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O fato de a vítima ser uma mulher valente, em pleno vigor de moça madura, negra, da periferia,
mãe solteira, que teve de fazer das tripas coração para tomar o próprio destino nas mãos, não é
um acaso. Marielle simbolizava aquilo que o Brasil do mando faccioso não aceita, não
reconhece, não tolera e, sobretudo, teme. Essa morte vem sendo tecida, fio a fio, desde o Brasil
mais longínquo.
Quem não morrer um pouco do tiro que matou Marielle, estará pronto a morrer por inteiro na
Quem não chorar diante desse tiro, não vai chorar diante de mais nenhum.
Quem não disser intolerável esse tiro, não o dirá de mais nenhum.
Quem não ficar alerta ao som desse tiro, estará surdo para qualquer outro.
Morta, Marielle se faz símbolo da inércia da maioria da sociedade diante da luta de facções
– primeiro, as facções milicianas saídas do dispositivo militar que nos foi legado pela ditadura
paisano-militar na forma da Polícia Militar (que, não obstante, ainda conta com gente de bem em
suas fileiras);
– segundo, as facções criminosas que vêm se organizando a partir das entranhas da estrutura
– terceiro, as facções paisanas que controlam o Estado do Rio há décadas e, agora, se veem
– quarto, facções federais que não hesitam em sacrificar seus ex-sócios locais em prol de uma
reconfiguração que a crise de legitimação do Estado está a impor, mobilizando, para isso, as
Tivesse eu esperanças, diria que essa morte tem de se fazer mortalha da nossa indiferença
Fica o Registro:
pau!