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EL PAÍS
Heller considerava que a história não se repetiria e pensava que estávamos muito longe
dos anos trinta. Ao mesmo tempo, porém, estava convencida de que a democracia
corria perigo em alguns países da Europa, lembrando que o Estado de direito não se
baseia apenas no voto. Também se preocupava com o ataque contra a razão por parte
do extremismo islâmico e a ameaça que o nacionalismo representa para a União
Europeia. Foi uma importante pensadora feminista. “É a única revolução que não
Heller não tinha problema algum para responder a perguntas sobre todo tipo de
assunto, nem para recordar o Holocausto. Narrava a forma como sobreviveu à Shoá,
quando os nazistas, apoiados pelos fascistas húngaros do Partido da Cruz Flechada,
organizaram a deportação dos judeus de Budapeste a Auschwitz e depois o seu
assassinato em massa na própria cidade, quando, ante a iminência da chegada dos
soviéticos, os trens deixaram de sair. “Como todas as pessoas que conseguiram sair
vivas daquilo, foi por acidente. Meu pai foi assassinado em Auschwitz, minha mãe e eu
estivemos a ponto de morrer, mas de alguma forma nos livramos. Os fascistas
húngaros mataram muitos judeus junto ao Danúbio, mas pararam antes de chegar à
nossa casa. Também dispararam contra mim, mas, como sou baixa, o tiro passou por
cima da minha cabeça. Em outro momento, nos colocaram numa fila. Soube que não
devíamos ficar ali porque nos matariam, e conseguimos fugir. Mas tudo isso não foi
sorte, e sim instinto.”
Após a Segunda Guerra Mundial, Agnes estudou e depois ensinou filosofia na chamada
Escola de Budapeste, encabeçada pelo filósofo marxista Georg Lukács. Depois da
invasão soviética de 1956, que reprimiu uma tentativa de libertação do regime
comunista húngaro, Heller se tornou dissidente e acabou se exilando, primeiro como
professora em Melbourne (Austrália) e depois na New School for Social Research de
Nova York. Até o fim de seus dias, deu palestras e seminários pelo mundo todo.
Como outros filósofos pegos no turbilhão do século XX, Agnes Heller refletiu sobre o
Iluminismo e sobre como se poderia ter passado da esperança despertada pela
razão — noção que devia a pensadores da modernidade como Spinoza e Kant — aos
horrores do totalitarismo. Foi marxista no início, mas logo se desvinculou de qualquer
marco teórico que cerceasse sua vontade de buscar respostas.
Heller perdeu a confiança na razão, porque sem ela não poderiam ter construído os
campos nazistas e soviéticos nem organizar a deportação de milhões de pessoas. Mas
nunca perdeu a confiança no ser humano. Questionada sobre suas crenças, ela
respondeu naquela entrevista: “Tenho que acreditar em algo? Talvez possa responder
respondeu naquela entrevista: Tenho que acreditar em algo? Talvez possa responder
à sua pergunta. Acredito numa coisa: as pessoas boas existem, sempre existiram e
sempre existirão. E sei quem são as boas pessoas.”
ARQUIVADO EM:
Agnes Heller Viktor Orban Budapeste Obituários Filosofia Hungria Holocausto Judeu
Mortes Nazismo Europa Central Ultradireita Segunda Guerra Mundial História Contemporânea
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