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Dar no oemelter tant e 0 mundo do trabalho) me ao n as de mestigagens auténtica Capitulo 4 As “grandes” Categorias de distincdo e os grupos sociais no mundo ibero-americano Estoy tan enamoréo de la negra Tomasa Que cuando se va de casa Que triste me pongo Ay, ay, ay Esa negra linda Que me tiene loco Kikiribu Mandinga (Bilongo ~ Guillermo Rodriguez Fife, 1907) Palavra e conceito nao sao Sinonimos, e seus significados podem va- fo tempo no espago, Os conceitos, muito ‘mais que as palavras, dadas uma € outro sao produtos histéricos e culturais ¢, assim, suas histori- des devem sempre Ser consideradas, tanto as de suas “origens” quanto Seus usos feitos a posteriori, Sao esses os Pressupostos da reflexao que endo desenvolver em torno de “qualidade”, “casta”, “raga”, “nagao”, Beneralizado no periodo em foco — até mesmo Por escravos e ex-escravos -, as doe as associacoes feitas a cles ao * do tempo. Bm algumas ocasies, quando for necessario, eles serio historiadores e outros O' mais prdximo das clivagens socials empreendidas nos 1 los de ocupacio ibérica das Américas e dos significadon mals exprossi : >a int eM Modelos prees. atribuidos as “grandes” categorias (Categorias gerals) de distingiio social hdagador dos Inaridade, aproveitou-se ‘biolégica Nenhuma delas nasceti no Novo Mundo}mas todassetransl maram em ferramentas essenciais para ordend-lo, organiza-lo, classified In. compreendé-lo, Voltar a elas, a partir da documentagao de variada nattreyy € optar por mergulhar nesse mundo pretérito com os equipamentos que nele jd existiram e nao por meio de conceitos construidos a posteriorl, que descaracterizam e, as vezes, extinguem os sentidos construfdos e operada Wer reflexes soby re as i i enti “casta?, “taca” <.. anteriormente. Mesmo que se possa considerar cientificamente legitimg leu desenvolvi ee > “Taga”, “nacdo”, “cor” @ imento historico eas historic; cond: ri esse procedimento (e o é em muitos casos ~ a aplicacio de conceito# il tempos e a épocas que nao os conheceram), aqui a op¢ao foi mesmo si as categorias/conceitos “antigos”. Eles eram compreendidos e evocad@ nas sociedades ibero-americanas, servindo a elas como tradutores de sti complexidade, e este ¢ 0 principal motivo da op¢io. © anacronismo é um “pecado” que 0s historiadores nao devert cometer, mas é preciso atentar para o fato de lidarmos com ele no fay de nossa producao. Isso pode ocorrer durante a construgio de ideias, at gumentos e projetos, durante a leitura das fontes e o desenvolvimento dae problematizagdes, comparacoes e anilises ou ainda durante a elaborags dos textos e das (re)leituras deles. Enfim, convivemos diuturna e intiny mente com nosso inimigo e somos responséveis em muitos casos pé seu éxito. Um dos procedimentos mais importantes de nosso trabalho ao mesmo tempo, um dos mais propensos & produgao de anacronisn & 0 emprego de conceitos, categorias analiticas e modelos teéricos. fi procedimento nao é um mal moderno, é bom ressaltar, mas foi op@ desenvolvida também no passado. ‘Um dos caminhos historiogréficos pelos quais devemos passat ii cessariamente ¢ 0 que valorizaas historicidades dos conceitos, categor ii teorias. Com isso, quero ressaltar a imprescindibilidade de considerari i te at mundo ibero. cada um deles no tempo ena época em que foram criados e aplicados, asi iaeesaae Ueto rss como nos tempos e épocas posteriores em que foram redefinidos, relitl e associados a outras perspectivas. Como produtos histéricos e cultury insisto, categorias/conceitos nao sio acabados e imutaveis, mas imper {el e faliveis, assim como Thompson definiua “légica historica”?” Eles tend a ser sempre mais pobres que as realidades nas quais aparecem ou s¢l as quais so aplicados. ~americano; cor” e “condigio” (Génesis, 1) no pode ter rante, Ai, Deus aparece, fundame! separando as trevas da luz, distinguindo o dia as ag terras, criando as plantas ¢ os animais “segundo as suas expec! dando-lhes nomes distintos, ordenando as coisas umas para as 4 (qerva para os animais, estes ¢ os frutos para os homeris, o homeny a mulher, um para 0 outro eambos para Deus). Econcluiu mais 4 frente: “esta pré-compreensao da sociedade coma um todo ordenada de partes auténomas € desiguais constitui a moldura explicativa do modo de ser das estruturas institucionais modernas, tant metropolitanas como coloniais.”** ‘A distingao entre os varios elem modernas ibero-americanas ¢ a hierarquizacao deles foram expressas, NG Ambito geral, por meio das “grandes” categorias operadas generalizadi= mente principalmente por autoridades e administradores. Imbuido desie espirito, por exemplo, é que em 1726, o rei Dom Joao V escreveu 20 gove nador da Capitania de Minas Gerais, Dom Lourengo de Almeida. Na car © monarca explicitava sua intengéo de garantir que a administragao di regio tao importante estivesse em maos de gente “de limpo nascimento"s que, no contexto, parecia ser referéncia alhomens brancos, cuja “qualidade” se optnha ao “defeito” (de sangue) de ser mulato (ou pardo). A ordem real entretanto, representava mais que impor a primazia dos homens de “limped nascimento”. Na verdade, tratava-se, ao mesmo tempo, de discurso ql indiretamente, posicionava-se de forma contréria ao que vinha ocorrend na regiao, isto é, a governanga exercida por gente destituida da “qualidad| pretendida pelo monarca. Assim, determinou Dom Joao v, entos que conformavamas sociedades [i] que sendo uma grande parte das familias dos seus moradores limpo nascimento era justo que somente as pessoas que tiverem etl qualidade fossem eleitas para servirem de vereadores e andarem governanca porque se a falta de pessoas capazes fez.a principio nece sariaa tolerancia de admitir os. mulatos nos exercicios daqueles: oficlat hhoje tem cessado esta rao se fazindecoroso que Ihes sejam ocupad por pessoas em que haja de semelhante defeito.™* A “qualidade” (assim como a “casta”), no geral, congregava as de7cril de “qualidades” ou “castas”, entre as quais as pessoas ¢ 0S grupos soclil eram distribuidos e As quais eram vinculados. Assim, sob essa categor alargada se abrigavam as “qualidades” ou “castas” especificas, 126 tais cont no Mtulo 1, o termo “qua- io Antonio de Nebrija, em set ale pan la axcle 14952), acrescentava: ‘Calidad o acidente. a nia Por ack lente, entenda-se natureza exterior de um individuo Hib ut até mesmo “dignidade”, Em carta de 1454, 0 re @ n Afonso V, “O Africano”,doavaao aan Pay ; El bye rene dom Anrique meu muito prezado ¢ amado tio pers a Costas abras rios ylhas mares pescarias que elle pe catiees escobriu des o cabo ate o mais longe logar a que peer ravella hou chegarem e conquistarem per gueray le paz [..] asy por noso servigo e bem da dicta eSctae The damos e outor, ie -gamos toda juridigao ci degnidade e condisgo que i ee a civell sobre quaesquer d’estado e Alguns atios mais tarde, em 1471 Afonso regulamentou 0 trato Al ilos mais tarde, em 1470, Dom Afe £70 -gulamentou o trat [..J por nosso servi ‘go e pello de nossos rr mento dos regnos e béa ordem e avia- ai aa trautos de Ginee detriminamos ae ora (erifiaineetdeca es em privilegio ou licenca algiia que aatee -m daqui em diamte dem: ou pesoas parteculares de. 108 a quaesquer lugares . quallquer estado e condi i os di mndicam que ss es ae Nossos trautos e terras de guinea poderem aS ti ee emdam as dictas cousas nem cada hiia dellas (.]2" Bi edica, Prk E pee ae ex Lusitanico in latinum sermonem, de in 80, de 1562, aparece a m i i : a palavra “qualidade”, Jé cae cna peas + Jd em sua 2° edicao, di “ Pal igo, de 1592, F > cece da anterior, E Dom Raphael Bluten ae rio Portuguez e Latino, de 1712, d ccidte i » » define: “CALIDAD! idet gq pe Propriedade de huma cousa. Qualitas, atis.”™° ayes Bp ranentato produzida no Novo Mundo ou na relativa » a categoria aparece desde o sécul a 4 lo XVI. Em 1503 ii ha : 1 emitiu documento sobre a liberdade e nao servidac ae i ‘spanhola e Terra Firme, no qual escreveu: eae mas restrita Doiia Ysabel por gra ica de Dios y por quanto el Rey mi sei Isracion que mandamos dara dn ey ils de Ovando lor mayor de Alcantara al tiempo que fue por nuestro ceyetiase nador 127 que del dia que esti ‘los dichos yndios que talent nos dela dichs q i Mag ipecin e Tr de cates qslae travajen en sus hedeficos e860 le, exerita em portugues, que relterava a proibi je Portugal vai granjeriase mantennentospaalosxpianoaVelnos e100 MPM MotHoe Unerodusin nes aldeias indig Peroesttvelro dela dicha ysla ¢ fagays pagar a cada vno el dia que trabajere el Jo 1 que deveriam ser escolhidos entre “ Penteser tes nena se qtenimmiento que segund la calidad de la tirra e de la person MMMM ree? cm secuida, drmaris Seculares cazados, E del oficio vos pareciere que deviere aver mandado a cada cacique que » em seguida, dispunha: tenga cargo que cierto numero de los dichos yndios para que los ha yra trabajar donde fuere menester (41 Hey p' bem t : ; Bus aie a ee as pessoas de qualquer calidade, E cddicad Peeve delles coms ca desta ley touxerem gents da ses os lelles como catiuos, ou ome , 01 08 uenderem emcorrad or dr coi : meorrad nas penas or i om em as ordenagoesimcorrrem poe fendem pessoas Liures [... SE © indio Guaman Poma de Ayala, em livro finalizado em 1615, {> rganizar os figis dentro das igrejas do Pert fazia entre eles e sobre a distingao que cad A determinaga ‘minagao real estendia-se a todos, , Sem excecao, Independen- inte da “qualidade” “ e da “condigao” (livres, li as : es, libertos e escravi ais escravizadores de indios e de acordo com a ord: pi idos caso a desobedecessem. Se Ja Ambrésio Fern: andes Brandao, em 16) i a , 18, fazia seu persona; ; pe peers que denotavam claramente eee 2 : iva f ee : Hees gentes. Intrigado pelas diferencas fenotipicas nuiné e os do Brasil, Alviano elencava opinides que formava sobre 0 modo de o sobre a diferenciagao que se um portaya. te, en la mano derecha de las di Juego el teniente, administrade kn las iglesias de este reino se asien! chas iglesias, primero el corsegidor protector, y juez, ¥ esc mayor, y regidores, y fiscal elencomendeto y los caballeros de la enco viejo, ycaciques principales y segundas personas, Jos principales, asimismo las sefioras, mujeres Py ip Cnformela calidad en todo el reino es ley y orden. Nao apenas 0 discurso de ordem e distingio apareciana Guaman Poma, mas esses valores haviam sido incorporados por ele, 0 (il se torna claro ao longo de seu texto. Ainda que se julgasse descendente d “grandes sefiores y reyes” e filho de “cépac apo que ¢$ principe y senor ta provincia delos lucanasandamarcas y circamarcasy sorasy de la ciud de Guamanga y de su jurisdiccién de Santa Catalina de Chupas, prine! d Melos chinchaysuyosyy segunda persona del Inga de este reino del Perti ‘pela “cor preta” e pelos cabelos retorcidos, afi - membro da elite, Guaman Poma era um indio ¢ seu fex10 demonsttil paiirmayaias| vandlque quao profundamente a perspectiva ibérica de organizacio e hierarqi socials estava vigorando no inicio do Seiscentos. Paseados os anos, no final do século XVIII, uma legislacso especl obrea tematica entrou em vigor. Tratava-se da Real Cédula de Gracilt Swear (1795), que emergira no seio das Reformas BorbOnicas, © Ht poset bilitaya aos que tivessem méritos su ibano de cabildo, alcaldes ordinarios, algtt Jes de la Santa Madre Iglesia; en la isquiettl mienda, y vecinos cristian ylos hermanos ales y segundis obra do indif ide ou natu reza, e deles se comunicari ; wunicaria aos filho a habitam pela costa africana.” #” a ia [...] € tanto isto assim, que os nossos fle . portugueses que habitam, a aa ee Be houvessem sido por qualidade e Seer omens tempo cor mais baca, em tanto que por ela re uusitania qualquer homem que houvesse andado 'uiné, somente pela cor que levam demudada no rosto.2"* Dra, nesse did i i fe ais ea como ocorria na América espanhola, a pers- et omer ‘qualidade” aparecia colocada claramente ceca pressio dessa classficagio social que, dat ada vez mais usual na documentacao produzida ficientes solicitarem uma “dispensi calidad”, Ao consegui-la, os requerentes eram liberados de seus defell ineluindo os de sangue.™* 129 pessoas nio br f a formula nome+“qualidads a ocorrido muitas vezes. Escrevia-se, por exer fulano preto fo i oma, 0 que ocor cicrana parda, escrava de beltrano; por vezes, confundia-se “qualidade” ¢ i "Andriy Gacibo 18, Entre as testemunhas listadas esta “cor”, como 0 fez Brandénio, ou acrescentava-se a “nagao” do implicado, Mi tiev0 de Divs aerate, de nacidn angola intérprete del y ‘As categorias “cor” e “nacao” serio enfocadas mais & frente BMeiritén Juan de a _ He 45 afios’, “Antonio Monterato eselavo Precocemente,jé em 1454, essa prética aparecia registrada, Nesse | Colegio e intérprete del Ve ae de 50 anos’, “Diego Falupo, eselay, ano, Martim Gil, da chancelaria de Dom Afonso V, passou, em nome do Hancisca, de nacié: nerable Siervo de Dios, de edad de48 afiosly rei, carta de alforria a “Fatima moura natural de terra d ‘Arzique que a0 n angola, esclava de dofia Mariana Bellido, de edad de 0s”, “Franci : presente he nosa cativa teemos por bem e foramo-la e avemos por quite Bf, Be Sesto negra libre, de edad de 60 aiios”, “Francisca eissenta do dicto nosso cativeiro”* Em 1472, em Sevilha, a prioresa do ltd de 50 aos”, “Ig ae intérprete del venerable siervo de Dios, de > “Ignacio de nacién angola, esclavo de C y ‘olegio de la Go- mosteiro de Santa Maria la Real vendeu “una su esclava de color negra parlia de Jestis e interprete del i natural de Guinea, de hedade de veynte e cinco afios, poco mas 0 menos, Pe “Jacinto de Medina nego anette sietvo de Dios, de edad dead que hé nombre Fatyma”" No mesmo ano, “Johan Sanches, mercadon, £5" A “qualida ae ‘ina, negro libre, de edad de 60 afios”, entre varios vesino de Sevilla en la collacién de Santa Cruz” vendeu “un su esclavo ih vir subentendida, cero eer 3 2m alguns dos exemplos listados, canario de color loro, que ha nombre Johan”?! Nesses casos, ajuntavam-se Semnbora® oe os lugar de “negro” ou de “preto” (mais usual no a formula categorias que fundiam caracteres distintos, como 0 religios 1ou de enh ue ak Sse usado em espanhoF*) aparecia o local de ori- (moura, o que podia significar negra ou negro mugulmano ow islamizado tetanto, aes oe > “Yolofo” ou “nacién angola’, por exemplo, da Mauritania; com o passar dos sécullos generalizou-se como negros mu- Em Lima, enn fan gor mula basica: nome+"qualidade”s"condicio” ulmanos ou islamizados no geral) ¢ cor de pele (“color negra” e “color loro", Morena libre ae ento de 1651, ficava declarado: “yo, Juana Bar- que, talvez, tenha sido semelhante & de mulatos™), que se transformavam) ningo Hernande ca ciudad de los Reyes y natural della, hija de t > zy Simona Barba...”; i em “qualidades”: moura, negro e loro. ee --"5 era a testadora ' m. Juana decl: aes ¥ que se definia ‘Com essa formula sendo praticada tanto na escrita quanto na fala Bs rabrada cae ae luna negrita, mi esclava, que nacié en mi cotidiana, como se pode presumir com base na documentagio dos séculos Pris o menos", “Laura Cruz, criolla, que esté en edad de diez aitos XVILe XVII, principalmente, a identificagio, a classificagio e a qualificacio bale registra ae Carabalt, mi esclava, casada con Alejandro de cada individuo tornavam-se exercicio banal, cotidiano, generalizado ¢ de casta bran cnn sen80 POF mi esclava una negra nombrada profundamente incorporado pela populagio como um todo. Antes, porém, Wri casta bran, casada” ¢ “tengo por mi esclava una negra nombrada cla apareceu, por exemplo, nos testamentos do Chile, no final do século re crete yy merepenen a cae oe cy XVI. Assim, em 1596, uma testadora deixou registrado: “yo, Catalina, ‘na Bahia, eee Portuguesa o quadro era semelhante. Em india, natural que soy de la ciudad de Angol, residente en esta ciudad de Erica, reco rae oe ae a Santo Oficio, Heitor Furtado de Santiago de Chile..”. Declarava ainda que “me dejé el dicho mi amo [0 de trinte anos” cgi, crSt° Velho, natural desta cidade, de capitao Juan Baraona, com quem tivera um filho natural] un indio vie) comunhao oe ee © pecado de nao i A ager . ¢ havia sido publi Mamado Juan macho, y una vieja llamada Beatriz...”*° Em outro desses Meas ais publicada cont “ . nha e destrufdo as |: documentos, datado de 1602, escreveu-se: “yo, don Diego Pichunpangul, Seemann as lavouras de um certo Manuel Ferreira, cacique principal que soy del pueblo de Lora, de la encomienda del capitin crime, confessava, levara 4 Pedro Gémez Pardo, vecino encomendero desta ciudad de Santiago...”."! Era desnecessério, nesse caso, explicitar a “qualidade”, automaticamente vinculada ao sobrenome e aos titulos - don e cacique principal. [..1 consigo a Bastiao, n cor } negro de Guind, e & Anténio Molec, Simio Egico, Pedro Ongieo, oe Ongico, Joane Ongico, Duarte Angola, CHa da Guiné, Francisco da Terra e Munuiel di 130 19 a cunhado, que hi No século seguinte, essa formu! os indios eram chi alidades” que serdo discutidas no 1618, Cristévio da Rocha indo: antes. Até essa €poca, da terra” ou, ainda, “negros tapuias”, “qui capitulo seguinte, Em carta escrita em 1617 owem informava ao governador-geral do Brasil, Dom Luis de Souza, o sept Conde do Prado, sobre os negros (indios) do sertio, uns que aldeia de padres franciscanos, outros que € tum indio que ele recomendava ser preso em Recife. Escrevia, ainda: [..] da aldea de una uenha ho manissa pringipal con outros since qhe aldea que tem mais de duzentos frecheiros. a uierad ueo hi negro por nome Sapucaia pode uir con a sua gen! he bom indio e hos mais p*a contia donde parecer bem ao sor g! No inicio do século XVIII, na Capitania do Ceard, houve conc de patentes, titulos e honrarias, al grupos indigenas da regio, que vivenciara conquista dos sertées € contra os indios que ocupavam até essa época uma guer agrac “Dom”, Mesmo com esse “enobreciment explicitada. Assim, em 1708, 0 capitio Thom de nacao Cabedelo, filho do principal Algodao, da ribeira do Cocé” recebeu uma sesmaria de 3 léguas. sua “condi¢o” de livre nao era mencionada, 0 4 {duos brancos. A “nagao”, assim 0”, a “qualidade” deles era se é da Silva Campellim, “ nem forro e, portanto, a pratica quando se tratava de indivi a“casta” ea “raca”, quando aparecem associadas no: a “qualidade” da pessoa, suas procedéncia ¢ crenga religiosa (oud antecedentes), além do fendtipo e da cor de pele, Entret: (owa “casta”, muitas ve brancos parecia capitanear todas essas informagoes € essa p) por todo 0 universo ibero-americano nesse perfodo. Na interiorana Capitania de Gois, em 1781, segundo Gilka de “a preta mina Tomasia nego Visitagao do Santo Oficio da Inquisicao ao Estado do Grio-Paré, entre 1763 e 1769, apareciam, é “India Adriana Segundaves Cazada Com o Indio E a de N. Senhora da Conceigao (4 rimazia gi e citados a Pereyra’? “residente na Freguesi 132 ram “negros de guerra” e sobre intre estes que qui te que ro) ssl |ém de sesmarias, aos “principais” de o territério. O# iados receberam titulos e alguns deles passaram a ser tratados dé eneto do principal Algodila 26 Nao era escravil s registros, detalhavattl anto, a “qualidade” es, principalmente na América espanhola) dos nit ciowa liberdade com sua dona’.”"" Jano livro ocorridl sntre muitos outros confessos denunciad# M1 lteyro terd vinte annos pouco ien a , a ee re dos Indios Custodio daSylva Carpinteyro, ede , pear! io Natural dadita Freguesia deBenfica [Belém do Pard]”;2 ae de Tee Mulata Solteira filhanaturaldelgNacio aeRndea a a Ba pee que foi advogado EValeria Barreta Cafuza ‘vive daSuacustura Erenda Natural Ei a : moradora destacidade a pees yicente EdisseSerdeSinCoentaA nnospoucomaisoumenos"2* i Re oe pee ar Solteira naé Sabe dequem he filha Natural ao 16 Emoradora desta cidade naRua que SeSe; 4 gue adeSanto Antoni ‘aza daRozinha poresteNome bemConhecida”.*” jes Um pee grande de homens africanos de distintas procedéncias 5, io los escravos de Domingos Serrao de Castro, vitvo e natural do ne le também fol DUD) no livro da Visitagao. Eles denunciaram i irio por obrigé-losa atos de sodomia, Entre os queixosos encon- ps, iron Joao Primeiro, de nassaé Mixicongo; Joa Valentim ‘el ee Gracia damesma nas¢a6 todostres Solteiros, EDo- oo ee nassaé cazado com apreta Francisca Ehum destes mais Joze ____; Domingos Manoel Bexi, ; lee n exiga; Florencio ee pee ce Joze; Miguel daCosta todos demesma nas¢ad ngola; Joaé digo da Angola todos Soltei 6 pr 2 reiros Joaé damesma pie icazado Nad Sabe onome da mulher escrauo daFazenda doCabresto igiozos deNoSsaSenhora do Monte doCarmo, Enamesma fazenda pone emquanto uiuos ospretos Joaé Gomes, Domingos ; Affonco + e Pedro; Factual mente Seguirad : 0 : -guirad Osrapazes Florenci mio Moleques denasca6 Angola do Servi Tepe ; erviS eae gi -viSso do Mesmo Engenho [da Outro caso arrolado no livro foi protagonizado por “Raymundo oe Ajudante do Terco dos Auxiliares daCapitania de S. Jose- B70 C pee ComPeoabiar JosephadeBriSsos Natural daCidade ferceyra Morador Aope da Igreja deSam Joaé i destacidade detrinta Ee i ae e quatro annos deidade”, Ele denunci ria a “India chamada Sabina’, i : eeu , que havia elaborado “humabebid: joardente” para a mulher dele, fa: "deseo. , fazendo-a beber “napreSen: P j | : ga deSeo- peonic ELuis de Auilla, Eamay delles Florencia Mamaluca.” E rem. exemplos da formula de identificacao e distineao (nome + “ adie” + contig) Ds os registros explicitam também 0 quanto essas las ¢ a concepgao taxionémica de mundo faziam parte do cotidiano pent ra de pre india ue eri come) je seul rassil Salen, uzebil Jo lugal 133 mas que indicava | dos irmaos (mestigos), além: Jano codicilo de testamento escrito Gerais, em 1758, 0 capitao Jodo de Matos mandava que seus testamen comprassem [..] dous muleques Angollas no Rio de Janeiro por presso que posi nestas Minas ha quem pouco mais ou menos duzentos e sincoentit eis 08 quais entregario a meu sobrinho o Reverendo Padre Man Ribeyro do valle [..] Declaro mais e o mando que se compre oii mulleque da mesma qualidade e pego e que se entregue a Joao de Fa Silva morador nesta villa em caza de Pedro Gonsalvez Chaves 08 qui dois Legados ditos negros deixo pello o amor de Deus [..] "” Na mesma Vila de Sao Jodo del Rei, anos antes, em 1753, iniciow 0 inventario dos bens do doutor Antonio Martins Couto de Meireles, presenga da vitiva e inventariante, Dona Clara Antonio de Vilhena, iniciado a arrolamento, registraram-se doze “tamboretes de encosto das quais so meya duzia se inventario e mandou o doutor provedor que outra meya duzia ficassem para o ornatto da ditta inventariante por 4 essa pecoa de qualidade e distingao [..J”2”! ‘Nos trechos acima ficam evidenciados os diferentes usos que se fai em uma mesma regio época, do termo “qualidade” e como a categor era empregada para identificar e qualificar os individuos, como no « dos moleques de Angola. A “qualidade” de “negro” foi substituida po “Angola”, tomados como sinénimos, assim como a procedéncia, que, nesté caso, tornou-se “qualidade”, Esse tipo de registro aparece com frequéneiii na documentacao produzida no periodo. Em 1733, em Vila Rica, sede dit Capitania de Minas Gerais, os J Juiz. Vereadores e Procurador do Senado da Camara [.] por repeth- das vezes se tenhao posto idittaes para evitar as continuas queixas que 4 este Senado vem das vendagens do Morro como Estes nao querei secar se fas precizo repetillo por este Edital dizendo que toda a pecoat de qualquer qualidade ou condic4o que seja que constar venda no dito Morro publicamente ou oculta assim de molhados como fazenda secit mantimentos a comicio(?) frasqueiras___ Negras de taboleiro ou of que andao na faisqueira para que com esse pretexto vendao incorrerid no bando de Sua Exceléncia que s4o quorenta outavas ___ de conde aco e trés mezes de cadea pois o seu sentido he evitar absolutamente todo o género de vendagens sem rezerva alguma e outrosim incorreri 134 0 tecolhio em. branco |, ens pessoas de qualquer “ayia so no Edital, estavam incluidos n 1% '“1#4e" € “condicao”, como se re. Yam ouro no Morro (um dos q ‘€BrOs e negras escravos ¢ forros, qi ito deste metal em pé) e/ou ana Vila Rica, dos quaig ércio, Este era um problema qu 4S “esenvolviam ali alguma fon favam naquele periodo, o que n® °* ciais da Camara de lq ; Em 1732, por exemplo, o escri a snorme quantidade de da ajuntou a um processo a certidag, a ja Camara, Valentim Ni ' € Segue parcialmente tr; (.hcertifico que revendo o aoe tee " ee ale a folhas trintae ty iene dos bandos de Sua rma he o seguinte// Dom um rezistado d Sua Magestade a Dee wourenso de Almeida do Conselhl ‘Minas do ouro, Fasso saber aos ° 8°Vetnador e Capitam general day respeito as repetidas queixas quit €ste meu bando virem que tendo peel Rica o requerimenta’ ™* ee 0s officiais da Camera que Ihe reprezentavi o gravissi,®°S Moradores delae des do nnn res 70 Fina ecm yt ‘ \uma pessoa as [..] Hey por bem Ee fos ter ey ies do A eae seen econdicam que eco Rio das pedras e C,°° Ire ouro fino Ouro bueno seco de molhado aaj pbk 8h nenhumacastadevendade mesma sorte nenhuma casta de,“ 0 Patticullar como também da aos rancos qualquer género que cae Poderd vender aos negros ou pe oa as ditas Neues ou publ oe dequea pessoa pellas pessoas de seus escravoy ticulares ou vender por ae ‘ el mes de prizdo na cadea desta Vij U!quer genero que seja teré hum quais seram secenta paraa fazeng, © P*88r4 cem oitavas de ouro das villa das quais darao dez.ao deny, "°*! Vinte para a camera desta dita lante se o ouver,2”> No caso, “pessoa de qualquer quali yessoa” € a todas elas estava interdl Me” equivatia« « © " quivalia a “nenhuma casta 4 Vila. “Qualidade’ e “casta! ge goy\ © #580 208 morros proxi. peayen no interior da América iguesa setecentista, assim come Vit) ‘ocorrendo em todo o mundo o-americano. i 138 Ge © modelo de identificagao, de classifien ’ i \ a sil ‘i " ‘Novo Mundo havia se ge “Avariedade da is vi i : desde o século XVIno No} anholas quanto nas portugulesds: a tories fod oc agora alguns Caites, de tanto nas 6reas esP: fol empregado poraul uma wumbis; mais acima vivem os Tapulas tinente, Mlocumental nos demonstra como gente mais simples, de diferentes. natured ‘ Mas ele foi usual também entre a E , crioulos e mestigos Ww. ae a Bee, eet e documentos ce . inci nos testamentos n eam ae eee pa proprios envolvidos. Nee ee ee fi pratica generalizadas nos dominios esp% de formulae de olpiras, Ubirajaras e Amazonas) ntlo (nao tratando dos que comunieam cor 08 Portuguteses), que se atavia com joias de ouro, de que hi certas informagées,” p e administradores. incluidos indios, negros: ese pode verificat além delas, vive out : Pai para frente, aplicou-se a palavra “casta” aos varios grupo! dade de histérias amplia- Ms, como se - no exemplo de Gabriel Soares de Sousa, além de insi: anecessit a mn 7 _ F, das Américas, o que corrobora, inion vada, em detrimento das de cunho rupos sociais. Camen Bernand definiu assim o termo: “Le te# iva comparada, em perspecti das, conectadas ‘dem bastar-se em seu localism, désignait les nuances que séparaient les grupes de sangs-mélé, un “onal e nacionalistas e das que Preten le d’entre eux était de condition libre”.”* Alejandro E. Gomes, o4 ci ae Faeha Saat nat ibre o estigma africano nos mundos hispano-atlanticos, recor) “Casta” =e inlos antigos p ir“casta” eescreveu: «Seguin el Diccionario de 7 , nfundiu-se e/ou associou-se ides’ de 1729, ‘castas’ es un término historico usado para calificay Muitas vezes, como venho indicando, sijou.se essas duas categoria’ lad’ del individuo. y también asociado a personas irracionales," qualidade” e“casta’” €,e ee empregada em castelha ag luman Poma de Ayala, em 1615, por seu turno, observou: qual ; “casta” tam bulario de > ea “nacko”, A palavra “C Vocabulai Saga’ ea “nagio Ps peda conquista do Novo Mundo. No Ae ane al Gomo los negros de los corregidores y de encomenderos son muy ao 2 atl a arece da seguinte forma: ‘Casta buen yuo ap: ; esr definiddl / “atrevidos, que fuerzan a las indias casadas 0 doncellas, y los dichos Le aie an ‘termo um adjetivo: “buen” e“casta’ 060% us amos lo consiente y con color de ella tiene muchos hijos mulatos we 28 Ve-se agregado 20 eferindo-se a animais irracionais Ymulatas [..] Como las dichas mulatas que paren mulato cuartern o oe ehoa linhagem”, provavelmente 1 alizado nessa Epo! Ibaigo cuarterdn, que ya aquel tiene todo de espaiiol, sola ji aoe Poe ee etree pode nao ter se eae pelo menos 1 iene de casta negro; que por la ley de derecho ey ican aes libre ee ee ie creem ir idoleinc ene BC Peal el caballero como caballero, el pechero como pechero, e em portug aa Nao obstante, seu emprego atta do soni VL Mndlio pechero, el principal como principal, el principe como princi- documentagao oficial anhéis das primeiras décadas exemplo, scTS Pe. El hijo de mulato en la negra es esclavo fino, que toca la mitad de com os imigrantes oe ‘Zamérraga, bispo do México, por niges qd lero cautivo a buena razén;a esta casta se a quieren ahorrar, se la ha Dom fray Juan de ador Carlos V, relatando-lhe as ew ae dar parte ahorrarle la mitad y la mitad es suya. Que esto es la ley veu, em 1540, para 0 IPI om casos de perversoes explicit ialmett Pita: hijo de la cautiva mulata y el hombre mulato es cautivo fino. Ee ele impusera a clérigos ae sy alld tengo desterrados otros, a ane Ii pura Justicia y ley de cristiano" suacarta, Assim, a ‘legrias, celeratisimo, Se eee illo cronista do Peru seiscentista jé registrava as diferentes castas te,aun Brancisc ‘ellevé cuatro indias mozas en hébit en esta casa, bud ham a populagio do Vice-Reino. Outro que também fez isso flagiciosisimo, ee su posada y camara en Sevilla, esta sevilhano™! Alonso de Sandoval. Entre Lima e Cartagena de, quien Se ee crédito que yo."” ‘a uum tratado sobre escravidao ¢ sobre os povos negros digo de 15 wfrieano, in \ el indio como lua ar 62.do Dictionarium latino Poucos anos depois, na ¢ jerdntmo Cardoso, o vocal turaleza, policfa sagrada i profana, i vr vice versa lustanico ladinumi de Eobolen,progentet, el disc Iles dstadoslosesiopes, mals repeeta assim em Lingua postgel ATT ol wansociagt lute,om 161, finalizandlo-0 Fimbora nio se agrepaase UA XVI, Gabriel Soar " Nada hi, IReforindo. descendéncia biologics Hos neg afirmaya entre “casta” e “nagiio”: ’ t ", 7 ‘i la An si n u ha) suy Y del Reyno de Benir, tengo ciert y fidedigna informacion que muchas [Me todos los negros y ae negras de esta casta y generacidn, cuyos maridos son también negros, que se cogieren de dichos len i " paren los hijos tan blancos, que de puro albos salen cortos de vista y 0 a quien entregarselos, y los nacides: ee con los cabellos plateados: y los hijos destos blancos suelen con variedad: vender la ciudad yembarcar para otras cd Pier a volver a nacer negros, pero todos unos y otros afeminados y para poco) ia vez, traduz; Feet: ¥ que solo sirven de hechizeros.** al, em 1681. O bispo, segundo Boxer, Hehasa0 teria repetido a “declaracao de q hando nenhum mestizo, E mais a frente: ao abencoar cada candidato a Jue nao ordenaria e nao estava mulato ou pessoa dessas castas (de sangue De Loanda vienen de ordinario estas castas: Angolas, Congos 0 Ma- nicongos, que es lo mesmo: Angicos, Monxiolos y Malembas; todas 4 Tas cuales castas, y otras que también en poco numero, vienen aunque Du: entre si son diversas, suelen de ordinario ser cada una general ad in- vincem entre si, principalmente la Angola, la cual casi todas essotras naciones entienden. Son los negros destas castas los de menor valor y ‘menor suerte, los mas innutiles y para poco de todas essotras naciones) los mas expuestos a enfermedades, que menos las resisten, pusilinimes de corazén y que mas facilmente mueren.2™ Hinte 0 século XVII, o emprego do vocébulo jé era corriqueiro, do em espanhol : vo disso, além de sua freq eae eas luéncia maior ou menor nos documentos, Porescrito, quanto nas i nda nas falas cotidianas, é presumivel, A Ee goria “casta”, como se viu no bando de Dom Lourenco de Al- itp transcrito acima, servia para designar coisas e Pessoas (e animai: ). Embora talvez nao tivesse uso tio corriqueiro no Brasil quanto 5 ido na América espanhola, o termo integraya o léxico do on i linas Gerais no Setecentos, Em relagao a essa centuria, Ae Le iM ee Resende acusa ter encontrado a expressdo earn da ae ‘ E : i sor ae i ee de pardquia quanto nos relatérios das Anos mais tarde, em torno de 1751, Dom Anténio Rolim de Mo Emaclor da Capitania de Mato Grosso, escreveun sobre a popula. a @arraiais da regiao, ressaltando que no havia “mais que dine, ceils a a : Milo audios edefendt-os dos credorese das otra Mais ao sul do continente, na regio do Rio da Peay =o jue ali pe para explorar AS Oportunidades de comércio ca de ‘castas”, de ext andnimo, publicado pela primeira Hise dt riqueza dos campos platinos, € dos couros que se Preparavam Na América portuguesa, nessas primeiras décadas do século XVII, © termo aparece associado aos indios. Em 1618, o ex-capitio-mor da Ca- pitania do Cearé, Martim Soares Moreno, na época jé retornado a Lisboa, escrevia ao rei Felipe III da Espana (II de Portugal) suplicando-lhe mercés como recompensa dos servicos prestados no Brasil. Para tanto, relatava 0 que havia realizado. No ano de 1611 cheguei ao Cearé com seis homens em minha compa nhia e um clérigo [...] No dito ano fiz pazes com trés castas de taputias ali vizinhos e por meio deles tive novas do Maranhao |... Na mesma época, o franciscano frei Vicente do Salvador também empregou a categoria “casta’, indicando igualmente a variedade delas entre os Tapuias. Segundo frei Vicente, que finalizou a sua Histéria do Brazil em 1627, 0 (uJ que de presente vemos é que todos sao de cor castanha, e sem barba, e s6 se destinguem em serem huns mais barbaros, que outros { posto que todos 0 s40 assaz/, Os mais barbaros se chamio in genere Tapuhias, dos quaes ha muitas castas de diversos nomes, de diversas lingoas, e inimigos huns dos outros. 138 na regio de Montevidéu, comércio legal e para o contrabando: brasileiro). O autor anénimo escreveu: Bra, pues, consiguiente a este abandono, que, corriendo por toda Is tierra la fama de este tesoro, acudiesen gentes de muchas castas esquilmar esta heredad a la cual tenia derecho todo el que careciei# de conciencia" “Qualidade” e “casta” haviam sido incorporadas ao léxico do Novo Mundo e diante da enorme e diversificada populagao americana foram evocados talvez muito mais intensamente que na Peninsula Ibérica, anterior e posteriormente as conquistas. Juntamente com elas outras duas “grandes” categorias povoaram, como ja pude indicar, os documentos produzidos, a imagens elaboradas (sobre algum suporte concreto € também no imaginiria coletivo) e as falas do cotidiano: “raga” e “nagao”. Nao € demais insist que se tratava de categorias/conceitos j existentes e transpostes para @ Novo Mundo, onde encontraram solo fertilissimo para se reproduzirem e assumirem dimensdes e contornos inéditos até entao. “Raga” Em diciondrios antigos de portugués e de espanhol 0 termo “ragil” aparecia, inicial e exclusivamente, em expressio composta; “raga de sol grafado com “g” nas duas linguas. Nao se explicava o significado da expre so (eram vocabuldrios portugués-latim e espanhol-latim), mas se traduyl para o latim como “solis radius” ou “radius solis”, 0 que nos leva a infer! que se referiam ao raio de sol. Em espanhol, o termo ainda aparecia asia ciado em “raga del patio”, isto é, tipo de pano, provavelmente em referén a raio, fio, fiada ou listra especifica do tecido. Essas definigdes apareciatt no Vocabulario espafiol-latino, de Elio Antonio de Nebrija: “Raga del 4 radius solis per rimam” e “Raca del paito. panni raritas”.* Na lingua lus tana a primeira expresso apareceu apenas em 1562, no Hieronymi Cardi Lamacensis Dictionarium ex Lusitanico in latinum sermonem: “raga do st solis radius??? Esse significado se repetiu nas edigdes de 1570, 1592, 160) 1613, 1619, 1630, 1677 e 1694 do Dictionarium, Continuando no ambito de diciondrios ¢ léxicos antigos, ve): como 0 yocabulo foi apresentado, Ainda no aéeulo XVII, “raga” ¢ % foram ineluidos no famoso dielonarie de Govarruyi , cuja primeira edighe ados foram aa RAZA, la casta de cavallos ind que sean conocidos; raza en et its hilos de la trama, Parace averse mu mgua Toscana vale hilo, y la razza en lesigual; raza en los linages se toma en mala parte, tener alguna raza de Moro, 0 Judio.”2° “Raza” era, entao, 0 vocdbulo lo para identificar e julgar pejorativamente a origem moura ou judia dividuos e de linhagens biolégicas. Parece ter sido esse, inclusive, o do empregado pelo célebre poeta espanhol do século XVII, Francisco Juevedo, no livro Historia de la vida del Buscén llamado don Pablos, iplo de vagamundos y espejo de tacafios, finalizado em torno de 1620. '. Quevedo, em uma passagem de sua novela picaresca: Llegé el dia y sali en uno como caballo, mejor dijera en un cofre vivo, que no anduvo en peores pasos Roberto el diablo, segiin andaba él, Era rucié, y rodado el que iba encima por lo que caia en todo. La edad ho hay que tratar, biznietos tenia en tahonas. De su raza no sé més de que sospecho era de judio segtin era medroso y desdichado. Iban tras milos demas nifios todos aderezados.*”” him lingua Portuguesa, aparentemente, a palayra demorou um pouco ‘ser incluida em um diciondrio, Foi no inicio do século XVIMT queela tuno Vocabulario Portugueze Latino, le D. Raphael Bluteau, que definiu sta”, depois, “Rasa, ou Raza” de maneira semelhante & espanhola: Diz-se das especies de alguns animaes, como cavallos, cies, & c. Que- rem que Raga se derive de Radix, em Portuguez Raiz, Genus, eris. Neut. Vid. Casta. (Onde no tempo de agora ha gentil Raga de cavallos, ce ae ee 1. na Geograph. no fim pag 3. col. 1.) (He certo, que a " Benerosa Raca dos cavallos. Cunha, Hist. Dos Bi is ete: ispos de Lisboa, part. Rasa, Fallando em geracées, se toma sempre em ma parte. Ter Raga (tem b mais nada) val o mesmo, que ter Raga de Mouro, ou Judeo. (Procurar- Seha, que os servidores da Misericordia nao tenhao Raca. Compromisso da Misericordia, pag, 26. yers,)?"" Rasa, ou Raza, Certa casta de a " . panno de la, de que ha diferentes espe- eles, como Raw entrapada, Raza de Montalvao, Rasa de nome, a Muyto ostreyta, He yronta, : » dera-se em espanhol a de- ja), © que iio inelitia, ob: inferir que, até o século 0 marcar a desqualificagao de origem (inclusive 1 infecto” e talvez em alguma medida, do “defeito mecinico”) tenha sido “raca/raza”, estendendo-se sua aplicagao a animais irracionais. No século seguinte, possivelmente pela menor presenga e pela memotia menos prd- xima de mouros e de judeus nas Américas e pelo aumento generalizado de mesticos, 0 termo tenha perdido vigor e sentido cultural, passando a intensificar-se 0 uso de “casta” e de “qualidade”, que se aplicavam mais adequadamente a maioria dos habitantes. O sentido pejorativo de “raza” é, portanto, bastante antigo. Embora no seja tao comum encontrar 0 termo empregado nos documentos pro- duzidos nas Américas espanhola e portuguesa ou nos que tratavam delas, pode-se afirmar que essa nogio depreciativa estendeu-se ao continente, Alejandro Goméz lembra o caraquenho franciscano frei Juan Antonio de Navarrete, que no final do século XVIII considerara os pardos “[...] la raza mAs fea y abominable, y atin extraordindria.”" Em 1776, a Pragmdtica Sancién para evitar el abuso de contraer matrimonios desiguales, ordenada pelo rei espanhol Carlos III, “El Politico”, e adaptada no México, em 1778, A realidade das Indias, excluia da normatizagao matrimonial “mulatos, negros, coyotes e individuos de castas y razas semejantes tenidos y reputa: dos publicamente por tales”. As adaptagées de 1778 ocorreram “Teniendo presente que los mismos y mayores perjudiciales efectos se causan de este abuso en mis reynos y dominios de las Indias por su extensién, diversidad de clases y castas de sus habitantes y por varias causas que no concurren en Espaiia’." Na realidade, o mundo hispano-americano (€ oluso-americano também) desse periodo encontrava-se profundamente marcado pelas mes: clas entre “qualidades” e “castas”, além de solidamente constituido sobre praticas de concubinato e mancebia. Isso deve ter representado barreira concreta para a validagdo da cédula real no cotidiano dos siiditos de Carlos IIL, o que deve ter promovido as excecdes. Como ja disse acima, 0 emprego do termo “raza/raca” nao foi tao comum como “calidad/qualidade” ou “casta”. Entretanto, na historiografia dos séculos XIX e XX, e na mais recente ha imimeros casos de aplicagao anacrOnica do conceito “raza/raga” a ambientes nos quais ele nao aparecii originalmente. Mais do que isso, 0 conceito inserido, quase sempre, foi 0 que se constituiu a partir de nogées racialistas, evolucionistas e eugénicay inexistentes ou irrelevantes antes do Oitocentos. A introjecao dessa versiia 142 jenu de Acosta, p ‘atunlunas” ~ “genus hominum agreste” tura’. Evidentemente, a versio em espanhol é muito f illada que a original. Dessa forma, 6 preciso atentar para © 4 posteriori de textos e contextos anteriores que no con! iele momento.! Cabe aqui uma répida digresséo, mesmo nao sendo este tema ta Ieitura cientifica e intelectual dos séculos XIX, XX e XX] os obj ‘a deste texto. Entretanto, sua importancia é evidentee estd an Beedimentos metodoldgicos que também motivaram este ofa nas tiltimas décadas varias vozes tenham se levantado itencao do uso de “raga” como um conceito legitimo e correla manidades e para as ciéncias bioldgicas,2" é impossivel e ineorieh lar seu fim e seu banimento de nossos procedimentos cientifie #60 vocabulério cotidiano, Independentemente de ae que nao mais se aceita nas éreas cientificas a divi luizada dos seres humanos em ragas, trata-se de conceito que tem yer prego m outras areas, como em dimensoes da Politica (, colt § 8, partidos politicos, movimentos sociais, ONGs, associa Be i Inlos civis ¢ religiosos) e do cotidiano. “Raga” é ca de a alse pitemente evocada e ¢ termo amplamente empregado no dia ; dla hilhoes de pessoas, nao obstante toda a argumentacao contraria ye desenvolvendo ha anos no campo das humanidades e as “ Ay irias 4 existéncia bioldgica das varias “ragas”, produzidas : Tyan Pesquisas hoje é escolha cada vez menos sustentavel e Ricans foma-lo como objeto d sé mi ij le estudos & opgio absolutamente legitima, mensio, nao obstante a palavra e seu uso depreciativo Ji extativem: ri sua inadequagio, isdo ea classificagio eo Renee nossa impoténcia no sentido de imprimir ; te mu ingas mais Profundas ao imaginario, as mentalidades, ‘umes € a0 cotidiano, Essa dimensiio de nossa fragilidade é aspecto antissimo em nossa reflexao, pois norteia diseurson @ priticas na de estratégias de producio cientifien como | z snl | agao politico-cultural, ad (Os significados atribuidos no Novo Mi fossem pejorativos ¢ acusas culo XXe cans seguem existindo até hoje, Diserissinegto edatqtlficeeda no passado e racismo e racialismo nos tempos mais recentes slo coisas semelhantes, mas nao sdo a mesma coisa. Alids, “castas” e “qualidades’ foram ferramentas de distingao dos grupos sociais muito mais complexas, detalhadas e proximas da realidade vivenciada pelas populagdes americana do queas teorias raciais e racialistas produzidas nos tempos mais recentes, Nao se devem confundir essas realidades histéricas nem as categorias @ os conceitos produzidos para explicd-las e analisé-las ou julgé-las. Nio é procedimento correto, mas absolutamente anacrénico projetar sobre @ passado ibero-americano, entre os séculos XVI e XVIIL, o racialismo e @ racismo inyentados no século XIX. Os usos dos conceitos/categorias, que foram se alterando e agregando novos significados ao longo dos séculos, conformaram a dinamica linguis- tica no mundo ibero-americano (como ocorreu em outras realidades) @ expressaram as novas sociedades af organizadas, os povos e culturas que se desenvolveram e as dinamicas de mesticagens bioldgicas e culturais. processadas. Novos vocabulérios conformaram-se, ecoando as novas rea lidades surgidas do contato entre tantas e tao distintas culturas, ocorridos xemplo. Tratava-se ainda da filiagao ou ancestralidade religiosa, tall em meio a conflitos, negociagdes, acordos, conveniéncias, prazeres, con: 9 “nagdo de negros tida e havida entre eles por judeus” (capitio Andie tingéncias e acasos também. Nao reinventar esse universo a posteriori sob. ves d'Almada, 1594, referindo-se aos negros que moravam “em toda a égide de conceitos estranhos a ele é resguardar, entao, as historicidades terra dos Jalofos, Barbacins, e Mandingas”)"” e “nagao de Mouros dos acontecimentos e esse é um dos procedimentos que justifica o estudo bios desta casta Naiteas” (Diogo do Couto, c. 1602-1628),"* por exempla, da formagio e dos usos histéricos do léxico das mestigagens associadas dy A categoria “nagao” parece, no entanto, ter sido mais usualmente formas de trabalho, o que se busca aqui. jeada aos escravos ¢ libertos ~ indios, inclusive e primeiramente, no ia de Sant Jaume dos negros Algerics eescravos de Barcelona, dé “documentacidn notarial, al menos en la de la Barcelona tardome- nostra nation” (Aluise de cha damosto/Luis de Cadamosta, erindo-se ao consul de Veneza em Portugal);” “naciones” de “e de “negros” e “india” e “naciones” “ ‘mezcladas de todas maneras” Garcilaso de la Vega, 1609);** “nagdo courano” (testamento, Mina# ;, 1739); “nago mina” (testamento, Minas Gerais, 1745);!!” "ile barbara, a que chamam Ubirajaras” (Gabriel Soares de Sousa, 158% indo-se a esses indios que viviam no “sertéo da Bahia, além do rio de cisco”); “nacion Caribes” (Antonio Vazquez de Espinosa, 162 o da América portuguesa. Entre os escravos e forros, além dos indiowy tegoria foi mais frequentemente empregada aos provenientes da Africa, tanto, em crénicas, relatos, historias e mesmo em documentos adm itrativos escritos no século XV e nas primeiras décadas do século XVI bre regides ¢ povos da Africa, assim como nos que foram escritos sobre love Mundo, a partir do fim do século XV e durante o Quinhentos, ge= ilmente, nao se empregou a categoria “na¢ao” aos negros africanos."” No. 0 americano, nesse periodo, “na¢ao” foi reservada aos diferentes grupos nativos. Os africanos eram tratados como “negros”, “mouros”, “etiopes”, hegros de Guiné” ou “guineus’, “cafres” ou, ainda, simplesmente como \ngolas, Congos, Guinés, Jolofos, Mandingas, entre outras nomeacoes. “Nagio” ‘Mas retomemos as reflexes sobre as “grandes” categorias empregadas no periodo em foco, Entre as que se associaram a de “qualidade” e, por vezes, se confundiram com ela ou a complementaram, incluia-se “na¢ao", categoria também usada na Europa, na Africa e no Oriente durante 0 perfodo abordado aqui, principalmente pelos conquistadores, adminis- tradores, navegadores e comerciantes. Em 1734, 0 padre jesuita Joseph Cassani, referindo-se aos indios da Luisiania, no Canada, definiu “nagao” assim: “ya hemos dicho en otra parte, que esta voz Nacion en America, 144 145 Aparecem, na documer r indios e dos africanos, mengdes i \ Indias do final do século XVII, 0 ma aplica travart nacion angola, intérprete del venerable cio para mulatos, pardos e mesticos. J4 no caso dos affleanos, recorde se, 0 de Dios, 0 afios”, que declarou: um extenso ¢ detalhado arrolamento de “nagées” fol realizado em Lima e em Cartagena de Indias, no inicio do século XVII. O jesuita Alonso de Sandoval dispensou especial atengao 4 feitura dessa listagem, que continui sendo referéncia para os estudiosos atuais, baseado em sua intensa experiét cia de catequese dos escravos africanos chegados em massa naquele porta, que era “la principal y derecha descarga de todo el mundo”, segundo ele," No século XVIIL a identificacao dos africanos por “nagées” ja se tornara prética arraigada. Na documentacao de cunho serial, como testamentos ¢ it ventarios post-mortem, nos quais apareciam de maneiras diferentes a constela a0 de “qualidades” e“castas” que constitufam as sociedades ibero-americam Além de destacar a “nacido” (“turco”) do convertido, o testemunho, ele pode-se constatar 0 uso regular e ostensivo do termo “nagio”, assim como day indicado como de “nacio angola”, ainda o identificava associando-a repertorio de “nagdes” africanas. Em torno dessas “nagées’, escravos e forri ttalidade” (“negro”) e a “cor” (“olivastro”, que queria dizer, segundo africanos organizaram-se em irmandades e em agremiagées de variada natu) dos tradutores, “color aceitunado o cetrino”, isto é, cor de azeitona ou za, como também ocorria entre os grupos de outras “qualidades’. Preservag i o-esverdeado, de cidra). O testemunho, ainda que traduzido para de identidades antigas e construgao de novas aconteceram em paralelo nese) im e depois retraduzido para a publicagéo em espanhol, nao inspira proceso de organiza¢ao social, no qual se conjugaram, em alguma medidjy ‘onfianca, pois o tipo de informagio se repete em varios outros tes- dependendo dos contextos e das conveniéncias, certas impermeabilidades @ 105 que compéem o alentado volume. Criou-se ai certo repertério blindagens “étnicas” eidentitarias, por um lado, e contatos e mesclas por outta ormagées, que afinal condiziam com as caracteristicas observaveis As “nac6es” eram, portanto, fortes marcas de identificagao e «i iela sociedade e se repetiam em outros documentos, informes e crd- classificagao dos escravos provenientes da Africa e dos que se alforriaratn RRegistros como esse demonstram também que nem sempre houve na Ibero-América, que se nao foram aplicadas majoritariamente a cles now confusao entre as “grandes” categorias de identificacao e que gente primeiros anos das conquistas, parecem ter sido nos séculos seguintei as “qualidades” e “condigdes” sabiam operé-las perfeitamente. As “nagées” desses homens e mulheres deslocados for¢adamente para fim 1681, 0 alcaide ordinario de Caracas, na Provincia de Venezuela, Américas foram nomeadas a partir da regio de origem, do porto ou fe ariou os bens que haviam sido legados em testamento pelo capitao gitio de embarque nos navios negreiros, de mercados e rotas do tréfico, IKo Suarez des Castillo ao convento de Nossa Senhora das Mercés nome dos maiores grupos “étnicos”, das designagdes dadas ainda na Afriet irona del Cacao”) de Caracas. O capitao legara uma fazenda de cacau por grupos inimigos, de fatores linguisticos e dos Cabildos de Naciones,* ‘seus 37 escravos “entre hombres, mujeres y nifios, unos de nacién Além disso, as “novas nagées africanas” constituidas no “exilio”, isto 6, nil Y otros criollos”, segundo Lucas G. Castillo Lara, que apresentou Américas, como propés Joao José Reis, também foram marcas que posal damente o inventario post-mortem em livro dedicado a hist6ria bilitaram organiz-los/organizarem-se e distribut-los/distribuirem-se N08 rcedarios em Caracas. territérios de destino; isso foi valido para eseravos e forros. Essas formas las a “categoria” “nagiio” nao foi exclusiva dos escravos africanos, organizagio a partir das “nagdes” oeor ura ) também a outros grupos sociais, como h " ida terra”, no Tratado da Terra do Bra- Magathiies de Gindayo destacou o Y sabe este testigo que con su ejemplo, amonestaciones y exhortaciones redujo a tres de aquellos negros a nuestra fe, probandoles con razones ‘manifiestas y clarasla falsedad de a secta de Mahoma que seguian. Y sabe queen efecto se bautizaron. No recuerda en particular sus nombres, slo de uno que se llamaba Juan, que ya ha muerto. ¥ recorriendo su memoria recuerda que uno de ellos, olivastro y de nacién negro turco, hoy vive y Ie parece que se llama Francisco y sirve al sehor gobernador que hoy esta en esta plaza, llamado don Juan Pérez. de Guzman, y el negro era muy obstinado y pertinaz.y de los mas convencidos ena secta de Mahoma.”" entre eles, muitos deles, e assim vai crescendo o dao enda ver mais e feam Ini : ‘ ee cores, migos verdadeiros perpetuamente.™ vim »"Nagio”, nesse caso e em hayia sido transformada em “casta”, que Inuava marcando a “qualidade” de cada um dos citados, mesmo que e tenha agregado 0 qualificativo “negro” as indicagdes. Entretanto, filo” de escravo, nos devidos casos, iniciou cada citacdo e isso era inte para se identificar os personagens, Outro autor quinhentista, Gabriel Soares de Sousa, também regi trou a variedade de “nagées” de indios existentes na regiao dominada pelo Rio das Amazonas ¢ em outras areas do Brasil. No Tratado descritive do Brasil em 1587, esse portugues, estabelecido na Bahia, onde era senhor de. engenho de agitcar, deixou registrado: Aeste rio chamao gentio Mar doce por ser um dos maiores do mundo, © qual é muito povoado de gentio doméstico e bem acondicionado, & : segundo a informagio que se deste rio tem, vem do sertio mais de mil 1780, no arraial de Santo Antonio do Itaberava, léguas até 0 mar; pelo qual hd muitas ilhas grandes e pequenas quase todas povoadas de gentio de diferentes nagdes e costumes, e muito dele costuma pelejar com setas ervadas." termo da Vila de Sao Rei, na Comarca do Rios das Mortes, foi transcrito © testamento 1779, no qual se havia registrado: “Thereza Benguella preta forra elto de {f] erdar de meus bens com meus filhos legitimos na parte li que por direito Ihe tocar”.** No testamento do portugues Jeronimo a Guimaraes, escrito em 1780, na Vila de Sao Joao del Rei, estava fado: “he fora e liberta livre de toda escravidao desde que nasceo bra por nome Maria filha da minha escrava Marcella tambem cabra liberdade the dei por ajuste que fiz com hua preta de nascao Mina por ana...” que, provavelmente, era liberta, embora a “condicéo” dela ha sido explicitada>® E em seu testament, feito no arraial de Sao alo, freguesia da Vila de Sabara, na Comarca do Rio das Velhas, em ‘Gnacio Pinto, preto forro, declarou ser natural da Costa da Mina e laclo com “Roza Maria da Conceigao nacao mina e forra”** No caso dos forros, a “nagao” era incorporada a formula de identificagao dividuos, na maioria absoluta das vezes, quando eles eram provenientes jem menor quantidade, quando eram indios, mamelucos e cabras, Uplicando, portanto, salvo excecdes possiveis, aos casos de crioulos, } Zambos e pardos, A preta forra Theresa Teyxeyra de Souza, por iplo, declarou em seu testamento, escrito em 1749, no arraial do Tejuce Vé-se nesse trecho como no primeiro século de ocupagao ibérica of nativos eram tratados como “gentios” e como se lhes viam em sua diver- sidade “étnica” e cultural, distinguindo-os em varias “nagées”. O proprio. Gabriel Soares de Sousa, em outro trecho do liyro, associava os “gentios” 4 “barbaros” e antropéfagos (0 que justificava a guerra justa ea escravizacio) € 05 classificava em uma “nagao” especifica. Segundo ele, [..] pelo sertdo da Bahia além do rio de §. Francisco, partindo com os Amoipiras da outra banda do sertao, vive uma certa nacdo de gente barbara, aque chamam Ubirajaras, que quer dizer “senhores dos pau", 0s quais se nao se entendem na linguagem com outra nenhuma nacig do gentio: tém continua guerra com os Amoipiras, e cativam-se, mi- tam-se, ¢ comem-se uns aos outros sem nenhuma piedade.*® Houve também certa confusao entre a “grande” categoria “nacdo” @ uma outra delas, isto é, a “casta”. Os testamentos e inventérios post-mortent se revelaram fontes particularmente ricas para esse tipo de estudos, dads, insisto, sua abrangéncia de temas abordados, a incluso das varias “qua- lidades” e “castas” e o carater serial desses documentos. Assim, em 1666, [1] sou natural do Reyno do Congo e fui cativa de demeu Senhor “Marfa de Huancayelica, morena libre, de casta folupa, natural de Etiopla Testamenteyro ocoronel Jon6 Teyxeyra de Souza e hoje forra por esmolla en Guinea, residente en esta ciudad de los Reyes del Peri, hija de padres no que odito Senhorimefes// Declaro que fui cazada com Luis Monteyro conocidos”, declarava que lhe devia “Jacinta, de casta folupa, cuatrocientos ___ Passo cabra dequiem niinca tive filo.” pesos de a ocho reales” e “Maria, de casta conga, de cantidad de pesos", Declarava, ainda, que eram seus escravos “Maria, de casta folupa” e “Maria, Sategoria “nagio” (assim como a “raga”) | “nagiio” © o “nacional” produzidos 148 wens, qu ues, de mae torial e politica ‘ i shegou A boca do rio, eram ali 18 ou 20 Por isso mesmo, como ji sublinhel anteri origina: rio ou proveniente de alguma regiio ou de designade “natural” ¢ nao “nacional”, opondo-se, desde essa époed, ao “estrangel- ro”. No emaranhado da “qualidade” e da “casta’, a “nagio” foi mares distintiva, sendo, por vezes, denotativa de gentilidade, de barbarismo & de infidelidade, podendo indicar, também, a supremacia da cristandade, Nesse conjunto de marcas identitarias e taxiondmicas que se confundiam ese complementavam existia ainda a “cor”, categoria empregada desde 08: primeiros tempos da conquista. Mais & frente, completou: A feicio deles ¢ serem pardos, maneira de avermelhados, de bons ros- tos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, hem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas.“* Jana carta apécrifa atribuida a Américo Vespucio, a célebre Mundus na qual se relata a viagem realizada em 1501-1502 &s novas terras juuistadas pelos ibéricos, encontra-se escrito: Cor Noi adunque alli 7. di Agosto del 1501. forgemmo nel lito di quel paese, e rendendo a Iddio massimo quelle maggior grazie [...] La terra ritrovata ci parve non Isola, ma terra ferma: perciocché si estendeva larghissimamente, e non se vedeva termini alcuno, ed era molto fertili, e molto piena di diversi abitatori [.).%° ‘Mas afinal, por que os africanos da Guiné e da Etidpia eram p tos, com cabelos retorcidos, e os naturais do Brasil eram de cor bags (e cabelos corredios)*” se todos habitavam a “térrida zona”, “que 16 continuamente era acompanhada e visitada de raios retos do sol” ¢ q era para “Ptolomeu, Lucano, Averroes, com outros filésofos [...] inabi tavel”?* Essa era a indagagao que movia a curiosidade de Alviano ¢ dk Brand6nio, personagens ja evocados anteriormente. Independentemeiil da explicagao elaborada nos Didlogos das grandezas do Brasil, em 161 fi preocupagao deles era eco de perguntas e comparacdes que vinham se feitas desde os primeiros dias posteriores & chegada dos ibéricos no No Mundo.*” Explicita ¢/ou implicitamente, a cor da pele dos povos nat! do continente conquistado era comparada com a dos conquistado a dos negros da Africa e do Oriente, ressaltando-se as diferengas @, p vezes, semelhancas.“° No Diario de Cristévao Colombo, de 1492, lé-se sobre os “indi: Mais 4 frente, sobre os habitantes das terras, escreveu-se: Questo paese & pit abitato di niuno, che per alcun tempo io abbia veduto, ele genti sono molto dimestiche, e mansuete, non affendono, alcuno, vanno del tutto nude, come la natura le ha partorite, nude nascono, nude poi muoiano: hanno i corpi molto ben formati, e di modo fatti 4 proporzione, che possono meritamente esser detti proporzionati. Il colore ichina alla rossezza, e cid avviene, perché estendo nudi facil- mente sono riarsi dal caldo del Sole: hanno i capelli negri, ma lunghi, € distensi; nel camminare, e ne’ giuochi sono quanto alti, che siano, sommamente destri. Hanno la faccia de bello, e gentile aspecto, mala sanno divenir brutta con un modo incredibile; perciocché la portano tutta forata, cioe le gote, le mascelle, il naso, le labbra, ¢ gli orecchi; né diun solo, ¢ picciol foro, ma di molti, e grandi [..J."6 ‘Muy bien hechos, de muy hermosos cuerpos y muy buenas cars, L cabellos gruesos casi como sedas de cola de caballos, y cortos, cabellos traen por encima de las cejas, salvo unos pocos deiris dl traen largos, que jamas cortan. De ellos se pintan de prieto, y ello dela color de los canarios, ni negros ni blancos, y de ellos se pinlalt blanco, y de ellos de colorado, y de ellos de lo que fallan,.* Duarte Pacheco Pereira, no seu Esmeraldo de Situ Orbis, de 1505, H teproduziu a comparagao que mais tarde instigaria a conversa indiénio e Alviano. O autor seiscentista observou sobre as cores gente da Guiné e do Brasil: _[] 08 homens deste promontério de Lopo Gongalves e toda a outra terra de Gui so aexay Negros, e as outras gentes que jazem além do (que tem © grav do Sol por igual, como os itil brancos) & estas slo as gentes Pero Vaz de Caminha, por seu turno, ha carta que esereveu em 1 relatou o encontro com os habitantes da teria elm que haviain chegade navegadores; de Martim Afonso de Souza e participante da exped desta terra he toda alva; os homés mui bem dispostos, e as molheres mul fermosas, que nam ham nehda inveja as da Rua Nova de Lixboa.”"* Qual significado teria esse “ser alvo” para Lopes de Souza? Alvo em relacio a que € a quem? Em relagao ao que vira em Lisboa mesmo, como se pode imagl- nar, considerando-se a Figura 5, reproduzida no capitulo 2? Em relagiio & cor de pele dos negros de Guiné? Talvez em relagao a cor de pele da propria tripulacao da expedi¢ao, gente que passara tanto tempo sob 0 sol atlanticof A observacao do navegador é ensejo para refletirmos sobre os re= lativismos das percepgdes em relagées de alteridade, quando se compara diferencas e diferentes. E junto com isso, pensarmos mais detidamente sobre as imprecisdes ¢ as variacdes dos conceitos operados por pessoas al mais distintas, no tempo e no espaco, isto é, historicamente. A percepgao ¢ a descrigio das cores de pele dos nativos das América, malgrado as diferengas existentes, variaram de baga e parda a avermelhada, cobre e alva na paleta dos cronistas que, assim, produziram seus retratos, Por vezes, impressiona as semelhancas nas descrigdes sobre povos que ha- bitavam regides muito distanciadas entre si, mas outras vezes, as diferengas é que desconcertam nossa légica contemporanea de compreensao. Diante disso, reafirmo que as historicidades devem ser o nosso “fiel da balanga’, porque podem ser a nossa maior chance de apreensio daquelas realidades em sua composicao complexa e polissémica. As primeiras certificagdes sobre 0 Novo Mundo e seus habitantes ressaltavam (explicita e/ou implicitamente), como jé disse, as diferencas ¢ as semelhangas com relagio ao mundo ibérico e as conquistas que se havia realizado até entao. O olhar dos navegadores era marcado por aquilo que se aproximava e pelo que se distanciava das referéncias portadas por eles, As conquistas e os contatos no continente africano e no Oriente geravam informages que se incorporaram ao imaginario da época e ao que traziam os navegadores que chegaram 4 quarta parte do mundo a partir de 1492, Por exemplo, o cronista portugués Gomes Eanes de Azurara, que terminara de escrever sua célebre Crénica do descobrimento e conquista da Guiné, em 1448, havia registrado no texto uma partilha de cativos mouros, trazidos da Africa pelo capitéo Lancarote, que ocorrera na Vila de Lagos, no Algarve, 152 costa do Brasil, ocorrida entre 1530 e 1532, escreveu em seu didrio: a “gente [eativos}, postos juntamente naquele campo, era um ravilhosa cousa de ver, ca entre cles havia alguns derazoada beanie, formosos ¢ apostos; outros menos brancos, que queriam semelhar pardos; outros tao negros como etidpios, tao desafeigoados, assim nik Caras como nos corpos, que quase parecia, aos homens que os eiguiay davam, que viam as imagens do hemisfério mais baixo.”” Ainda no século XV, os escravos africanos vendidos em Sevilha, cujos 8 jd foram aqui explorados, tivesam a “cor” como um dos elementos identificacao e talvez de avaliacao de seus precos. Assim, foram vendi- Fatyma, uma “esclava de color negra, natural de Guinea”, em 1472, e han, um “esclavo canario de color loro”, no mesmo ano. No inicio do lo seguinfe, continuava-se aplicando a mesma forma de identificagao Sevilha. Em 1511, 0 capitéo Vicente Yafiez Pinzén e sua mulher, Ana ogillo, declaravam possuir “vna esclava de color negra que ha nombre ina de edad de veynte e cinco annos poco mas o menos”. Boa parte do ertbrio ibérico de cores de pele seria transposto para o Novo Mundo ja final do século XV, acentuando-se nas primeiras décadas do Quinhentos. Também no caso africano, as descricdes dos povos feitas por viajan- Se religiosos estrangeiros recorreria a “cor” como forma de distingui-los le marcar sua singularidade e essa pratica, assim como ocorreu no caso lericano, seguiria vigorando durante os séculos seguintes. Um bom mplo € o do frei dominicano Joao dos Santos, nascido em Evora, que lissionou na Africa Oriental, no inicio do século XVII. Frei Joao dos Itos nao deixou de registrar a cor de pele e outros tragos fisicos dos bitantes das regides por onde passou. Palavras dele: “os mais destes \ftes so pretos como azeviche, de cabelo crespo, e'gentis homens, ¢ ais particularmente o sdo os mocarangas que vivem nas terras do Qui- e.” * E no final do século XVI, um crioulo nascido em Cabo Verde, | capitao André Alvares d’Almada, fez comparagées entre as cores dos bitantes da Guiné ea dos naturais do Caribe e do Brasil. Inicialmente le atestou as cores “preta” e “negra” da gente da Africa subsaariana ou da iin, como ele designa toda a regiao, Escreveu ele: “esto estes Arriatas ‘alupos por amansar, e sio muito negros [...]”;** “tornando a estes Fa- lpos, que habitam nesta terra de 12 graus, ao longo do mar, sio negros 183 pretos; chamo pretos [a] muito: aos demats Indios da terra servicais pretos”™ e “os negros Bijagos a além de diferengas entre as tonalidades da’ a distintos grupos, a forma de tratamento dispensada aos habitantes da Guiné - negros - ¢ a cor de pele deles ~ preta. Sobre os habitantes de Serra Leoa, regio, cuja exploracao era pretendida pelo capitao e pelo moradores de Cabo Verde, ele vaticinava: ures”), escreveut ‘este gentio é de ma estatura, bagos de cor;*° como todo {tro gentio; néo deixam crescer nenhum cabelo no corpo senao os da a, porque eles nascendo os arrancam logo” *" Sobre os “caités”: “este tio é da mesma cor baca, ¢ tem a vida e costumes dos Pitiguares, e a a lingua que éem tudo comoa dos Tupinambas, em cujo titulo se dara ito de suas gentilidades.”*" Ja sobre os “guaitacazes”, dizia: “este gentio cor mais branca que os que dissemos atrés, ¢ tem diferente linguagem; [.] parece que por alguns pecados ocultos desta nagio, ainda que gentios, quis o Fazedor das coisas castigé-los de maneira que ficassett mais abatidos que todas as outras nagdes da Guiné, e para iss0, # posso dizer, o no quis mandar fazer por outros sendo pela propel natureza deles, porque ainda que nao so da prépria nacao, quanda aela chegaram jA se entendiam uns aos outros; nao quis que viesset ‘0s Caribes das Indias nem o gentio do Brasil, porque posto que sejait barbaros, sto de diferente cor; nem quis mandar animais ferozes com que os pudera bem castigar, sendo com os de sua propria nature ecor [...]°” Ambrésio Fernandes Brandéo, nos Didlogos das grandezas do Brasil, 18, informava que no Pard ou Rio das Amazonas habitava “gentio de Jo corredio e de cor baca, ¢ que usa da mesma lingua de que usam os il.” J frei Vicente do Salvador, em 1627, afirmava sobre \dios do Brasil, no geral, Nas Américas, as “cores” dos naturais das terras passavam a 8@) registradas nas crénicas, cartas e documentos administrativos. Nem brancos (ibéricos), nem negros (africanos e orientais), eles passavam integrar a paleta universal, mesmo que os termos usados para identi ficar suas “cores” ja existissem. O mais importante aqui, entretanto, constatar que a categoria “cor”, que ja era aplicada como instrumen de identificacio e classificagao sociais antes de 1492, foi incorporada frequentemente usada no Novo Mundo, com as mesmas funcées, desde Of primeiros tempos de ocupagao ibérica. Um verdadeiro caleidoscépio de origens, mesclas biol6gicas e cores de pele na Ibero-América pode, desde © inicio, ter incentivado o uso dessa categoria, que, de resto, néo apent coloriu aquele universo, mas serviu de marcador social de distingao, di vivéncia, de conyivéncia e de mobilidade. a Pero de Magalhies de Gandavo, em 1576, referindo-se as terras dit Capitania de Ihéus, que iam até as da Capitania do Espirito Santo, infor mava que se achava nelas [..] que de presente vemos € que todos sao de cor castanha, e sem barba, e s6 se destinguem em serem huns mais barbaros, que outros / posto que todos o so assaz/. Os mais barbaros se chamao in genere ‘Tapuhias, dos quaes ha muitas castas de diversos nomes, de diversas lingoas, e inimigos huns dos outros.’ B sobre as indias do Brasil, frei Vicente observava que “nas festas em todas de genipapo, de modo que se nao he no cabello parecem de Guiné, e da mesma tinta pinto os maridos”.*** Richard Konetzke compilou algumas descrigdes dos indios das areas holas das Américas, realizadas nos primeiros tempos da ocupacao dos Jos, © autor observou que a “cor” nao foi obstéculo para as relagdes ‘espanhdis e nativas e que as diferengas de cor de pele entre eles eram o consideraveis, sendo que em varios relatos as indias eram descritas como eas ou com tez clara, como se via na Espanha. Aqui também ficaya claro das comparagées realizadas - entre europeus e indios -, embora resul- de operagiio estereotipada, pois generalizava para ambosa pele clara, 0 correspondia lacies ibéricas e americanas. Konetzke escreve [.J uma certa nagéo de gentio que veio do sertao hé cinco ou Heil anos [..] que andam pela Costa, Chamam-se Aimorés, a lingua del é diferente dos outros indios, ningulény O8 entende, so eles tho alton e ‘ tio largos de corpo que quale fai vaflo muito alvos, 1 Cuando bo} habia hecho rumbo més al sur y tém parecer dos outros fi nem povoagies: i del Reuador, se sorprendié de no i. id, sino indigenas de una piel mas onde morem, viven) Mirtir [de Angleria] refiere, | , | 7 . exploracion de las costas del i liveli ye pet bales inclinindome no | exce| 'g0 me escribid haber conocido en pasan la vida al sol”. Segtin [Antonio de] Herrera, en Nicaragua son r distante nueve leguas de Sevilla, a un Caballero “los hombres mas blancos que loros’, y en un memorialal rey se dice ilsco de Ahumada y Fajardo, de familia muy noble, delos naturales de la provincia de Costa Rica: “Es gente de racdn, bien yde padre, y madre blancos, el cual, no obstante este origen, era negro dispuestas y blancas”. En la provincia de Santa Marta “toda es gente atezado, con cabello ensortijado, narices anchas, y otras particulari- junque en unas partes mas quen otras”, Los peruanos dades, que se notan en los Ethiopes: que al contrario, dos hermanos Siemans en general como ‘morenos, pero hay regiones Suyos, Don Isidro, y Don Antonio, eran muy blancos, y de pelo rubio: donde una piel mds blanca realza el atractivo y la gracia de las mujeres, que se decia, que la singularidad de Don Francisco habfa nacido de que “Son estos indios naturales de Chachapoyas los més blancos y agra» la madre, al tiempo de la concepcién, habia fijado con Yehemencia la ciados de todos cuantos yo he visto en las Indias que he andado, y sug imaginativa en una pintura de los Reyes Magos, que teniaala vista: en mujeres fueron tan hermosas [... y asi vemos hoy dia que las indias que su dormitorio:finalmente, que habiéndose casado dicho Don Francisco han quedado deste linaje son en estremo hermosas, porque son blancay con una mujer muy blanca, los hijos salieron mulatos, dispuestas” [Pedro Cieza de Leén].** 31. Siendo hecho constante, como yo no dudo, la perfecta negrara de ae aquel Caballero, es claro, que no puede atribuirse al indigno comercio de su madre con algiin Ethiope. La razén es concluyente, $i fuese ésa Ja causa, no saldria enteramente negro, sino mulato, como salen todos Jéno mapa-muindi de Sebastian Caboto, datado de 1544, ha descrigiia sobre os habitantes da regio do Rio da Prata. Na legenda 7, segundo José Toribio Medina, que a transcreveu na integra, declarou-se: “la gente de li aquellos que tienen padre negro, y madre blanca; Ycomo porla Propia dicha tierra es muy diferente entre si, porque los que viven en las halday causa salieron mulatos los hijos del mismo Don Francisco. j. qué otra i s tros, y los que estén hacia la ribera causa, pues, podemosatribuir el efecto, sino alla vehementeimaginacién Fe is fea eae Bee, edie a dela madre, clavada al tiempo de la concepcién en la pintura del Mago on morenos. a del r ae pantie as “cores” dos naturais chamaram a atengio dos es. nee a ao ce ane ee ee eee laNacon hip, aoe mente gu ene ngee oe se Lee eo se aquella gente intervenga, como causa inmediata, la vehemencia dle la Ethiopico”. Neste tiltimo caso, é muito interessante 0 discurso do fret aquel color en el primero, 0 primeros individuos, se establecié también beneditino Benito Jerénimo Feijoo, de 1742, ainda que se referisse a wit a sncipo eel dues) a om tecomuieescto nein =a * a am materia, me Ser ise a oes eies on era in mds fuera gue dele ren contnncre he a ieee , i ji Ft 7 ae rie blancos”, nascido na Espanha, ao “influxo da imaginagie PN eae eo ed oon ee a i as materna” sobre o feto. As reflexdes do religioso afastavam a possibilidade Age Saeed ee de adultério, pois o tal “Caballero”, nesse caso, sairia mulato, segundo el, ¢, assim, atribuiam a razGes emocionais-psicolégico-religiosas (para usar uma perspectiva de hoje) a geragio de uma crianga negra por parte dé mie e pai brancos. Embora extensa, vale a pena reproduzir a passagei. Os demais tipos on demais “qualidades”, individualmente, tiveram Gor” registrada mais raramente. Sdo incomuns as referéncias A “cor” €a,””' nao obstante serem frequentes as mencdes a “homens brancos””2 ante branca’,!| nas fontes relativas ao Brasil, onde parece ter iscurrira fi i ein : 30, Lo que acabo de discurrir a favor del influyo de la imaginacl sivas a0 Br terna = el feto, basta para que ya mire sin desplacer alguno la opinion, ges de branco, ipepnde paar que atribuye el color Ethiopieo @ iplo, Pero una noticia, que in rancos naturais do Brasil”, poco ha me comunied el Li Leandro de Gueminy ti diferenga entre eles ¢ ov vindos de tiltimos, mi Ad ‘ comum na América espanhola, ent i y ocorresse, como se vil logo acima, en ' De toda forma, é necessario desconfiar dos dados, ima vez que # percep¢io das cores, insisto, é algo intimamente definido em cada con= texto e em comparacio a outras tonalidades e referéncias. Assim, “braneo natural do Brasil” era menos uma “cor” de pele e mais uma indicagao de descendéncia ¢ 0 fato de ser considerado branco nao significava que 0 individuo tinha a mesma cor branca, que, pretensamente, um portugues ‘ou um espanhol teriam, o que, na verdade, era igualmente relativo,’" Como dizia Brandénio, os portugueses que viviam na costa da Guiné, em pouco tempo deixavam de ser alvos e louros ¢ adquiriam cor bagi, A “cor”, portanto, era histérica, produzida no tempo eno > espago. Aleit rd nicas dos séculos XVI, XVII e XVIIL da percepsio social e cultural da “cor”, as particularidades climsticas @ Bits ds soicacto dasaiegcria on ba peed ‘as condicdes materiais de vida definiam-na, e isso nao valia apenas para fendé-la a outras coisas, principalmente a animai s, foi muito com o “branco”. = z = is, alids, pas 10 ‘A “cor” das outras “qualidades” foi algo menos presente na doctl~ mentagao ¢ textos pesquisados, nao obstante, vez por outra, apareceremt indicagdes um tanto raras. Em 1637, em Lima, por exemplo, 0 escrivio © notario publico Alonso Sanchez de Figueroa enfrentou um processo jul dicial motivado por sua “qualidade” de mulato. Um dos testemunhos de processo depés a seu favor declarou: “y sin embargo del color que tient de mulato es muy fiel, legal y de confianga...””” Em Quito, em 1576, alga semelhante jé aparecera em um relato feito por oficiais: ater . E interessante " idades, pois a “cor/color baga”, nas definigdes de Ce ' ose dicionarios espanhéis e portugueses, aproxima-se, ju: amente da llidade “parda”. Entretanto, pelo que se encontra frequent@itiall 8 consultadas a “cor” era baca, enquanto a “qualidade” era adap 80 parece ter prevalecido nas Américas espanhola e port 4 ile Seculo XVIIL, pelo menos. Isso nos faz ressaltar a im orth ‘ aah fundirmos essas categorias - “qualidade” e “cor” — como aa lo obstante a sua complementaridade usual registrad. » como € Hal fa nos doe! 5 racionais, com ‘i pone intima aproximagao dos mesticos (v. t.), quando se cunhar termos que os designassem (mulato, cabra, lobo, co) fe bo). Como ser vera no capitulo 5, nao foi nada incomum, erne, das conquistas americanas, h I ° mesmo an- a “animalizaco” desse ti . a s ipo humano e as. Bes oo de mescla, mistura ou hibridagéo provinham do univer: Sin ne ear ae : i‘ ie ou citialia, além da ideia recorrente de esterilidade dog y jumanos.*” Entretanto, nao : , nao apenas dos mesticos (v, t) f : ‘ados. Aos indios e negros também foram dispensadas descricdes 'Ghagoes que se inscreviam nessa pratica. Assim, por exemplo, em la carta escri # escrita em torno de 1737, nas Minas Gerais, informava-se sobre lios brancos e animalizados: [..] hay muchos mulatos hijos de negtos y de indias que llaman gam bayiyos, los cuales son libres de toda sujecién y servidumbre forzosa, 1 tributan ni hacen contribucién ninguna. Sirvena soldada por concierti de todo género de servidumbre, muchos de ellos son oficiales de todas los oficios, cada uno como se inclina, y las mujeres de esta color hace Jo mismo en las cosas de su profesion.*" ba shaman aqui 50 gentios barbaros da conquista do mestre-de- 1p0 Joao da Silva Guimaraes e é prodigio de Deus vera Ansia que este paganismo pede batismo entre eles, Vinha uma cri de trés para quatro anos branquissima, feigoes mitidas, cabal lou 4 erate a com mais de quatro pouco mais ou menos ce dade sao de outra nacao chamada Catajés que o gentio depois aprisionou em um encontro que com ele teve saida : tae € dao a noticia de que hé outra nacdo que nio en ea inp tnocctpe cna en ni » em termos que a maior parte as flechas Ihe nao fazem dano. O comandante eo dito mestre-de-campo Joao da Silva, : que leve um dos prisioneiros para mostrar ao senhor’ ainda estou irresoluto.® cy Jé na Buenos Aires dos tltimos anos do Setecentos, os “negros dé la nacién conga” encaminharam solicitagao para que se Ihes permitisserty dancar e festejar a entrada do vice-rei na capital. A petigao foi encaminhadl por “Domingo de Sena y Alfonso Galacete, por si ya nombre de los demi morenos de la nacién conga, residentes en esta capital”.*” E em Santiagi? de Cuba, em 1792, como ja citei no capitulo 1, um “pardo de color blanc y libre” fora cruelmente acoitado.*” a forca querem Vice-rei mas eu 158, 159 Com relagio aoy fazenda do Caxambu, proxima Vil ia histor! ' o inyentario dos bens que deixara 0 lH i 18 Nas sociedades ihero-americanas, No documento ficou registrado que entre 08 26 vou que ele possula iden, significados variados e fungées, como a encontrava-se “Miguel nagao Congo, por aleunha macaco”.!"* inguir pessoas e grupos ea de demarear os. Jé nos casos de registro da cor dos animais, houve, possivelmente, res sociais de cada um. Muitas vezes foi associada a formula nome+- menos confusio com as “qualidades”. A referéncia, aparentemente, era lidade”+“condigiio”, foi pega importante na conformagao de dindmicas cor do pelo ou das penas. Assim, Pero Vaz de Caminha, em 1500, destacoul mesticagens, subsidiou a organizacdo das formas de trabalho e, desde © “papagaio pardo” que 0 capitio Pedro Alvares Cabral trazia no navio, clo, foi importante elemento constitutivo do léxico ibero-americano ea aati oac ome assim como 0s “papagaios pardos” que existiam nas matas da terra recém> conhecida (além dos “vermelhos muito grandes” e verdes) e “outras avet pretas”.®*5 No inicio do século XVII, em plena unio das coroas ibéricay, homens jovens portugueses entravam no porto de Buenos Aires, “contra Jas realles cédulas y hordenes de smg*”, para se irem dali ao Peru. Em 1617, havia chegado a noticia de que esses viajantes se dirigiam a pé oua cavalo aa Mm um individuo, informavam sobre seu passado, sua ascendéncia, suas Peru e que um deles, um portugués chamado Francisco Parente, que levavat Se suas posi¢Ges sociais, Nas sociedades de distingdo, hierarquizadas um cavalo “castafio ébano”. Outros dois portugueses foram encontrados (ratificadas do mundo ibero-americano, elas podiam também indicar no mesmo caminho e “Ileuauam dos mulas una blanca y outra negra”, juro dos individuos ou, pelo menos, podiam apontar probabilidades © ja mencionado Mathias da Costa Homem, que parecia nutrir a praties rnativas. deanimalizar escravos, como se viu, aplicava a categoria “cor” aos animals de sua propriedade. Em seu inventario post-mortem constavam um “cavalo russo” e um “cavalo castanho”.*” Mas, a aparente simplificagio do uso da “cor” para os animais esbaty you em um documento setecentista. Em 1753, “na paragem da Cachoeiti “Cor”, “raca”, “nagao” e “casta” eram, nto, as “grandes categorias” confundiam e que também complementavam uma das duas mais tantes dessas “grandes categorias”, isto é, a “qualidade”. A segunda era a “condigao” juridica, que, no geral, junto com a anterior, defi- “Condigao” A “condicao” era o certificado juridico da pessoa: livre, escrava ra, Pode-se pensar em duas outras “condigées”, ou melhor talvez, do Brumado arabaldes do olho da 4gua”, termo da Vila de Sao José del Rel, beondi¢ées” existentes nessas sociedades. O “administrado”* era um_ Capitania de Minas Gerais, fez-se inventdrio post-mortem dos bens que 0 submetido a administracao particular de um homem livre, pritica deixara o paulista Joao Batista Sobral, morador na mencionada “paragem", im entre os paulistas, por exemplo, desde a primeira metade do século que havia falecido pouco antes, solteiro e sem filhos. Ente os bens arroladol, mas que envolyeu religiosos, como 0s jesuitas, que administravam ins, além de interesses dos governos locais e da propria coroa portu- 1a, Depois de muitos debates e indefinicées, mesmo diante de legislacio woibia a escravizagao dos indios, a Carta Régia de 1696 formalizou o 1 de administra¢ao particular, institucionalizando a pratica, que, na de, se diferenciava muito pouco da escravidao, nao obstante o indio istrado permanecer livre.™ A outra “subcondigao” eraa coartacao, diferentemente da administracao particular, nao foi oficialmente constava gado vacum e cavalos que foram assim descritos: uma junta de. bois de carro -34$; “outra dita” “cor rabeiro” ~ 248; “outra dita” “crioulos” — 33$600; “outra dita” “crioulos” - 248000; “outra dita” “crioula” ~ 289800) um cavalo - 11$; um “dito russo” ~ 30$; um “dito queimado” ~ 18$; “oul. dito russo” - 208; “outro dito queimado” - 234; “outro dito moleque ~ 188i) “outro dito castanho” - 18$”.** As cores de alguns animais foram explicitit das, mas o emprego dos termos “crioulo” e “moleque” suscita diivida, Seria referéncias As cores dos pelos ou estariamos diante do emprego da categoris jamentada até © séeulo XIX, Desde o século XVI, na América es- “qualidade” também a animais irracionais? Neste caso, a reprodugio da ola e, mais t plea portuguesa, a coartagdo permaneceu taxonomia humana no mundo do trabalho poderia envolver tambén o# nelalmente jada diretamente entre proprietdrio e is de carga, além dos excrayos, foros & livres que o compunha, 0, law “direitos” conformados no dia a dia classificacdes sociais desses agentes histéricos quanda proprias realidades e quando estudados a Posteriori, Jesuita sevilhano Alonso de Sandoval, que se encontvaya Indias, terminou de escrever 0 seu célebre tratado, mul Ser escravo em momento algum antes ( dealforria, depois de saldada a divida inieial ew dos anos de coartacao. Existiram, por exemplo, dividi telativas ao pagamento de Parcelas rados por mulheres coartadas (que combinado com 0 senhor, O administrado era livre e 0 coartado era escravo, & Perspectiva juridica. Assim, as “subcondigdes” foram mais um elemento que ajudou a tornar multifacetadas as realidades ibero-americanas, nilo obstante as “condicées” principais permanecerem trés, Os livres, por vezey confundidos equivocadamente com “brancos” ue ao longo do periodo aqui enfocado foi se sobretudo nas sociedades com maior presenca quelas mais urbanizadas e escravistas, nas quais os descendentes dos forras formaram expressiva populacao. Portanto, muito particulares da “qualidade” em contextos igualmente especificas, todo “branco” era livre, mas nem todo livre era “branco”, Areas portuarias, mineradot ntraldas ao longo § Suplementares Pertencentes A coartagéo de filhos gee nasciam escravos) durante o perfode ta" ou “de los negros que vienen de Guinea, ‘quella Costa de Africa”2 asseverou: considerando-4e En todas las Parrochias hagan los Curas un padron o Catalogo, en die Se escrivan todos los negros, varones y mugeres,captivos y libros Space el nombre del negro, declarando si es libre, y si es captiv declarando cuyo es. ¥ de todos escriva y si fue baptizado en Espafia, n0, y sies casado.** ’, constituiram contingente Poucodepois, Antonio Vazquez de Es; pinosa escreveu sobre a cidade Puertobelo, na Audiéncia do Panam La ciudad de Puertobelo es dot nde van a parar los galeones para trey Ja plata del Piru a Espana, dista de Cartagena 80 leguas de nauegacion, {-] La ciudad tendra 150 casas de Espanoles, Negros libres, y Mulatos, donde se recogen las mercaderias de flotas,y galeones, y demas partes [..] A media legua de Puertobelo esta el pueblo de los Negros Mogol Tones, libres, con su Capitan Espanol, que es jez destos Negros, log ules siruen para elauio, yseruicio de la cludad, Y pata no consentir, due Negro ninguno se huya de su amo, porque luego se lolleuan, Han Sido estos Negros en muchas ocasiones de importancia, porque demas de ser diestros, y vaquianos en la tierra, son valientes, y leales en el seruicio de su Magestad.2* nnegros (nascidos no continente africano, como é corrente considerarag ue haviam sido trazidos para as Américas, Entre eles, os que nao eran €scravos eram, na realidade, horros (forros) libertos ou liberados, o que ni era sindnimo de livre. Eles ndo haviam nascido nas Améri “ digo” de livres, e mesmo que tivessem nascido livres em alguma parte d) Africa, foram escravizados e introduzidos do outro lado do Atlantico, Jie filhos que nasciam na América espanhola de mae altic habitualmente chamados de “criollos” (como ocorreu ni aascendéncia imediata e/ou a cor de pele provavelmente mais escura) nen de forros.** Mas a categoria “negro libre” foi largamente empregada nop documentos e textos antigos, 0 que causa equivocos de compreensiio, Por isso, ela tenha sido amplamente reproduzida na historlografia m: recente, abrangendo mulatos inclusive, [490 Bera certa confusio relative Por sua vez, o jurista espanhol Juan de Solérzano Pereyra, que durante 1s anos foi ouvidor da Real Audiéncia Htica indiana, publicada em 1647, inhola, contendo intimeras e de Lima, escreveu o célebre sobre 0 universo das leis na América Preciosas definigies de categorias, con- 08 e termos empregados na €poca. O capitulo XXX é Particularmente ortante: DE LOS CRIOLLOS, MESTIZOS, Y MULATOS DE LAS IN- sus calidades, condiciones: y se deben ser tenidos por Espafioles. Ai Kou registrado 0 jurist) ana liberta nao evar 10 Brasil, para mareae as libres se aman morenos, 6 pardos, y Yen algunas partes hay Companios Hity bien en law Costas, y deben ser — ~. 39, Mulatos, y Mulatas i pulugto ¥ respecto é la riquezn del Bal y ante 0 A ello. L, 13. y 15. titulo 5, lib, 7, Recop, Em regio 8 € ricas, como as Minas Gerais, em me bl manos o grupo ) brancos nascidos livres rivalizou com o de ede ws Neston y Negras libres deben pagat tbo even ot hacia j embora permanecesse menor, e com o de forros, cujos niimeros forum, Yatendiendo a la Region en que viven, y tambien sus oO ivelmente, parecidos, e superou o de brancos, em um conjunto que ei en matrimonio con Indios, 6 Indias, y si son pobres, que sirvan eo fe eae s 2 malor popula amos, para que tributen. |. 1. 2. 3. Y 25. titulo 5. libro 7. Recopilaciom 6 foi estimado em cerca SeLeM NOES populagi ¥ capitulo 20. numer. 24. y numer. 3. de esta Politica, j eapitanias brasileiras.“”° Nao ¢ irreal inferir que nessa mesma epoca o- 42. Tambien se ordena, que se solicite, que los Negros casen con Ne- til populacional se repetisse em cidades importantes e regides proximaa Eras, porque de las dos mezclas suelen salir peores. 1,5. titulo 5, libro sna América portuguesa, tais como o Rio de Janeiro, Salvador, Ite Cee linda, Sio Luis e Belém. Igualmente possivel & pensé-lo semellin reas de minera¢ao em Goids, no Mato Grosso e na Bahia, Todas elas perimentaram economias vigorosas, lastreadas no trabalho eseravo, el iimicas sociais envolveram grande ntimero de alforrias, constitulgla wressiva populacao nao branca nascida livre e camadas médias urbanas srossadas por esses homens e mulheres, Na América espanhola, 0 fenémeno social também se expressou de ineira semelhante nas dreas mais urbanizadas e dindmicas com forte nga de escravos (negros, mulatos e zambos), mas também nas que dominaram indios e mestizos. Em Lima, por exemplo, a quantidade de jros, mulatos e zambos forros e “livres” chamou a atengao das autori- des jd em meados do século XVI, o que significa dizer que, mesmo se nsiclerarmos que esses “livres” eram, na verdade, forros, seus descendentes iccriam verdadeiramente livres dai para frente. E as populagdes forra e #e aumentaram progressivamente na cidade, tornando-se cada vez mais iportantes."" O processo foi muito semelhante ao desenvolvido nas regiGes Tavistas mais urbanizadas da América portuguesa, deve-se sublinhar. Em outras regides, como México, Portobelo, Cartagena de Indias, Gito, El Callao, Tucuman, Buenos Aires e em cidades de mineracao, no Zacatecas, Potos{ e Popaydn, ainda que em menor numero, houve, ide 0 século XVI, manumissdes de negros e de seus descendentes nas- los escravos. Deles nasceram novas geracdes de livres, majoritariamente igos (mulatos, pardos e zambos principalmente), além de crioulos, J4Florencia Guzman, bem mais recentemente, ao tratar da “poblacién negra” da antiga regido de Tucumén, observou: Fstimar la distribucion de la poblacién negra no es una tarea facil, Existe una constante migracién de los esclavos a los grupos de color libres. Por este motivo, es importante tomar en cuenta ambos sectores a fi] de determinar el impacto final del tréfico en término de distribuciones Poblacionales. Este procedimiento presenta problemas en cuanto dlefinir qué se entiende por persona “negra”. Cuando utilizo el térming dle hombre libre, sigo definiciones corrientes en América Latina, qué Por lo general se refieren a personas liberadas en algiin momento dé st'vida, 0 a personas libres, cuyos antepasados fueron esclavos y aii) conservan rasgos fenotipicos claramente definidos relacionados eon el color.** Essa observacdo nao se aplica a América portuguesa, pelo menos de maneira geral. Nao obstante, durantea segunda metade do século XX, ex! tiu tencéncia (que permanece viva) de ajuntar na categoria “negros” toda 08 que ndo fossem brancos, nem indios. Como adverte Florencia Guzmal trata-se de procedimento bastante problemético, que, ao final de conti simplifica a complexidade social construida em torno das “qualidades! ¢ “condigdes” no passado ibero-americano, No caso das regides escravistas mais dinamicas, o crescimento nati, ral positivo de escravose a grande quantidade de alforrias, prineipalmenite aaa ne de mulheres, que se tornaram mais numerosas que os homens entte 7 6 filhos de afrieunay nascidos nas Américas (a “categoria” foi usada forros, provocaram o nascimento expressivo de crioulos e mestigas (¥ jarens portigueii@eipanliola, como se ver’ no capitulo 5, para esses livres. Os poucos dados censitérios, ainda que fivigels, o8 levantamento enclenten d a partir de listagens de populagiio eas informagoes encontradas em rela ‘Como ae v6 © aN mestigagens, ocorridas des- t6rios, testamentos, invention post % paroquiais, pre o séeulo funanto.ce grupos cle.nto brancos € com os indios e seus descendentes (com -excegilo dos escravizados Brasil, principalmente) a populagio “livre”, Esses individuos porta diferenciaya dos que deixaram de ser escravos em a vidas. A “condicao” desses tiltimos era a de forro, repulsa que, Por religiosos, como 0 dominicano frei Bartolomé de las Casas, América portuguesa, nao obstante a legislacao proibitiva, © contrario, como jé demonstrei no capitulo 3. O grosso dos alforriados entretanto, constituiu-se de negros, lidades’, e isso foi semelhante em ambas as reas de dominio ibérico, € com 08 primeiros escravos negros introduzidos no Novo Mundo, como explicitou em 1505 0 rei Don Fernando II de Aragao, em carta-resposta ao governador da Ilha Espanhola, Don fray Nicolds de Ovando y Caceres, trecho jé reproduzido anteriormente, Vale relembrar que a libertacio de escravos era frequente na Peninsula Ibérica, muito antes das conquistay, no Novo Mundo, heran¢a do periodo de ocupagao romana e do Direito Romano (manumissao), bem como do periodo de dominio muculmano ¢ dos costumes arabes (alforria), Nos dominios americanos a “condi¢ao” de forro foi adquirida por meio de estratégias muito semelhantes em todas as tegides. As alforri concedidas pelos proprietérios, tanto a adultos quanto a criancas, motivagdes de variada ordem, tais como religiosas, as que resultaram de negociacées entre as partes (cuidados dispensados doentes, fidelidade ¢ lealdade), de reconhecimento de servicos prestados a9 senhor ¢ as que envolveram relagées afetivas, sexuais ¢ de parentesco, Essas manumiss6es foram anunciadas oralmente, por vezes, e muitas de. {as foram registradas em testamentos, servindo, assim, para atestar a boa indole crista do testador, que Ja mirava af o Juizo Final.“ Varias alforrias, as tiveram caritativas, afetivas ¢ 166 essa “condigao” juridica por terem assim nascido, Esse aspect 6 6 que of Igum momento de suas liberto ou manumitido, O ntimero de libertos foi expressivo desde o século XVI aumentoul Progressivamente nos que se seguiram. No século XVIII eles foram muito numerosos em varias regides ibero-americanas, Na América espanhola, devido a0 precoce rigor da legislacao contra a escravizacao dos indios et desde 0 inicio do século XVI, a pratica causou, capitaneady foi menos comum encontrar referéncias na documentagio a indios foros. J& na a situagao era crioulos e mesticos de todas as “qua- A pratica de libertar escravos cruzou o Atlantico junto com os ibéricos i Nesse caso, os libertos tinham ae “partir de trabalhos realizados, por exemplo, le dominios senhoriais, como os jornaleiros e os escravos de a tir de alguma atividade produtiva paralela ao trabalho didtio optietario, como algum tipo de comércio, de alimentos para serem vendidos, flosas e leigas também pagavam as faiscagio de ouro ¢ pi Amigos, protetores ¢ assoc) libertacdes ou parte delas, |, acentuando-se nos séculos las regides de economia vigorosa e movimentada, como 4 México c Lima e, no Setecentos, as Minas Gerais, como jdindig lulos anteriores. As alforrias também foram alcangadas por e| -elataram ilegalidades e pelos que encontraram, por exemplo, peplt Ouro e pedras preciosas de tamanhos excepcionais, _ Assim, a “condigao” de liberto tornou-se muito comum em toda a iio ibero-americana. Diferentemente do que se pode imaginar, a quan- cle de alforrias se intensificouem economias dinamicas, associando-se lente a mobilidade social e as Possibilidades de deslocamento fisico @scravos em sociedades mais urbanizadas, por exemplo. Quanto mais ancou nos séculos, mais homens e mulheres de todas as idades, inchu- criangas, foram juridicamente enquadrados na categoria de libertos. into maior o niimero de alforriados, mais intensas foram as redes de alos que abarcavam gente de todas as “qualidades” e “condicées” eque importantes mecanismos no proceso de formacao do léxico das ligagens e do mundo do trabalho. Nesses verdadeiros circuitos ou “teias” sociocul ira “condi¢ao”, encontravam-se integrados tai icas as sociedades nas quais eles se inseriam, Nte foi essa integracao, Iturais, os escravos, mbém. Quanto mais mais intensa e abran- © isso se reverteu em muitos casos em condigées Ferlais ¢ afetivas que propiciaram as manumissées. A populacdo de Favos foi a maior em varias regides ibero-americanas, e eles se trans- Maram em parcela substantiva das dreas mais ricas e importantes do 0 Mundo, de )Garibe ea Nova Espanha, atéa parte mais da América portuguesa, muito mais afirmando, houve escrayos indios Em carta escrita em Seregipe del Re] em 1617, destinada ao governador-geral do Brasil, Dorm Lu Souza, Cristévio da Rocha informava sobre os acontecimentos dit campapha de conquista dos sert6es do Rio de Sao Francisco e sobre os contatos com os indios da regido. Escreveu entao: Nestas aldeias q asima diguo (dos careris] nos mandou ficar F se par tio co seu sobrinho fran® dias davila donde guastou 15 dias E uende eu a sua tardandansa(sic] fomos a outra aldeia mais adiente que eri adonde elle partio E cheguando a ella achamos os negros en arma [.,| I! vendonos os negros nesta detriminasaé veio hii a nos e botou as armad no chad q ¢ 0 seu sinal de pas [.] E q elles vinha6 diente pelas nouas the levara6 de Ihe querer dar outros negros no molherio q tinhaé felle ligua c6 outros por serem seus contrarios E isto e falar uerdade a V,§, por q oentendo ben ‘ Resta aguora avizar V.S. aos Reverendos padres rreColhad 0s setit tapuias q estad espalhados nestes lemites por nad soseder algua des ventura E Vosa S, aCodindo a semelhantes materias faz 0 qten de obri- Buasad e seruiso de deus tornarense a igreja pois sa6 criados nella,|.,| © Capitaé leua hus papeis meus e Registro de hus negros tapuias melt 4q daquj se me aleuantaraé q estad en Companhia dos de melchior dias com 0 Coal tiue sertas palauras sobre eles e sobre o na6 querer da pedra q tinha prometida [..] E asin seja V.S. seruido darme L pera og buscar porque saé todos Cristads E estad idolatrando no sertao E estat Ecom estarem metidos cé os de melchior dias estas confederados eh os dos padres q detriminavaé aleuantarense c6 08 outros E. como i mando os papeis V.S. ma fasa en més confirmar assim Em pleno século XVIII, mesmo existindo legislacao proibindo a & cravizacao de indios, a pratica, além de persistir, chegava a ser registrads em documentos de valor legal. No testamento feito em 1742, em Pitangiil na Capitania de Minas Gerais, a mestica Francisca Poderoza (ou Pedro como aparece em outros documentos) declarou que possuia [..] huma escrava por nome Roza do gentio de Angolla hum escravo do Lenceciado Domingos Maciel Aranha por nome Vk tura Declaro que comprey a administragio de hua carijo por noi Margarida de Bras de Souza Arzio por Gento © Secenta oitavan ouro a qual Carijo tem coatro filhos a saber Natelza, Pascou Hw dalsic] Joao Ignacio molato ¢ eorihoes Beelare que Narciza ¢ lives: ido a dita Narelza pella ert neuis filhos o faca e quando nio qui liro se a Pascoa Bastrada se conseryar d luito amor que lhe tenho e a criar eazande pessoa liver [livre] hira pera donde quizer com seu marido & cazando e si for ma molher sempre sera sugeyta a ad.mininttaee de meus herdeyros [J Houve indios “legalmente” escravizados nas Américas portyy ola, sobretudo no primeiro século de ocupagio ibérica, com € incentivo das duas coroas. Nesses casos, 0s nativos eram cons ilatras, hereges ou antropéfagos ea escravizagio pode ser re lo da guerra justa. Essa estratégia engrossou ainda mais 0 e ittir do século XVII. A rainha Dona Isabel de Castela, jd. em 1 eumento jé evocado neste capitulo, sublinhava a liberdade prestavam aos espanhdis: [..] ouimos mandado que los yndios vecinos ¢ moradores de Ii Espafiola fuesen libres e non subjetos a servidumbre segund iy gamente en la dicha ynstrucion se contiene e agora soy inform a causa de la mucha libertad que los dichos yndios tienen huyen partan de la conversacion e comunicacion de los xpianos por i que atin queriendoles pagar sus jornales non quieren trabajare ‘vagamundos nin menos los pueden aver para los dotrinar @ que se conviertan a nuestra santa fee catolica (..] Depois dos indios e de seus filhos mestizos/mesticos e mamelueo Netidos ao cativeiro, os negros africanos escravizados foram inl mente em toda Tbero-América, Em trezentos anos, do século XVI a0 | milhGes de homens e mulheres africanos entraram nas dxens enpate © portugues, quase que tornando sindnimas as categorias “negro” au to” ¢ “escravo”, Gil i n08 “tipos” abarcados pela “condigao", 8 gerais foram a base do sistema ido em grandes grupos humanos, os diferenciando e 08 ao”, “cor” e “condigéo” confor acomodavam. F 0 que ser abordado no préxitn porém, é importante chamar a atengao para o fato de as “grandes” catego- rias aqui enfocadas integrarem o léxico ibero-americano das mestigagens e do mundo do trabalho. Mais ainda, ¢ fundamental compreender qué elas foram operadas pelos varios grupos sociais, ainda que de maneiras diferentes, com intensidades e motivacées distintas. Todos esses grupos as conheciam, as compreendiam e também as valoravam. Nao se trata de arsenal classificatério exclusivamente imposto de cima para baixo e operado pelas maos representantes de estados absolutos, ainda que essas categoriag também tenham ajudado os administradores e autoridades representantes das coroas catélicas a organizarem as sociedades ibero-americanas ¢ manterem o dominio de espanhdis e de portugueses.”” Termos, significadow ce usos se espalharam rapidamente e foram incorporados pelas populace dessas areas, que os empregaram, atribuindo-lhes, inclusive, novos signifi: cados, lastreados, muitas vezes, por percepsoes diferentes com relagao aos ‘outros grupos, como se pode inferir, por exemplo, com relacao as “cores” de pele. Assim, as categorias “grandes” e as “especificas”, como se verd frente, transformaram-se em marcadores importantissimos e usuais NQ viver cotidiano de moradores de todas as “qualidades” e “condigoes” 1 Tbero-América. 0s selecionados O teu cabelo ndo ne} Porque és 11 Mas como a cor ndo pei Mulata eu quero 0 Tens um sabor bem do Bi Mulata, mulatinhia, mew Fui nomeado teu tenente inte As aproximacées e as conexées possiveis entre Histéria ¢ LI iio sio tema novo e tém, ao longo do tempo, chamado a ate itores das duas Areas. No caso da Histéria, entretanto, 08 des langues” ou “sémantistes”, que “assinalam o apare rtas datas de um contingente de palavras novas ou de

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