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JEREMY BENTHAM UMA INTRODUCAO AOS PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLACAO CIP-Brasil. Cutaloguyto-na-Publicucao ‘Chomara Hrastleies dis Livro, SI BAI9i Bed. 83-1273 Bentham, Jeremy, 1748-1832, ‘Uma introdugo aos principios da moral © da legislogae / Jeremy Bentham 5 tradacse de Lolz fod Rasadns, Sistema de pier detutiva & in- dutiva © ouiras textos / John Stuart Mill ; traduriiey de Joo Nlareos Coe- ie Pablo Rubén Mariconda, — 3. ed, — S40 Paulo: Abal Cultural, 184 (Os ponsadores) Avia or cde Frey Benen sth Stousce Mit, Ribliografia, 1, Bentham, Jeremy, [7481832 2. Clancia - Metodologia 3, Conticels mento » Teoria 4. Crimes ¢ csiminosos §. Hicu 6. Filosofia inglesa 1. Loai- ca 8, Mill, John Stuart, 1806-1873 9. Uutitarisine 1. Mill, John Start 1806-1873, IT. Titwle: Uma introdugie aos principios da moral ¢ da legisla gio. I. "Hoslos Sistema vo fégiea dedutiva x indutiva © outta texto, (VY, Série. CON 192, “1h 144.6 160 170 Jot SOLS Indises para vatdlogo sistainditica: 1, Crimes o erimimoson 364 : Filosofia ingles 4. Fildsolos ingleses Biogratia e obra 192 3. Logica : Filosofis 100 6. Metodologia : Ciencia SOI.8 7. Teoria de contieei mento : Filosodia 121 8. Ufilitarismo : Fitosafia 144.6 INDICE J, BENTHAM — Vidae Obra . Cronologia: . . PUBMOBIMITG sa cicstee'siitgtc Ueleisias ca niente atts am avaaceaelision soins daisy UMA INTRODUCAO ‘AOS PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGIS- LAGAO.. Cap.1— Ot prinelpio. da utilidade. CAP. I — Pri jos contrarios ao da utilidade . CAP, LL — As quatro sancdes ou fontes da dor edo. prazer Cap. IV — Método para medir uma soma de prazer ou de dor Cap. VII— As agdes humanas em geral . Cap. VII — A intencionalidade Cap. IX = Aconscigncia, CaP. X — Os motivos. . wae § 1 — Significagoes diversas da palavra motive § 2— Inexisténcia de motivos constantemente bons ou constantemente maus . §4— Ordent de preeminéncia entre 05 MOLIVOS .....+00eeeeeeeeesvneneees §5 — Conflito entre motivas. , cn XI—As disposigoes humanas em eral Car. XI — Casos em que nado cabe punir Cap, XV —.A proporcionalidade entre as punigdes ¢ os crimes CaP. XVII — Os limites do setor penal da jurisprudéncia.... $1 — Os limites entre a érica privada ea arte da legislarao J. BENTHAM VIDA E OBRA Consultoria: José América Motta Pessanha egundo o historiadar € fildsofo inglés William Richtie Sorley (1855-1935), até a segunda metade do século XVIII, a reflexao filoséfica na Inglaterra caracteriza-se pela auséncia de escolas, ne sen- tida mais complete dessa expressio. Em outros termos, oy maiores pensadores ingleses exerceram influéncia sobre 0 curso das idéias sem transmitir um corpa definide de teorias a um grupo definido de continuadores. Francis Bacon (1561-1626) provocou uma revolugao, filosdfica, mas procurou em vao aseistentes « colahoradores; Thomas. Hobbes (1588-1679) formulou um sistema denso, mas nado contou com discipulos; Jorn Locke (1632-1704) abriu um nova caminha se guido: por muitos, mas esses seguicores chegaram, freqtientemente, a conclus6es opostas as suas; George Berkeley (1685-1753) foi quase uma voz solitaria Clamando no deserto. Em suma, pata Richtie Sor ley, as obras desses ¢ outras pensadores nao levaram 4 defesa ¢ eluci- dagao de um crede filoséfico e nao conduziram a formagao de uma escola que pudesse ser comparada a peripatética, & estica ou a epi- curista, da Antiguidade greg, ou com as escolas cartesian ¢ kantia- nada Idade Moderna. Esse panorama modificou-se com o aparecimento: dos utilitaristas ‘ou sadicais, come também foram chamados os membros de um gru- po que, nos fins do século XVII e comeco do XIX, elaboraram um conjunto de teorias defendidas em comum e aplicadas a varios cam- pos de indagagdo filosdtica ¢ cientifica. O grupo dos itaristas traba- ihava em vista do mesmo fim © seus Componentes uniam-se na reve- réncia a seu mestre; Jeremy Bentham, Vida ¢ obra de um radical Jeremy Bentham nasceu a 15 de fevereiro de 1748, no bairro londrino de Hondstich. Crianca prodigio, aos trés ou quatro anos de idade j4 sabia ler em grego e latim; quando contava cine anos, era chamado “jeremy, o fildsofo”’ , Seus-primeires estudos foram feitos na escola de Westminster, on- de adquiriu grande reputagdo por eserever versos em grego e latin. Em 1760. ingressou no Queen’s College, Oxford, e bacharelou-se em 1763, tornando-se, no dizer de um de seus bidgratos, “o mais jover graduado que as universidades inglesas jamais tinham visto”. No mes- vil BENTHAM mo-ane de 1763) Bentham ingressou em Lincoln’s Inn, a fim de estu- dat Direita, profissio de ser pai; quatto anos depois, era admitide no Forum. Apesar deo direito ser sua maior preocupacda teortea, Bentham jamais praticou a profissée. Mativado por protunda insatisfa- ca0, nJo $6 como que Observara camo estudante fas cortes de just Ga, mas também con as justificagdes tedricas de comentadores ingle- oe Como sir William Blackstone (1723-1760), autor dos Comentarios sobre as Lets da. Inglaterra, Bentham dedicou-se a elaborar um stste- mma de jurisprudéncia @ a codificar ¢ reformar tanto © direlto civil co- moo penal. Em 1776, apareceu seu primeiro livre, Un Fragmento. sobre 0 Govemo, no qual analisou criticamente os Comentarios, de William Blackstone, cujo erro “supremo ¢ fundamental”, em sua opiniso, Ye- fia sido a “antipatia a teformas”, Un Fragmento sobre 9 Govero, es- crito em estilo claro & concise, diferente ‘de suas obras posteriores, & geralmente considerado como 0 inicio da escola utilitarista inglesa: No lado dessa importancia maiot, 0 livro valeu-the também um convi- te de lorde Shelburne (posteriormente, primeira marques de Lands: downe) para que fosse trabalhar em seu escritorie de Dircito em Line coln’s Inn. Esse fato ocorreu em 1781, quando Bentham se preocupa- ta com outra obta sua, Teoria dos Castigos & das Reeompersas, pub tada em frances, em 1811. Somente muito depois essa obra viria. 0 luz em edicdes inglesas, com titulos diferentes: O- Fundarento Racio- nal da Recompensa (1825) ¢ Q Fundamente Racional do Casthzo (1830). Em 1789, Bentham viajou para a Réssia, passando pola !tilia & por -Constantinopla, a fim de visitar seu irmao, Samuel Bentham, en- genhciro naval que estava a ser'vigo da Russia. Nesse pais escreveu Delesa da Usura, publicado em 1787, e sev primeira jrahalho sobre economia. Disposto come uma série de Cartas pscritas da Russia, Dee fesa da Usura fevela Bentham como um diseipulo de Adam Smith (1723-1790), mas um discipulo que insistia na apiicagso fogiva extre- ma dos principios claboradas pelo fundader da economia politica, Bentham atgumentava que cada homem era 0 methor juiz de seus proprios luctos, que era desejavet do pont de vista publico obter es. bes lucros sem nenhum empecitho & que nao hayia motive: pare: links tar a-aplicagao dessa douirina ao problema de emprestar dinheira a jus Tos, Seus rabothos posteriores suauiam o principio do “laissez-faire jaisser-passer, orientagio basica da escola liberal. O Niberalisma eca- nomico Belendia vma posigso de ndo-intervengio wo andamento da economia, consideranda que o mercado deveria ser regido exclusiva- mente pela lei de oferta e procura Vohando a Inglaterra em 1738, Bentham pretendia seguir ura careeita politica, mas desapontov-se com suas pequenas possibilida- des resse canmo. Dedicou-se, entio, ao estudo da legislacan, (reren- dendo descobrir seus principios, Em, 1789, publicou sia maior obra teérica, Lima intredycdo 208 Principios da Moral eda Legislagda, além de ingmeros paniletos, Nes quais criticava a lei de difamacaa, © segredo dos jurados, © juramento, a5 extorsdes cle declaracdes legais, 2 igreja. estabelecida, Por ovira lade, detendia com grande ardar o empréstimo de dinheiro a juros, a Teforma da eduicagas ¢ um nave es quema para 0 sistema penitenciatio. VIDAEOBRA IX Em 1792, em yirlude do grande sucesso alcangade pelos Prine/- pios, Bentham foi cantemplado com a cidadania francesa e, em 1817, tornou-se um dos principals membros da corpo de advogados de Lincoln's Inn. Stas idéias passaram a ser respeitadas na maior par- te dos paises da Europa e da América. Em 1823, com um grupo de amigos, fundou o periédico Westminster Review, a fim ce poder con lar com Uma eficiente tribuna para a defesa do radicalismo. Ao mes- mo tempo, dedicowse ao trabalho de uma nova: codificagae de leis, seu ideal desde a juventude, Além disso, batalhou pela eeforma conse tituctonal na Inglaterra, que acabou se realizando rio. ano de sua mor- te. Bentham faleceu a 6 de junho de 1832. em Queen's Square, aos 84 anos de idade, cercado pelos amigos © disefpulos que continua- riam a desenyolver 6 utilitarismo. Utilitarismo: 0 caiculo dos prazeres O ponto de partida do utilitarisme de Bentham encontra-se nos sets estudos sobre a ciéneia do dircito, especialmente a teoria do ¢ reito natural, Essa teoria supe a existéncia de um contrato original ¢, a partir disso, sustenta que, se um principe néo cumpre suas obriga- oes para com os stiditos, ainda assim estes Ihe devem obediéncia. Para Bentham, a doutrina do direito natural é insatisfatéria por duas Taz6es: primeire, porque nae ¢ possivel provar historicamente a exis- téncia de tal contreto; segundo, porque, mesmo provandose a reali- dade do contrato, subsiste a pergunta sobre por que os homens estio obrigados a cumprir compramissos em geral, Em sua opinido, a Unica resposta possivel reside nas vantagens que © contrato proporciona a sociedade. O cidadio, segundo Bentham, deveria obedecer ao Esta- do na medida em gue a obediéncia contribui mais para a felicidade geral do que a descbediéncia. A felicidade geral, ou 0 interesse da co- munidade em geral, deve ser entendida como.o resultado de um cal- culo hedonistico, isto G, a sama dos prazeres e dores dos individuos. Assim, Bentham substitui a teoria do diroito natural pela tooria da utili- dade, afirmando que © principal significado dessa transformiagao esd na passagem de um mundo de ficgdes para um mundo de fatos, So- mentea experiencia, afirma Bentham, pode provar so uma acdo ou instituigdio. & atil ou nao. Consegientemente, o-direito de livre discus $d0 € eritica das. ages © instiluigGes conslitui-se em necessidade da maior importancia. Para sustentar seu principio utilitarista, Bentham teve que lutar a vida toda, criticando severamente as instituigdes tradicionais e, parti- cularmente, a cadtica legislagao de séu pais, Bentham menciona Be caria (1738-1794) coma seu mais. importante predecessor. Beccaria também sustentava o principio da maior felicidade possivel para o maior numero possivel de pessoas como o objetivo Gitimo de toda le- gislacao. Orientado por esse principio, Beccaria criticou a legislagaa penal entao existerte. Bentham deu aquele principio uma aplicacaa ainda mais ampla @ por essa razdo. Colocou-so em antagonismo aos conservadores. Mas Bentham, por outro fada, oposs também aos re- valucionérios franceses, quando estes apelavam para 0 direita natural eafirmavam os direitos universais da homers. Para Bentham, © indivi x BENTHAM Apratica do duo somente possui direitos na medida‘em que condi suac agées pa- rao bem da sociedade como um todo, ¢ a proclamagay das direites Rumanos, tal como se encontra nos fevolucionarios franceses, seria demasiado. individualista © levaria ao egoamo, Este, segundo Bentham, ja @ muito forte na Aatureza humana; assim, 6 que realmen- te deve ser procurado 6a recenciliagdo entre @ individuo e a socieda- de, mesmo que seja necessdrio © sacrificio. dos supostes direitos hu- manos. damente a aplicacao do Principio. de utilidade como fundamento da conduta individual © sociat. Inicialmente, Bentham indaga que senti- Mentos devem ser preferides 4 outros; salientando que se deve levar SM consideracao todas as. circunstancias do. prazers eua intensidade, sua duragao, sua Proximidade, sua certeza, fecundidade © pureci Bentham indaya, em seguida, quais os Castigos @ recompensas que Poderiam induzit 9 homem a’ realizar acdes criadoras de telicidade & Deon OF motivos determinantes das acées humanas, com seus respece tivos walores marais, A respeito dessas questées ¢ de particular importaneia a andlise de Bentham dos ratives que fevam o hamem a agit de certa forma e néo de outra. Esses mativos devem ser chamados bons” na medica cm due possam conduzir _harmonia entre of interesses individuais e 0s interesses clos gutros, enquanio que “Maus” seriam todos aqueles MnO’ gue Contiariassem esse objetive de equilibria ene oe hee mens. Entre os motivos bons, 0 que mais cerlamente conduz, segun= do Bentham, a promocio de. prinetpio de ulllidade & a benevoléncta ‘ou boa vontade, En seguida, viriam a necessidade de estima des ou- tros, 6 desejo de receber amor, a religide © os instintos do: aAutopreser- 10, de prazer. de privilépie « de poder, va itarismo Bentham ndo ficou apenas sa’ anise tedrica dessae idéias sobre © homem como ser moral ¢ social, Procurou suas poseivers aplica- $0e5 priticas, dedicando-se, sobretudo, a reforma de legislacao de acordo com principios humanos, & codificagaa das leis a fim de que pudessem ser compreendidas por qualquer pessoa, ae aperfeicoamens to da sistema penitencisrio © ao desenvolvimento ds fegime democra- ico através da introduce da sufrégio universal. Em suas lutas: retor- Imistas, 0 prineipio de utilidade descmpenha o principal papel tcéri. ©. Na opinide do historiador Harald Héffding, Renthen sempre deu Coprithcs (bute: 295e principio, transformande-o em um principio Gogmatico, valide para todo o sempre. Por essa razao, jamais que, se permaneceres em casa, seras consumido pelo incéndia, Ad fazer isto. PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLACAG vu sugiro motivos a tua inteligéncia; esses motivos, pela tendéneia que tém a dar ori- gem a ow a reforgar uma dor — a qual opera em ti a guisa de um motivo interno inesse —, somam as suas forgas ¢ agem a guisa de motivos sobre'a tua: vontade. § 2 — Inexisténcia de motives constantemente bons ou constantemente maus 1X. — Em toda esta cadeia de motivos. 0 clo principal ou original parece ser 9 iiltimo motivo interno em prospectiva: & a este que todos os outros motivos em prospectiva devem a sua importancia. é também a este que 0 motivo que age imediatamente deve a sua existincia, Este motivo em prospectiva, como vemos, é sempre algum prazer, ou alguma dor: algum prazer, ao qual o ato cm questo — assim se espera — dara continuidade ou produzira, 2 modo de instrumento: algu- ma dor, que 6 ato em questio — assim s¢ espera — interromperd ou evitara. Um motivo nao é substancialmente outra coisa sendo o prazer ou a dor operando de uma determinada forma. X. — Ora, o prazer é em si mesma um bem — nao sd isto, mas até o tinico bem, abstraindo da imunidade da dor: ¢ a dor é em si mesma um mal — nao so isto, mas o Unico mal, sem excegao. De outra forma, as palavras bem ¢ mal niio tém nenhum significado. Ora, © que acabamos de dizer € igualmente verdadeire com relagdio a qual- quer espécie de dor ea qualquer espécie de prazer. Donde se infere, de mancira imediata ¢ incontestavel, que 10 extste nenhuma espécie de motivo que sefa em si mesmo (intrinsecamente) max.'* XI. — Em que pese o que acabamos de concluir, é comum dizer que as ages procedem de motives bins ou maus, Neste caso os motives de que se ten- ciona falar sao os internos. A expressio esta longe de ser correta. E, uma vez que ela ocorre na consideragiio de todas as espécies de ofensa, sera necessério deter minar o seu sentido exato ¢ observar até que ponto ela corresponde a verdade das ~ No que tange & qualidade boa ou ma de algo, acontece com os moti- You'p meting yue awontece com Wudo © que no seja em si mesmo dor ou prazer {estes sim, ¢ io intrinsecamente maus, respectivamente bons), Se os motivos séo bons ou maus, scrd cxclusivamente em razao dos seus efeitos: serao, bons em razfio da tendéncia que tema produzir o prazer ou a impedir a dor: serao maus em razio da tendéncia que tém a produzir a dor ou a afastar o prazer. Ora, é um fato que do mesmo motivo, ¢ de cada espécie de motive, podem derivar ages que siio boas, Oulras que so mas, outras que sao indiferentes, [ o que demonstraremos agora com respeito a todas as diversas espécies de motives, con- forme determinados pelas varias espécies de prazeres e dores. "2 Suponhamos que « motive de via pessoa.seja mi vontade ou mulevoléneia; chamemo to malicia, invela, arueldide, ¢ ainda onto 0 'seu motives Summa detorminndla expécte de peaier, on ia, 0 penser que a pesson eae ag peusar na: dive yuc NE Ow espera very neu idversirtg softer, Ora, messmo este praver miserivel, consi ders em mesmd. & heim: pale ser fngide. falsi, breve, ser em todo cuss Impure: todavia, enquantor dura, ¢ untes que acontega alguma conseyiiéncia mi é ia hom como qualguer outro que nao for mais intenso. Ver.0.capitulo quarto, (N. do. A.) 3 BENTHAM XIUIL — Tal analise, por mais util que seja, apresenta grande dificuldade, como se vera. Isto se deve, em grande parte. @ um certo defeito de estrutura que Prevalece mais ou menos em todas-as linguas. Pard falar dos motives — bem coma dé qualquer outra coisa — impoe-se shamé-los com os:seus nomes, Entretanto, infolizmonte ¢ forgose constatar que Taramente se entontra um motivo cujo nome exprima aquilo, e nada mais, Via de Tegra, juntamente com 0 proprio termo motivo subentende-se tacitamente uma Proposicao que the imputa uma verta qualidade: esta qualidade. em muitos casos, incluira cvidentemente aquelr “bondade™ ou aquela “maldade + acerca da qual vimos perguntando ‘se, falandd com propriedade de termos, ela pode ou nao ser imputada aos motivos. Para usar o frascado comum. na maioria dos casos a designacdo do motivo ¢ um termo que ¢ usado ou exclusivamente em um sentido bont ou somenie em um sentido mau, Ora, quando se profere uma palavea come sendo usada cm um sentido bom, © que se quer dizer é apenas o seguinte: que.em conjungao com a idéia do objeto que ela deve Significar, ela carreia uma idéia de aprovacdo — isto & de um prazer ou satisfacio, subentendida pela pessoa que emprega o termo ao pensar em tal coisa. De mangira analoga, quando se profere uma palavra como sendo usada em um sentido mau. 0 que necessariamente se Guer dizer & apenas 0 seguinte: que, em conjungao com a idgia do objeto que ela deve signifiear, cla carreia uma idéia de Aesaprovagdo — isto & de um desprazer subentendido pela pessoa gue emprega o termo av pensar em tal coisa. Ora, a Circunstaneia na qual se fundamenta uma tal desaprovagdo sera, tao natural- mene como qualquer outra, « opiniio da qualidade boa da soist em questio, conforme acima explanamos: assim, pelo menos, deve ser; com base no prineipio da utilidade, Assim também, POF outta parte, a circunstancia na qual se funda- Menta uma tal desaprovagéio sera. tio naturalmente como niio da qualidade md da coisa: tal, pelo menos, deve ser Principio da utilidade for considerado como norma. Ora. existem certos motives que, excetuados alguns casos particulares, difi cilmente podem ser expresses por outra termo sendo por uma palavra que sb Pode ser usada em um sentido bom. Tal é 0 cago, Por exemplo, com os motives da piedade e da honra, A consegiténcia disto ¢ que, se. 20 falar de tal motivo, uma Pessoa tiver acasiio de apliear 6 qualificativo mau a quaisquer agdes que ela menciona como capazes de Tesultarem deste motivo. sert necessariamente acusa- da de incorrer numa contradigio (contradictto in terminis). Todavia, os termos designativos de motivos que dificilmente podem, ser expressos senio por uma palavea que sé pode ser cmpregeda num sentido man sin muito mais numerosos, Tal € @ caso. por exemplo, com 0g motivos da luxdria eda avareza. Conseqiiente- mente, se, ao falar de tal motivo. uma Pessoa tiver ocasido de aplicar os qualifica- tivos bom ou indiferente a yuaisquer acces que ela menciona como capazes de Fesultarem deste motivo, também neste CuSO ser necessariamente acusada de contradizer se nos proprios termos, (, .) XIX. — Aos prazeres da riqueza corresporide a espécie de motivo qué, num sentido neutro, pode ser designaido como interesse pecunidrio, Num mau sentido, PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLAGAO 33 este ¢ designado, em alguns casos, com os termos avareaa, cobica, rapacidade, ou ganancia: em outros casos, com 0 termo mesquinhez. Em ui sentidé bom, o inte- fesse pecunidrio se denomina, porém apenas cm casos particulares, economia e frugalidade; em certos casos pode-se aplicar-the 0 termo diligéncia (indusiry). Em um sentido mais.ou menos indiferente, porém pendendo niais para o sentido mau, © intcresse pecunidrio sc desigma. ainda que somente em casos particulares, com 9 termo parcimdnia. ‘Vejamos um exemplo. () Com o dinheiro pagas 0 ddiv de uma pessoa, condenando o seu adver a morte. (2) Por dinheiro cultivas © terreno desta pessoa. No primeiro caso a teu motivo. se denomina gandncia, sendo considerado corrupto © abominavel; no segundo caso. por falta de uma palavra adequada, denomina-se diligéncia, sendo considerade no minimo como inocente, sendo meritério. E, no entanto, em ambos os casos 0 motivo é exatamente 6 mesmo: nao ¢ nem mais nem menos do que inleresse peeuniario, XX. — Os prazeres da habilidade nao sic suficientemente distintos nem tém suficiente importancia pare dar qualquer nome'ac motive correspondente. XXI1. — Aos prazeres da amizade corresponde um motivo que, em um senti- do neutro, pode ser denominado o prazer de captar a alvigdo, Em um sentido mau € denominado em certoy casos servilismo. Ei uni sentido bom nao tem nenhum termo para qualifica-lo: no: os cm que ele foi considerado favoravelmente, raramente foi distinguido do motive da simpatia ou benevoléncia, com o qual. em tais casos, é comumente associado, () Para adquirir o afeto de uma mulher antes do casamento, para sssegu- ri lo depois, fazes tudo © que for compaginavel com outros deveres, a fim de fazé-la feliz; neste caso o teu motivo é considerado como digno de elogios. embo- ra ndo haja nenhum termo para designic-lo. (2) Em vista do mesmo objetivo. envenenas uma mulher com A qual a tua amada esti em estado de inimizade: neste caso o (cu motive € considerado abominiivel, embora também para isto nao haja nenhum termo proprio. (3) Para conquistar ou conservar 0 favor de uma pessoa que ¢ mais rica ow mais poderosa do que tu, tornas-te subservientea cla ¢ procuras proporcionar-lhe prazeres: Mesmo que se trate de prazeres legitimos, se as pessoas decidirem atri- buir o teu comportamenta a este motivo, veriis que nao conseguirio encontrar outro nome para isso senao servilismo, E todavia, nos trés casos assinilados. © motive é sempre o mesmo: nao é nem mais nem menos do que o desejo de captar a afeieao. XXII. — Aos prazeres derivantes da sangao moral, ou. para usar outros ter mos, 0s prazeres de uma boa reputacao. corresponde um motivo que. em um sen- tido neutro, dificilmente obteve até hoje um termo adequado para designé-lo: Podemos denomina-la amor A reputagao, Ele esta intimamente relacionada com 0 Ultimo motivo-acima indicado, pois:nio é nom mais nem menos do que o desejo de captar a afeig¢ao de todo @ mundo, ou melhor, neste caso, de recomendar-se & estima de todo o mundo. Em um bom sentido. 0 mencionado motive & designado honra, ou senso da honrade?: ou melhor, a palav-a honra é introduzida na ocasiio em que assomar & vista; com efeito, a rigor o termo honra é preferivelmente usado’para significar aquela coisa imaginaria que — segundo se diz — a pessoa possui quando obtém uma parte considerdvel dos prazeres em questao. Em casos particulares, este mo tivo € denominado amor sléria, Emi um sentido mau, é denominado em alguns easos fama falsa, em outros casos orgulho, em outros vaidade. Em um sentido ndo abertamente mau, mas prevalentemente mau, denomina-sé ambi¢io, Em um sentido indiferente, em certos casos chama-se amor A fama: em outros, senso da Yergonha ou pudor. E. uma vez que os prazeres conexos com a sangdo moral levam indistintamente ds dores derivadas da mesma fonte, em certos casos este motive pode igualmente ser denominado medo da desonra, medo da desconside- Fado. medo da infimia, medo da ignominia. ou medo da vergonha Vejamos também aqui exemplos, (1) Recebeste uma afronta de uma pessoa. Segundo o costume vigente no Pais. por uma parte a fim de no incorreres na vergonha de os outros conside- Farem que te resignaste com paciéneia. ¢ por outra parte a fim de obtercs # repu- tagao de corajoso, desafias o teu adversario a luta armada. Neste caso, @ teu mo. tivo sera considerado por certas pessoas como louviivel e ser’ denominado honra ou honradez; outros consideratao o teu motivo censurdvel, ¢ tais pessoas, se Fala- rem de honra ou honradez, anteporio a esta palavra um adjetivo reprobatério & falarfo de falsa honra. (2) No intuito de obteres um posto de distinedio @ de dignidade, e conseqiien- femente pura aumentar as honrus que o publica te tributa, subornas as pessoas encarregadas de conferir a dignidade. ou o juiz Perante 6 qual:o teu titulo esta sendo contestado, Neste caso, 0 (eu motivo & comumente considerade cortupto © abominavel, sendo talvez denominado com algum termo como arnbigao desonesta ou corrup. ta.uma ver que niio existe uma palavra. 50 para designar tal motivo. (3) No intuito de obter a benevoléncia do publico doas uma grande soma a “obras particulares de caridade ou u obras de utilidade publica. Neste caso, as pessoas provavelmente nao esturiio de acordo quanto a0 teu motivo. Teus inimigos lhe atribuiraio uma qualificacdo mae o chamarao de osten taco: os teus amigos, para te defenderem contra tal censura, decidirao imputar a tua conduta nde a este motive mas a algum outro. tal como o da caridade (a denominagio dada, neste caso, a simpatia particular) ou 0 do senso ou espirito publica. (4) Um rei, a fim de tornar-se credor da admiragao devida a um conquis- tador {excluamos os motiyos do poder ¢ do Tessentimento), engaja © seu reino em uma gucrra sangrenta, © seu motivo seri considerade admiravel pela multidio (cuja simpatia por milhdes de pessoas sacrificadas € facilmente superada pelo Prazer que a sua iMaginacdo encontra em admirar-se ante qualquer nevidade que observa ma conduta de uma pessoa individual), Ao contrario, pessoas de bons sentimentos ¢ dotadas de reflexdo, que desaprovam o dominio exereido Por este PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLACAO 35 motivo nesta ocasidia, sem se ¢arem conta de que é@ mesmo motive que em-ou: tras oeasiées aprovam, consideram-no abominavel: e, uma ver que a multidio — ela que forma a linguagem! deu a este motivo um nome simples para designa-lo, denomina-lo-a com uma expressao composta como: amor a falsa gI6- ria ou @ falsa ambigio: E, todavia, em todos os quatro casas assinalados o motivo ¢ exatamente 0 mesmo: hem mais nem menos do que o amor 4 repulagao, XXIII. — Aos prazeres do poder corresponde o motive que, em um sentido neutro; pode ser denominado'amor ao poder. Pessoa que ni ) simpatizam com este motivo denominam no gandneia de poder. Em um sentido bom, o motive dificilmente tem un nome proprio. Em cer tos casos este motive, bem como ¢ amor 4 reputagde. ¢ confundido sob o mesma nome, ambigéo. Isto ndo deve estranhar, considerando-se a relagio intima que existe entre os dois motivos em muitos casos: com efeito, acontece com freqiiéncia que 0 mesmo objets que proporciona uma espécic de prazer propor- cione ao mesmo tempo tambem « outra — por exemplo, cargos, que sio a0 mesmo tempo postos de honrz © lugares de confianga: além disso. em qualquer caso a reputagao ¢ 0 caminho cue leva ao poder. Vejamos alguns exemplos (1) Se, no intuito de obter um posto administrative, envenenares a pessou que 6 ocupa, (2) Se, visando uo mesmo propdsito, propdes um plano salutar para o pro- gresso do bem-estar publica, O teu motivo-é em ambos os easos-o mesmo. Toda. via. no primeiro caso é cle considerado criminoso ¢ abominavel. no segundo se diz que ¢ licito ¢ até credor de clogios. XXIV. — Aos praveres ¢ as dores derivantes da sangao religiosa corres ponde um motivo que, falande-s¢ em sentido estrito, nao tem nenhuma designa- do inteiramente neutra aplicivel a todos os casos, «a menos que como tal se ad- mita © termo religiio, muito embora esta palavra, em sentido rigoroso. no parega designar propriamente © motivo em si mesmo, como uma espécie de per- sonagem ficticia, pelo qual se supde ser criado 0 motivo. ou um conjunto de -atos, que se supde serem ditados por essa personagem: alias, tampouco parece que o termo religido seja completamente pacifico, se for tomado em uma accpgio neu- tra. No mesmo sentido ele é denominado, também, em certos casos, zclo religio- 80; em outros, temor de Deus, O amor a Deus, embora comumente seja colocado em oposigaio ao temor de Deus, niio coincide, em sentido estrito, com este motive, sendo que coincide propriamente com um motivo de uma Uenominagéo diversa, isto 6, uma espécie de simpatia ou benevoléncia que tem por objeto a Divindade. Em um sentido bom, denomina-se devogio, piedade. zelo pela piedade. Em um sentido mau, cm alguns casos, superstigio. ou zelo supersticioso; em outros casos. fanatismo, ou zelo fanatico: em um sentide nao abertamente mau, porque nao apropriado a este motivo, denomina-se entusiasmo, ou zelo entusiastico, Alguns exemplos para esclarecer 0 assunta, (1) fim de obter o favor do Ser Supremo, uma pessoa assassina 9 seu Iegi- timo soberano. Neste ¢aso o motivo & quase universalmente encarado como 36 BENTHAM abominavel. chamando-se fanatismo: em outros tempos muitos'o Sorisideravam digne de encomios, sendo denominado zelo pela piedade. (2) Como mesmo intuito, uma pessoa se agoita com correias, Neste seni- do, certas pessoas consideram o motivo elogiavel, chamando-o zelo pela piedade: sutras o consideram detestavel ¢ denominam-no superstieds (3) Com’ mesmo propdsito. uma pessoa come um pedago de pao (ou pelo conc’ O-due se aparenta a um pedago.de pio) com certas cerimbnias, Certas pes. Soas julgam isto clogidvel, denominando-0 zelo. piedade ¢ devogdo, outras 0 con: Sideram abominavel, chamando-o de superstigdio, como acimas talver. até se deno- mine absurdamente impicdade. (4) Com 6 mesmo abjetive, uma Pessoa segura uma vaca pelo rabo quando esta esté morrendo. No Tamisa este motivo seria neste caso considerado despre- zivel ¢ denominado Supersti¢ao. No Ganges & considerado meritério @ se deno- mina piedade, (5) Visando ao mesmo fim, uma pessoa aplies uma grande soma cm obras de caridade, ou para a utilidade Publica, Neste caso o motiva ge diz elogiavel, pelo menos para aqueles que catalogam as obras’ de catidade sob este item. sendo neste cso denominado picdade. E. todavia. em todos esses casos 0 motivo € exatamente o mesmo: nem mais nem menos do que a motivo pertinente & sangao religiosa, | XXV.- — Avs prazeres da simpatia corresponde 9 motive que. cm um sent}. do neutro, se denomina boa vontade, benevaléncia (goodwill), Pode-ve usar nesta Scasilio também a palavra simpatia, embora o seu sentido parega ser mais exten- so. Em um-sentide bom denomina-se benevoléncia. em certos casos filantropias num sentido figurado, amor fraterno; em Outros, humanismo; em outros, carida- de: em outros, piedade ¢ compaixiio; em outro: misericérdia; em outros, grati- dao; em outros, ternura: em outros, patriotismo; em outros, espirito puiblico, Também a palavra amor & ‘usada neste ¢ em muitos outros sentidas, Num sentido mau, este motivo nao dispde de nenhum termo que Ihe seja aplicivel em todos os casos; em Sasos particulares se denomina Parcialidade. A palavra zelo, com certos qualificativos que lhe sfo antepostos, também poderia Ser por vezes cmpregada nessas ocasiées, embora o seu sentido. seja mais amplo, Aplicando-se as vezes a cle ¢ também a benevoléneia, Assim ¢ que falamos de zelo de partido, zelo nacional, zelo pelo bem piblico, Também o:termo afeto é usado vom tais qualificativos; dizemos também aleto & familia, A expressao francesa es- pit de eorps, para a qual dificilmente existe até apora correspondente em inglés, poderia ser traduzida. em alguns casos, embora de forma bastante inadequada, pelos termos espirito de sorporaciio. afeto de corporagao, zelo pela corporagao. Ilustremos o assunto com alguns ¢xemplos. poses Sele de gue: pessone em peat, Yes gue aio Wouado dasa formas bland gis Phat porn Ito en TARE CDs. quslanr que sea aden di ato qe rota os Fi A Sy Soe eet MbSUIOLS gu, lngLnder patans on pestoad anita Goce tae a ae mess tsar ache ar Reece coma deivanica desoa ome, como prneeventn de vy cates ee ‘sma observagio aplicu-se 1 muitin ovttes sagas, (ML. da.A,) PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLACAO u (1) Uma pessoa que pds fog a cidade é presa entregue & policia: movido por compaixio, tu a ajudas a sair da prisdio. Neste caso a maioria das pessoas dificilmente sabera se deve condenar ou aptaudir 0 teu motivo; os que condenam © teu. comportamento estardo mais propensos a atribui-lo a algum motivo; caso 0 denominem benevoléacia ou compaixao, optarie por anteporthe um adjetivo, denominando-o falsa benevoléncia ou falsa compaixdo. (2) A pessoa & de novo presa e processada; com 0 objetivo de salvi-la w Jurds falso. As pessoas que no caso anterior nao teriam qualificado como mau 0 Teu motivo talvez 0 fagam no presente caso, (3) Uma pessoa esté em process contigo devido a posse de uma proptie- dade: eln nao tem dircito algum’a ela; 6 juiz 0 sabe. porém devota estima especial ao teu adversdrio ¢ Ihe adjudica a propriedade do imével. Neste caso todo mundo. considera © motivo abomindvel ¢ o denomina injustiga ¢ parcialidade. (4) Descobres que um homem public se deixa subornar; por amor ac inte- ress¢ publico tu © denuneias'¢ moves proceso contra cle, Neste caso. todas as pessoas que reconhecem que a tua conduta teve origem neste motive considera. rao 0 (eu motivo clogiavel ¢ falarao de espirito piiblico. Entretanto, os amigos e 08 partidarios do homem pilblico falardo de inimizade ao partido. (3) Encontras uma pessoa morrendo de miséria: tu a socorres ¢ Ihe salvas.a vida. Neste caso, todos considerariio © teu motive elogidvel ¢ 0 denominardo compaixdo, piedade. caridade, benevoléncia. E, no entanto, em todos esses casos 0 motivo é o mesmo: nem mais nem menos 6 motivo da boa vontade ou benevoléncia. XXVI. — Aos prazeres da malevoléneia. ou da antipatia, corresponde o motivo que, em um sentido neutro, ¢ denominado antipatia ou desprazer, e, em casos particulares, desamor, aversio, aborrecimenta; em um sentido neutro, ov talvez em um Sentido que pende levemente para o sentido mau, ma vontade (ill will), ¢ em casos particulares raiva, cdlera ou furor (wrath), inimizade, Em um sentido mau, denomina-se em casos diferentes furor (wrath), mau humoe (spleen), mau génio, ddio, malicia, rancor, ruiva, fiiria, crucldade, tirania, inveja, ciume, Vinganga, misantropia, ¢ outros termos que dificilmente vale a pena elencar.*? Analogamente ao Lermo boa vyontade ou benevoléncia, a palavra é empregada Juntamente com epitetos que exprimem as pessoas que sdo objeto do respectivo sentimento. Dai ouvirmos fatarde inimizade de partido, raiva de partido ¢ assim por diante. Num sentido bom, no parece haver nenhum termo para este motivo. Em expresses compostas pode ele ser expresso neste sentido por qualificativos ais como justo ¢ fourdvel, antepostos a palavras que sao usadas em um sentido NCUrO Ou quase neutro, 1 Aaui. como athures. podeéeobschine que dx ineimnd: piled qui! NAO meneionalas imi ni motives, muitas dels io também moynies de ines apetics sent imenios: ceuidades fetilay qu nbc ‘das Nomente considerando prazetes ou dors sols Alguin ponte de Vista particular. Algumas delas-sio tam bém momes dé spialishides mornis. Fate setor de nomenclatura é worsileravelmente intrteads: para ceslindss Jo iniciramente seria necessirio. um volume imieira, sendo que nem cequer uma ‘lba dele pertonoe propriamenia ni nosso tema. (Ned A) de Vejamos também aqui alguns exemplos ilustratives. (1) Cometes roubo contra uma Pessoa: esta te processa ¢ tu és punido: mo- vido pelo ressentimento, precipitas-tc sobre:ela ¢’a enforcas com as tuas proprias maos, Neste caso 9 teu motivo sera universalmente considerado detestavel ¢ ser denominado malicia, cruckdade. vinganea, ete, (2) Uma pessoa roubou-te uma Pequena soma; por ressentimento tu a pro- cessas « conseguds que Seja enforcada. Neste caso ax pessoas estardo provavel- mente divididas na apreciagio de teu motive, Teus amigos o considerarso digno de encdmios ¢ 0 denominario re ntimento justo ou louvavel; teus inimigos tal- vey le considerartio censurdvel vo denominario crucldade. malicia. vinganga & assim por diante: para evitar iste. os teus migos possivelmente tentariio. modifi- Caro motive ¢ 6 denomindrao espitito piblico. (3) Uma pessoa assassinou teu pat; movido de ressentimiento, tu a processas © consegues a sua condenacao a morte. Neste caso todos considera vO digno de clogios ¢ 0 denominarao, coma no caso acima, um Tessentimento justo ou louvivel. Os teus amigos. no intuito de valoricur mais o principio mais amigdvel do qual se atiginou o principio malévolo que constituiu o teu motive imediato, optarag por omitir este dltimo ¢ 86 falarao do primeiro. usando um termo como piedade filial. Todavia, em todos esses casos o motive ¢ 0 mesmo; nenr mais nee menos do que 0 motivo da ma vontade ou malquerenga (fll will) XXVIT. — As varias essécies de dores, ou pelo menos a todas iquelas que, fa concepelio comum, subsistem em um grau intenso, bem como 4 morte — a qual. segundo as nossas capacidades de porcepedo, representa o fim de todos os praercs —, bem como a todas as dores com as quais estamos familiarizados, corresponde © motivo que, em um sentido neutro, se denomina, em geral, autopre- Servacao {autodefesa), que ¢ 0 desejo de delender-se da dor ou do mal em questio, ‘Ora. cm muitos casos o desejo do prazer eo senso da dor se confundem de maneira tal, que niio se pode distingui-los. Em eonsegiiéncia disso, a autodefesa, quando o grau da dor & qual a autedefesa corresponde é leva. dificilmente podera ser distinguida, por uma linha diviséria precisa, dos motivos que correspondem diversas espécies de prazeres. Assim & no caso-das dares da fome eda sede, onde a necessidade fisiea em muitos casos dificilmente se pode distinguir do dese. Jo fisieo, Em certos casos 6 motive é denominado, ainda em um sentido Neutro, auto: defesa. Entre.os prazeres © as dores das angdes moral ¢ religiosa, ¢ co} femente entre-os motivos que thes corre: spondem. bem como entre os Prazeres da amizade, & as dores da inimizade, esta falta de limites divisorios ja foi assinalada. Acontece 6 mesmo entre os prazeres da saide e as dores da Privagao correspon dentes a esses prazeres, Por isso, hit MuilOS Casos, NOS quais sera dificil distinguir © motivo da autopreservagio do interesse pecunidrio, do desejo de captar a alei- sao. do amor a reputagio ¢ da esperanga religiosa: nesces eavos, oe termes mais Sspecificos © explicitos serio naturalmente preferidos a este termo geral e nao explicito, Existc também uma multidio de termos Compostos que ow jd esto em PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLAGAO x” uso, ou poderiam ser criados, para distinguir as divisbes especificas do motivo da autopreservagao daqueles varios motivos que se originam de um prazer, tais como 0 medo da pobreza, 0 medo de perder a consideragao desta ou daquela pes- soa, a medo da vergonha, 0 temor de Deus. Além disso, ao mal da morte correspond. em uni’ sentido neutro, © amor & vida. ¢. em um sentido mau, a covardia, a qual corresponde também as dores dos sentidos, ao menos quando subsistem em um grau agude, Niio parece haver termo aleum para designar o amor a vida em um sentido bom. a menos que se use o termo gerale vago da prudéneia, Passemos a alguns exemplos ilustrativos. (1) Para salvar te da forea, do pelourinho, da prisfio ou de uma multa, enve- hens a iiniea pessoa que pode depor contra ti. Neste caso © teu motivo sora universalmente considerado abominavel: todavia, visto nao ter o termo autopre- servagdo nenhum sentido mau, as pessoas no estardo dispostas a usd-lo, mas preferirao mudar o motivo e falar de malicia. (2) Uma mulher, apés ter dado & luz um filho ilegitimo. mata-o ou abando- na-o a fim de evitar a vergonha. Também neste caso as pessoas considerario 0 Molivo como mau e, ndo querendo usar o termo autoprescrvagao em um sentido neutro, provavelmente modificario ¢ motivo ¢ falarao de crueldade. (3) Com 0 objetivo de poupar meio penny, permites que morra de inanigio diante dos teus olhos uma pessoa que poderias salvar com este dinheiro. Neste caso o teu motivo ser considerado por todos como abomindvel; para evitar denomind-lo com um termo tao indulgente como autopreservagaio, as pessoas 0 denominariio avareza © mesquinhez, com as quais na reulidade ele coincide, no Presente caso: movidos pelo desejo de encontrar um termo mais duro, provavel- mente também estarao propensos a modificar © motivo e denomina-lo erueldade. (4). A fim de por termo a dor da fome, roubas uma futia de pao, Neste caso © teu motivo tem Lalvez pouca probabilidade de ser considerado muito mau e, para exprimir maior indulgéncia em relagdo a ele. as pessoas se inclinardo 4 encontrar um termo mais forte do que “autopreservagao”, denominando-o necessidade. (5) Para salvar-te do afogamento, subtrais a tibua de salvagao de uma pes- soa inocente que. privada dela. se afoga. Neste caso 0 teu motivo ser’ conside- rado pelas pessoas nem bom nem mau, sendo chamado’ autupreservagao, ou necessidade, ou amor 4 vida, (6) No intuito de salvar a tua vida perante um bando de salteadores, tu os matas na briga. Nesta emergéncia o motive poderd, tulvez, ser considerado prefe- rivelmente louvavel e. além de autopreservagao, sera chamado também autodefesa. (7) Um soldado é enviado para futar contra um destacamento inimigo:mais fraco; antes de terminar a luta, foge para salvar a propria vida, Neste caso 0 mo- tivo sera por todas considerado digno de desprezo ¢ sera denominado covardia. E todavia, em todos esses casos, 0 motivo é sempre o mesmo. nao sendo nein mais nem menos do que aulopreservagio, 40 BENTHAM XXVIIL — Em particular, as dores do esforge corresponde 0 motivo que, Sin um sentido neutro, pode ser designady como amor ao SOssego, ou, por uma clrcunlocugio mais longa, como desejo de evitar ser incomodado. Em um sentido mau. denomina:s¢ indoléncia. Nao. parece existir Para este motive terme Para designa-to num sentido bom, Vejamos alguns exemplos ilustrativos. (1) A fim de evitar o ineémodo de cuidar da sua crianga, um pai a aban- dona ea deixa perecer. Neste caso 0 motive Sera considerado abominavel ¢, sendo que indoléncia parece ser um termo excess; vamente suave para denomind- lo, © motivo sera talvex modificado c s¢ recorreri 9 algum outro termo, como. crucldade. (2) Como objetivo de libertar-te de uma eseravidio ilegitima, escapas do patrdo. Neste caso certamente o motivo nao sera considerado mau: ¢, uma vez. due © termo indoléncia e mesmo amor ao sossego Parecem excessivamente desta. Vordveis. possivelmente ser denominade amor 4 liberdade, (3) Um mecanico, visando a Poupar esforco, introduz uma melhora na sua maquina. Neste caso as Pessoas considerarfo o motive bom: todavia, nao encon- trando nenhum termo que o qualifique num sentido bom, inelinar-se-Go a ‘deixar © motivo fora de consideragio: falardo preferivelmente da sua ingeniosidade, mais do que do motivo que constituiu o meio através do qual a pessoa manifestou essa qualidade, Entretanto, em todos esses casos ‘0 Motivo € 6 mesmo; nem mais nem menos do que o-amor ao. sOssego. XXIX, — Face a tudo « que acabamos de exper, conclui-se que nao existe nenhuma espécie de motivo que seja ma em si mesma, como tampouco existe mo- tivo algum que scja em si mesmo exclusivamente bom. No que concerne aos seus efvitos, ¢ igualmente manifesto que estes por vezes 80 maus, por vezes bons ou indiferentes, E evidente também que isto acontece fom qualquer espécie de motivo. Par conseguinte, se aigum motivo for bom ou sean ek (aza0 dos seus efeitos, isto acontece exctusivamente om Se tratando de Ocasibes particulares, com molivos particulares, e isto acontece com qualquer Motivo. Consegiventemente, se alguin motivo, em razdo dos seus efeitos, pode ser quatifieado de mau com alguma propriedade do fermo, $6.0 pode ser com rele réncia a0 balango de todos ox efeitos, Bons ou maus, que pode ter produzide em um determinado periodo: em outras palavras..em razio da tendéncia mais omum inerente ao motivo, XXX. — Que haveremos de coneluir disso? Coisa sendo maus? Certamente gue nao, Nao obstante isto, @ verdadcira a proposigaé qué afirma nao haver nenhuma espécie de motivo que em muitas ocasidies néo pode senao ser bom, A verdade PRINCIPIOS DA MORAL E DALEGISLACAO a) maus, Os nomes:desses motivos. considerados independentemente dos seus efeic tos, sdio desejo sexual, desprazer,e interesse pecunidtio, Ao desejo sexual, quando Os Seus efeitos so considerados maus. dé-se'o nome de luxdria. Ora, luxitia é Sempre um motive mau. Por que razio? Pelo fato de que. se 0 caso for tal que os efeitos do motivo nao séo maus, 0 termo luxtiria ndo é apropriado, ou pelo menos nao deve ser considerado adequado. nem portanto ser usado. A verdade, portan- tw, © a seguinte: quandg digo “A luxiria é um motivo mau”. enuneio uma propo Sigdo que apenas se refere a0 conteiido da palayrd lunuria, 0 qual seria falso se fosse transferido outra palavra usada para o mesmo motivo, o desejo sexual, Por af se vé a inanidade de todas essas rapsddias da moral de lugares-co: muns, que consiste em adotar palaveas como “luxiria”, “crucldade™ e “avareza” © assinala-las com a marca de reprovacao: aplicadas a coisa, so falsas: aplica- das ao termo, sie verdadeiras, sim, mas nugatérias ou fitels, Se alguém quiser Prestar um servigo real a humanidade, mostre os casos. em que © desejo sexual merece o nome de luxiria: 0 desprazer, 0 nome de crucldade: o interesse pecunia. rio, ode avareza. XXXL. — Se fosse necessdrio aplicar as denominagties bom, mau ¢ indife- Fente a0s motivos. deveriam:eles ser classificados da maneira seguinte, em ravao. da complexidade dos seus efeitos, na maioria dos casos, No elenco dos motivos bons paderias ser colocados os termos: (1) boa vontade ou benevoléncia: (2) amor i reputagéio; (3) desejo da amizade; (4) religiao, No catilogo dos motives mats séria colocado o seguinte: (5) desgosto ou descontentamento. No elenco dos motivos neutras ou indiferentes colocar-se-iam os seguintes: (6) desejo fisieo: (7) interesse pecunidrio: (8) amor-ao poder (9) autopreservacao. incluindo o temor das dores dos sentimentos, 0 amor 40 SOSsego ¢ O amor ii vida. XXXIT, —- Entretanto, um tl arranjo & essencialmente imperfeito, sendo que a nomenclatura que 0 caracteriza est exposta ao perigo de causar equivocos. Efetivamente, que método de investigacao poderia assegurar Que, em relacia a08 motivos clencados sob a qualificagio “bom”, o§ efeitos bons que tiveram, desde o inicio do mundo, foram, em cada uma das quatro espécies compreendidas Sob esta qualificagdo, superiores aos efeitos maus? Muito mais diffeil serin demonstar peremptoriamente que, com Tespeito aos motivos que tiveram se equi ram perfeitamente, no sentido de que 0 valor dos efeitos bons nao seria maior nem menor do que os dos efeitos maus. Cumpre ter presente que Os interesses da propria pessoa nia podem ficar fora de consideragao, tampouco como as interes: ses do resto da comunidade. Com efeito, que scria das espécies, se nao fosse pelos motivos da fome e da sede, do desejo sexual, do temor da dor, do amor & vida? Na constituigio atual da natureza humana, talvez nem mesmo o métive do des- gosto ou descontentamento seja menos neces: do que qualquer um dos outros. Isto permanece verdade. mesmo que seja concebivel um sistema no qual a vida seja possivel sem este motivo. Parece, portanto. que dificilmente se pode distinguir e classificar os motives da forma acima, mesmo com teferéncia um ao outra, sem grande perigo de equivocos, XXXII. — Ao que paresé. a nica maneira segundo a’ qual um motivo pode com certeza ¢ propriedade de tinguagem ser qualificado bom ou mau. écom referéncia aos seus efeitos.em cada caso individual, ¢ sobretudo a partir da inten- G40 que deriva do respective motivo, da qual nasce, como demonstraremos abai- XO, @ parte mais importante dos. seus efeitos, Um motivo é bom, quando a inten- cdo que dele se origina ¢ hea, e A mau, quande a intengao que dele sc origina é ma; € uma intengao ¢ boa ou ma, segundo as consegiiéncias materiais que consti- tuem objeto da mesma. De forma alguma queremos dizer que a qualidade boa da intengao s6 possa ser conhecida a partir da espécie do motive. De um ¢ mesmo motive, coma vimos. podem resultar intengdes de todas as espécies estruturas, Consegilente- mente, esta circunstancia néo fornece nenhum eritério para a classificagao das diversas espécies de motivas. XXXIV, — Em conseqiiéncia do que dissemos, Ppareceria que um método mais comodo scria distribuit os motives eonforme a influencia que tém sobre os interesses dos outros membros da comunidade, deixando 4 parte os interesses da pessoa particular; cm outros termos, segundo a tendéneia que tém no sentido de harmonizar os interesses da pessoa com os da comunidade, ou de conflitar uns com os outros, Sob este prisma, os motivas podem ser divididos em saciais, dissociais ¢ pes: soais (self regarding), Entre os motivos sociais classificar-se-iam os (D. boa vontade ou benevoléncia; (2) amor a reputagdo; (3) desejo de amizade: (A) religiiio, Entre os motivos dissociais classifiear-se-ia o seguinte: (5) desgosto ou descontentamento, Entre os motivos pessoais (selfregarding) elassificar se-iam os seguintes: (6) desejo fisicos (7) interesse pecuniario: (8) amor ao poders (9) autopreservagao, incluindo o temor das dores dos sentidos, 0 amor ao. sossego ¢ 0 amor @ vida. XXXV. — Com respsito aos motivos que foram denominados soeiais, se alguma outra distincdo puder ser de utilidade, observamos que somente ao moti- vo di boa vontade ou benevoléneia se pode aplicar 0 qualificativo de puramente seguintes: PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLAGAO 3 Social, a0 passo que 0 amor A reputacio. o:desejo.da amizade ¢ o motivo da reli- io podem conjuntamente ser englabados sob o titulo de semni-sociais, sendo que a tendéncia social ¢ muito mais constante e inequivoca no primeiro do que em qualquer um dos trés: tiltimos. Com efeito, estes ditimos. embora possam: ser denominados sociais, ao mesmo tempo sao pessoais. § 4 — Ordern de preeminéncia entre os mativos XXXVI. — De todas esses espécies de mvotivos, 6 da boa vontade ¢ aquele cujos ditames. considerados de maneira geral, apresentam a maior certeza de coingidirem com os motives do principio da utilidade. Com feito, os ditames da utilidade nao siio nem mais nem menos do que os ditames da benevoléncia mais extensa e mais esclareeida {isto &. bem avisada). Os ditames dos outros motives podem s¢r conformes' com os da utilidade ou podem ser-lhes contririos, conforme 0 caso. XAXVLL, — Entretanto, considera-se certo que, no caso em questdo, o5 ditames da benevoléncia nao séo contraditos pelos de uma. benevoléncia mais extensa — isto é. amplinda. Orn. quando os ditames da benevoléneia, enquanto esto ém rélagie com os interesses dé um certo grupo de pessoas, so contrarios uos ditames do mesmo motivo enquanto este se relaciona com os mais impor tantes interesses de um outro grupo de pessoas. os primeiros ditames s&o por assim dizer repelidos pelo dltimoy ¢, se uma pessoa fosse regida pelo. primeiro, dificilmente se poderia dizer com propriedade de linguagem que ¢ regida pelos ditames da benevoléncia. Em razio disso, se houvesse certeza de que os motivos dos dois Indos estivessem igualmente prosentes na inteligéneia de uma pessoa, dificilmente se poderia distinguir o caso de tal opasigao. pois a benevoléncia par- cial poderia ser considerada como absorvida na benevoléncia mais extensa: se o primeiro prevaleceu ¢ dirigiu a agdo, devese afirmar que ele nao deve a sua‘ori gem a benevoléncia, mas a algim outro motivo; se o tiltimo prevalecesse. o pri- meiro deveria ser considerado como destituido de efeito. Todavia, o que acontece & que uma benevoléncia parcial pode dirigir a agio sem entrar em qualquer concorréncia direta com a benevoléncia mais extensiva que a impediria, pois os interesses do grupo menos numeroso de pessoas podem estar presentes a inteli- géncia de uma pessoa em um momento em que os interesses do grupo mais nume- FOSO OU NAO estHO presentes, Ou, S¢ presentes cativerem, nao fazem impressio. E desta forma que os ditames deste motivo podem contradizer os da utilidade. sem deixarem de ser ditames da benevoléncia, © que faz os ditames da benevoléncia privada serem conformes, em seu con- junto, a0 principio da utilidade é o futo de no serem cm geral contraditos pelos ditames da benevoléncia publica; caso [hes sejam contrarios, sera apenas aciden talmente, © que os fax serem mais conformes € 0 fato de que, numa sociedade eivilizada, na maioria des casos em que scriam em si mesmos aptos a contrariar os:ditames da benevoléncia publica, sentem a oposigao de motivos mais fortes da calegoria dos molivos pessoais que 940 postos contra eles pelas lei XXXVITL — Depois de boa vontadé ou benevoléncia, 0 mativo ‘cujos dita- ines Parccem ter a maior chance de coincidirem com os ditames da utilidade é 6 cidirem em todes os casos com os ditames da utilidade, E que os homens, nas ANAS simpatias e antipatias. nas dispasigées que manifestam no sentido de dar a um determinade modo-a sua aprovayau ou a sua desaprovaciio — e conseqiiente mente, a pessoa que'o pratica, a sua boa vontade ou a sua od vontade —, nio se feeem exclusivamente pelo principio da utilidade, Por vezes & pelo principio do ascetismo que se deixam guiar, outras vezes peto principio da simpatia ¢ da antipatia, do motivo da benevoléncia. Os ditames deste motivo Operarfio com a mesma orga tanto em particular como ei piiblico, Quer parega proviivel que a conduta que eles recomendam sera conhecida, quer aio: os motivos do amor & reputagdo coincidirdo com os da benevo’ éncia exclusivamente na medida em que a conduta de uma pessoa tem probabilidade de ser Conhecida. Entretanto, esta circunstancia nao faz tanta diferenga'como poderia parecer 4 primeira vista, Os atos, na medi- da em que forem materiais, so Aptos a se tornarem conhecidos ¢, no que tange a reputagao, a mais leve Suspcita muitas vezes sérve como prova Além disso, se um ato for deésonroso, nao existe garantia alguma que se Possa ter aceren do ¢ardter seereto do ato particul: €m questdio que naturalmente superard as obj que ele pede ter contra‘a prattica dese ato, Embora 0 ato em questo devesse permanecer Scereto. tendera a formar um habit, que pode dar origem 4 outros atos, os quais podem nao ter 2 mesma hon sorte, Talvez. nfo haja homem algum, na idade da discri¢io, sobre o qual consideragdes dese tipo nao exergaim alguma influéncia; esas tem, maior peso sobre uma pessoa em propor- ga0 a forga das suas Poténcias inteleetuais ¢ 4 firmeza da sua mente. A isto se Aerescente a influéncia que o hébito, uma vez formado, tem no sentido de demo- ver uma pessoa de atos em relacdo aos quais criou aversiio, em razdo da desonra qué 08 caractcriza, bem como em razdo de qualquer outra-causa. A influéncia do habito,em tais casos, € um fato reconheeido ¢ inquestiondvel,"* embora nao seja Prontamente considerado, 12 Ee senthle citi, o hdc seme win rte eta tilo, eno, ‘lo realmente dist ds tas ou Dane oer eearefUs HE le ser commits de pod ceisiny usando seston isu. Todavia, © enigma FEN Reine lee forma satsuiria com Hane ra princian do assodiagts Quanto naturera ei forga ate principio ide te encontsor uma eapigay mui aaterarsric edigio de Hartley sobre © Homem, (Man), fits pelo Dr, Priestley. (N, do A.) PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLAGAO. 45 XXXIX. — Depois dos ditames do amor a reputagio vm. ao que parece, ‘os do desejo da amizade. Os primeiros tém disposigdo a coincidirem com os ditames’da utilidade, na medida em que tém disposigae para coinzidirem com os. da benevoléncia, Ora, tambént os ditames do desejo da amizade tém aptidao para coineidir, de certa maneira. com o§ ditames da benevoléncia. Todavia, a-espécie de benevoléncia com cujos resultados o amor a reputacdo coincide é a mais extensiva. Entretanto, os ditames do.amor & amizade tém ainda a vantagem dos ditanies dos motivos Pessouis. Os primeiros, em um ou outro periodo da vida, dispdem uma pessoa a contribuir para a felicidade de um ntimero considerdvel de pessoas. ao passe que Os tiltimos, desde 0 comega da vida até ag fim, se limitam ao cufdado do indivi- duo particular, Os ditames do descjo da amizade. como é dbvio, se aproximatio mais da coincidéncia com os do amor & repulagao, ¢ conseglientemente com os da utilidade, em proporeao, ceteris paribus, a0 nlimero das pessoas cuja amizade uma pessoa tem ocasida de desejar; dai que, por exemplo, um membro inglés do Parlamento. com todas as suas proprias fraquezas e todas as tolices das pessoas cuja amizade tem que cultivar. é provavelmente. via de fegra, um carater melhor do que o seeretario de um vizir em Constantinopla, ou um aaib no Indostao. XL, — Os ditames da religifio. devido a diversidade infinita de religides, apresentam uma variedade to grande, que ¢ dificil saber sob que item deve ser catalogade 0 motivo que hes co-responde. Ao mencionar-se a religiao, os primeiros pensamentosidas pessoas voltam-se com naturalidade a religiaio que clas mesmas professam., Isto constitu uma gran. de tonte de equivocos, contribuindo também para a tendéneia a colocar este moti- voem um lugar mais alto do que o merecido. Os ditames da religido coincidiriam em todos os casos com os da utilidade, CaSO Se Supusesse universalmente que o Ser Supremo, objeto da reliaiio, & tio benevolente como. st supde ser cle sabio & podcroso, t se as nagdes que as pessoas tem acerca da sua benevoléncia fossem, ao mesmo tempo, tio corretas como as ‘que tém sobre a sua sabedoria ¢ 0 seu pader, Todavia, nenhuma das duas hipdteses se verifica na realidade. Todos supsem que o Ser Supremo é todo-poderosa: alisis, se existe tal Ser, que sentido teria se no fasse ele Aquele pelo qual tudo € criado? No que concerne a sua sabedoris, se Ele sabe uma coisa, ¢ dbvio que deve saber também a outra. Essay nogées parccem ser tio corretas quanto slo \niversais, para todos os fins materiais, Entretanto, entre os partidérios da religiae — de cujo mimeto 0 conjunto dos cristdios representa apenas uma parcela reduzida —, parece haver poucos — née direi quo poucos s&io — que realmente eréem ia sua benevoléncia, Dao a Deus 0 qualificativo de benevolente, mas apenas em palavras, ndo concebendo-o realmente como tal. querem dizer que Deus seja benevolente no sentide em Que se afirma que um homem & benevolente; no: querem dizer que Deus é bene volente no tini¢o verdadeire sentido que 0 termo benevoléncia tem, Com efeito, se entendessem a benevoléncia divina neste dinico sentido yerdadeiro reconheceriam que os ditames da religiao coincidem com os da utilidade, ndo apresentando nenhuma diferenga. nem para mais nem para menos. Q que acontece é que na maioria das ocasides volta as costas ao principio da utilidade. Correr direta- mente atras dos estranhox principios que se opdem aos da utilidade: por vezes © principio do ascetismo, outras vezes é 0 da simpatia ¢ da antipatia.’* Em conseqlléneia disso, a idéia que tém na mente em tais ocasides & com freqiidneia a idéia da malevoléncia, e w esta idéia, depois de privé-la do seu verdadeiro nome, atribuem a bela denominag’ode motivo social. Em suma, os ditames da religido nao sao outra coisa senio os ditames daquele principio que j4 mencionamos sob o nome de principio teologico. Estes. conte ja obscrvamos. sio, conforme as tendéncias da respectiva pessoa. apenas Sépias dos ditames de um ou outro dos tts principios originals: por veres, dos ditames da utilidade. mais freqientemente dos do, ascetismo, ou dos da simpatia € antipatia. Sob este prisma, 0s ditames da religizio coincidem praticamente ¢om os do amor a reputagiio, ¢ em certos casos esto até abaixo deles, Os ditames da religiao em toda parte aparecem mais ou menos mesclados a ditames incompaginiveis com os da utilidade. deduzidos de textos — bem ou mal interpretados — extraidos dos eseritos considerados como sagrados por cada seita: incompagindveis, digo. porque se impdem prations por vezes contrarias aos interesses da pessoa em questo e outras vezes perniciosas ao resto da coletivi. dade. Os sofrimentos:de tantos martires, as calamidades das guerras santas ¢ das Perseguiges religiosas, as Icis intolerantes — fendmenos aos quais sd podemos acenar aqui levemente — constituem outros tantos males perniciosos. que se Somam des que surgem constantemente no mundo por obra do umor a reputagio. Por outra parte, & manifesto que, com fespelto ao poder de operar seereta- mente. os ditames da religido apresentam a mesma vantagem sobre os do amar, a reputagio ¢ o desejo da amizade, que apresentam os ditames da benevoléncia, XLI, — Felizmente, parece que os ditames da religido se aproximam sem- pre mais de uma coincidéncia com os da utilidade, Mas por qué? Porque os dita. mes da sangao moral vio coincidinde sempre mais com os da utilidade, ¢ os da religiio coincidem com os da san¢do moral ou sdo influenciados por eles. Mem- bros das piores religides. influenciados pela voz ¢ pela pritica do mundo que nog Cerea, va0-se inspirando sempre mais nos ditames do principio da utilidade ¢, nda Guerendo romper com a sua religio, vio tentandé remendar e adornar © patri- ménio da-sua fe, ndo raro com dustante violgncia, Ver 6 eanitula segundo.ponio XVINGIN. doa.) 1 Por ere, no lntuito de melhor acobertarem « embuste — taht ie Set Game alt ox cuiron invemtam wes fantasia, que deewminai justiga, cujde dlitames devem modifies far At tem explieado — ex ditumes da enguerenea, Tadavis. a justiga ho dnien sentido taaosivel que a Dalavra. pong ter. & wit! perkoragetm ingindrio, inyemtado piaru a convenithela Ud diseurta, Cajox ditumes io os da ute aptiendos a certs esse paricularss, A husiga. neste caso. nfo @ nada male do one nc inmrument ieminiein, uilicade paca promover cm certs oeayses, ¢ por cari meioa, os objeivos da fimatereng Os dices da justia nada mais so do que ums parte dos tyes sn benyuer ea om sual, eM certas eeasides. Si uplicadas 4 cerins aesunto: tas agen (NL de PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLAGAO 44 XLIL. — Em relagao aos motivos pessoas (self-regardling) © aos dissoci em relagio ao motive anterior, no que tange a influéncia externa. a ordem rei- nante entre eles ¢ por demais evidente para que se insista sobre o assunto, No que coneerne 4 ordem vigente entre os motivos de ordem pessoal, consi- derados em relagio um ao outro, parece nao haver diferenga alguma que mereca mengao especial. Com respeito ao motivo dissocial, ha uma diferenga — no que tange 4 sua influéncia externa —, conforme a fonte da qual se origina forem consideragdes pessoais ou consideragdes sociais: O desgosto que concebes contra uma pessoa pode fundar-se ou em algum ato que te ofende em instncia primeira e direta. ow em um ato que te ofende pelo fato de que conside!as o ato prejudicial 4 uma outra parte cujos intcresses defendes, podendo esta outra parte ser ou um determinado individuo. ou um grupo de individuos. determinadas ou indetermi- nados, E suficientemente obyio que um motivo, embora em si mesmo dissocial, pode possuir uma tendéneia sozial, pelo fato de ter uma origem social; ¢ outros- sim evidente que neste caso a sua tendéneia ¢ provavelmente tanto mais social, quanto mais amplo for o circulo de pessoas cujos interesses defendes. O desgosto, voltando-se contra uma: pessoa em razio de um prejuizo por ela causado contra © bem piblico, pode ser mais social, nos seus efeites, do que qualquer boa vonta- de ou benevoléncia, cuja influéncia esta confinada a um individu. § 5 — Conflita entre mativos XLII — Quando uma sessoa pensa em empreender uma agao. sente-se com freqiiéncia impelida ao mesma tempo pela fora de motivos diversos: um determinado motivo — ou ums série deles — age numa diregio, ¢ um outro mo- tivo — ou uma série deles — sge em diregio Opostas os motives de uma parte o impulsionam a empreender a egfo, os da outra o dispoem a nio empreendé-la. Todo motive euja influéncia tende a dispor a pessoa a empreender a ago em pauta pode ser denominado metivo impulstonante; ¢ todo motivo cuja influéncia tende a dispé-la a ndo empreender a agio denomina-se motive demovente, Evidentemente. essas denominagdes podem ser intereambiadas, conforme o ato for de espécic positiva ou negativa, XLIV, Ji demonstramos que nao existe nenhuma espécie de motive que n&o possa dar origem a qualquer espécie de ago. Daqui se in-fere que nao exis tem dois motivos que nia possam chegar 4 opor-se um ao outro, Quando a ten- déncia do ato for ma, o mais comum € que foi ditada por um motive de ordem pessoal ou por um motivo de ordem dissocial. Neste easo 0 motivo da benevo: léneia geralmente exerceu @ sua influéncia, embora de forma ineficaz, na quali- dade de motivo demovente. XLV. — Pode ser de utiidade um exemplo, a fim de mostrar a variedade de motivos que podem agir simultancamente sobre uma pessoa no’ momento de empreender uma agao. Crillon. um eatélico — ao tempo em que entre catélicos reinava a eonvie G46 geral de que extirpar protestantes constituia um ato meritdrio —, recebeu do seu rei, Carlos IX da Franga, a ordem de matar privadamente Coligny, um 48 BENTHAM Protestante, “A sua resposta ‘oi a seguinte: “Escusai me, senhor. porém lutarei contra ele com todo o meu coracaa"? © Aqui temos todas as trés foreas acima mencionadas, incluindo ada sangio politica. influenciando o agente ao mesmo tempo. Em virlude da sangao politica deve eno anos eM virtude de uma tal forca derivante desta sangdo. quanta se deve supor comida em tal ordem, proveniente de tal soberano ¢ emanada em tal ocasiao — foi impasta a Crillon a tarefa de matar a Coligny. assassinando-o; a Sango religiosa, isto os ditames do zelo religioso. the impurha mater Coligny de qualquer forma que fosse; x sangio moral, ou seja, os ditames da honra, do ‘amor a reputacao. the permitia lutar contra o adversirio em termos de igualdad 98 ditames da benevoléncia em sentido amplo (supondo a ordem injustifiedvel) the impunham nao expur de qualquer forma a sua vida. porém permanecer em paz com cles suponda que a ordem era injustificdvel. os ditames da benevoléncia privada Ihe impunham nfo meter-se com elc em qualquer caso. Em meio a tal confisiio de motivos eonflitantes, Crillon. ao que parece, dew 4 preferéncia. primciramente. as ditames da honra. e. em segundo lugar, aos da benevoléncia. Teria lutadax se « sua Proposta houvesse sido aceita: como nao & foi, permaneccu em paz. Neste contexte pode surzir uma multidao de imerrogativas, Supondo-se os ditames da sangtio politica que impunham cumprir a ordem slo soberano, de que ordem foram as motivos que os ditamus the sugeriram para Cumprira ordem? A resposta é: da ordem pessoal em qualquer caso, pois, pela SUpOSigdo, estava no poder do rei Puni-lo pelo niéa-cumprimento da ordem, ow Tecompensé-lo pelo cumprimento da mesma, Outra pergunta: os ditames da san ¢40 politica Ihe sugeriram o motivo da religido? (Entendo, indepencentemente da circunstincia da heresi#, acima meneionada.) A resposta é: sim, se Crillon estava eonvencido de que o.cumprimento du orden régia correspondia & vontade de Deus: niio, em cuso contririo, — Outra perguntas os ditames da sangao politica Sugeriram-lhe o motive do amor a Feputagio? A resposta: sim, se estava conven sido de que o mundo esperava ¢ ¢xigia-o cumprimento da ordem régia; nao, em caso contririo. Outra pergunia: ay ditames da sangio polities Ihe sugeriram 0 motivo da benevoléncia? A Fesposta: sim, S¢ estava convencido de que # comuni- dade seria beneficiada pela sua obediéncia: nda. em easo contrario, Entretanto, Serd que Os ditames de singdo politica, no caso em questa, seguiram realmente as ordens do soberano? Fm outros tecmosi-a ordem era legitima? Isto ¢ questio de jurisprudéneia local, alheia aa presente tema, XLVI. — 0 que se diz: aqui sobre a qualidide boa ou ma dos motivos estd longe de ser mera questo de palavras. Haverd ocasiio de fazer uso disso, a seguir, para varios objetivos importantes, Teremos necessidades dessus nogdes ¢ distingdes para dissipar uma série de preconceitos que prestam mau servico comunidade, por vezes estimulando a chama das dissensdes civis. em outras obs- von tis 4 ea¥0'xaui suas € ited uma ancdota da isda TINS Pontos particulares; (Ni. do-A.) Dore apeécenta diferencias PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLACAO +” truindo’ © progresso da justiga. Demanstraremos oportunamente que, no caso das ofensas. a consideragao do motivo éda maior relevancia; em primeiro lugar, por- que pode fazer uma diferenga muito grande no que tange & magnitude do prejui- zo; ¢m segundo lugar. porque & facil certificar se dele, ¢ eonseaiientemente pode constituit um fundamento para uma diferenea na exigéncia de punigdo. Ao contrario, em outros casos. é impossivel idemtificar com certeza 0 motivo. Finalmente, os motivos constituem uma questao com a qual & necessdrio estar familiarizado, a fim de poder emitir um julgamento sobre todos os meios que se possam propor para combater contra os crimes na sua propria fonte, Entretanto, antes de podermos estibelecer os fundamentos tedricos para essas observagdes praticas. impde-se dizer algo acerca de um outro ponto. a disposi¢do. Sera este o assunto do capitulo a seguir. Caprruno X1 As d'sposigdes humanas em geral No decurso do capitulo anterior Mostramos longamente que. em s¢ falindo Som bropriedade de, teemos. a qualidade boa vu ma no pode ser predicada pelos motivos, Pergunta-se agora: nao existiri nada na pessoa, que possa ser denomi- nado bom ou mau quando. nesta ou naguela ocasiio. a pessoa admite ser dirigida Por este ou por aquele motivo! Certamente que simsé a sia disposicao. A disposicio ¢ uma espécic de ente ficticio. criado para a conveniéncia do discurso. com 0 objetivo de exprimir 0 que se supde ser permanente na estruturs ou inteliggncia de uma pessoa, onde, nesta ou naquela ocasiao, ela foi influen siada por este ou por aquele motive 2 praticar um ato que se apresentava u ela com esta ou aquela tendéncia, Tl, — Acontece com a visposigiio o que suicede com qualquer outra coisa: sera boa ou ma de acordo com os seus “tos, isla é.de acordo com os efeitos que tem quanto a aumentar ou diminuir a felicidade da cotetividude, Por conscguinte: 4 disposigao de uma pessoa pode ser enearada sob dois nontos de vista. conforme winfluéneia que tenhia: (1) ou sobre a feli¢idade propria: (2) Ou sobre a Felicidade de outros, Considerada sob esses dois aspectos con ijuntamente, ou seh um dos dois indiscriminadamente, a disposistio pode ser denomninada por uma parte boa, md Por outra, ou depravada em casos flagrantes, Vista sob © primeiro ponte de vistas a disposigao dificilmente tem um nome Peculiar que Ihe seja apropriade. Poder se ‘a denomind-la. de uma parte, fraigil ow fraca, ¢, de outra parte; sélida ou firme. Vista sob o-outre ponto de vista, pode ser denominada benéfica. ou meritiria, de uma parte, perniciosa ou prejudicial, de outra, Quanto fiquele aspecto da disposigai de uma peso. cujos efeitos se relucig- ham em primeira ¢ direta instancin cxclusivamente com a prdpria pessoa, nao & Recessirio dizer mufto neste comtexto. Compete: mais uo moralista do que 20 legislador reformi-la quando for m; i tampouco € ela suscetivel daquelas varias modificagdes que perfazem uma diferenca tio relevante nos efeitos da outra. Com Fespeito aqucla parte da disposigdo, cujos efeitos afetam outros na. primeira instancia, € somente na medida em que cla revestir uma naturess ma Ou perni- ciosa que 0. setor penal da lei ten uma relag&o imediata com ela: na medida cm PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLACAO que for de natureza benéfica. pertence a um setor da lei que até agora tem sido muito pouco cultivado e ainda carece de denominagdo propria, que poderiamos denominar o remunerato UL: — Conseqientemente, diz-se que uma pessoa tem uma disposigdo ma ou perniciosa quando, por influéncia de qualquer motive que séja, se presume que esti mais inclinada a praticar atos — ou tencionar pratica-ins — que aparente- mente se earacterizam por uma tendéncia perniciosa, do que atos que aparentam uma tendéncia benéfica. Fala se de uma disposigdo meritoria ou benéfica no caso posto. IV, — Digo. preswne-se; com efsito, supde se que © que apareee ¢ apenas uma acio individual. acompanhada de um determinado conjunto individual de cireunstiingias; todavia, partindo daquele grau de constaneia c uniformidade que. segundo a experiéncia. se pode observar nas diferentes ngSes da mesma pessoa:da observacao de uma agdo dnica ou individual, conclui-se natural ¢ justamente para a existéncia provavel (passada eu futura) de uma série de-atos de natureza seme. Ihante. Fim tais circunstincias, se um motive se demonstrar tal-em um caso. pre~ sume se que a sua disposigio sera idéntica em outros casos. V. — Digo. aparentemente pernicioxa, isto &, no sentido de que para a pes 80a Os alos em queslao aparecem revestides de uma tendéncia perniciosa; com efeito, a partir do proprio evento, independentemente de como aparecer prova- velmente ao agente, nada se pode concluir para qualquer um dos lados. 0 perni cioso ow © benéfico. Se para o agente o ato s¢ deparar com probubilidade de ser pernicioso, ainda que ao final se demonstre indiferente, ou mesmo benéfico. nao faz diferenga alguma, niio existe a minima razdo para presumir que a sua disposi- gdo serd ma: se para a pessoa o ato se apresentar com probabilidade de ser indife. Fente, em Lal caso, ainda que ao final ele se demonstrasse pernicioso, nao existe a minima razdo, por isso, para presumir que a sua disposigzo seja boa. Aqui vemos a importancia da: cias da intencionalidade, da conseiéncia, da incons- ciéncia ¢ da falsa suposigao. VI, — A verdade dessas colocuydes depende de duas outras, ambas stificientemente verificadas pela experiéncia. A primeira é que, no curso ordinério das coisas. as conseyiicncias das agdes se desenrolam vin de regra conforme as intengSes. Uma pessoa que abre um matadouro ¢ vende carne de boi. quando ten ciona matar um boi, via de regra mata realmente um boi, ainda que, por um aci dente infeli2, possa errar & golpe e matar uma pessoa: da mesma forma, quem abre uma mercearia ¢ opera com agdear. quando tenciona vender acticar vende realmente xgdcar, embora, por um infeliz acidemte. possa vender arsénico ao invés.de agiear. VIT, — Outro fate é que, se uma pessoa tem intengdes de praticar um ato prejudicial uma vex. é eapax de conceber ¢ exceutar a mesma intengdo em outra ocasio.(...) XXXVI E manifesto que a natureza da disposigdo de uma pessoa deve necessariamente depender da natureza dos motivos pelos quais é capaz de ser influenciada: em Outros térmos, depende do grau da sua sensibilidade em relagdo 52 BENTHAM 4 Torga'destes. ou daquelés inotivos. Com efeito, a'sua disposic¢zo é Goma que a Soma das suas intengSes; a disposigao’que tém durante um certo petiodo, a soma on @ resultado das suas intengSes no decurs do referido periodo. Se. dentre os at0S que leve a intengéio de praticar durante 0 suposto periodo, os quesdo aparen- temente de tendéneia pernicivsa farem proporcionalmente muito tals numerosos em relagdo Aquéles que para ele aparecem revestidos da tendéncia contraria, a sua disposi¢ao seré pernictosa; se a proporcdo for pequena. a disposigao sera indiferente. XXVIIL — Ora, as imengdes, como qualquer outra visa, sio produzidas elas coisas que constituem as suas causas, ¢ as eausas das intengdes so os moti- vos. Se cm alguma ocasiao uma pessoa Concebe uma inteneio boa ou uma inten- ma, deverd ser por influéncia de algum motivo, XXIX. — Quando 0 ato — a cuja pratica um determinado motivo leva uma pessoa — for de natureza perniciosa, pode-se denomina-lo, para efeito de distingao, um motive seducor ou corruptor: neste caso, qualquer motivo que, em oposi¢do ao primeiro, agir na qualidade de motivo demovente, pode ser denomi nado motive preservador (tutetary, Dreservatory, oF preserving motive), XXX. — Os motivos Preservadores podem, por sua vez, ser divididos em permanentes e ovasionais, Por motivas. Preservadores permaneéntes entendo aque- les que'agem com maior ou menor forga em todos os casos, ou pelo menos na maior parte deles. e tendem a demover umy pessoa de quaisquer atos perniciosos que esti possa ter disposicdo a praticar. ¢ isto com uma forga que depende da Batureza geral do ato. mais do que de qualquer a acordo com a natureza do ato, hem como de acordo com a ocasiao particular na qual 8 pessoa concebe a intengéo de praticar o ato, XXX. — Ora, ficou demonstrado que nao existe fenhuma espécie de mo. tivo que n&o possa dispor uma pessoa a Praticar atos de natur Perniciosa, isto Motives que nao Possam vir a atuar na qualidade de Motivos sedutores, Por Outra parte, ficou igualmente demonstrado que existem alguns motivos que tém muito. menor probabilidade de atuar dessa forma do que outros, Demonstramos também que o motive que apresenta menor probabilidade neste sentido é 0 da benevoléncia ou boa vontade: com efeito, ficou demonstrado que a sua tendéncia Mais comum é atuar na qualidade de motivo preservador. © motivo da boa vontade, enquanto diz respeito aos interesses de um grupo de pessoas. pode dispor alsuém a praticar atos que prejudicam um outro grupo Imals extenso: porém isto acontcéc apenas porque a'sua bod vontacle 6 imperfeita ¢ limitada, o quc impede a pessoa de levar em conta os interesses de todas as pes- Soas cujos interesses estag.em jogo. Se. sentiment de benevoléncia ou boa von. tade tivesse horizontes mais vastos, 0 mesmo motivo agiria eficazmente, na quali- dade de motivo constringente, ‘origem. Eis a razdo pela qual le, sem contra- dizer a verdade ou desviar-se dela, ser catalogado na €ategoria dos. motivos PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLAGAO permanentes’ preservadorés, nfo obstante a mesmo tempo na qualidade de motivo sedutor. XXXIL — A mesma ebservagdo pode ser feita, aproximadamente. no que concerne ao motivo semi-social de amor & reputagdo, Analogamente ao que acontece com o motivo de benevoléncia ou boa vontade..a forea deste ultima é passivel de ser dividida contra si mesma, Assim como no caso da boa vontade, também aqui os interesses de algumas das pessoas que podem constituir objeto desses sentimentos so suscetiveis de contrariar aos interesses de outros: assim, ‘no caso do amor 4 repntagiio, cs sentimentos de algumas das ‘pessoas cuja boa Teputacao se deseja podem estar em desacordo com os sentimentos de outras pes- seas desse grupo. Ora, no caso de um ato que tem realmente uma natureza perni- ciosa. dificilmente pode acontecer que ndo haja nenhuma pessoa que olhe para sate ato com olhos de desaprovazao, Em conseqiiéncia, dificilmente pode aconte. cer que um ato realmente pernicioso nao tenha pelo menos uma parte da forga — sendo toda — deste motivo contra si: conseqdentemente, tampouco acontecerd facilmente que este motivo nao possa atuar com algum grau de forga na quali- dade de motivo preservador. Em razao disso. este motivo pode ser também cle solocado na categoria dos motives permanentes presetvadores. XXXIIL — A mesma obszrvagio pode ser aplicada ao desejo da amizade, embora ndo cm medida totalmente igual. Com efeito, em que pese a pernicio- sidade de um ato, pode acontecer, sem muita dificuldade, que todas as pessoas em Felagao a cuija amizade uma pessoa tem no momento um desejo particular, acom- panhado de esperanga, sejam concordes em eonsiderar 9 ato em questio mais digno de aprovagie do que de desaprovagio. Este caso acontece com muita freqiléncia em se tratando de bandos de ladrdes, contrabandistas ¢ outras catego rias similares, Todavia, isso nfo representa um caso constante, muito menos 0 mais comum; assim sendo, © desejo da amizade pode ainda ser considerado, em seu conjunto, como um motivo preservador, nao fosse por outra razdo, pelo fato de estar intimamente relacionado com o amor A reputagao, Alids, pode ele ser cata: logado entre os motivos preservadores permanentes, pois. nos casos em que se aplica, a forga com a qual atua nao depende das ciecunstincins oeasionais do ato 40 qual se ope, mas de principios tao gerais como aqueles dos quais depende a aluacdo dos outros motivos semi-sociais. ocasiées em que pode atuar a0 XXXIV, — O motivo da religido nfo esté no mesmo caso que o dos trés anteriores. Ao contrario do que acontece com aqueles, a sua forga nao ¢ susce- tivel de ser dividida contra si mesma, Entendo nas nagdes civilizadas dos tempos modernos, entre as quais a nog’o da unidade de Deus é universalmente aceita. Na antiguidade clissica as coisas se apresentavam de outra forma, Se uma pessoa conquistasse 0 favor de Vénus, Palas era contra ela; se Bolo estivesse a seu favor, Netuno era contra ela. Enéias, nio obstante toda a sua piedade, tinha um inte- Tesse muito reduzido na corte celeste. A questo se coloca de outra forma nos dias de hoje, Em se tratando de qualquer pessoa, « forga da religido, qualquer que esta seja. esti toda ela de um 4 BENTHAM lado, Pode esta forga hesitar para que lado se declararé, podendo tomar partido — como ja vimos em tantos casos — tanto pelo errado como pelo correto, Até 98 tltimas tempos — talvez ainda hoje — a forga da religiio se tem pronunciade habitualmente em favor do lado errado, c isto com tanta freqtiéncia, que sob este aspecto parcceria imprdpria colocdi-la. no que concerne a tendéncia social, uo nivel do motivo da benevoléncia, Todavia, nas ocasides em que © motive da reli- 2180 age em oposi¢do aas mo:ivos sedutores comuns — como acontece na grande maioria dos casos —, atua, como 0 motivo da benevoléncia: de um mode unifor me. nao em dependéneia das circunstincias particulares que podem acompanhar 8 exteugiio do ato. mas tendendo a opor-se-the apenas em razio da sua pernicio- sidade, e portanto, com forga igual, em quaisauer circunstinaias em que se verifi que o ato. Em conseqiiéncia. também a religiao pode ser elencada entre os moti. vos preservadores permaricntes, XXXV, — Quanto aos motivos que podem atuar ocasionalmente na quali- dadé de motivos preservadores, estes, como ja foi indicado, sio de espécies distin- las, variando também o grau da sua forga conforme as ofensas ou erimes, depen- dendo eles nao somente da natureza da oftnsa ou crime. mag também das circunstiincias acidentais nas quais pode a mente coneeber a idéia de praticar o ato em questdo. Nao existe motivo algum, alias, que nao possa atuar nesta quali, dade, como se pode facilmente compreender. Por exemplo, um ladrao pode ser demovido de aderir'a um plano combinado de assaltar uma casa soja por perma- neve? por tempo excessive agarrado a sun garrafa, scja devido a uma visita da sua amante, seja por ler ocusido de ir alhures. a fim de receber a parte que Ihe cabe de um saque anterior, e assim por diante, XXXVI. — Todavia. existem alguns motivos que, mais do que outros, Parecem mais aptos a atuar como motivos Preservadores. sobretudo na situagao hodierma, cm que lei em toda Parte s¢ opds d forca dos motivos sedutores princi- Pais, motivos preservadorcs artificiais da sua prdpria criagto, Cumpre dar uma visdo geral dessa espécie de motives: Ao que parece, podem eles ser reduzidos « dois itens, isto ds (1) © amor ao sossego: um mative que entra em agao pela previsdio do ined. modo da tentativa, isto do incdmodo que pode ser necessirio aturar para supe. raras dificuldades de ordem fisica que podem acompanha-lo. (2) A autopreservagio, enquanto se opde uos perigos aos quais uma pessoa pode estar exposta na prossecucio da tentativa. XXXVI. — Esses perigos podem ser: (1) ow de natureza puramente fisica: (2) 9u perigos resultantes da agao moral; em outras palavras, da conduta de Pessoas para as quais se pode esperar que o ato, se for conhecido, se demonstrara odioso. Todavia, a influéncia moral Supde Conhecimento com respeito as cireuns- lancias destinadas a terem 9 cfeito de motivos externas que Ihe dao origem. Ora, @ Obtengao de tal conhecimento, em relugao & comissdo de qualquer ato detesta- vel, da parte de quaisquer pessoas que possam estar dispostas a fazer o agente so- fret por ele, se denomina detecedo, dizendo-se do agente em relacdo ao qual tal PRINCIPIOS DA MORAL E DA LEGISLACAO 55 conheeimento ¢ obtido que ele édetectado. Por isso. os perigos que podem amea- gar um ofensor ou criminoso deste ponto de visia dependem, quaisquer que pos- sam ser, do evento da sua deteccdo, podendo, por conseguinte, ser todos compreendidos sob o termo perigo de deteecdo, XXXVIH. — Os perigos que dependem da deteceo podem, per sua vez, subdividir-se em dois tipos: (1) aquele que pode resultar de qualquer oposigao que possa ser feita ao ato imediatamente, ou seja, ne proprio momento em que o-ato tem lugar: (2) aquele que diz respeito 4 punigao legal. ow a outro sofrimento, que pode sobrevir a distancia ao final do ato. XXXIX. — Pode ser Gul relembrar. nesta ocasido, que, entre os motives preservadores que vimos deneminando permanentes. existem dois cuja forga depende da circunstincia da detecgao, embora nao na mesma intensidade que a forca dos motivas ocasionais que acabamos de meneionar, porém ainda em uma grande medida, Esses dois so 9 amor a reputacdo eo desejo da amizade. Por conseguinte, na medida em que a possibilidade de serem detectados for maior, esses motivos se aplicarao com maior forga, e com forga menor, quando a possi- bilidade de serem detectados for menor. Isto nao acontece com os dois outros motivos preservadores permanentes, o da benevoléncia ¢ o da religiao. XL. — Estamos agora em condigdes de determinar, com algum grau de pre- cistio, o que se deve entender por forca de uma tentacao, ¢ que critério esta pode fornecer para avaliar o grau de perniciosidade existente na disposigo de uma pessoa no caso de alguma ofensa ov crime. Quando uma pessoa ¢ levada a cometer um ato pernicioso — digamos, por amor a brevidade, uma ofensa ou crime —, a forga da tentagéo depende da rela- cio existente entre a forca dos motivos sedutores de uma parte, e, por outra parte, ados motivos preservadores ocasionais provocados pelas circunstancias do caso, Em conseqiiéncia, pode-se dizer que a tentagio ¢ forte, quando 0 prazer ou a van tagem a serem obtidos do crime sao tais, que aos olhos do ofensor ou criminoso S¢ Apresentam grandes cm comparagiio com o incémode ¢ o perige que, a scu juizo. acompanham 0 ato; dir-se-4 que a tentagio é leve ou fraca, quando aquele prazer ou aquela vantagem sdo tais, que aparecem pequenos em comparagao com tal incdmodo ou tal perigo. E manifesto que a forga da tentagdo nao depende da forga dos motivos impulsionantes (ou seja, sedutorss) cm séu conjunto; com efeito, no momento em que a oportunidade for mais favordivel, isto €, no momento em que o incémodo, ou qualquer aspecto do perigo, for menor do que antes, ver-se-d que a tentagio se tornara mais forte; em contrapartida, no momento em que a oportunidade for menos favoravel ou, em outros termos, no Momento em que'd incSmodo ou qual- quer aspecto do perigo se torna-em maiores do que antes,-a tentagdo se tornara tanto mais fraca. Depois de havermos considerado 03 motives preservadores que temos deno- minado ocasionais, os tinicos motivos preservadores que podem permanecer sio 08 que denominamos permanentes, Ora, os que vimos qualificando como motivos Preservaclores permanentes coincidem com os que temos denominado: sociais, Donde se conclui que'a forga da tentagao, em qualquer caso, apés deduzirmos a forga dos motivos sociais, representa a soma das forgas dos motivos sedutores com a soma das forgas dos motivos preservadores ocasionais, XI. — Resta perguntar que critério a forga da tentagdio fornece no tocante a Perniciosicade ou maldade da disposi¢ao de uma pessoa, no:caso de se haver Cometide qualquer ofensa ou crime. Vé-se entdo que, quanto mais fraca for a ten- tagao a qual uma pessoa sucumbiu, tanto mais depravada e perhiciosa foi a sus disposigdo. Com efeito, a qualidade boa da sua disposicio se made pelo grau da Sua sensibilidade em relac&o 4 influéneia dos motivos sociais: em outros termos, Pela forga da influéncia que esses motivos exercem sobre a pessoa; ora, quant menor for a forga que empregou para superar a influéncia desses motivos, tanto mais convineente & a prova fornecida para a franqueza dessa influéncia, Por outra parte, uma ver conhecido 0 grau de sensibilidade de uma pessoa em relagdo a forga dos motives sociais, & manifesto que a forea com a qual esses motivos tendem a desvid-la de cometer uma aco perniciosa estar em Proporgio com a perniciosidade aparentc de tal ato, isto é, estara em fungio do grav de perniciasidade que o réferido ato apresenta, aos. alhos da referida pessoa. Em oy- tras palavras, quanto menos pernicioso o crime se apresentar 4 pessoa, tanto menor sera a aversio que a pessoa demonstrura a cometé-lo, na medida em que estiver sendo influenciada por motivas sociais: ao contrario, quanto mais perni- Sioso s¢ Ihe apresentar © ato, tanto maior sera a sua aversiio € menor sera a sua Propensdo a cometer. Se. por conseguinte, a natureza de um crime for tal, que a Pessoa s¢ apresenta como altamente petnicioso, ¢ nao obstante isto © comete, isto evidencia que o grau da sua sensibilidade em relagao 4 forga dos motives sociais & baixo ¢. em conseqiiéneia, » sua disposighd € ma ou depravada na mesma Proporgio. Além disso, quante mais fraca houver sido a forga da tentacdo, tanto mais perniciosa e depravada fei a sua disposigiio. Com efeito, quanto mais fraca tiver sido forga da tentagao. tanto menor foi a forga que a influéncia dos citados motivos teve que vencer. conseqtientemente mais convincente é a prova de que essa influéncia foi reduzida, XLIL — A partir do que acabamos de ¢xpor, parece-nos que, para se ava- liar eriticamente © eritério fornecido, no tocante & maldade da disposigdio de uma Dessoa, pela forga da tentagio, comparada & perniciosidade do ato, podem se estabelecer as seguintes normas: Primeira norma: Uona vez conhecide a Jorga da tentagdo, a maldade da disposicdo manifestada peta ato esté em fungdo da aparente perniciosidade do aio. Assim sendo, uma pessoa demonstraria disposigdo mais depravada no matar alguém por um guinéu (21 xclins), ou ao imputar-Ihe um roubo para receber a mesma recompensa, do que se cbtivesse da Pessoa a mesma soma através de um Simples roubo; isto, na supasigao de que 0 incémodo e 6 risep a serem assumidos estejam em pé de igualdade nos dois cas Segunda norma: Conhecendo-se a aparente pernieiosidade de um ato, a disposicdo de uma pessoa é tanto mais depravada, quanto mais fraca for a tenta- ao d qual sucumbit. Em conseqiiéncia, demonstra uma disposigo mais depravada € mais peri- g0Sa uma pessoa que mata outra por mero esporte — come se conta do impera- dor do Marrocos, Muley Mahomet, que extirpou desta forma grande numero de pessoas: — do qué uma que mata por vinganca — como fizeram Sylla ¢ Mario cm milhares de casos —, ou em defesa prépria — como fez Augusto em muitos casos —, ou mesmo por gandncia—, como se diz ter feito o mesmo Augusto em alguns casos. Verificando-se esta hipétese, os efeitos de tal disposic¢ao depravada, com res- Peito & parte do piiblico afetada, estio na mesma proporgao. Assim, no que con- cerne a Augusto, apenas algumas pessoas precicavam temé-lo, em certas circuns lancias especiais, ao passo que quanto a Muley Mahomet, todos precisavam temé-Io, a qualquer momento. Tereeira norma; Uma vez conhecida a perniciosidade do ato, a evidéncia gue a mesma proporciona em prova da pravidade da dispasigéo de uma pessoa é fanto menos convineente, quanto mais forte for a tentacdo @ qual a pessoa sucumbit, Assim sendo, se um pobre a pique dé morrer de fome rouba uma fatia de Po, isto constitu’ prova menos evidente de pravidade do que se um rico come- tesse um roubo pelo mesmo prego. Observar-se-4 que esta norma afirma tao-somente que neste caso a evidéneia da pravidade & menos convincente; no se diz positivamente que a pravidade como tal seja menor, Com efeito, é possivel, neste caso, que 0 roubo tivesse sido cometido, mesmo que a tentagio nao tivesse sido tao forte. Neste C50, a Circuns- Lancia atenuante é apenas uma questio de suposigdo presuntiva, ao paso que no primeiro caso a circunstncia agravante€ uma questao de certera. ‘Quarta norma: Quando o motive for do upo dissocial, uma vez conhecidas 4 aparente perniciosidade do ato e a forga da tentagdo, a pravidade da disposiedo € proporcional ao grau de deliberagaio que 0 acompanha. Com efeito. para cada pessoa, por mais depravada que seja a sua disposigaio, sio 0s motivos sociais que, sempre que 0s motivos pessoais forem neutros, regu fam e determinam o teor da sua vida, Se‘os motives dissociais entram em acao, isto acontece apenas em circunstincias especiais ¢ em ocasides particulares, sendo neste caso subjugada a forga suave mas constante dos motivos sociais. A tendéncia geral ¢ constante da natureza de cada ser humano esté, pois, orientada para aqucle lado, para 0 qual 0 conduz a forea dos motivos socials, Assim sendo, a forga dos motivos sociais tende continuamente a inar a dos -motivos dissociais, da mesma forma que, nos corpos naturais, a forca de friegaio ou airito tende a climinar a forga gerada por impulso, Em conseqiiéncia, 0 tempo empregado para eliminar a forga dos motivos dissociais ¢ acrescentado A forga dos motives sociais. Por conseguinte, quanto maior for © periodo de tempo durante o qual uma pessoa continua sob 0 dominio dos motives dissociais, em 58 BENTHAM. uma determinada ocasido, tanto: mais convincente serd a prova da sua insensibi- lidade em relagao a fora dos motivos sociais, Em conseqiiéncia, revela uma disposigao mais depravada uma pessoa que elabora um plano deliberado para matar o seu adversario, ¢ 0 faz de acordo com 9 plano. do que se o matasse diretamente em conseqiiéneia de uma rixa repentinas a disposigao seria ainda mais depravada sc, apds té-lo por muito tempo em seu poder, @ mata a intervalos, quando tiver tempo. XLIU. — A pravidade da disposig&o, indicada por um ato, constitui unia Consideragao importante, sob varios pontos de vista, Qualquer sinal de pravidade extraordinéria, pelo fato de aumentar © terror inspirado pelo crime, bem como por colocar em destaque © criminoso como sendo uma pessoa da qual se podem Ssperar outros crimes, aerescenta novos motives que aumentam a exigéneia de Puniga0. A disposigio do criminoso é tanto mais importante pelo fato de que, ao Se medir O quantum da punigao: 0 Principio da simpatia ¢ da antipatia tende a guiai-se exclusivaments por estes dois elementos inteiramente cubjetivos de quem julga ¢ pune, Um juiz que pune uma pessoa porque a odeia, ¢ s6 por este motivo, tal juiz em muitos casos nao punira, se no encontrar nada de odioso na disposi $80 do réu; e, se punir, nfo,o “ard além do que Ihe é ditado pela sua simpatia ou antipatia pessoal. Daqui a aversio que ehcontramos com freqiiéncia contra a ma. xima de que a punigao deve crescer em proporgao a forga da tentagao; maxima Cujo eposta — como veremos — seria tho crucl para com os préprios crimino- Sos. quanto seria destruidora dos objetivos da punicio.(. ye 1 0 eaipitule doze — aqui omitido — aralisa e sssificg ay Compeqtincias de um ato pemiciose. (N, chy inglés.) Capiruto XII Casos em que nio cabe punit I — Visdo geral dos casos em que ndo cabe punir L. — O objetivo geral que caracteriza todas as leis — ou que deveria carac- teriz4-las — consiste em aumentar a felicidade global da coletividade; portanto, visam elas em primeiro higar a éxeluir, na medida do possivel, tudo o que tende a diminuir tal felicidade, ou seja, tudo 0 que € pernicioso. II, — Acontece. porém, que toda puni¢ao constitui um ato pernicioso; toda punic¢io constitui, em si mesma, um mal. Por conseguinte, com base no principio da ulilidade — se tal prinefpio tiver que ser admitido —, uma punigao s6 pode ser admitida na medida em que abre chances no sentido de evitar um mal maior. II. — F evidente, portante, que nao sc deve infligir punig&o nos casos a se- guir enumerados: (1) Quando ndo Aouver motivo para a punigdo, ou seja. quando nao houver nenhum prejuizo a evitar, pelo fato de o ato em seu eonjunto nao ser pernicioso. (2) Quando a punigaio s6 pode ser Mefiéaz, ou s¢ja, quando a mesma nao pode agir de maneira a evitar o prejuizo. (3) Quando a punigao for initil ou exeessivamente dispendiosa; isto aconte ceria em caso de o prejuizo produzido por ela ser maior do que o prejuizo que se quer evilar, (4) Quando a punicio for supérftia, o que acontece quando © prejuizo pode ger evitado — ow pode cessar por si mesmo — sem a punigao, ou seja, por um prego menor.(. «.) Capiruto XIV A preporcionalidade entre as Punigdes ¢ os crimes I, — Como temos visto, 0 escopo geral de todas as leis é evitar o prejuizo, isto € quando vater a pena. Vimos também que. mesmo onde nio exiete outro meio para fazer isto, a nao ser através da punicdo, existem quatro casos em que nao vale a pena faz lo. I. — Quando valer a pena, existem quatro objetivos ow objetos ‘subordi- nados que o legislador, inspirado no Principio da utilidade, espontaneamente ter em vista, no decurso dos seus esforgos no sentido de atingir, na medida do possi- vel, 0 objetivo geral acima exposto. Ill. — 1. O seu primeiro cbjetivo —co mais amplo ¢ desejdvel — serA evi- tar, na medida do possivel ¢ na medica em que valet a pena, qualquer espécie de ofensa ou crime que seja;/em outras palavras, agir de tal forma. que nio haja Possibilidade de se cometer nenauma ofensa ou crime. IV. — 2. Se, porém, for inevitével que alguma pessoa cometa alguma es sie de crime, 0 proximo objetivo seri induzi-la a cometer um crime menor perni- sioso, de preferéncia a um crime mais Pernicioso: em outros termios, a escolher sempre 0 crime Menas prejudicial, dos dois ‘que servem finalidade almejada pelo criminoso. V. — 3. Uma vez que o criminoso se deeidiu por um crime particular, 0 pré- ximo objetivo € lograr que no produza maior prejuizo do que o que for neces- sdrio para atingir a sua finalidade; em outras palavras. indunto causar aquele minimo de prejuizo que € indispensavel para aleangar 6 beneficio que espera do seu crime, VI. — 4. O tiltimo objetivo, qualquer que seja o projuizo que 6 legislador se Proponha ovitar, ser evité-lo da maneira menos dispendiosa que seja possivel. Vil. — Em correspondéncia a esses quatro objetivos ou Propésitos, estabe lecer-se-fio as normas que devem reger @ proporgao entre ae punigdes™® © os crimes. VIL, — Primetra norma ‘0 primeiro objetive, como os, ¢ evilar, na medida em que valer a Pena, toda espéci¢ de ofensa ou crime; por conseguinte, O valor ou gravidade da 17, Deverst observa gue as mesmas normas adem ser aplicilas, com poucts Vaciagdca, tanta as recom dare SE0 poe ran anieaes em sum, aos mativayiem geralo quais, confarme se Feerirem at paver cud tar, slo por natureza reeompenta ow punizso,« ues onforme v ato pare eva product sio apficadei tor eaturses postive ou negative denominanimputsionanies ou demoventex. (8. do A.) mene tS BEMOLACAQ 41 Puniedo nao deve ser em mentum caso inferior ao que for suficiente para stiperar 9 valor do beneficio da ofensa cu crime. Se for i atuem eficazmente na qualidade de motivas preserva. mM eerteza, nado obstante a Puniggo; neste caso toda a Punigao é indtil. pois sera tata Imente ineficas, 1X. — A norma acima tem reechido muitas objegdes, visto parecer exeessi- womienté SeVEras todavia. isto ad pode acontece Por n&o ser devidamente deve este ta a forca da tentacdo, Quanto a isto ndo pode haver controversia. E verdade que, quanto mais forte for 4 tentagao, tanto menos convincante é critério que 0 ato de delingiiéncia fornéce acerca da pravidade da disposigio do sriminoso, Por conseguinte, na medida em ave auséneia de qualquer agravante — resultante da pravidade extraordindria da disposigiio — pode atuar, ou, no maximo, na medida em que a presenga de um motivo atenuante — resultante da inoeéneia ou da qualidade benéfica da disposi- ¢a0 do erittineso — pode atuar, a forea da tentagdo pod¢ operar como atenuante da cxigéncia de punigadd. Todavia, a forga da tentagio jamais pode atuar até ao Ponto de indicar a propriedade de tornar a punigao ineficaz, o que aconteee com certeza quando 0 valor ou a gravidade da Punigao for inferior 20 nivel do apa- A benevoléncia parcial que prevalecesse no sentido de reduzir 9 punigio abaixo deste nivel haveria de neut-alizar tao bem aqueles abjetivos que ste moti. vo tivesse em vista, quanto aqueles objetivos mais extensos que a benevoléncia deve ter em vista: seria erueldade, no 66 em telagao ao pablieo, mas também em relagdo is préprias pessoas em favor de quem se quer assim proceder; quero dizer, nos seus cfeitos, embota opostos nu sus intengdo. Crueldade para com o Pibblico. ou seja, crueldade em Felagdo aos inocentes, tolerando. que fiquem expos- fos 20 prejuizo do crime, por falta de Provegao; crueldade até para com o proprio stiminoso, puninda-o sem finalidade, ¢ sem a Possibilidade de atingir aquele obje- tivo benéfico, 6 tnico que possa justifiear o mal da Puni¢ao, X. — Segunda norma Todavia, o'saber se um determinado érime deve ser evitado-em um determi nade grau por uma determinada quantidade de puni¢ao sera sempre uma Questio de chance, e, para logear esta, qualouer Que sea a punigao que s¢ empregue, sem. Pre se trata de um “prego” Pago antecipadamente. Entretan to. para dar ao castigo a melhor chance de superar o beneficio esperado do crime, vale a seguinte norma: Quanto mator for a prejuizo derivante do Crime, tanto maior seré 0 preco que Pode valer a pena Pagar no caminho da punigao. XI. — Tereeira norma © proximo objetivo a ser atingido pelo legislador é induzir a pessoa u esco: her sempre; dentre dois crimes. 9 menos prejudicial; por isso, @ BENTHAM Quando houver dois crimes em concorréncia, a punigdo estabelecida para o crime maior deve ser suficiente para induzir uma pessoa a preferir 0 menor. XII. — Quarta norma Uma vez que uma pessoa se decidiu a cometer um crime, o proximo objetivo a ser alcangado é induzi-la a nao causar mais prejuizo do que for indispensavel para a obtengao da meta a que Visa; por isso, A punicdo deve ser reguiada de ta! forma para cada crime particular, que para cada nova parte ou elapa do prejuizo passa haver um motivo que dissuada 0 cri- ininoso de produzi-la. XTIL. — Quinta norma © iiltime objetivo é qualquer que seja 0 crime que se tencionc coibir, coi lo.da maneira menos dispendiosa possivel; por isso. A punigéo nao deve em caso algum ser maior do que for necessarlo para que esta sofa conforme ds normas aqui indicadas. XIV, — Sexta norma Além disso importa observar que, devide aos modos ¢ graus diversos em que AS pessoas. colocadas em circunstincias diferentes, sfo afetadas pela mesma catisa excitante, uma punigdo igual quanto ao nome nem sempre produzira real: mente o mesmo grau de dor em duas pessoas diferentes: por isso. Para que a quantidade de puniedo realmente infligida a cada criminoso possa corresponder @ quamtidade tencionada para criminosos semethantes em geral, é necessério sempre levar em consideragdo as varias cireunsténeias que influen- clam a sensibilidade de cada um. XV, — Como é facil de observar, das normas de proporcionalidade acima enunciadas, as quatro primeiras servem para demarcar os limites do lado da diminuigéo do castigo, ou seja. os limites abaixo dos quais nao-se deve diminuir uma punigdo. Ao contrario, a quinta visu a demarear os limites do lado do aumento, ou sejayos limites acima dos quais 0 castiga nio deve ser aumentado, Além disso, as cineo primeiras servem para guiar o legislador, ao passo que 4 Sextal, embora se destine também, até certo ponto, a ele, se destina sobretudo ao juiz. a fim de orienté-lo no seu esforgo de agir. para‘os dois Iados. em conformi dace com as intengdes do legislador,(, ..)"# "CO eapitulo quinge qui Oniivido — exatian ax propriedade que H punighie deve ter Ge quer wer Bxito na sua fungao: o capitulo dezesseis — também omitido — apresenta uma elassitieapiin das ofengas ow eri mes.(N- do F, ingles.) CapiruLo XVIT Os limites do setor penal da jurisprudéncia § 1 — Os limites entre a é&icd. privada ea arte da legistagao (..) Il. — Em sentido amplo, a ética Pode definir-se como a.arte de dirigit as agdes do homem para a producdo da maior quantidade possivel de felicidade em beneficio daqueles cujos interesses esto em jogo. IIL — Quais so, porém, as agdes que o homem sariamente ou as suas Proprias agdes ov as de Outros agentes, A ética. enquanto arte de dirigir as proprias agoes do homem, pode ser denominada a arte do auto- faverno, ou seja, ética privada, IV, — Que outros agentes existe que, a0 niesmo. tempo que esto sob a influéncia do mando humano, sio suscetiveis de Felicidade? Podem esses. agentes ser de duas espécics; (1) outros seres humanos, denominados pessoas: (2) outros animais que. pela fato de os seus interesses haverem etados pelos juristas antigos, foram degradados ao rol das cotsas.2% lo negligen 26 Nat telistes Geniouve dos Maometinis place Que os in essen. resto eriage) animal engane £09 anit mente: Bor que fase: tanta diterenca, ah 9 pomua ge visi dasonaisicdon ros homens fasta ae (nile 88 kes que exter so obra do med mio, um saninerne UE-OF aNiRNAis menos facionais aio tiyeram 28 menion meiok yu a homens pasa Trace feverter om vintagem propria, Por que fie grveridn ter oo mesmos dirhos? Se a dferenga se eau vo her Ge aninaiy seremt comidos. hi Daa Fee anne Palas quais-se node tolra que egrnaniam aqueles que proche so%mos 8 melhores pore cane Ste tunes Bho ox plores. A mone som que ou vitmamin reaiee e Sempre pode ser tavel cUIso dana hitt & fe sonsepuinte, menos peness Jo que agueli que os esperaria segundo o inevi lel Gutso da naturera. So diferenga se tetuzisse ao fato de Seer mertos, hi muito boas razGes para falerarmos que matemos ow animals que nos incomedaen, Enicetanta, hive algum motivo para se tolerar qué os lathnitomos? ms VION {.) houve ues See Fg mento diesr que em muitas lagtres cle ainda nbo pascou Re qual a maior pried mbsaa cups Foca emt naeio de sscravos. foram irathdos pela Il txalamenie oe ae PS «us: pwr caemplo na airs. 28 eas animals infcores ainda vio trauadas Moje, Pove ae oi que 0 resto da eriggiy ani Jun) idk aquctes cirsivoy gue nunca thes ceveriam ter sige tad ce ‘vio fase par trania, Os tranceses AC AScObrITAM ais a cor preta da pele Rio coHstital motive alguns pels qual ora sez humano prasen ser emre fu oe eeauuPeTaeat, a0 capricho do verdugo, (Ver v Cidiga Nekno de Lan XIV.) Pode che gar 6 dia em spouted © Mimero de pernas, pole plan, ou a oxtemialade aoc, Saervmi constituery taaies Seinhuente insulates para abandonar um sersensivel 3 mesina cone ‘Que outro fatir podria dermarcar 8 linha divistria que distingue os homens dos outros eninee Seria fakuldade de raciocinar, ou lalver a falar? Veatavia.um cavalo ou um eb adulio &incomparaveln cs ee aelOnal © mis social e aduead Gus urn bob de i dia, aw de uma sematio, ox mesmo de un atte leetatto, suponhamos que o casa fee. Tak penn eta Hipdtec, que se demonsurarin com Iss? O protien wy consists em. saber se ds ani Tn UAEM reclocivar: xampoueo inciessa\e falam gu n30: 0 wert Prahlema & este: pander eles softer FIN. do A.) ot BENTHAM No que conceme:aos demais seres humans. a arte de dirigir-as suas agdes para o objetivo acima mencionado constitui precisamente 6 que denominamos a arte de governar (ou, pelo menos, esta € a Unica coisa que devemos significar com esta expressao. com base no principio da utilidade). Na medida em que as priti- cas em que se manifesta a arte de governar sao de natureza permanente, esta arte se denomina geralmente legislagio; chama-se administragdo, quando as referidas providéncias ou praticas sao de natureza tempordria, determinadas que sido pelas ovorréncias de cada dia. Y. — Ora, as criaturas humanas, no que tange & maturidade das suas facul- dades, esto ou no estado adu/to. ow num estado nao adulto: A arte de governo, na medida em que diz respeito a0 governo das agdes de pessous em estado nao adul- to, pode ser denominada arte da educagdo. Na medida em que este officio ¢ con- fiado Aqueles que, em viriude de alguma relacao privada, possuem a melhor disposicao e as melhores habilidades para assumir ¢ desempenhar tal misao, pode ser denominada a arte da educacdo privada ou particular: na media em que esta arte ¢ exercida por aqueles cujo ofieio é supervisionar 0 comportamento da coletividade inteira, pode chamar-se a arte da educagao priblica. VI. — Quanto a éticu gerel, a felicidade de um homem dependera, em pri- meiro lugar. daqueles setores do seu comportamento acerca dos quais ninguém, exeeto ele mesmo, tem interesse; em segundo lugar. dependerd daqueles setores do seu comportamento que possam afetar a felividade de outros que o rodeiam, Na medida em que a sua felicidade depende do primeiro setor mencionado, diz-se que a sua felicidade depende da sua obrigacdo em relaedo a si mesmo. Conseqiientemente. 4 ética, na medida em que consiste na arte de governar as ages de uma pessoa sob este aspecto, pode ser denominada a arte de cumprir os deveres em relagio a si mesmo, sendo que a qualidade que uma pessoa manifesta no cumprimento deste tipo de deveres — se tais se puderem chamar — se deno. mina prudéacia: Na medida em que a felicidade da pessoa bem como a felicidade de quaisquer outras pessoas cujo intercsse est cm jogo — depende daqueles setores do seu comportamento. que possam afetar os interesses dos que a éircundam, pode-se dizer que cla depende da sua obrigagdo em relagdo a outros, ou seja, para usar uma expressdo hoje um tanto antiquada, da sua obrigagdo em relacdo ao proximo. Por conseguinte, a ética, na medida em que for a arte de povernar as ages de uma pessoa sob este aspecto, pode ser denominada a arte de cumprir as obrigagdes relacionadas com o prdximo. Ora, a felicidade do préximo de alguém pode ser salvaguardada ou aumen- tada de duas maneiras: (1) de uma forma negativa, abstendo-se de diminul-la; (2) de uma forma positiva, srocurando aumenté- Em correspondéncia a esta distingao, as obrigagdes de uma pessoa em rela- go ao seu proximo sao em parte negativas, em parte positivas. Para o cumpri- mento do primeiro dever existe a prabidede, para o cumprimento do segundo existe a benquerenca (beneficence). eT SE PERL AC AQ 65 VIL. — Pode-se aqui perguntar como é que, com base no principio da éticg Privada — deixando a parte a legislagio « a religido —. a felicidade de uma pes Soa depende daqueles setores da sua conduta que. 20 menos diretamente. afetam cxclusivamente a sua propria felicidade. Isto equivilea perguntar que motivos — independentemente daqueles que possam oferecer a legislagao ¢ a religido — Pode uma pessoa ter para salvaguardar ou promover a felicidacle de uma outra, Em virtude de que motives — ou, para usar linguagem equivalente, em vir- tude de que deveres — pode uma pessoa ser Obrigada a obedecer aus ditames da probidade ¢ da benquerenca? Em resposta a tal interropativo, é imperioso admitir Que 05 tinicos interesses Para cuja salvaguarda uma pessoa possa entcontrat, com certeza @ sempre, moti- vos! adegiiadds s80 os. seus préprios interesses. Nao obstante isto, nao existe motivo da simpatia agira sobre ele.com maior ou menor e! tendéncia da sus sensibilidade; os dois outros motives, de acordo com uma Varie- dade de cireunstancias, sobretudo conforme a forca das suas faculdades intelec- tuais, a firmeza ¢ constancia da sua inteli éncis, o guanum da sua sensibilidade Moral. € 08 tipos das pessoas com as quiais teaha que tratar. VII. — Ora, 9 ética privada tem por ‘objective a Felicidade, sendo este tam- bém 0 da legislaedo, A ética privada diy Fespeito a cada membro, isto & A felici- dade ¢ As agées de-cada membro, de qualquer comunidade que seja: a legislagiio, Por sua vez, tem 4 mesma meta, Até aqui, portanto, a ética privada e a arte da legislagdo andam de mos dadas, Além disso, o fim que ambas tém em vista — ou deveriam ter — & da mesma nalurézit. AS pessoas cuja felicidade devem ter em vista, bem como as Pessoas cuja conduta devem dirigir, sdo exatamente as mesmas. Os préprios atos dos quais devem ocupar-se sia, em medidas Significativa, 6s mesmos, Em que reside, entiio, « sua diferenga? No fato de que 08 atos com os quais devem ocupar-se, embora sejam Convergentes em grande parte, niio sao porfeita 6 inleframente os mesmos, Nao existe caso algum em que uma pessoa privada ndo deva dirigir a irmaos: todavia, existem casos cm que 0 legislador — pelo menos de mancira direta, € por meia de eastigo aplicado imediatamente a atos particulares indivi. duais — nao deve tentar dirigir aconduta dos varios outros membros da coletivi- dade. Todo ato que promete s ¥ denéfico, em seu ‘conjunto, para a coletividade (incluindo a propria pessoa), todo individuo deve praticé-lo por si mesmo; toda- via, 0 legislador niio tem 0 direito de impor & pessoa individual a pratica de cada um desses atos. Analogamente, todo ato que prométe ser prejudicial, em seu con- Junto, a eoletividade (incluindo « prépria pessoa), todo individuo deve abster-se dele por si mesmo: entretanto, daqui nio seaue que © legislader tenha o dircito de proibir a pessoa individual a Pratica de cada um desses atos. (....) 66 BENTHAM XV, — A fim de lograr uma idéia precisa acerca dos limites que distinguem a arte da legislagao.c a étiea privada, é tempo de recordar as distingées acima fei- tas em relagao a ética em geral. O grau em que a étiea privada necessita do concurso da legislagao varia nos trés setores de obrigagdes acima especificados. Das normas concernentes 4 obri- ga¢do moral, as que parecem necessitar menos do concurso da legislagao sio as normas da prudéncia. Se uma pessoa for deficiente no que tange as obrigagdes para consigo mesma, isto so pode atribuir-se a alguma deficiéncia por parte da inteligéncia. Sea pessoa age de maneira errénca, s6 pode ser ou por inadverténcia ou por alguma fulsa suposi¢do com respeito as circunstancias das quais depende a sua felicidade. Ouve-se constantemente que 0 homem conhece muito pauce por si mesmo. Suponhamos que assim seja. Entretanto, sera tdo certo que 0 legislador necessariamente sabe mais??! & evidente-que, acerca dos individuos, o legislador nao pode saber nada; portanto, ¢ 6bvio que ele nada pode determinar a mais acer- ca daqucles pontos de conduta que dependem das cireunstincias particulares de ividuo, O legislador s6 pode ter alguma pretensio de interferir em rela 40. Aquelas linhas largas de conduta que todos os homens — ow pelo menos cir- culos vastos ¢ permanentes de pessoas — estio dispostos a adotar; e, mesmo aqui, na maioria dos casos pode-se discutir muito sobre a Consentancidade de tal interferéncia, De qualquer forma, jamais 0 legislador pode esperar conseguir um cumprimento completo, pela mera forga da sangido da qual ele mesmo é 0 autor. © maximo que pode fazer é aumentar a eficdcia da ética privada, reforgando e orientando a influéncia da sangao moral. Por exemplo, com que chance de suces: so havera de proceder um legistador para extirpar a embriaguez ¢ a fornicacao a forga de punigdes legais? Nem mesmo todas as torturas que a sua engenhosidade pudesse inventar lograriam esta meta; c, antes que tivesse conseguido algum pro- gresso digno de nota, a punigioaplicada haveria de produzir uma tal quantidade de males, que haveria de superar mil vezes o prejuizo causado pelo crime, A gran- de dificuldade residiria em obter evidéncia: isto s6 se poderia aleangar, com algu- ma probabilidade de éxito, difundindo © terror em cada familia, rempendo os lagos da simpatia. destruindo a boa influéncia de tados os motives sociais. O ma ximo que 0 legislador pode Fazer, portanto, contra crimes desta natureza, com al guma esperanga de sucesso, ¢ expd-los a uma leve censura, em casos de notorie- dade, de maneira a cobri-los com uma leve sombra de descrédito artificial. XVI. — Convém observar que, com respeito a este setor das obrigagdes morais. os legisladores via de regra tém intervindo no Ambito maximo da conve- niéncia, © mais dificil neste setor é persuadi-los a respeitar os limites. Centenas de pequenas paixdes ¢ preconceitos. tem-nos conduzido a limitar a liberdade do 21 Fim aaniBes como ehh o lesialidir mvticn everia perder il? vin a Gonhéeida hisria di oeulisal eda brio, Um camponés que tinha ferido a vista por embriaguer Foi comsultar um renomade oeulista. Encon trou-o 4 mesa, som om copo de Vino d sua frente. “Devas deixar de heber”. disse « eeullsta, “Como assim?" replica o campones. “Wor no dei is de beber. € no entanto me parece que’o: vossos olhox no si0 sos melliores.” © oculista rematau: “Tens razdesamizo. porém dewey saber que aprecio mais a minha garra Fi dorgus os meus oflos® (N. alo AL) PRINCIPIOS DA MORALE DA LEGISLAGAQ oT individuo nesta linha, em casos em que ou nao se pode esperar proveito algum da Punigdo, ow a vantagem colhida nao compensa o dispéndio feito. XVI — Os danos causados por este lipo de interferén: particularmente manifestos na area teligiosa. O Faciocinio, neste setor. costuma ser aproximadamente e6te, Existem certos Srros, em questo de fé, aos quais todos os homens esto propensos; ora, para esta especie de erros um Ser de infinita benevoléncia determinou que fossem puni- dos com uma infinidade de tormentos. Todavia, o proprio legislador est neces Tamente imune-de-tais:erros; com efeiio, as pessoas que esto 4 aa disposigao Bara consullar sobre 0 assunte, por serem perfeitamente esclarecidas, libertas e destituidas de tendenciosidade. tam com relagaio a todor ov autres homens tas vantagens, que quando sé sentam para investizar a verdade relativa a assuntos tio simples e tio familiares como os que estdo em questao, nao podem deixar de eneontra-l. Sendo este o caso, quando © soberano vé 0 seu Povo prestes a cair diretamente num abismo de fogo. no deverd porventura estender a mio para salvé-lo? Este parece haver sido, por exemplo.-o raciovinio ¢ os motives que conduzi- tam Luis XIV aquelas medidas coereitivas.que chegou a tomar para converter og hereges © confirmar na fé os verdadeiros ¢rentes, O fundamento de tal procedi- mento, a pura simpatia, amabilidade e deli ‘adeza: superestrutura, todas as misérias que a mais empedernida malevoléncia poderia ter inveniade 22 Entre tanto. em lugar mais apropriado trataremos mais detalhadamente deste assunto. XVII. — As normas de probidade $40 a8 que, em matéria de conve- nigncia, mais carecem da presenga e da atuagao do legistador, ¢ efetivamente Nesta direa a sua intervengdo tem sido muito ampla, Existem poueos casos em que seria conveniente punir uma pessoa por ferir se @ si mesma, porém existem poucos casos — S¢ 68 cxistir — em que ndo seria Gonveniente punir uma pessoa por prejudicar ao préximo, Com respeito ao Setor da probidade, que se opse Ais ofensas contra 4 Propriedade, a ética privada depen de da legistagao, de certa maneira, mesmo na sua prdpria existéncia, Compete a legislacdo, em primeiro lugar, estabelecer o que deve ser considerado como propriedade de cada um, antes mesmo que as regras gerais da ética Possam ter uma aplicagdo particular, neste ambito. O mesmo. acontece em relagio aos eri- mes contra o Estado, Sem legislago nao haveria sequer o que se pode denominar um Estado; nao haveria Pessoas particulares investidas de poderes a serem exer- exagerada sao. ee dite songs sepuini: euros moivende motes mein OLN palm here infilirado Pena cate. ge iniltrarem de fat ro atdameh do st, Tolan, om termes de penioliande veece tutto: para ser ep eaee ckempabady com uma tal tram de tciocinio,& sufcenie, so aloes Dor mais notre uae sats Pat tod ox sels ans. qua salu, Se putas inerericm, asun imerontag Aecesria porn agile pou Ser eonsiserada como uma. citcunstingin acdemtal ¢ nto carearen ney dermonsing ee TatetHO do efi, A simpatis as origérs wo dpcto ul ox do peti see agje Feenaaeira ets fat de ordems esta orden pruduy detobedcncia: « desabudiénisa de de: parte proctur Fe an eto ma aurea dor do derapoatamento produe mA vantade ou malyeenoa on aheens ‘iqueles amor foega career 0 sentimento do explo ferido, © outras moulfeagsen do umer & rpanetoe ca ror A fore werceniar combuntve &chtma, Uma capéci Ge revaneke teasps on dase da politica ‘evereiva. (Ny lo A, 68 BENTHAM eidos em beneficio dos demais cidadios. Por conseguinte, & manifesto que, nesta area, a intervencao do legislador nao pode ser em absolute dispensada, E neces- sirio suber quais so os ditames da legislagao, antes d¢ podermos saber quais sio os ditames da ética privada.?* XIX. — No que concerne as normas de benquerenga, estas, no que diz Fespeito a questdes de detalhe, devem ser necessariamente deixadas, em grande extens4o. a jurisdi¢ao da ética privada. Em muitos easos a qualidade benéfiea do ato depende essencialmente da disposigao do agente, ou seja. dos motivos que parecem havé-4o conduzido a praticar a ago: do fato de pertencer ao aimbito da simpatia, do amor a amizade. do amor A reputagao, e no ao de quaisquer moti- vos pessoais, que poderiam ter entrado em jogo pela forca da congio politica: em uma palavra, a qualidade benéfica do ato depende do fato de provir de motivos que possibilitam denominar a conduta da pessoa como livre ¢ voluntéria, segundo um dos muitos sentimentos que s¢ da a essas expressdes ambiguas.? * Todavia, os limites da Ici, neste particular, parecem ser suscetiveis de serem umpliados bem além do que tem acontecide até agora. Eny particular, em casos em que a pessoa esti em perigo, por que nao se deveria sancionar como obriga gae de-qualquer pessoa salvar uma outra do mal ou do dano. quando isto pode ser feito scm prejudicar a primeira, bem como abster-se de prejudicar os outros? Esta idéia vem inspirando toda a presente obra.** XX. — Para coneluir esta parte. recapitulemos e precisemos a diferenga existente entre a ética privada considerada como uma arte ou ciéneia, ¢ aquele setor da jurisprudéncia que enerra a arte ou ciéncia da legislagdo. A étiea privada ensina como um homiem pode dispor-se para empreender 0 caminho mais eficaz que o condu a sua propria felicidade, e isto attaves dos meios que se ofetecem por $i mesmos. A arte da legislagio — a qual pode ser sonsiderada como um setor da ciéncia da jurisprudencia — ensina como uma coletividade de pessoas, que integram uma comunidade, pode dispor-se a empreender ® caminho que, no seu conjunto, conduz com maior eficdcia a felici dade da comunidade inteira, e isto através de motivos a serem aplicados pelo logistador.(...) #4 Suponhamod, porém, qué os ditvmes da Iepinlagdo nda sejum o que devertaan civ: quais. sav, new ul —~ 9 que equivale a0 mesma — quais deveriaa ker ox ditames da ética privada) Co mes da lepislagio, ou se Thes opSem, ou perrianecem nyvtros? £ uma qusstan muito interessante, porém niio coniccrne 10 atfunto que agsing nos ogupA, fois perience cxchisivamense {eed privada, Principe que Pradem levar @ solugii do problems encontram se em Lim Frajymenlo sobre a cir de Governar(A Frag ent ca Gevreriuaenh EN. dA) 2 Se pudermos dir crédito ao S, Volare, houve wn tempa em que as dma francekak quo ee imaginavam ‘ogligenctadas pelos seus marides egriuimavaen peslir “gente dire eenbesoigieécs termo téenico que, segundo ca, era adequado pura este propdsito, Kvts espétie de procedimentos lexan nto parce muito spa a respon LUst 40 nosso objctivos em conseqiféneta, Mala diss ouvimos hoje em dia. Ao que parece, as damas frangexas ido. nosso temno mito conhiecem tis dificuldades, (N. lo A.) *° O toweado de wma mulher pega foxo e existe pus mao: uev homem. ao invés de ajudy Wssiste eri. Um ébrio. eninda com o-rasto nimi pons Std ein prign de sufocarse: auen a cabegs pati un lade para salvéle; uma oulea pessoa vé o futo g deixa 0 dbrio caid im uma sala na quuntidade de pSlvoru espalhads, e Limi pevsiw esti para entrir Ho lca coin uma vela ages UM ‘outeo, vonsciente disto, a deixa sem preveni-la. Queay oussria pensar gud em tals easos uma puanigo-serta mal apligada? (N.da A.) a apagar o:fose, bbastavia feyamtar lee um

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