoriza certos episódios, nos
quais revela grande capacidade criadora por meio da vivacidade
de determinadas cenas, permitindo que se observe a densidade
dramática, assim como a dinamicidade das ações. Para Candido,
o autor “é um maravilhoso artífice, não há dúvida, e dos poemas
longos da literatura brasileira talvez seja O Uraguai aquele em
que há maior número de versos expressivos e lapidares” (1981,
p. 134).
A respeito de Santa Rita Durão, o crítico afirma que,
apesar de escolher um grande modelo, Camões, talvez não tenha
lido autores mais próximos de seu tempo que também escreveram
épico, mas revitalizando o gênero. Vê, igualmente, uma
dificuldade do frei para equilibrar informações com invenção,
por isso, quando trata dos acontecimentos verídicos mantém-
se excessivamente próximo das fontes históricas e, nas partes
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
6
A independência gerou forte sentimento antilusitano,
Unidade 2 . Aula
portanto rejeição ao passado colonial representado pelo
domínio português. Em função disso, o índio foi transformado
em símbolo da emancipação política, econômica, social e
cultural, expressando aquilo que Nelson Werneck Sodré
denominou “furor nativista” (1988, p. 276). Segundo o autor, o
entusiasmo foi ao ponto de muitas famílias de origem europeia
adotarem nomes indígenas, daí Araripes, Juremas, costume
incorporado pelas instâncias oficiais, como se observa em
títulos nobiliárquicos como os viscondes Itaboraí, Inhaúma, o
barão de Mauá etc. Esse, porém, é um dos assuntos das nossas
próximas aulas.
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ATIVIDADES
A
AT
ATIV
TIV
IVI
VI
ATIVIDADES
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
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literatura nacional, estimulando a criação na poesia e na
Unidade 2 . Aula
prosa e popularizando escritores”? Explique.
RESUMINDO
R
RES
REES RESUMINDO
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livros
filmes
Referências
REFERÊNCIAS
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Acordes árcades e ecos camonianos no Brasil
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2ª
unidade
AULA 7
OBJETIVOS
Conhecer os aspectos mais relevantes do processo da
colonização portuguesa na África e os primeiros momentos
das literaturas desenvolvidas em Angola, Moçambique,
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
1 INTRODUÇÃO
7
outras, relacionadas às “línguas nacionais”. Quer dizer,
vamos reconhecer alguns dos principais aspectos ligados
Unidade 2 . Aula
à formação desses países africanos, entendendo que não
se trata de uma realidade homogênea, mas, pelo contrário,
vamos perceber as diferenças importantes que marcam as
diferentes situações histórico-sociais dessas nações africanas
com as quais nós, brasileiros, temos inegáveis laços culturais.
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
saiba mais
7
como Convênio franco-britânico de 1889-90, e o Tratado anglo-germânico de
Heligoland, de 1890. Até 1914 a África encontrou-se inteiramente divida entre
Unidade 2 . Aula
os principais países europeus (Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica, Por-
tugal e Alemanha). Com a derrota alemã de 1918, e obedecendo ao Tratado de
Versalhes de 1919, as antigas colônias alemãs passaram à tutela da Inglaterra
e da França. Também, a partir desse tratado, as potências comprometeram-se a
administrar seus protetorados de acordo com os interesses dos nativos africanos
e não mais com os das companhias metropolitanas. Naturalmente que isso ficou
apenas como uma afirmação retórica.
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/africa6.htm.
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7
tendo em vista uma série de questões históricas (ou seja,
Unidade 2 . Aula
relacionadas à economia, à política, à sociedade e à cultura), a
tendência geral dos estudos dessas literaturas é compreendê-
las e nomeá-las em bloco, pois vivenciaram muitos aspectos
do processo de colonização portuguesa comuns, sobretudo
a partir do século XIX, como vimos anteriormente, até a
época da independência (1975).
Inicialmente, devemos saber que, na vigência da
colonização, os textos produzidos nesses países eram
denominados, de forma ampla, como literatura ultramarina,
pois tinham a ver “com os territórios de Ultramar, como
durante muito tempo eram designadas oficialmente as
colônias” (PORTUGAL, 1999, p. 15). Com o passar do tempo,
e com as críticas e lutas contrárias ao processo colonial, essa
denominação deixou de ser usada pela sua óbvia conotação
colonialista.
Passou-se a utilizar, então, a partir de 1975, o termo
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7
Nessas histórias, o griot
transmitia ensinamen-
também sublinhe: a oralidade é inerente a todo ser humano
Unidade 2 . Aula
tos, retomava as tradi-
e “é um fator de identidade social, regional, grupal dos ções e mantinha viva a
memória de seus ante-
indivíduos” (p. 141). passados. Também mu-
sicavam suas histórias,
Precisamos, na verdade, distinguir oralidade x contando feitos épicos
letramento, de fala x escrita. Veja bem: a oralidade, enquanto ao som de instrumentos
de corda ou xilofones. A
prática social, se apresenta sob diferentes formas e gêneros figura dos griots persis-
te na atualidade, tan-
textuais e nos mais variados contextos de utilização. Já o
to na forma tradicional
letramento “é o uso da escrita na sociedade e pode ir desde quanto em diferentes
modalidades: sempre
uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que que escritores e escri-
é analfabeto, mas sabe o valor do dinheiro, sabe o ônibus que toras, poetas, animado-
res culturais, grupos de
deve tomar [...], até o indivíduo que desenvolve tratados de teatro, entre outros, se
dispõem a contar histó-
Filosofia e Matemática” (MARCUSCHI, 1997, p. 142). rias que remetem à re-
Com relação à fala, trata-se do aparato natural de todo flexão sobre os valores,
os sentidos da vida, as
ser humano, enquanto a escrita, para o mesmo linguista, “além questões propriamen-
te dos povos africanos,
de uma tecnologia de representação abstrata da própria fala [é] estão, de certo modo,
um modo de produção textual-discursiva com suas próprias atualizando o papel dos
griots.
especificidades” (1997, p. 142). Assim, também é importante
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7
que possam alcançar” (2006, p. 23). E vai mais fundo:
Unidade 2 . Aula
[...] o monopólio da palavra que vem sendo
exercido pelos falantes da língua portuguesa
se estabelece como a nova fronteira da afri-
canidade, aquela que nos fará derrubar os
muros internos da exclusão, não menos inad-
missíveis do que os muros externos, os que
retêm os nossos países no gueto do subde-
senvolvimento e da dependência (HONWA-
NA, 2006, p. 24).
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
que significa o uso majoritário da língua portuguesa, sem a praticar; nesta medida
ela é, em geral, a língua
desconsiderar também a necessidade de valorização das que se representa como
primeira para seus fa-
línguas nacionais, o que se evidencia é a existência de uma lantes. Língua Franca: é
literatura africana que, na nossa língua, consegue denunciar aquela que é praticada por
grupos de falantes de lín-
as mazelas sociais, os conflitos, as diferentes questões guas maternas diferentes,
e que são falantes desta
vivenciadas nesses países, bem como suas realizações, sua língua para o intercurso
riqueza cultural, sua importância e sua história. comum.
7
Língua nacional: é a língua
de um povo, enquanto lín-
AS LÍNGUAS NACIONAIS – Quadro resumo
Unidade 2 . Aula
gua que o caracteriza, que
Kikongo, Kimbundo, Cokwe, N’hanekaHumbe, dá a seus falantes uma re-
N’ganguela, Umbundo e Kuanhama, Yaneka, lação de pertencimento a
Angola este povo. Língua oficial:
entre as mais de vinte línguas faladas pelas
é a língua de um Estado,
diferentes etnias.
aquela que é obrigató-
ria nas ações formais do
Crioulo cabo-verdiano, que mescla o português
Estado, nos seus atos le-
Cabo Verde arcaico a línguas africanas e divide-se em
gais. Pode-se ver que as
dialetos (variantes) entre as dez ilhas. duas primeiras categorias
tratam das relações co-
Crioulo Guineense e línguas de base africana, tidianas entre falantes e
Guiné-Bissau conforme os grupos étnicos, como Balanta, as duas seguintes de suas
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7
a serviço da ideologia colonial.
Unidade 2 . Aula
Assim, mesmo que ainda no final do século XIX
tenham existido alguns autores/obras delineando o que
seria uma literatura de extração mais propriamente africana
em meio à literatura colonial, vamos seguir Manuel Ferreira
(1977, p. 34) e sua fixação dos seguintes marcos para o início
das literaturas dos PALOP:
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7
autor o afamado romance Chiquinho, De acordo com o professor Pires Laranjeira, de
Unidade 2 . Aula
1926 a 1935 desenvolveu-se um movimento
de 1947, no qual se percebem claras literário em Cabo Verde denominado Hespe-
influências ou ressonâncias do romance ritano (ou “Cabo-verdianismo”), por meio do
qual os escritores tentavam fundar um senti-
brasileiro da década de 1930, com mento de identidade com a terra de Cabo Ver-
de que fosse ao mesmo tempo distante de Por-
autores como José Lins do Rego e Jorge
tugal e da África. Pires Laranjeira explica: “O
Amado. Outros autores de destaque da fundamento que leva a que se possa designar
tal período como Hesperitano ressalta da as-
Claridade foram Jorge Barbosa, Manuel sunção do antigo mito hesperitano ou arsiná-
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
Tu és cheia de graça,
Tens a alegria franca,
[...]
Fonte: http://lusofonia.com.sapo.pt/LiteraturaSantomense.htm
7
daí esta pressa de viver!
Unidade 2 . Aula
Ombros balançando
lábios sangrando de prazer
eles dançavam
dançavam...
Depois o descanso.
Olhos longe sem se saber porquê
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Mestiço!
Mestiço!
Ah!
Mestiço!
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
3.3 Angola
7
origem angolanas” (PORTUGAL, 1999, p. 59). Entretanto, foi
Unidade 2 . Aula
na década de trinta do século XX que se desenvolveu uma escrita
mais voltada para a afirmação positiva da terra angolana, sendo
precursor o romance O segredo da morta (1929), de António
de Assis Júnior. Em 1949, Castro Soromenho lança o primeiro
romance da “trilogia do camaxilo”, Terra Morta (os outros dois
são Viragem e A chaga, que chega aos anos de 1970) e com ele se
estabelece de modo efetivo “uma literatura plenamente nacional,
no sentido que hoje é dado ao termo”, de acordo com Salinas
Portugal (1999, p. 61).
Esses passos iniciais da literatura angolana foram
reforçados pelo Movimento dos Novos Intelectuais de
Angola, de 1948, e seu grito de “guerra”: “Vamos descobrir
Angola!”. Por certo seus objetivos de instrução e garantias
de direitos ao povo africano não foram alcançados, tendo em
vista a resistência do governo colonial. Suas ideias, porém,
veiculadas sobretudo na revista Mensagem (1951) por autores
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Lá vai o sô Santo...
Bengala na mão
Grande corrente de ouro, que sai da lapela
Ao bolso... que não tem um tostão.
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
Eu ainda não sei nem posso escrever o meu encontra em: http://
resistente.3e.com.pt/
poema joomla/index.
o grande poema que sinto já circular em mim
[...]
O meu poema anda por aí fora
envolto em panos garridos
vendendo-se
vendendo
“malimonjemalimonjééé”
[...]
Mas o meu poema não é fatalista
o meu poema é um poema que já quer
7
e já sabe
Unidade 2 . Aula
o meu poema sou eu-branco Figura 2.7.4 - Jacinto Antônio.
Fonte: http://1.bp.blogspot.
montado em mim-preto com/-Jg-dFyid3Vc/TdxTLPZy2pI/
AAAAAAAACkI/sQQW97Xkt_o/s320/
a cavalgar pela vida. Ant%25C3%25B3nio.jpg
3.4 Moçambique
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
Unidade 2 . Aula
E fazes-me tua mina.
Patrão!
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não
Patrão!
Eu sou carvão!
E tenho que arder, sim
E queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão!
Tenho que arder na exploração
Arder até às cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu Irmão
Até não ser mais tua mina
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Patrão!
Eu sou carvão!
Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
3.5 Guiné-Bissau
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7
literatura Bissau-guineense quando tratarmos da situação
Unidade 2 . Aula
histórica dos PALOP após os processos de independência.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
ATIVIDADES
AT
ATIV
VI
ATIVIADES
POEMA DO MAR
O drama do Mar,
o desassossego do Mar,
sempre
sempre
dentro de nós!
O Mar!
cercando
prendendo as nossas Ilhas,
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
O Mar!
pondo rezas nos lábios,
deixando nos olhos dos que ficaram
a nostalgia resignada de países distantes
que chegam até nós nas estampas das
ilustrações
nas fitas de cinema
e nesse ar de outros climas que trazem os
passageiros
quando desembarcam para ver a pobreza da
terra!
7
O Mar!
a esperança na carta de longe
Unidade 2 . Aula
que talvez não chegue mais!...
O Mar!
saudades dos velhos marinheiros contando
histórias de tempos passados,
histórias da baleia que uma vez virou a canoa...
de bebedeiras, de rixas, de mulheres, nos portos
estrangeiros...
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
“Por ti sofre o meu coração”
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7
Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
Unidade 2 . Aula
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Um dia
Quando este sol ardente de África
nos cobrir a todos com a benção do mesmo calor
quero ir contigo, amigo,
de mãos dadas,deslumbrados
pelos trilhos abertos da nossa terra estranha,
adubada com sangue e suor de séculos...
Uma luz clara e doce se abrirá para todos
e nós iremos de mãos dadas
amigo
pelos trilhos verdes de Moçambique.
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
RESUMINDO
RESUMINDO
RE
ESUM
SU
U
REFERÊNCIAS
7
REFERÊNCIAS
RE
EFE
F R
Unidade 2 . Aula
ABDALA JÚNIOR, Benjamin; PASCHOALIN, Maria
Aparecida. História social da Literatura Portuguesa. São
Paulo: Ática, 1990.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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A formação das literaturas dos países africanos de língia oficial portuguesa (PALOP)
7Unidade 2 . Aula
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Suas anotações
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3ª
unidade
AULA 8
O ROMANTISMO E
A AFIRMAÇÃO DA
NACIONALIDADE
OBJETIVOS
Possibilitar o reconhecimento dos principais aspectos da
realidade histórico-cultural em que se inseriu a estética
romântica, respectivamente em Portugal e no Brasil, bem
como os elementos mais relevantes das obras literárias
de autores portugueses e brasileiros desse período, com
destaque para as ficções narrativas.
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
1 INTRODUÇÃO
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
2006).
Também contribuiu para a movimentação da cidade a
abertura de casas comerciais, a chegada de pessoas de outras
regiões do país, de negociantes, enfim, de gente atraída
pelo súbito crescimento na circulação humana, de bens e
de dinheiro. O desenvolvimento do comércio estimulou a
incorporação ao cotidiano de objetos antes inexistentes ou sem
grande importância como móveis, espelhos, papel de parede,
quadros, relógios de parede, entre outros. Aconteceu também
o surgimento de atividades econômicas, principalmente as
remuneradas, e o aumento pela procura de outras como
cabeleireiro, costureira e artesãos, principalmente os vindos da
Europa (SODRÉ, 1988).
Os progressos daqui contrastavam com os problemas
de Portugal: a ausência do rei e do comando administrativo
dificultava o funcionamento dos serviços públicos. O Brasil
passou de principal fonte de divisas a gerador de despesas,
devido aos gastos com obras e benfeitorias, aos privilégios
fiscais concedidos e aos gastos para assegurar a posse da
Banda Oriental, território onde hoje se situa o Uruguai, fato
conhecido como Guerra da Cisplatina (HOLANDA, 2006).
Esses fatores provocaram descontentamentos e contribuíram
para o alastramento de contestações, levando D. João a optar
pelo regresso a Lisboa. Ao partir, teve a precaução de deixar D.
8
Pedro como regente, num último esforço para evitar a separação,
Unidade 3 . Aula
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
O guerreiro cantor que o nobre aspecto dedica à atividade dramática num meio
acadêmico agitado pelas novas ideias,
Tinha como de glória resplendente, sobretudo políticas. Concluído o curso,
E na divina inspiração aceso. em 1821 (ano em que termina O Retra-
to de Vênus), vai para Lisboa, onde ime-
Qual deveras o imita, qual fingindo; diatamente acumula triunfos, no âmbito
Mas todos se compõem do rei a exemplo. literário, com a representação de Catão
(estreado a 29-11-1821) e casa-se com
O vate começou: pausado acento,Respeitoso não Luísa Midosi (de quem viria a separar-
tímido, lhe alonga se em 1836). Exilado como liberal em
1823, viveu em Inglaterra e em França
Solenemente o cadenciar medido até 1826. No regresso a Portugal dirige
Do metro numeroso. O heróico assunto os jornais O Português e O Cronista, mas
Primeiro expõe do Canto: armas e glória conhece de novo o exílio de 1828 a 1832.
De 1833 a 1836, é nomeado Encarregado
Dos barões lusitanos que fundaram de Negócios e Cônsul-Geral na Bélgica.
Do Oriente o Império novo; os grandes feitos Em 1838, integra o novo governo, sen-
do encarregado da restauração do teatro
Dos reis, dos cidadãos de eterna fama português, missão que leva a cabo crian-
Que se hão da lei da morte libertado. do, não só o Conservatório de Arte Dra-
mática, mas sobretudo o Teatro Nacional.
Logo as Tágides musas invocando É nomeado Deputado em 1837, Cronista-
Porque alto som lhe dêem e sublimado, Mor em 1838 e finalmente Par do Reino
em 1851. D. Pedro V agraciou-o, a 25
Um estilo grandíloquo e corrente: de junho de 1854, meses antes da sua
– «Dai-me – com voz mais elevada clama – morte, com o título de Visconde de Almei-
da Garrett. Principais obras impressas e
Dai-me uma fúria sonorosa e grande, publicadas em vida do autor: 1825 - Ca-
E não de agreste avena ou rudafrauta, mões, Paris; 1826 - Dona Branca, Paris;
Fonte: http://www.instituto-camoes.
Podemos perceber que se trata de uma pt/revista/bibliografia.htm. Acesso em
dez./2011.
espécie de “releitura” de Os Lusíadas, mas em
versão diferenciada: não há preocupação com
formas fixas, nem com rimas definidas, embora
utilize “o verso branco de dez sílabas que já para conhecer
fora usado pelos árcades” (SARAIVA apud Na “Coleção Clássicos da Literatura Portu-
ABDALA JÚNIOR.; PASCHOALIN, 1982, guesa”, Biblioteca Digital da Porto Editora,
você encontra a versão integral do poema
p. 83). Se fizermos uma leitura simplificada do “Camões”. Acesse o site: http://www.adfa-
portugal.com/livros/camoes.pdf.
texto, entendemos que, sob a copa de árvores
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
A rosa
É formosa;
Bem sei.
Porque lhe
chamam - flor
D’amor,
Não sei.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
A flor,
Bem de amor
É o lírio;
Tem mel no
aroma - dor
Na cor
O lírio.
Se o cheiro
É fagueiro
Na rosa,
Se é de beleza - mor
Primor
A rosa,
No lírio
O martírio
Que é meu
Pintado vejo:
cor
E ardor
É o meu.
A rosa
É formosa,
Bem sei ...
E será de outros flor
D’amor...
Não sei.
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
personagem:
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Capítulo I
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
leitura recomendada
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
para conhecer
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
4 O ROMANTISMO NO BRASIL
8Unidade 3 . Aula
saiba mais
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
ATIVIDADES
Atividades
CAPÍTULO X
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
de ventura suprema:
- Tu viverás!...
Cecília abriu os olhos, e vendo seu amigo junto dela, ouvindo
ainda suas palavras, sentiu o enlevo que deve ser o gozo da vida
eterna.
- Sim?... murmurou ela: viveremos!... lá no céu, no seio de
Deus, junto daqueles que amamos!...
O anjo espanejava-se para remontar ao berço.
- Sobre aquele azul que tu vês, continuou ela, Deus mora no
seu trono, rodeado dos que o adoram. Nós iremos lá, Peri! Tu
viverás com tua irmã, sempre...!
Ela embebeu os olhos nos olhos de seu amigo, e lânguida
reclinou a loura fronte.
O hálito ardente de Peri bafejou-lhe a face.
Fez-se no semblante da virgem um ninho de castos rubores
e límpidos sorrisos: os lábios abriram como as asas purpúreas
de um beijo soltando o voo.
A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia...
E sumiu-se no horizonte”.
(ALENCAR, José de. O guarani. 18. ed. São Paulo:
Melhoramentos, 1974, p. 316-318).
8
1. Descreva como o fragmento final de O guarani
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
livros
1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrup-
ta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil, de
Laurentino Gomes.
1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco
por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo
para dar errado, de Laurentino Gomes.
A marquesa de Santos, de Paulo Setúbal.
Imperatriz no fim do mundo, de Ivanir Calado.
Audiovisual
8Unidade 3 . Aula
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
RESUMINDO
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REFERÊNCIAS
Referências
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O Romantismo e a afirmação da nacionalidade
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Suas anotações
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3ª
unidade
AULA 9
REALISMO, NATURALISMO,
PROGRAMAS E RUPTURAS
OBJETIVOS
Reconhecer os principais aspectos histórico-culturais que
contextualizaram as expressões artísticas do Realismo
e do Naturalismo em Portugal e no Brasil, bem como os
principais nomes e obras literárias que fundamentaram
novos programas estéticos e anunciaram rupturas artísticas
no campo literário.
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
1 INTRODUÇÃO
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
2 O REALISMO/NATURALISMO EM PORTUGAL
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
Bovary, de Flaubert.
No entanto o termo “realismo”, enquanto proposta
estética voltada a retratar o mundo da forma mais direta e
objetiva possível, foi cunhado pelo pintor francês Gustave
Courbet (1819-1877), quando ele abriu uma exposição
individual em Paris, em 1855, intitulada de Lê Réalisme.
Os britadores, de G. Courbet.
Quais eram então, de modo geral, as dominantes
ideológicas do Realismo? Eram as que se opunham ao idealismo
romântico, propondo uma visão materialista das coisas e
fenômenos, priorizando a realidade material, empiricamente
verificável que deve ser observada e analisada de maneira neutra,
desapaixonada e tanto quanto possível objetiva. Só assim seria
possível o reconhecimento minucioso dos costumes, para que
se efetivasse uma crítica social.
Assim, o Realismo, no plano social, conecta-se com
correntes de índole reformista e mesmo socialista, nos moldes
do pensamento de Proudhon, e de uma leitura de tradução
francesa do pensamento de Hegel.
O quadro geral é o advento e afirmação do capitalismo
industrial com destaque para grandes mudanças no pensamento
científico da época, sobretudo com os estudos de Darwin e
com o surto de campos de conhecimento como a geologia, a
embriologia, a sociologia, as descobertas da bioquímica – e a
ideia de unidade material de todos os fenômenos.
Em Portugal, acentuava-se a dependência econômica do
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para conhecer
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
saiba mais
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
texto/ph000227.pdf>.
Inicialmente, não devemos esquecer que O primo Basílio
procurava atender aos principais objetivos da chamada fase
mais propriamente realista/naturalista de Eça: nesse romance,
encontramos o tema do adultério, as marcas do determinismo
social na conduta e trajetória da governanta Juliana, a crítica à
sociedade lisboeta nos personagens que, como Julião Zuzarte,
o Conselheiro Acácio, Ernestinho Ledesma, encarnam,
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
nos romances a partir de Memórias póstumas de Brás refletir sobre os diversos as-
pectos da literatura permiti-
Cubas, que veio a público em 1881. ram que Machado de Assis
transitasse com igual desen-
A trajetória de Machado de Assis sempre foi voltura na crítica e na ficção.
ascendente, mas a transformação que o consagrou Notamos isso pela sua produ-
ção artística em verso ou pro-
aconteceu com a publicação de Memórias póstumas sa e pelos textos críticos que
escreveu. Desses recomen-
de Brás Cubas. O aparecimento da obra se deu em damos “Notícia da atual
meio à ocorrência de fatos decisivos para a história do literatura brasileira - ins-
tinto de nacionalidade”. O
Brasil, em especial, o crescimento das manifestações artigo apresenta importante
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
ATIVIDADES
A
AT
TIV
IVI
VI
ATIVIDADES
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Tenho um amate
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
Juliana Couceiro
Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mu-
dava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte
anos a dormir em cacifros, a levantar de ma-
drugada, a comer os restos, a vestir trapos ve-
lhos, a sofrer os repelões das crianças e as más
palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para
o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se
quando voltava a saúde!... Era de mais! Tinha
agora dias em que só de ver o balde das águas
sujas e o ferro de engomar se lhe embrulhava o
estômago. Nunca se acostumara a servir. Des-
de rapariga a sua ambição fora ter um negocio-
zito, uma tabacaria, uma loja de capelistas ou
de quinquilharias, dispor, governar, ser patroa:
mas, apesar de economias mesquinhas e de cál-
culos sôfregos, o mais que conseguira juntar
foram sete moedas ao fim de anos: tinha então
adoecido; com o horror do hospital fora tratar-
se para casa de uma parenta; e o dinheiro, ai!
derretera-se! No dia em que se trocou a última
libra, chorou horas com a cabeça debaixo da
roupa.
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
criticado por não ter participado ativamente dos movimentos Machado de Assis faz
contra a escravidão, como fizeram alguns colegas seus. Os referências constantes
ao problema da escra-
trechos citados revelam o equívoco cometido por quem vidão em sua obra,
assim pensava. Tomando-os como referência, descreva como como é o caso do ro-
mance Esaú e Jacó,
podemos perceber a preocupação do escritor com o problema. e de contos como “O
caso da vara”, “Pai
contra mãe” e “Ma-
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Realismo, Naturalismo, programas e rupturas
RESUMINDO
RESUMINDO
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REFERÊNCIAS
REFE
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FE
REFERÊNCIAS
1978.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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3ª
unidade
AULA 10
MODERNISMOS
OBJETIVOS
Compreender os principais fatores históricos que
contextualizaram as mais expressivas criações literárias
dos Modernismos português e brasileiro e seus respectivos
autores.
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Modernismos
1 INTRODUÇÃO
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Modernismos
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Modernismos
Manuel de Arriaga:
Primeiro Presidente da Prêmio Nobel para Maeterlinck/
República Portuguesa/ Roald Amundsen atinge o
1911 T. de Pascoaes: Marânus
Reforma do Ensino Primário Pólo Sul/ Teoria Atômica de
e Secundário/ Separação Rutheford/Morre Mahler
da Igreja e do Estado
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
F. Pessoa cria os
heterônimos Alberto
Caeiro, Álvaro de Campos Abertura do Canal do Panamá/
e Ricardo Reis e rompe Fundação da União Assassinato do Arquiduque
1914
com A Águia/ Sá-Carneiro Operária Nacional Francisco Ferdinando, da Áustria/
regressa a Portugal e Início da Primeira Guerra Mundial
publica Dispersão e
Confissões de Lúcio
Lançamento da Revista
Kafka: A metamorfose/
Orpheu/Publicação de
Luta republicana e vitória Formação do Círculo Linguístico
obras de Fernando Pessoa:
1915 contra ditadura de Pimenta de Moscou, dando início ao
O Marinheiro, Opiário, Ode
de Castro Formalismo Russo/Auge do New
Triunfal, Chuva Oblíqua,
Orleans Jazz
Ode Marítima
Mário de Sá-Carneiro
Publicação do Curso de
Almada Negreiros publica suicida-se em Paris/
1916 Linguística Geral, de Saussure/
o Manifesto Anti-Dantas Conturbações políticas:
Exposições de Klee e Miró
censura à imprensa
Assassinato de Sidônio
T. Tzara: Manifesto Dada/ Fim da
1918 Morre Santa Rita Pintor Pais/Beatificação de Nuno
Primeira Guerra Mundial
Álvares Pereira
Fonte: Adaptado de VILA MAIOR, Dionísio. Introdução ao Modernismo. Coimbra: Almedina, 1996.
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Modernismos
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Modernismos
saiba mais
Paulismo: termo que deriva [da expressão “Pauis”, colocada no início do poema “Impressões do Crepús-
culo” – ver a seguir] é uma invenção de Pessoa que consiste num refinamento dos processos simbolistas.
[...] «Pauis» ilustra, bem melhor que a poesia saudosista, os caracteres que Pessoa atribuíra a esta num
artigo d’A Águia: o vago, o complexo, o sutil [...] O estilo paúlico define-se pela voluntária confusão do
subjetivo e do objetivo, pela «associação de ideias desconexas», pelas frases nominais, exclamativas,
pelas aberrações da sintaxe («transparente de Foi, oco de ter-se»), pelo vocabulário expressivo de tédio,
do vazio da alma, do anseio de «outra coisa», um vago «além» («ouro», «azul», «Mistério», pelo uso de
maiúsculas que traduzem a profundidade espiritual de certas palavras («Outros Sinos», «Hora») (COE-
LHO, Jacinto do Prado, DICIONÁRIO DE LITERATURA, Porto: Figueirinhas, 1979 – Disponível em: http://
faroldasletras.no.sapo.pt/paulismo.htm).
abstracção criadora, a abstracção em movimento. Ao passo que a filosofia é estática, a arte é dinâmica;
é mesmo essa a única diferença entre a arte e a filosofia (PESSOA, In: Obras de Fernando Pessoa, v. III,
Unidade 3 . Aula
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
e o onírico: ‘Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito / E a cor das flores é transparente
de as velas de grandes navios / Que largam do cais...’. A alma está lucidamente dividida, a hora é ‘du-
pla’, o autor capta subtis correspondências de sensações: ‘Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste
dia, / E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...’ Mas Pessoa cedo poria de lado essa
experiência lúdica, dos ‘arredores da sua sinceridade’ (COELHO, Jacinto do Prado, DICIONÁRIO DE LI-
TERATURA, Porto: Figueirinhas, 1979 – Disponível em: http://faroldasletras.no.sapo.pt/paulismo.htm).
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Modernismos
respeito de diferentes culturas e expressões literárias, tanto - subsídios para o seu es-
tudo e para a história das
mais quando possuem afinidades e interesses que foram suas relações. Porto: Por-
to, 1986.
marcados por uma história e língua comuns.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
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Modernismos
para conhecer
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. [...] A atração pelo mis-
tério, encaminha-o para campos ocultistas na busca de uma verdade e de
um conhecimento espiritual, na busca da compreensão de si próprio e de
um universo que transcende em muito o campo do imediatamente visível.
[...] [Já sua reflexão sobre o Portugal] culmina em termos de produção
literária, com a publicação, em 1934, da sua obra Mensagem. Aí temos
presente, partindo da epopeia da diáspora de Portugal que deverá ser
retomada e concluída, a vontade de regeneração de um país estagnado
e a referência a mitologias diversas. [...] [Nunca casou e teve uma única
namorada, conforme cartas trocadas com Ophélia Queirós] e, assim, Fer-
nando Pessoa trocou a perspectiva de um amor e de uma família por um
outro chamamento, seja ele o da missão a desempenhar seja o do com-
promisso com a sua própria identidade e com a humanidade. Abandonado
a si mesmo, à sua vida intelectual e mística, ao seu isolamento, que, aliás,
marcou toda a sua existência, é sozinho que Fernando Pessoa, já profun-
damente desgastado pela angústia que o mina, pela constante busca de
si próprio, morre no dia 30 de novembro de 1935, com 47 anos de idade.
“O poeta é um criador.
Cria tão completamente
Que chega a fingir (ou a criar) a dor
Que deveras sente”
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Modernismos
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
VI – DISPERSÃO (excerto)
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto.
É com saudades de mim.
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Modernismos
para conhecer
Paris.
Fonte: http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=337.
Para aprofundar estudos sobre a vida e obra desse poeta, consulte:
httt://purl.pt/246/1/P39.html.
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Modernismos
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Modernismos
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
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Modernismos
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
ATIVIDADES
ATIVIDADES
I – Sobre o Modernismo português
ISTO
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
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Modernismos
Prefácio Interessantíssimo
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
[...]
Um pouco de teoria?
Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente,
acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria
frases que são versos inteiros, sem prejuízo de
medir tantas sílabas, com acentuação determinada.
A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer empecilho
a perturba e mesmo emudece. Arte, que, somada
a Lirismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar
a doida carreira do estado lírico para avisa-lo das
pedras e cercas de arame do caminho. Deixe que
tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o
poema de repetições fastientas, de sentimentalidades
românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos.
Que Arte não seja porém limpar versos de exageros
coloridos. Exagero: símbolo sempre novo da vida
como sonho. Por ele vida e sonho se irmanaram.
E, consciente, não é defeito, mas meio legítimo de
expressão.
[...]
O impulso lírico clama dentro de nós como turba
enfuriada. Seria engraçadíssimo que esta dissesse:
“Alto lá! Cada qual berre por sua vez; e quem tiver
o argumento mais forte, guarde-o para o fim!” A
turba é confusão aparente. Quem souber afastar-
se idealmente dela, verá o impotente desenvolver-
se dessa alma coletiva, falando a retórica exata das
reivindicações. Minhas reivindicações? Liberdade.
Uso dela; não abuso. Sei imbricá-la nas minhas
verdades filosóficas e religiosas, não convencionais
como a Arte, são verdades. Tanto não abuso! Não
pretendo obrigar ninguém a seguir-me. Costumo
andar sozinho.
[...]
Harmonia: combinação de sons simultâneos.
Exemplo:
“Arroubos.. Lutas... Setas... Cantigas... Povoar!...”
Estas palavras não se ligam. Não formam
enumeração. Cada uma é fase, período elíptico,
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Fonte: www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/
jogo/pauliceia.asp. Acesso ago. 2011.
POÉTICA
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Modernismos
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos secretário do
amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
RESUMINDO
RES
RE S RESUMINDO
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REFERÊNCIAS
REFE
R
REEFE
F R
REFERÊNCIAS
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Modernismos
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Unidade 3 . Aula
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3ª
unidade
AULA 11
PERCURSOS
CONTEMPORÂNEOS
OBJETIVOS
Reconhecer os principais aspectos das relações histórico-
culturais que contextualizaram as expressões literárias em
língua portuguesa no decorrer do século XX, bem como
as questões mais relevantes presentes nas produções
contemporâneas das literaturas em estudo.
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1 INTRODUÇÃO
2 LITERATURA E ENGAJAMENTO
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Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura
para conhecer
Fonte: http://www.jorgeamado.org.br
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criador de personagens.
[...] Hoje, ao reler os seus livros, ressalta esse
tom de conversa íntima, uma conversa à som-
bra de uma varanda que começa em Salvador
da Bahia e se estende para além do Atlântico.
Nesse narrar fluído e espreguiçado, Jorge vai
desfiando prosa e os seus personagens saltam
da página para a nossa vida quotidiana.
[...] Esta familiaridade existencial foi, cer-
tamente, um dos motivos do fascínio nos
nossos países. Os seus personagens eram vi-
zinhos não de um lugar, mas da nossa pró-
pria vida. Gente pobre, gente com os nossos
nomes, gente com as nossas raças passeavam
pelas páginas do autor brasileiro. Ali estavam
os nossos malandros, ali estavam os terrei-
ros onde falamos com os deuses, ali estava o
cheiro da nossa comida, ali estava a sensua-
lidade e o perfume das nossas mulheres. No
fundo, Jorge Amado nos fazia regressar a nós
mesmos.
[...] Jorge não escrevia livros, ele escrevia um
país. E não era apenas um autor que nos che-
gava. Era um Brasil todo inteiro que regres-
sava a África. Havia, pois, uma outra nação
que era longínqua mas não nos era exterior.
E nós precisávamos desse Brasil como quem
carece de um sonho que nunca antes soubé-
ramos ter. Podia ser um Brasil tipificado e
mistificado, mas era um espaço mágico onde
nos renascíamos criadores de histórias e pro-
dutores de felicidade.
Descobríamos essa nação num momento his-
tórico em que nos faltava ser nação. O Brasil
- tão cheio de África, tão cheio da nossa lín-
gua e da nossa religiosidade - nos entregava
essa margem que nos faltava para sermos rio.
Falei de razões literárias e outras quase onto-
lógicas que ajudam a explicar porque Jorge é
tão Amado nos países africanos. Mas existem
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e escritoras desenvolveram narrativas que com ironia, humor José Saramago, aces-
sível pelo site: http://
ou de forma muito incisivamente crítica apontam novas josesaramago.blogs.
sapo.pt/95699.html.
perspectivas para se pensar Portugal. Visite!
em: http://cvc.instituto-camoes.pt/literatu-
ra/contemporaneos.htm).
Unidade 3 . Aula
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ATIVIDADES
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Modernismos
homem? Para mim não podia haver homem mais antigo que
meu avô. Acontece que, dessa vez, me apeteceu espreitar os
pântanos. Queria subir à margem, colocar pé em terra não-
firme.
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RESUMINDO
R
REE RESUMINDO
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
RE
EFE
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1969.
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Suas anotações
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