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° ° ° ° ATUALIDADES 22 SEMESTRE 2017 | XENOFOBIA MORTE NO CAMPO | E MAIS: CRISE SEM FIM A Operagao Lava Jato expde os problemas crénicos da politica brasileira e atinge as principais liderancas de um pais cada vez mais a deriva — a. ee APRESENTAGAO UM PLANO PARA OS SEUS ESTUDOS Este GUIA DO ESTUDANTE ATUALIDADES oferece uma ajuda e tanto para as provas, mas é claro que um tinico guia nao abrange toda a preparagio necesséria para o Enem e os demais vestibulares. E por isso que o GUIA DO ESTUDANTE tem um: ie de publicagdes que, juntas, fornecem um material completo para um timo plano de estudos. 0 roteiro a seguir é uma sugestio de como vocé pode tirar melhor proveito de 1nossos guias, seguindo uma trilha segura para o sucesso nas provas. Begoysues wa HED DECIDA 0 QUE VAI PRESTAR ‘Oprimeiro passo para todo vestibulanda é escolher com careza a carrera. ea universidade onde protende estudar. Conhacende 0 grau de dficuldade do proceso selatvo as matiras que tim pasomaior ra hora da prova fea bem mals fc planear os seus estudos para bterbons resultados. © como 0.ce pone asuoaR voct 0 traz todos os ‘cursos superiores existentes no Brasil, explica em detalhes as carac- teristcas demals de270 carelras eainda indkaas Institulgbes que ‘oferecem os cursos de melhor qualidade, de acordo com o ranking, e estrelas do GUIADOESTUDANTE@ coma avallacSo oficial do MEC. EJ REVISE AS MATERIAS-CHAVE Para comesor osestudos, nada melhor do que revsar os pontos mais importantes das principals matias do Ensino Médlo. Vocé pode e- passartodasas matérasou focar aponas om algumas delas Alm de reveroscontaidos, fundamental fazer muito exorcicio para pratcar. © COMO 0 GE PODE AJUDAR VOCE Nos produzimos todos os anos um guia para cada matira do Encino Maio: GE GEOGRAFIA ,Hstrl, Portuputs, Reda, Diologs, Quimica, MatemétieoFisc, Todos rtinem os tras que mals bem na rows raza mules quests ‘vosibulares para fazer e tim uma linguagem fl do entender, permitinds quo vcd exude rzinha Ey MANTENHA-SE ATUALIZADO (Opassofinalécontinuarestudando atualidades, pois as provasexgem alunos cada vez mais antenados com os principals fatosqueocortem ‘no Brasile no mundo. Além disso, é preciso conhecer em detalhes © s2u processo soletive ~ © Enem, por exemplo, é bem diferente dos demais vestibulares. © cowo0 «Poor AUDARVoCE 0 GEENEM 60 GE Fuvest over dadors‘manvais de instruio% que mantém voc atualizado sobre todos os seyedos dos des malorosvestiolaesto pais. Sa vocd sogulr participando de processos seletivos em 2018, também nao da para perder a préxima edicio do GE Atualidades, que sera lancada em marca trzendonovosfatos donot quo padom calrna prove. FOTO: DIDA SAMPAIO/ESTADAO CONTEUDO ony Rees eg Veja quando sao langadas ossa3 publicagSes wes PUBLICAGKO Janeiro Feverezo ——_see 2011 2 SUMARIO OU ue es POP oso ESTANTE © Dias culturals Sugestes de flimes e historias em quadrinhos ‘que abordam temas que podem cairnas provas, PONTO DEVISTA 116 Temer sob presse Vola como.as principals vistas semanals otilaram acrisepoltica ap6s as deacoes contra o presidente 18 Acondenasdo de Luta De que formas principals Jornal se A primeira- ‘ministra Theresa May convocou olaigb0s ‘negociar com mais fimeza a saida dos britinicos da Unio Europea (UE),0Broxt. Mas o plano néo salu como esperado,e absoluta no Parlamento. derrota fragh- dficuldades nas negociagées do Brext. A UE A saida do Reino Unido dda Unido Europela coincide com os 60 = anos do Tratado de Roma, o documento que deu a partida para a formacio do bloco. Desde ent8o, o zonhe de uma co- europous ‘rou realldade ea UE transformou-se no ‘mais bem-sucedido projto deintegracio politica e econémica do planeta. DADE Crescounaiitima ‘loco, abalado pela crise global de 2008. 0s eurocéticoscriticam os mecanismos ‘migratéria da comunidade por achar que pblicos e competem por vagas em um /ATUALIOADES|2+semeste2017 33 PE erence os OS PRIMEIROS PASSOS DE TRUMP Com um inicio de governo conturbado, o presidente norte-americano tenta avancar com sua polémica agenda em meio a investigagdes que podem lhe custar o mandato or Claudio Soares sprimeirosmeses demandato oO deDesald tren enan pre sidente dos Estados Unidos (BUA) confirmaram que a principal caracteristica da atual situagio politica norte-americana ¢ a incerteza. Eleito de forma surpreendents em 2016 a0 derrotar a democrata Hillary Clinton, ‘Trump faz um inicio de governo cer- see 2617 2 i ee Economia da Rissia sofre com a queda nos precos do petrdleo, seu principal produto, e as sangées do Ocidente atransislo parao capitalismo foi trau- ‘maitica para a populacao, gerando au- mento da inflagio, da pobreza e da desigualdade social. Imersaem um caos politico e econd- mico, a Rissia assistiu passivamente ‘is poténcias ocidentais ocuparemsua antiga esfera de influéncia. A expansio da Otan, aalianga militar ocidental, da Unido Europeia (UE) rumoao Leste Europeu fragilizou a posicao externa da Riissia. Dessa forma, paises como Esténia, Leténia, Lituania, Polénia, ia e Repiblica Teheea, que tra- de influénciade Moscou, alinharam- ‘como Ocidente. Ao mesmo tempo, a Riissia tentava se integrar ao sistema ‘econémico mundial, estreitando lagos comerciais como Ocidente e atraindo investimentos financeiros externos. Putin no poder Ex-espiiio da KGB (0 antigo se secreto da Unito Sovidtes), Putin fot alsado ao poder devido a atuagio de sanacional. Desde que foi eleito presidente da Ris- destaque na éreade (42 ccaTuaUAses|2+semene2017 sia pela primeira vez, em 2000, Putin tomou iniciativas para tentar recuperar economia erestaurara forsainterna- cional do pais Primeiramente,tratou de retomar para 0 Estado o controle das empresas estratégicas que haviam sido privatizadas na gestio anterior entre 2005 e 2015, participacio do Estado naeconomiadobrou de 35% para 70%. A partir dessa estratégia, Putin pas- sou aprivilegiar a exportacio de recur- sosnaturais -0 pais éum dos grandes produtores mundiais de petréleo e gis. Como varios paises do Leste Europeu dependem do gis russo, a Rissia uti- Iizou 05 recursos energéticos como fonte de pressio econémica e politica = cortando 0 fornecimento ou ofere- cendo descontos, dependendo do grau de alinhamento com Moscou. Internamente, o lider russo ado- tou uma postura autocritica. Putin centralizou o poder em torno de sua lideranga, minando alguns pilares da incipiente democracia russa. Entre outras agdes, acabou com as eleigdes diretas para governadores regionais, restringju a liberdade de imprensa ¢ impés forte pressio aos oposicionis- tas, com perseguigdes e prises sem justificativa. Como a legislacao russa impede trés mandatos consecutivos, Putin foi sucedido em 2008 por Dmitri Medvedev. No entanto, ele nio deixou © poder: continuou dando as cartas como primeiro-ministro até ser eleito presidente novamente em 2012 parao atual mandato. POSSE EFETIVA Holcepteros rustos fazem oxercicos ‘militares na Crimela, peninsula anexada pelo governode Putin, em 2014 Fragilidade econémica Impulsionada pelas receitas com as exportagdes de petréleo e gis, cujos presos dispararam no mercado interna- cional, a economia russa cresceu atuma ‘média anual de 7% entre 2000 e 2007. Arenda também subiu, o que garantiu altos niveis de popularidade a Putin. Masacrise financeira mundial,a par- tir de 2008, provocou seus estragos na economia russa. O principal fator foi que,com a redugio daatividade econd- ‘mica mundial a consequente queda na demanda mundial por commodities, as exportagies de petréleo e gis despen- ccaram, bem como o seu prego. A crise escancarou as limitagées da economia russa. Se o pais tivesse uma atividade produtiva industrial mais di- versificada e foase menos dependente das exportages de recursos energéti- 0s, os efeitos dacrise poderiam ter sido amenizados. A desvalorizagio dorublo, -suavez,tomnou asi ‘desmais, rene crime pendentes de componentes comprados no exterior. Nos anos que se seguiram A crise, o pais sofreu com a queda no consumo e na renda da populacio. Acrise na Ucrénia Em meio i desaceleragio econdmica, a Rissia ainda se viu diante de um enor- ‘me desafio paras sua politica externa. Em 2013, Ucrania passou a negociar tum acordo comercial coma Unio Eu- ropeia (UE). Em termos priticos, isso significaria que essa antiga repiiblica Eee ‘Crescenta do PB dos gastos mitre em reac ao ano ater ') to tm} BH TOS To) MAMMA MOS mE ‘MILITARES EM ALTA Repare como Piruco entra em dedi partir de 207A despot do rectade comico, 0 estos militares cescema partir de 202, refletindo sabes de Ris a Ucrinia ena Sia et pe soviética, localizada estrategicamente na fronteira sudoeste da Russia e que sempre gravitou na érbita de influéncia de Moscou, poderia abandonar Putine estreitar lagos com o Ocidente. Asrevoltasna Ucrinia que derruba- amo governono inicio de 2014 deixa- amo pais aum passo de se alinhar aos europeus. Emum momento de grandes dificuldades econémicas, aRissia nio poderia perder um importante parceiro econdmico paraa UE. Alémdisso, Putin centendia que oalinhamento da Ucrainia coma UE poderiaabriras portas para © ingresso do pais na Otan, a alianga militar do Ocidente, e a consequente instalagao de bases em seu territorio. Aideia de ver as foreas militares oci- dentais em sua fronteira sudoeste era algo inconcebivel para Putin. Por isso, ele nio demorow a agir. O primeiro passo foi tomar aCrimeia da Ucrania e anexé-la a Réissia. Além de possuir populagéo majoritariamente russa, aCrimeia também é estratégica por abrigar uma importante base naval russa em Sebastopol, o que garante a ‘Moscow acesso ao Mar Negro. Logo za sequéncia, irromperam revoltas se- paratistas em importantes provincias do leste ucraniano como Donetsk e Lugansk, onde também vive um grande contingente de russos, Os rebeldes tém ‘apoio de Moscou e,aindahoje,asitu- ago esté indefinida contribuindo para ainstabilidade no territdrio ucraniano. Europeus ¢ norte-americanos acu- sarama Rissia de violar aintegridade territorial da Ucrinia e desrespeitar o direito internacional. Como represé- as poténcias ocidentais aplicaram es contrao sistema financeiro, as indiistrias de defesa.ede teenologiae o estratégico setor de energia. Nosmeses, seguintes, as medidas comegaram a afetar gravemente a economia russa. Em2014,0 paismergulhouna recessio. Aintervengéo na Siria Se por um lado o efeito das sancdes niana foi o primeiro alerta ao mundo para nfo subestimar a capacidade da Raissia em bagungar o tabuleiro geo- politico para atingir seus interesses nacionais.O passo seguinte foi ainter- vengio direta no conflitoda Siria para alterar 0 jogo a seu favor. No segundo semestre de 2015, 0 governo russo iniciou ataques aéreos contrao territério sirio, Oficialmente, a investida é contra as posicdes do grupo terrorista Estado Islimico (EI), mas o foco da operasio russa é claramente protegera ditadurade Assad. Putin viu uma oportunidade de po- sicionar o pais como um ator eapaz de interferirnos rumosdo Oriente Médio. Além de conquistar maior peso na co- munidade internacional, aintervengio em favor de Assad significa para Putin manutengio de uma longaalianga coma Siria, que vem desde 0 periodo sovietica. ‘A Rissia é uma antiga fornecedora de armamentos e inteligéncia militar para os sirios. Essa parceria rende a Moscou © controle da base naval de Tartus, no litoral da Siria. O porto é o principal acesso da Riissia a0 Mediterraneo e representa o ponto mais estratégico da ‘Até agora, os objetivos de Putin pa- recem estar sendo atingidos. Assad re- conquistou terreno no conflito sirio, a Riissia conseguiu elevar sua estatura politica nessa crise: uma saida nego- ciada paraa guerraagora parece pouco provivel semo consentimento eaparti- ‘ipacio ativa da Rissa (veja mais sobre oconfitosirionapég. 44).0 problemaé que a Riissia passou a ser alvo de aten- tados de grupos jhadistas, como o que atingiu 0 metré de Séo Petersburgo ¢ ‘matou 15 pessoas, em abril (veja mais em Saiu na Imprensa na pég. 45). Icone nacionalista Espionagem nas eleigbes dos EUA, anexagio deterritériona Buropae ages militares no Oriente Média. Apesar de essas acdes sofrerem forte rejeigio da comunidade internacional, elas serviram_ para moldar a figura de Viadimir Putin: ‘um lider centralizador, capaz de agircom pulso firme para defender os interesses ‘do pais. Perante a opiniao publica inter- za sua imagem no poderia estar mais fortalecida. Mesmo com a recessio na ‘Riissia, Putin éum presidente extrema- mente popular ~emfevereiro,oindice de aprovagio ao seu governo atingiu 86,1%. Por tudo isso, Putin se transformou emum simbolo de uma nova ondana- cionalista. Ideologicamente, essa ver- tente exploracs valores de identidade nacional, pautando as relagdes com ‘outras nagdes em termos de compe- tigdo, concorréncia e rivalidade. Esse nacionalismo ; it Na boas eee eae Nacbeale partido ultranacionalista liderado por cATUALIONDES |2+semee2017 43 BE conse ALUUNGADE FERRO Cartar om Aleppo, na Siria, mostra presidentes sro, Bachar al Assad (esq), ers iadimie Putin Marine Le Pen, que ficou em segundo ugar nas eleigées presidenciaisem maio (veja mais na pg. 28). A Rissa ainda estabeleceu canais de cooperagio com praticamente todos os partidos de ex- ‘rema dreita dos paises que fazem parte da UE. Na Alemanha, Itlia, Austria e Holanda, as agremiagdes nacionalistas recebemo apoio macigo da Rissia. Além cde compartilhar valoresideolégicos com Putin, todos esses partidos obtém uma importante fonte de recursos a partir ‘de empréstimos de bancos russos para financiar suas campanhas. Para Putin, o apoio A extrema direita ‘europeia é uma forma de minar a UE por dentro. O avango dos partidos ultra- nacionalistas tem polarizado oespectro politico europeu, muitas vezes causan- do fraturas na sociedade. Além disso, todas essas agremiagdes desafiam as, ppliticas de integragio doblocoe defen- dema saida de seus respectivos paises da UE. Nada mais conveniente para as ambicSes geopoliticas de Putin do que provocar instabilidade na Europa. Desafios eleitorais Apesar da grande popularidade in- terna, Putin nio estiimune as criticas. Os decepcionantes resultados econd- micos e o aumento da repressio poli- ticavém fomentando 0 crescimento de uma ainda pequena, mas barulhenta oposiglo. Grandes atos contra Putin foram registrados em margoe em ju- ho deste ano, que terminaram coma prisio de centenas de manifestantes, (Os protestos acontecem a menos de tum ano das eleigdes presidenciais pre- vistas paramargo de2018,Comalgumas liderangas oposicionistas presas eoutras pouco populares, Putin é o favorito nas pesquisas Caso esse respaldo doméstico Ihe garanta um novo mandato,ele sai ainda mais fortalecido para continuar ditando os movimentos no xadrez ge- ‘politico mundial. (44 ccaTuauases|2+semenve2017 RUSSIA E EUA MEDEM FORCAS NASIRIA Forcas norte-americanas bombardeiam alvos sirios, contrariando os interesses de Putin no Oriente Médio ccomplexo jogo de interes- QO series Siria ganhou um componente extra em abril: os EUA langaram 59 misseis contra a Siria, atingindo uma base aérea na cidade de Homs. 0 ata- que destruiu cagas, radares e outros equipamentos militares. Segundo 0 governo sirio, o bombardeio deixou nove civis mortos. ‘Trata-se da primeira ofensiva militar direta dos EUA contra alvosdo regime doditador sirio Bashar al-Assad desde o inicio da Guerra da Siria, em margo de 2011. 0 bombardeio foi uma reta- lingo do presidente norte-americano Donald Trump ao ataque quimico que matou pelo menos 80 civis na cidade siria de Khan Sheikhun,controlada por opositores de Assad. Os EUA acusam © ditador sirio de ter ordenado 0 uso das armas quimicas. O significado do ataque A principio, a aio de Trump pare- ce ser mais uma ofensiva isolada do que propriamente um engajamento ‘na Guerra da Siria. Mas o ataque aéreo norte-americano foi suficiente para alterar a percepcio sobre dois pontos importantes do conflito. Primeiramente, ele rompe com apo- sigo relutante dos EUA em intervir 1a Siria unilateralmente, sem o aval da ONU. Desde 0 governo de Barack ‘Obama (2009-2017), os norte-ame- ricanos evitaram um envolvimento ‘maior no conflito. Havia 0 receio de que uma intervengio arrastasse o pais parauma permanéncia prolongada de suas tropas na Siria, similar ao efeito ocorrido apés a ocupario norte-ame- ricana no Iraque, entre 2003 ¢ 2010. Por isso, as ages norte-americanas se voltaram mais para o combate ao grupo terrorista Estado Islamico, que ‘ocupa territérios ndo 6 da Siria como do Iraque. A permanéncia ou nio do ditador sirio Bashar al-Assad era uma questio secundaria. Durante a campanha eleitoral, ‘Trump tampouco pareciatterinteresse ‘em romper com essa posigio. Sua pos- turasempre foi mais pragmitica, gno- rando que o conflito da Siria fosse um assunto de interesse vital para os EUA. No entanto, apés.o ataque quimicona Siria, Trump identificou uma oportu- nidade. O presidente norte-americano resolveu atacar a Siria como forma de demonstrar pulso firme, sinalizando ‘comunidade internacional que no ind tolerar ouso de armas quimicas no conflito.Sofrendo pressdes internas, ataque também foi til para restaurar um pouco de sua popularidade, em queda desde os primeiros dias de seu governo, iniciado em janeiro deste ano. Poroutrolado,o bombardeio norte- americano abalou a lua de mel entre ‘Trump e Putin. Compartilhando vie sées ideolégicas parecidas - do ne- cionalismo ao antiglobalismo - os dois ders comegaram a se aproximar ain- da durante a campanha que elegeu ‘Trump. Apés tomar posse, presidente norte-americano inclusive chegou a anunciar que reforsaria os lagos de ‘cooperacio com 0s russos. ‘Noentanto, a0 bombardear bases mi- litares do regime sirio, Trump desferiu ‘umgolpe direto contra osinteresses de Putin na regio. Desde 2015 a Russia ‘se engajou no conflito com o objetivo dedefender o ditador Bashar al-Assad. Apés o ataque, Putin declarou que a ago norte-americana foi ilegal eque a relagao Riissia-EUA piorou deste que ‘Trump chegou ao poder. O episédio elevou a tensio entre os dois paises e explicitou as profundas divengéncias gcopoliticas entre EUA e Riissia, por mais que seus dois lideres possuam. afinidades ideolégicas. | SAIU NAIMPRENSA GRUPO LIGADO AAL-QAEDA REIVINDICA ATENTADO EM ‘SAO PETERSBURGO ‘Um grupo ligado 8 al-Qneda assumiu a ros- ponsabldade pelo atentado no met deSéo Petersburgo no dia2 de abril, que detou pelo ‘mens 15 moro, Informounestatercafelraum centro amencano de montoramento de stes ‘etromistas (Sito). 0 Bata do im Shamil, uma pequens organiza conhecita peas sutoridades,rehindicou 0 ataque cometido sob instrugbes do lider da al-Qaeda, Ayman at Zawahit (=) As forgas no conflito ‘A Guerra da Siria comegou em 2011, naesteirada Primavera Arabe, a partir da violenta repressio do regime de Assad contra protestos que exigiam sua reniincia. Na tentativa de depor ‘Assad, os manifestantesse organizaram em gruposrebeldesde maioria sunita, cujamaior expressioé o Exército Livre da Siria. Aproveitando ocaos reinante no pais, grupos radicais como o Esta- do Islamico (ED, formado por sunitas que vieram do Iraque, conquistaram importantes cidades no territdrio si- * tadorBasharal-Assad,atuando contraos rio. Também desempenham papel de destaque no conflito as milicias curdas, que se concentram no norte da Siria i VLADIMIR PUTIN Ex-espidoda KGB (oan = to servcosecreto da UniBo Soviética),o. se tornaram uma importante forca de resisténcia contra o avango do El. No plano externo, ainda que rece- ‘sos em mergulhar num conflito de desfecho imprevisivel, posicionam-se contra o regime de Assad os EUA e as, poténcias europeias,além de Turquia, Bgito e Aribia Saudita. Basicamente, cesses paises fornecem suporte militar financeiro aos grupos rebeldes.Jéentre a frente de apoio Assad destacam-se, além da Rissia, 0 Tri e a milicia xiita libanesa Hezbollah. ‘A despeito dessa enorme teia de in- ede pine jot na malar teapidis omaiseie deste século: mais de 400 mil pessoas morreram desde 2011 ¢ cerca de 40% dda populaeao siria tornou-se refugiada interna ou externa. a De acordocom oterto, a ago, quetambém {erty outras 20 pessoas fol uma mensagem ara a Rossa e para os palses erwoldos am (gueras contra os mugulmanes, fimmando que ‘prego destasguotras Gato.) (autor do ataque em So Petersburg, Ak. baron Daly, um jovem de 22 nes, morrou na agdo, de xcordo comNoscou.Djaliovtnha ‘ldadanvarussa desde os 16 nos, masnasceu no Quirgulstio, na regiso de Osh, conhecida or fornecer grandes contingentes a0 grupo Estado lamico (6) na Sita eno raque Globo, 26/4/2017 { FORCAGEOPOLITICA Sob ocomandodo Rissia presidente Vadimie Putin, a Rissa vem ! adotando estratiglsousadasparaseraco- £ locarcomo protagonistano cenérointer- "nacional pais éacusadode nterfeirnas ‘leicbes presidencials norte-americanas. = em favor de Donald Trump. lim disso, ‘agiu contra a tentativa da Uniso Euro- {pela deatratr aUcraniaparasuaestera de = influéncia, anaxou a Crimeia @ interveio rilitarmente na Sira para defender o di- Interesses das potincias ocidentais. atual presidenteda Rissiaassumlu o¢o- "2 mando dopaispelaprimeiraverem72000 ‘com o objetivo derecuperar a economia ‘erestauraro prestigio internacional do. pais. Para so, retomou para o Estado o ‘controledeempresasestratigicas dosetor i * dapetrdleo egis quehaviamsido privati- § zadas.Intermamente, adota uma postura ‘autocritica,restringindo a liberdade de. Imprensa epressionando oposicionistas. | RISE ECONDMICAEstromamertedepen | dente das xporagbesdepetrdeo ois, ‘aeconomiarussa ntrouem declinio com a redugio do preco dessas commodities ‘os iltimos anos. Para plorarasituacSo = assancées econémicasimpostaspelaUE ‘epelos EUAtambam prejudicaram opais. GUERRA NASIRIA ARGssiamantém uma ‘base naval em Tartus, no litoral da Sita, ‘um antigo aliado do ditador Bashar Lassad. Em 2015, Moscou decidiu in- tervir miltarmente no confito da Siria, ! bombardeando bases do Estado Islami- i co (El) de grupos rebeldes que querem detrubar Assad. NACIONALISMO Ao defender os valores de identidade nacional, pautando asre- i | lagbes com outas nagSes em terms do EE competicio, concorréncia e rivalidade, | Putintomnou-se um simbolodanovaon- danacionalta. Admiradoporlideesda |: © enremadireta, Putin ver frmando acor | dos decooperacto com diversospartdos | ultranacionalistas depaisesdaUE. lf El emroerisentie series Tara 7 i ns iene O centenario da revolucgao vermelha Um dos mais importantes episddios do século XX, a Revoluc¢do Russa deu origem a Unido Soviética, o primeiro pais socialista do mundo Por lovanna Fontenelle AG ccaTuauoases|2-semeave2017 historia do século XX. A URSS (socia- lista), dona de um respeitivel arsenal depres ode grande comgultn nce olégico, politico, econémico e militar entre as duas superpoténcias rivais se estendeu desde o final da II Guerra Mundial até 1989, quando ocorreu a queda do Muro de Berlime teve inicio a desintegragio do bloco socialista. Império czarista Até 0 inicio do século XX, A Riissia ‘mantinha uma estrutura feudal. Cerca de 85% da populagio viviano campo,< amaior parte das terras, destinadas & | agricultura, concentrava-se nas mios de uma minoria AcrTaGhO Trabathodores protestam nasruas de Petrograd (Sto Petersburg) contra acrisoecondmica, ‘em feveretrode1917 Assim como a economia, o sistema de governo russo tambémera arcaico. Em 1917, 0 czar Nicolau II, da dinastia ‘Romanov, governava o pais. O czaris- ‘mo consistiaemum modo de governo absolutista, que teve origem no século XVI Apesarde Nicolau II representar ‘uma tradigio de séculos, o governan- te tinha pretensdes modernizantes. Buscando impulsionar a economia, ele incentivou a modernizacio in- dustrial do pais. E, para bancar essas, transformagées, elevou os impostos € aumentou as jomnadas de trabalho, que ultrapassavam as 15 horas didrias. Influenciados pelo marxismo, que regava a unio dos trabalhadores, os ‘operarios comegam a se reunir ¢ a rei- vindicar melhores condiges de traba- Iho. Surgem partidos politicos, como © Partido Operdrio Social-Democrata Russo (POSDR) eos sovietes,conselhos de trabalhadores criados pela prépria populagio. Os sovietes se espalharam ‘por viriascidades do pais funcionaram ‘como um governo paralelo. ‘Devido ao descontentamento popular, vvirias revoltas acontecem ao longo de 1905 ¢, externamente, as intengSes im- pperialistas do governo também contri- ‘buem para agravara situacio, Namesma época, 0 pais entra em guerra com 0 Japao para conquistar um territério mo nondeste da China Milhares desoltados ‘morrem, eos russos perdem 0 conflito. ‘A derrotarende uma grave crise eco- znomica, o que fez aumentar 0 descon- ‘entamento da populagéo Para acalmar 6 nimos, Nicolau II apela para con- ‘vocagio de uma assembleia legislativa eleita pela populagao (a Duma), esta- belece alguns direitos civis basicos ¢ realiza uma reforma agréria. Revolugdo de Fevereiro ‘Coma decisio do governo de parti- cipar da Guerra Mundial (1914-1918), as tensdes internas se acirram de ver. soldados ja havia morrido e os pro- ‘estos contra ogoverno aumentavam. A passeata do Dia Internacional da ‘Mulher resulta em uma greve de 100 mil pessoas, que sofre forte repressio. ‘No momento em que o Exército se recusaa combater osrevoltosos, Nicolau Ise vé em uma situagio critica a0 no contar com 0 apoio da populagio, nem dselitese das Foryas Armadas Em 27de fevereirode1917,oczar abdica do trono. Depois da queda do czar, éestabele- cido um governo provisério, mas erao POSDR quem detinhao apoio da popt- lagio.O grupo, noentanto, era dividido em duas vertentes. Os boleheviques acreditavam que a revolucio socialista deveria ocorrer imediatamente e que todo poder deveria ser distribuido. Ji (0s mencheviques, aminoria, formado ppor liberais e socialistas moderados, que de fato assumiram 0 poder, con- sideravam quea revolugio deveria ser liderada pela burguesia e ocorrer gra- dualmente, com diversasreformas, até que se aleangasse o socialismo. “Paz, pao e terra” ‘Apesar datomada de poder pelos men- cheviquese dasmudancasno governo, a situagio econémicada Rissiacontinuava critica, principalmente devido a decisio 2alu NAIMPRANZA <— ‘DESMONTE’ NALAVA JATO REDUZ RITMO DE INVESTIGAGOES Reduce de pessoal corts de verba fl. tadeincetivanseguranca adminisratva brgas tomas Esseéopanedefundo da etingto,na semana passada do Gupo de Trabalho da Policia Federal, em Curitiba, «que atuava na Opera Lava Jato. © “desmonte” da fora-tarefaj resul- touna redurso doniimara de operacbos ostensivas, quando séo cumpridas or- dens de prises, conducSescoercitvase buseas eapreensbos, da maior ofensiva contra a commupséo no Bras iniciads em margo de 201.) Na quinta era, 6, a Superintandéncia da PF no Parané anunciou a extingao do Grupo de Trabalho qua, desde2014, atuava excusivamente nas investigagbes domegaesquemadecartele corrupcho, descabertona Petrobras...) _APolicia Federal nega desmonta ¢anun- iow no mesmo dia em neta ofl em entrevista coetiva dada 8 imprensa pelo superintendente do Parané, RosalvoFer- ‘era Franco e pelo delgado da Delegacia Regional de ombate 0 Crime Organzado, por Romirio de Paula, que se tratava de uma medida operacional para “timizar” otrbotho nosingurtosda ava Jato.(.) Bog do Feusto Macedo (Estaddo), ayrpo1T (PMDB-CE). Os dois sio suspeitos de recebimento de propina da construtora Odebrecht (veja mais na pag. 82).Caso sejam denunciados por Rodrigo Janot, cestariam impedidos de assumir a Presi déncia. A proxima dalista a presidente do STF, ministra Carmen Liicia. ‘AConstituicio estabelece que opleito so claras e precisariam ser definidas pelo Congressa. Ha diividas, por exem- nl sobre quem poderiae candidate. itoral define que membros do deve deixar seus cargos seis, -meses antes da votacio-o que seriain- vilvel,jé que eleicao precisaria ocorrer ‘em 30dias. A Carta Magna também no esclarece oquérumnecessirio paraque se aponte o vencedor, se maioria simples ou absoluta dos votos. Existe, ainda, um debate no Con- gresso sobre a convacagio de eleigées diretas para o preenchimento do cargo. ‘Tramitamduas propostas:uma estabe- lece a realizagio de diretas se 0 cargo ficar vago apés os trés primeiros anos ddo mandato; eoutracasohajavacéncia do cargo até 6 meses antes do fim do mandato. Para virar lei, ¢ preciso que seja aprovada em dois turnosno pleni- rio do Senado e, depois, no da Camara. Arealizagio de um pleito diretoé um clamor popular. Pesquisa do Instituto Datafolha feita em abril mostrou que 85% dos entrevistados defendiam a realizagio de UM GOVERNO FRACO ‘Ainda que consiga manter-se no cargo até o fim do mandato, em dezembro de 2018, Temer estaré a frente de um _governo débil erefém do Congressa. En- fraquecido pelas dentincias de corrup- ‘do, restariaa ele tentar fazer avangar areforma previdenciéria, mas pagando tum preso elevado no Parlamento. ‘Além do suporte dado pelo Congres so, Temer também precisa continuar contando com o apoio do empresaria- do, que vé com bons olhos sua agen- da econdmica. Mas a crise abalou a confianga do mercado no governo ¢ langou um ponto de interrogagio no reequilibrio das finangas piblicase retomada do crescimento da economi © apoio entre grandes produtores rrurais e industriais contrasta com © baixo prestigio popular do presidente. ‘Uma pesquisa divulgada pelo Datafotha em junho mostrou que a gestio Temer contava com o apoio de apenas 7% da populagio - o mais baixo indice desde © governo de José Sarney (1985-1990), quando paissofria coma hiperinflagio. ‘Mesmo assim, a pressio das ruas iio foi capaz de colocar Temer con- tra a parede, pelo menos no primeiro semestre. Os grupos que promove- ram grandes manifestagdes em 2016 pedindo o impeachment de Dilma ‘Rousseffnio demonstraram a mesma disposigio para tirar Temer do poder este ano. Mesmo com as demiinci de corrupgio contra o presidente, 0 Movimento Brasil Livre (MBL) ¢ 0 ‘Vem pra Rua permanecem alinhados com o projeto de reformas de Temer. Restou as centraissindicais, artistas ¢ movimentos ligados a esquerda realizar mobilizagSes e convocar greves. Um dos protestos de maior repercussio ocorreu em maio na Esplanada dos Ministérios, em Brasilia, quando Temer chegou aconvocar as Forgas Armadas para conter a manifestacio. A instabilidade deflagrada pelasacu- sagesde Joesley Batista é apenas mais um capitulo desta crise que parece nfo ter fim. Nas préximas paginas, vocé vai comhecer as dificuldades enfrentadas por Temer desde que tomou posse apds tum turbulento proceso de impeach- ment eos fatores estruturais que expli- cam a mais intensa crise institucional vivida pelo pais nos dltimos anos. caTUALAnes|2-smee2017 79 80 | UM GOVERNO NA CORDA BAMBA Com apoio no Congresso para a sua agenda de reformas, mas repudiado pela opiniao puiblica,o governo Temer€ ombardeado por dentincias de corrupcao m governo de sal- vvacio nacional. Foi com esse mote que Michel Temer assu- miu interinamente a Presidéncia da Republica em 12 de maio de 2016. Naquele mesmo dia,o Senado havia autorizado aadmis- sibilidade do proce- ddimento deimpeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), afastando-a do cargo até a conchisio do proceso. Poucomaisdetrés meses depois, Dilma {oi definitivamente destituida,e Temer— pporduas vezes vice-presidente na chapa PT-PMDB - tornou-se 0 37 presidente do Brasil Politico experiente,ele assumiu © posto mais alto da nacio prometendo pacificar o pais rachado desde a vitoria deDilma por pequenamargem de votos sobreo candidato do PSDB, Aécio Neves, nas eleigBes presidenciais de 2014, ‘Ainda que nio contasse com apoio popular, Temer iniciou seu governo em fina sintonia com o Congresso, com apoio de cerca de 70% dos parlamenta- res oque, em tese,facilitariaa aprova- ‘30 de projetos de interesse do governo. A coalizio governistaera liderada pelo PMDB, sigla da qual Temer fora presi- dente atéo inicio de abril, e pelo PSDB. ‘Mais de uma dezena de partidos, entre eles DEM, PP, PSD, PTB e PPS, se ali- nhavam nas fileiras do governo. MEDIDAS AMARGAS Em relacio ao programa de governo, ‘Temer assumiu ocompromisso de adotar medidas para reequilibrar ocaixa e fazer ‘ economia voltar a crescer. E 0 apoio do Congresso tem sido essencial para ‘Temer colocar em marcha a agenda de reformasencampadas por ele.O peeme- debista apostou em um receitudrio que agrada ao setor produtivoe aos agentes do mercado, mas que ¢ rechacado por parte expressiva da populacio, receosa de perder direitos conquistados. Sua gestio é baseada em um tripé formado pelo estabelecimento de um limite para os gastos do governo, por ‘mudangas nas leis trabalhistas ¢ pela reforma nas regras da Previdéncia. 400 DE PODERES Mico Tere a0 ado dos presidentes da ‘Cimara, Rodrigo Maia (dr), ¢ do ‘Senado, Eunicio Otvelra esa.) © PEC do teto de gastos - 0 primeiro grande desafio de Temer foi aprovar ‘um limite para as despesas publicas, ‘medida considerada o ponto de parti- da para colocar ordem no orgamento do governo. A Proposta de Emenda a Constituicio (PEC) que congelava as despesas governamentais por 20 anos foi enviada a0 Congresso em junho de 2016 eaprovadacom folga na Camara eno Senado antes do fim do ano. 0s criticos da proposta rotularam a aprovasio da PEC como um retro- ccesso. Para eles, o congelamento de gastos impediri o governo de fazer investimentos piiblicos e prejudicaré principalmente a populagio mais ea- rente, a0 reduzir recursos em setores vitais, como saiide e educagao. © Reforma trabalhista- Outraban- deira defendida por Temer éaalteragio dda Consolidagio das Leis do Trabalho (CLI), conjunto de regras que definem as relagies entre patrées e emprega- dos. O governo diz que elas precisam ser modernizadas e simplificadas para dinamizar 0 mereado de trabalho. Aoposigio discorda e denuncia que a proposta retira direitos dos trabalha- dores. A reforma foi aprovada pelo ‘Congresso e sancionada por Temer em julho (veja mais na pg: 110). © Reforma da Previdéncia-Ogoverno afirma que a Previdéncia ¢0 maior ralo de dinheiro do governo, pois as contri- bbuigdes feitas por trabalhadores na ativa sto insuficientes para pagar aposentados ¢ pensionistas As principais medidas apresentadas pela equipe econdmica para reverter esse quadro so criar ‘uma idade minima paraaposentadoria, tanto na iniciativa privada quanto no setor piblico, elevar o tempo de con- tribuigdo dos trabalhadores. Por mexer xno texto constitucional, as alteragdes devem ocorrer por meio de uma PEC. eee A agenda de reformas de Temer é contestada pela populagdo, por ndo ter sido debatida com a sociedade ‘Com o escandalo da JBS, a tramita- do da PEC no Congreso sofreu um atraso, e aproposta sé deve ser votada no segundo semestre. Centrais sindi- aise trabalhadores jé se posicionaram contra o projeto, que sofre resisténcia inclusive nabase governista. A popula- ‘do teme que as mudangas dificultem aaposentadoria. propostas enfrentam grande resisténcia de partidos de oposisio, sindicalistas e movimentos sociais, que consideram o pacote de medidas pro- posto por Temer ilegitimo, por nao ter sido apresentado a populagio durante acampanha eletoral- nioteria ocrivo das urna, portanto, Contra essa agen- da de reformas, as centrais sindicais, organizaram uma greve geral em 28 de abril, que paralisou os transportes iiblicos e outros servigos puiblicosem pelo menos 250 cidades em todos os eestados do pais. O grande alcance da reve, somadoao fraco desempenhoda ‘economia, contribuiram para corroer ainda mais a imagem do governo Te- ‘mer, ddesgastado emmenos de um ano (veja mais sobre economiana pdg. 116). AOPERAGAO LAVA JATO ‘A implementacio de um pacote de reformas indigestas para a populagio niiofoiotinico desafio enfrentado pela _gestio Temer. No campo politico, go- ‘verno conviveu, desde seu inicio, como fantasma da Operagio Lava Jato,amaior investigacio sobre corrupgao realizada ‘no Brasil, que ameagava envolver varios integrantes da. Deflagrada em maryo de 2014, a Lava Jato desvendou um esquema gigantes- code desvio de dinheiro da Petrobras, articulado por dirigentes da estatal, grandes empreiteiros e congressistas de diversos partidos. As apurases da Policia Federal mostraram que umgru- po de construtoras formou um cartel que decidia a distribuicéo entre elas de contratos da Petrobras. A pri ‘ocorria desde os anos 1990. Nas i ges, 0s valores eram superfaturados. Parte do dinheiro excedente ficava com diretores da empresa e parte in para politicos e seus partidos. Os recursos ‘eram usados para bancar ilegalmente campanhas politicas ou para enriqueci- mento dos beneficiados pelo esquema. Participam da Lava Jato os procurado- resdo Ministério Piblico Federal (MPF) ‘em Curitiba, e quase todas as ages do Judicisrio no processo cabem a0, federal Sérgio Moro, que comanda a operagio a partir da13*Vara Federal de Curitiba (PR).A excesio ficapor conta dos julgamentos de pessoas com foro privilegiado, que ficam a cargo do STF. Foro privilegiado é a prerrogativa de algumas autoridades deserem julgadas ‘nas instincias mais altas da Justica Tém foro privilegiado no STF, no caso de crimes comuns, 0 presidente e 0 vice- presidente da Repiblica, membros do ‘Congresso Nacional, ministros de Esta- do ¢ 0 procurador-geral da Repiblica. Conforme as investigacées da Lava Jato avangaram, foi desvendado um megaesquema de corrupgio que ia ‘ceATUALOADES|-semeate 2017 BL Qa além da Petrobras. Diante dessa com- plexidade, a Lava Jato teve de ser divi- didaemnovas operages, queatingiam ‘outras empresas ¢ esferas do poder. Alguns desdobramentos sio ordena- dos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que manda redistribuir ages, enais que correm em Curitiba para ‘outras localidades, em geral onde os ccrimes foram cometidos, aim de agi lizar as investigagées. Foi assim que surgiu operagées como a Calicute e ‘a Eficiéncia, no Rio de Janeiro (vefa infognéfico ao lado). DELAGOES PERIGOSAS ‘Adelagio premiada é um acordo que oferece beneficios aum réuemtrocade informagées sobre um esquema crimi- rnoso. Quando ele se tornaum delator, deve contar tudo o que sabe sobre os ‘envolvidos. Se os atos relatados forem ‘comprovados,oréu tema pena reduzi- dau pode cumpri-laem regime mais, brando, como prisio domiciliar. Desde 0 inicio da Lava Jato, aPolicia, Federal eo Ministério Piblico usaram ‘adelaco premiada e gravacées auto- rizadas como um de seus principais, instrumentos de investigasio, o que ‘causou grande apreensio em toda a classe politica, na medida em que fi- gurdes da politica iam sendo detidos. Eos integrantes do governo Temer info icaram imunesis delagies. Apri meira grave crise danova gestio explo- diuapenas 12 dias apés seu inicio. Um idlogo telefénico vazado em maio de 2016 sugeriu que 0 processo de impe- achment de Dilma era parte de uma ‘estratégia para conter a Operasio Lava Jato. Aconversa envolviao senador Ro- mero Jucé, no comando do Ministério do Planejamento, e Sérgio Machado, ‘excpresidente da Transpetro (umadas, subsididrias da Petrobras) entre 2003, © 2014, Jucd é alvo de inguéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) que investigam recebimento de propina no esquema que atuava na Petrobras. ‘As gravages foram feitas por Ma- chado, apontado como operador do PMDB dentroda Petrobras, em margo de 2016, antes da aberturado processo de impeachment pela Cimarados De- putados Flas eram parte de um acordo de delagio premiada negociado entre ele ea Lava Jato. 82 ceaTuauonocs| 2 vemeie 217 we A delagdéo premiada oferece beneficios ao réu que aceitar passar informagées sobre um esquema criminoso Em um dos didlogos, Juca afirma que a forma de “estancar a sangria” é ‘mudar o governo em um “grande acor- do nacional”, numa clara referencia & saida de Dilma como forma de frear 0 avango da operagio, que comegava a ameagar os apoiadores de Temer. Apos a divulgacio do didlogo, Jucé deixou © ministério. Mas 0 episédio causou um grande desgaste no governo, i que ele era um dos principais homens de confianga do presidente. Paracomplicara situagio do governo, aa delagio de Machado também atingiu dliretamente Temer, apontado por ele como um dos 20 politicos que teriam recebido propina no esquema de cor- rupgio envolvendo a Transpetro. ‘ACORDO Marcelo Odebrecht, dono da construtora Odebrecht: dela abalou o sistema politico Aprisio em outubrododeputado cas- sado Eduardo Cunha, ex-presidente da ‘Cimara também trouxe apreensio a Te- ‘mer. Um dos principaisarticuladores do impeachment de Dilma,Cunha sempre {foi muito préximo ao presidente. Ele foi presosobaacusagio de receber propina deum contrato de exploragio de petréleo no Benin, na Africa,e de usar contasna, Suiga paralavar odinheiro. O juiz Sérgio ‘Moro sentenciou oex-deputado a15 anos ce quatro meses de reclusio. ‘A fim de tentar reduzir sua pena e cevitarfuturas es em processos aindaem andamento na Justiga,Cunha negocia um acordo de delacao premia- dda com os investigadores da Lava Jato. ‘Outro que também quer colaborar coma Justia éo doleiro LiicioBolonha Rinaro, antigo parceiro do ex-deputado. As duas pPropostas causam apreensio no Palicio do Planalto porque podem comprometer opresidente Michel Temer. ‘ADELAGAO DO FIM DO MUNDO 0 governo Temer sofreu um novo abalo no final de 2016 com adivulgasio dos depoimentos dos 78 executivos e diretores da construtora Odebrecht, que firmaram acordos de leniéncia (Como & chamada a delacio premiada para empresas) no ambito da Opera- 80 Lava Jato. As delacSes tiveram seu contetido liberado por Edson Fachin em abril. Fachin assumiu a relatoria do caso no Supremo em substtui ‘Teori Zavascki, morto emum acidente aeronduticoem 19 de janeiro deste ano. SE ‘aida come esta orgaizada 2 &S eee aaa Th a= — tao _ a Bw rscriveons Gira paons Panda presen Investig aes demas fa rrr Cec Andade praasmairesemprtaséo pas ater, asoeosde trade fer secesqx oto = ceibaon steers feds Mu pet ot Pasian ews en espe decrees Gece Groceiass EatosdoweuenaGecropdode odeniadedabsendsPetobrs Eada peered frorSiscuemstancetao Seca I One Marqos de Azra, raider dake cater Peseceniemda) NOCLEO OE CURITIBA [NOCLEO DE BRASILIA hung dan3"Va ‘parte dope qu rhe Ferd Crt, pia polis car oo prea ost reparsvel la od cas arpda oaradaiaGeal ds invsigaesda Pola Fadel Fpl oéedosipor (ye coMiniiri Pin etal ods Ube Feal ar. (MPF, eo independent ue fecha, PCR fecal a ahaao dss pers prec atorzad doSepremo (Ext Legsatoe judi, ‘bua Federal IF. —ALCUTEFERING —o a. — om : sal Foawo ropa ‘adele obras fo gover acdc espaganetstets ‘hana Aopen prowun “owerth AETHER Sone ren, cease ttipeom Bh se ais Biweasciannms ‘prc scm fo fotncngumeiapetcore vsti st Aro Po, Ines morta weet npeciesupaoedecmea ——_unierecsGxsCvieds cricniapoceoden = @runconsanes crimes de corrupgao_ Faaand,recebeu vantagers ‘antagens indevidas ao x preiden ‘Join Santana, marqueteio de Dima nen ds060r0t {sla pw eo ds raee ge Tavsepes ecard Grncons aves crasen nove sono +l Wear seme “Skok erga doo ‘eronacon se sSeesupresenda) ‘ejnere rose onde) a haat ore, Fenda dogmtl da Frmarasaes Attra ltd pp ERK i ype Dina rane Aida pier (recor rodent ‘cnr taser BO pease Soommeremenecrac | CS o> Tl gd fererewoat inert Semeenaet eee nao fees ee re Fe De rote ansiso Pia delineate st9 64 m20 207) — ee ene nines GcATUALOADES | semeae 211 82 (esc ‘A Odebrecht é responsvel por um vasto niimero de obras importantes, dentro e fora do pais. Seu primeiro gran- de ciclo de crescimento ocorreu duran- te 0 periodo da ditadura (1964-1985), quando passou a atuar no setor pibli- co. Desde entiio,o grupo tem ganhado diversas concorréncias para execugo de obras piblicas. Em contrapartida,a Odebrecht também é uma das princi pais doadoras para partidos politicos. Por isso, o depoimento de seus execu- tivos, que podiam desmudar esquemas de corrupgio em diversas esferas de poder, era otulado pela imprensa como a “Delagio do Fim do Mundo”. No mbito da Lava Jato, a Odebre- cht jé havia sido associada a politicos de varios partidos. Marcelo Odebre- cht, presidente do grupo preso desde junho de 2015, recebeu condenages que somam 31 anos e seis meses por corrupsio, lavagem de dinheiro e for- magio de organizagio criminosa. Com © acordo de delagio premiada, a pena de Marcelo caiu para dez anos. ‘Acdelagio dos dirigentes da Odebre- cht teve um efeito explosivo porque envolveu todo o sistema politico na- cional. Foram citados nos depoimentos oito ministros de Temer - entre cles Eliseu Padilha e Moreira Franco, que pertencem ao micleo duro do governo juatro ex-presidentes da Repiiblica (@ilma, Luiz Inécio Lula da Silva, Fer- nando Henrique Cardoso e Fernando Collor de Mello) ¢ 71 parlamentares, entre deputados e senadores. Esse il- ‘timo grupo incluia os presidentes da Cimara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-R4J), e do Senado, Eunicio Oli- veira (PMDB-CE), 0s dois primeiros nomes na sucessio presidencial em caso da queda de Temer. ‘Também faziam parte da lista pluri- partidaria 12 governadores, deputados staduais, um ministro do Tribunal de Contas da Unio (TCU) e virios integrantes da cipula do PSDB. Até aquele momento, os tucanos passa- ‘vam praticamente imunes is dentincias, de corrupsio na Lava Jato. Os dela- tores da Odebrecht declararam que pagaram propina para o governador de Sio Paulo, Geraldo Alckmin, e os senadores José Serra, que até feverciro ‘comandava o Ministério das Relagdes, Exteriores, e Aécio Neves. Esse iltimo 84 cearuauonocs| 2 vemee 217 A delagéo da Odebrecht cita oito ministros de Temer, quatro ex-presidentes e 71 parlamentares também foi duramente atingido pela: delagées da JBS, e correu 0 risco de perder o mandato e ser preso. ‘TEMER E A ODEBRECHT O proprio presidente Temer foi citado nas delagdes da Odebrecht. Em julho de 2010, Temer teria negociado com a cempreiteira orecebimento de40 milhies de délares para a campanha eleitoral da- quele ano. Temer admitiu terse reunido com Faria, mas negou terem tratado de dinheira Em delagio de outro executivo da Odebrecht, Temer ¢ acusado de ter petido para Marcelo Odebrecht recursos paraacampanhado PMDB nas eleiges de 2014.0 acerto seria referente auma contribuigio de10 milhées de reais. ‘S08 |NVESTIGAGAO O senador do PSDB Aéclo Neves: cltado na delacSo da Odebrecht eda JBS Parao procurador-geralda Repiiblica, Rodrigo Janot, os depoimentos dos ex- dirigentes da Odebrecht traziam in- dicios suficientes para a abertura de investigasio contra o presidente. No entanto, como os episédios ocorreram em um periodo anterior a0 mandato de Temer na Presidéncia, ele est protegido pela imunidade conferida pela Constituigio. A Carta Magna es- tabelece que o presidente da Repiiblica 6 pode ser investigado por eventuais ilegalidades cometidas no curso de seu ‘mandato. Foi somente apés a delagio ea divulgagio dos éudios da JBS que Janot obteve o respaldo juridico para fazer adeniincia contra Temer no STF. JUDICIARIO SOB FOGO CRUZADO ‘Ao atingir a ciipula politica do pais eo micleo do governo Temer, a Lava Jato passou a sofrer pressio de todos os lados. A operasiojévinha sendo critica- da no meio juridico e por politicos das ‘mais variadas siglas por cometer abu- sos. Entre as objegdes esto as prises preventivas e temporérias alongadas, que seriam usadas pelos membros da operagao para forcar os suspeitos a fe- char acordos de delacio premiada, eo vazamento seletivo de informagdes si- sgilosas prestadas no cursodo inquérito. Nos vazamentos seletivos, gravagdes feitas com autorizasao judicial, docu- ‘mentos que fazem parte do processo ou informagies prestadas por pessoas investigadas sioilegalmente repassados para Sngios de imprensa com o objetivo ENBATE © ex-presidente Lula (sg.) em depolmento ao utz Sergio Moro, em mao de 2017 de atingir os acusados ou individuos citados por eles em seus depoimentos. Adivulgacio de trechos de conversas telefonicas tiradas de seu contexto, por exemplo, pode prejudicar o direito de defesa dos envolvidos no grampo. © vazamento seletivo também expe as autoridades que conduzem as in- ‘vestigages da Lavajato a suspeitas de alinhamento com determinados grupos politicos, que podem ser poupados da divulgag3o das conversas 4 imprensa. 0 juiz Sergio Moro também foi du- ramente criticado por ter divulgado escutas de conversas telefénieas entre Lala e a entio presidente Dilma, em rmargo de 2016. A gravagio e a divul- sacio foram feitas de forma legal, pois, ‘© grampo de uma conversa telefénica da presidente s6 poderiaser feito com autorizacio do STR, Moro admitiu 0 erro e desculpou-se com o tribunal Contudo, 0 vazamento, ocorrido as vésperas da votagio do processo de impeachment de Dilma na Camara, co- Jocou ainda mais combustivel na crise ce acabou sendo decisivo para ampliar arejeigio contra a entio presidente. Mais recentemente, o ministro Gil- mar Mendes, do STF, defendeu que as delagies de executivos da Odebrecht, ccujos primeiros contetidos foram v zados no fim de 2016, deveriam ser anuladas. Mendes responsabilizou a Procuradoria-Geral da Repiblica por terrepassado para aimprensa informa- —_—_— LULA E CONDENADO EM PRIMEIRA INSTANCIA NA LAVA JATO ‘Um dos politicos de maior expressio envelvi sldente Lutz Indcio Lula da Silva. Em Julho, Lula fol condenado a nove anos ‘meses de prisio em regime fechado, pelos crimes de corrupgao passiva e lavagem. de dinhelro. © juiz Serglo Noro, que comanda a Operacio Lava Jato a partir da 13" Vara Federal de Curitiba, nie decrotou aprisio Imediata, que s6 deve ocorrer em caso -ondon ay ‘em segunda instincia. Lula pode recorrer da decisio em lberdade. ‘Aagio contra Lula sustenta que ele terlarecebido RS mithdes em propina por ‘rds contratos firmados entre a empreitelra OAS e a Petrobras. Os valores terlam sido ropassados ao ex presidente por mole da cessio.ereforma de um apartamento triplex ne Guarujé, que desde entio seria de propriedade de Lula. 0 ex-presidente ainda 6 réuem outras quatro ages -duas delas no ambito da Lava Jato. ‘Adefesado.ex-presidente refuta as acusagées e afirma que Moro age paliticamente para prejudicar Lula. Caso seja confirmada a condenagio em segunda instancia, © petista nao poderiadisputar as elekGes de outubro de 2018 por se tornar ficha suja’: que o acusou de ter cometido uma “di- senteria verbal”, Além desse vazamento, diversas outras delagies colhidas pela forsa-tarefa da Lava Jato vieram itona ainda na fase de investigagao. ‘CHOQUE ENTRE OS PODERES Aquestio envolvendo eventuais ex- cessos da Lava Jato é delicada, pois & muito ténue a relacio entre o abuso do poder ea impunidade. De um: vivemos em um Estado Democ: de Direito, que garante a todo acu do 0 amplo direito de defesa, que nio pode serviolado em virtude da sede da sociedade porjustica. Por outro, hé um claro movimento da classe politica para tentar minar o alcance da Lava Jato. Enesse contexto que o Senado apro- ‘vou, em abril, projeto que altera a Lei de Abuso de Autoridade. O texto, ainda pendente do aval da Camara dos Depu- tados, éencarado como uma ameaga is investigagGes, pois aumentaachance de punigio juizes, promotores,procurado- resedelegados que cometerem excess0s. Entre as praticas classificadas como abuso de autoridade esti obter provas por meios ilicitos, decretar a condusio coercitiva de testemunha ou investigado sem intimacio préviae colocar algemas nodetido quandonio houver resistencia Aaprisio. Oscriticos do projeto afirmam que os parlamentares estio legislando em causa prépria, ja que muitos esto implicados na Operagio Lava Jato. Por sua vez, diversos politicos inves- tigados pela Lava Jato sio acusados de manter relagdes estreitas com quem ira julgé-los. O ministro Gilmar Men- des, do STF, reconhece publicamente aamizade e aconvivéncia privadacom ‘Temer. Outro ministro do STF, Alexan- dre de Moraes, entrou para aCorte em ‘margo apés indicagdo de Temer, de quem também é préximo. (0 fato é que os avancos da Lava Jato colocam o Judicisrio no centro de im- portantes decisSes envolvendo membros dos outros dois poderes da Republica: 0 Executivo, na figura do presidente Mi- chel Temer,¢ 0 Legislativo, representa- do por deputados federais ¢ senadores. ‘Euma situasio que desafia aharmonia institucional do Brasil, como raras vezes se viu nahhistria recente do pais. cATUALIOADES|2-smete2017 8S 86 1/50 Manifestantes protestam contra © governo na area externa do Congreso Nacional, na noltede17 dejunh de 2013 INSTITUICOES EM DESORDEM Conhega os fatores estruturais que ajudam a explicar a instabilidade politica vivida pelo Brasil ea importancia de uma reforma politica fo sio s6 20 centa- vvos.” O slogan dos manifestantes que tomaram as russ de Si principais capitais do pais em junho de 2013 em protes- to contra o reajuste das tarifas do trans- porte piiblico vem semostrando ainda mais verdadeiro. Quatro anos depois,es- tamos vivendo um climade instabiidade ue pode provocar a queda do segundo presidente em menos de dois anos. As mobilizagbes daquele ano eviden- ciaram que o pais iiviauma séria crise de representatividade. Os protestos revelaram o distanciamento entre a populagio ea classe politica, mais in- teressada em defender seus préprios interesses do que atender as deman- das sociais. Desde enti, pouca coisa mudou ~ ¢ a crise persistiu. A seguir analisaremos as principais causas es- truturais da grave instabilidade politica brasileira easdiscussdes para superd-la Paulo e das PRESIDENCIALISMO DE COALIZAO 0 sistema de governo oficial do Brasil é o presidencialismo, mas 0 presidente nao governa sozinho. Ele precisa ter suporte no Parlamento para aprovar projetos ¢ colocar em pritica seu programa de governo. Para a chamada governabilidade, é preciso formar uma ampla base no ‘Congresso Nacional, com 0 apoio de deputados e senadores. Em tese, essa alianga deveria ter como alicerce 0 compartilhamento de ideias e projetos em comum. A esse arranjo politico- institucional damos o nome de presi dencialismo de coalizio. Na ratica, porém, essas aliangas se formam sem uma base clara de pro- ‘grama. Desde aredemocratizas 1985, para ter seus projetos apro © presidente se vé obrigado a atrair para acoalizdo siglasideologicamente diversas, que se unem por conveni cia, em acordos sem principi seniohdafinidade ideoldgica entre os partidos, o que mantém a base unida? ial deeleaten cewtiade Metdeel=s ‘mo: para ter 0 voto dos congressistas Cote es ‘econseguir aprovar as medidas de seu interesse, o governo federal usa os re- eee ‘OCUSTO DAELEK GASTO DAS CAMPANHAS PRESIDENCIAIS sa mais card iste — (AO | CASTODASCAMPANIASPRESIDENCAIS cursos do Estado para frvorecer aque- teen fo) ‘crlvaeadalnsimmbbesinan lee quesecomprometem em apoitl, oo principalmente por meio: mae | EE B18 216 G1 Sccargrnaaininstapio pice edo incon ‘Ouseja trata-se de um arranjo muito fimberogo conduit, ‘mais importante e estratégico para as ewcorsnerae” | RS 4.92 legendas politicase seusrepresentantes, aa bilh do que para a sociedade em si. noes, A alta fragmentacio do Congresso Dipuaemany toa | DlmaReusseff AécioNeves Marina Siva Nacional, constituido por politicos de smal cra daha (Pr) ee) 27 siglas, eleva ainda mais o poder de ‘barganha dos partidos para com 0 g0- Tare core sng msn cp — ee Sa oS - om » ‘uitas vezes muda de ado conforme Py » » as conveniéncias do momento. Foi 0 " ne ron _ " ” ‘que ocorreu, por exemplo, noimpeach- mectoenitareensnanrtrernee ‘ment da ex-presidente Dilma Rousseff rarer ‘em 2016. Sua deposisio foi aprovada [ei de deptado estas ero ang er 2g em ites eel) ‘com apoio de muitos congressistas que, pouco tempo antes, integravam su ae 00 = ‘base de apoio no Congresso. a |__| Ea um i, NANCIMENTO DE CAMPRIA eee owe. oc Outro pilar da crise politico-institu- cional brasileira ¢ 0 sistema de finan- (05 MAIORES FINANCIADORES FUNDO PARTIDARIO ‘ciamento de campanhas eleitorais. Até 1D trorasnsmasearanprasanosma Enh osdeuntnasitins 5 pleito de 2014 os partidos podiam stot tone a sis Rake dsiinasa earace Nees ws y Cy ‘seguinte, o STF proibiuo financiamen- wo. ‘uy to empresarial por entender que esse er w tipo de doagio causava desequilibrios mites a favorecer apenas ummaperte de can sndade A woe didatos. A partir das eleigdes munici- oe pais de 2016, as campanhes passarara os ” a” ‘ser financiadas apenas por doagdes vale n o de pessoas fisicas e por dinheiro do a — i ee Fundo Partidirio (recursos da Unio Gamo i -destinados ao funcionamento das agre- ie | ett mnlagnes patttcas). neainsasnccl ie sceremammeaneteceed) wee | 1G Racscdsnsens ernpressriaT eth ECURSOS PBLICOS OU PRIVADOS Fonts ree de eon neers Oe Fre etundaen suse haleen les De " bestelpnatas Pablico e a iniciativa privada, causa ‘maior da corrupgio que se espalha por A, OM sg ae —_<_<_<<—SSSSSSSSsaq : oo SSS Se te gg Cursos para diferentes partidos, muitos ti tele vais como se estivessem fazendo | AST umizecstimenin Pseadesascleies, Sot lel ten uma “va” «page SS — ie fi aprovagio de leis que fin Pegi nero dabei time As eleiges gerais de 2014, ainda TC doa tes eer cenriais orem ms ‘mais caras da historia da democracia ‘GcaTUALIOADES|2-semee 2011 ST (esc brasileira: custaram cerca de R$ 4,9 ilhSes, segundo levantamento feito ‘com base nas prestagdes de conta fomnecidas pelas campanhas eleitorais ‘a0 Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse valor, que exclui 408 milhdes de reais do Fundo Partidario, se suficiente para bancar a construcio de cerca de75 mil moradias populares do programa Minha Casa Minha Vida ‘ou deuma nova linha de metré em Sio Paulo ou no Rio. ‘Osmaiores doadores oficiais foram os ‘grupos empresariais JBS (391 milhdes de reais) e Odebrecht (111 milhdes de reais), ambos flagrados em esquemas de ‘corrupsio pela Operagio Lava Jato. Note «que esses valores referem-se apenas 0s informados & Justica Eleitoral. Hoje sabe-se que muito mais dinheiro fuiu para partidase candidatos via caixadois, = recursosilegais eno declarados, que vviolam os limites definidos porlei, desti- ‘nados ao inanciamento dss campanhas. Em depoimento ao TSE, Marcelo Ode- brecht, dono da empreiteira, afirmou ‘que 80% dos repasses para acampanha ddachapa presidencial vitoriosaem 2014 ‘ocorreram pelo caixa dois. Um estudo publicado pela Orga- nizagio para a Cooperacio e Desen- volvimento Econémico (OCDE), que retine 34 nagdes desenvolvidas, sobre financiamento de partidos e campa- has eleitorais mostrou que na maioria dos paises iliados aentidade prevalece © financiamento pablico. Para efeito de comparasio, no Brasil a campa- ha de 2014 foi financiada com 95% de recursos privados e 5% de fundos piiblicos, segundo levantamento feito pela Justica Eleitoral (veja infogrdfico na pig. anterior). financiamento pablico de campa- ‘nha, no entanto, pode levar a um au- ‘mento exponencial do Fundo Partido, constituido, em tltima instincia, por recursos dos contribuintes. A Proposta ‘de Emenda i Constituiglo (PEC 282/16), {que define novas regras para o sistema politico-eleitoral,jé aprovada noSenado ‘eem discusso na Camara, prevé o au- ‘mento do Fundo dos atuais 820 milhes de reais por ano para até 6 bilhdes de reais Uma corrente de especialistas de- fende que asaidanaoé mudaromodelo de financiamento, mas alterar as regras das eleigdes para torné-lasmaisbaratas. ‘POR NOVAS REGRAS As mudangas no sistema plltico s30 uma demanda da socledade SEE Areforma politica enfrenta resisténcia de congressitas que ndo querem perder os privilégios atuais REFORMA POLITICA edavide a todas cana destoryBes 50 sistema politico-partidirio brasileiro que a reforma politica é sempre aven- tada como uma possivel saida para a atual crise de representatividade em nossa sociedade. No entanto, assim que as propostas sobre o tema come- ama ser debatidas no Congresso, elas enfrentam muita resisténcia entre os deputados e senadores, receosos de perder os privilégios que o atual sis- tema Ihes garante, ‘As propostas em tramitagio noCon- greaso ~ alémda PEC 282/16,hé outra sob relatoria do deputado Vicente Cin- dido (PT/SP) - sio bastante amplas e abordam diversos itens. ‘Umdos tépicos em discussio é0 atu- al sistema de eleigo proporcional, usado para cleger vereadores, deputa- dos estaduais e federais. © problema desse sistema é que os candidatos pre- cisam atrair votos em uma érea geogré- fica muito grande, disputando espago com concorrentes de outras siglas e aldstas Pail por empl rhs fazer campanha em 645 municipios,o que torna sua campanha muitocara. E ‘mais: nesse modelo proporcional, nem sempre os eleitos sio necessariamente 0s candidatos mais votados no estado. ara definiros vencedores, a Justica Eleitoral primeiro calculaos votos re- cebidos por cada partido ou coligacio Canto 08 votos dados aos candidatos quanto a préprialegenda). Emseguida, distribui as vagas disponiveis na Ci- ‘mara entre os partidos ou coligagbes, proporcionalmente avotagio recebida por eles ~ da‘ sistema se chamar pro- porcional. Os candidatos mais votados dentro de cada partido ou coligagio eleitos. Esse modelo gera anomalias, como a eleiséo de um candidato deum partido X que obteve menos votos do que o do partido Y, mas entrou porque © partido X teve direito a um nimero maior de vagas do que o Y. O sistema proporcional também fa- vorece candidatos personalistas, mais, fortes do que o proprio partido, e os puxadores de votos, que muitas vezes ajudam aeleger correligiondrios des- (CLE a Pesca que nose ldenficam com nechuralegnds em pont} comhecidos. Foi oque ocorreu em 2014 quando o humorista Tiririca elegeu-se com! milhio de votos para o cargo de deputado federal por Sio Paulo - a segunda maior votagio do pais. Essa enxurrada de votos permitiu que ou- ‘ros dois candidatos de seu partido, Republicano, conquistassem um as- sento na Camarados Deputados. Sem 08 votos de Tiririca, eles nio teriam sido eleitos. ‘SISTEMA DISTRITAL. ‘Uma alternativa para evitartais dis- torges seria a adogio do sistema dis- ttital. Por ele, o estado ou municipio é dividido em unidades eleitorais ou distritos, conforme o miimero de vagas a serem preenchidas, e cada unidade lege seu representante. O vencedor é aquele que obtiver 0 maior niimero de ‘votos no distrito, num modelo parecido aousado nas eleigdes majoritatias para prefeito, governador, senador e presi- dente da Repiiblica no Brasil - que clege © candidato mais votado (no €aso dos senadores) ou que conquistou a maioria dos votos vilidos (nos demais postos). Adotado nos Estados Unidos, no Canadé, no Reino Unido e na india, 0 modelo distrital barateia as eleicSes, uma vez que reduz. a regio em que 8 candidatos precisam fazer campa- ha, € aproxima mais 0s eleitores dos seus representantes, que eles fardo opalagio que vive nela. ‘Uma variagio possivel desse sistema €0 distrital misto, em que parte dos eleitos é escolhida entre os que rece- beram mais votos no distrito ¢ outra parte éselecionada conforme os votos dados ao partido. ‘Outra proposta discutida entre os parlamentares éo chamado distritio, ue jé foi rejeitado pelo Congreso em 2015, mas pode ser ressuscitado agora. Por esse modelo, os deputados eos vere- adores mais votados sio eleitos, ou seja, as eleigdes parlamentares migram do sistema proporcional parao majoritirio. O distritio écriticado por enfraquecer as legendas e encarecerascampanhas. LISTA ABERTA OU FECHADA O sistema proporcional brasileiro tem ainda outra particularidade-alistaaber. tta de candidatos. Isso significa que a cordem dos vencedores é definida pelo proprio eleitor nasurnas. Uma opci0é.a listafechada, Nela,o cleitor vota apenas no partidoe cabe a cada legenda defini, antesdo pleito,alstacomosccandidatos que serio eleitos caso ela conquiste 0 stimero minimo devotos parater repre- sentantes no Legislativo. Esse modelo, em tese, fortalece as agremiagies. ‘Uma terceira opgio discutida seria © sistema proporcional com lista flexivel, em que o partide propée uma lista, mas eleitor pode votar nominal- mente no candidato de sua preferéncia. Aordem dos nomes pode mudar caso, por exemplo, o iltimo da lista receba mais votos do que o primeiro, PARTIDOS FORTES A proposta de reforma politica em discussio no Congresso também es- tabelece o fim das coligagdes parti- darias para aseleigdes proporcionais. Assim, os partidos nio poderio se unir para que os votos recebidos por deter- minado candidato ajudem a cleger 0 ‘candidato da legenda coligada. Otexto, no entanto, abre a possibilidade de que 0s partidos atuem juntosno Congresso por meio de federacdes, apéso pleito. ‘Outra proposta éestabelecer achama- dackiusula de barreira Ela prevé que, no pleito de 2018, apenas os partidos que obtiverem 2% dos votos vildos em pelomenos 14 estados, com no minimo 2% de votos vilidos emcadaum deles, terio direito ao Fundo Partidario, pro- ‘grama gratuito no radio ena televisio e uso de estrutura nas casas legislativas. Assiglasque ndo alcancarem omimero minimo de votos terdo o mandato de seus eleitos garantidos, mas perdem acesso aos beneficios. Essa medida visa areduzir omimero de agremiagSes atuantes no Legislati- vo. Hoje, existem no pais 35 partidos politicos. A grande quantidade, em si, iio é um problema. Mas ocorre que ‘muitas legendas nio possuem organi- zagio, programa ou cunho ideologico definidos - 0 que prejudica o funcio- namento do Congresso, enfraquece a democraciae afnsta o eleitor. ‘Caso essas regras valessem para as ‘eleigdes de 2014, o niimero de partidos ‘em funcionamento no Parlamento cai- ria quase pela metade, de 27 para 14. A adogio da norma, no entanto, no & consensual. Os criticos da medida apontam que ela fere a Constituigio, que prevéo pluripartidarismo, afeta a diversidade ideologica, eliminando si- ‘dascom posigées politicas marcantes, mas sem grande expressio eleitoral. ‘Uma relagio sélida entre cleitores e partidos politicos ¢ um dos pilares da ‘democracia representativa, aforma de _governo existente no Brasil em que o po- der politico éexercido por representan- ‘tesescolhidos pelo povo. Nese sentido, reforma politica é um dos caminhospara ‘eriar mecanismos que tornem sistema ppolitico-eleitoralcapaz de corresponder Asaspiragbesda sociedade. Para valer nas rc Levis ‘On0s VARIADOS Mais de dist das mores no mundo si causadas por doenas nf transmissive - problems cardovesares como infartoeacidete scar ‘cerebral (AVC) prinpalment.As deena transmissvisconsituem a segunde maior css de mort, uid pla causes extras come os acientsde tno. ac crags unr As doengas crénicas ndo transmissiveis sdo responsdveis por cerca de 70% de todas as mortes no mundo ‘Trata-se de males como diabetes, hi- pertensio, doengas cardiacas,acidente vascular cerebral (AVC), doengas res- iratdrias e cancer. PTASDNT matam 40 milhesde pessoas por ano,o que equivale a70% de todas ‘asmortes no mundo —isoladamente, as, doengas cardiovascularesséo principal ‘causa de morte no mundo (vejagréficos ‘com as doengas que mais matam na pég. ‘acima). Essas doencas costumam ser de longa duracio e podem ser adquiridas ‘como resultadode uma combinagio de fatores genéticos, fisiol6gicos, ambien- taise comportamentais. ‘Além do sedentarismo e da falta de uma dieta equilibrada, o consumo de tabaco e élcool também sio causas di- retas que podem levar aestigios mais, avangados de todas essas doengas. O ‘tabaco é responsive por 7,2 milhées de ‘mortes por ano em todo 0 mundo, in- os pls poles contmicse de sguanca

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