Você está na página 1de 4

O teorema de Cauchy-Goursat

Roberto Imbuzeiro Oliveira∗

23 de Março de 2011

1 Preliminares importantes
Nestas notas, U ⊂ C sempre será um aberto e h : U → C é contı́nua.
Recordamos que f : U → C é dita holomorfa se é diferenciável em todo
ponto de U .

Exercı́cio 1 (Invariância da integral de linha por reparametrizações)


Seja γ : [a, b] → U uma curva retificável e α : [c, d] → [a, b] uma bijeção
contı́nua e crescente. Prove que para qualquer h : U → C contı́nua,
Z Z
h= h,
γ γ◦α

isto é, a integral de linha não muda quando a parametrização muda.

Dados dois pontos z1 , z2 ∈ C, defina −


z−→
1 z2 (t) = z1 + t(z2 − z1 ) para
t ∈ [0, 1].
R R
Exercı́cio 2 Prove que −
z−→h
1 z2
=− −
z−→ h.
2 z1

Dados três pontos z1 , z2 , z3 ∈ C, definimos:


X
∆(z1 , z2 , z3 ) ≡ {λ1 z1 + λ2 z2 + λ3 z3 : (λ1 , λ2 , λ3 ) ∈ [0, 1]3 , λi = 1}.
i

Este é o triângulo com vértices em z1 , z2 e z3 .

Exercı́cio 3 Prove que ∆(z1 , z2 , z3 ) é sempre compacto de C.



IMPA, Rio de Janeiro, RJ, Brazil, 22430-040.

1
Também definimos ∂∆(z1 , z2 , z3 ) : [0, 3] → C como sendo a curva poli-
gonal fechada passando por z1 , z2 e z3 da seguinte forma:

 z1 + t(z2 − z1 ), 0 ≤ t ≤ 1;
∂∆(z1 , z2 , z3 )(t) = z2 + (t − 1)z3 , 1 ≤ t ≤ 2;
z3 + (t − 2)z1 , 2 ≤ t ≤ 3.

Às vezes escreveremos ∆ e ∂∆ sem menção aos vértices.

Exercı́cio 4 Prove que, se ∆ ⊂ U ,


Z Z Z Z 
h= + + h.
∂∆ −
z−→ −
z−→ −
z−→
1 z2 2 z3 3 z1

Exercı́cio 5 Sejam mi,j = (zi +zj )/2 os pontos médios dos lados de ∆ para
1 ≤ i, j ≤ 3. Divida ∆ em 4 triângulos:

∆0 = ∆(m1,2 , m2,3 , m3,1 )


∆i = ∆(zi , mi,j , mj,k ) para {i, j, k} = {1, 2, 3}.

Prove que ∆j ⊂ ∆ para todo 0 ≤ j ≤ 3 e que ∂∆ h = 3j=0 ∂∆j h. Mostre


R P R

ainda que o diâmetro e o perı́metro de cada ∆j são a metade dos respectivos


valores em ∆.

2 Enunciado e prova do teorema de Cauchy-Goursat


Teorema 1 (Cauchy-Goursat) Sejam U ⊂ C aberto e f : U → C holo-
morfa. Então para quaisquer z1 , z2 , z3 ⊂ U com ∆(z1 , z2 , z3 ) ⊂ U ,
Z
f (z) dz = 0.
∂∆(z1 ,z2 ,z3 )

Prova: Defina: Z

c≡ f (z) dz .

∂∆(z1 ,z2 ,z3 )

Defina ∆(0) = ∆(z1 , z2 , z3 ). Usando o Exercı́cio 5, podemos encontrar


(0)
∆j , 0 ≤ j ≤ 3 com:

Z 3 Z 3 Z
X X
c = f = f ≤ f .

(0)
(0)
∂∆(0) j=0 ∂∆j j=0 ∂∆j

2
(0)
Portanto existe um ı́ndice j tal que o triângulo ∆(1) ≡ ∆j satisfaz

L(∆(0) ) diam(∆(0) )
L(∂∆(1) ) = , diam(∆(1) ) =
2 2
e Z
c
f ≥ .

∂∆ (1) 4
Iterando este procedimento, podemos encontrar uma sequência infinita de
triângulos encaixados:
U ⊃ ∆(0) ⊃ ∆(1) ⊃ ∆(2) ⊃ · · · ⊃ ∆(j) ⊃ . . .
em que para todo j temos:
L(∆(0) ) diam(∆(0) )
L(∂∆(j) ) = , diam(∆ (j
) =
2j 2j
e Z
c
f ≥ j .

∂∆ (j) 4
Como os triângulos são compactos, há um z0 ∈ ∩j ∆(j) , que portanto
pertence a U . Segue que podemos escrever:
|z − z0 | ≤ ε ⇒ |f (z) − f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 )| ≤ r(ε) ε
onde r(ε) tende a 0 quando ε → 0. Como γ f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 ) dz = 0
R

para qualquer γ fechada, temos:


Z
4−j c ≤

f (z) dz
(j)
Z∂∆
0

= (f (z) − f (z0 ) − (z − z0 ) f (z0 )) dz
(j)
Z ∂∆
≤ |f (z) − f (z0 ) − (z − z0 ) f 0 (z0 )| dz.
∂∆(j)

Recorde de notas anteriores que para qualquer h ≥ 0 temos:


Z
h ≤ L(γ) sup h ◦ γ(t).
γ 0≤t≤1

No nosso caso tomamos γ = ∂∆(j) e h(z) = |f (z) − f (z0 ) − (z − z0 ) f 0 (z0 )|.


Note que L(γ) = 2−j L(∂∆(0) ) e que:
sup |h◦γ(t)| ≤ sup |f (z)−f (z0 )−(z−z0 ) f 0 (z0 )| ≤ r(2−j diam(∆(0) )) 2−j diam(∆(0) ).
z∈∆(j)

3
Portanto:
c diam(∆(0) ) L(∂∆(0) ) r(2−j diam(∆(0) ))
≤ .
4j 4j
Como r(2−j diam(∆(0) )) → 0 quando j → +∞, deduzimos que c ≤ 0, ou
seja, c = 0. 2

Você também pode gostar