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revista do serpro

entrevista
Cezar Alvarez, coordenador
do Programa de Inclusão
Digital do governo federal

ANO XXXVI – No 202 – 2010

Democracia
digital Governo, setor privado e
sociedade civil se articulam
para universalizar o acesso
Plano Diretor da população brasileira às
de Tecnologia Tecnologias da Informação
e Comunicação
da Informação
Planejamento estratégico
garante efetividade no uso
das TICs por organizações
públicas e privadas

redes sociais
Órgãos dos três Poderes
da República aderem às
comunidades virtuais e se
aproximam do cidadão

inteligência
artificial
Novas tecnologias devem
aperfeiçoar os serviços do
governo em meio eletrônico
Foto: Arquivo Serpro
revista do serpro

entrevista
Cezar Alvarez,
coordenador do Programa
de Inclusão Digital do
governo federal

ANO XXXVI – No 202 – 2010

Democracia
digital Governo, setor privado e
sociedade civil se articulam
para universalizar o acesso
Plano Diretor da população brasileira às
de Tecnologia Tecnologias da Informação
e Comunicação
da Informação
Planejamento estratégico
garante efetividade no uso
das TICs por organizações
públicas e privadas

redes sociais
Órgãos dos três Poderes
da República aderem às
comunidades virtuais e se
aproximam do cidadão

inteligência
artificial
Novas tecnologias devem
aperfeiçoar os serviços do
governo em meio eletrônico

– A revista do Serpro
Ano XXXVI nº 202 mar/abr 2010
ISSN 0100-5227
Título depositado no INPI, sob nº 01125
A revista não se responsabiliza por matérias
assinadas. As matérias podem ser reproduzidas,
desde que mencionada a fonte.
Coordenação de Comunicação
Social do Serpro
Tiago Macini

Editor

Por que a Inclusão


Carlos Marcos Torres

cHEFE DE REPORTAGEM
Ana Lúcia Carvalho

Digital é tão importante Diretor Presidente


Marcos Vinícius Ferreira Mazoni

para um país como Diretor Superintendente


Gilberto Paganotto
Diretores

o Brasil? Antônio Sérgio Borba Cangiano


Nivaldo Venancio da Cunha
Jorge Luiz Guimarães Barnasque
Vera Lúcia de Moraes

N
José Antonio Borba Soares

o ano de 2005, fiz o concurso para o Serpro. Passei em 10º lugar. Conselho Diretor
Bruno César Grossi de Souza
O telecentro transformou minha vida”. Essas são as palavras Francisco Mendes de Barros
Laerte Dorneles Meliga
de Jorge Barbosa, empregado do Serpro, que teve seu primeiro Marcos Vinícius Ferreira Mazoni
Marilene Ferrari Lucas Alves Filha
contato com a informática num espaço de inclusão digital insta- Raimundo José Rodrigues da Silva
lado em sua comunidade, no Rio de Janeiro (RJ). Conselho Fiscal
A história desse cidadão brasileiro é parecida com a de milhares de outras Ernesto Carneiro Preciado
Juliêta Alida Garcia Verleun
espalhadas pelo País. Pessoas simples, sem acesso à Internet, que viram André de Sosa Vérri

suas vidas mudar quando conheceram o mundo digital. Por isso, propiciar Endereço
Sede: SGAN, Q. 601, Mód. V
telecentros é mais do que doar computadores. É dar oportunidade. É permitir CEP: 70836-900 – Brasília/DF
Fones: (61) 2021-8181
e incentivar a construção e a apropriação do conhecimento. É compartilhar e Fax: 2021-8531
fomentar a preservação das culturas regionais e das atividades comunitárias. Regionais do Serpro
É promover o desenvolvimento humano e econômico do Brasil. Brasília – Av. L2 Norte – SGAN, Quadra 601,
Módulo G. 70830-900 – Tel. (61) 2021-9000
Acreditar no acesso digital é abrir portas. É tornar possível um mundo de
Belém – Av. Perimetral da Ciência, 2.010,
conhecimento e inovações a um clique. Ciente disso, o governo federal pos- Bairro Terra Firme. 66077-830 – Tel. (91) 3342-1777
sui inúmeras ações e projetos na área de inclusão digital. Iniciativas como o Fortaleza – Av. Pontes Vieira, 832, São João Tauape.
60130-240 – Tel. (85) 4008-2800
Casa Brasil, o Telecentros.br e o Um Computador por Aluno – UCA mostram
Recife – Av. Parnamirim, 295. 52060-901
que os meios digitais são a forma mais rápida e eficiente de alcançar novos Tel. (81) 2126-4000
patamares na Educação. Salvador – Av. Luís Vianna Filho, 2355.
“Foi meu primeiro contato com a informática, e me apaixonei pela área de 41130-530 – Tel. (71) 2102-7800

tecnologia. Participei de cursos que me estimularam a estudar mais, termi- Belo Horizonte – Av. José Cândido da Silveira, 1.200,
Cidade Nova. 31170-000 – Tel. (31) 3311-6200
nar meus estudos”, afirma Jorge, que aprendeu essa valiosa lição num dos
Rio de Janeiro – Rua Pacheco Leão, 1.235,
mais de 300 telecentros dados pelo Programa Serpro de Inclusão Digital. Jardim Botânico. 22460-905 – Tel. (21) 2159-3300
Além disso, democratizar o acesso à informação é levar os serviços públi- São Paulo – Rua Olívia Guedes Penteado, 941, Socorro.
04766-900 – Tel. (11) 2173-1322
cos mais próximos do cidadão. Enviar a declaração do imposto de renda pela
Curitiba – Rua Carlos Piolli, 133, Bom Retiro.
Internet, acompanhar os gastos do governo e emitir certidões são facilidades 80520-170 – Tel. (41) 3313-8282
disponíveis, bastando apenas um micro e conectividade à rede. Porto Alegre – Av. Augusto de Carvalho, 1.133, Cidade
Nesse sentido, a atuação dos governos, em parceria com a sociedade civil Baixa. 90010-390 – Tel. (51) 2129-1200

na promoção da inclusão digital, é um componente obrigatório para a garantia Edição, redação, revisão, projeto gráfico, diagramação e arte final:
dos direitos à cidadania e ao desenvolvimento social. O Brasil não pode ficar i-Comunicação Integrada
de fora da revolução digital. Fotografia: Arquivo Serpro, Luiz Okubo, Luciano Vargas, Agência
Brasil, Agência Senado, PhotoXpress.com, Heroturko.org e Stock.
xchng®
TIRAGEM: 12 mil exemplares
Marcos Mazoni IMPRESSÃO: Mais Gráfica
Presidente do Serpro DISTRIBUIÇÃO: Gratuita
sumário

capa
O poder da
inclusão
digital para o
desenvolvimento
do indivíduo

18
14 30
pdti DISCUSSÃO -
Foto: Heroturko.org

Foto: Heroturko.org

Planejamento MARCO CIVIL


é crucial para Legislativo e
administração Executivo preparam
dos recursos projetos antagônicos
e processos para internet
tecnológicos
Fotos: Heroturko.org
páginas
redes verdes
sociais Por meio da
Órgãos públicos reciclagem de
aderem à computadores
onda das também se
comunidades promove a
virtuais Inclusão Digital

32 42
38
inteligência
06 entrevista principal
Cezar Alvarez: o acesso às TICs

artificial 08 interação
As novidades da revista Tema

Supercomputadores
mais próximos do
09 opinião
Sérgio Amadeu da Silveira, doutor em
Ciência Política
raciocínio humano
10 curtas
Planejamento adota Software Livre e mais

24 artigos
Especialistas falam de Open Source
e Java Enterprise Edition 6

29 arte digital
Quilombolas valorizam produção artística
e cultural através das tecnologias

36 memória
As primeiras unidades de telecentros
implantados no País

46 opinião
Nivaldo Venancio da Cunha fala da
Inclusão Digital
entrevista principal

C oordenador
do Programa
de Inclusão
Digital do governo
federal e chefe de
gabinete-adjunto
de Agenda do Gabinete
Pessoal do Presidente
da República, o
economista Cezar
Alvarez fala nesta
entrevista exclusiva
à revista Tema sobre
os avanços do País no
esforço de proporcionar
o acesso de todos os
cidadãos às Tecnologias
da Informação e
Comunicação (TICs).
Ele destaca iniciativas
como o recém-lançado
Plano Nacional de
Banda Larga e outras
ações que buscam
erradicar a exclusão
digital do Brasil.
Segundo Alvarez, o
sucesso desse trabalho
depende de uma ampla
articulação entre os
governos federal,
estaduais e municipais,
além do setor privado

Foto: Arquivo Serpro


e organizações da

A inclusão
sociedade civil.

digital é um
direito fundamental
do cidadão
6 | tema | mar/abr 2010
TEMA: Qual a real importância da inclusão digital
para o desenvolvimento social de um país?
ALVAREZ: Eu não tenho a menor dúvida de que o
acesso ao conhecimento e a capacidade de proces- o plano objetiva garantir maior
sar, criticar e produzir informação é um direito fun- competitividade ao mercado,
damental que se afirma no dia de hoje. E, para isso,
é preciso haver políticas públicas, porque nossas redução do preço aos consumidores,
disparidades regionais, de renda e culturais, não ampliação das redes de
permitem que isso aconteça de uma forma natural.
É necessária uma articulação entre governo – aí in-
telecomunicações e criação
cluindo União, estados e municípios –, sociedade e de uma política de financiamento
indústria para dar conta disso. No Brasil, a exclusão
digital acentua ainda mais as desigualdades sociais
industrial e tecnológica
existentes.

TEMA: Qual a importância de existir uma Coordena- TEMA: Significa que ele deve ser ampliado?
ção de Inclusão Digital diretamente vinculada à Casa ALVAREZ: Sabemos que um plano dessa natureza re-
Civil da Presidência da República? quer uma articulação estratégica entre empresas, setor
ALVAREZ: Em 2004, no máximo cinco ministérios fa- privado, produtores de equipamentos, Agência, insti-
ziam alguma ação enquadrada no conceito de inclu- tuições de defesa do consumidor, desenvolvimento de
são digital. Dois anos depois, esse número subiu para novos aplicativos, entre outros. O País precisa da banda
13 ministérios. Isso mostra a necessidade de uma ar- larga para viabilizar suas várias aplicações relativas à
ticulação que dê escala e complementaridade, evitan- educação, cultura, saúde, e-Gov, e isso exige todo um
do duplicações e lacunas numa estrutura de governo trabalho relativo a softwares, serviços públicos, moder-
que é muito fragmentada, especializada. O tema da nização administrativa e, principalmente, qualificação
inclusão digital é horizontal, perpassa de forma per- das nossas pequenas e médias empresas. Mais da me-
pendicular um conjunto de ações envolvendo educa- tade delas tem, no máximo, dois computadores, nor-
ção, cultura, saúde, relações sociais, conhecimento malmente usados para troca de e-mails ou para uma
e outras questões. A ideia do presidente Lula foi de listinha de preços, com um sítio precário. Então, vemos
que essas ações precisavam ter uma otimização, que há um grande potencial no sentido de dar mais
uma visibilidade e um planejamento conjunto. Uma qualidade, mais serviço, mais produtividade à pequena
política transversal. A Coordenação não pretende e à média empresas nos mais diversos setores. O Plano
substituir nenhuma iniciativa deste ou daquele minis- tem como foco três grandes setores: cidadãos, empre-
tério, mas potencializá-las. O programa Telecentros. sas e governos. E objetiva garantir maior competitivi-
BR, por exemplo, envolve a coordenação-executiva do dade ao mercado, redução do preço aos consumidores,
Ministério do Planejamento, o Ministério da Ciência e ampliação das redes de telecomunicações e criação de
Tecnologia, o das Comunicações, mas circula e uni- uma política de financiamento industrial e tecnológica.
fica o conjunto das ações de todos os demais órgãos
federais, respeitando as especificações de cada insti- TEMA: Quais as próximas ações em planejamento,
tuição. Há uma política única, faz uma única licitação, no diz respeito à inclusão digital?
tem uma proposta de suporte e qualificação que, de ALVAREZ: Para dar conta do programa global desen-
forma separada, cada um não poderia ter. volvido em 2006, ainda está faltando a qualificação das
lan houses como espaços de prestação de serviços e
TEMA: A mesma Coordenação assumiu o Plano Na- também contribuição para a inclusão digital. Trata-se
cional de Banda Larga, não é isso? da última ação de nosso plano original, e que será exe-
ALVAREZ: Sim, esse grupo de trabalho, quando foi cutada até o final do ano. E isso já começou com o novo
constituído, definiu quatro estratégias: educação, enquadramento da lan house, tirando-a da atividade
redução de preço dos terminais na ponta, novos apli- econômica do campo dos jogos e colocando-a no da
cativos de instrumentos de governo eletrônico e co- prestação de serviços. A ideia é estimulá-las a vir para
nexão. Portanto, a conexão é uma das linhas de ação. a legalidade, para que tenham acesso a financiamen-
O acesso à internet, os novos aplicativos, o vídeo, a tos, conexão de qualidade e possibilidade de desenvol-
troca de dados, tudo isso exige banda larga de qua- ver novos aplicativos, até mesmo jogos nacionais a par-
lidade, bem distribuída, com penetração e preço tir da realidade brasileira. O governo federal pretende
acessível. O Plano foi construído sempre com a de- dar qualidade para essas pequenas ex-casas de jogos,
terminação muito clara e expressa do presidente da que hoje são prestadoras estratégicas de serviços para
República. Eu insisto em dizer que esse projeto que a população. No total, 49% dos acessos à internet no
demos vida é apenas uma primeira fase de um plano Brasil são feitos por meio de lan houses. Portanto, é
abrangente de banda larga no País. preciso ter uma política também em relação a elas.

tema | mar/abr 2010 | 7


interação

Revista Tema foca nas novidades tecnológicas

A
revista Tema reformulou seu projeto gráfico e editorial. A abordagem de assuntos controversos no meio tecno-
Agora, o visual está mais leve e dinâmico, com a apre- lógico também tem presença garantida na Revista, com co-
sentação de novos recursos gráficos. Tudo para tornar mentários de entrevistados, por meio da seção Discussão.
sua leitura ainda mais agradável. Além disso, novas A editoria Arte Digital divulga manifestações artísticas pro-
editorias foram criadas com o objetivo de ampliar a abrangên- duzidas com o auxílio de recursos tecnológicos, enquanto as
cia temática e o debate em torno das Tecnologias da Informa- Páginas Verdes se constituem em um campo dedicado às
ção e Comunicação (TICs) aplicadas ao setor público. práticas de responsabilidade socioambientais.
A publicação, com mais de 35 anos de existência, já se E, por último, a editoria Interação, que tem o propósito de
tornou referência para o setor público e a área tecnológica. ser um espaço especialmente destinado para que você, leitor,
Tanto é que já recebeu vários prêmios em reconhe- manifeste seu pensamento sobre os assuntos aqui trata-
cimento à qualidade de seu conteúdo. A cada edi- dos. Participe, envie seu comentário e contribua para
ção, a Entrevista Principal traz um especialista ou fazer da Tema uma revista cada vez melhor.
autoridade para apresentar, com exclusividade,
suas ideias e posições a respeito de um assunto
relativo ao seu campo de atuação.
Na seção Opinião, colunistas internos e exter-
nos ao Serpro se revezam em análises sobre novi-
dades e tendências do setor de TI. Por sua vez, a se-
ção Memória resgata a história da evolução do uso da
tecnologia no Brasil, especialmente na administração públi-
ca. O novo formato também proporciona ao leitor informações
sobre as novidades em TICs. Na editoria Curtas, o leitor da
Tema tem a oportunidade de se interar de fatos como eventos,
comunidades de desenvolvimento e softwares livres.

com a palavra...
Parabéns pelo novo visual obtido com o projeto gráfico arrojado!
A Revista ganhou em beleza e estética. Sua leitura ficou mais agradável.
Muito boa a matéria de capa sobre Inovações Tecnológicas. Continuem com este assunto!
José Carlos Santos Jorge – Rio de Janeiro/RJ

Sou estudante do 3º período de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e trabalho como professor voluntário de informática na
Associação Pestalozzi de Santa Teresa/ES. Soube da Revista por meio de colegas de curso e achei interessante o material. Ao
pesquisar mais, descobri que a Revista possui tudo que preciso: informações atuais, de confiança, interessantes e inteligentes.
Algumas matérias auxiliaram meus trabalhos acadêmicos, além de me fornecerem informações úteis.
Matheus Calmon Baptisti – Santa Teresa/ES

Sou desenvolvedor de sistemas da Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Gostaria de parabenizá-los pela Revista, que é de
excelente qualidade, sempre com ótimos artigos e temas atuais. Acompanho as edições on-line pelo site do Serpro.
José Augusto Carvalho Filho – João Pessoa/PB

No encontro técnico do meu curso de pós-graduação a distância em Administração de Sistemas de Informação, da Universidade
Federal de Lavras, foi entregue um exemplar da revista Tema para cada aluno. Gostei muito da publicação. Sou funcionário
da Marinha do Brasil, do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. Onde eu
trabalho são de grande valia os assuntos abordados na Revista, principalmente aqueles relacionados ao software livre.
Gustavo Mesquita da Silva – Cabo Frio/RJ

Gostei muito da Revista que encontrei no balcão da biblioteca. Sou estudante de Sistemas de Informação, da Universidade
Estácio de Sá de Niterói/RJ. É de grande importância esta publicação. Espero compartilhar com meu grupo de estudos, em sala
de aula, o seu conteúdo que apresenta novos horizontes para nossa área de atuação. Gostei dos assuntos de software livre!
Fábio de Souza Botelho – Niterói/RJ.

8 | tema | mar/abr 2010


opinião

http://www.flickr.com/photos/imprensacampuspartybr/2267030359/sizes/l/in/photostream/
ALARGAR
O BRASIL E
Foto: Fernando Cavalcanti

DIGITALIZAR
NOSSA
DIVERSIDADE
Sérgio Amadeu da Silveira
Sociólogo, doutor em Ciência Política e professor da pós-
graduação da Faculdade de Comunicação Cásper Líbero

O
país com o maior número de internautas tada nos últimos oito anos. Estes elementos sociais
no mundo é a China. Todavia, menos de e econômicos constituem uma barreira concreta
25% dos chineses têm acesso à inter- para a inclusão digital da nossa sociedade.
net. Esse fenômeno é um dos exemplos Entre os que acessam à Internet no Brasil,
da grande desigualdade comunicacional em nos- existe uma série de assimetrias. Uma delas decor- “A banda larga
so planeta. Mas a China não é o único país que re do fracasso do mercado em ofertar a conexão democratizada
espelha uma considerável assimetria no acesso de banda larga com estabilidade e preço razoável.
às redes informacionais. As nações em desenvol- Nas periferias e nos centros degradados das gran-
ampliará a
vimento, em geral, registram dois índices aparen- des cidades, a banda larga chega limitada, cara e diversidade
temente contrapostos, mas que são plenamente sem nenhuma estabilidade. No interior do Brasil, cultural, pois
compreensíveis: primeiro, esses países registram centenas de cidades e localidades estão privadas permitirá
os maiores níveis de crescimento da conectividade, do acesso rápido à rede. Assim, os mais pobres que nossas
ao mesmo tempo, são os países com gigantescos que se conectam à internet pagam caro por um
percentuais de pessoas excluídas da sociedade serviço ruim. Além disso, não conseguem utilizar
comunidades
informacional. os recursos multimídias e as aplicações que, cada portem seus
O Brasil não fugiu do padrão. Trata-se de um vez mais, são pensadas e desenvolvidas para co- conteúdos
país com grandes iniquidades. As elites brasilei- nexões superiores a 2 Mb (megabits por segundo). simbólicos
ras estão conectadas. Enquanto 85% da classe A Acertadamente, o governo federal está propondo para a internet”
utilizam a internet, apenas 17% das classes D/E um plano nacional de banda larga que buscará ins-
usam as redes digitais. A novidade é que a classe C talar a real competição e a qualidade no segmento
teve um grande impulso em sua conectividade. das telecomunicações. Precisamos baixar o preço
Em 2009, 44% de seus integrantes acessaram à do Megabit e, com isso, viabilizar democratização
internet. Contribuíram, para isto, os programas do dos recursos multimídia para milhões de brasilei-
governo de incentivo à produção de computadores ros que poderão acessar cotidianamente aos re-
baratos e a explosão das lan houses. positórios de vídeo, às redes P2P e participar da
Se, em 2008, apenas 38% dos brasileiros aces- produção de conteúdos em diversas redes sociais.
saram à rede mundial de computadores, em 2009, A banda larga democratizada ampliará a diversida-
este percentual subiu para 43%. Contudo, ainda de cultural, pois permitirá que nossas comunidades
praticamente metade dos brasileiros estão impedi- portem seus conteúdos simbólicos para a internet.
dos de se comunicar com velocidade, estão aparta- Mesmo com as dificuldades de utilizarmos uma
dos do uso do maior repositório de informações já banda larga instável, “muito estreita” e cara, 39%
construído pela humanidade. Por mais que o Brasil dos brasileiros que acessam à internet fizeram
esteja vivendo um momento redistributivo, a renda download de filmes, músicas e softwares, em 2009,
era e ainda é exageradamente concentrada, e a mi- e, 67% alegam participar de sites de relacionamento,
séria somente começou a ser efetivamente enfren- as chamadas redes sociais.

tema | mar/abr 2010 | 9


curtas

Consegi 2010:

Foto: Arquivo Serpro


Computação
em Nuvem com
Software Livre
O 3º Congresso Internacional
Software Livre e Governo Eletrônico
(Consegi 2010), que ocorrerá entre
os dias 18 e 20 de agosto, na Escola
de Administração Fazendária (Esaf),
Oficina de Inclusão Digital em Brasília, terá como tema principal
“Computação em Nuvem com Software
faz balanço de ações Livre”. O evento irá reunir especialistas,
gestores públicos e estudantes, e as
atividades previstas incluem palestras,
Aconteceu de 22 a 24 de junho, em Brasília, a 9ª Oficina para Inclusão painéis e oficinas. A proposta é difundir
Digital. O evento foi realizado na Confederação Nacional dos Trabalhadores do as recentes tecnologias desenvolvidas em
Comércio (CNTC) e teve como proposta principal fazer um balanço das políticas plataformas abertas. O Serviço Federal
públicas implantadas nos últimos 10 anos pelo poder público. Além disso, temas de Processamento de Dados (Serpro) é
como a implantação do Plano Nacional da Banda Larga (PNBL) e de três mil um parceiro na realização do evento.
novos telecentros em todo o País também fizeram parte das discussões. A Computação em Nuvem, que será
No primeiro dia do encontro, a plenária sobre o Plano foi o foco principal. o tema central do Consegi 2010, diz
Participaram das discussões, o presidente da Telebrás, Rogério Santanna e o respeito à utilização de recursos
coordenador de projetos de inclusão digital da Presidência da República, Cezar disponíveis em rede – servidores,
Alvarez. No dia 23, os destaques foram: o Programa Nacional de Apoio à Inclusão storages, aplicações e serviços – que
Digital nas Comunidades (Telecentros.Br) e a Formação de Monitores e Gestores podem ser provisionados, configurados
de Telecentros. No último dia (24), a plenária – Inclusão Digital no Brasil: 10 anos e liberados a partir de programações
de Políticas Públicas. O que mudou? – encerrou a programação. mínimas. Essa forma de trabalho
Anualmente, a oficina é organizada pela Secretaria de Logística e Tecnologia possibilita ao usuário requisitar
da Informação do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (SLTI/MP), servidores, espaços em disco de acordo
em conjunto com o Comitê Técnico de Inclusão Digital do Governo Federal, com suas necessidades, sem a presença
atualmente coordenado pela Dataprev, e pelas instituições Sampa.org, RITS física de um profissional. O acesso aos
(Rede de Informações para o Terceiro Setor), Cidadania Digital, Coletivo Digital, serviços pode ser feito por celulares,
Projeto Saúde & Alegria e IPSO (Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais laptops e PDAs.
e Tecnológicos). O ponto principal do Consegi é promover
a discussão nos diferentes níveis da
administração pública, sociedade civil
organizada e representantes de países
parceiros. A Computação em Nuvem
fará parte das diversas atividades
Planejamento adota Software Livre como painéis, oficinas e palestras.
O Ministério do Planejamento (MP) começou, no ano passado, a migrar Entre os temas previstos para o Consegi
sua rede para software livre. A mudança contempla as 27 representações 2010, estão: Infraestrutura e Plataforma
regionais, além de dois pontos avançados de atendimento, localizados nas como Serviço para ambiente de
capitais. Todos esses setores, que antes estavam sob o comando o Ministério computação em nuvem; Software como
da Justiça (MJ), passam a integrar de forma definitiva a estrutura do MP, o que Serviço para ambiente de computação
justifica a padronização de toda a plataforma. em nuvem; Governança, Gestão e
A ideia é possibilitar o acesso uniforme aos recursos de Tecnologia da Estratégia voltado para o paradigma de
Informação e Comunicação (TIC) com os mesmos níveis de serviço, segurança e nuvem; Ecossistema do Software Livre:
diretivas do próprio MP. Comunidades e Colaboração; Sistemas
O projeto de implantação de softwares livres foi dividido em três partes. A e Aplicações livres: Desenvolvimento e
primeira foi concluída em março deste ano com a migração de nove unidades. Uso; Apresentações sobre Sistemas e
A segunda parte contempla a instalação dos novos programas em mais 12 Aplicações desenvolvidas com software
regionais até o final do ano. E, por último, as oito localidades restantes receberão livre; além de Mobilidade em Sistemas
a atualização de seus softwares a partir do primeiro semestre de 2011. Embarcados, entre outros.

10 | tema | mar/abr 2010


gestão da internet

Exemplo brasileiro
Comitê Gestor da Internet no Brasil completa 15 anos, sendo
referência internacional de governança da rede mundial de
computadores

O
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) forma transparente e democrática: “O Comitê Ges-
completou 15 anos no último mês de maio tor virou uma referência não só para outros países.
e tem apresentado resultados animadores Ele tem sido valorizado por diferentes instituições e
no que se refere à governança da Internet órgãos brasileiros, incluindo o Legislativo, o Judiciá-
no Brasil, em particular na gestão do domínio <.br>. rio e o Executivo. Hoje existe um respeito muito gran-
O modelo brasileiro dessa governança é hoje uma re- de pelo nosso trabalho.”
ferência internacional, sendo visto como um padrão
a ser seguido por outros países conforme reconhe-
cido pelo representante da Organização das Nações
Unidas (ONU), no Fórum de Governança da Internet
(IGF) realizado na Índia, em 2008.
Formado por 21 representantes de distintos seg-
mentos – governo, empresas, terceiro setor e co- “O Comitê Gestor virou
munidade acadêmica –, o Comitê Gestor foi criado
em 1995 por meio de uma portaria interministerial e
uma referência não só para
consolidado por decreto em 2003, com a atribuição, outros países. Ele tem sido
dentre outras, de estabelecer diretrizes estratégicas
relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet
valorizado por diferentes
no País e adotar os procedimentos administrativos instituições e órgãos
e operacionais necessários para sua gestão. brasileiros, incluindo o
O secretário de Política de Informática do Minis-
Legislativo, o Judiciário e o
Foto: Heroturko.org

tério de Ciência e Tecnologia (MCT), Augusto Cesar


Gadelha Vieira, coordena o CGI.br desde 2005 e ex- Executivo. Hoje existe um
plica que o modelo brasileiro se destaca como uma
experiência pioneira de governança com participa- respeito muito grande pelo
ção multissetorial, ao congregar diferentes atores de nosso trabalho.”

tema | mar/abr 2010 | 11


Das reuniões mensais do Comitê, surgiram im- e alguns países africanos”, ressalta Gadelha. O do-
portantes resultados, tais como: a criação do Núcleo mínio <.br> já é o sexto maior do mundo, com cerca
de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br); de 19 milhões de sítios registrados, ultrapassando
uma carta de 10 princípios de governança da inter- os códigos de países como a China, e ficando atrás
net – que têm norteado políticas públicas relativas apenas do <.net> e <.com> e dos códigos do Japão,
ao uso da Internet no Brasil –; ações de combate a Itália e Alemanha.
crimes na rede mundial de computadores, em par-
ticular ao spam; estabelecimento de indicadores e Marco Civil
levantamento de dados estatísticos sobre o uso de Nos últimos meses, os membros do comitê par-
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e ticiparam ativamente das discussões relativas ao es-
da Internet no Brasil; e o desenvolvimento de tecno- tabelecimento do Marco Civil da Internet do Brasil.
logias para a rede. Elaborado pelo Ministério da Justiça, em parceria
com a Fundação Getulio Vargas (FGV) e com a contri-
buição da sociedade civil, o anteprojeto de lei define
quais são os direitos e deveres de usuários, empre-
sas e do governo na internet.
O CGI tem uma atuação ampla. Uma prova disso
“O domínio <.br> já é o é a participação também em questões judiciais. Foi
sexto maior do mundo, assim no célebre caso da modelo Daniella Cicarelli,
filmada num momento de intimidade em uma praia
com cerca de 19 milhões da Espanha. O vídeo teve acesso recorde na rede e
de sítios registrados, causou constrangimento aos envolvidos. “Nesse
caso, nos tornamos parte do processo judicial na
ultrapassando os códigos figura de amicus curiae (amigo da corte), atuando
de países como a China, como um órgão de orientação técnica”, afirma Ga-
delha.
e ficando atrás apenas O CGI tem também atuado no combate a crimes
do <.net> e <.com> e dos na rede, tendo contribuído com informações técnicas
à CPI da pedofilia e apoiando a SaferNet, organização
códigos do Japão, Itália e que se dedica a identificar os usos da Internet para
Alemanha.” tal crime.

Futuro
Em 2005, o CGI criou o NIC.br, uma entidade civil, Uma discussão que deverá receber atenção do
sem fins lucrativos, que coordena o registro de no- CGI, no futuro próximo, é quanto à internet do futu-
mes de domínio, e estuda, responde e trata inciden- ro, com a implantação da nova versão do protocolo
tes de segurança no Brasil, entre outras atribuições. IP, o IPv6, e o uso mais extensivo da rede com a in-
“O software que gerencia o domínio <.br> foi desen- trodução de atores que serão objetos com sensores
volvido pelo NIC.br e é hoje utilizado pela Argentina inteligentes.

Regras para fazer registro de um domínio:

O registro do domínio Verifique se o nome está É necessário que Deve-se evitar a utilização O valor cobrado é de
<.com.br> deve ser disponível ou se é uma o usuário esteja de nomes longos e sinais R$ 30 pelo período de um
feito no site: marca notória do INPI. Isso cadastrado e identificado gráficos. ano. As instruções para o
http://www.registro.br pode ser feito no sistema de no sistema do registro.br. pagamento são enviadas
pesquisa do site registro.br. no e-mail de confirmação
do registro do domínio.

12 | tema | mar/abr 2010


instituições como o Serpro no CGI, Gadelha mencionou
que está sendo analisada a proposta de criação de co-
mitês consultivos com foco em temas específicos, tais
como segurança, conteúdo, marcos regulatórios, den-
“Estamos preparados tre outros, que possibilitará uma atuação mais direta de
instituições competentes nessas questões da Internet e
para o uso do IPv6, sendo que hoje não compõem o CGI.
o Brasil um dos países
mais avançados em sua Informações dos sites:
implantação. O IPv6 é
imprescindível para o
crescimento da Internet
e seu uso cada vez mais
ubíquo na sociedade, tendo
em vista que os endereços
livres no IPv4 estão
acabando.”
O IPv6 permitirá uma quantidade quase ilimitada de http://www.governoeletronico.gov.br
endereçamentos na Internet, identificando indivíduos,
instituições e objetos na rede. “Estamos preparados
para o uso do IPv6, sendo o Brasil um dos países mais
avançados em sua implantação. O IPv6 é imprescindí-
vel para o crescimento da Internet e seu uso cada vez
mais ubíquo na sociedade, tendo em vista que os ende-

Foto: Heroturko.org | Infográfico: DIego Pizzini


reços livres no IPv4 estão acabando”, explica Gadelha.
Nos próximos meses, além de participar de debates
sobre marcos regulatórios e caracterização de delitos
no uso da Internet, em continuidade ao estabelecimen-
to do Marco Civil, os membros do CGI querem estimu-
lar, junto à comunidade técnico-científica, acadêmica
e de usuários em geral, projetos de desenvolvimento
de tecnologias e serviços para a internet, incluindo a http://www.registro.br
geração de conteúdo. Indagado sobre a participação de

Para registrar um domínio, é Somente poderão ser utilizados domínios de <.gov.br> por Se o site for de uma empresa,
necessário ser uma entidade legalmente órgãos civis da administração pública, <.mil.br> por órgãos tem que ser informado o CNPJ e três
representada ou estabelecida no Brasil militares e <.edu.br> por instituições de ensino superior. Os contatos: 1) da pessoa responsável pelo
como pessoa jurídica (instituições que domínios sob a raiz <.gov.br> são isentos de pagamento. É preciso domínio; 2) da pessoa responsável pela
possuam CNPJ) ou física (CPF) que possua de autorização do Ministério do Planejamento. A aprovação de parte administrativa; e 3) da pessoa
um contato em território nacional. domínios <.mil.br> é de responsabilidade do Ministério da Defesa. responsável pela parte técnica.

tema | mar/abr 2010 | 13


Foto: Heroturko.org | Composição: DIego Pizzini

plano diretor

14 | tema | mar/abr 2010


A palavra é
planejamento
A elaboração de um Plano Diretor de Tecnologia
da Informação é fundamental para que qualquer
organização possa utilizar todo o potencial que
as TICs oferecem

U
m dos grandes desafios enfrentados por nhum planejamento. Com isso, não é raro que os
uma empresa que usa recursos informa- resultados obtidos fiquem aquém das expectativas.
tizados é garantir que o dinheiro investi- Daí a importância de se ter um Plano Diretor de
do em Tecnologia da Informação (TI) não Tecnologia da Informação (PDTI). Trata-se de um
seja usado em projetos dissociados dos objetivos da instrumento que se aplica a todo tipo de organiza-
organização. Muitas decisões, na área tecnológica, ção, seja ela grande, pequena, pública ou privada.
são tomadas de forma isolada, geralmente para O PDTI é uma ferramenta de diagnóstico, planeja-
solucionar problemas pontuais, com pouco ou ne- mento e administração dos recursos e processos

tema | mar/abr 2010 | 15


tecnológicos. Ele é pensado para atender às ne- humanos, a formação e a capacitação dos funcio-
cessidades de informação de um órgão ou entidade nários nas áreas de Tecnologia da Informação e
em um determinado período, geralmente de dois ou o melhor equilíbrio entre os riscos e os investi-
três anos. O Plano possibilita uma visão completa mentos.
do ambiente atual da TI, compara cenários alterna- O coordenador de Governança de Tecnologias
tivos à demanda e ajuda a decidir o que é melhor da Informação e Comunicação do Serpro, Marcos
para a empresa, levando em conta a sua área de Melo, esclarece que, por não fazer parte dos ór-
atuação e o seu negócio. gãos públicos da administração federal direta, a
empresa não precisaria seguir as regras previstas
na IN-04. Mesmo assim, optou por desenvolver o
seu Plano Diretor de Tecnologia da Informação.
“A Diretoria da empresa entendeu o PDTI como
um importante instrumento de gestão e planeja-
“A Diretoria da empresa mento do ambiente de Tecnologia da Informação.
E adicionado a isso, o Planejamento Estratégico
entendeu o PDTI como um Participativo do Serpro indicou a elaboração do
importante instrumento de Plano como uma necessidade fundamental para a
empresa”, afirma Marcos Melo.
gestão e planejamento do A maior dificuldade enfrentada pelo Serpro na
ambiente de Tecnologia da elaboração do PDTI foi definir a metodologia para
sua montagem. Isso porque a empresa tem como
Informação. E adicionado negócio a própria Tecnologia da Informação e Co-
a isso, o Planejamento municação. “A TIC é o nosso negócio. As metodo-
logias existentes se aplicavam mais a empresas
Estratégico Participativo onde ela é meio, e não o fim”, diz Marcos Melo.
do Serpro indicou a A saída foi criar uma metodologia própria. E deu
elaboração do Plano certo. O Plano foi aprovado pela Diretoria e terá a
sua primeira versão totalmente implantada até o
como uma necessidade final deste ano.
fundamental para a O coordenador do Escritório Estratégico de
Projetos do Serpro, João Melo, afirmou que ainda
empresa.” não é possível avaliar os resultados do PDTI, uma
vez que o plano encontra-se em fase de execução.
Mas segundo Melo, a empresa espera alcançar,
O Serpro é um bom exemplo de empresa pú- ao final de 2010, uma significativa melhoria nos
blica que orienta as suas ações por meio de um procedimentos operacionais e na tomada de deci-
Plano Diretor dessa natureza. O primeiro PDTI sões. “O PDTI realizou diagnósticos sobre os prin-
da instituição ficou pronto em fevereiro de 2009, cipais problemas e oportunidades de TI e definiu
abrangendo o biênio 2009/2010. A motivação para ações para temas como integração de processos
a elaboração desse Plano foi a Instrução Norma- e ferramentas, software livre, governo eletrônico,
tiva nº 04 (IN-04), editada pela Secretaria de Lo- entre outros”, completa.
gística e Tecnologia da Informação do Ministério Os resultados do Plano Diretor de Tecnologia
do Planejamento (SLTI). Em vigor desde janeiro de da Informação do Serpro só serão conhecidos ao
2009, a instrução obriga a adoção de um PDTI para final deste ano, mas o caminho trilhado até ago-
autorizar qualquer compra ou contrato na área de ra já proporcionou à empresa bagagem suficiente
tecnologia pelos órgãos públicos federais. para auxiliar outros órgãos públicos na elabora-
Além disso, segundo a norma, o PDTI preci- ção dos seus planos, como já está sendo feito jun-
sa levar em consideração a demanda de recursos to ao Ministério do Planejamento.

16 | tema | mar/abr 2010


Passo 7:
documentação
passo a passo do pdti (permite a

7 recuperação da
funcionalidade do
ambiente de TI,
caso ocorra algum
problema)
Passo 6:
segurança
(disponibilidade e
a confidencialidade
das informações, 6
em níveis Passo 5:
diferenciados de gestão integrada do
acesso) ambiente de TI (garantia
de eficiência a um
5 ambiente que possui uma
variedade grande de
equipamentos, sistemas
de computação e
tecnologias)
Passo 4:
levantamento de
recursos humanos
para a área

4
de Tecnologia
da Informação Passo 3: modelo de
(contratação, Tecnologia da Informação
terceirização, (definição da estrutura
realocação e mínima de rede –
treinamento) equipamentos, acesso

3
à internet, estações de
trabalho, rede elétrica
etc e a arquitetura
organizacional das
atividades de informática,
Passo 2: aquisição como a manutenção de
de tecnologia equipamentos e sistemas)
(sistemas
operacionais e
aplicativos de
rede que devem 2
ser comprados/
desenvolvidos para
atender à demanda Passo 1: análise do
da empresa/clientes) mercado (área de
atuação da empresa,
1 particularidades e
limitações, clientes
pretendidos e
Infográfico: Diego Pizzini

concorrência)
Fonte: SEBRAE – Modelo para elaboração
do PDTI, abril de 2008

tema | mar/abr 2010 | 17


capa

Democracia

Os computadores são amigos fiéis.


Parecem conhecer as nossas digitais.
O Telecentro Esperança é uma esperança
que esperamos que nunca se acabe.

Bartolomeu Valter da Costa,


aluno do Telecentro Esperança,
no Instituto Municipal de Assistência
à Saúde Juliano Moreira (RJ).

18 | tema | jan/fev 2010


B
airro de Cidade Tiradentes,
São Paulo, ano de 2006. O jo-
vem Carlos Roberto dos Santos

digital
Junior entra pela primeira vez
em um telecentro. O espaço,
implantado pelo Serpro, em parceria com
a ONG Cadesc, oferece aos moradores da
comunidade, tida como uma das mais vio-
lentas da capital paulista, a chance de usar
computadores, acessar à internet e parti-
cipar de cursos de informática. Carlos se
entusiasma com o mundo da tecnologia.
Órgãos governamentais, Sente que descobriu sua vocação e decide
setor privado e sociedade se aprofundar nos estudos.
Dois anos depois, tem a oportunidade
civil organizada se que tanto esperava: presta concurso pú-
mobilizam num esforço blico para trabalhar no Serpro. O resulta-
do vem como um prêmio a sua dedicação
conjunto para possibilitar e força de vontade. Hoje, aos 25 anos, ele é
empregado da empresa. Atua na Superin-
acesso de todos os tendência de Centro de Dados, no prédio
brasileiros às Tecnologias da Regional São Paulo, no bairro de Socor-
ro, e não reclama das 2h30 que leva dia-
da Informação e riamente para chegar ao serviço. “Foi no
Comunicação (TICs). telecentro que tive acesso ao microcompu-
tador, às novas tecnologias, aos cursos de
software livre. Também conheci pessoas
novas. Realmente mudou a minha vida”,
recorda.
Felizmente, histórias como a de Car-
los Roberto têm se multiplicado por todo
o País, desde que o governo federal inten-
sificou os esforços de articulação com or-
ganizações da sociedade civil, empresas,
prefeituras e governos estaduais, no sen-
tido de universalizar a inclusão digital para
todas as camadas da população.
“Iniciativas como Telecentros.BR, Com-
putador para Todos, Um Computador por
Aluno, Computadores para Inclusão, Plano
Nacional de Banda Larga, entre outras fa-
zem parte desse esforço para acabar com
a exclusão digital no Brasil. Todas elas se
relacionam e se complementam nas suas
Ilustraçao:Diego Pizzini

várias dimensões”, diz Cezar Alvarez, co-


ordenador do Programa de Inclusão Digital
do governo federal.

tema | mar/abr 2010 | 19


Para o presidente do Serpro, Marcos Mazoni, iniciativas de diversos outros ministérios, empresas
é fundamental que a temática da inclusão digital estatais e uma gama variada de entidades públicas
seja tratada como uma política pública, a exemplo e privadas de todo o território nacional. Atualmente,
do que ocorre nas áreas como educação e saúde. mais de 4 mil unidades vinculadas ao Telecentros.
“Se a universalização da educação não fosse uma BR estão em funcionamento, e a meta é superar as
política pública, certamente o Brasil não teria ob- 10 mil até 2011.
tido os índices atuais de combate ao analfabetis-
mo. A exclusão digital aprofunda as desigualdades
sociais. Hoje, o acesso às TICs é fundamental para
a geração de emprego e renda, porém milhões de
cidadãos ainda permanecem à margem desse pro-
cesso”, adverte.
“O ideal é que, em projetos
Telecentros.BR assim, a orientação
Entre as iniciativas de maior abrangência nessa
área, está o programa Telecentros.BR, criado em seja feita pela própria
2007 para articular as centenas de projetos públicos comunidade, para que
e comunitários desenvolvidos nas diversas regiões
brasileiras. “Era necessário ganhar mais escala nas
sua inserção aconteça
ações de apoio aos telecentros, e isso demandava a partir de suas próprias
uma melhoria na sua coordenação. O governo fede-
ral queria evitar a duplicação de esforços, organizar
necessidades. As pessoas
melhor as parcerias e os locais a serem implan- precisam estar livres para
tados”, conta Cristina Mori, assessora de Inclusão
Digital da Secretaria de Logística e Tecnologia da
tratar de suas questões e
Informação do Ministério do Planejamento (SLTI) e interesses específicos.”
coordenadora executiva do Programa Nacional de
Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades Telecen-
Telecentros tros.BR. Na avaliação de Beatriz Tibiriçá, cientista social
equipados com Compõem o colegiado de coordenação do pro- e diretora financeira da ONG Coletivo Digital, de São
computadores e grama: os ministérios do Planejamento (responsá- Paulo, colocar as TICs ao alcance das comunidades
internet auxiliam, vel por montar uma rede nacional de formação de de baixa renda amplia as possibilidades para o seu
principalmente, monitores comunitários), das Comunicações (que desenvolvimento. “Populações de lugares remotos
na formação fornece equipamentos novos e conexão à internet usam as tecnologias como a principal forma de co-
de jovens e banda larga), e da Ciência e Tecnologia (que conce- municação; agricultores familiares comercializam
adolescentes de bolsas para jovens comunitários atuarem como seus produtos nas redes de economia solidária;
agentes de inclusão digital). O programa engloba grupos em luta por interesses e reivindicações po-
dem transmitir seus debates e manifestações. Tudo
isso dá uma nova dimensão aos projetos comunitá-
Foto: Arquivo Serpro

rios e à sua história sociocultural”, afirma.


Carlos Alberto Afonso, diretor do Instituto Núcleo
de Pesquisas, Estudos e Formação, entidade civil se-
diada no Rio de Janeiro, concorda. “O ideal é que, em
projetos assim, a orientação seja feita pela própria
comunidade, para que sua inserção aconteça a partir
de suas próprias necessidades. As pessoas precisam
estar livres para tratar de suas questões e interesses
específicos, o que potencializa sua atuação e presen-
ça na internet como comunidade, e não mais como
usuários individuais”, observa o especialista.
Com o objetivo de ampliar a destinação de má-
quinas para a inclusão digital, a SLTI instituiu o
programa Computadores para Inclusão, por meio
do qual são recondicionados equipamentos doados
por órgãos públicos, empresas privadas e pessoas
físicas. A iniciativa inclui a capacitação de jovens
de comunidades de baixa renda para que eles sai-
bam recuperar um equipamento usado e torná-lo

20 | tema | mar/abr 2010


Foto: Arquivo Serpro

Gesac garante
conectividade

Coordenado pelo Ministério das


Comunicações, o programa Gesac é o
principal fornecedor de conectividade
para os telecentros, tanto os que
recebem os kits de equipamentos
cedidos pelo próprio Ministério quanto
os apoiados por outros órgãos públicos
e civis. O programa garante o acesso
à internet em áreas remotas como
escolas rurais, aldeias indígenas,
comunidades quilombolas, ribeirinhas,
extrativistas, entre outras.

Segundo Heliomar Medeiros de Lima,


diretor do Departamento de Serviços
de Inclusão Digital do Ministério das
funcional, entregando-o a escolas públicas, biblio- Comunicações, o Gesac também
tecas, telecentros e outras instituições. promoverá, em parceria com o CNPq
Atualmente, sete cidades, nas cinco regiões do Programas de e os Institutos Federais de Educação
País, abrigam centros de recondicionamento vincula- Inclusão Digital, Tecnológica, um projeto de formação
dos ao programa. Mais de 1,5 mil jovens foram forma- espalhados que levará oficinas, educação presencial
dos, e cerca de 10 mil computadores já foram doados. por todo o e a distância aos telecentros instalados
País, buscam nessas áreas mais distantes.
a inserção da
população às “Dessa forma, o Gesac se integra
novas tecnologias e complementa tanto o programa
Telecentros.BR quanto o Plano Nacional
de Banda Larga, pois com sua parte
via satélite alcança todas as regiões do
País, incluindo localidades nas quais só
se chega de barco ou avião de pequeno
porte e que contam apenas com energia
solar e/ou de geradores diesel”,
acrescenta o diretor.

Informações detalhadas sobre


a iniciativa e os locais para
doação podem ser obtidas no sítio
www.computadoresparainclusao.gov.br.

Pontos de Cultura
Cerca de 2,5 mil unidades espalhadas pelo País,
os Pontos de Cultura, implantados no âmbito do
Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura,
são exemplos de parceria governo-sociedade que
tem trazido resultados expressivos na luta contra
as desigualdades sociais. A iniciativa estimula a re- Mais informações sobre o Gesac
alização de ações culturais, artísticas, de cidadania podem ser obtidas no Portal
e de economia solidária pelas populações de baixa www.idbrasil.org.br.

tema | mar/abr 2010 | 21


renda. E, para isso, o acesso e a apropriação de fer-
ramentas multimídias em software livre têm papel
preponderante.
“Os Pontos de Cultura são espaços articulado-
Resultados positivos
res de ações políticas na medida em que, organiza- em todo o País
dos em redes a partir dos Pontões, constroem suas
agendas, pautam o governo e forçam o Estado a dar
respostas com mais agilidade e rapidez”, destaca
Valéria Labrea, coordenadora de Cultura e Cidada-
nia da Secretaria de Cidadania Cultural do Ministé-
rio da Cultura.
Muitos dos telecentros estão localizados nesses
espaços. No Ponto de Cultura do Quilombo do So-
papo, em Porto Alegre, coordenado pela ONG Guayí,
o telecentro atende a um público médio de cem pes-
soas a cada semana. Segundo o coordenador Lean-
dro Anton, a integração entre inclusão digital e de-
mais ações do Ponto tem trazido resultados muito
positivos. “As pessoas passam a se interessar por
softwares como os de edição de vídeo, e começam a
usar essas ferramentas de maneira independente.
O interesse pela educação na escola também au- acre
menta, e é perceptível a melhoria na postura delas No último mês de maio, os
seringueiros da Reserva
em relação ao uso dos equipamentos e ao cuidado Extrativista Chico Mendes de Assis Brasil,
quanto ao espaço”, pontua Anton. no Acre, ganharam um telecentro com
dez computadores conectados à internet.
Localizada em área remota da Floresta
Amazônica, a comunidade agora tem meios
para se comunicar com o mundo exterior,
mesmo nos períodos em que as estradas
da região ficam intransitáveis. A iniciativa foi
possibilitada pela chegada da energia elétrica
“Os Pontos de Cultura são com o programa Luz para Todos, e contou com a
parceria do Serpro, do Sistema de Proteção da
espaços articuladores de Amazônia (Sipam), da Prefeitura Municipal e
da Associação de Moradores local.
ações políticas na medida
em que, organizados em
redes a partir dos Pontões,
constroem suas agendas, paraná
No Paraná, o telecentro do Hospital Erasto Gaertner,
pautam o governo e forçam referência no tratamento do câncer, tornou-se uma
ferramenta imprescindível de comunicação para
o Estado a dar respostas pacientes, acompanhantes e familiares, muitos de
com mais agilidade e cidades distantes, além de ser uma opção de terapia e
um minimizador do tempo de espera no tratamento.
rapidez.”

Programa Serpro de Inclusão Digital um todo. Para que possamos cumprir plenamente
Maior provedor de soluções tecnológicas para nossa missão, temos de atuar fortemente também
o governo federal, o Serpro exerce papel ativo no nessa área, proporcionando isonomia de condições
esforço pela inclusão digital no País. Desde 2003, a todos os brasileiros”, afirma Marcos Mazoni.
as ações relativas ao tema são trabalhadas dentro O coordenador estratégico de Inclusão Digital
do Programa Serpro de Inclusão Digital (PSID), em do Serpro, Luiz Cláudio Mesquita, lembra que a
estrita vinculação às diretrizes coordenadas pela empresa apoia mais de 350 telecentros em peri-
Presidência da República. “Somos uma empresa ferias de grandes cidades, povoados ribeirinhos,
criada para melhorar a qualidade dos serviços do áreas indígenas, quilombolas, entre outros locais.
governo, e isso deve valer para a cidadania como A ação já ultrapassou, inclusive, as fronteiras bra-

22 | tema | mar/abr 2010


pro analisa o trabalho da possível parceria na área
da inclusão digital, a situação da comunidade a
ser atendida e o espaço disponível para instalação.
ceará
No Ceará, o coordenador do telecentro de Jaguaribe, Uma vez aprovados esses critérios, os equipamen-
Cézar Pinheiro, lembra a trajetória de duas jovens tos são doados. A empresa também se encarrega
moradoras da cidade que, por falta de opções de estudo de instalar todos os softwares livres necessários
e trabalho, chegaram a se envolver com a prostituição para o funcionamento das máquinas, e de formar
e ganharam uma nova perspectiva após terem acesso
ao mundo da TI. “A tia delas nos procurou pedindo que monitores locais para orientar as atividades. Re-
as matriculássemos em cursos de informática para que presentantes regionais do Serpro ficam à disposi-
tivessem uma ocupação. Hoje têm uma ção e são uma extensão da Coordenação Estraté-
vida bem diferente”, recorda. Uma delas, gica nos estados.”
T., enviou por escrito uma
Com o apoio aos telecentros, o PSID ampliou o
mensagem à Tema. “O telecentro
foi um passo que eu tive projeto Espaço Serpro Cidadão, que disponibiliza
para melhorar minha à comunidade acesso a computadores instalados
autoestima, e sou muito nas regionais da empresa. Foi criada, ainda, a Ofi-
grata por essa chance. cina de Inclusão Sócio Digital, por meio da qual
Não sabia mais o que ia
fazer da vida”, afirmou as regionais oferecem cursos técnicos de TI para
a jovem. jovens e adultos, nos níveis básico e intermediá-
rio. Todas as informações sobre o Programa estão
publicadas no Portal Serpro de Inclusão Digital
(www.serpro.gov.br/inclusao), que também traz
os contatos dos responsáveis pelas ações de in-
rio de janeiro
Nas diferentes regiões
clusão digital da instituição.
brasileiras, é possível encontrar Atualmente, em parceria com o Ministério do
casos de sucesso quanto ao impacto Desenvolvimento Agrário (MDA), o Serpro trabalha
transformador da inclusão digital. na construção da Rede Brasil Digital, um sistema
No Rio de Janeiro, por exemplo, o integrado de informações sobre os telecentros.
Telecentro Esperança, no Instituto
Municipal de Assistência à Saúde O objetivo é subsidiar a formulação de políticas
Juliano Moreira, tem ajudado a resgatar para o setor, a partir de uma base de dados esta-
a cidadania e a autoestima de pacientes tísticos sobre os usuários desses espaços. A Rede
com transtornos mentais. Um dos Brasil Digital será também uma ferramenta de
orgulhos do Telecentro é o aluno Bartolomeu Valter da
Costa, que recebeu apoio e orientação para publicar
apoio e gestão não só ao Observatório Nacional de
um livro de poemas. “Ele escrevia suas poesias no Inclusão Digital (www.onid.org.br), como também
computador e uma educadora fazia a correção ortográfica, a outras ações de inclusão digital no Brasil. Isso
sem interferir no estilo, na estética ou na essência da se dará por meio da integração com outras ferra-
obra”, lembra a coordenadora Andrea Matts. mentas de Gestão já utilizadas, como, por exem-
Outro caso simbólico no Rio de Janeiro é o de Jorge
Barbosa, morador da favela de Acari, zona norte da plo, o software OCARA, utilizado pelo Programa do
cidade, que teve seu primeiro contato com a informática Banco do Brasil e que já está sendo adaptado para
no telecentro local e hoje é empregado concursado do funcionar juntamente com a RBD.
Serpro. “Eu comecei a participar das atividades, depois Rossana Moura, pesquisadora do Núcleo de
fiz outros cursos de informática e concluí meu primeiro
e segundo graus. Também dei aulas particulares e
Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do
trabalhei com manutenção de computadores. Em 2005, MDA, avalia que a Rede Brasil será uma grande
fiz o concurso para o Serpro e passei em 10º lugar. Foi o oportunidade para agregar informações sobre a
telecentro que transformou minha vida”, orgulha-se. população rural do País. “O que mais nos chamou
a atenção foi a agregação de informações de pro-
Infográfico: Diego Pizzini
jetos e programas do governo federal. O MDA con-
tribuirá de todas as formas e no que for preciso
para que a Rede Brasil se torne, assim como o
sileiras, chegando a alguns países africanos e ao Observatório é hoje, referência de integração de
Haiti, nação mais pobre das Américas. “Hoje, todas informações necessárias para nossos projetos”,
as máquinas substituídas na atualização de nos- afirma.
so parque computacional são direcionadas para a “Além das iniciativas constantes do PSID, o
criação de novos telecentros ou para reforçar os já Serpro contribui com praticamente todas as ações
existentes. Antes, elas eram leiloadas ou doadas de inclusão digital do governo federal, como Com-
para qualquer fim”, destaca. putador para Todos e Um Computador por Aluno,
“Pelo modelo do PSID, ao receber a solicitação das quais participamos ajudando na especificação
de qualquer entidade civil, prefeitura ou governo de hardware, software e outros aspectos”, lembra
estadual para instalação de um telecentro, o Ser- Luiz Cláudio Mesquita.

tema | mar/abr 2010 | 23


artigos

As novidades do
Java Enterprise
Foto: Arquivo Serpro

Edition 6

Por Cleuton Sampaio

Cleuton Sampaio de Melo Jr. é analista do Serpro, concursado de 2008, trabalha atualmente na
Superintendência de Suporte à Tecnologia, no Rio de Janeiro. Mestre, formado pelo IBMEC, é
também arquiteto certificado Java (SCEA), tendo trabalhado na elaboração do exame “Sun Certified
Enterprise Architect 5”. É autor de diversos livros sobre o assunto, incluindo o “Guia do Java
Enterprise Edition 5”, editora Brasport.

E
m dezembro do ano passado (2009), partici- • Servlet assíncrono: permite o processamen-
pei do evento “Sun Tech Days”, onde James to assíncrono de requests HTTP, oferecendo uma al-
Gosling (o criador do Java), entre outros pa- ternativa totalmente web ao uso de mensagens JMS;
lestrantes, anunciou a versão 6 da plataforma • JavaServer Faces 2.0: a nova versão do JSF
A versão 6 tem Java Enterprise Edition. Tive a oportunidade de almo- incorpora o Facelets como camada de apresentação,
como “mote” a çar com James Gosling e pudemos conversar sobre eliminando a necessidade de páginas JSP;
simplificação os novos recursos da plataforma. • Java API for RESTful Web Services: a imple-
Duas coisas aconteceram desde então: a Oracle mentação da arquitetura REST em Web Services, que
do desenvol-
concluiu o processo de aquisição da Sun e James Gos- usa os comandos simples HTTP como: GET, PUT, DE-
vimento, mas ling pediu demissão. Embora importantes, não creio LETE para lidar com recursos na Internet;
nem por isto que influenciem a popularidade da plataforma Java. • Contexts and Dependency Injection for the
possui menor Uma prova disto é o grande interesse pelo Java EE 6, Java EE platform: uma coleção de serviços que, entre
funcionalidade. manifestado em fóruns e publicações especializadas. outras coisas, tem um ciclo de vida para objetos plu-
Tive a oportunidade de avaliar e usar muito o Java gados em contextos e injeção de dependências.
Vários recursos
EE 5, tendo colaborado, inclusive, na elaboração do exa- Uma das novas tecnologias que me impressionou
foram modi- me SCEA, com Bryan Bashan, consultor da Sun e co- muito foi a dos Servlets assíncronos, que vem resol-
ficados e/ou autor do livro “Head First: Servlets and JSP”. Devido ao ver um grande problema de todo website: o processa-
adicionados ao meu envolvimento com o Java EE, tenho acompanhado mento lento. Quando um Container aloca um Thread
Java EE 6 a nova versão desde os primórdios e posso afirmar: o para processar um request, é esperado que seja logo
impacto para o desenvolvedor será grande. A versão 6 liberado. Se uma regra de negócios muito demorada
tem como “mote” a simplificação do desenvolvimento, for invocada, o servidor fica com o Thread bloquea-
mas nem por isto possui menor funcionalidade. Vários do, perdendo recursos importantes e reagindo mais
recursos foram modificados e/ou adicionados ao Java lentamente. Vamos exemplificar com um Servlet as-
EE 6. Entre as maiores novidades estão: síncrono:

24 | tema | mar/abr 2010


package com.cleuton;

import java.io.IOException;
import java.util.concurrent.ScheduledThreadPoolExecutor;

import javax.servlet.AsyncContext;
import javax.servlet.ServletException;
import javax.servlet.annotation.WebServlet;
import javax.servlet.http.HttpServlet;
import javax.servlet.http.HttpServletRequest;
import javax.servlet.http.HttpServletResponse;

@WebServlet (name=”Async”,urlPatterns={“/assincrono”},
asyncSupported=true)
public class AsyncServlet extends HttpServlet {

private void processa(HttpServletRequest req, HttpServletResponse res) {


AsyncContext aCtx = req.startAsync(req, res);
aCtx.setTimeout(15000);
aCtx.addListener(new ServListener());
ScheduledThreadPoolExecutor executor = new
ScheduledThreadPoolExecutor(5);
executor.execute(new ConsomeRecurso(aCtx));
// Aqui o Thread é liberado...
}

@Override
protected void doGet(HttpServletRequest req, HttpServletResponse resp)
throws ServletException, IOException {
processa(req,resp);
}

@Override
protected void doPost(HttpServletRequest req, HttpServletResponse resp)
throws ServletException, IOException {
processa(req,resp);
}

}

No Java EE 6, usamos anotações para definir classe, por exemplo, executando em outro Thread.
um Servlet. Ele usa uma nova classe: “java.servlet. O Thread do Servlet é liberado, com todos os recur-
AsyncContext” para representar o request assín- sos alocados. Quando o processamento termina,
crono. Ao invocar o método “startAsync”, podemos a resposta é finalizada. Eis a classe que processa o
despachar o processamento do request para outra request assíncrono:

tema | mar/abr 2010 | 25


package com.cleuton;

import java.io.BufferedReader;
import java.io.IOException;
import java.io.InputStreamReader;
import java.net.MalformedURLException;
import java.net.URL;

import javax.servlet.AsyncContext;
import javax.servlet.http.HttpServletResponse;

public class ConsomeRecurso implements Runnable {

private AsyncContext aCtx;



public ConsomeRecurso(AsyncContext aCtx) {
super();
this.aCtx = aCtx;
}

@Override
public void run() {
HttpServletResponse res = (HttpServletResponse) aCtx.getResponse();
try {
// Simula o consumo de um recurso externo
URL google = new URL(“http://www.google.com/”);
BufferedReader in = new BufferedReader(
new InputStreamReader(
google.openStream()));

String inputLine;

// Grava a resposta
while ((inputLine = in.readLine()) != null)
res.getWriter().println(inputLine);

in.close();

// Completa o request assíncrono
aCtx.complete();

} catch (MalformedURLException e) {
e.printStackTrace();
} catch (IOException e) {
e.printStackTrace();
}
}
}

Esta classe é instanciada pelo Servlet, que passa a conclui o request assíncrono (método “complete”).
instância do AsyncContext em seu construtor. O Thread Existem diversas outras tecnologias no Java EE 6,
do Servlet é encerrado e retorna ao Pool do Container. mas como não dá para demonstrarmos todas aqui,
Quando a classe termina de obter o recurso (neste ficamos com esta, que é simplesmente fantástica,
caso, a página do Google ®), ela gera a resposta e economizando recursos do servidor web.

26 | tema | mar/abr 2010


Inteligência
Foto: Arquivo Serpro
de Negócios,
a Fronteira Final
A revolução Open Source chegou à Diretoria

Por Fábio Michelette de Salles Prado

E
m 1980, para pegar suas impressões na re- de soluções de BI, antes disponíveis apenas nos
cém-inventada impressora laser da Xerox, softwares mais especializados e caros. Isso era, por
Richard Stallman ia até o final do corredor si só, uma revolução na área. E a Pentaho foi mais
apenas para descobrir que um atolamento de longe: não existe diferença tecnológica entre as ver-
papel havia parado a impressora. Como resolver isso? sões comunitária e corporativa.
Sem poder alterar a parte mecânica, resolveu repetir a Essa novidade causou uma onda de adoção do
mesma solução dada às outras impressoras: alterar o Pentaho que varreu o mundo. Milhares de empresas
software para que esse enviasse avisos aos donos das oficializaram a implantação de Pentaho, recorrendo “A solução
impressões. Isso sempre levava a impressora a alguém ao suporte oficial, e muitas adotaram a suite para suas Pentaho dará
capaz de desatolá-la. Mas a Xerox não abriu o código- necessidades.
fonte do driver da impressora, e o restante é história: No Brasil, o Serpro é a primeira empresa a tornar
aos usuários
graças ao movimento que Richard Stallman iniciou em 100% do Pentaho o padrão para criação de soluções do Dest maior
1983, em 2010 uma empresa pode ter 100% de seus de BI, para si e para seus clientes. Sua importância se independência
sistemas informatizados com Software Livre (SL). tornou tão grande para a empresa que o próprio Di- na exploração
Business Intelligence (BI) é o conjunto de processos retor-Superintendente, Gilberto Paganoto, atuou para de seus dados
e tecnologias usados para obter percepções oportu- acelerar sua implantação. “Para o Serpro, o Pentaho
nas, precisas, valiosas e práticas sobre seus negócios. possui um papel de tecnologia estruturante”, afirmou
que até então
O Pentaho é uma suite de softwares livres, com o qual Gerson Tessler/Cetec, em 2009. Graças a essa ação, o dependiam de
podemos criar soluções de BI. Essas devem ter um Serpro entregou, em abril de 2010, um projeto Pentaho equipe técnica”
Data Warehouse (DW ou Armazém de Dados) e ferra- para o primeiro cliente dessa infraestrutura, o Dest.
mentas de consulta, para explorar esses dados. O DW é “A solução Pentaho dará aos usuários do Dest maior
um repositório de dados limpos, estáveis e organizados independência na exploração de seus dados que até
para consultas (ao invés de transações). então dependiam de equipe técnica”, diz Vinícius Motta,
Soluções de BI permitem que perguntas críticas analista de negócios da conta Dest na SUNMP.
para o sucesso da empresa possam ser respondidas Muitas outras empresas do setor público também
com clareza e segurança. Por exemplo, quantos empre- adotaram o Pentaho. A Caixa Econômica Federal e o
gados existem na empresa? Fazer essa pergunta sem Banco do Brasil são dois exemplos. Do setor privado,
um DW pode trazer respostas conflitantes (depende Martin-Brower e Têxtil Bezerra de Menezes são exem-
do departamento que responder). Ferramentas como plos brasileiros. Entre as mais de 8 mil empresas que
OLAP ajudam a resolver situações problemáticas: pri- adotaram o Pentaho ao redor do mundo, temos GE,
meiro, identificando-as e depois, graças ao recurso drill Ericsson, Swissport (Suíça), Mozilla Foundation, NHS
down, chegar à origem dos problemas. Processos de (Inglaterra), T Mobile (Alemanha).
Data Mining (Mineração de Dados) podem ser usados
para identificar tendências ocultas nos dados, que sim-
ples relatórios não mostram. Fábio de Salles é analista de sistemas da Coordenação de
O grande retorno desse tipo de sistema justifica Tecnologia do Serpro. Físico pela Unicamp, atuou como Gerente
os altos preços dos fornecedores. Essas soluções, de Soluções no SAS, multinacional de BI. Trabalha no Serpro
caras e amarradas aos fornecedores, não eram aces- desde 2005. Faz parte do Comitê de Software Livre da Regional
síveis à maior parte das empresas. Vários softwares São Paulo e participa da Comunidade Brasileira de Pentaho, tendo
livres de BI surgiram motivados por essa necessida- motivado a criação do evento On-Line OpenTaho. Coordenou o
de. Mas nenhum tão sofisticado e flexível quanto o primeiro protótipo Pentaho do Serpro, na Superintendência de
Pentaho. Ele inovou não apenas ao trazer todas as Gestão Empresarial, onde atualmente colabora para expandi-lo.
ferramentas, mas também ao criar uma arquitetura

tema | mar/abr 2010 | 27


arte digital

Uma rede que preserva


a cultura de um povo
Tecnologia ajuda comunidades quilombolas a expressar suas
manifestações artísticas e a resgatar suas raízes históricas

B
rasileiros afrodescendentes moradores de cendente. “Além disso, tinha características marcantes
comunidades Quilombolas de todo o País en- da comunidade Quilombola, o que foi determinante para
contraram nas Tecnologias da Informação e fundação da Mocambos”. Devido a essa luta, TC conta
Comunicação (TICs) uma forma de transcen- que a Mocambos foi criada para conhecer melhor a re-
der seus limites territoriais e valorizar a sua produção alidade histórica dos negros no Brasil por meio dessas
artística e cultural. Projetos como “Orquestra de Tam- comunidades quilombolas. “A referência dos quilombos
bores de Aço”, responsáveis por formar jovens e adoles- é muito importante, porque foi a primeira república de-
centes em situação de risco por meio da música, foram mocrática de fato no País”, observa.
potencializados graças à interligação dessas comu- Além da produção de informação para o fortaleci- “Temos hoje
nidades, que atualmente formam a Rede Mocambos. mento e resgate da cultura, TC lembra, ainda, da expe- 12 núcleos
O domínio da informática possibilitou, ainda, o desen- riência que membros da rede têm com as tecnologias de formação
volvimento econômico dessas pessoas pela valoriza- da informação. Ele explica que, para defender seus continuada
ção e facilidade de comercialização de seu artesanato. direitos e produzir material de formação continuada, foi
A Rede congrega cerca de 200 comunidades quilombo- preciso que dominassem diferentes tipos de softwares
espalhados por
las. Desse total,160 já possuem telecentros instalados. livres. “Pensamos no uso social dessas tecnologias. vários estados,
Os membros da Rede Mocambos procuram nas Garantimos o acesso de pessoas em situação de com- para formar
próprias habilidades uma forma de sobrevivência. A pro- pleta exclusão. Preparamos nossas comunidades para jovens que
dução de artesanatos engloba tapetes, peças de argila e que se apropriem do conhecimento disponível em rede. sirvam de
sisal, colchas, cestas, entre outros. Tanto a troca de ma- Neste sentido, temos hoje 12 núcleos de formação
térias-primas entre as comunidades quanto a comer- continuada espalhados por vários estados, para formar
multiplicadores
cialização dos produtos são facilitadas pela participa- jovens que sirvam de multiplicadores da cultura do da cultura do
ção na Rede. “Hoje produzimos também nosso próprio nosso povo”, diz. nosso povo.”
conteúdo e, assim, promovemos a difusão da cultura.
Vídeos, animações, jornais e rádio web, tudo isso é re-
passado principalmente para nossas crianças e jovens.
O teor desse material contém as lutas dos quilombolas,
a nossa identidade e as raízes do nosso povo. Temos até
gráficas para impressão desses materiais”, destaca um
dos coordenadores da Rede Mocambos, Antonio Carlos
dos Santos Silva, mais conhecido como “TC”.
Na sua opinião, o domínio das tecnologias propiciou
instrumentalizar todas as comunidades para uma dis-
cussão embasada. “Somos nós que produzimos a nos-
sa própria notícia. A TV Mocambos é uma indutora da
nossa arte e de nossa cultura. Produzimos documen-
tários desde a manifestação de grupos de Hip Hop
quilombolas até oficinas de tambores ministradas por
membros da nossa comunidade. Pela Rede, circula cul- Quem quiser conhecer mais
tura e arte. Nela, conseguimos mobilizar quilombolas sobre a Rede Mocambos e saber
nos mais distantes territórios do nosso País”, acentua. como se estruturam em uma rede de troca
O coordenador explica que a ideia da Rede nasceu de informações, de valores culturais,
da iniciativa da Casa de Cultura Tainã, que tem como pode acessar o endereço eletrônico:
missão fortalecer a prática da cidadania e a formação da www.mocambos.net.
identidade cultural, principalmente da cultura afrodes-

tema | mar/abr 2010 | 29


discussão

Foto: Heroturko.org
Marco Civil da internet
divide opiniões

Executivo propõe Marco Civil regulatório para usuários da rede;


Legislativo defende a punição

O
uso da internet no Brasil tem sido objeto de pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para
ampla discussão, tanto no Poder Executivo que fossem definidos e regulamentados os direitos
quanto no Legislativo e na sociedade em e deveres dos usuários, antes de tipificar como cri-
geral. Um projeto de lei que tramita na Câ- me a conduta de internautas na rede. “Mais do que
mara dos Deputados pretende tipificar os crimes di- sair criando tipos penais e mecanismos de investi-
gitais e estabelecer penalidades para as irregulari- gação, o Marco Civil propõe identificar, com clare-
dades praticadas na rede. Outra proposta, que está za, os deveres e direitos dos indivíduos. Para isso,
em fase de elaboração pelo governo federal, a cargo consultamos a sociedade, disponibilizando na pró-
do Ministério da Justiça (MJ), quer regular o acesso pria Internet as propostas que iriam fazer parte do
do usuário antes de punir os possíveis infratores. anteprojeto. Depois que desenvolvemos o projeto de
A ideia é estabelecer um marco civil para determinar lei, ele foi aberto a essas contribuições”, enfatiza.
as responsabilidades, os direitos e os deveres dos O representante do MJ afirma que a proposta
usuários, empresas e órgãos públicos. A expecta- foi estruturada em três grandes eixos. O primeiro
tiva é que as duas propostas sejam encaminhadas deles, sobre os direitos dos cidadãos na internet.
para votação no início do segundo semestre. O segundo, a respeito da responsabilidade dos dife-
O chefe de gabinete da Secretaria de Assuntos rentes atores – provedores de conteúdo e de acesso,
Legislativos do MJ, Guilherme Almeida, que coor- entre outros. E, por último, as diretrizes do gover-
dena a elaboração do Marco Civil do Executivo, ex- no federal para garantir a publicação de seus atos
plica que o governo federal recebeu diversas contri- na internet. “Tivemos mais de mil comentários em
buições da sociedade para a criação do anteprojeto cima do projeto de lei. Parágrafos, artigos e incisos
de lei. Segundo ele, a proposta surgiu a partir de um puderam ser comentados. Para a nossa surpresa,

30 | tema | mar/abr 2010


o conteúdo referente às diretrizes do governo não
teve uma participação expressiva. O que pode sig-
nificar que o material está bom ou que as pessoas
preferiram não interferir nesse item, por entender
que ele não as atinge de forma direta”, avalia. “Mais do que sair criando
Almeida diz que um dos pontos mais polêmicos do
projeto foi o de garantir a liberdade de acesso, mas tipos penais e mecanismos
ao mesmo tempo buscar coibir abusos como o crime de investigação,
de pedofilia. “Estamos em discussão, mas, a princí-
pio, definimos que todo o conteúdo questionável na o Marco Civil propõe
rede deverá ser retirado apenas com ordem judicial. identificar, com clareza,
As pessoas podem suprimir a publicação por vontade
espontânea, porém não serão obrigadas”, enfatiza. “A os deveres e direitos
guarda de registros na rede é outro ponto de discus-
são. Mas também deveremos chegar a um consenso a
dos indivíduos. Para isso,
partir das contribuições recebidas”, completa. consultamos a sociedade,
Sobre o projeto de lei em discussão no Legislativo,
Guilherme Almeida define como uma proposta que vai
disponibilizando na própria
de encontro aos anseios da sociedade. “Esse projeto Internet as propostas que
foi inspirado numa convenção da Comunidade Euro-
peia de cyber crimes, mas o Brasil não assinou e é
iriam fazer parte
contrário. Então, a proposta está na contramão da li- do anteprojeto.”
nha de pensamento do próprio País”, avalia.

Projeto de Lei
Na Câmara, o relator do projeto que tipifica crimes
digitais na lei brasileira, deputado federal Julio Se- próximos passos
meghini (PSDB-SP), afirma que a ideia é apresentar
um texto alternativo ao projeto de lei nº 84/1999 – que
foi modificado no Senado e voltou para discussão na no executivo
Câmara dos Deputados. “Pretendemos reformular a Marco Civil – Ministério da Justiça
matéria e propor um substitutivo que contemple parte (MJ) espera concluir proposta,
do projeto que teve origem na Câmara e parte da pro- no início do segundo semestre,
posta modificada pelo Senado. E, assim que conse- e enviar ao Congresso
guirmos um consenso, no mais tardar até o final de
julho, enviaremos a proposta para sanção do presi-
dente da República”, explica.
De acordo com Semeghini, ao punir o mau uso da
rede, o projeto é uma complementação do Marco Civil,
e não um contraponto. “Não entraremos nas questões
de que trata o projeto do Executivo. Precisamos, sim,
abordar aqueles que entram na rede com o objetivo
de prejudicar alguém, seja para destruir informa-
ções e banco de dados, seja no intuito de subtrair
dados confidenciais de outros usuários, como senhas
de banco”, destaca.
O parlamentar considera que o principal impas-
se da proposta é quanto ao armazenamento de dados
pelos provedores de acesso. “O projeto atual prevê que no legislativo
os dados fiquem arquivados durante três anos. Mas é
um ponto que está em discussão. A princípio, o que Projeto de Lei nº 84/1999 –
está prevalecendo é que esse armazenamento seja Deputado Julio Semeghini,
por um ano. Temos, ainda, outro ponto polêmico que relator da matéria, deverá
é a obrigatoriedade de os provedores denunciarem às propor um substitutivo ao projeto,
entidades competentes crimes praticados na rede. enviado pelo Senado à Câmara, e,
Mas isso já existe no Código Penal: a obrigatoriedade na sequência, encaminhar para
de a pessoa denunciar uma prática que tenha presen- sanção do Presidente da República
ciado. Precisamos rever essas questões”, admite.

tema | mar/abr 2010 | 31


redes sociais

Canal direto
com o cidadão
As novas redes sociais
têm permitido a órgãos
dos três Poderes da
República manter
uma comunicação
permanente
e direta com
a sociedade

32 | tema | mar/abr 2010


A
s redes sociais estão revolucionan-
do as relações entre os cidadãos e
os órgãos da administração públi-
ca. Se antes as pessoas depen-
diam dos meios de comunicação tradicionais
para tomar conhecimento de alguma ação
do governo, hoje esse diálogo se dá de forma
mais direta.
O Ministério da Saúde (MS) é um dos
órgãos que conhece bem esse potencial.
A recente campanha nacional de vacinação
contra a gripe H1N1 levou milhares de in-
ternautas a procurarem informações sobre
o tema via redes sociais. Foram os boatos,
mitos e dúvidas que surgiram com a cha-
mada gripe suína que levaram o MS a optar
por esse tipo de canal. A intenção era impe-
dir o pânico e a divulgação de informações
incorretas sobre a doença. Além de ter seus
perfis oficiais no Twitter, Facebook, Orkut,
YouTube e Formspring, o MS monitora te-
mas relacionados à saúde em sites de no-
tícias e blogs.
Nas redes sociais, os internautas têm
as suas perguntas respondidas pelo Mi-
nistério em, no máximo, 24 horas. Além
desses perfis oficiais, o órgão disponibiliza
uma rádio – que só pega na internet – no ar
desde março deste ano. A audiência da Rá-
dio Saúde surpreendeu a coordenadora da
emissora, Marina Mello. “Coletivas e trans-
missões ao vivo alcançam geralmente mais
de 100 internautas conectados. Programas
Ilustração: Diego Pizzini

como Conexão Sexo, que trata de tirar dú-


vidas dos internautas sobre sexo e doenças
sexualmente transmissíveis, são recordis-
tas de audiência”, diz ela.

tema | mar/abr 2010 | 33


A coordenadora do Núcleo de Comunicação Inte- acesso pelo celular. “O desenvolvimento do STF-mobile
rativa do MS, Fernanda Scavacini, avalia que os resul- é marcante. Ele permitiu aos cidadãos ter as informa-
tados obtidos com as redes sociais são os melhores ções sobre processos, notícias e jurisprudência por
possíveis. “A população se sente ouvida. Agora ela smartphones”, afirma Lúcio Melre, secretário de Tec-
tem voz e autonomia para dizer o que quiser e ain- nologia da Informação (TI) do STF, acrescentando que
da ganhar uma resposta. Nas redes, o cidadão pode os serviços disponíveis para consulta por celular são
desabafar, criticar e também elogiar. E por sempre os mais acessados no sítio do Supremo.
ser atendido, independentemente do que tem a dizer, Em abril deste ano, foi publicada uma resolu-
ele fica muito satisfeito. Por isso, o Ministério conse- ção do STF regulamentando os tipos de processos
guiu ter tantos amigos e seguidores em suas redes que poderão ter uma análise totalmente eletrôni-
sociais”, afirma. (Todos os links para acessar às pá- ca. A Secretaria de TI lembra que o processo ele-
ginas do MS nas redes sociais podem ser acessados trônico já existe na Suprema Corte desde 2007,
pelo sítio www.saude.gov.br). mas o serviço foi ampliado para dar mais agilidade
Ainda no âmbito do Executivo, o Ministério da ao julgamento das ações. “O agravo de instrumen-
Cultura é outro que investe na comunicação dire- to foi incluído no rol dos processos eletrônicos.
As redes sociais ta com os internautas. Na sua página na internet Essa mudança provocará impactos muito grandes
já fazem parte da (www.cultura.gov.br), o órgão disponibiliza os edi- na comunidade jurídica brasileira, porque mais de
rotina de vários tais de seleção pública para projetos na área cultural. 60% dos processos distribuídos no STF são dessa
órgãos públicos. O acesso é simples e aberto a todos os interessados. classe”, prevê Melre.
Cidadãos podem A presença do Supremo nas redes sociais ainda
acompanhar Judiciário não pode ser considerada ampla. Mas tanto o próprio
julgamentos de As redes sociais também têm ajudado o Supremo STF quanto o Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
processos pelo Tribunal Federal (STF) a se aproximar da população. órgão criado em 2004 para dar transparência e fis-
Legislativo e Há anos, sua página na internet (www.stf.jus.br) dis- calizar a atuação dos juízes, já contam com os seus
a execução de ponibiliza uma ferramenta que permite ao cidadão respectivos canais no YouTube e perfis no Twitter.
programas do saber o andamento de qualquer processo em julga- Uma das metas do planejamento estratégico do ór-
governo federal. mento no órgão. E essa consulta tem sido moderniza- gão, para o período 2009/2013, é ampliar sua visibili-
da para ficar mais simples e direta. Uma novidade é o dade nas redes sociais.

Foto: Heroturko.org

34 | tema | mar/abr 2010


Foto: Sxc.hu

Acompanhe as ações de
órgãos públicos pelas redes
sociais. Abaixo, seguem alguns
exemplos:

O Ministério da Saúde (MS) possui


mais de 16 mil seguidores no
Twitter. O canal de comunicação
já se transformou em ponto de
referência para divulgação de
campanhas e ações.
http://www.saude.gov.br

Legislativo
No mesmo caminho dos Poderes Executivo e
Judiciário, o Legislativo já percebeu a importância
da internet e das redes sociais. Os projetos de lei
apresentados por deputados e senadores, o passo a “Este é um
passo das propostas e a lista de matérias previstas caminho sem
Com mais de 14 mil seguidores,
para irem à votação estão à disposição de qualquer volta. Com a o Ministério da Cultura (MinC)
internauta. As notícias produzidas pelos veículos de evolução das também entrou na onda das redes
comunicação da Câmara e do Senado também estão redes sociais, sociais. Espaço é um meio de se
nos perfis do twitter que as agências, rádios e TVs o cidadão não acompanhar as atividades culturais
do Legislativo mantêm na rede mundial de compu- precisará da pasta. http://www.cultura.gov.br
tadores. mais de re-
No Senado Federal, a ampla inserção nas redes presentantes
sociais é uma das metas do planejamento estraté-
da forma que
gico em construção para os próximos oito anos. Um
dos incentivadores desse processo é o próprio pre-
temos hoje”
sidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP),
que acredita que as redes sociais devem levar a so-
ciedade a um modelo de democracia direta. “Este é
um caminho sem volta. Com a evolução das redes
sociais, o cidadão não precisará mais de represen-
tantes da forma que temos hoje”, diz o senador.

No Judiciário, as decisões do
Supremo Tribunal Federal (STF)
podem ser acompanhadas pelo
Twitter. O órgão é visto por mais
de 22 mil seguidores.
http://www.stf.jus.br

tema | mar/abr 2010 | 35


AQUI
COLAR
memória

Ilustração: DIego Pizzini


Primeiros passos
Iniciativas pontuais de implantação de telecentros e espaços
“Serpro Cidadão” marcaram o início do processo
de inclusão digital no Brasil

O
tema da inclusão digital começou a figu- uma área de inclusão digital. Nosso público in-
rar no cotidiano do País, no início da dé- terno não entendia como iríamos montar uma es-
cada passada. O pressuposto era de que, trutura e configurar os computadores sem cobrar
além de possibilitar o contato do cidadão nada. Tivemos que mudar a lógica e implantar a
com o mundo digital, fazia-se necessário que ele visão de que o Serpro estava apenas devolvendo “Tivemos que
pudesse usufruir de um suporte tecnológico para para a sociedade toda a credibilidade recebida du- mudar a lógica
mudar sua condição de vida. No Serpro, os primei- rante anos”, enfatiza. e implantar
ros passos foram dados em meados de 2003, com Hoje são mais de 300 unidades instaladas em
a implantação de telecentros no Rio de Janeiro todo o Brasil. Para utilizar os computadores do-
a visão de
(RJ). Já as ações do governo federal tiveram iní- ados, o Serpro teve que desenvolver uma platafor- que o Serpro
cio um pouco antes, em 2001, com a instalação de ma tecnológica que pudesse atender ao programa estava apenas
unidades em São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS). de Inclusão Digital e permitir a sua execução nas devolvendo
Mesmo sem saber o significado de Inclusão máquinas. “Os colegas desenvolveram, então, para a
Digital, o Serpro passou a instalar, em suas re- soluções híbridas com configurações mínimas
presentações regionais, o Espaço Serpro Cidadão, para executar basicamente placas de rede e vídeo.
sociedade
oferecendo às comunidades o acesso à busca de Esses computadores eram ligados em rede a um toda a
informações e aos serviços disponíveis na Internet. servidor com recursos melhores”, explica. credibilidade
Hoje, o Espaço está presente nas 10 unidades regio- recebida
nais (Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Mais computadores durante anos.”
Recife, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, Porto Cabelinho conta que a montagem dos tele-
Alegre e Curitiba). O ambiente segue os mesmos centros ganhou uma amplitude maior em 2006,
moldes de um telecentro e é composto por compu- quando a Receita Federal devolveu cerca de 12 mil
tadores conectados à rede, operando em plataforma máquinas ao Serpro. “Saímos de um Fusca para
Linux. Também, há impressoras que possibilitam a um Monza naquela ocasião”, compara. “Os com-
impressão de certidões, documentos ou resultados putadores eram melhores do que os que tínhamos
de exames e pesquisas. até então, por isso pudemos desenvolver recur-
Os primeiros passos em direção à implanta- sos mais avançados, além de poder renovar todo
ção dos primeiros telecentros foram dados pelo o parque dos telecentros já implantados. Os PCs
Serpro, no Rio de Janeiro, com a instalação de se tornaram mais independentes e não precisavam
11 unidades, em parceria com o Banco do Brasil. tanto de um servidor para executar suas funções”,
De acordo com o gerente do Programa Serpro de recorda.
Inclusão Digital, Antônio Carlos Miranda da Silva, Naquele mesmo ano, e com a possibilida-
conhecido como “Cabelinho”, o banco forneceu as de maior de instalação de telecentros, foi criado
máquinas que foram substituídas de seu parque o Programa Serpro de Inclusão Digital (PSID). “A
tecnológico. “Além desta parceria, conseguimos partir desse momento, a empresa resolveu insti-
também o apoio do Programa Governo Eletrônico tuir uma estrutura para o programa funcionar. Foi
Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), do criada uma coordenação nacional e também um
Ministério das Comunicações, que nos forneceu grupo de trabalho de mais ou menos 20 pessoas
conexão para duas unidades”, lembra. em todas as regionais do Serpro”, diz o gerente.
Cabelinho ressalta, entretanto, que as máqui- Em 2007, foi efetivada a Coordenação Estra-
nas fornecidas pelo Banco do Brasil possibilitaram tégica de Inclusão Digital, em âmbito nacional.
o avanço na instalação dos telecentros. “Graças ao Vários profissionais foram destacados nas regio-
Banco, pudemos dar continuidade à proposta de nais para atuar no Programa, e o Serpro ampliou
implantação das estruturas. As primeiras ações sua contribuição no esforço de assegurar a inclu-
foram difíceis, porque não tínhamos ainda no Serpro são digital das diversas camadas da população.

tema | mar/abr 2010 | 37


ciência computacional

inteligência
artificial
a serviço do governo

38 | tema | mar/abr 2010


Apesar de ser um ramo de pesquisa
científica ainda recente no Brasil,
a inteligência artificial pode
ajudar o país a ampliar os serviços
de governo eletrônico e a combater
a sonegação fiscal

Ilustração: Diego Pizzini

tema | mar/abr 2010 | 39


A
inteligência artificial (IA) está por toda parte. Casos de sucesso
É possível perceber a atuação desse campo Discussão científica e filosófica à parte, a rea-
da ciência computacional, que se inspira em lidade é que o governo brasileiro e algumas orga-
mecanismos do pensamento humano, no nizações privadas têm formado grupos de traba-
nosso dia a dia. Os supercomputadores já controlam lho para aperfeiçoar iniciativas de IA. Atualmente,
os voos nos aeroportos, conversam com pessoas, fa- mais de 300 cadastrados no Conselho Nacional de
zem cirurgias, mudam o ritmo dos sinais de trânsito, Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
administram e detectam falhas em sistemas de pro- estudam o tema. Entre as instituições nacionais
dução industrial, funcionam como guias em museus que desenvolvem pesquisas sobre aplicações ba-
e até jogam xadrez. seadas em IA, estão a Petrobras, a Telebrás, a
Os conceitos de IA podem ser aplicados a dife- Caixa Econômica Federal e a Receita Federal do
rentes áreas: na administração e logística para or- Brasil.
ganizações, em cálculos e demonstrações de teore- Um caso de sucesso é o projeto de Inteligência
mas complexos, no modelamento de sistemas físicos Computacional do Centro de Pesquisa e Desenvol-
(eletroeletrônica, nanotecnologia), na robótica, na vimento da Petrobras (Cenpes), desenvolvido em
automação de linhas de montagem, nos jogos e em parceria com a Pontifícia Universidade Católica
aplicações financeiras na Bolsa de Valores. do Rio de Janeiro (PUC-RJ). O Sistema de Análise
A previsão de alguns cientistas é de que não irá Econômica de Projetos de E&P de Petróleo sob In-
demorar muito tempo para que as máquinas imitem certeza (Anepi) possibilita a análise econômica em
as qualidades humanas com perfeição. Há quem relação à exploração e prospecção de petróleo.
diga, por exemplo, que até 2030 os computadores Analista do Serpro e doutorando em Inteligência
serão dotados de consciência. De certa forma, a pre- Artificial pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica
missa tem até um respaldo científico. A Lei de Moore (ITA), José Raimundo Fonseca explica que o modelo
(formulada por Gordon Moore, co-fundador da Intel) da Petrobras usa técnicas de IA, como algoritmos
estabelece que o número de transistores em um de- evolutivos, redes neurais e modelos neuro-fuzzy
terminado chip é dobrado a cada dois anos. Desde (técnica que gera regras diretamente de dados
que Moore criou a lei, em 1965, ela se tornou um guia numéricos), para encontrar configurações de pro-
do progresso da informática e da eletrônica. dução em campos petrolíferos “Trata-se de um
Se isso continuar acontecendo, a IA alcança- excelente exemplo do potencial de aplicação dessa
rá a capacidade de processamento dos 100 bilhões tecnologia em problemas relevantes”, afirma.
de neurônios do cérebro humano por volta de 2025. Recentemente, a Receita Federal deu seus
Apesar dessa previsão otimista, existe uma vertente primeiros passos na área da IA. Em conjunto com
de pensadores, dentre eles o neurocientista brasi- pesquisadores da Universidade Estadual de Campi-
leiro Miguel Nicolelis, que acredita que as máquinas nas (Unicamp) e do ITA, o órgão formatou o Projeto
nunca conseguirão abarcar a complexidade da cog- Harpia – o nome foi dado em referência à maior ave
nição humana. de rapina do mundo, também conhecida como ga-
vião-real. Criado para combater a sonegação fiscal
no País, com a identificação de possíveis fraudes,
o Harpia ainda não foi finalizado, mas poderá dar
uma contribuição relevante na área de IA.
“É louvável essa política, “Investir na pesquisa e em formas mais efica-
zes de detecção de fraudes é um excelente objetivo
pois um Estado forte a perseguir, num país que vem perdendo milhões
não pode se basear todos os anos com a corrupção. Poderíamos dar
seguimento ao projeto Harpia, agora, no âmbito do
em tecnologias que o Serpro”, pondera José Raimundo.
mantenha dependente de E-Gov
interesses particulares, O analista adianta que o Serpro tem a intenção
bem como deve ser capaz de formar um grupo de trabalho, com a participa-
ção de funcionários da empresa e de estudiosos
de responder às demandas de diferentes instituições, para fazer pesquisas de
do cidadão brasileiro. Inteligência Artificial voltadas para governo eletrô-
nico. Ele ressalta que a Coordenação Estratégica
A Inteligência Artificial é de Tecnologia (Cetec) tem o entendimento de que
uma dessas tecnologias a instituição pode se tornar referência na área de
infraestrutura dirigida à prestação de serviços ele-
que devemos dominar.” trônicos pelo setor público.

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Filmes que apresentam
conceitos de inteligência
artificial:
“Investir na pesquisa e 2001 – Uma Odisséia no Espaço –
em formas mais eficazes

Foto: Divulgação
(A Space Odyssey, EUA, 1968) – O clás-
sico de ficção científica, que completou
de detecção de fraudes é quatro décadas de sucesso, é basea-

um excelente objetivo a do na obra de Artur C. Clarke. Dirigido


pelo cineasta Stanley Kubrick, aborda
perseguir num país que vem a origem do Homem e sua escalada ao
espaço. Considerado um dos melhores
perdendo milhões todos filmes de todos os tempos, apresenta
os anos com a corrupção. ao público o supercomputador inteli-
gente Hal 9000, que se comunica com os
Poderíamos dar seguimento tripulantes e dá ordens na espaçonave.
No começo, Hal se comporta como um
ao projeto Harpia, agora, no computador prestativo, atendendo aos
âmbito do Serpro.” pedidos dos cinco tripulantes. Com o
tempo, realiza ações sem o consenti-
mento dos humanos. O filme suscita o
debate de que o computador perfeito é
Conhecido por e-Gov, o governo eletrônico é um aquele que não tem usuários.
fenômeno resultante do uso intensivo das tecnolo-
gias da informação e da comunicação. É comprovado
Matrix (The Matrix, EUA, 1999) –
que, quando um país investe na oferta de serviços

Foto: Divulgação
Ganhador de vários prêmios, o filme
públicos por meio eletrônico, consegue redução nos conta a história de uma sociedade domi-
gastos e maximiza a sua produtividade. nada por um programa de computador
“Nos últimos anos, acompanhamos um forte chamado Matrix, que evoluiu por meio
investimento na infraestrutura e na formação de da inteligência artificial. O personagem
recursos humanos da máquina estatal. É louvável do ator Keanu Reeves (Neo) é chamado
essa política, pois um Estado forte não pode se ba- por um grupo de rebeldes para comba-
sear em tecnologias que o mantenha dependente de ter os computadores. Na trama, Neo tem
pesadelos horríveis em que se vê conec-
interesses particulares, bem como deve ser capaz
tado por cabos a um sistema de compu-
de responder às demandas do cidadão brasileiro.
tadores e começa a duvidar da realidade
A Inteligência Artificial é uma dessas tecnologias que em que vive. O personagem de Keanu
devemos dominar”, sentencia José Raimundo. Reeves é visto como o salvador que irá
libertar os humanos presos na Matrix.
Os diretores conceberam a trama como
uma trilogia, concluída em 2003 com
Matrix Reloaded e Matrix Revolutions,
rodados simultaneamente. A direção e
o roteiro foram dos irmãos Wachowski,
com produção de Joel Silver.

Inteligência Artificial – (A.I. Ar-

Foto: Divulgação
tificial Intelligence, EUA, 2001) –
Inspirado em um conto de Brian Aldiss,
o longa-metragem retrata a história de
um menino robô (David) capaz de so-
nhar e amar. Com base em anotações e
desenhos deixados por Stanley Kubrick,
o diretor Steven Spielberg retrata um
futuro indefinido, em que robôs têm im-
pressionantes feições humanas. No en-
Acesse o Portal de serviços e redo, David é adotado por um casal para
informações do governo federal, ocupar o lugar do filho doente. Quando
e fique por dentro das ações em gestão a criança retorna ao lar, o menino robô
eletrônica. http://www.e.gov.br/ é abandonado. Apesar de máquina, ele
quer ser gente e tenta, desesperada-
mente, reencontrar a sua “mãe”.

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páginas verdes

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Foto: Heroturko.org | Composição: Diego Pizzini
O
que fazer com aquele computador usado,
jogado num canto qualquer depois de Confira alguns dos principais
ter sido trocado por outro mais rápido e exportadores e importadores
moderno? E com aquela impressora que de computadores usados
foi substituída por uma mais econômica e funcio-
nal? Jogar no lixo? Nem pensar. Saiba que essas
máquinas podem ser recondicionadas e abrir as
portas do mundo digital para muita gente que
nunca teve a oportunidade de mexer em um equi-
pamento assim.
O Ministério do Planejamento, por meio da Se-
cretaria de Logística e Tecnologia da Informação,
tem buscado parceiros na sociedade civil para
implantar o Projeto Computadores para Inclusão.
Organizações não governamentais recebem apoio
para instalar o chamado Centro de Recondiciona-
mento de Computadores (CRC), que procura dar Principais exportadores
destino social e ambientalmente correto para mi- América do Norte, Europa, Japão e Austrália
lhares de gabinetes, monitores, teclados, mouses Principais importadores
e impressoras descartados por órgãos da admi- Oriente Médio, África, Países da Ásia
nistração pública, empresas privadas e pessoas (principalmente a China)
físicas.
A ideia é espalhar os centros por todo o Brasil,
e já há unidades em funcionamento nas cidades programa do governo federal
de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Recife, Salvador e Brasília, onde cerca Projeto Computadores para Inclusão (CI), do
“Toda e qualquer de 700 equipamentos em plenas condições de uso governo federal, tem o objetivo de recondicionar
instituição são remontados por mês. produtos usados de informática e oferecê-los,
Em São Paulo, foi firmada parceria com a ONG em plenas condições operacionais, a escolas,
responsável por bibliotecas, telecentros comunitários, entre outros.
Oxigênio Desenvolvimento de Políticas Públicas e
uma iniciativa Sociais, que funciona na cidade de Guarulhos, re- A ideia é promover a inclusão digital. O projeto
desse tipo pode atua, ainda, na formação de jovens adolescentes.
gião metropolitana da capital paulista. A entidade
receber os desenvolve projetos em diversas áreas e tem ex-
Veja situação do projeto em todo o País
computadores periências reconhecidas na formação profissional.
recondicionados, Além de recondicionar os computadores, o CRC
Oxigênio qualifica 80 jovens de famílias pobres da 5 Centros de Recondicionamento de
basta a entidade região para trabalhar na manutenção de micro- Computadores (CRCs) implantados:
cadastrar o seu computadores e em configuração de software li- • Porto Alegre (RS): 62 jovens formados;
projeto no sítio vre, como o Linux e o BrOffice. Esses jovens pres- 70 em formação.
do Ministério do tam serviço na própria unidade, mas também são • Gama (DF): 778 jovens formados;
Planejamento encaminhados para o mercado de trabalho. 20 em formação.
O CRC Oxigênio foi o primeiro a ser implantado
e aguardar no Brasil, em 2006. As máquinas recondicionadas
• Guarulhos (SP): 350 jovens formados;
o resultado 80 em formação.
são doadas sem nenhum custo para telecentros,
da avaliação escolas, bibliotecas públicas ou qualquer entidade • Belo Horizonte (MG): 369 jovens formados,
140 em formação.
bimestral feita que tenha projetos voltados para a inclusão digital.
pelo governo.” “Toda e qualquer instituição responsável por uma • Recife (PE): 105 jovens formados,
iniciativa desse tipo pode receber os computado- 110 em formação.
res recondicionados, basta a entidade cadastrar o Nota: Dados de fevereiro de 2010.
seu projeto no sítio do Ministério do Planejamento
e aguardar o resultado da avaliação bimestral fei-
ta pelo governo”, diz Martha Del Bello, presidente Doações aprovadas:
da ONG Oxigênio. 2007 2008 2009
O CRC de Guarulhos ainda garante a manutenção
Computadores
das máquinas doadas durante seis meses. E após o aprovados para doação
1.899 6.366 4.710
término da vida útil desses computadores, a ONG re-
colhe os equipamentos nas entidades e troca por no- Projetos aprovados 163 486 381
vas máquinas igualmente recondicionadas, evitando Fonte: www.computadoresparainclusao.gov.br

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“Nós ajudamos no combate à poluição e ainda
levamos a inclusão digital para milhares de jovens,
adultos, crianças e até idosos que nunca tiveram
acesso à tecnologia da informação.”

que a pessoa que recebeu os computadores os des- oficinas de artesanato, e dão vida às mais variadas
carte incorretamente. E o meio ambiente agradece: peças, desde as mais simples utilidades domésti-
só a Oxigênio recebe por ano cerca de 10 tonela- cas até os objetos de decoração mais sofisticados
das de lixo eletrônico. “Nós ajudamos no combate e modernos.
à poluição e ainda levamos a inclusão digital para Nos locais onde já foram implantados, os CRCs
milhares de jovens, adultos, crianças e até idosos são um sucesso ao gerar oportunidades de traba-
que nunca tiveram acesso à tecnologia da informa- lho e colocar a tecnologia a serviço de comunida-
ção”, diz Martha Del Bello. des de baixa renda.

Distrito Federal
No Distrito Federal, quem coordena o Centro
de Recondicionamento de Computadores é a ONG Para mais informações sobre a doação
de equipamentos, acesse os sítios:
Associação de Apoio à Família, ao Grupo e à Co-
munidade (Afago), que funciona na região admi-
nistrativa do Gama, distante cerca de 40 quilôme-
tros do centro de Brasília. Inaugurado em abril de
2007, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
projeto CRC Gama tem como objetivo apoiar e via-
bilizar iniciativas de promoção da inclusão digital
por meio da oferta de cursos profissionalizantes
de informática para jovens de 16 a 24 anos, além
da doação de equipamentos recondicionados aos
telecentros comunitários, escolas e bibliotecas
públicas.
A presidente da Afago, Zélia Victorino dos San-
tos, explica que a principal tarefa do Centro é formar
profissionais aptos a ingressar no mercado de tra- www.oxigenio.org.br
balho. Para isso, a ONG oferece cerca de 300 vagas
por ano para os cursos de informática básica, ma-
nutenção e configuração de microcomputadores.
Tudo de graça. “A partir deste ano, os funcionários
da área técnica e de logística da Afago passaram a
ser selecionados entre os ex-alunos do CRC Gama,
uma vez que foram formados e capacitados para
atuarem na área de manutenção, configuração e
recondicionamento de computadores. Os emprega-
dos são pessoas da comunidade e todos concluíram
o ensino médio”, diz Zélia. É uma forma de o CRC
ajudar esses jovens sem experiência a conseguirem
o tão desejado primeiro emprego.
E o que é feito com as partes de computadores
que não servem mais, nem para serem recondi- afagodf.blogspot.com
cionadas? Esse material é reciclado e usado em

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opinião

Inclusão digital e
software livre são
Foto: Luiz Okubo pré-requisitos do
exercício da cidadania
Nivaldo Venancio da Cunha
Diretor de Operações do Serpro

U
ma certeza inabalável é que a inclusão digital Os computadores dos centros, com participação do
deve ser uma das armas de combate à exclu- Serpro, são instalados com Linux e uma vasta gama de
são social no Brasil. Para isso, deve ser reali- programas livres. Em breve, passarão da distribuição
zada por meio de políticas públicas. Nos últi- Fedora para Ubuntu. Não é exagero dizer que a demo-
mos oito anos, diversas foram as iniciativas de órgãos e cracia ganha com isso. Na falta de uma metáfora mais
empresas estatais para a criação de telecentros: espa- precisa, o que está ocorrendo é uma alfabetização digi-
ços públicos de acesso aos computadores e à internet, tal. Não é aceitável capacitar as pessoas em ferramen-
baseados na parceria com comunidades, associações tas de uma só empresa, qualquer que seja ela, porque
e nos softwares de código aberto. isso, sabemos, aprisiona o conhecimento e suas pos-
Se trabalharmos com a evolução dos serviços de go- sibilidades de evolução. Com essa opção tecnológica
verno e essa melhoria passar pela disponibilidade dos aliada à decisão de o governo guiar as aquisições de
mesmos na rede mundial de computadores, não pode- serviços por meio das plataformas abertas, quebramos
remos aceitar que metade do País esteja impossibilitado um ciclo vicioso entre educação da informática e exi-
de navegar na internet. As lan houses têm, claro, papel gências do mercado por um dado produto.
importante na universalização do acesso, porém a Esta lógica é utilizada, com razão, na seleção pú-
função de fomentar não só o acesso, mas também a for- blica do Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digi-
mação individual, profissional e a produção de conheci- tal nas Comunidades – Telecentros.BR, lançado em
mento nas muitas localidades esquecidas pelo mercado março deste ano. Além de novos equipamentos para
que explora a internet, tem sido dos telecentros. as iniciativas já existentes, prevê bolsa para monitores
Estes espaços de inclusão digital – repito – acer- e recondicionamento de computadores. Geração de
tadamente baseados na parceria com a comunidade, conhecimento em software e hardware tendo, entre
demandam infraestrutura e sustentabilidade. A interli- as premissas, acesso público e gratuito, realização de
gação é óbvia, além de não possuírem alto custo de ma- cursos e atividades coletivas (de cultura, lazer e renda),
nutenção, têm que fornecer possibilidades de aprendi- sempre com uso de programas de código aberto.
zagem das ferramentas de informática. Por isso, não Não se pode deixar de falar do importante passo
há dúvida de que os telecentros devem ser equipados para a inclusão digital, que é o Plano Nacional de Ban-
com softwares livres. A lógica do conhecimento aber- da Larga – PNBL. Onde o mercado falhou em prover
to, as comunidades formadas para qualificar as tecno- acesso com justo equilíbrio entre preço e qualidade,
logias e o provimento de respostas às dúvidas dos o governo dá o pontapé para a distribuição nacional
usuários casam com a missão dos telecentros. e integradora do usufruto das novas tecnologias de
comunicação em rede.
Inclusão Digital é um direito de todos que o governo
Não é aceitável capacitar as deve garantir. O pleno exercício da cidadania, além das
pessoas em ferramentas de uma só necessidades básicas clássicas, só é possível hoje com
acesso aos recursos informacionais e com a liberdade
empresa, qualquer que seja ela, de aprender e reproduzir. Ensinar a pescar é um ponto
porque isso, sabemos, aprisiona o importante e só acontece com a livre escolha das fer-
conhecimento e suas possibilidades ramentas: varas, linhas e anzóis. Contudo, antes disso,
é preciso fornecer o acesso ao mar, sem este ninguém
de evolução navega.

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