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PROCESSO Nº TST-AIRR-1777-21.2014.5.17.

0005

A C Ó R D Ã O
(4.ª Turma)
GMMAC/r5/lpd/eo/ac

AGRAVO   DE   INSTRUMENTO   EM   RECURSO   DE


REVISTA. APELO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE
DA   LEI   N.º   13.015/2014.  PRESCRIÇÃO.
FRACIONAMENTO   DA   EXECUÇÃO   DE   AÇÃO
COLETIVA   EM   AÇÕES   INDIVIDUAIS.  A
admissibilidade do Recurso de Revista
depende do preenchimento dos
requisitos previstos no art. 896, "a"
e "c", da CLT, o que não se verificou
no caso concreto. Agravo de
Instrumento conhecido e não provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n.º TST-AIRR-1777-
21.2014.5.17.0005, em que é Agravante DACASA FINANCEIRA S.A. -
SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO e são Agravados
ANA CLÁUDIA SALLI PEREIRA E OUTROS.

R E L A T Ó R I O

Inconformada com o teor da decisão, a fls.


1.034/1.037, a qual denegou seguimento ao Recurso de Revista, porque
não preenchidos os requisitos do art. 896, "a" e "c", da CLT,
interpõe a Reclamada Agravo de Instrumento a fls. 1.043/1.051, a fim
de ver processado seu Recurso.
Os Reclamantes apresentaram contraminuta ao Agravo
de Instrumento em conjunto com as contrarrazões ao Recurso de
Revista, a fls. 1.057/1.058.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério
Público do Trabalho, nos moldes do art. 83, § 2.º, do RITST.
Na análise do Recurso de Revista, serão
consideradas as alterações promovidas pelo novo CPC (Lei n.º
13.105/2015), visto que a publicação da decisão recorrida se deu em
Firmado por assinatura digital em 17/05/2017 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
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3/10/2016 e a Reclamada apresentou o Recurso de Revista em


12/7/2016.
É o relatório.

V O T O

CONHECIMENTO

Preenchidos os requisitos gerais de


admissibilidade, passo à análise dos pressupostos intrínsecos.

MÉRITO

PRESCRIÇÃO   ­   FRACIONAMENTO   DA   EXECUÇÃO   DE   AÇÃO


COLETIVA EM AÇÕES INDIVIDUAIS
O Regional denegou seguimento ao Recurso de
Revista, pelos seguintes fundamentos (a fls. 1.034/1.037):

"PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Tempestivo o Recurso (ciência da decisão em 03/10/2016 - fl(s)./Id
EF74931; petição recursal apresentada em 12/07/2016 - fl(s)./Id f39ab9a).
Regular a representação processual - fl(s.)/Id 9d66ee0 .
Satisfeito o preparo - fl(s)./Id a0f7e3e, Id d8f29f1, Id a95e52a e Id
11189a8.
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO CIVIL / FATOS JURÍDICOS / PRESCRIÇÃO E
DECADÊNCIA.
Alegação(ões):
- violação do(s) artigo 7.º, inciso XXIX, da Constituição Federal.
- violação do(s) Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 11; Código
Civil, artigo 202, inciso I; artigo 202, inciso II; artigo 202, inciso III; artigo
202, inciso IV; artigo 202, inciso V; artigo 202, inciso VI.
- divergência jurisprudencial: .
- Súmula 150, do STF;
Insurge-se a Recorrente contra o v. acórdão, no tocante ao
afastamento da prescrição total.
Consta do v. acórdão:
‘2.1) PRESCRIÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO

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A reclamada afirma que houve omissão no v. acórdão, que não se


manifestou a respeito da prescrição intercorrente que deveria ser aplicada
ao caso.
Não lhe assiste razão.
Compulsando os autos, observa-se que o v. acórdão analisou de forma
clara e consistente a matéria ora questionada, expondo suas razões de
decidir quanto ao afastamento da prescrição declarada na origem, in verbis:
‘PRESCRIÇÃO
O Magistrado de origem declarou a prescrição total do
direito de ação, extinguindo o feito com resolução do mérito,
nos termos do artigo 269, inciso IV, do CPC, in verbis:
‘DA PRESCRIÇÃO DOS DEMAIS PEDIDOS
Registra-se que na Ação Civil Pública foi declarada a
prescrição parcial das parcelas devidas antes de 14.01.03, pois
a referida ação foi ajuizada em 14.01.08.
Tal limite deve ser observado na presente ação.
O trânsito em julgado da Ação Coletiva Ocorreu em
30.05.11. Em tal momento nasceu o direito de propor a Ação de
Liquidação e de Execução dos créditos lá deferidos.
O prazo prescricional seria de dois anos, nos termos da
Súmula 150 do STF: ‘Execução e Ação - Prazo de Prescrição-
Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação’.
A presente ação somente foi ajuizada em 18.11.14, mais
de dois anos após o trânsito em julgado da Ação Coletiva.
Pelo exposto, declara-se a prescrição total do direito de
ação, sendo o feito extinto, com resolução de mérito, nos
termos do artigo 269, IV, do CPC.’
Insurgem-se os reclamantes, alegando que a prescrição
intercorrente não se aplica ao processo do trabalho. Afirmam
que o Juízo da Execução deferiu o pleito do MPT, determinando
a suspensão da liquidação coletiva promovida pelo sindicato,
para que fosse oportunizado aos beneficiários da condenação
genérica a liquidação individual do julgado. Sustentam que não
se pode falar em prescrição total do direito de ação, com
fulminação do prazo para ajuizamento das liquidações
individualizadas em 30/05/2013, uma vez que tal prazo é
anterior ao deferimento do pedido formulado pelo MPT de
suspensão da coletiva.
Requerem, pois, seja afastada a decretação de prescrição e
determinada a remessa dos autos à origem, para julgamento dos
pedidos de letras ‘a’ a ‘g’ do rol da petição inicial.
Examina-se.
Compulsando os autos, verifico que a sentença proferida
nos autos da ACP n.º 0003200-32.2008.5.17.0003 transitou em
julgado em 30/05/2011 (Num. 581a232). Após iniciada a
execução coletiva do referido título, o MPT, em 10/06/2013,
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pugnou pela suspensão da liquidação coletiva promovida


pelo sindicato, a fim de que fosse oportunizado aos
beneficiários da condenação genérica a liquidação
individual do julgado, na forma do artigo 100 do CDC
(Num. 4afe857). Em 24/07/2013, o Juízo da 3.ª Vara do
Trabalho de Vitória/ES deferiu os requerimentos do MPT
(Num. 8171e9c).
A meu ver, assiste razão aos recorrentes. Não se pode
considerar o trânsito em julgado na sentença coletiva como
marco inicial da contagem do prazo prescricional, uma vez
que apenas em julho de 2013 o Juízo da Execução
determinou o fracionamento da liquidação em ações
individuais, atendendo ao pedido do MPT. Assim, o início da
contagem do prazo prescricional deve observar a data em que
os beneficiários foram cientificados da necessidade de
ajuizamento das liquidações individuais, o que ocorreu em
24/03/2014, com a publicação do edital.
(...)
Portanto, uma vez que o edital para ciência dos
interessados foi publicado em 24/03/2014 e a presente ação
de execução individual foi ajuizada em 18/11/2014, não há
de se falar em prescrição bienal do direito de ação.
Dessarte, dou provimento ao apelo para afastar a
prescrição declarada na sentença guerreada.
Estando a causa madura para julgamento, passo a análise
do mérito propriamente dito’.
Neste sentido, é forçoso concluir que a embargante, em
verdade, não se conforma com o posicionamento adotado por
esta egr. Corte.
De todo modo, tem-se por prequestionada a matéria
ventilada nos embargos.
Nego provimento.’
Primeiramente, eventual contrariedade a Súmula do Supremo
Tribunal Federal não se encontra entre as hipóteses de cabimento do
Recurso de Revista previstas no artigo 896 da Consolidação das Leis do
Trabalho.
Outrossim, tendo a C. Turma afastado a prescrição declarada na
sentença, ao argumento de que o início da contagem do prazo prescricional
deve observar a data em que os beneficiários foram cientificados da
necessidade de ajuizamento das liquidações individuais, o que ocorreu em
24/03/2014, com a publicação do edital, bem como que a presente ação
individual foi ajuizada em 18/11/2014, não se verifica, em tese, a alegada
violação, conforme exige a alínea ‘c’ do artigo 896 Consolidado.
Ademais, a ementa da página 4 mostra-se inespecífica à configuração
da pretendida divergência interpretativa, porquanto não aborda a mesma
particularidade fática tratada no caso dos autos, em que somente após a
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notificação dos interessados por edital é que os beneficiários tiveram


ciência da possibilidade de execução individual da sentença coletiva,
iniciando-se, a partir daí, a contagem do prazo prescricional para a
liquidação e execução do julgado (S. 296 do TST).
CONCLUSÃO
DENEGO seguimento ao Recurso de Revista."

A Reclamada alega, em suas razões de Recurso   de


Revista, que "há total desrespeito à Súmula n.º 150, do Supremo
Tribunal Federal, e no caso ao art. 7.º, inciso XXIX, da
Constituição Federal, e do art. 11, da CLT, ao se deixar de computar
o prazo prescricional para ação individual de execução de sentença
genérica proferida em Ação Civil Pública trabalhista, sendo evidente
não poder ser motivo de interrupção do prazo prescricional a decisão
de desmembrar a execução nos autos da ação coletiva para ações
individuais ou a própria execução coletiva, claramente de sabença e
conhecimento dos envolvidos, dada a publicidade evidente dos atos
praticados e não podendo haver abertura de novos prazos através de
expedientes como os relativos a execução individual, sob pena de
eternizar a viabilidade de uma movimentação ativa no judiciário,
afastando o escopo da segurança jurídica".
Em seu Agravo   de   Instrumento sustenta que, ao
contrário do posicionamento adotado pela decisão denegatória,
ficaram configuradas as hipóteses previstas no artigo 896 da CLT,
que autorizam o processamento do seu Recurso de Revista.
Entretanto, os argumentos lançados no Agravo de
Instrumento não demonstram nenhuma incorreção no entendimento
adotado no despacho atacado.
Pontua-se que a Reclamada, em atenção ao disposto
na Lei n.º 13.015/2014, indicou o trecho da decisão recorrida que
consubstancia o prequestionamento da controvérsia e impugnou os
fundamentos jurídicos da decisão recorrida. Nesse contexto, foram
atendidos os requisitos exigidos pelo art. 896, § 1.º- A, I, II e
III, da CLT. Observa-se que a Reclamada também atendeu aos
requisitos do § 8.º do art. 896 da CLT, ao apresentar um resumo

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comparativo entre a tese disposta no aresto colacionado e o


entendimento do Regional em relação à mesma matéria.
A indicação de contrariedade a súmula do STF não
se presta fundamentar o Recurso de Revista, de acordo com o previsto
no art. 896, "a" e "c", da CLT.
O cerne da controvérsia é a determinação do marco
inicial da contagem da prescrição para ajuizamento das ações
individuais para liquidação de decisão proferida em ação coletiva.
Com efeito, partindo-se da teoria da actio nata, é
certo que a prescrição só começa a fluir quando nasce para o credor
a pretensão acionável.
Nesse sentido, aliás, é a jurisprudência
consolidada no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, de aplicação
analógica ao presente caso, conforme se extrai de seu Verbete
Sumular n.º 278, que dispõe:

"O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a


data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral."

Assim, não há como prosperar a alegação da parte,


no sentido de que o prazo prescricional tem início com o trânsito em
julgado da decisão proferida na ação coletiva, visto que somente com
a publicação do edital em que os beneficiários da ação coletiva
foram cientificados da necessidade de ajuizamento das ações
individuais, o que ocorreu em 24/3/2014, é que se pode iniciar o
prazo. Assim, ajuizada a ação em 18/11/2014, não há de se falar em
prescrição.
Ilesos os dispositivos legal e constitucional
apontados (art. 7.º, XXIX, da Constituição Federal e 11 da CLT), os
quais não tratam da prescrição discutida nos presentes autos, qual
seja, ação individual de execução de sentença genérica proferida em
Ação Civil Pública, e não de Reclamação Trabalhista contra o
empregador propriamente dita.
O único aresto transcrito (a fls. 1.002) é
inespecífico, nos termos da Súmula   n.º 296, I, do   TST, visto que

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trata de hipótese diversa, qual seja, a prescrição da execução


trabalhista, enquanto na presente hipótese se discute a prescrição
para execução de forma individual de decisão proferida em ação
coletiva.
Em síntese e pelo exposto, conheço do Agravo de
Instrumento e, no mérito, nego-lhe provimento.

ISTO POSTO

ACORDAM  os   Ministros   da   Quarta   Turma   do   Tribunal


Superior   do   Trabalho,   por   unanimidade,   conhecer   do   Agravo   de
Instrumento e, no mérito, negar­lhe provimento.
Brasília, 17 de maio de 2017.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


MARIA DE ASSIS CALSING
Ministra Relatora

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