PEDRO BRABO DOS SANTOS - SEGUNDO PERÍODO MATUTINO/DIREITO,
UFAL Atividade de Fichamento Referente à disciplina de Filosofia do Direito 2
INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO DIREITO - CARLOS SANTIAGO NINO
Capítulo Primeiro - A definição do Direito
1. A pergunta “o que é o Direito” ? - Existem dificuldades para se definir o objeto do Direito. Elas são provenientes não da complexibilidade do Direito, mas da concepção das pessoas sobre a relação entre linguagem e realidade , que impede que se tenha uma ideia clara dos pressupostos, técnicas e consequências que devem ser considerados quando se uma expressão linguística. - A concepção das pessoas teria uma origem platônica, já que o filósofo grego se colocava na visão de que os conceitos refletem a essência das coisas, e que portanto existiria apenas uma definição válida para uma palavra, e a própria tarefa de definir um termo seria descritiva. - Em oposição, a corrente convencionalista, definida pela filosofia analítica, colocava que a correspondência entre a linguagem e a realidade havia sido definida arbitrariamente. Se buscava com conceitos não a essência de algo, mas uma definição mais precisa, com critérios mais úteis e convencionais. - A palavra Direito é ambígua e possui vários significados interconectados ● Direito Objetivo = Ordenamento Jurídico ● Direito Subjetivo = Faculdade, Atribuição ● Estudo do Direito = Estudo da realidade jurídica OBS : Em geral, “Direito”, assim sozinho, refere-se ao ordenamento. - A palavra “Direito” é afetivo favorável, ou seja, tem uma carga efetiva, provocadora de emoções, o que prejudica e dificulta a compreensão de seu significado cognoscitivo.
2. O jusnaturalismo e o Positivismo Jurídico
- As conotações afetivas da palavra “Direito” são advindas da profunda relação dos fenômenos jurídicos com os valores morais - O jusnaturalismo propõe então a indissociabilidade do Direito (em seus amplos sentidos) com os valores morais. São propostas algumas teses, que fundamentam essa noção : as normas jurídicas refletem valores da comunidade ou do grupo de poder; as normas adequam-se à moral; as normas jurídicas devem reconhecer os padrões morais; não é possível fazer distinção conceitual taxativa entre as normas jurídicas e as normas morais em uma sociedade; os juízes aplicam as decisões em consonância com princípios morais; os juízes devem negar a aplicar normas jurídicas que contradizem radicalmente princípios morais; se uma regra constitui uma norma de um sistema jurídico, ela tem força moral obrigatória; A ciência jurídica deve encarar a tarefa de formular princípios de justiça aplicáveis a diferentes situações jurídicas relevantes; para reconhecer um sistema normativo como ordem jurídica deve-se determinar também sua adequação aos princípios morais e de justiça. - O jusnaturalismo apoia-se na filosofia ética, em que coaduna com a visão de que existem princípios morais e de justiça universalmente válidos e acessíveis à razão humana; e na noção de que um sistema normativo ou uma norma não podem ser classificados como “jurídicos” se estão em desacordo com aqueles princípios morais ou de justiça. - Divergem os jusnaturalistas no entendimento de quais seriam esses princípios e valores universais e qual seria sua origem. De tal modo que se subdividem em : ● Jusnaturalistas Teológicos = Direito Natural como parte da ordem eterna do universo originado em Deus ● Jusnaturalistas Racionalistas = Direito Natural como derivado da razão humana - O positivismo, enquanto corrente do pensamento jurídico, é de difícil definição, já que seus adeptos não seguem sempre as mesmas posturas e ideias - Existem no entanto, algumas posturas consideradas mais comuns dentro do positivismo, que são : a) Ceticismo ético Não existem princípios morais e de justiça universalmente válidos e acessíveis a razão. Os únicos juízos que poderiam ser julgados racionalmente como verdadeiros ou falsos seriam os juízos empíricos, e a própria ideia de justiça seria um ideal irracional. Defendida por alguns positivistas, essa postura não identifica todos os positivistas, até pelo fato de que a negação da primeira tese do jusnaturalismo não representa algo essencial para um positivista. b) O positivismo ideológico Se uma regra constitui uma norma de um sistema jurídico, ela tem força moral obrigatória. O Direito seria, segundo essa postura, um conjunto de regras impostas pelo poder que exerce o monopólio da força, independente de sua moral, para fins desejáveis. Diz, em suma, que os juízes devem considerar, em suas decisões, um único princípio moral: o que prescreve a observar tudo o que o direito vigente dispõe. Essa radicalidade é exposta a fragilidade quando se observa que numa questão moralmente relevante, as razões morais excluem as prudenciais constituídas por desejos ou interesses, que se tornam insuficientes para justificar uma ação ou decisão. Sobre considerar todos os positivistas como adeptos dessa postura, o próprio Hans Kelsen, entende que as normas acontecem no mundo do “dever ser”, e sua validade deriva de uma norma não positiva, a chamada norma básica, que seria um pressuposto epistemológico conferidor de validade, e portanto força obrigatória, das normas jurídicas. Coloca porém, que esse pressuposto apenas afeta os juristas teóricos e não os juízes, o que o faz não ser um jurista ideológico, pois não afirma que os juízes não têm uma obrigação moral de aplicar ou obedecer todas as normas jurídicas. c) O formalismo jurídico Dispõe que a ordem jurídica é sempre completa, e portanto auto suficiente, para resolver qualquer caso. o direito é composto exclusivamente por preceitos legislativos, e não por normas consuetudinárias ou jurisprudenciais. Essa postura está geralmente ligada ao positivismo ideológico.
d) O positivismo metodológico ou conceitual
O conceito de direito não deve ser caracterizado de acordo com propriedades valorativas, mas apenas de acordo com propriedades descritivas. Essa postura é considerada essencial ao pensamento positivista. Caminha na contramão do positivismo ideológicos e dos jusnaturalistas ao passo que entende que em certos casos os juízes são moralmente obrigados a se afastarem da norma. Colocam também que os termos devem ter caráter apenas descritivo, ao passo que distinguem na definição do Direito o “é” do “dever ser”. 3. A proposta do realismo jurídico a) Ceticismo perante as normas É de certa forma uma reação extrema, vinda da américa do norte e dos países escandinavos, contra uma atitude oposta : O formalismo perante as normas e os conceitos jurídicos, da tradição jurídica continental da Europa. No formalismo que se desenvolveu na Europa e na maior parte da América Latina, se atribuiu às normas uma série de propriedades formais que nem sempre elas têm, em parte pelas hipóteses sobre certas qualidades racionais que supostamente o legislador teria. Na chamada “common law”, praticada nos adeptos do realismo jurídico, tal formalidade foi colocada em segundo plano frente ao entendimento de que o Direito não consiste ,em absoluto, de normas jurídicas. E se colocou em foco a previsão sobre a atividade dos juízes no lugar das normas jurídicas, em que o efeito substancial causado foi de tal modo percebido, que os juristas começaram a fazer seus embasamentos em decisões jurídicas precedentes.
b) Análise crítica do realismo. O papel das normas jurídicas.
Buscam trazer o Direito para a realidade concreta e construir uma ciência do Direito que descreva a realidade jurídica com proposições verificáveis em termos empíricos. Colocam que o Direito só permitiria prever como se comportarão os tribunais, e assim, que as normas jurídicas seriam o significado das sentenças jurídicas. O Direito consistiria em decisões judiciais particulares, já que os juízes decidem utilizando regras gerais e normas jurídicas, e não simplesmente observando outros casos. Com isso, o realismo tenta mostrar que o Direito não seria mais do que um conjunto de decisões, que permitiriam ao advogado e ao jurista, em sua observância, prever a conduta dos juízes e entender como decidem os tribunais, verificando o Direito aplicado na prática.