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Proposição terceira
Comentário
parábolas de Jesus e as imagens de que se serve para falar dos que ele veio
convocar trazem consigo uma “eclesiologia implícita”.
Não se trata de afirmar que esta intenção de Jesus implique uma vontade
expressa de fundar e estabelecer todos os aspectos das instituições da Igreja
tal como se desenvolveram ao longo dos séculos 1. É necessário, contudo,
afirmar que Jesus quis dotar a comunidade que veio convocar em torno de si
de uma estrutura que permanecerá até a consumação do Reino. Deve-se
mencionar aqui, em primeiro lugar, a eleição dos Doze e de Pedro como seu
chefe (Mc 3,14ss). Esta eleição, das mais intencionais, visa o restabelecimento
escatológico do Povo de Deus que estará aberto a todos os homens (cf. Mt
8,11s). Os Doze (Mc 6,7) e os outros discípulos (Lc 10,1ss) participam da
missão de Cristo, de seu poder, mas também de sua sorte (Mt 10,25; Jo 15,20).
Neles manifesta-se o próprio Jesus, e neste, Aquele que o enviou (Mt 10,40).
A Igreja terá também sua oração própria, aquela que Jesus lhe deu (Lc 11,2-
4); ela recebe, sobretudo, o memorial da ceia, centro da “Nova Aliança” (Lc
22,20) e da comunidade nova reunida na fração do pão (Lc 22,19). Aos que
Jesus convocou em torno de si, ele lhes ensinou também um “modo de
proceder” novo, diferente daquele dos antigos (cf. Mt 5,21 etc.), daquele dos
pagãos (cf. Mt 5,47), daquele dos grandes deste mundo (Lc 22,25ss).
Jesus quis fundar a Igreja? Sim, porém esta Igreja é o Povo de Deus que ele
reúne a partir de Israel, através do qual busca a salvação de todos os povos.
Ora, Jesus se sabe enviado e envia seus discípulos, em primeiro lugar, “às
ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10,6; 15,24). Uma das expressões
mais dramáticas da consciência que Jesus tinha de sua divindade e de sua
missão é esta queixa (a queixa do Deus de Israel!): “Jerusalém, Jerusalém …
quantas vezes eu quis reunir os teus filhos como uma galinha reúne os seus
pintainhos debaixo de suas asas, e não quiseste!” (Lc 13,34; cf. 19,41-44).
Com efeito, Deus (Yahweh) no Antigo Testamento intenta, sem cessar, reunir os
filhos de Israel num povo, seu povo. Este “não quiseste” mudou não a intenção,
mas o caminho que tomará a convocação de todos os homens em torno de
Jesus. Doravante será principalmente “o tempo dos pagãos” (Lc 21,24; cf. Rm
11,1-6) aquele que marcará a ecclesia de Cristo.
Cristo tinha consciência de sua missão salvífica. Esta implicava a fundação
de sua ecclesia, isto é, a convocação de todos os homens para constituir a
“família de Deus”. A história do cristianismo repousa, em última análise, sobre a
intenção e a vontade de Jesus de fundar a sua Igreja.
1
Cf. COMISIÓN TEOLÓGICA INTERNACIONAL , Temas selectos de Eclesiología, c. 1, 4.
3
“por seus amigos” (15,13). O mistério pascal permanece na fonte da Igreja (cf.
Jo 19,34): “E eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (12,32).