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Avaliação Pós-Ocupação: Desenhadores Anônimos Fazendo Intervenções Nas Moradias Do Programa Minha Casa Minha Vida em Feira de Santana
Avaliação Pós-Ocupação: Desenhadores Anônimos Fazendo Intervenções Nas Moradias Do Programa Minha Casa Minha Vida em Feira de Santana
RESUMO: O Programa Minha Casa, Minha Vida, são habitações de interesse social
destinadas pela Política Nacional de Habitação, do Governo Federal para assegurar o direito à
moradia digna e que tem como perspectiva a redução do déficit habitacional. Este trabalho
propõe analisar essas moradias como um espaço o qual abriga o primeiro mundo do ser humano,
onde são colocados os seus sonhos, suas lembranças e suas expectativas. Através da Avaliação
Pós-Ocupação ver a necessidade de caracterizar os moradores que convivem em comunidade
não só através da renda, mas através de seus hábitos e costumes para poder produzir moradias
dignas a esse grupo de novos habitantes destes espaços urbanos.
Habitação de interesse social, Politica Nacional de Habitação, Avaliação Pós-Ocupação,
1. INTRODUÇÃO
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Artigo apresentado, em 11 de dezembro de 2014, como avaliação da Disciplina DCI300 – Seminário Tópicos: O
desenho na teoria e na Prática, ministrada pelo Prof. Dr. Francisco Antônio Zorzo, do Curso de Mestrado em
Desenho, Cultura e Interatividade, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
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Aluna do Mestrado de Desenho, Cultura e Interatividade, Pós-graduanda em Avaliações e Pericias de
Engenharia, Especialista em Gerenciamento da Construção Civil (UEFS) e Graduada em Arquitetura e Urbanismo
(UFBA). E-mail: bernadete.lima@gmail.com
objetiva a redução do déficit habitacional. Com a Constituição Federal de 1988, no Artigo 6
fica assegurado o direito à moradia digna como um dos diretos fundamentais.
Na cidade Feira de Santana, a segunda maior do estado da Bahia, as políticas públicas
são reflexos das transformações ao longo do tempo, de interesses de diferentes agentes sociais,
envolvidos no núcleo das incorporações imobiliárias, associadas à construtoras, proprietários e
as classes dominantes, as mais abastadas, as quais exercem forte pressão sobre os serviços do
Estado (Habitação e meio ambiente, 2012, p. 10 – 11).
Em Feira de Santana o primeiro Conjunto Habitacional foi inaugurado em 1969, sendo
chamado de Feira I, hoje conhecido como Cidade Nova e o último, com as mesmas
características, foi inaugurado em 1986, nomeado de Feira X. Ao longo de 17 anos foram
implantados 8 Conjuntos Habitacionais, todos com a mesma estrutura urbanística e a mesma
solução arquitetônica. Neles são observadas muitas mudanças feitas por desenhadores
anônimos.
Segundo Conceição (2009), “o termo ‘habitação’ tem o significado de abrigo, na medida
em que protege as pessoas contra as intempéries e outras ameaças à integridade humana.” Ao
decorrer dos tempos, com o avanço da civilização, os materiais de construção vão se
desenvolvendo, dando assim, novas formas e funções às habitações.
As moradias de interesse social no Brasil têm as mesmas características arquitetônicas,
sendo que o país é vasto de costumes e hábitos.
Conforme, Rodrigues (1991), no interior da casa é onde se realizam outras necessidades,
além de ter um abrigo, é onde se dorme, tem-se privacidade, faz-se as refeições, a higiene
pessoal, convive-se com o grupo doméstico, dentre outros hábitos. A moradia serve muitas
vezes de local para desenvolver trabalhos para a própria manutenção, como lavar, cozinhar,
passar e para gerar renda para a subsistência.
Para Bachelard (1993), não se trata de descrever casas, de padronizar-lhes os aspectos
pitorescos e de analisar as razões de seu conforto, ou seja, é preciso superar os problemas de
descrição, sejam esses objetivos ou subjetivos à função original do habitar. É preciso dizer como
habitamos o nosso espaço vital conforme com todas as dialéticas da vida, como nos enraizamos,
dia a dia, num “canto do mundo”, a casa.
Nos Programas Habitacionais do Governo Federal há uma grande preocupação em
reduzir o déficit habitacional e muitas vezes, deixando de fazer uma análise criteriosa para saber
os costumes dos moradores, como também suas necessidades financeiras, pois muitos destes
moradores utilizam sua própria residência para gerar renda.
Segundo BONDUKI (2009), o programa Minha Casa, Minha Vida, “apesar das
distorções e lacunas apontadas, o programa dá mais um passo importante no sentido de construir
políticas públicas destinadas a garantir o direito à habitação, que é o que se persegue desde o
Projeto Moradia”.
Em muitos casos, por se tratar de moradias comunitárias, ou seja, condomínios ou
conjuntos habitacionais, é necessário caracterizar os moradores que ali conviverão em
comunidade, não só através da renda como também através de seus hábitos e costumes para
poder produzir moradias dignas a esse grupo de novos habitantes destes espaços urbanos.
Para medir a satisfação do usuário é utilizada a Avaliação Pós Ocupação (APO), na qual
visa mensurar o desempenho da edificação através da visão do usuário, seu grau de satisfação,
não somente o ponto de vista do arquiteto.
Como trata de habitação de baixa renda, na qual seus moradores nem sempre tem
condições financeiras para melhoria dessas casas, vê-se, ao longo do tempo, intervenções feitas
por estes moradores modificando o projeto original e muitas vezes sem nenhum critério técnico,
mas atendendo às suas necessidades e anseios.
Segundo Porto (2011), a preocupação em avaliar o desempenho de edificações vem de
há muitas décadas, porém, o cuidado com tal aspecto só ganhou maior importância em
decorrência das construções em larga escala, de habitações edificadas a partir da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) e por seu baixo desempenho, notado após algum tempo de uso.
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Embriões são casas constituídas por sala, cozinha e sanitário, ou seja, um único vão. São erigidas em terrenos
com área livre para ampliação das mesmas, conforme as necessidades de seus moradores.
FIGURA 1: EMBRIÃO COM UM VÃO E COM TRÊS VÃOS, PROPOSTA ARQUITETÔNICA DA URBIS PARA IMPLANTAÇÃO
DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS DO FEIRA I AO FEIRA X. ESSAS CASAS ERAM ENTREGUES SEM OS MUROS
Várias mudanças ocorreram até o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que
em 2003 cria o Ministério das Cidades, sendo este, o órgão responsável pela política de
Desenvolvimento Urbano e cabia a Política Setorial de Habitação.
O Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV tem como objetivo atender as
necessidades de habitação da população de renda baixa nas áreas urbanas, garantindo, assim, o
acesso à moradia digna com padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e habilidade
(Cartilha MCMV, Caixa Econômica Federal).
A Lei nº 11.977 cria mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades
habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais,
para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 (BRASIL, 2009).
No PMCMV, a entidade organizadora pode ser uma cooperativa habitacional ou mista,
uma associação ou uma entidade privada sem fins lucrativos. Ela só pode atuar no Programa se
estiver previamente habilitada pelo Ministério das Cidades (Cartilha MCMV, Caixa Econômica
Federal).
Os beneficiários deste Programa são famílias residentes em áreas de risco ou insalubres
ou que tenham sido desabrigadas, famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar,
famílias com pessoas deficientes e, também, populações oriundas das comunidades
tradicionais.
As habitações para família com renda até 3 salários mínimos, do Programa Minha Casa,
Minha Vida tem especificações padronizadas com duas tipologias. A Tipologia 1 são casas
térreas as quais perfazem área construída de 35 m² (trinta e cinco metros quadrados) e é
composta pelos seguintes compartimentos: sala, cozinha, banheiro, 2 quartos, área externa com
tanque; as dimensões dos compartimentos serão compatível com o mobiliário mínimo (Ver
Figura 2).
FIGURA 2: CASA TÉRREA – TIPOLOGIA 1 (FONTE: CADERNO MINHA CASA MINHA VIDA)
Foi utilizada como respaldo a obra de Bachelard, “A Poética do Espaço” (1993), o qual
dentre uma subjetividade no tocante ao espaço, conduz ao conhecimento de uma maneira
diferente de olhar, perceber e sentir o mundo.
Segundo Bachelard a casa é o nosso canto no mundo, sendo ela nosso primeiro universo.
Os escritores da “casinha humilde” evocam com frequência esse elemento da poética do espaço.
O ser abrigado sensibiliza os limites do seu abrigo, vivendo em sua casa sua realidade e sua
virtualidade, através do pensamento e dos sonhos.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Maria Selma de Castro. Os Donos da Casa: Das Políticas de habitação aos
Significados da Moradia. Dissertação apresentada ao Curso de mestrado Acadêmico em
Políticas Públicas e Sociedade, da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE, 2005.
BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1993.
BONDUKI, N. G. Do Projeto Moradia ao Programa Minha Casa Minha Vida. TD. Teoria
e Debate, v. 82, p. 1, 2009. Citações: SCOPUS
BRASIL. Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha
Vida – PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas.
Brasília, 7 de julho de 2009; 188º da Independência e 121º da República.
BRASIL. Minha Casa Minha Vida. Moradia para famílias, Renda para os trabalhadores,
Desenvolvimento para o Brasil.
RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradias nas Cidades Brasileiras. 4ª ed., São Paulo: Ed.
Contexto, 1991.