Penhane BOLETIM OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE APOIO E ASSISTÊNCIA JURÍDICA AS COMUNIDADES

Director Executivo: Rui de Vasconcelos* Sede: AAAJC* Telefone: 20030252*Cidade de Tete *Chingodzi* Editado em Português e Inglês

Mineração e sustentabilidade: o desafio do momento em Tete

Uma linha de pesquisa criada e desenvolvida pelo CETEM, desde

2005, agregando pesquisadores focados às grandes minas, APLs,
também conhecida por Arranjos Produtivos Locais versus território
e as comunidades apresentou a proposta de uma conceituação, a
partir de uma revisão da literatura internacional sobre a Mineração
e Sustentabilidade como desafio do momento. Em “Recursos Mine-
rais & Sustentabilidade Territorial”, após uma rede nacional de
instituições de pesquisa ter levantado 15 estudos de casos de Gran-
des Minas e APL´s, os pesquisadores, avaliando os diferentes textos
finais, identificaram 10 distintas dimensões da sustentabilidade. São
elas: social, cultural, institucional, ecológica, económica, política,
territorial, tecnológica, global e sistêmica. Os pesquisadores, segun-
do esta linha, isso significa dizer que já não basta às empresas mine-
radoras e aos garimpeiros cuidarem apenas dos aspectos económi-
cos e tecnológicos do empreendimento. Mas é preciso também aten-
tar às demais dimensões. No que se refere à dimensão social, os
vínculos que se criam entre o empreendimento extrativo mineral e a
sociedade, especialmente as comunidades locais das áreas afectadas
pela mineração, muitas vezes são permeados pelos mais diversos
conflitos. No aspecto cultural, constata-se, frequentemente, a roptu-
ra criada pelos empreendimentos mineiros em relação aos valores,
tradições e modo de vida das comunidades. Já no que diz respeito
ao viés institucional, que pressupõe a existência de organizações
públicas e privadas com a função de viabilizar o empreendimento,
preservando interesses sociais e normas ambientais, não raro, per-
cebe-se um vácuo que dá margem à “insegurança e judicializações
em todas as instâncias”.
actividade mineira, pela arrecadação de impostos, dinamização das
trocas comerciais locais, aumento do nível de emprego, entre outras.
No entanto, mesmo nesta dimensão há desafios consideráveis, sobre-
tudo na área já explorada em Tete, pois a mineração, ao atrair gran-
des contingentes de trabalhadores de outras localidades, costuma
provocar aumento nos preços de bens e serviços locais, além de re-
presentar uma ameaça à independência económica da comunidade,
se não houver diversificação produtiva, como ocorre nesta província.
Mas como não poderia deixar de ser, o aspecto político é o viés fun-
damental para assegurar o desenvolvimento da mineração, com a
boa governação resguardando os direitos das comunidades envolvi-
das, sem descuidar das boas práticas da conservação do meio ambi-
ente. E mais do que isso, é que para se reduzirem os impactos negati-
vos de um empreendimento minerário, a actuação do Estado se faz
fundamental uma vez que cabe a ele assegurar a legalidade, promo-
ver a resolução de conflitos e garantir que as conquistas obtidas não
sejam comprometidas no processo de sucessão política. Da mesma
forma, a dimensão territorial é vital, tendo em vista que a existência
de recursos minerais na provincia de Tete pode ser ao mesmo tempo
dádiva, ao impulsionar o desenvolvimento, e maldição, ao destruir
meios de sobrevivência ou comprometer a saúde do meio natural e
dos indivíduos. A dimensão tecnológica se reflete na necessidade
constante de as empresas mineradoras buscarem tecnologias mais
limpas de produção e promoverem a recuperação de áreas degrada-
das.

Já o aspecto económico, pode ser, na análise da Associação de

Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades (AAAJC), uma di-
mensão na qual mais claramente evidencia-se o retorno positivo da

Mineração no contexto nacional e mundial

Na dimensão global, como organização de Por fim, constatamos que os efeitos da atividade de
defesa dos direitos da comunidades, a mineração são interdependentes, tendo em vista
AAAJC percebe a relevância do sector mine- que uma dimensão está relacionada a todas as de-
ral no país, mas também no contexto mundial mais, demandando um olhar sistêmico das políti-
e, em contrapartida, a relevância dos merca- cas públicas e corporativas em relação à atividade e
dos globais para mineração mundial. a seus impactos.
No entanto, os maiores desafios da minera-
ção estão relacionados à dimensão ecológica,
Parceiros:
tendo em vista que um dos requisitos mais
básicos para a sustentabilidade é a integrida-
de dos ecossistemas, sem a qual não é possí-
vel assegurar qualidade e saúde ao meio am-
biente e às populações.

Quem somos? Associação de Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades (AAAJC), é uma organização da Sociedade Civil
Moçambicana, não-governamental, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, fundada em 2008 e com os seus estatutos legal-
mente publicados em 2010 no Boletim da República nº. 2, III serie, 4º suplemento de 19 de Janeiro. A sede é na cidade de Tete.
 Penhane OFICIAL REPORT CARD OF THE ASSOCIATION FOR SUPPORT AND LEGAL ASSISTANCE TO COMMUNITIES

The Executive Director Rui de Vasconcelos* Sede: AAAJC* Telefone: 20030252*City of Tete*Chingodzi* Edited in Portuguese & English
Edition nº 143

Mining and sustainability: the challenge of the moment in Tete

A line of research created and developed by CETEM since 2005,
aggregating researchers focused on large mines, APLs, also known
as Local versus Territory Productive Arrangements, proposed a
conceptualization, based on a review of the international literature
on Mining and Sustainability as the current challenge. In “Mineral
Resources & Territorial Sustainability”, after a national network of
research institutions surveyed 15 case studies of Large Mines and
LPAs, the researchers, evaluating the different final texts, identified
10 distinct dimensions of sustainability. They are: social, cultural,
institutional, ecological, economic, political, territorial, technological,
global and systemic. Researchers, according to this line, mean that it
is no longer enough for mining companies and prospectors to take
care only of the economic and technological aspects of the venture.
But we must also pay attention to the other dimensions. With re-
gard to the social dimension, the links that form between mining
and society, especially local communities in mining-affected areas,
are often permeated by the most diverse conflicts. In the cultural
aspect, it is often noted the rupture created by mining enterprises in
relation to the values, traditions and way of life of communities.
Regarding the institutional bias, which presupposes the existence of
public and private organizations with the function of making the
enterprise viable, preserving social interests and environmental
norms, a vacuum often gives rise to “insecurity and judicialization in
all instances”.
Tete, as mining, by attracting large numbers of workers from other
locations, often causes increases in the prices of local goods and
services, and poses a threat to independence of the community, if
there is no productive diversification, as in this province.
But of course, the political aspect is the fundamental bias to ensure
the development of mining, with good governance safeguarding the
rights of the communities involved, without neglecting the good
practices of environmental conservation. Moreover, in order to re-
duce the negative impacts of a mining venture, state action is essen-
tial since it is up to it to ensure legality, promote conflict resolution
and ensure that the achievements are not compromised in the pro-
cess of political succession. Likewise, the territorial dimension is
vital, given that the existence of mineral resources in Tete province
can be both a boon, boosting development, and a curse, destroying
livelihoods or compromising the health of the natural environment
and individuals. The technological dimension is reflected in the
constant need for mining companies to seek cleaner production
technologies and promote the recovery of degraded areas.

On the other hand, the economic aspect may be, in the analysis of
the Association for Support and Legal Assistance to Communities
(AAAJC), a dimension in which the positive return of mining activi-
ty, through tax collection, boosting local trade, increasing employ-
ment level, among others. However, even in this dimension there are
considerable challenges, especially in the area already exploited in

Mining in the national and world context

Globally, as a community rights advocacy organi- Finally, we find that the effects of mining activi-
zation, the AAAJC realizes the relevance of the ty are interdependent, given that one dimen-
mineral sector in the country, but also in the glob- sion is related to all others, requiring a systemic
al context and, in contrast, the relevance of global look at public and corporate policies in relation
markets to world mining. However, the biggest to the activity and its impacts.
challenges of mining are related to the ecological
dimension, since one of the most basic require- Partners:
ments for sustainability is the integrity of ecosys-
tems, without which it is not possible to ensure
quality and health to the environment and popu-
lations.

Who Are We? The Association for Support and Legal Assistance to Communities (AAAJC) is an mozambican Civil Society Organization (CSO) based in Tete province, non-governmental and non proffit, created in 2008 by
a group of Paralegals in natural resources and development law, formed by the Center for Legal and Judicial Training (CFJJ), now Ministry of Justice, who decided to organize themselves based on their knowledge to promote
social and economic development and respect for human rights based on observance of the principles of social justice, equity and sustainability. Its scope of action was limited to the areas of economic development and poverty
reduction in a participatory manner, legal support to communities and citizens, environmental education, conflict resolution, advocacy of public policies and human rights. In 2010, following the implementation of some initiatives
and completing the process of its constitution, the organization was formally legalized with statutes published in the Bulletin of the Republic no. 2, III series, 4th supplement of January 19, 2010.