Você está na página 1de 90

Um algo de belo é uma alegria para sempre.

– John Keats, Endymion.


Index

Livro I – ARTEMÍSIA

Ode I – A Pyrexia Draconiana 04


Ode II – Desilusão No Rio Xíphia 08
Ode III – A Bruxa De Nobre Esclaréa 12
Ode IV – A Guardiã Do Acináceo 16
Ode V – Svya, A Rainha Da Centelha 20
Ode VI – Quando Sempre Era Tempestade 24
Ode VII – A Visão No Lago Sanguineus 28

Livro II – RINOA

Ode I – A Dança Das Apaixonadas 32


Ode II – Os Fios De Coroa Rétzia 36
Ode III – A Oração De Valespherria 40
Ode IV – O Leviatã Obliterado 44
Ode V – Que Enterrado É Em Speculum 48
Ode VI – Rinoa Aceita As Vozes 52
Ode VII – No Obelisco Central De Vita 56

Livro III – MAGDELEIN

Ode I – E Magma Floral É Alcançada 60


Ode II – Fada Coroada Por Serpentes 64
Ode III – As Almas Reunidas No Ente 68
Ode IV – Cantigas Para Sonhar Alegre 72
Ode V – Olfren, A Deusa Renascida 76
Ode VI – Do Outro Lado Do Espelho 80
Ode VII – Que Contou Todas As Estrelas 84
ARTEMÍSIA
Ode I

A Pyrexia Draconiana
Contralto da morada averna
Eis o canto, a ode eterna.
Do que tremula, reluz, fulgura,
Surge o espectro dessa pura
5 Alma, Artemísia se banha,

Cinzenta, a pele se arranha,


Âmbares fios, olhos vorazes,
Lilases tons, lábios tenazes.
Fada de seis tétricas asas
10 Iridescentes, negras pós-brasas.

Noturno Carvalho, a floresta,


Arde, abraça o que lhe resta
Na fumaça densa, tempestiva,
Enegrecendo o céu, viva,
15 Em bronze e quantum florescida.

“Onde a origem suicida


Grita, emana distorção, trevas?”
A voz é de Judwiga, das ervas
Alquimista, sempre viajante,
20 Retornando nua do distante.

“Que bom ver-te irmã, apatia


Há em nosso lar, na simpatia
Que crescemos urge nova besta,
Cospe chamas negras, sua fresta
25 Tem dentes que matam, não há fome,

Devora por prazer, nos consome.”


Os olhos lilases presenciam
A morte no sangue, sentenciam
Ante o deliquar da bondade.
30 “A maleficência invade

Nosso lar sem motivo, há razão?”


A questão de Judwiga, no sezão
Das flamas negras, torpes, crescentes,
Guia suas três asas poentes,
35 Rubiáceas, no planar alto
Seguido pela canção contralto.
Doze asas negras se elevam
Entre carvalhos, essas, conservam
Cinzas como neve, em batismo,
40 Em cor Negro, Dragão, mimetismo

De sua criação ignescente.


Judwiga, no planar ascendente,
Têm no olhar o viridiano,
Nos fios o cerúleo, plano
45 É seu corpo infantil, Fada

Recém-criada, imaginada.
“Vê o que disse, come, não cessa,
Queima, destrói, atravessa.”
Dragão Negro, nas escamas belas
50 Carbono é o tom, acquarellas,

Ancestrais, o seguem, corrompem,


Mas, seus passos não interrompem.
E em bicínio retrocedem
As duas que dores não impedem.
55 A euphonia do massacre

Continua na flora, no acre,


No rio Xíphia, maculado.
Do terror podre proliferado
Nasce a voz da Fada em canto:
60 “Todo nexo saberá do pranto

De nossos alvéolos, do sangrar


Crepuscular pós-virgem consagrar,
Quem é de Xíphia a Rainha?”
A Alquimista busca sozinha,
65 Em receosa philosophia,

Temendo a nova ecnephia,


Pondera, roga, silenciosa,
Tal nomenclatura é porosa,
E vem a barítona resposta:
70 “Reina Morrigan na proposta
Das águas, ela não se moverá
Contra a abominação, verá
O que digo, ninguém dará voto
À nossa guerra perdida, noto
75 Que entendes o que pronuncio,

Segredo não é, lhe anuncio.”


Antes de erguer a voz cansada,
Artemísia lembra calada
Do pedido de auxílio
80 Em negação no domicílio

Que agora arde, fora a voz


Da Rainha que criara a foz
Infértil, Georgiana disse
Não a Alvo Cedro, em esquisse,
85 No veneno tal bosque perece,

Hidra, caçada, desaparece,


Sem nossa triste ajuda real.
O passado parece irreal.
No nefélio é reluzente
90 A alvorada quantum doente.

No centro do dia há tristeza,


Covardes mágoas, sem destreza,
Corrompem as expressões pueris
Em lástimas como primaveris
95 Galhos secos, folhas mortas, vida

Inerte, cervo cadáver, tida


Ilusão, desperta, sufocante
Alusão calma, nauseante.
Trancadas são as lúgubres frases
100 Na Fada de desfoques lilases.
ARTEMÍSIA
Ode II

Desilusão No Rio Xíphia


Centenas são as Fadas inertes
Olhando as tristes nuvens, “Vertes
O testemunho” mórbidas pensam.
No sepulcral silêncio prensam
5 Rezas, nos lábios os cânticos

Tremem, tornando-se românticos.


Cerejeiras na água crescem,
São lares, nelas Fadas florescem.
Najas rubras raízes protegem,
10 Pétalas rosáceas elegem

O curso vulturno do ar nobre.


Colibris, no gramado que cobre
A margem estreita, se banham.
Exploratícios se estranham
15 Os olhares sem reles respostas,

A esses as duas dão as costas.


O requisir é inevitável,
Guia à gruta real instável
Em tons quantuns, nas águas obscuras
20 As Fadas se sentem inseguras

Procedendo além da diurna


Radífera bênção, nessa urna,
De rubi, jaspe, e omphácio
São as paredes no prefácio.
25 E os alvéolos são milhares,

Das Fadas tantos são os olhares,


Wahlembérgias perdem pétalas,
Nuas, coroas polipétalas
Revelam seus índigos ramos.
30 “Solitárias nós contemplamos

O rio, nesse cauterizar


Tu precisas do autorizar,
Em meu nome, para que passe,
Edwiges, e vós ebanizasse
35 Em tom a respiração perante
Esse eco, entendem, diante
Estão da Condessa de Xíphia.”
E voa a obscura típhia,
No exorar das phlytênulas.
40 Anemographia, as pênulas,

Em fuligem, as Fadas cobrindo,


Deixam marcas se esvaindo
Com os passos, e com o respirar:
“Note, o perigo a pairar
45 Alterando a forma da água

Não se encerra onde deságua


Esse curso natural, nascera
Do Dragão Negro que envolvera
Noturno Carvalho, o nosso ar,
50 Sábia Edwiges, nosso passar

Permita, é em paz que viemos.”


Emaranhado “Nós estaremos
Sozinhas” os pensares invade.
Atentas, as Fadas da cidade,
55 Em silêncio, mudas, aguardam

O veredito, os rostos guardam


Feições distintas e opostas,
Iridescentes asas dispostas
São sinfonia, tal tenro fremir
60 Se aquieta ante o bramir

De Edwiges, os longos, magenta,


Fios brilham, a prata enfrenta
O branco nos olhos, suas asas,
Em índigo tom, são quatro casas:
65 “O monstro Dragão partira leste,

Não tocará o que nos reveste,


Morrigan será incomodada
Quando o perigo à morada
Xíphia existir, podem partir.”
70 Lembrara, Judwiga, do repartir
Em Alvo Cedro, venenífero
Bosque outrora radífero,
Luminescente em rituais
Primevos, herdados, atuais,
75 Fora mesmo sem Georgiana

Que se levantara a ufana


Merilith, pura Caçadora,
Eleita sacra protetora
Da floresta Noturno Carvalho.
80 Enquanto alcançam o orvalho,

Artemísia, caída, chora,


Judwiga lhe abraça, implora:
“No pesadelo não se mantenha,
Lembre do sonho, e se atenha
85 A essa margem, o dissuadir

É medo, porém, todo iludir


É do iludido a escolha.”
O vulturno levanta a folha,
E a Fada levanta a Fada.
90 Beijo, há dor compartilhada.

E as línguas se acariciam,
Voando ambas reiniciam
A busca por qualquer esperança,
Em presente, futuro, herança.
95 O hiulco do céu tardará,

A tempestade faminta virá.


Do rio nasce a clareira
Nobre Esclaréa, madeira
É avistada, há canto, festim,
100 Dançam as Fadas, é como motim!
ARTEMÍSIA
Ode III

A Bruxa De Nova Esclaréa


Gritos ecoam, mas, alegria
É o sentimento sem sangria.
“Quem são” tenta entender a Fada
Artemísia, sendo puxada
05 Por Judwiga, no festim chegando.

“Forasteiras” vozes gritando


Recebem as duas no cântico.
No incenso libanomântico
A Bruxa lê o que lhe provoca,
10 Sentada, essa chama, invoca

As duas Fadas forasteiras:


“Novendial, ervas rasteiras
Nos alimentam, o céu chora,
Nós sacrificamos, a fé ora,
15 Cantamos, brincamos, adivinho

Solitária o que no vinho


Esqueço, sou a Lei delas,
Todas são bem-vindas, Fadas, nelas
Confio, não sou confiada,
20 Proclamo, não sou proclamada,

Cecile, sou Bruxa, e Lei.”


Artemísia sorri “Falei
De tu uma vez, em minha casa,
De vosso voto ante a asa.”
25 Os olhos da Bruxa espreitam,

Cobaltos, carinhosos, deitam


No âmbar pueril, tal tom forte
Dos ouros fios é consorte,
Oito asas imitam cores
30 Ocres, afluindo louvores.

Judwiga, com o rosto corado:


“Essa é Artemísia, lado
Ingênuo de nosso avanço,
Sou Judwiga, não te alcanço
35 Mesmo no pós-sonhar, sacra Bruxa.”
Entre os pés de Cecile luxa
A pele o lúrido gramado,
No bruxulear o esperado
Diálogo é necessário:
40 “Vi as chamas, e o horário

Do incêndio, lhe escutei


Chorar, contra lágrimas lutei,
E quando contei, à nobreza,
Doze anos atrás, sem destreza,
45 De Xíphia fui afastada,

Caminhei, e exasperada
Vi bosque, planície, floresta,
Vale, e abismo, o que resta?”
A mágoa na voz de Cecile
50 Se acalma vendo o desfile,

No ar, rouxinóis envolvem,


E as Fadas, em valsa, devolvem
Carinhos bicos emoldurando.
A pureza nas asas vibrando,
55 Obsidianas, rubras, em penas,

Delicadas, são as reles cenas


Nas vítreas asas do festejo.
E vem de Judwiga o desejo:
“Que quebre a lúnula partida.”
60 No início a chuva tida

Como garoa engana leve,


Em seguida relâmpagos, neve,
Negam à clareira o brio.
“Esperei no solo sombrio
65 A chegada de ambas, serei

Emphática, valor não terei,


Não há esperança continental,
Oceanos tremerão ante tal
Cataclismo selado, percebem?”
70 E faces draconianas bebem
Da chuva, entre nuvens, voando.
Cecile, o céu apontando,
Artemísia vê, se escuta:
“Brumas, são milhares nessa luta,
75 Tais seres, de onde vieram?”

Em voz roríflua “Estiveram


Entre nós, nas altivas montanhas,
Entre as vulcânicas entranhas,
Livres” a Bruxa confessa a dor.
80 Neve e chuva provocam ardor,

As Fadas fogem em pyrexia,


Temendo a sanguileixia.
Os Dragões preferem o puro ar
Acima das nuvens, onde polar
85 É o comum mesmo no sudeste.

“Procuraremos o tom que veste


O céu sem esses ocídios
Nefastos, por tais dissídios,
Em êxodo juntas partiremos,
90 Onde, Cecile, nós chegaremos?”

O cobalto é demonífugo,
Cria esperança frigífugo,
Nucleário em perfloração.
“Nesse tempestuoso coração,
95 Que se tornara o continente,

Nossa escolha viva, dormente,


É, despertas, desesperançosas,
Continuar, seguir, ansiosas
Pelo retorno da paz, do sorrir,
100 Nós fugiremos sem ter onde ir.”
ARTEMÍSIA
Ode IV

A Guardiã Do Acináceo
Oeste fora nossa direção.
Além do rio em putrefação
Nasce o lago Acináceo,
Marfim em fio capiláceo
5 É a água matriz de riachos

Em adágio correr, são fachos


Luminescentes na aurora.
Cecile abandona a hora
Juramentada décadas antes,
10 As oito asas não obstantes,

Voando, emanam bruxaria.


“À quem, que não mais voaria,
Jurastes irmã?” Judwiga tenta
Entender a lenda que enfrenta.
15 “À Potestade da Primavera.”

A Bruxa relembra a espera


Antes de tocar o ar, e voar
Livre, e mesmo nesse coroar,
Entre espinhos tempestuosos,
20 Beijam, Cecile, gloriosos

Ventos, brumais ares, vapores.


As três descem, são como tenores
Os trovões, os relâmpagos criam
Cicatrizes celestes, recriam
25 As memórias primordiais

Dos sustentáculos austrais.


E Acináceo é tocado
Pelo tênue acinzentado
Corpo de Artemísia, fundo,
30 O mergulho, lava o imundo

Lôbrego virgem tom, ar buscando


Artemísia volta, arfando,
À superfície turbulenta,
Dela se escuta na tormenta:
35 “Quem reina em Acináceo?”
Tocando o coral rosáceo
Cecile pondera, sem resposta.
E da acanthura indisposta,
Judwiga captura o espinho,
40 Um colibri distante do ninho

Escuta a voz da Alquimista:


“Svya, sua principal conquista
Fora assassinar Tentáculos,
Ser criado pelas Oráculos
45 Nortenhas, por Xíphia descera

À morada onde perecera,


Aqui, no lago em que banhamos.”
Artemísia vê “Encontramos
Vestígios ósseos, gigantes,
50 Hydrófugos nas margens distantes.”

As mirsíneas flores resguardam


Os júbilos que margens alardam.
De fátsias, as pétalas cobrem
Ondas, sons, axiomas, descobrem
55 Átrios cingindo descampados

Violetas, nestes, os fadados


Avelós despencam na tormenta.
Ela, a gravidade enfrenta
Caminhando das águas acima,
60 E empírica se aproxima:

“Sou Gedalva, dele Guardiã.”


A Fada, de feição anciã,
Aponta às águas frias, turvas.
“Nós nascemos nas profundas curvas,
65 Nossa Rainha é Svya, santa

Confluência, a que espanta


Os males, as três, buscam abrigo?”
Imaginaram ser inimigo
O que em ondulações movera
70 A atenção que sobrevivera
Das três surpresas, em harmonia.
“Nos alegra essa sinfonia,
De onde essas notas emanam?”
Artemísia fala, e planam
75 As seis asas ante Gedalva.

Judwiga reconhece na alva


Melodia pó, e infância,
Em seus lábios há ânsia:
“Como vivem Fadas afogadas,
80 São elas em fé doutrinadas?”

Submerso era o reinado


De Svya, do canto escutado.
“Nós usamos ares encantados,
A tempestade dos inflamados
85 Tardará no alcance do final,

Descemos em sono outonal?”


Três anuíram conjuntamente,
Escutando encantos à frente:
“Eterna lei incorruptível,
90 Escutai essa susceptível

Voz orando, rogando proteção,


Água faça pulsar em emoção,
Tornai efêmeras moradas
Parte das naturezas centradas,
95 Molde as bênçãos sensoriais

Prometidas, torne viscerais


Temores, prazeres intrínsecos,
Liberte os nomes extrínsecos!”
As Fadas em luz se envolveram,
100 E ambas, de mãos dadas, desceram.
ARTEMÍSIA
Ode V

Svya, A Rainha Da Centelha


E os fios turquesa eram um
Com a água, sem sentido nenhum
Gedalva, com duas asas, guia,
Desvia de écula, enguia,
5 Órphia, chó, rodim, e áltico.

Nos olhos o fitar basáltico,


Violeta encontra a rocha
Escura, em coral desabrocha
O desfiladeiro submerso,
10 Cada alvéolo é imerso

Em encanto, as runas são lidas,


Brilham, leiblínias retidas
Escorrem vastas, profundamente.
Elas planam abundantemente,
15 Viventes e visitantes Fadas,

São tantas as asas encontradas.


A água marfim não molha pele,
Cabelos, seu toque expele
Lamúrias, é aconchegante.
20 No sentir oposto, ofegante,

Lânguido, a lexicographia
É moldada na geographia
Em lua minguante, é um vale,
Abismo naufragado, “Cale
25 Esses pensares, podemos falar?”

“Não é óbvio, onde há calar?”


Artemísia faz Gedalva rir.
Os âmbares fios, sem o ferir,
Emolduram o rosto corado.
30 Sagrado era o avistado

Brumal Castelo do Solstício,


Nesse, dez são as torres, vício
De Acináceo, marco central.
No portão há um ancestral vitral,
35 Moldado por relâmpagos virgens,
Nas imagens, nocivas vertigens
Contam, de Svya, a história,
A Guardiã lê a memória:
“E nós, que sempre em paz vivemos,
40 Nós, sem água, onde estaremos?”

No vitral Tentáculos é morto


Pela lâmina Flama no horto,
E dele os alvéolos nascem.
As memórias, em voz, renascem:
45 “E nós, que juntas persistiremos,

Nós, os encantos conjuraremos?”


Nos átrios do Castelo vibram
Cores em esculturas que timbram
Nobres andares e corredores.
50 Germinando dóceis odores,

Koelreutérias revelam
A sala do trono, interpelam
O respirar da adormecida
Rainha, em rejuvenescida
55 Imagem pueril de menina.

Tem uma asa escarlatina,


Longevos fios esmeraldinos,
Cicatrizes nos lábios finos.
Desperta, olhares magnólias
60 Encaram as quatro simplórias.

“Majestade, acaba acima


A natureza, se aproxima
O fim, espólio deixamos?”
À voz de Gedalva “Afrontamos
65 Inimigas, são elas?” Svya tem

O focar acima, e não retém,


Jazente, qualquer pronunciado
Erro no pensar elucidado:
“Entendo, Dragões, muito sinto
70 Pela primal ofensa, não minto
Quando digo, estou partindo,
Convalescendo, quem está vindo?”
Da voz de Gedalva “São amigas,
Irmãs, temem o mal, inimigas
75 São dos Dragões, nos pedem proteção.”

Em lágrimas “E quem, de coração,


Posso proteger?” Svya reflete:
“Nesse tempo não me interprete,
Quero ser protegida, vê a luz?”
80 Chora Svya “Ela não me reluz

Como antes, meu tempo fora


Passado, extinto” protetora
A Fada Gedalva ajoelha,
E em vil sussurro aconselha:
85 “Da Centelha conte as três belas.”

Em silêncio, são como telas


As expressões reais, pinturas.
A confissão brota em fulguras:
“Esse dom nascera celestial,
90 Tal lábaro de poder bestial

É chamado Centelha, emana


No ar, em gratifício, plana
Onde há desespero, lhe chama
Em sonho, te encanta, inflama,
95 Clama ser consumido, moldado

Na multiplicação do rogado
Desejo, a prece realiza,
Pós-fronteiras idealiza,
Amaldiçoa quem sem fé reza,
100 As três devem partir” Svya preza.
ARTEMÍSIA
Ode VI

Quando Sempre Era Tempestade


E Acináceo deixando,
As três Fadas partem procurando
A Centelha por Svya descrita.
“Desespero fora a escrita
5 Zenithal, onde, mire o céu?”

E voando, pós-lago, o véu


Tempestuoso, seco, se mantém.
A água não desce, porém, também,
Não se altera, é venéfica
10 Em psiquê, tamanha benéfica

Visão de outrora falece


Funesta, esmera, e carece,
Prévias belígeras atenções.
“Entre as nuvens só há perdições,
15 Desespero chove, não há norte?”

Responde Judwiga, o ar forte


Artemísia encontra, prende,
Cecile lembra, e reaprende:
“No bosque, sua biblioteca
20 Xilográfica nectaroteca

É, guarda volúpias, prazeres,


Em ancestrais versos, dizeres.”
As Fadas de Noturno Carvalho
Se observam, lembram do orvalho,
25 De Hidra, Alvo Cedro emana

Temerárias aflições, plana


Por súplicas, dores, cicatrizes.
A Bruxa prevê as diretrizes:
“Se buscaremos por esperança
30 Será Alvo Cedro nossa lança,

Se a fuga nos é desejada


Oeste será nossa espada.”
Artemísia mira o bosque,
Prenunciando “Em tu enrosque
35 Petém, raiz, e galho vívido,
Guarde-me, ó orgulho lívido.”
Sete dias por fios em marfim
E o alvor é tocado enfim.
Na umbria os caules brilham,
40 Os cedros claros caminhos trilham,

Não há flama, é juxtafluvial


O verde das folhas, a serial
Labiríntica congruência
De raízes em confluência.
45 Altíssonos são os sacros hymnos

Reverberando entre agynos


Frutos caídos, macieiras
São avistadas, pitangueiras
Fazem eco, Fadas, de mãos dadas,
50 São círculos no ar, encontradas

São as muitas sobreviventes


De Noturno Carvalho, descrentes.
“Tocadas pela metamorphose
Necessitamos da symbiose
55 Preludial, lhes agradecemos!”

Cecile pergunta “Conhecemos


Quem fala?” Judwiga lhe responde:
“Sim, sua figura corresponde,
É a Rainha Georgiana!”
60 A pós-invasão draconiana

Guiara as Fadas sem destino.


Alvo Cedro intercede “Fino,
Estreito, é o bom caminho,
E nebuloso é o espinho
65 Nomeado vingança, herança,

Que reflete a intemperança,


Declaro, bem-vindas irmãs Fadas,
Lutaremos unidas, armadas!”
A ordem, que do céu viera,
70 Nascera da que se opusera
À lei da Rainha, lutando
Contra a Hidra, se revoltando
Entre as suas, a Caçadora,
Nobre da coroa portadora,
75 Merilith, dos escarlatinos

Fios, dos doze esmeraldinos


Laços, suas asas, se revela
Em face acesa, como vela,
Olhos jáspeos, Georgiana
80 Se ajoelha à soberana.

“Perdoe-me pelo meu medo


E covardia, era o credo
Na nobreza o que me movia.”
Choro a Rainha envolvia,
85 Seus fios magenta dançavam,

Os âmbares olhos se fechavam,


As duas asas permaneciam
Em luto, feridas pareciam.
A face da Rainha sem trono
90 É segura, o âmbar, em sono,

Encontra o jaspe, o declarar


Não nasce em palavra, tal orar,
No imbrífero caos, das bocas
Floresce em beijos, as rocas
95 Paixões ganham fôlego, vozes,

Se repetem sem curas, algozes,


Vítimas, culpados, é o amor
Pleno ecoando, nesse clamor
As Fadas se entregam, em pares,
100 Trios, milhares, perdendo ares.
ARTEMÍSIA
Ode VII

A Visão No Lago Sanguineus


Passado um ano entre cedros
E hiós, cândidos, decaedros,
Nenhum dos Dragões aparecera.
A paz das Fadas permanecera
5 Até Cecile, em incenso, ver

O verde espectro, colossal, ser.


Oito asas voam, procuram
Entre Fadas nos peténs que curam.
Merilith, sabendo das falas
10 De Svya, separara as alas

Bibliotecais, escolhendo
Hábeis Fadas, lendo, colhendo,
Antigos sacros conhecimentos.
E sobre a Centelha, lamentos
15 Foram encontrados, as direções

São desencontradas, mas, nas ações


Não há desídia, há o lume.
As nuvens trazem chuva do cume,
Não desce luz, as trevas dominam
20 O céu azul que exterminam.

Artemísia é encontrada
Lendo, na entoação centrada:
“Emancipe as cores lívidas,
Abandone as sombras vívidas,
25 Entre nós Espíritos dançantes

Buscam as redenções ofuscantes,


Brida recebera, da ungida,
A Diadema Apodrecida,
Forjando dela Lore, o anel
30 Passado à presença de Manel,

O Espírito que atrasava


O nascer dos frutos, e passava
Em Alvo Cedro as madrugadas.”
Cecile encontra as pegadas
35 De Artemísia, abraçando
Essa enquanto conta orando:
“Vem do leste o Dragão cordial,
Diferente dos outros, leal
Às escritas do tabernáculo.”
40 Preparado o espetáculo

Em languidez, as Fadas aguardam,


E de manhã unidas resguardam
A visão, radíferas escamas,
Tez fétida, corpóreas flamas
45 No respirar, o timbre gutural

Se revela quando em natural


Ação o ser se curva, bebendo
Água no leito escorrendo
Marfim, não escuta, não diz versos,
50 Adormece, olhares dispersos,

Curiosos, se reaproximam
Da espécie temida, primam
O contato, que ocorre brando
Nas cálidas escamas vibrando.
55 As quatro asas draconianas

Se levantam além das tiranas


Copas, árvores atravessando
Por centenas de peténs tombando.
São semanas de sono profundo,
60 Se levanta e para o fundo

Bosque parte só, em hysteria.


Mês seguinte, visita faria
O mesmo Dragão esverdeado,
Assim é o ano condenado.
65 E algumas Fadas adormecem

Junto do ser, da dor se esquecem,


Outras de Alvo Cedro partem
Entristecidas, dores repartem
Nos alvéolos lhes recebendo.
70 Judwiga prepara, predizendo,
Sua alquimia “É benigno
O ser que tem o irmão maligno,
Devemos a Centelha encontrar,
Para expulsar o mal que entrar
75 Tentar em nossos lares” seguida

Pelas irmãs, e pela mantida


Trilha, o lago de sangue, central
No bosque, recebe em si, frontal,
O elixir, então preparado
80 No ano pós-Dragão encontrado.

O sangue, que do ventre térreo,


Escorre, se alastra férreo
Em espelho, porém, com o toque
Do elixir surge o desfoque,
85 O alvor, a galactose vital.

Harmoníaco, o branco letal,


Por Artemísia, é bebido,
Era o fúnebre revestido,
Em lilás, previsto, o futuro
90 É dito, às Fadas, inseguro:

“Deveis descer além do fértil


Solo, onde glacial, infértil,
Há o inverno sem fim, funesto,
Armado seguirá o honesto,
95 E perecerá, assim, seu fim

Será na Centelha, feliz, enfim.”


Leite o sangue se tornara.
Judwiga a irmã segurara.
Artemísia, em ciência,
100 Encontra fim pós-florescência.
RINOA
Ode I

A Dança Das Apaixonadas


A profecia da Fada, como
Funesta flor, lembrara o tomo
Xilografado num cedro podre.
Agniezka carrega num odre
5 O encantamento que lhe arma.

Merilith falara “Alarma,


A escrita quase esquecida,
Sem autora, irrefletida,
Transcrevo o que no caule vi,
10 Falanges primordiais, vivi

O nascer da Guerreira brutal,


Sem nome, seu aspecto frontal
Lembrava animais felinos,
Vitrais, em tons escarlatinos,
15 Eram suas dezenove asas,

Suas mãos encantavam as brasas,


Criavam, no corte da espada,
Flamas cerúleas, rodeada
Era por cadáveres na luta,
20 Pós-batalha vencida desfruta,

Necrófila, dos corpos sangrando,


Sua Centelha, luz emanando,
Lhe tornara Rainha, sua voz,
Bradando, de guerras se torna foz,
25 Cem são os anos sem paz, sofrendo,

Até o chegar dele, ardendo,


Descendo do céu, como chuva,
O Dragão torna a foz viúva,
Encerra o ciclo, emoldura
30 O que por milênios perdura,

A fé, a paz, ele é bom Rei,


Justo nas chamas, voraz na lei,
Dele nascem pedras diferentes,
Jogadas em erupções ferventes,
35 Dançamos, rindo, agradecidas,
Aguardando terras prometidas,
Reis celestes, a alteração
Última dos ciclos em reação.”
E o próximo ato reúne
40 As fortes Guerreiras, lhes une

Num objetivo, partir sem rumo,


Além da maré em linha, prumo,
Descendo à visão proclamada
Por Artemísia, Sacra Fada.
45 E o segundo ato reúne

As sábias Versadas, lhes une


Para em seguida lhes desunir,
As enviando, como num punir,
A terras próximas e distantes,
50 Visando fundir os conflitantes

Reconhecimentos adquiridos
A novos pensamentos seguidos.
Era a líder das Guerreiras,
Agniezka, prata, videiras,
55 E pyxacanthos são as espadas

Gêmeas em suas mãos pesadas,


Seu cabelo é puce, liso,
Nos olhos o foco é preciso,
Quantum, o tom é nas duas asas
60 Cinzento, a sua voz “Arrasas

Queridas irmãs, e adormece


Entre nós?” Ódio lhe aquece,
Esse, que desaparece ante
Rinoa, a líder que diante
65 Das Versadas é lei, contudo,

Que perante o amor, de tudo,


A Agniezka se entrelaça.
Em sete foscas asas se laça
O tom nebrite, olhar magenta,
70 Em açafrão, nos fios, inventa
Laços, com raízes perfumadas.
“Não há ganâncias resguardadas
Nas vozes das irmãs nos cercando,
Sinto por não falar imitando,
75 Se tens de partir, venha comigo!”

Agniezka tem, em tom amigo,


O elo que faz sua amada
Lhe abraçar, em voz sussurrada:
“Oblívio é minha resposta,
80 Não deixarás vossa proposta,

Como não deixarei meus


Deveres, não são apenas seus
Princípios” e Rinoa toca
Os lábios amados, invoca
85 O levitar, beijando no ar

Sua Guerreira a soluçar:


“Se não vier, partirei junto
De ti com as Versadas, me unto
No zéfiro, entre grias juro!”
90 Em risos é pisado o muro.

“E quem guiará suas armadas?”


Rinoa tem as mãos seguradas:
“Quem alegre contigo partirá,
Com meu juramento, não será.”
95 Pondera Rinoa receosa:

“Ordem da Rainha” lamentosa


É a expressão da tenra Fada.
“Sem ti, meu amor, só há nada.”
A Guerreira diz, elas dançam,
100 Trançando bárathros que avançam.
RINOA
Ode II

Os Fios De Coroa Rétzia


Se deu no mês de exploração
Sul, Merilith, vociferação
Da sabedoria, convencera
Rinoa, que em si percebera
5 A necessidade de se unir

A Agniezka, e seu punir


De lâminas ébrias marchando.
Seria a Versada, pensando,
O primevo contato com novas
10 Fadas, e seres vivos em covas,

O réu seria atacado


Caso atacasse, confiado
Se confiasse, criando elos.
Agniezka sentia anelos
15 De abandonar a expedição,

Fugindo com Rinoa, coração


De um mundo maior que qualquer
Outro sendo descoberto, “Quer
Deserdar de nossas irmãs?” Brinca
20 Agniezka, o magenta finca

O olhar no quantum, nove Fadas


Guerreiras seguem as trilhadas
Margens, Alvo Cedro dá passagem
À planície, na estiagem,
25 Coroa Rétzia se encontra

Em argyrita, as flores, contra


O céu nebuloso, nympheas,
Arthanithas, senes, azaléas,
E ingres, são aromas, perfumes.
30 Nos rios, nébridas, em cardumes,

Se tornam alimento, o rio


Barbo se divide, o vazio
Da planície recebe nove
Ramos opostos, nesses, se move
35 A vida aquática submersa,
E das aves, em caça imersa.
Blênia, Ires, seguem oeste,
Siluro, Thymallo, rumam leste,
Goraz, Leucisco, são fundidos
40 Ainda na planície, tidos,

Ódax e Volovan, como irmãos,


Dedos de diferentes vastas mãos,
Paralelos, encontram o Mugem,
Nos secos leitos em salsugem,
45 Esses, os fios de água doce,

Coroa Rétzia, agridoce,


Resguarda fios salgados do mar
Próximo, Infinitus, o pomar
Dos Colossais naufragados.
50 Pós-nove reinos encontrados,

As Guerreiras eram cinquenta.


Pós-cinco meses nessa unguenta
Rotina, de avanço sul, era
Clara a satisfação, a fera
55 Era caçada, e a cidade

Adentrada, toda lealdade


Ofertada era aceita,
Em gramado e favo deita
A voz, os incêndios são comuns,
60 E os Dragões se tornam incomuns

No céu que não é alterado,


Cinza, negro, deteriorado.
Unicelular é percorrido
O fértil terreno aguerrido,
65 Bravio, lúrido, incessantes

São as preces nos calmos instantes.


O eclipse alto resplandece,
Zenithal, o cinza escurece,
As nuvens são movidas no ventar
70 Tenebroso “Nesse salientar
Das trevas, nós devemos procurar
Abrigo” Rinoa sente no ar
A pressão, os relâmpagos descem,
Centenas, cerúleos, acrescem
75 O pesadelo fixo noturno,

Fugente em diurno, soturno.


Um carvalho serve de proteção,
No petém oco, em putrefação,
As cinquenta Fadas se abrigam.
80 Nos gritos, vidro e terra brigam,

Relâmpagos criam esculturas,


Das margens urgem novas figuras,
Vítreas, finas, iridescentes.
No tronco, galhos luminescentes,
85 Bruxuleantes, criam fissuras

Na árvore, escadas seguras


Revelam o Castelo sem vida,
Abandonado na ressentida
Inscrição central, lida “Não gizam,
90 Knóxias pétalas cristalizam

Em si mesmas” Rinoa entende


O significado, compreende
A razão do abandono total.
“Elas partiram, o sinal frontal,
95 De nossa busca, está nas flores,

Knóxias, encontradas, sem dores,


No extremo sul” à voz Versada
Há alegria comemorada
Entre as Guerreiras vívidas,
100 Novamente, nas ordens lívidas.
RINOA
Ode III

A Oração De Valespherria
O ano passara e o céu
Não mudara, como se o véu
Da tempestade melancólica
Devorasse toda bucólica
5 Paisagem amena lembrada.

Vinte reinos na alvorada


Ficaram além das cem voando,
Amizades feitas planando
Continuam nas asas batendo,
10 É o mesmo às dores ardendo.

E sete foram os Dragões vistos


Em tons distintos, fúnebres, mistos,
Acquarellas de fogo e brasas.
A natureza viva sem asas
15 Também é por fogo afetada,

Onde a vida inominada


Fluía se bastando, virginal
Em encanto, contudo, nupcial
Era a flama rude, bastarda.
20 O sangue na prata alabarda

Era de leão, lunx, e tigresa,


Felinos gigantes na acesa
Comparação com as tenras Fadas.
Singulares visões fragmentadas
25 Nascem aleatoriamente.

Os Obeliscos, altivamente,
Em telúrio e titânio,
Em calcário, ossos, crânio.
Pontes, acima se elevavam
30 De pináculos, se coroavam

Nos riachos e precipícios.


Em irídio, edifícios.
Dacmas jaziam silenciosas.
As pirâmides misteriosas,
35 Em ouro e jade, refletem.
São tantos enigmas que remetem
Às eras não descritas nos tomos,
Que, certamente, nunca os domos
Da sabedoria serão tidos.
40 Em certa manhã, passos mantidos

Quase pararam, glaciários,


Os ventos, sopraram gradários.
As nuvens estavam diferentes,
Em mesmo tom, cinza, inerentes,
45 Contudo, de branco, carregadas.

A neve desce ante rogadas


Preces, orações, hymnos sagrados:
“Valespherria, dos aclamados
Peténs o adormecer, dos galhos
50 Secos invólucro, dos trabalhos

A brisa materna, o semblante,


Luminescente e ofuscante,
Nomeado estação invernal,
Oposta à floração avernal,
55 Das constelações mãe do lampyro,

Digna entoação em suspiro,


Proteção clamamos, nos receba
Em vossa alma, em nós perceba
As intenções, viemos louvar,
60 Dar glórias, nossas almas salvar,

Nos guie no gelo, crie danças


Brancas nos levando às heranças
Merecidas, mérito planante
É o que cantamos tão distante.”
65 Em uníssono as vozes plantam,

Sentindo a neve que espantam


Com as bênçãos da Deusa viva,
Lhes acompanhando na cativa
Tempestade de cinzas e neve.
70 Delusória, a visão, leve,
Perdia o foco, o frio ar
Sufocava os pulmões, no polar
As asas vibravam congeladas,
Por vezes, quebrando nas geadas.
75 Anastácia não suportara,

Em seu coração congelara


O sangue, Guerreiras oraram,
Rinoa chora, e escutaram
Umas das outras os flagelos,
80 Enfraquecendo os novos elos.

Partiram do sepulcro em alvor,


Tentando silenciar o pavor,
Pulsando dúvidas, e terrores.
Campanário, é dos horrores
85 A busca do entender sonoro,

“Sinos, perseguem-me onde moro?”


É Agniezka quem questiona.
E desce densa, emociona,
A nuvem clareando, são Fadas!
90 Unidas, reluzentes, armadas,

Todas seguem a voz em alarde:


“Bem-vindas, o polar branco arde,
A neve queima, até mata,
E é o encanto que desata
95 Esse laço, irmãs!” então, cinco

Mil Fadas se moveram, em zinco,


O brilho rúnico encerrou
A sensação, a renomeou,
Zohar diz “Desabrochar, sorria,
100 Eis a flora de Valespherria!”
RINOA
Ode IV

O Leviatã Obliterado
Speculum o polar é chamado,
No seu nevar, que esperado
Minaz é perpétuo, as Fadas
Seguem Zohar nas nuvens geladas,
5 Cinco asas em tom neve claro,

Olhos ardósia, e o raro


Ónyx nos fios, que, levitando,
Longuíssimos, no vento dançando,
Abraçam os músculos da forte
10 Da seta voando, sendo norte.

O primeiro marco é a luz


Da torre Éspera, essa, seduz
As viajantes, emerge alta,
Num Obelisco marfim que salta
15 Do oceano, que congelado,

Em continente, é adorado.
“Numa cúpula, essa cidade
Protegida da nocividade
É pelo encanto de Tereza,
20 A Rainha que sem avareza,

Pós-sonho, a tu, nos enviara.”


Zohar à Agniezka falara.
“Que são os ostrinos corredores?”
Éspera emanava odores
25 Desconhecidos à Guerreira.

“Que alimenta a certeira


Cúpula é encanto, as runas
Acendentes, em frígidas urnas
Depositam todo o excesso
30 De ardor, e é nesse processo

Que nascido são os rios roxos,


Que na neve escorrem frouxos.”
A visão do estigma marcando
O branco, na neve ressoando
35 Cor, correntezas, marca a Fada
Guerreira, em Zohar centrada.
O mês em branco passa, não fluem
Delícias que vozes confluem
Em terra, como árvores, flores,
40 Frutos, fauna, pássaros, cores

Da arca, lume, ciclo da vida.


Quando a nevasca jaz partida
Toda vastidão é observada:
“Nós encontraríamos o nada
45 Até a última cair.” fala

Agniezka, Rinoa se cala,


De Zohar recebendo olhares,
E entre as asas das milhares,
Apenas a Versada não tinha
50 Arma, no pensar de Zohar vinha

A voz pronunciada “Quem ela


É, que te vê como sempre dela?”
Agniezka feliz respondera:
“O édito que te sucedera
55 Unira nossos destinos nessa

Campanha, e quando sinto dessa


O pertencer, entendo que somos
Uma, é meu amor, não fomos
Separadas, nós nunca seremos.”
60 Zohar lhe responde “Estaremos

Unidas também?” Não entendia


O amor, treinara o dia,
E a noite, por toda vida.
“Immaculada é a sentida
65 Paixão, pura, indivisível.”

E insistiria no possível,
Zohar, se o solo não rachasse,
Libertando escamas, tal passe
Em alvor monstruoso brotava,
70 Gutural, o urro ecoava.
“Não é Dragão, irmãs se preparem,
Os passos de Leviatã parem!”
O ser era como torre, alto,
Escamas como rochas, assalto
75 É o ataque cuspindo jades

Relâmpagos, há reza “Invades


Nosso lar, e também irmãos lares,
Vocifera nos meses polares,
É morte combatida, vencida
80 Com fé no tabernáculo, tida

É a encantada bênção de Us,


A Deusa das Chuvas, Divinus!”
Em sincronia todas as Fadas,
Ante Speculum doutrinadas,
85 Moveram as mãos, luzes lançando.

Em dor Leviatã circulando,


Relâmpagos jades aniquilam
Os raios da besta, compilam
Escamas e sangue, desfiguram
90 O avenal monstro, asseguram

As palavras em comemoração:
“É esse o poder, a redenção,
Que buscamos, onde encontramos?”
Agniezka escuta “Oramos,
95 E então, fomos presenteadas.”

Rinoa pede “Todas, levadas


Desejamos ser, os Templos serão
Vistados, na Centelha viverão.”
Zohar ponderou “As Versadas
100 Entrarão, por nós serão veladas.”
RINOA
Ode V

Que É Enterrado Em Speculum


Sucedeu na dualidade
Questionada à divindade.
Pedir proteção, poder, direção?
Seguir o enterrado coração?
5 Como sinal fora entendida

Zohar, e as irmãs, na contida


Campanha, logo, poder escolhem,
Visam, e em sete dias colhem.
O abismo é inabitado,
10 Em Rinoa, olhar é centrado,

A Versada desce só, a neve


Lhe abraça, Agniezka, breve,
Beijara a amada, Fadas
De Speculum, tão interessadas,
15 Não conhecem tal ritual belo.

Ante o Templo, dias, em elo,


Esculpidos são naturalmente.
Zohar se aproxima, em mente,
De Agniezka, elas conversam,
20 E aprendem, o sono dispersam,

Mas, o desejo delusório,


De afeto carnal, simplório,
É negado, e Zohar insiste:
“A alarvaria, que resiste,
25 Consiste em nulo abandono,

Os vossos lábios não tem dono.”


Agniezka não se irritava,
Tal som férvido lhe alegrava,
Era a vida como nascida,
30 Fúlgida, inconsequente tida.

Por vezes Fadas se beijavam,


Se copiavam, encorajavam
A descoberta nesse repruir.
O quantum não se deixava ir,
35 Fixado no Templo adentrado,
Por éter níveo circulado,
Onde as colunas, dezesseis,
Foram escavadas ante seis
Portas colossais na muralha
40 Congelada em questão “Quem talha?”

Juliet respondera “Antigo


É, ninguém sabe se inimigo,
Amigo, quem são os construtores.”
Os fios prata, como as flores
45 Em batalha, os olhos cianos,

As quatro asas lilases, anos


Fizeram Agniezka relembrar
De Anastácia, o celebrar,
As feições, eram idênticas,
50 Em alegrias autênticas.

Ainda na morte prematura


Pensando, a questão é futura:
“E quanto demora para voltar?”
As Fadas tiveram de consultar
55 Juliet novamente, que disse:

“Anos fazem, ela, quem predisse


Nosso encanto mortal, partira
Sem retornar, Kyle, a Saphira,
Que por encantamentos buscava.”
60 E em preocupação pulsava

De Agniezka os pensamentos.
O primeiro mês, em lamentos,
Tivera fim, e vem o segundo,
E o terceiro, em profundo
65 Sofrimento, que solitário

Escuta então o horário:


“Ó Rinoa, eis o tempo chego,
Em teus lábios aconchego,
Parto buscando, que me proteja
70 Valespherria, que me eleja
Como a vossa propriedade,
Sacra, plena, em sinceridade.”
Agniezka abrindo as asas
Mergulha, sente as vivas casas
75 Divinas nas paredes, voando.

A neve é túnel ecoando,


Branco, vítreo, iluminado,
Profundo, labiríntico fado
Percorrido, explorado no ar.
80 Nas galerias fundas do polar,

Jeroglyphos contavam passado,


E presente, como esperado,
Não havia futuro nos muros
Internos, gemidos inseguros
85 Guiaram Agniezka, que lia:

“Nascida do ventre, é folia,


E asa, pureza elemental,
Ausio é o pensar fontal,
Alimentadas são com cânticos,
90 Lumes, hymnos, verbos semânticos,

Em paz vivem com os colossais


Seres, as veredas abissais.”
A Guerreira não entendera
Que paz era a que percorrera
95 Enquanto planava observando

Os jeroglýphicos tons mostrando


O festim entre Dragões e Fadas.
Dentre as câmaras enterradas,
Rinoa chora na sala central,
100 Vazia, sem Deusa, teatral.
RINOA
Ode VI

Rinoa Aceita As Vozes


O quartzo escuro, congelado,
Resguarda o lacrimar velado,
De Rinoa, que um ocre cristal
Segura firme entre as mãos, tal
5 Cor espelhada, diamantina,

É banhada na água salina.


“E onde está o prometido?”
Tenta entender todo retido
Tempo, sem retornar à externa
10 Luz, Agniezka, na sempiterna

Edificação, que na abstrata


Falta de emoção se retrata.
“Quando adentrei este local
Todo gelo, e voz, era o cal
15 Sem vida que vemos, que tocamos,

Não entendo onde nós estamos,


Aqui não há sacra divindade,
Nesse cristal há atividade,
Pyrexia, talvez, esperança?”
20 Agniezka observa a dança

Iridescente de luzes, cores,


Do cristal emanam indolores
Flamas, impressas no scenário.
E passos são, no centenário
25 Templo, presenciados chegando.

Da figura se aproximando
São vistas as asas cor saphira,
Olhos e cabelos, quando vira
A Fada das dezesseis asas,
30 Radíferos são saphiras rasas,

Delicadas, e abençoadas.
“Quem ousa polares moradas
Divinas adentrar?” questiona
A que chegara, impressiona
35 A beleza no andar centrado.
“Sou Rinoa, abandonado
Fora meu lar, em tão distante
Tempo, aqui jaz o ofuscante,
Que tanto ansiamos resguardar,
40 A Centelha, dos Dragões o podar,

Inexiste, fora um engano.”


Como se o falado ufano
Carregasse troças, a resposta
Da Fada vem rindo em proposta:
45 “Sou Kyle, Versada em cantos

Que encantam, vivo nos recantos


Que recontam mitos ancestrais,
As verdades belas, teatrais,
Dos feitos gloriosos, vivos,
50 Eternos, dos seres que cativos

Chamamos Deusas, bênçãos, almas.”


E o ungir de Kyle, nas calmas
Testas, revela cores, verdades
Santas, espiritualidades.
55 Jeroglyphos venosos despertam,

Os mapas constelares acertam


Speculum, e o céu noturno,
Sobrepostos, o foco diurno
Reverbera nos Templos polares,
60 São setecentos pontos, lugares,

Suas linhas apontam o centro


Da câmara com as Fadas dentro.
“A Centelha não pode ser vista,
Tocada, adquirida na lista
65 De estrelas, a alma viajar

Deve, pós-sono, pós-encorajar,


Pós-certeza, partir sem pergunta,
Destinada, renegando junta,
Sangue, vísceras, desejos, amor.”
70 Rinoa que, prestes de, no clamor,
Ofertar sua vida estava,
Se cala, e então encarava
Agniezka, complacente rindo.
“Jamais partirás ouvindo
75 Desses lábios que não tens elos,

Lhe proíbo, os paranatelos


Vindouros, unidas, veremos.”
Agniezka insiste “Teremos
Quem partirá com todas unidas,
80 Indecisões serão repartidas,

Votaremos se necessário
For” e assim, tendo contrário
O pensar, Rinoa se calara.
Quando a falar Zohar voltara,
85 Pós-informada ser, se decide

Quem tornará à luz que reside


No Templo, Kyle que assistira
As falas, ajudaria, ira
Não se sentia pós-reencontrar
90 De faces conhecidas, sem frustrar.

“A Versada deve partir” disse


O som que, sem que se repartisse,
Unira todas as vozes claras
Das Guerreiras, entre as raras
95 Falas, haviam vozes que seguem

Agniezka, contudo, perseguem


O mesmo ideal, eleita
E eleitoras, aceita
Rinoa partir, os setecentos
100 Templos lhe serão funestos ventos?
RINOA
Ode VII

No Obelisco Central De Vita


Pilar, a luz do Templo se liga
Com o céu “Em bênção prossiga
Irmã” Agniezka chora, reza.
Rinoa não carece, não preza,
5 De existência corpórea,

Sua alma alterniflórea


Se torna, abandona o plano
Físico, parte em luz ciano.
“Não é a eterna despedida.”
10 Kyle fala, na voz é sentida

A paz do conforto, do abraço.


Meses pós-despedida do laço,
Zohar pela vez última tenta
Alcançar Agniezka “Enfrenta
15 O destino antes nos traçado,

Seguimos?” flui desencontrado


O enigma “A onde partimos?”
Zohar responde “Juntas seguimos
A ordem primordial fadada,
20 À travessia da voz nevada,

Speculum, onde antes nos era


Escolha, antes do monstro, fera.”
“Se não à Centelha, qual o rumo?”
“Tereza ordenara o prumo,
25 Nos é, onde nascem os cristais,

A jornada, das portas frontais


Abstivemos os passos, seguimos?”
Agniezka entende “Partimos,
Pois, celígero, o retorno
30 Da Fada não será no entorno.”

E as cinco mil comemoraram


A partida, em voz desejaram:
“Rinoa, retorne coroada!”
E no níveo é retornada
35 A campanha sul, as asas batem
Iridescentes, em luz rebatem
Cores, cânticos, tonalidades.
Um ano de prósperas cidades,
Reinos, tempestades, e neve,
40 Jaz passado “Trema, e eleve

Vosso espírito, nós chegamos,


Trinta e um reinos tocamos,
Observa, brilha no horizonte
A morada, efêmera ponte,
45 Das questões fontal deliberação!”

Agniezka vê na coloração
O mesmo alvor cor da vastidão,
Em seu respirar há sofridão,
Lamúrias lhe são resguardadas
50 Em cinzentas asas congeladas.

Voando, o enxame dançante,


Chega na ruína fascinante.
Circular, em âmbar enterrado,
Está, em ouro, desenhado,
55 O que pode ser lido “Presente

É a Deusa que a nós sente,


O inverno é sua criação,
Valespherria, soa a canção,
Seu nome brilha, é lembrado,
60 Nascera aqui, no conflagrado

Eclodir da real natureza,


Universal, tamanha beleza
Se expande pelos continentes,
Estações são as vossas vertentes,
65 Ore, e vossa voz escutada

Será, chore, e abençoada


Vossa pureza será, confesse,
E perdoada será, viesse
Alegre, e feliz retornará,
70 Abrace, ela te abraçará.”
O Templo se estendia alto,
Longínquo, são horas em contralto
Cantando, neve atravessando
Até o Obelisco marcando
75 O centro de Vita, o planeta.

No solo, a circular grilheta


Tem correntes negras espalhadas,
Em neve, caindo, enterradas.
Das férreas correntes renascem
80 Diamantinos cristais, nascem

Titânicos fluidos, perfumes


Florais dos rios, como lumes,
Emanam aromas nostálgicos
Curando ardores metrálgicos.
85 “Vibra o anáthema, chegamos,

À execração deles oramos,


Valespherria nos observará,
E o justo, a ela, nos fará.”
As vozes das Fadas se uniram,
90 As vítreas asas juntas giram,

O Obelisco é circulado,
Agniezka diz “É proclamado
O início, e o fim, orem,
Por escolhas, poderes, implorem,
95 Quando Rinoa, enfim, retornar,

Nós lhe ajudaremos no planar,


Lutaremos juntas, consagradas
Nas eufonias entoadas
Hoje, e sempre, alcançaremos
100 A Centelha, e prosperaremos!”
MAGDELEIN
Ode I

E Magma Floral É Alcançada


Rinoa não voltara naquele
Ano, onde vibrou àquele
Obelisco tenazes orações.
Speculum começava, em canções,
5 A reunir Fadas de cidades

Irmãs, de reinos, de idades,


Distintas, epanáforas vibram
Locuções, que desejos calibram.
Em três anos um milhão de Fadas
10 Estão reunidas, entoadas

São as preces, vive leucanto


A neve, florescendo em manto.
Magdelein a Zohar servira,
Desde antes do que resistira
15 Agre no Templo abandonado.

Nas ruínas do pilar cercado


Existiam túneis, cavernas
Profundas esculpidas internas
Na terra glacial, evanescer
20 Era o nome, rejuvenescer

O pronome, do vínculo brumal


Esvaindo onde emana mal.
Lilith é então convidada,
Por Magdelein, na enseada
25 Gélida, por sua vez, a bela

Chama por Aya, sentinela,


Exímia, pura, arqueira.
As três adentram a certeira
Caverna ampla, iluminada
30 Por vaga-lumes, determinada

É a ordem dos inaturais,


Rubros, acendendo os sinais
Esculpidos nas paredes, runas,
Jeroglyphos tomam as colunas
35 Que sustentam, no teto, grifados
Lúridos símbolos enervados.
Magdelein voava em cores
Âmbares, suas asas sabores
Em oito pétalas conservam,
40 Agripnias, curvas, se elevam

Liderando as irmãs amadas,


Wisteria é tom nas veladas
Imagens, a cor em sua visão,
A bênção sem coesão no sisão,
45 A quintessência das guiadas.

Lilith, asas multiplicadas,


Dezesseis, escuras, resguarda,
O olhar brilhante, alabarda
Ametista, tremula a chama
50 Preciosa, nos fios a trama

É tom ciano, como riacho.


Aya tem seguro o facho
Ouro, no arco ar é flecha
Encantada que densa se fecha
55 Pós-pensar, desejar, reordenar,

Levita sem foco questionar,


Nos olhos luzes esmeraldinas
Apreciam descobertas finas
Enterradas no vil labirinto,
60 Os nevados fios, no recinto,

Levitam contra a gravidade,


Duas são as asas, lealdade
Bronzina em tom, bem aromadas.
Nos corredores são apagadas
65 As feições, todas as direções

Auroreais pedem ações.


Magdelein, criança, avança
De olhos fechados, e alcança
A cratera sem voz esculpida.
70 E são quilômetros de descida
Abaixo do pilar que nasce
Ali, acima do que renasce
Calado, sem espectral presença.
“Nós desceremos à renascença,
75 Nos proteja Aya, não sei

O que há além do que lancei


Nesse salto, me sigam puelas!”
Sem bater as asas, as sequelas
No fundo impacto são temidas,
80 Tal pacto, ante as três feridas,

Não cessa o avanço vertical,


Descendo na cratera radical,
De margens expandindo, sem final.
O que era gelo, outonal
85 Se torna, em seguida soprado

É o primaveril, sinalado,
Urge o verão, e a luz brota
De Magma Floral, a lava, crosta
Incendeia, flamas escorrem
90 Líquidas ante rochas que morrem

Fundidas, e três foram os meses


Até a ruína, onde teses
Lucidaram o necessário:
“Quem vive nesse planetário
95 Coração, tu podes me responder?”

A sombra questionada, poder,


Relâmpagos, no olhar resguarda.
É uma Hidra sentenciada,
Inflamada no sangue térreo,
100 Tendo escamas em tom férreo.
MAGDELEIN
Ode II

Fada Coroada Por Serpentes


“Fadas naufragando em flamas?”
A Hidra questiona, escamas
Ardem magma, há hostilidade
Nas dez cabeças, seriedade.
5 Tal ser é maior que o pilar,

A torre Éspera, das Fadas lar.


Há no serpentário, execrar,
Falta de interesse no lacrar
Das vidas alegres visitantes.
10 Undífluo, são pressões constantes,

Lacerantes, em fogo vibrando.


“Descemos do topo ecoando,
Viemos te explorar amiga!”
Na voz, Magdelein é cantiga.
15 Os cem olhos da Hidra refletem

O branco do leite, repetem


Piscadas sem entender o agir
Das planantes no covil a surgir.
“Não tocam o solo, sempre voam?”
20 A Hidra as Fadas sobrevoam,

Notando as palavras em questão.


O minar da Hidra, onde estão,
Continua, flui escavante.
“Nem sempre voamos, no levante,
25 Antes nós sonhamos deitadas.”

Magdelein entre as caladas


É voz, Lilith toca a cobra,
Em suas mãos a natural obra
Arde, lhe queima, e repele.
30 “Sou Hidra Inflamada, pele

Não suporta meu simples toque,


De visões sou luz, o desfoque,
Tenho irmãs no núcleo desse
Planeta, e somos raras nesse
35 Território, nós preferimos
Vulcões, na neve nós nos ferimos.”
Por vezes os olhares se perdem
Na serpente “Vitórias herdem,
A anguícoma, eu, me elege?”
40 Magdelein sorri, o herege

Não vive em seu ser, fé pura


É tal existência segura.
“E tu, que fazes nessa caverna?”
A cor, wisteria, à externa
45 Visão emana delicadeza.

“Procuro a Centelha, destreza


Das justas Hidras, mãe primordial.”
As três gritam, é setentrional:
“Nós também queremos a Centelha!”
50 Um vaga-lume, como abelha,

Emite fala rente Lilith:


“Uma vez, lembra de Merilith?”
A Fada relembra histórias,
Escutadas, como memórias,
55 De Zohar, onde cobras morriam.

“Sim, há razão para que sorriam,


Não haverá sepulcro glacial,
Hidra nos dará o sempiternal
Buscar de nossas existências!”
60 Magdelein laça essências

Irmãs no abraço, comemora.


“E essa, e o que me implora
O buscar, esqueces, também quero,
Anseio, viajo, esmero,
65 Tocar da Centelha o destino.”

Hidra lembra a Fada em hino.


“Nós podemos fazer um acordo,
Tu encontras o que livre mordo
Em sonho, e divide conosco,
70 Assim, pós-nós usarmos, convosco
Partirá a Centelha milenar!”
A empolgação no gritante ar
Deixa Magdelein, encontra
Hidra Flamejante, reencontra
75 O confiar, o doar, benigno:

“Tu, ensinas voar o maligno?”


Aya não entende a questão:
“Os males profanos, onde estão?”
Segurando o arco, a flecha
80 É preparada no ar que fecha.

“És tu o mal que mata, persegue?”


Magdelein questiona, segue
Frente as dez cabeças de lava.
“Não, sou serpente que escava,
85 Procura, trabalha, é amiga.”

Respira aliviada, liga


Os traços no olhar leitoso,
É constelação, e é poroso
O expressar, a Fada escuta:
90 “Anguícoma, respondes, refuta!”

Magdelein pensa, informando:


“Não tens asas, no ar, invocando,
Necessitas tal elo, vê, sinto,
Mas, não voarás, juro, não minto.”
95 Hidra Inflamada chora triste,

Magdelein lágrimas, em riste,


Perde, emocionada, pensa
Em como criar asas, intensa
Se move acima das ruínas,
100 Lhe seguem as Fadas heroínas.
MAGDELEIN
Ode III

As Almas Reunidas No Ente


Magma Floral desaparecera
Há anos, em vulto perecera,
Engolida por mar, não por lava.
A Hidra Inflamada escava,
5 Ignorando as Fadas brincando

Ante ruínas, sobrevoando


Alvéolos, que cristalizados,
Em diamantes, não mantém lados,
São esculturas no magma quente,
10 O derreter se move poente

Por rochas e terra, teáceas,


Brasadas, livres, rubiáceas.
Diamantinas residências
São adentradas, as vivências
15 Imaginadas adquirem formas.

No phlegethonte fosco as normas


Não refletem sombras simplórias,
Tais erythropsias, glórias
Soterradas, não falam, escutam:
20 “Irmãs nativas, ainda lutam?”

Magdelein grita agitada.


Aya persiste concentrada.
Lilith boceja sonolenta:
“A Fada deve estar sedenta,
25 Sobrevivendo sem água aqui,

Fora que, não há partida daqui


Elocução, pedido, festejo.”
Magdelein canta o desejo:
“Desiderato é o caminho
30 Que antes fora o irmão ninho

De lábios hoje não calados,


Nós descemos por objetivados
Elementos, e reencontramos
Razões distintas, elos pensamos,
35 Se vida me escuta, responda!”
E não houvera som na onda
Perpétua de calor fluindo,
Intrínseca lava emergindo,
Do coração de Vita, pulsando.
40 Circunscrito, fora aflorando,

Por alamedas, onde carbono


Se torna árvore, amplo trono
De vime, rutênio, e carvão.
Deitado está um ser, em vão
45 São as tentativas de atrair

Tal atenção sem em voz retrair


A angústia, a educação:
“Tabífico tempo em reação,
Escutai a prece, desperta
50 O ser, em carbônica coberta.”

Esplendor em aura emana,


Vibrando alta a voz insana:
“Despertem, sacras almas remidas,
Levantemos do trono unidas!”
55 E em carbono o ser se move,

Olhos, mãos, braços, corpo, comove


No andar, não se equilibrando,
Caindo no magma, afogando.
As asas, trinta, petrificadas,
60 Ajudaram as ramificadas,

No ser, existências unidas.


Das profundezas são refletidas
Óperas fádicas atraentes:
“Brilha Teur, mãe das Fadas crentes
65 No crepuscular, vibre no lunar,

Cresça em nós, risque o consternar


De nossos corações, entregamos
A ti nossas almas, consagramos
O sangue das veias, ereta
70 É mãe, é a filha, é a neta.”
Magdelein lembra da oração
Clamada, da Deusa em ação,
Conjurada, almas reconhece,
O infantil viver se aquece.
75 O ser é formado da cidade

Ruína, das almas em idade


Esquecida, imemoriais.
“E elas são como nós, reais,
Vivas, porém, não evoluídas
80 No que nós somos sempre mantidas!”

De Magdelein a descoberta
É compartilhada na aberta
Vastidão, a Hidra, que cavava,
Move duas cabeças, estava,
85 No vozerio, interessada.

A erupção, então deixada,


Guia a voz do misterioso
Ente carbônico, poderoso:
“Reconhecestes nossa origem,
90 A parabenizo na fuligem,

Fadas nós fomos em separado,


Colosso nos tornamos, lacrado,
Em internas vozes guturais,
Feticídio mortal, leais
95 Pensamos como um, nós vivemos

Protegidas, elucidaremos
Vossas dúvidas se questionar.”
Magdelein lê em brilho dunar
A necrographia da ancestral
100 Jazente boreal, e austral.
MAGDELEIN
Ode IV

Cantigas Para Sonhar Alegre


Hidra, voltando a escavação,
Ignora a fluente falação.
O Ente sorri em pedra fosca.
A cidade circular é rosca
5 Em brasas, surgem centralizadas

As tênebras das palavreadas


Locuções impressionativas:
“Centelha, dela, são privativas
As possíveis zymogenias,
10 As vozes em cerebrasthenias

Não tem fim, como o fogo deles,


Dragões com asas gigantes, neles
Nossa paz se perdera, ajuda?”
Magdelein termina, e muda,
15 Aguarda do Ente a resposta.

Hidra Inflamada, bem-disposta,


Canta a si mesma, escavando:
“Montanhês, o ar se levantando,
Tão cortês, é o som belígero
20 Do Marquês, o pai celígero,

Invalides, escamas perdidas,


Ilides, serpentes repartidas,
E quem canta vibrando em chamas,
Incendiando núcleos, amas?”
25 Pega fôlego a voz gutural:

“Amo mergulhar nesse natural


Que clamo, vibram mortos no quintal
Os anos, dançam contra o letal
Engano, abraço nossa terra,
30 Como o que enterra, não erra

Quem segue a canção do fulgural!”


O Ente, em interesse rural,
Bucólico, arcos imagina,
Desenhando aros na neblina,
35 Dançando na doce melodia,
Se inclinando ante o dia,
Que é de Magdelein o sorrir.
“Me responda antes de ter de ir!”
Grita a Fada intempestiva.
40 “Perdão, tal cântico em passiva

Habilidade apreendera
Minha atenção, não percebera
As notas, não dançastes, há razão?”
Magdelein, suando em sezão,
45 Incha as bochechas, explicando:

“Tem fogo caindo, emanando,


De terra, de teto, o ar falta!”
A lembrança do Ente vem alta:
“Entendo, sois Fada, esqueci,
50 Profundo meu corpo aqueci

Por tanto tempo que nunca sinto


Calor, febre, agora, não minto,
Lhe respondo, Centelha dissera,
Não sei o que é nessa era.”
55 Os élytros se movem na Fada

Ignorando o ser, consternada,


Magdelein se afasta brava.
E a Hidra não para, escava.
Aya, do arco, ri do Ente,
60 Lilith suspira, em doente

Expressão calma de desânimo.


O exil escuta com ânimo,
Da arqueira, que o queria
Ver dançando no que lhe seria
65 A segunda vez, Aya canta:

“Desce da ribeira, encanta,


Tanta valsa, erva cidreira,
Flora e planta, brincadeira
De tocar, de rir, e de abraçar,
70 Corre logradeira, a laçar,
Tombam galhos de cinerárias,
Quebram esferas globulárias,
Vibram as sedentárias feras,
Rompem eras, e ti incineras,
75 Tremem quadris, e balançam asas!”

Batendo mãos, Aya vê brasas


Levantando, e o ser dançando
Acompanha as cores vibrando
Em passos alegres, e ritmados.
80 “E meus sentimentos mimados

Perdoe, Hidra, já encontrastes


A Centelha, sinto os contrastes
Diferenciados, vosso cavar
É tenro, está prestes de travar
85 Nosso objetivo, não é certo?”

Hidra Inflamada tem por perto


A terra esbranquiçada, leve,
Desabrochando como a neve.
“Sinto, tudo o que encontrei
90 Fora esse túnel, não entrei,

Sou grande, tu queres explorar?”


E na abertura há do orar
A runa da torre celestial.
Corre o magma juxtafluvial.
95 Magdelein à nívea terra

Ruma, na porta escura erra,


Voa veloz cofres invadindo,
De irídio, não perseguindo
Nada além da vil excitação
100 Da descoberta em perfloração.
MAGDELEIN
Ode V

Olfren, A Deusa Renascida


Céphalas asas brilham nas salas
Iridescentes, e tais alas
São atravessadas lentamente.
Magdelein tem a luz à frente,
5 Um pilar, onde exogýnia

Escadaria, em trigynia,
Revela o corpo circulado
Por enxofre no vidro cercado,
Ela dorme, é uma fêmea
10 No líquido, em forma sêmea,

Evoluindo à maturação.
Na câmara urge a mutação,
A pele virgem é descascada,
Os olhos são neve em vidrada
15 Harmonia, sangue egrégio,

Em preto é o privilégio,
E em branco é o adágio
Ante a agrypnia, ágio
Atemporal, então, renascendo.
20 Respira a fêmea gemendo,

Sua luz corta a rocha quente,


Intensa, é estrela poente,
A caverna não mais existe,
E o teto fundo não resiste,
25 A luz permanece, é cegante

O que fragmenta no ofuscante


Impacto, tal epagoge não faz
Som, somente rocha, terra, desfaz.
E os pilares iluminados,
30 Daquela existência, prados

Carregam às nuvens do vil céu.


Levitam ilhas, no escarcéu
Das expressões abismadas fala
Magdelein, cuja luz inala:
35 “E quem sois, menina bonita?”
E despertando é reescrita
A feição séria de antes
Naquela liberta, triunfantes
São seus versos em alegria:
40 “Sou a nascida da sangria

De todos os desejos de suas


Irmãs, e seus também, são duas
As formas certas de me descrever,
Olfren é meu nome, pode ver,
45 E a primeira é bonita,

Deusa é a segunda, Vita


Me pertence, vocês me criaram,
Agora escutem, imploraram
Por milagres, posso realizar,
50 Se desejarem idealizar.”

E houvera comemoração,
Ante milhões em mobilização
Olfren se erguera levitando.
Na caverna, ardente, buscando,
55 Hidra Inflamada continua.

“A busca é agora só sua.”


Serpente pensa solitária
Até tocar a sepulcrária
Magdelein lhe questionando:
60 “Tu continuas aqui cavando?”

E Hidra a responde tristonha:


“Deusa, períphrase que sonha
Como Fada, não me ajudará,
Sei que não, nem mesmo tentará.”
65 E incham as bochechas da Fada

Magdelein, que ultrapassada,


Por Aya e Lilith, as vê
Indo à Deusa que antevê
Todas as ações nas profundezas:
70 “Olfren resguarda sacras destrezas
A todos, não apenas às Fadas!”
Por Magdelein comemoradas
São as novas palavras divinas:
“Hidra, Olfren tem tantas vacinas,
75 Que são infinitas, ela dará

Centenas de Centelhas, e verá


O que digo, nós somos amigas,
Use os cem olhos, investigas!”
Hidra, nas dez cabeças sorrira,
80 E escalando cima seguira.

Muitas são as Fadas que falam


Com Olfren, e então não se calam,
Iluminadas, agradecendo.
No merídio neve vertendo
85 É de Magdelein chego a vez:

“Tu podes desejar antes talvez?”


À Hidra fora dito, e ela
Aceitou a fala, dela:
“Centelha por favor, uma basta.”
90 Surge na voz da Deusa casta:

“Centelha é um poder, motivo


Tens, lhe será espelho ativo
O que bruto de mim receberá.”
Hidra lutuosa diz “Brilhará
95 Em mim as chamas que são capazes

De derreter as lunares fazes


Do selo rompido em meu lar.”
E o corpo tendo dez mil, em ar,
O tamanho da Fada que sorri,
100 Se ilumina, Hidra parte, ri.
MAGDELEIN
Ode VI

Do Outro Lado Do Espelho


E quando Hidra se despedira
Magdelein beijos sentira
Lhe cobrindo, agradecimentos.
A Fada também, em sentimentos,
5 Beijara, não se queimara

Graças a Olfren, que levitara


Divinas runas entre os seres.
Parte de Agniezka poderes
Em pedido, para o expulsar
10 Dos Dragões, em falado retesar.

Olfren escuta a Guerreira,


Criando nas floras, na beira,
Rúnicas proteções no planeta
Inteiro, mesmo a vareta
15 Fina, e a árvore colossal,

São envolvidas no sacro missal


Encantamento, assim, expulsos
São os Dragões, cujos quentes pulsos
Cardíacos tornam às montanhas,
20 Erupções, voltando às entranhas

De Vita, também podendo voar


Entre as nuvens distantes, no ar,
No inverno, estação anual
Da procriação setentrional.
25 Zohar desejara seu amor

Ser correspondido, sem o temor


Da negação, e Juliet sente
Que o momento em sua mente
Aguardado chega, e declara:
30 “Se queres amor, vem e não para,

Me abraça, e te amarei.”
Zohar responde “Deixarei
O que antes pensei, errada,
Sou da amiga, irmã, nada
35 Nos separará, nem vida, morte.”
E das duas o abraço forte
Guia o beijo, e desejo:
“Que Rinoa retorne, ensejo
Maior não haverá, brindemos
40 Em água gélida, e oremos!”

Olfren aceita tal pedido.


À Guerreira, do iludido
Solitário suspirar, nasce
A visão da que bela renasce
45 Das constelações, é a Versada.

Isobafia em congelada
Expressão é o encontro entre
As apaixonadas, e dentre
Todas, Rinoa tem os abraços
50 De Agniezka, firmando laços

Para toda a eternidade.


De Rinoa, a passividade
Em voz a Olfren procura o lar:
“Reviva ela, o aquarelar
55 Inicial desses nossos elos,

Artemísia, cor dos farelos


No açafrão cabelo, lilases
São tais olhares, nobres frases
Não lhe completam, lhe adjetivam.”
60 E assim, onde as runas crivam

O solo, emergem os ambares,


Fios, as que compartilham lares
Com a renascida cantam seu
Nome, Artemísia “Do teu
65 Ventre invernal me ergo, grata

Sou, mas, podeis, tornar prata


Em ouro, todas revivendo,
As Fadas, por fogo não vivendo?”
E Olfren sorrira à menina,
70 Assim, entre runas, cianina,
A insígnia, é colorida,
Tal jerarchia é nova vida,
Ígnea, brilhando, na luz lunar,
Das marés mãe alegre, lacunar,
75 São renascidas todas as Fadas

Por Dragões mortas, desencontradas


São as dores, e os sentimentos
Ruins, angústias, e lamentos.
A felicidade acompanha
80 Línguas, e ninguém mais apanha,

Míngua, só há satisfação, e bem,


Mas, Magdelein queria também
Uma Centelha para si, ela
É a última a falar, dela:
85 “Tenho uma dúvida, brincava

Quando menor, e imaginava


Se era possível, só olhando,
O desvendar, quando não nevando,
Das luzes, de todos os números,
90 Que se elevam ante úmeros,

E dedos apontando, viverá


A realizar o que moverá
Essa Fada até o noturno?”
Magdelein provoca, em turno,
95 O riso da que desafiada

Lhe responde divina “Moldada


Serás no que retem tal resposta,
Unicórnio serás, disposta
Terás todas as noites para
100 Contar, sois a criança rara.”
MAGDELEIN
Ode VII

Que Contou Todas As Estrelas


Entre penhascos e neve polar,
Onde mesmo telúrio é lar,
Magdelein adentra o sonhar.
E no chifre único o lenhar,
5 Do ar, acompanha o suplantar

Nos precipícios a levantar,


Nos alcantis observando o mar,
De congelada grama, e pomar.
Os gostos abençoam o andar
10 Resguardando em vozes o bradar,

Remetido, cativo no pensar.


E mesmo nesse noturno ansar
Os números não cessam em contar,
Brilha a Virginal no enfrentar,
15 E o Crustáceo, que a vibrar

Permanece acima do quebrar


Da Urna, que dúctil, no alvorar
Permanece fechada a orar,
Toca o Arco, quase circular.
20 E nas Veias há o esfolar,

Como ramos, e galhos, a sangrar,


Das Torres, foscas, há o alegrar
No Unicórnio, que a contar
Persegue o eterno apontar
25 Ante Juíza, cujo cintilar

Acende, e apaga, no pular.


E são cem mil estrelas no arcar,
Escuro, ressoado no fincar
Do olhar wisteria, sem borrar
30 A visão, sem o caminho errar

Na coalizão pós-endeusar
Daquela da Centelha no usar.
Bahamut, sete pontos, conflagrar,
Paranatelo, grama, em flagrar,
35 Tem o ritmo da alma a trotar.
É o adeus sem nome restar
Vivo, de si, no polar, congelar,
Então se torna passado falar,
É a expressão cujo blasfemar
40 Descreveria o ar, o calmar

De Fênix, da flama a deixar,


Da Quimera em sono, relaxar,
Dos suspiros brumais, teimar.
No brilho austral há reformar,
45 Onda tem em prata o contornar

Safírico, da esfera lunar.


Na Folhagem existe o tragar,
O coinquinar a naufragar,
Do Polvo, dos tentáculos, do dar,
50 Ante amanhecer, o acordar.

E na Linha não há o postergar,


Trinta é o número no fisgar,
Constelação que reta, no estar,
Circula Vita, sem o confrontar,
55 Preservando de Lince o arfar,

De Cachalote o nu abafar.
Cervo Maior, clama no gerar,
Cervo Menor, sonha no esperar.
E a Fada, em canções de ninar,
60 Escuta o Felino ronronar.

E a Espada tenta não cercar


O Escudo Podre a confiscar,
Não refletido no espelho par,
Escudo Vital, do brilho ímpar.
65 Ofioideo tem no babar

Os venefícios do acabar,
Que são da doença o conservar.
Caída, Asa sente enervar
Os préstimos, e o endividar.
70 Coelho tenta em vão revidar
A voz do Basilisco sem notar
Que lhe morderam nesse anotar.
Brinca na tempestade, o lidar
Do Unicórnio nesse podar,
75 Sem deixar de estrelas fitar,

Contando a Cruz, o enfeitar


Da Coroa, tendo no jejuar
O que não consegue lhe enjoar,
Frutas, legumes, e o cativar
80 Dos cintilantes pontos, do crivar.

Magdelein, nesse salientar,


Ora, observando o encrustar
Do tempo, nos olhos o lacrimar
Não impede o negro enturmar,
85 Do que estrelas tem a beijar.

São milênios nesse viajar,


Contando estrelas a tremular,
Fadas, e poeira estelar.
E os números nesse conjurar
90 Tendem a se expandir, perdurar,

Toda morte é retilinear,


Morre estrela, nasce, no cear,
Constelação, que pós-suicidar
Recria os números no findar.
95 Unicórnio, no inocentar,

Caminha, e voa no levitar,


Sua voz tenta confidenciar
A descoberta, o associar:
“Ascendo, nesse emocionar,
100 A questão, podes solucionar?”
Posfácio

A poesia é arte intrínseca.

Se houvessem formas corretas de traduzir o que poemas querem dizer,


tais léxicos, não nasceriam de letras estudadas em salas de aula,
urgiriam de estudos em podres corações de cadáveres em necrotérios.

Inspiração é palavra injusta, faz parecer serem necessários momentos


determinados, diferenciados das melancólicas rotinas, para que a
escrita, enfim, flua como desejada, no entanto, a inspiração que
acredito, e vivencio, é constante, e até mesmo, sonolenta, preguiçosa.

Dessa forma nasceram as palavras descritas em versos, as histórias, as


personagens, a mitologia fádica acompanhada em vinte e um poemas
que me satisfizeram e, espero, também tenham te satisfeito.

Sou grato aos meus familiares, exclusivamente, mãe e pai, por me


suportarem nesses últimos anos, também agradeço aos espíritos nobres
que se esforçam, solitariamente, para manter a pouca, quase nula,
cultura nacional acessível às massas.

Deixo essas últimas palavras para os leitores, escritores, todos com


site, de resenhas, de vídeos, de textos, de dicas de livros, e de todas as
formas que a criatividade humana conseguira imaginar até hoje
pensando em arte, muito obrigada por ajudar a literatura fantástica
brasileira nessa existência sombria, quase apagada, em tempos onde a
liberdade de expressão corre sérios riscos de desaparecer para sempre,
unidos nós sobreviveremos!

Louveira, 24 de Janeiro de 2018.


– Tafael Ciccaglioni.
Para uma simples conversa, uma não simples leitura, comentários,
sugestões, críticas, ou em PDF baixar de Ciccaglioni a obra:

Email
tafaelciccaglioniautor@gmail.com

Para ler online:

Wattpad
@TafaelCiccaglioni
Tafael Ciccaglioni

Asas Fádicas, 2018.

Você também pode gostar