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GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA


DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
Programa de Pós-Graduação em Desenho Cultura e Interatividade

AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO: DESENHADORES ANÔNIMOS


FAZENDO INTERVENÇÕES NAS MORADIAS DO PROGRAMA
MINHA CASA MINHA VIDA EM FEIRA DE SANTANA1
Bernadete Cássia Santiago Lima Almeida 2

RESUMO: O Programa Minha Casa, Minha Vida, são habitações de interesse social
destinadas pela Política Nacional de Habitação, do Governo Federal para assegurar o direito à
moradia digna e que tem como perspectiva a redução do déficit habitacional. Este trabalho
propõe analisar essas moradias como um espaço o qual abriga o primeiro mundo do ser humano,
onde são colocados os seus sonhos, suas lembranças e suas expectativas. Através da Avaliação
Pós-Ocupação ver a necessidade de caracterizar os moradores que convivem em comunidade
não só através da renda, mas através de seus hábitos e costumes para poder produzir moradias
dignas a esse grupo de novos habitantes destes espaços urbanos.
Habitação de interesse social, Politica Nacional de Habitação, Avaliação Pós-Ocupação,

1. INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é abordar as intervenções feitas nas moradias do Programa


Habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV) por seus desenhadores anônimos, após sua
ocupação por seus moradores.
Habitação social ou habitação de interesse social é um modelo de habitação proposto à
população de baixa renda que tem dificuldade ou empecilho no acesso à moradia através dos
mecanismos normais do mercado imobiliário. Foi criado pelo programa da Política Nacional
de Habitação (PNH), do Governo Federal para assegurar o direito à moradia digna, o qual

1
Artigo apresentado, em 11 de dezembro de 2014, como avaliação da Disciplina DCI300 – Seminário Tópicos: O
desenho na teoria e na Prática, ministrada pelo Prof. Dr. Francisco Antônio Zorzo, do Curso de Mestrado em
Desenho, Cultura e Interatividade, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
2
Aluna do Mestrado de Desenho, Cultura e Interatividade, Pós-graduanda em Avaliações e Pericias de
Engenharia, Especialista em Gerenciamento da Construção Civil (UEFS) e Graduada em Arquitetura e Urbanismo
(UFBA). E-mail: bernadete.lima@gmail.com
objetiva a redução do déficit habitacional. Com a Constituição Federal de 1988, no Artigo 6
fica assegurado o direito à moradia digna como um dos diretos fundamentais.
Na cidade Feira de Santana, a segunda maior do estado da Bahia, as políticas públicas
são reflexos das transformações ao longo do tempo, de interesses de diferentes agentes sociais,
envolvidos no núcleo das incorporações imobiliárias, associadas à construtoras, proprietários e
as classes dominantes, as mais abastadas, as quais exercem forte pressão sobre os serviços do
Estado (Habitação e meio ambiente, 2012, p. 10 – 11).
Em Feira de Santana o primeiro Conjunto Habitacional foi inaugurado em 1969, sendo
chamado de Feira I, hoje conhecido como Cidade Nova e o último, com as mesmas
características, foi inaugurado em 1986, nomeado de Feira X. Ao longo de 17 anos foram
implantados 8 Conjuntos Habitacionais, todos com a mesma estrutura urbanística e a mesma
solução arquitetônica. Neles são observadas muitas mudanças feitas por desenhadores
anônimos.
Segundo Conceição (2009), “o termo ‘habitação’ tem o significado de abrigo, na medida
em que protege as pessoas contra as intempéries e outras ameaças à integridade humana.” Ao
decorrer dos tempos, com o avanço da civilização, os materiais de construção vão se
desenvolvendo, dando assim, novas formas e funções às habitações.
As moradias de interesse social no Brasil têm as mesmas características arquitetônicas,
sendo que o país é vasto de costumes e hábitos.
Conforme, Rodrigues (1991), no interior da casa é onde se realizam outras necessidades,
além de ter um abrigo, é onde se dorme, tem-se privacidade, faz-se as refeições, a higiene
pessoal, convive-se com o grupo doméstico, dentre outros hábitos. A moradia serve muitas
vezes de local para desenvolver trabalhos para a própria manutenção, como lavar, cozinhar,
passar e para gerar renda para a subsistência.
Para Bachelard (1993), não se trata de descrever casas, de padronizar-lhes os aspectos
pitorescos e de analisar as razões de seu conforto, ou seja, é preciso superar os problemas de
descrição, sejam esses objetivos ou subjetivos à função original do habitar. É preciso dizer como
habitamos o nosso espaço vital conforme com todas as dialéticas da vida, como nos enraizamos,
dia a dia, num “canto do mundo”, a casa.
Nos Programas Habitacionais do Governo Federal há uma grande preocupação em
reduzir o déficit habitacional e muitas vezes, deixando de fazer uma análise criteriosa para saber
os costumes dos moradores, como também suas necessidades financeiras, pois muitos destes
moradores utilizam sua própria residência para gerar renda.
Segundo BONDUKI (2009), o programa Minha Casa, Minha Vida, “apesar das
distorções e lacunas apontadas, o programa dá mais um passo importante no sentido de construir
políticas públicas destinadas a garantir o direito à habitação, que é o que se persegue desde o
Projeto Moradia”.
Em muitos casos, por se tratar de moradias comunitárias, ou seja, condomínios ou
conjuntos habitacionais, é necessário caracterizar os moradores que ali conviverão em
comunidade, não só através da renda como também através de seus hábitos e costumes para
poder produzir moradias dignas a esse grupo de novos habitantes destes espaços urbanos.
Para medir a satisfação do usuário é utilizada a Avaliação Pós Ocupação (APO), na qual
visa mensurar o desempenho da edificação através da visão do usuário, seu grau de satisfação,
não somente o ponto de vista do arquiteto.
Como trata de habitação de baixa renda, na qual seus moradores nem sempre tem
condições financeiras para melhoria dessas casas, vê-se, ao longo do tempo, intervenções feitas
por estes moradores modificando o projeto original e muitas vezes sem nenhum critério técnico,
mas atendendo às suas necessidades e anseios.
Segundo Porto (2011), a preocupação em avaliar o desempenho de edificações vem de
há muitas décadas, porém, o cuidado com tal aspecto só ganhou maior importância em
decorrência das construções em larga escala, de habitações edificadas a partir da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) e por seu baixo desempenho, notado após algum tempo de uso.

2. POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO


O caminho percorrido pela política habitacional no Brasil foi longo, sendo marcada por
mudanças na concepção e no modelo de intervenção do poder público no setor que ainda obteve
sucesso a exemplo do equacionamento do problema de moradia para a população de renda mais
baixa (Cadernos MCIDADES Habitação, 2006).
A primeira Política Nacional de Habitação (PNH) foi criada em 1946 denominada de
Fundação da Casa Popular, porém não teve êxito por falta de recursos e as regras de
financiamento eram precárias, como também ficou restrita a alguns Estados da federação e
atendeu a uma pequena população devido a um número baixo de unidades construídas. Desse
primeiro passo, em 1964 é criado um novo modelo de política habitacional, implantado pelo
Banco Nacional de Habitação (BNH) (Cadernos MCIDADES Habitação, 2006).
O BNH tinha como base em quatro características básicas, a saber: iniciando com a
criação de um sistema de financiamento o qual permitiu a captação de recursos específicos e
subsidiados, denominado de Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) e o Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Em seguida foi descentralizado pelos órgãos
executivos devido a criação e operacionalização de um conjunto de programas que estabelecem
diretrizes gerais a serem seguidas. Daí, a terceira característica é a criação de uma agenda de
redistribuição dos recursos a partir de créditos definidos centralmente. Finalmente, a criação de
uma rede de agências nos estados e federação que tinha como objetivo a operação direta das
políticas (Cadernos MCIDADES Habitação, 2006).
Com apoio do BNH, foi construído o primeiro conjunto habitacional de Feira de
Santana, o Conjunto Feira I (Cidade Nova), construído pela Habitação e Urbanização da Bahia
(URBIS), em 1969. Tinha como infraestrutura as seguintes características: dois modelos de
plantas, sendo uma, embriões3 e outra com um ou dois quartos. Os embriões eram
disponibilizados nas vias secundarias, as quais eram denominadas de Caminhos. Já as casas
com um ou dois quartos situavam nas vias principais, as ruas propriamente ditas.
Esta solução arquitetônica e urbanística foi repetida, sem uma avaliação para
retroalimentar os projetos, por nove vezes. A ampliação deste conjunto habitacional foi
denominada de Feira II, inaugurado em 1971. Ambos situados às margens da BR 116 Norte.
Em 1979 foi inaugurado o Feira III, com 570 unidades habitacionais, denominado de Parque
Habitacional João Marinho Falcão para atender às necessidades de mão de obra do Centro
Industrial de Subaé (CIS); hoje conhecido como Jomafa.
O Conjunto Feira IV, com 408 unidades residenciais e 04 imóveis comerciais, foi
inaugurado em 1981. Este conjunto está localizado próximo do cento da cidade. Já o Conjunto
Feira V, como o Feira I e II, está localizado fora do anel de Contorno (Avenida Froes da Mota);
este conhecido como Conjunto Arnold Silva. Ele fica entre a Avenida João Durval e a Avenida
Fraga Maia. É constituído de 630 casas, ficando pronto em 1983.
O Conjunto Feira VI ou Conjunto Habitacional Áureo Filho, está localizado próximo a
Universidade Estadual de Feira de Santana, também fora do anel de contorno, o qual foi
entregue à população em 1983 com 530 unidades habitacionais e 430 lotes.
O Feira VII, também chamado de Conjunto Habitacional Elza Azevedo, pertencente ao
Bairro Tomba, porém fora do anel de contorno, seria o primeiro conjunto habitacional fechado
da cidade, porém tinha a mesma estrutura física dos outros conjuntos habitacionais. Foi
inaugurado no ano de 1995. Esse conjunto teve como agente financiador para sua construção a
Caixa Econômica Federal.

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Embriões são casas constituídas por sala, cozinha e sanitário, ou seja, um único vão. São erigidas em terrenos
com área livre para ampliação das mesmas, conforme as necessidades de seus moradores.
FIGURA 1: EMBRIÃO COM UM VÃO E COM TRÊS VÃOS, PROPOSTA ARQUITETÔNICA DA URBIS PARA IMPLANTAÇÃO
DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS DO FEIRA I AO FEIRA X. ESSAS CASAS ERAM ENTREGUES SEM OS MUROS

O Conjunto Habitacional Feira IX está situado no bairro Calumbi. Tem as mesmas


características dos outros conjuntos já citados devido ao processo de política habitacional
ocorrido em todo o país com a criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Foi entregue
à população no ano de 1990.
O último desses conjuntos habitacionais com as mesmas características comercializados
pela URBIS, onde as vias secundarias eram chamadas de Caminhos e as casas de embriões, foi
o Conjunto Feira X, chamado, também, de Conjunto Habitacional João Durval. Este conjunto,
o mais populoso, foi entregue em duas etapas, sendo a primeira entregue no ano de 1985 com
2.643 unidades domiciliares e a segunda com 978 unidades, sendo esta entregue no ano
seguinte, 1986. Com a implantação do Centro Industrial Subaé e o aumento significativo da
população, fez-se necessário a ampliação do número de moradias para a população com renda
mais baixa.
O Ministério das Cidades foi criado em 1 de janeiro de2003, tendo como objetivo
combater as desigualdades sociais, transformando as cidades em espaços mais humanizados,
ampliando o acesso da população à moradia, ao saneamento e ao transporte. Foi orientado para
cumprir o pacto federativo com a finalidade de realizar diagnósticos, definir e implementar os
programas habitacionais, porém o desafio era detectar os problemas urbanos existentes com o
déficit habitacional e de infraestrutura urbana.
A Politica Nacional de Habitação é regida pelos seguintes princípios: direito à moradia
digna; função social da propriedade urbana possibilitando melhor ordenamento e melhor
controle do uso do solo; questão habitacional como uma política de Estado; gestão democrática
com participação dos diferentes segmentos da sociedade e articulação das ações de habitação à
política urbana integrado com as demais políticas sociais e ambientais (Cadernos MCidades
Habitação, 2006).
Segundo Bonduki (2009), o Fundo Nacional de Habitação, enfrentou objeção na equipe
econômica e só foi aprovado em 2005 e instalado em julho de 2006. Em vez de ser
institucionalizado como um fundo financeiro foi instituído como um fundo orçamentário,
limitado a cumprir seu papel. O governo, entretanto, comprometeu-se a investir R$ 1 bilhão por
ano para subsidiar os programas habitacionais, valor nunca alcançado anteriormente. A mesma
lei instituiu o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e determinou aos estados e
municípios que criassem uma estrutura institucional, com fundo, conselho e plano de habitação,
para que tivessem acesso aos recursos federais.
A PNH tem como princípios básicos o direito à moradia como vetor de inclusão social,
em especial a de renda mais baixa, estabelecer as bases das políticas urbanas no âmbito dos
Municípios para que sejam capazes de viabilizar a realização de programas habitacionais,
através de implantação de Planos Diretores Municipais. Essa política cria um conjunto de
instrumento para viabilizar sua implantação, a saber: o Sistema Nacional da Habitação (SNH),
a qual estabelece as bases do desenho institucional que se propõe ser participativo e
democrático; o Desenvolvimento Institucional para viabilizar a implantação da PNH de maneira
descentralizada como também, a capacitação de agentes públicos, sociais, técnicos e privados;
o Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento da Habitação (SIMAHAB) que é um
instrumento estratégico o qual garante um processo permanente de revisão e redirecionamento
da política habitacional, através de uma base de informações, de monitoramento e avaliação
permanente de revisão e redirecionamento da política habita dos projetos e programa da PNH.
Por último, o Plano Nacional de Habitação que estabelece metas de curto a longo prazo, as
quais devem atender os princípios e objetivos da PNH (Cadernos MCidades Habitação, 2006).
Por fim, o Programa Minha Casa, Minha Vida foi consolidado pela Lei nº 11.977, de 7
de julho de 2009, de início com recursos geridos pela caixa Econômica Federal (CEF). A
centralidade fica a cargo das empresas privadas, as quais apresentam projetos diretamente a
CEF e esta avalia e aprova (TONELLA, 2013).

3. O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

Várias mudanças ocorreram até o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que
em 2003 cria o Ministério das Cidades, sendo este, o órgão responsável pela política de
Desenvolvimento Urbano e cabia a Política Setorial de Habitação.
O Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV tem como objetivo atender as
necessidades de habitação da população de renda baixa nas áreas urbanas, garantindo, assim, o
acesso à moradia digna com padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e habilidade
(Cartilha MCMV, Caixa Econômica Federal).
A Lei nº 11.977 cria mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades
habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais,
para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 (BRASIL, 2009).
No PMCMV, a entidade organizadora pode ser uma cooperativa habitacional ou mista,
uma associação ou uma entidade privada sem fins lucrativos. Ela só pode atuar no Programa se
estiver previamente habilitada pelo Ministério das Cidades (Cartilha MCMV, Caixa Econômica
Federal).
Os beneficiários deste Programa são famílias residentes em áreas de risco ou insalubres
ou que tenham sido desabrigadas, famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar,
famílias com pessoas deficientes e, também, populações oriundas das comunidades
tradicionais.
As habitações para família com renda até 3 salários mínimos, do Programa Minha Casa,
Minha Vida tem especificações padronizadas com duas tipologias. A Tipologia 1 são casas
térreas as quais perfazem área construída de 35 m² (trinta e cinco metros quadrados) e é
composta pelos seguintes compartimentos: sala, cozinha, banheiro, 2 quartos, área externa com
tanque; as dimensões dos compartimentos serão compatível com o mobiliário mínimo (Ver
Figura 2).
FIGURA 2: CASA TÉRREA – TIPOLOGIA 1 (FONTE: CADERNO MINHA CASA MINHA VIDA)

Na Tipologia 2, são prédios de 4 (quatro) pavimentos e 16 apartamentos ou 5 (cinco)


pavimentos e 20 (vinte) apartamentos. Os apartamentos devem ter área construída igual a 42
m² (Quarenta e dois metros quadrados) e com os seguintes compartimentos: sala, cozinha, área
de serviço, banheiro, 2 (dois) dormitórios e as dimensões seguem as mesmas regras das casas.
(Ver Figura 3).
Após a conclusão da obra os empreendimentos passam por uma avaliação pós-ocupação
que terá duração de até 90 (noventa) dias e nelas devem ser executadas pelo menos as seguintes
ações: avaliação do processo e dos produtos realizados, informações sobre a satisfação do
beneficiário com relação a moradia e infraestrutura local, inserção urbana dentre outras
(Cartilha MCMV, Caixa Econômica Federal).
Os projetos disponibilizados pela Caixa Econômica Federal se replicam por todo o país,
não levando em conta às necessidades de seus moradores, já que o Brasil com tanta diversidade,
seja na cultura, no clima ou nas necessidades de seus habitantes.
FIGURA 3: TIPOLOGIA 2 – APARTAMENTOS (FONTE: CADERNO MINHA CASA MINHA VIDA)

Foi utilizada como respaldo a obra de Bachelard, “A Poética do Espaço” (1993), o qual
dentre uma subjetividade no tocante ao espaço, conduz ao conhecimento de uma maneira
diferente de olhar, perceber e sentir o mundo.
Segundo Bachelard a casa é o nosso canto no mundo, sendo ela nosso primeiro universo.
Os escritores da “casinha humilde” evocam com frequência esse elemento da poética do espaço.
O ser abrigado sensibiliza os limites do seu abrigo, vivendo em sua casa sua realidade e sua
virtualidade, através do pensamento e dos sonhos.

4. AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO (APO)

É um processo sistematizado e rigoroso de avaliação de edifícios, após a ocupação do


imóvel por seus moradores, tendo como objeto de estudo seus ocupantes, a fim de verificar se
aquele imóvel atende às suas necessidades, elaborando levantamentos a partir dos quais se
formam conclusões acerca das consequências das decisões de projeto na performance da
edificação. Visa mensurar o desempenho da edificação através da visão do usuário, seu grau de
satisfação, não somente o ponto de vista do arquiteto.
Segundo Conceição (2009) a Avaliação Pós-Ocupação tem sido utilizada com diferentes
finalidades na indústria da construção civil, mas está sempre ligada, à investigação do
comportamento, em uso de um determinado produto ou sistema, seja o produto edifício em
todas as suas características de projeto, execução e uso, ou ainda um determinado componente
ou sistema construtivo específico.
Quando uma família mora em condições inferiores à sua nova habitação não consegue
ver de imediato se aquele projeto satisfaz às suas necessidades e expectativas, porém com o
decorrer do tempo aquele espaço deixa de ser novidade, e daí parte a ver sua moradia como ela
é, seus pontos positivos e negativos.
APO é um ramo recente de pesquisa no Brasil, mas é uma ferramenta importante para
avaliar se o projeto atinge os seus objetivos e, por ser um processo sistematizado na avaliação
de edifícios construídos após certo tempo e, neste caso, é um tipo de avaliação retrospectiva, a
qual busca através de questionários, entrevistas e observações, a medição da satisfação dos
usuários em relação ao projeto ocupado ao tempo em que serve para retroalimentador novos
projetos a serem executados. As melhorias que se esperam a partir de uma APO dizem respeito
a soluções de curto prazo, médio prazo e longo prazo (Coletânea Habitare/FINEP,1).
Com o tempo, começam a surgir os desenhadores anônimos, os quais percebem seu
habitar e interefe em seus ambientes, buscando adaptá-los para atender as suas necessidades.

5. INTERVENÇÕES FEITAS POR DESENHADORES ANÔNIMOS

Conforme Rodrigues (1991) é preciso morar de alguma maneira, seja no campo, em


cidades do interior ou na metrópole, pois esta é uma das necessidades básicas do ser humano.
As casas destinadas à moradia de interesse social seguem um programa de necessidades
básicas, as quais não cabem uma família mais populosa.
Segundo Malard (2002), a definição que expressa a relação experiencial entre o homem
e sua casa é morar (ou habitar), ou seja, é o modo no qual se experimenta o sentir-se em casa.
Morar, ou habitar, é a fundamental característica do homem como ser-no-mundo; é mais do que
estar sob um abrigo: é estar enraizado num lugar seguro e pertencer àquele lugar. Assim, as
construções que o homem habita, independente da sua finalidade, deve possibilitar que a relação
com o morar ocorra e seja plenamente experimentada. Essa condição é a característica essencial
de qualquer edifício e é a essência do construir. A essa essência nós chamamos aqui de
habitabilidade.
Nos bairros planejados para abrigar as famílias de baixa renda se ver uma repaginação
pelas alterações nos projetos originais (Ver Figuras abaixo)
FIGURA 4: CASA NO FEIRA VI

FIGURA 5: FACHADA DA CASA DO FEIRA VI

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Morar é uma das necessidades básicas do ser humano.


Moradia digna é um dos direitos fundamentais estabelecido pela Constituição Federal
de 1988.
Políticas Públicas vem criando leis, decretos. Normatizando desde à concepção do
projeto até a construção de grandes obras para implantação de condomínios ou conjuntos
habitacionais com a finalidade de reduzir o déficit habitacional no Brasil, porém nota-se à
necessidade de uma análise mais profunda no comportamento destes moradores para
diagnosticar problemas de convivências, seja no interior da residência como também no espaço
que está inserido; seja em condomínio ou em conjuntos habitacionais, decorrentes destes
espaços para que se possa reestruturar as novas moradias com as reais necessidades desta
comunidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Significados da Moradia. Dissertação apresentada ao Curso de mestrado Acadêmico em
Políticas Públicas e Sociedade, da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE, 2005.

BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1993.

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(Mestrado). Universidade da Amazônia. Programa de Pós-Graduação. Mestrado em
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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE / Organizado por Sandra Medeiros et al. . – Salvador:
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Inserção Urbana e Avaliação Pós-Ocupação (APO) da Habitação de Interesse Social/editado


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MALARD, M. L. SOUZA, R. C. F. CONTI, A. Avaliação pós-ocupação, participação do


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de Minas Gerais, Departamento de Projetos-PRJ

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2011. xiii, 134 f. : il. , color. Orientador: Prof. Dr. Humberto da Silva Metello. Dissertação
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