Johann Joachim Winckelmann
(1717-1768)
Reflexdes sobre
a imitacao das obras gregas
em pintura eem escultura
(1755)
Apés estudos de teologia em Halle e anos de uma existén-
cia miseravel como professor primario e preceptor, Johann Joachim
Winckelmann passa seis anos em Dresden, ocupando um posto de
bibliotecario junto ao conde de Briinau, um historiador. Almejando
dedicar-se ao estudo da arte antiga, Winckelmann converte-se ao
catolicismo para poder ir a Roma. Em 1755, ele publica seu pri-
meiro texto, Reflexdes sobre a imitagao das obras gregas em pin-
tura e em escultura, que sera imediatamente traduzido em fran-
cés e depois em inglés. No ano seguinte, parte finalmente para
Roma, onde ira residir por mais de vinte anos. Torna-se bibliotecario
na corte pontifical de Benedito XIV e, posteriormente, prefeito das
Antiguidades Romanas. Em 1764, ele publica sua obra-prima: Ges-
chichte der Kunst des Altertums [Historia da arte da Antiguidade].
‘Apés uma viagem a Alemanha, passando pela cidade de Tries-
te no caminho de volta a Roma, ele ¢ assassinado, em 8 de junho
de 1768.
No prefacio de sua Histéria da arte, Winckelmann escreve:
“A historia da arte dos antigos que leciono ao piblico nao é uma
simples narracdo cronolégica das revolucées que ela sofreu. En-
tendo a palavra histéria no sentido mais abrangente que ela pos-
sa ter na lingua grega, e 0 meu objetivo € oferecer 0 compéndio
de um sistema da arte”.
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Sistematica e poética, assim é, acredita seu autor, essa his-
toria da arte que exerceria tao grande influéncia nos séculos XIX
e XX. A narracdo cronolégica € ao mesmo tempo muthos e poie-
sis, uma narragao e uma construgao. A historia da arte segundo
Winckelmann é uma historia especulativa. E 0 € por razées em gran-
de parte histdricas. Com efeito, o que se sabia naquela época so-
bre a escultura grega? Era possivel recorrer, por um lado, ao que
dela diziam os textos antigos, em particular os de Plinio, e por outro
lado as observagdes sobre as estatuas descobertas na regido de
Roma, as quais, como sabemos hoje, séo em sua maioria obras
tardias ou cdpias romanas. Com excecao do grupo de esculturas
do Laocoonte, que podia ser identificado a partir dos textos, as
fontes literarias nado permitiam datar com precisao as obras con-
servadas. Winckelmann encontra-se portanto na mesma situagdo
de todos os eruditos da época. Ele se inspira no livro de Junius, De
pictura veterum [A pintura dos antigos], como todos farao a par-
tir do século XVII;! também recorre ao trabalho dos “antiquarios”
que estabeleceram catalogos descritivos das obras remanescen-
tes, como Bernard de Montfaucon e seu Antiquité expliquée et re-
présentée en figures [A Antiguidade explicada e representada em
figuras]. Foi preciso esperar por muito tempo para que escavacoes
trouxessem a luz exemplos datados da escultura grega classica. 0
trabalho de Winckelmann baseia-se portanto numa visdo muito
incompleta, e até mesmo inexata em varios casos, da escultura
grega. Mas a sua historia é especulativa sobretudo por seu card-
ter sistematico, que prefigura as grandes filosofias da histéria do
século seguinte, como a de Hegel. Ela emprega critérios que sao
a0 mesmo tempo estéticos € politicos, ja que é na felicidade e na
liberdade que reinavam na Grécia que Winckelmann vé a causa do
progresso que entao conheceram as artes. Toda a historia da arte
antiga é interpretada em termos de grandeza e decadéncia, de ex-
1 Sobre Franciscus Junius, ver o volume 1, O mito da pintura, € 0
volume 5, Da imitagto & expressao.
>. 77Johann Joachim Winckelmann
pansao e declinio. Dai a classificagao das obras em arcaicas, clas-
sicas ou decadentes.
Embora a historia da arte grega, tal como nos conta Winckel-
mann, tenha sido amplamente questionada pelos trabalhos dos
historiadores e as descobertas da arqueologia, seu livro nao deixa
de ser uma das obras mais importantes de seu tempo. Primeiro, por
ter exercido uma influéncia consideravel na historia das idéias.
Todos o léem ea ele se referem para falar da Antiguidade, seja na
Franca, na Inglaterra ou na Alemanha. A idéia da arte grega em
que se baseiam tanto Diderot como Lessing ou, no século XIX, Hegel
ou Nietzsche, é aquela construida por Winckelmann. Mas, sobre-
tudo, do ponto de vista que nos interessa, por estar na origem de
uma estética nova, a idéia do Belo ideal. Ao definir o ideal de beleza
a partir do modelo da escultura classica, ou do que ele acreditava
ser a escultura classica, evocando, como faz logo em seu primei-
ro texto, as qualidades da “nobre simplicidade" e da “grandeza se-
rena" para defini-la, Winckelmann renova as idéias estéticas de sua
€poca. E, ao situar esse belo ideal num passado longinquo, que nao
voltara nunca mais, ele confere a beleza e a felicidade uma tona-
lidade melancdlica que seré encontrada mais tarde nas obras dos
autores romanticos e de Baudelaire. A esse respeito, ¢ preciso ler
as derradeiras linhas de seu livro: “Quando estava a refletir sobre
a destruicdo da arte, experimentei 0 mesmo desprazer que senti-
ria um homem que, ao escrever a historia de seu pais, se visse obri-
gado a tragar o quadro de sua ruina [...] Assim uma amante deso-
lada jaz imével a beira-mar, e acompanha com os olhos 0 navio
que leva embora o seu amado, sem esperanga de revé-lo: em sua
ilusdo, ela cré vislumbrar ainda, sobre a vela que se afasta, a ima-
gem do objeto de seu desejo. Tal como esta amante, nds nao te-
mos mais, por assim dizer, do que a sombra do objeto do nosso
amor; mas sua perda aumenta o nosso desejo, e contemplamos as
cépias com mais atengao do que teriamos com os originais, se eles
estivessem em nosso poder".
0 texto que segue faz parte do primeiro estudo publicado por
Winckelmann. Além da célebre definigéo da beleza com a qual é
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