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Revista _ BRASILEIRA DI FILOSOFIA ‘Ano $9 # 9,234 « jan.-jun/ 2010 Revista Publicasio oficial do InstTut0 Baastso oF Feoson, Presidente Caso Laren Sours or Awuqutraue Masaniion Masceto Esttzan Contciio Pasto Naso Assistente Eterial ‘Aune GoNcAMEs 0 Souza EDITORIAL NACIONAL Antone Pan Murer Conavo Maren Frcer Masco Gascon Micuet Rous Juntor Maron Vascas Ention Gongs 0e Sour Newton Carat Aroaso 0 Cons fs Borex Pas E. Navatao Imus DOrawNe Joo Yets Beans eno Masato eo0 BARLOFIO Lu Ferwanoo Serr v menemin) SSN 0034-7205, Revista _ BRASILEIRA DE Ano 59 # 1-234 janjun/ 2010 Publicacio oficial do Insit0 Beasueteo oF Fiosona Presidente Caso Lae Diretores Tescto Samewo Feenaz Jusion Juutaso Souza De ALsuQuERQuE MaRantio diores Juusno Souza pe Auauqueaque MaeaniKo Maxcn Estetan Contctio Paso Nasaseo ne Fltoriat J ONGAWES De SOUZA EDITORA rae REVISTA DOS TRIBUNAIS 312. REVISTA BRASILEIRA DE FLOSOFIA 2010 ~ RBF 254 Nesses casos, a decisao judicial que melas encontrasse seus argumentos nao estaria justificada, Outras vezes, pelo contrério, o juiz se encontra ante a exigéncia jurfdica de que se apliquem normas que jé nao S80 validas no sistema (porque foram derrogadas) ou que nunca o foram (por exemplo, normas de direito estrangeiro). Todas elas resuleam apli- civeis no caso que o juiz se Ihes enfrente por imposicéo de outra norma do proprio sistema, Assim, pois, 2s premissas niormativas do raciocinio estardo corretamente selecionadas (€ 0 raciocinio estara, consequente- mente, externamente justificado) se as normas que se the incorporem so, segundo o ordenamento de referencia, aplicaveis ao caso (com inde- pendéncia se sio ou nao vatidas nesse sistema). Se as premissas faticas € normativas cumprem as condigdes reque- ridas, isto ¢, foram corretamente selecionadas, pode-se considerar que 6 raciocinio est externamente justificado. E se a conclusio se deriva logicamente dessas premissas, também se poders considerar como inter- ‘namente justificado. Uma sentenga sera devidamente motivada quando « norma individual que constitui sua conclusio se derive logicamente das premissas e expresse analiticamente as tazées que justifiquem a selecio dessas premissas, fiticas € normativas. 44. Sobre a distingto entre validadee aplicabilidade das normas pode ser vista E Tiempo y validez, In; Avcsoutox, C. E BURvcws, E feo y derecho, Madrid: Centro de Estudios Constitucionales ‘J; Nasaeno, PE, Aplicabiltea ed efficacia delle norme 1. R (Eds), Struuura e dinamica de sistema giuridic. Torino: Gtappicheli, 1996. Uma analise recente pode Ser vista em: Fersen Beuitan, J; Rooricuez, J. L. Jerarquias normativas y dlinamica de os sistemas jurtdios, Madrid: Marcial Pons, no prelo, caps. 13 42, Demo proposiialmente de lado as questbes relatvas& justificagio das opcoes interpretativas relacionadas adisposigoes juridicas. Posteri se fduzir diversas razdes de oportunidade para isso; neste ponto os tribunals Jicostumam ser muito mais generosos na motivagdo; 0 que ja fot bastante estudado pela doutrina e pela filesofia do dieito ete. Em todo caso, basta dizer que trata digso me obrigaria a estender em demasia para os objetivos deste trabalho gi 2 Os Tépicos Marco Tauo Cicero! Filésofo e poco romano (106 aC) Assx: Filosofia 1 1, Foi a tua vontade, Caio Trebicio, que me desviou de meu trajeto, quando en comecei a escrever sobre assuntos mais importantes € mais elevados do que esses numerosos livros que publiquei em tao pouco tempo. De fato, quando estavas comigo em Tusculo ¢ na biblioteca cada um de nés, em separado, lia na biblioteca pequenos tratados que queria conforme seu gosto, tu te deparaste com certa obra de Aristoteles, Tépicos, que foram desenvolvides por ele ert varios livros. Impressionado por title, assunto desses livros iatamente quiseste saber de mim 2. E quando eu te expliquei que aqueles livros continham um. método de inventar argumentos descoberto por Aristételes para podermos chegar até eles sem nenhum erro por uma via racional, ta, Tespeitosamente como em rela¢io a tudo, mas para que eu percebesse que tte consumias de ansiedade, pediste-me que eu te expusesse aquele nétodo. Mas como eu te havia encorajado seja a ler esses livros por ti ‘mesmo, sejaa receber toda a doutrina de um professor de orat6ria muito instruido, nao tanto pelo motivo de evitar trabalho meu, mas porque tava pensado cer de en ieterese, tu me explease que temaiz ambos 3. A obscuridade da obra, entretanto, afastou-te des aquele ilustre professor de otatorla, penso eu, te respondeu essa matéria aristotelica, s livros, € ign 1, ‘Tradugdo Baltazar Alves, mestre em Professor da rede publica de ensino. satura Latina pela FFLCH-USP € 314. _ REVISTA BRASILEIRA DE FOSOHIA 2010— RBF 234 Ecertamente nao me surpreendeu nem um pouco que um professor de oratéria nfo conhecesse a quem, com raras excecdes, € demasiado ignorado pelos proprios flosofos (0s filésofos merecem menos desculpas por esta falha, porque deve- riam se sentir atraidos nao s6 pelo contetido que ele disse ¢ inventou, ‘mas também pela incrivel tiqueza ¢ delicadeza de seu estilo 4, Nao pude, portanto, ficar te devendo por mais tempo o insistente ppedido que me fazias, ainda que temendo aborrecer-me (eu 0 pereebia facilmente), para que nao parecesse ao proprio intérprete da let que eu {azia injustica. Com efeito, como escreveste sucessivas vezes @ mim € gos meus ‘amigos, receel que, se eu me sobrecarregasse com essa tarefa, isto poder. parecer ingratidao ou orgulho. Mas tu és a melhor testemunha do quanto eu estava ocupado enquanto estivemos juntos. 5, Quando eu te deixei ao partir para a Grécia, como nem o estado, nem meus amigos requisitassem meus servicos como eu nao podia viver honradamente em meio as tropas, mesmo s¢ isto me fosse permitido com seguranca, 20 chegat a Velia vt a tua familia ¢ tua casa, € lembrado de minha divida, nao quis deixar de atender & tua solicitagdo, mesmo que ‘mo express, Assim, como eu no tinha livros comigo, cu te escrevi estas Tinhas de meméria durante a minha viagem e as enviei do caminho, de modo que, em meu empenho em atender a teus pedidos, eu te lembrasse de meus negocios, embora nao necessites de nenhuma recomendagao. Mas ja € uempo de retomar o asstunto que comecei a exper. TI. 6, Todo método rigoroso de discussio possti duas partes, wma dedicada @ inventar argumentos ¢ outra a julgé-los; nos dois casos, “Aristételes {oi 0 primeiro a desenvolvé-los, segundo a minha opinizo. (Os estoicos, entretanto, elaboraram a segunda parte, pois perseguiram diligentemente os caminhos de julgar por meio de uma ciéncia que eles ‘chamaram de BadeKtexviy (dialética), mas ignoraram totalmente uma frie denominada topikit (iépices), que era uma arte mais eficlente na pritica e, na ordem natural, certamente a primeira. 7. En, porém, jé que o conhecimento de ambas as partes extrema mente util, se houver tempo, penso analisar uma parte e em seguida a outta, comecanido por aquela que € considerada a primeira Como € facil a descaberta de algo escondido em lugar conhecido, ‘uma vez que o lugar é mostrado e marcado, da mesma maneira, quando TRADUGOFS 315, queremos encontrar algum argumento, devemos conhecer 0s 16 pois assim foram denominados por Avstteles esas sees, como se assim fossem, de onde os argumentos 580 retrados. a 8. E assim é possivel definir 0 topico como a sede dos argum e-oargumento como o metodo que d eedos uma expose duvide, Mas entre 0s tépicos nos quals 05 argumentos esto inclusos, uns sto inerentes ao praprio asunto em questio € outtes, extrinseces, so eoneebicos fora, Inerentes, eles derivam ora do todo, ora das partes do todo, ora do conteudo, ora de coisas tis que dizem respeito ao assuntoe que de alguma maneira esttoafita ag assunto.em questo. Argumentos Cxcrnsecos sto aqulestomuados dstantes do assuntoe etn muito dies rentes dele oe 9. Mas a0 conjunto que se discute apde-se entio @ como se se um iol, enol 9 saunio em quatios Ea? 6 modelo de tal argumento: “O direito civil €4 equidade estabelecida para (0 que so membros da mesma cidade com a finalidade de obterem os seus direitos de propriedades; ora, o couhecimento dessa igualdade & logo, a ciencia do direito civil ¢ ttl” 10, A enumeragio das partes ¢ tratada desta maneira:“ res ofa Ibert ple regio no ems, nea parconenral de libertacao, nem por testamento. te pend nio €, portanto, livre qualquer desses requisitos, 2 pessoa Entio, quando algum argumento provém da forca de uma palavra a etimologia é empregada do seguinte modo: “Como a lei ordena que um asi (pagador de impostos) se hador(vinde) de outro dado assidaus, um rico & fiador de outro Fico”, pois este € 0 s ‘ termo assiduts, que, como diz L. Elio, provém de “asse dando” TH. 11. Os argumentos também sto tirados des coisas que estao tals de algum modo com 0 assumto em questao. Mas esta classe se divide em muita partes. Porquanto alguns argurentos sao denominados aparentados, outros argumentos sio derivados do género, da espécie, da semethanga, da diferenca, do contririo, do acréscimo, dos ante. dentes, los consequentes, dos contyaditorios, das causas, dos efeitos ¢ dla comparacao entre assuntes ce maior, igual ow menor importancia 12, S40 denominados aparentados os argumentos tirados de termos dda. mesma familia, Pois palavras da mesma familia sio aquelas que se 316 REVISTA BRASIEIRA DE FHOSOHA 2010 - RAF 234 palavras é denominado em grego de cutuyia, fomecendo argumentos Ueste tipo: “Se um campo e pasto comum (compascius), € legal compar silhar a pastagem (compascere)”. 13. Argumento derivado do genero, como: "Uma vez toda a prata que foi legada a mulher, o dinheiro que restou na casa nao pode nao The ser legado”. Realmente, a espécie jamais se separa do genero que preserva seu nome; ora, moedas preservam o nome de pratas, logo parece que elas foram legadas 14, Um argumento trade da espécie do genero, espécie cuja parte pode ser mencionada algumas vezes, a fim de ser entendida mais claramente, é este: “Se um dinheiro € legado a Fabia pelo marido sob a condigdo de lhe ser uma mae de familia (mater familias), se ela nao se eslabelecer sob o poder legal (manus) do marido, nada the € devido” ‘Assim, o género é a esposa. Hi duas espécies de esposas: uma, as mies de familia, que se enconeram sob a protecio legal do marido (manus); a outra, as que simplesmente sio tidas como esposas (uxores). Coma Fabia pertencia a este segundo grupo, ¢ evidente que nenhum dinheiro the foi legado”, 15, Argumento proveniente da semelhanca, exemplo: “Se uma «casa, cujo usufruto foi legado, desaba ou se estraga, 0 herdeiro nao deve repari-la nem reconstrui-la, nao mais do que sul este, cujo usufruto também foi legado, tiver morrid 16, Argumento tirado da diferenga: “Se 0 marido legou a esposa todo o dinheiro que ¢ seu, isto nao quer dizer que ele Ihe legou suas promissorias (obrigacdes). Pois é muito diferente o dinheiro em caixa do dinheiro que esta registrado nos livros", 17.A partir do contrério, como: “A mulher, a quem a marido legou 6 usnfruto de todos os seus bens, tendo deixado as adegas chetas de vinho ¢ dleo, nao deve julgar que estes bens pertencem a ela, Pois 0 direito de usar, ¢ nio o direito de dispor, ¢ o que the foi legado. Estes sie conirétios entre si”. 18. Dos argumentos por acréscimo: “Se uma mulher, que nunce teve reduzida a sta condigao pessoal, faz um testamento, parece que a posse da heranca nao pode ser entregue de acordo com os termos de Seu testamento por um edito de pretor. Acrescente-se que pareceria que ‘a posse dos bens poderia ser dada por edito de acordo com os termes do testamento de servos, do testamento de exilados ¢ do testamento de criangas” TRADUGOES 317 19. Argumentos tirados dos antecedentes, dos consequentes ¢ dos contraditorios. Por exemplo, dos antecedentes: “Se um divércio € feito por culpa do marido, embora seja a mulher que envie a notificacdo, convém saber, no entanto, que nada sera reservado em favor dos filhos” 20. Argumento dos consequentes: “Se uma mulher, caso esteja unida a um homem com o qual nio ha direito de casarnento (comubiu) enviar-he a notificagao de divorcio, uma vez que os filhos nio seguem 0 pat, convém nada deixar em favor dos fithos” 21, Argumnento das ideias que se contradizem: “Se um pai de familia Jegou a esposs o usuiruto das escravas e ndo 0 legou por intermédio de uum filho nem de um segundo herdeiro, caso o filho morra a mulher nao perde 0 usufruto. Porque, uma vez que este usufruto foi concedido a alguem por testamento, ndo pode, sem 0 seu consentimento, Ihe ser retirado por aquele que o concedeu”. Porquanto receber legalinente © devolver contra a Vontade sto ideias contraditorias. 22. Das colsas eficientes, temos 0 seguinte argumento: “Todos tém o direito de juntar uma parede perpendicular a uma parede comum, seja aquela fechada ou sustentada por arcos. Mas aquele que, a0 demolir parede comum, deu garantias contra eventuais danos nao esta obrigado a pagar as perdas ocasionadas por defeito de um arco”, Pois 0 prejutzo nio foi causado por falhia sua, mas por falha de construgao do arco, que foi construido cle tal maneira que nao poderia estar sustentado (pela parede comum), 23, Tiramos dos efeitos o seguinte argumento: “Quando a mulher passa a coabitar com seu marido sob a autoridade deste (manus), todos 05 seus bens passam para o marido sob a denominacao de dote” Da comparagao sfo valides todos os argumentos deste tipo: 0 que prevalece no maior deveria prevalecer no menor, como por exemplo: “Se numa cidade os limites das propriedades nao podem ser demarcados, nem a agua da chuva pode ser armazenada nesta cidade”. Inversamente, o que € valido numa coisa menor deveria valer numa Basta voltar a0 exemplo anterior. O que prevalece em uma coisa deveria prevalecer em outta que Ihe é identicamente igual, como no argumento: “Uma vez que depois de dois anos de uso 2 posse (aucto- ritas) de uma propriedade rural (fundus) ¢ legitima, 0 mesmo deveria ocorrer com uma residencia. A residéncia, porém, nfo é mencionada na lei e pertence ao grupo das demais coisas cuja posse € anual”. Deveria prevalecer ai a equidade, que exige direitos jguais em causas identicas 318 REVISTA BRASIEIRA DF FLOSOTIA 2010 - ROF 234 24, Argumentos concebidos fora da causa investem-na principal. mente de autoridade. Assim, pois, os gregos denominam (ais argumentos de artéevous, isto €, desprovidos de arte, como, por exemplo, se respon- esses a.uma citagao judicial da seguinte maneiza: como Puiblio Cévola afirmata que o espago coberto pelo telhado construido para proteger ‘uma parede conium, de modo que a agua escorra deste telhado pare a ‘casa da pessoa que fez 0 telhado, € chamado de contorno (ambitus) de ‘uma casa, essa afirmacio parece-te determinagao de lei 25, Em suma, foram fornecidos o significado ea descricdo de alguns estes topics que foram expostos como elementos fundamentais para se encontrar todo tipo de argumento. Até este ponto, isto basta? Para ti, um homem to perspicaz € tio cocupado, acredito que sim. V. Porém, como eu convidei para este banquete do saber um homem de grande apetite, eu o recebere altura, para que obtenhas mutto mals ‘coisas das sobras deste banquete, antes que eu permita que te retires dele sem estar satisfeito. 26, Portanto, como cada um desses topicos que expus tem certos desmembramentes proprios, € a eles que devemos investigar © mais meticulosamente possivel | falemos a respeito da propria definicéo. [A definigdo é uma proposigao que explica em que consiste 0 objeto a ser definido. Ha duas classes principais de definigao: uma das coisas outra das coisas que somente sto eniendidas. que exist 27. Afirmo que essas coisas que poclem ser vistas ¢ tocadas sto as que existem, como uma propriedade rural, uma residencia, wma parede, bilias, provisdes etc.;s vezes, tens de pingadeiras, escravos, rebanho, mol a definir objetos deste grupo. Inversamente, afirmo que existem co rio podem ser tocadas ow assinaladas, embora possam ser percebidas pelo espirito € compreendidas. Por exemplo, se definires o usucaplio, a tutela, a “gens”, a “agnatio” (agnacio, parentesco pelo lado paterno), niio existe nenhum corpo sob estas coisas, mas ha nelas um conceite singular impresso na mente, ao qual eu dow o nome de “nocao", Esta, m2 argumenta¢do, frequentemente precisa ser explanada por urna definicHo. 28, E quanto as definigdes, algumas sio feltas por enumeragdo © outras por analise TRADUCOES 319 ‘Temos a definicao por enumeracao das partes quando o assunto roposto para ser definido ¢ repartido em especies de membros, como se alguém dissesse que o diteito civil ¢ o que esta estabelecido nas leis, nos decretos do senado, nas decisdes judiciais, na autoridade dos versados em leis, nos editos dos magistrados, nos costumes e na equidade. A definigao por analise compreende todas as especies subjacentes a sgenero que se define, da seguinte maneira: a alienagdo de um bem adqui- rido por ago de “mancipium” € tanto a sua transferéncia a outro por obrigacao legal quanto a sua cessio em juizo entre aqueles que podem fazer ambas as agdes, de acordo com o diteito ci VL. Hii ainda outros tipos de definicao, mas em nada dizem respeito a0 assunto proposto neste livro, Basta que se diga qual 0 método da definigao. 29. Pois os antigos o prescreviam da seguinte maneira: quando tomares do objeto que desejas definir as caracteristicas comuns a outros objetos, deves investigar até que obtenhas uma caracterfstica peculiar ‘que nao pode ser transferida para nenhuma outra coisa, ‘Como neste exemplo: “heranca € riqueza”. Até aqui esta € uma caracteristica comum, pois hi muitos tipes de riqueza. Acrescente-se © seguinte: “que, por ocasido da morte de alguém, é wansferida a uma coutra pessoa”. Isto ainda nao é uma definicéo. Pois ha muitas maneiras de obter bens dos que morreram sem ser por heranga. Actescente-se 0 termo: “legalmente"; agora a ideia parecera estar separada do rol das caracteristicas comuns, de modo que sua definicto pode ser desdobrada deste modo: “a heranga € a riqueza que é legalmente transmitida para ‘uma pessoa por ocasito da morte de alguém”, Ainda nao € suficiente, acrescente-se: “que esta riqueza nao foi obtida como legado de testa- mento, nem como diteito de posse por ocupacio”, ¢ a definicao fica completa. Outro exemplo: “sto gentilicos (gentiles) entre si aqueles que possuern um mesmo nome”. Isso nao € suficiente. “Aqueles que rasceram de pais livres.” Ainda nao basta. “Que de seus antepassados nenhum jamais tenha sido escravo.” Ainda falta algo. “Que nunca viu seus dirtitos civis reduzidos.” Isto provavelmente € suficiente, pois vejo que Cevola, o pontifice, nada mais acrescentou a essa definigao, Este método se aplica em um e outro tipo de definicdo, quer seja para definir o que existe de fato, quer seja para definir 0 que € percebido somente pelo espirito. 320 REVISTA BRASILEIRA DE FOSOFIA 2010 - RBF234 30. Nos jd apresemtamos qual € 0 tipo de definiao por enumeracto das partes ¢ por analise, mas & preciso dizer com mator preciso em que las se diferencia Na enumeracdo das partes hé membros como se fossem partes, como, por exemplo, as do corpo: a cabega, 08 ombros, as mos, os ‘bracos, as permas, 05 pes ete VIL. Na anslise ha espécies, as quais os gregos denominam de siBn, € se os nossos porventura tratarem dessas questdes, dio o nome de species, um termo nao de todo ruim, mas na verdade intl para os diferentes empregos num discurso. De fato, mesmo se pudermos dizer fem latim os termos specibus e specium, eu ndo gostaria de proferi-los, e frequentemente temos de empregi-los nestes casos (genitivo e dativo ou ablativo plural); a0 contrario, eu preferiria formis ¢ formar. Quando, todavia, dois termos significam 4 mesma coisa, julgo que a comodidade de prolacao nao deve ser negligenciad “41. Genero ¢ espécie sao definides do seguinte modo’ o genero € a nogao pertinente a muitos objetos diferentes, a espécie é a nocao cuja tarea distintiva pode ser remetida a seu principio como se tratasse da fonte do género. Eu denomino “norao” ao que os gregos clamam ora de énnoian, ora de npOknyty. Esta é umn conhecimento inaro de qualquer caracteristica espectfica, que é percebido antecipadamente pelo espirito 0 seu conhecimento tem necessidade de ser desenvolvido, ‘As especies sfo, portanto, aquelas divisées nas quais 0 género, sem qualquer omissio, ¢repartido; € como, por exemplo, se alguém dividisse O direito em lei, costume e equidade. Aquele que julga que as espécies ‘sdo a mesma coisa que as partes confunde a arte e, perturbado por certa semelhanga, nao distingue com suficiente clareza 0 que deve ser sepa- rado. 32. Frequentemente os oradores € os poetas também definem, com relative bom gosto, por meio da transposigao de palavras partindo de uma semelhanga. Eu, porém, nao me alastarei dos exemplos da vossa algada, « nio ser por [orca da necessidade. Porquanto se discutia a respeito de litorais, que vos queteis sustentar que sio todos propriedades publicas, Aquilio, mew colegs ¢ amigo pessoal, aqueles que se interessavam pelo assunto inquirinds que era um litoral, costumava ele definir que exa 0 lugar onde as onds brincam, Isso € como se alguém quisesse definir que a adolescéncia €* TRADUCOES 321 flor da idade ea velhice &a decadéncia da vida. Ao fazer uso da metafora, cle se afastava dos termos proprios deste assunto e de sua profissto, ‘Até aqui, consideramas © que concerne a definigio. Vefamos 0 restante, VII 33. Na enumeracéo das partes, deve-se proceder de modo a no se omitir nenhuma dela Por exemplo, se desejares dividir as partes de uma twtoria, agiras com ignorancia se omitires alguma de suss partes. Mas se empregares a enumeragdo nes formulas dos contratos e das agdes judiciais, numa questéo imensa nao seria errado omitir algumas delas. Numa andlise, entretanto, © mesmo modo de agir seria inadequado Pois € exato o ntimero de espécies que podem ser submetidas a cada genero. A divisao das partes muitas vezes € mais indefinida, tal como os filetes de agua que saem de uma fonte, 34, Assim, na arte oratéria, uma vez proposto 0 género da questo, ‘© miimero exato de suas espécies é aferido integralmente. Mas quando sto dados preceitos sobre figuras de linguagem ou de pensamento, cchamadas em grego de sciymata, nao acontece o mesmo. A questio é, de fato, mais infinita. Dat pode ser entendida também 1 diferenga que queremes estabelecer entre a enumeracao das partes € 4 anilise, Embora os dois vocabulos, com efeito, parecam ter quase © mesmo valor, todavia, porque eram questoes distintas, quiseram que os nomes das questoes fossem diferentes. 35. Muitos argumentos provém da notatio (etimologia). Esta € empregada quando um argumento é exiraido da forca de um vocd- bulo, Os gregos a nomeiam exvpoRoyiav, isto é, traduzindo palavra por palavra, “ueriloquium” (acepcio verdadeira de um termo), mas nos, evitando uma palavra nova bastante inadequada, chamamos este processo de notatio, porque as palavras sio 0 signo das coisas. Da mesma forma, Arist6teles da 0 nome de ovpifoov a0 que chamamos nota em latim. Mas quando se compreende o significado de ‘um termo, devemos nos preocupar menos com o nome que 0 expressa 36. Portanto, durante um debate, muitos argumentos so extra- fdos de uma palavra, por meio da etimologia, Por exemplo, quando se procura saber o que é postliminium (direito de volta & patria) % nao falo das coisas que perfazem o postliminium, pois isso levaria a como.a que segue: aplica-se o direito de post as seguintes c 322. REVISTA BRASILEIRA DE FLOSOFIA 2010 RBF 234 um homem, um navio, uma mula de carga, um cavalo, uma égua que esta acostumada a receber freios. Mas quando se procura o sentido proprio da palavra postliminium, a etimologia designa a propria palavra. Ets por que nosso amigo Sérvio, segundo minha opinido, pensa que somente post deve designar o significado da palavra e ele quer sustentar que liminium seja um sufixo dela, da mesma forma que tinus em finitimus,legitimus, 1us nao vatha mais do que tullium em meditullium. 37. Mas Cévola, filho de Publio, julga que ha af uma palavra composta formada por post e Timen. Quando os bens dos quats perdemos (© direito de proptiedade passam pata o inimigo, € como se tivessem saido pela soleira de uma porta (limen), Quando esses bens voltarem depois pela mesma porta, parecia terem voltado pelo dircito de pos ‘inium, Por este meio pode ser defendida a causa de Mancino, 20 qual se aplicou o direito de postliminium: ele nao foi entregue como escravo, ‘uma vez que nao havia sido recebido; de fato, sem aceite de recebimento ido se pode imaginar uma entrega ou uma doacio, TX, 38. A seguir vem o t6pico formado pelas coisas que de alguma maneira tem afinidade com o assunto que se discute. Eu ja afirmel que este topico se divide em diversos subtépicos. © primeiro destes provem do parentesco das palavras, que 03 gregos denominam ougoyiav, parente da etimologia, da qual ja se falou ha pouco. Se, por exemplo, consideréssemos como agua da chuva somente aquela que vemos captada da chuva que cai do céu, veriamos Yhicio argumentar que, jd que “chuva” e “chovendo” sio palavras de uma mesma familia, seria necessario que toda agua que se avolumasse enquanto chove fosse mantida recolhida 39. Quando o argumento for proveniente do género, no sera necessitio remontar a origem mais remota, Frequentemente pode-se até cchegar proximo a este ponto, contanto que o qule se prova seja superior ‘20 que se quer comprovar. Por exemplo, a agua da chuva, neste altima raciocinio, €a agua que, 20 cair do céu, aumenta com um aguaceito, Mas ‘num raciocinio mais préximo, no qual € como se af estivesse inclufdo 0 principio legal de conter a agua de chuva, podemos dizer que o genero ¢ agua de chuva que causa prejulzos [As espécies deste género correspondem ao prejuizo causado pela perfeicao do local e a0 prejuizo causado pelo trabalho do homem. 0 juiz ortena que se contenlra a agua num caso, ¢ no seguinte, néo TRADUGOES 323, 40, Esta argumentagdo, proveniente do genero, também é tratada apropriadamente quando se analisa as partes de um todo. Por exemplo, ‘se uma acéo € considerada dolosa quando estamos fazendo uma coisa € fingimos fazer outra, € permitido enumerar as varias maneiras pelas quais isso se dé, em seguida incluir nurta destas maneiras aquela ago contra a qual se argumenta ser dolosa. Este tipo de argumento em geral parece, antes de tudo, 0 mais seguro. X. 41. Em seguida vem o t6pico da semelhanga, que se emprega amplamente, mais, enteetanto, entre os oradores ¢ filésofos do que entre ‘vos juristas. Com efeito, embora todos 0s t6picos existam pars produzir ‘argumentos de todo tipo de discussfo, todavia eles ocorrem de maneira mais abundante em alguns debates e de maneita mais testrita em outros, Assim, deves conhecer todos os generos; as ptoprias questoes advertirao quando utilizé-los, 42. Pois existem semelhancas que atingem 0 objetivo que desejam ‘em virtude de muitas comparag6es. Por exemplo: se um tutor, wm sicio, ‘um mandatario ow um credor fiductiio deve observar as regras da boa .. um procurador também o deve. Este raciocinio que, pelas muitas comparagoes atinge 0 objetivo € denominado “indugao", em grego smceyyh. Sécrates utilizou-o muitas vezes em seus discursos. 43. Outro tipo de semethanca ¢ derivado da comparacio quando ‘se compara uma coisa com outra, um objeto igual com outro igual, do ‘segutinte modo: se numa cidade ha uma controvérsia relativa aos limites, ‘uma vez que estes parecem ser mais uma questo de natureza agraria do que de natureza urbana, nao se pode demandar sentenca de um arbitro para fazer demarcar os limites, igualmente, se a agua da chuva causa prejuizos na cidade, visto que toda 2 questao € mais de natureza agriria, no se pode demandar sentenca de um arbitro para fazer reter as aguas da chuva, 44, Sao extraidos outros exemplos de umm mesmo t6pico da seme- Thanga. Assim Crasso, na causa de Ciro, utilizou um grande numero de ‘exemplos, como o do homem que tinha constituido herdetros através de um testamento, de modo que se um filho seu nascesse dentro de dez meses € viesse a morrer antes de sait de sua tutela, os herdeitos consti- tuidos poderiam reeeber a heranca, Prevaleceu a citacao de exemplos e € costume vosso utilizé-ta com frequéncia ao responder questdes judiciais 45. Também tem forca os exemplos de semethanca fieticios; porers cles pertencemt mais & oratéria do que & vossa especialidade, embora 324 REVISTA BRASILEIRA DF FOSOFIA 2010 RBF 234 mesmo v6s costumais wilizé-los, todavia da seguinte manera: supde que aiguém tenha transferido por mancipium algo que nao pode ser transfe- rido por mancipium. Porvencura esta coisa se torna entao propriedade daquele que a aceitou? Ou aquele que fez a transferéncia por mancipium, por tal agio nao se obrigou a coisa alguna? Por meio deste raciocinio, permitiu-se que oradores e filésalos dessern voz a coisas mesmo que inanimadas, chamassem os mortos dos infernos, e fosse expressa alguma coisa que de maneira nenhuma poderia ocorrer, para amplificar ou para enfraquecer uma questo, 0 que ‘se chama vrepBodu em grego, além de muitas outras coisas admiréveis. Mas 0 campo dos oradores ¢ filésofos € mais amplo. Entretanto, como afirme antes, s40 tirados dos mesmos tépicos argumentos tanto para questées de maior quanto de menor importancia XI. 46. Ao topico da semelhanca segue o da diferenca, que € preci- samente 0 oposto da explicagso precedente; mas ¢ da mesma maneira jque se encontra o que é diferente e 0 que é semelhante, Pertencem a0 wopico da diferenca exemplos como este: como o que deves a uma ‘mulher, podes pagar diretamente a ela, sem a assistencia de seu tutor, isso nao quer dizer que o que deves a um menor, érfao ou orfa, possas pagar do mesino modo, 47. Em seguida vem 0 tépico que & nomesdo “dos contnitios” Ha muitos tipos de contrtios: primeiro, das coisas que, pertencentes ‘um mecmo conjunt, diferem bastante, como a sabedoria ¢ a estupidez. Alguns contrarios so consideradlas de mesmo tipo quando suas propo- sigdes ocorrem como que uma em oposicdo & outra, como, por exemplo, a lentidao ¢ a rapidez, nao a fraqueza. De contrérios desta natureza extraem-se atgumentos como estes: se evitamos a estupidez, podemos buscar a sabedoria; ¢ « bondade, se evitamos a maldade, Estes argumentos contrérios, que pertencer a um ‘mesmo conjuunto, so chamados de proposigbes opostas. 48, Hé ainda outros contréios, que podemos chamar em latim de particulas privativas, em grego otepytiKd. Com efeito, quando é acres- centada a particula in, a palavra € privada de forca que teria se im ndo tivesse sido colocada, como ocorre em dignitasl/indignitas, humanitas! inkumanitas, € outros exeimplos deste tipo, cujo tatamento € 0 mesmo dos argumentos co conjunto anterior, 05 quais eu denominei de propo- sigies opostas. TRADUGOES 325 hha também outros tipos de contrétios, como estes que se comparam com alguma coisa, como o dobro ¢ a unidade, © muito € 0 pouco, o longo € © curto, o maior € 0 menor, Existem ainda ideias inteiramente contratias, as quais sie denominadas negantia (negagées, proposicSes negativas), em grego anogatixd, contrarias as ideins que estéo sendo afirmadas: “se isso €, aquilo nao é°, E preciso dar um exemplo? Basta que se compreenda, a0 procutar wm argumento, que os contrarios nao se ajustam a todos os outros contrarios. 50. Dos argumentos por acréscimo eu citei win exemaplo um powco antes, acrescentando muitos outros que deveriam ser assumidos se tivéssemos estabelecido que, por deierminagao de um edito, o direito de posse de uma heranca poderia ser concedido conforme um testamento que uma pessoa sem qualquer diteito de testar tivesse firmado. Mas este t6pico prevalece mais em causas conjeturais que sio tratadas nos tribunais, quando se procura saber 0 que € ow 0 que acon- tece, ot 0 que seta, ow 0 que, em geral, poderia acontecer. Tal é, com feito, exatamente o aspecto deste topico. XIL_ 51. Este topico, no entanto, sugere que perguntemos 0 que corte antes, durante e depois de um fato. “Isto nao diz respeito 20 direito, mas a Cicero”, disse nosso amigo Galo, quando alguem Ihe perguntara sobre um assunto deste tipo, para saber a respeito de um favo. Mas tu néo permitiras que eu omita nenkum topico do trabalho que me propus; para que, se considerares que deve ser escrito somente o que concemia tua profissao, que isso nao pareca sinal de egoismo. Pols este pico em grande parte de origem oratsria nfo € usado entre os juristas, rem sequer entre os filésofos. 52. Sao investigadas as circunstancias que ocorrem antes do fato, tais como: 0s preparativos, as conversagoes, um lugat, um acordo, um banquete; concomitante ao fato: 0 som dos passos, murmitries, sombras de corpos e outras coisas deste tipo; posteriores ao fato: a palidez, 0 rabor, a hesitagdo, e se ha outros sinais de inquieiaco ¢ de cumplici- dade; depois disso, o fogo apagado, uma espada suja de sangue ¢ outros sinais que podem levar a suspeita de ur crime. 53. Em seguida vem o topico proprio dos dialeticos, derivado das ideias consequentes, das antecedentes € das em oposicao € que difere totalmente do t6pico dos argumentos por acréscimo. Com efeito, palavras da mesma familia, das quais se falou pouco antes, rem sempre ocorrem; mas as consequencias sempre. 326 REVISTA BRASILEIRA DE FHOSOFIA 2010~ RBF 234 Eu chamo de consequéncias 0s fatos que necessariamente seguem uma acio, da mesma forma tanto os antececlentes como também as {deias em oposicao. Tudo © que segue alguma agdo esta inevitavelmente ligado a ela, e tudo o que a ela se opbe dispde-se de modo a que nunca pudesse estar ligado a ela XII Portanto, como este t6pico pode ser dividido em trés partes, consequente, antecedente e oposicao, ele é simples quanto encontrar argumentos, mas triplice quanto a desenvolve-los. Pois, quando se compreende uma questo, em que um dinheiro contado é devido a uma mulher, a quem foi legada toda a prata, 0 que importa € que se conclua o argumento desta maneira: 0 dinheiro contado € devido a uma muther que obteve por heranga toda a prata, ou se concluires teu argumento deste outro modo: se a riqueza designada € a prata, a mulher obtem todo o legado. Qu ainda a riqueza designada € a prata. Portanto ela foi legada; ou de outra maneira: se 0 dinheiro contado no for legado, 0 dinheiro contado ndo é a prata. Ou ainda dinheiro contado nao é a prata; portanto foi legado; neste caso 0 legado nao € a prata ¢ o dinheiro contado nao é legado. Ou ainda o legado € a prata; entao 0 legado € 0 dinheiro contado. 54. Os dialeticos chamam de primeiro modo de conclusio do argu mento a conclusdo na qual, quando se tiver admitido a sua premissa, segue-a o que decorre dela, Quando se nega a premissa, ce modo que o que segue dela também deva ser negado, este processo é nomeado segundo modo de conclusao, E quando se negam algumas ideias coexistentes e daf se admite uma ou varias ideias, de modo a suprimir as que restam, este procedimento recebe o nome de terceiro modo de conclusio. 55. Dat vem aquelas ideias conclusivas tiradas dos contrarios, que os professores de oratoria denominam enquraiimata. Nao que toda sentenga no possa ser nomeada com o proprio vocabulo ev86yinuc; mas, assim como Homero, por causa da sua genia- lidade, fez por onde ter entre 0s gregos 0 set nome comum designador dos poetas, da mesma maneira, embora toda sentenca possa receber 0 nome de evOojunper, uma vez que aquela originatia des contriios pareca tornar-se a mais sutil, ela por si s6 apoderou-se de maneira apropriada dessa denominacdo comurn. TRADUCOES 327 Eis exemplos disso: “Teme uma alternativa, nao facas da outra objeto do medo.? Tu condenas a mulher que censuras de coisa alguna, aquela que ti crés merecedora do bem merecerd o mal? O que tu sabes nido é nada titil; ¢ 0 que tu nao sabes prejudica XIV, 56. Este tipo de discurso compreende vossas discusses em etal, quando responde a urna questao judicial, mas ele € mais pertinente a5 filosofos que, com os oradores, usam aquela concluséo geral deri- vada das proposigées em oposica0, chamadas pelos dialéticos de terceiro modo de conclusio e pelos retdricos de enqdmhma Restam muitos modos de conclusiio dos dialéticos, formados a partir de disjungdes: “Ou € isto ou € aquilo. F isto; portanto, nao € aquilo”. Da ‘mesma maneira: “Ou é isto, ou é aquilo, Nao ¢ isto; portanto, é aquilo”, Por essa razio, as conclusdes dai advindas sao corretas, porque numa disjungao nao pode haver mais de uma altemnativa verdadeira 57, Das conclusdes que acabo de descrever, a precedente é chamada pelos dialéticos de quarto modo de conclusao, ¢ a que Ihe segue, de quinto modo. Em seguida eles acrescentam a negacao das proposigdes conjuntas, como segue: "Nao é possivel isto e aquilo ao mesmo tempo. Mas isto € possivel; entao, aquilo nao ¢ possivel”, Este € o sexto modo de concluséo. O sétimo €: “Nao é possivel ao mesmo tempo isto € aquilo. Nao € isto; entdo, € aqullo”. Destes modos surgem inumeraveis conclu- ses, € nisso esti quase toda a dialektikil, Mas nem sequer estas que expliquei sao necessarias para este livro 58, O proximo tdpico é 0 das coisas eficientes, que sfo chamadas de “causas”; em seguida, 0 dos efeitos destas causas. Eu mosizei ha pouco exemplos destas causas, assim como dlos t6picos restantes, tirando-os do direito civil; mas cles estio presentes num campo mais amplo XW. Ha dois tipos de causas: um que, por seu poder, produz real- mente o efeito subjacente a este poder, como, por exemplo, “o {ogo ‘queima’; outro, que nao possui uma natureza eficiente, mas sem o qual nio se pode produit efeito, como se alguem quisesse dizer que 0 bronze € a causa da estétua, pois sem bronze a estatua nao poderia ser feita 59. Quanto a estes tipos de causas, sem as quais n4o se produz feito, alguns estao em repouso, sem nenhumna acdo, como se diz, inertes, ‘como 0 ligar, o tempo, a madeira, os utensilios ¢ outras coisas deste tipo. ‘Outros, no entanto, empregam certa preparagdo para produzir efeito, ¢ 2. Aqui nos valemos inteiramente da edigto francesa 328 REVISTA BRASILEIRA DE HLOSOFIA 2010 ~ ROE 234 cias auxiliadoras, embora nao trazem por si mesmos certas circun: necessérias, por exemplo: “um encontro tinka ocasionado o amor, ¢ © amor, 0 escindalo” 0 destino dos incertos é ligado pelos estoicos a este tipo de causas proveniente da eternidade, Assim como as modalidades destas causas sem as quais nenhurr-eleito é produzido podem ser divididss, da mesma forma podem ser divididas as modalidades de efeitos. Pois hd causas que podem perfeitamente produzir efeitos sem a ajuda de nenhum contexto, € outras que necessitam de apoio. Por exemplo, a sabedoria sozinha, por si mesma, torna 0s homens sébios; ‘mas é uma questi se ela sozinha, por si mesma, torna os homens felizes. 60. Por isso, quando sobrevier num debate uma causa que neces- sariamente produz um efeito, pode-se concluir sem hesitagao que esse feito foi produzido por esta causa. XVI. Mas quando houver uma causa tal que no produz inevita- velmente um efeito, nko se segue necessariamente esta conclusio. tipo de causa que tem o poder necessério para produzir um efeito quase ao costuma ocasionar um erro; mas © tipo de causa sem 0 qual nao se produz efeito sempre nos confunde. Pois se nao podem haver filhos sem um pal ¢ uma mae, isso nao quer dizer que a causa necessaria da procriacdo esteja necessariamente no casal de pais 61. Deve-se separat, entdo, cttidadosamente © tipo de causa sem 6 qual algo nao acontece daquele no qual algo seguramente acontece Exemplo de causa sem a qual algo mio acontece: “Oxald nas florestas do Monte Pélion nao (...)".? Pois se 05 troncos de abeto* nao tivessemn caido na terra, o famoso navio dos argonautas nao teria sido construtdo, E, todavia, néo houve nestes troncos poder necessatio para produzir tal 3, Nota da edigdo francesa: a cltagao completa do provérbio & “Queiram os deuses que, na floresta do Monte Pelion, os cumes dos pinkeiros, contados fs machado, nao tenbam eaido na t 4. “Abeto era a designacdo comum as especies do genero Abies e Picea, plantas ornamentals da América e da Furopa, algumas das quais sée vadas no Brasil, nas reglées mais temperadas, e cuja madeira ¢ importante na fabricagao de papel” (Nove Dicionario do Aurélio, p. 3). Se Dem que no Brasil o popular “pinus", também usado em construs eucalipto”, que fornece também outros produtos além de papel, jé sto ‘eacontrados em areas nsio mals ao “temperadas” (como Minas Gerais, por exemplo), TRADUGEES 329 feito, Mas quando um vibrante ¢ flamejante raio caiu sobre 0 navio de Ajax, inevitavelmente o navio se incendiou. 62. Existe outra diferenga entre as causas. Algumas sem qualquer desejo da alma, sem vontade, sem opinio prépria, produzem uma espécie de trabalho, como, por exemplo, o que nasce morte, Outras, entretanto, produzem seu efetto por meio da acao da vontade, da agitagdo mental, da disposigdo do cardter, da natureza, da arte ou do acaso: pela vontade, + por exemplo, quando leres este pequeno tratado; pela agitacao mental, quando alguém temer a crise do momento; pela disposicao do cardter, quando alguém se enraivece facil e rapidamente; pela natureza, quando uum vicio aumenta a cada dia; pela arte, quando alguém ¢ capaz de pintar bem; pelo acaso, como poder navegar de modo propicio. Nenhum destes efeitos ocorre sem causa, nem ha algum que seja inteiramente sem causa’ mas cautsas deste tipo néo sio inevitaveis 63, De todas as causas, um caréter permanente encontra-se em umas ¢ néo em outtas. Na natureza ¢ na arte hé permanéncia, ¢ nas demais, nenhuma XVIL. Mas algumas destas causas, que nao sto permanentes, st0 evidentes, e outras ocultas. As evidentes sto as que comandam os desejos da mente e a capacidade de julgar; as ocultas, as que estio sujeitas a0 caso. Como, pois, nada pode acontecer sem uma causa, 0 acaso é exata- mente isso: 0 evento que € produzido as escondidas e por uma causa duvidosa Assim, estes resultados que ocorrem stlo em parte por nossa igno- ranela, ¢ parte de nossa vontade. Da nossa ignorancia, sto os resultados dle uma necessidade; da nossa vontade, so os resultados de uma deli- beragao, 64. Os efeitos por meio do acaso sio frutos ou de nossa ignorancia ow de nossa vontade. Pois atirar uma langz € ato da vontade, ¢ ferir alguém sem querer, do acaso. Dai o célebre ariete que se emprega em vossas acdes judiciais: “A arma escapou da mao antes que ele atirasse (.)*- Asagitacoes mentals caemna ignoraticiae naimprudéncia. Embora as agitacdes mentais sejam fruto de nossa vontade (sio reprimidas pela movimentos que 0s atos que sao voluntarios parecem por vezes necessérios, mas certamente sao frutos da nossa ignoranc 65, Tendo sido, portanto, totalmente explicado 0 t6pico das causas, a partir da diferenga entre estas uma grande quantidade de argumentos 330 REVISTA BRASILEIRA DE FILOSOFIA 2010 — RAF 234 esta a disposigdo seja dos oradores, seja dos fildsofos nas causas mais importantes; nas vossas causas, no entanto, s€ eles mao sto de maior frequencia, ao menos sio de maior preciséo. Pols parece-me que as deci- soes das questoes particulares de maior immportancia dizem respeito & perspicicia dos juristas. Pois estes nao s6 com frequéncia est2o presentes a0 julgamento, como também so convidados ao conselho e fornecem ‘munigdes para os advogados zelosos que recorrem & competéncia deles, 66. Destarte, 05 juristas deve estar preparados para todas essas goes judiciais, nas quais se actescenta a formula “de boa-fé", ou ainda a formula “assim como dever-se-ia agir corretamente entre os homens cortetos”, e pata as sentencas de julgamento a respeito do dote das esposas, nas quais estd escrito “o que é de melhor ¢ de maior equidade”. De fato, eles explicaram a agio dolosa, a boa-fé,a perfeita equidade, os deveres entre si de um sécio para com outro, daquele que for cuidar de negécios alheios para com quem possui esses negocios, das obriga- ges que dever manter um para com o outro aquele que tiver conferido jun mandato eo seu mandatatio, os deveres de um marido para com a cesposa, ou de uma esposa para com o marido. (Portanto, uma vez profundamente conhecidos 0s tpicos dos angumentos, nio s6 08 oradores como também os filosofos, mas também 6s peritos da justiga, poderdo discutir com eloquéncia sobre suas deli- Dberacoes.) XVII, 67. © t6pico das causas estd ligado ao dos efeitos. Como ‘a causa, de fato, pode indicar um efeito, da mesma manetra o efeito demonstra o que poderia ser a causa, Este topico ¢ frequentemente utilizado por otadores e poetas, ¢ muitas vezes também pelos filosofos, mas por estes que, com admiravel capacidade oratoria, podem falar com estilo ¢ eloquencia, quando dao a conhecer o que poderd resultar de cada evento, De fato, 0 conhecimento das causas produz 0 conhecimento dos efeitos. 68. Resta o t6pico da comparacio, cuija definigio, bem como um exemplo, foi apresentada antes, assim como dos demais tpicos; ¢ preciso explicar agora a sua aplicacao. Sao pois comparados assuntos que sto considerados de maior menor on igual importancia; nestes assuntos sao observados estes aspectos: 0 numero, a espécie, o valor € ainda certa relagdo com outras coisas. TRADUGOES 33) 69. Pelo numero, a5 coisas sto comparadas deste modo: preferem- -se muitos bens a poucos bens, poucos males a muitos males, bens mais duradouros aos de curta duragdo, vantagens extensas em todos os sentidos a vantagens restritas,” aces das quais se possam multiplicar muitos bens e acdes que muitos possam imitar € fazer. As coisas sto comparadas pela espécie, tal como as que devem acontecer por si mesmas sio preferidas as coisas que devem acontecer por outra causa, ¢ assim como as coisas inatas e naturals sao preferidas as presumidas e estranhas, as puras as impuras, as agradaveis as menos agradaveis, as honradas as menos hontadas, embora atels, as faceis de ‘executar s mais trabalhosas, as necessittias as no necessérias, os bens préprios aos alheios, as coisas raras as comuns, as desejaveis as de que se pode facilmente abster-se, as coisas conclufdas as comegadas, 0 todo as suas partes, as ages providas de razio as desprovidas de razao, as ages espor naturais as nao natura as feftas com arte as feltas sem arte. 70. O valor numa comparagio € percebido desta maneira: uma causa eficiente & mais forte do que uma nio eficiente; as causas que se ‘sustentam por si mesmas sao melhores do que as que carecem de outras, ‘0s bens que esto em nosso poder sio melhores do que os que esto em poder dos outros; as coisas estaveis sio melhores do que as incertas; os bens que podem ser arrebatados sto melhores do que 05 que no podem, As relagdes com outras coisas ocorrem deste modo: os interesses dos cidadios mais importantes sio maiores do que os interesses dos restantes; da mesma maneira, as coisas mais agradaveis, as aprovadas pela maioria, ¢ também as elogiadas pelo mais virtuoso, F assim como estas coisas numa comparacio sdo as melhores, da mesma maneira as que so conirérias a elas sto consideradas as pores, 71. A comparacio de coisas de mesma categoria nao tem nem superioridade nem inferioridade; pois elas sto iguais. Mas ha muitos ‘argumentos que sio comparados por esta igualdade. Estes sio conclu- fdos mais ov menos desta maneira: “Se ajudar os cidadios por uma deliberago ¢ por uma assisténcia sto agdes dignas de louvor, os que deliberam ¢ 0s que assistem devem ambos receber a mesma gloria". A primeira afirmacao € correta, Entdo, a que segue também 6. 5. Neste ponto, valemo-nos da edig#o francesa. 432 REVISTA BRASIEIRA DF HOSOFIA 2010 ~ RBF 234 ‘A doutrina para descobrit todos os argumentos esta completa; deste modo, quando comecares pela definigdo, pela particao, etimotogia, pala. ‘yras aparentadas, pelo genero, espécie, semelhanca, diferenca, contra rios, ideias em acréscimo, consequentes, antecedentes, pelas ideias em oposicio, causes, efeitos, comparacao dos maiores, dos menores ¢ dos {guais, nenluma fonte de argumento havera de ser procurada além disso. XIX. 72. Mas visto que dividimos 0 assunto no comeco deste livro de tal forma que dissemos que uns t6picos estio ligados a0 proprio assunto em questio (sobre os quiais fot suficientemente explicado) ¢ ‘outros tépicos sto tomados fora do assunto, falemos umas pouces pala ‘vras sobre estes, se bem que nada dizem respeito as vossas discusses, completemos, todavia, 0 assunto, uma vez que 0 iniciamos, Pois tu nie és um homem a quem nada a nio ser 0 direito civil pode atrair, ¢ visto ‘que este livro 6 escrito para ti de tal maneira que vena a chegar as mos de outras pessoas, esforcemo-nos para que possamos ajudar 20 maximo aqueles a quem os bons estudos atracm. 73, Esta argumentacio, que est denominada “desprovida de arte”, € baseada no testemunho. Chamamos nesse momento de cestemunho tudo o que é tirado de alguma circunstincia externa para conferir credi- bilidade. Mas nfo € o testemunho de qualquer tipo de pessoa que tem peso; pois se requer autoridade para que se confira credibilidade, Entretanto, autoridade proporciona a natureza ou uma circunstancia ‘A autoridade pela natureza encontra-se principalmente na virtude; mas nas circunstancias ha muitas coisas que podem trazer autoridade: 6 engenho, os recursos materiais, a idade, a sorte, a beleza, a arte, # expetiéncia, a obrigacao, e ainda as vezes 0 encontro de coisas fortuitas Pois muitos acham que devem ser considerados talentosos, ricos, expe rientes devido a ceria idade € dignos de confianga; mas a opiniao do povo dificilmente pode mudar e € de encontro a ela que tanto as pessoas que julgam quanto as que deliberam dirigem todas as suas ages, talvez nao de maneira justa. ‘Os quese distinguem por esteselementos que euacabei de descrever parecem se distinguir pela propria virtude. 74. Mas nos elementos restantes que cu igualmente acabei de ‘enumerar, embora nao se encontre neles nenhuma forma de virtude, (odavia algumas vezes a credibilidade € assegurada, se € empregeda certs TRADUCOES 333 arte (com efeito, © poder de persuasio da ciéncia ¢ grande) ou certa pratica (de fato, por vezes acredita-se naqueles que sao experientes). XX. A necessidade que se origina ora no corpo, ora na mente também produz credibilidade. Com efeito, os individuos que falam algo esgotados por causa dos agoites, das torturas e do fogo, tal confissto parece mesmo dizer a verdade, ¢ as palavras que eles falam por causa da desorientacdo da mente, da dor, da ambicao, da ire e do medo porque tem a forea da situagao critica thes confere autoridade e convicsao, 75, Pertencem a este conjunto as situagdes a partir das quais algumas vezes a verdade € encontrada: como a infincia, 0 sono, a imprudéncia, a embriaguez ¢ a insanidade. Pois nao s6 as criangas com frequencia dao informagées, sem saber do que se trata, como também muitas outras frequentemente sio reveladas por meio do sono, do vinho ¢ da insanidade. Muitos incorreram inadvertidamente em agdes conde- naveis, como, por exemplo, o que aconteceu recentemente a Estaleno, que falou palavras comprometedoras estando homens de bem a escutar secretamente do outro lado de uma parede; ao serem tais palavras reve- ladas ¢ demonstradas por eles num tribunal, Estaleno foi condenado & pena de morte de acordo com a lei, [Ouvimnos falar de acontecimento semelhante a tespeito do espartano Pausanias} 76, O encontro de acontecimentos fortuitos se revela, por exemplo, quando, por mero acaso, é descoberia ou dita alguma coisa que nao poderia ser proferida, Pertence a este conjunto o grande niimero de suspeitas de traigio atributdo a Palamedes; tal conjunto, as vezes dificil- ‘mente 2 verdade pode refutar, Pertence ainda a este conjunto o comnen- trio do povo, um tipo de testemunho da multidao. Entretanto, os testemunhos que trazem credibilidade por sua virtude sdo divididos em duas partes: um em que o testemunko se torna cficaz a partir da natureza, € 0 outro a partir da dedicagao, De fato, a forca dos deuses emana da natureza, ¢a fora dos homens, da dedicacao, 77. Estes testemunhos sao até certo ponto mais ou menos divinos: iro, o testemunho da linguagem (sao 0s denominados “oréculos” pelo proprio fato de que se encontra neles a linguagem dos deuses); depois as coisas nas quais se encontram, por assim dizer, uma acao divina: primeiro o proprio mundo e toda a sa ordem e sua beleza; em seguida, 0 voo € 0 canto dos passaros no ar; € depois os ruides ¢ @ resplandecéncia do ar, as profecias de muitos fatos na terra e ainda as previsdes pela manipulacio das visceras de animais, bem como mauitas 334 REVISTA BRASIEIRA DE FOSOPIA 2010 RBF 234 previsoes reveladas pelas vis6es daqueles que dormem, Os restemunhos dos deuises algumas vezes sto tomados de emprestimo destes t6picos para produzir credibilidade. 78, Para um homem a opiniao de sua vietade tem mm a opinido considera que so cheios de virtude nao s6 os que possuem fa virtude, mas também os que parecem possuir virtude. Assim que as pessoas veem homens dotades de talento, de conhecimento ¢ de erudigao, cuja vida ponderada € aprovada, como a vida de Catdo, de Lelio, de Cipiao e de muitos outros, pensam que esses homens sto da ‘maneira como elas mesmas gostariam de ser. Nao somente declaram que tais homens s40 0s que se ocupam dos cargos honorificos e da admi- nistragio pablica como também que sto oradores, filésofes, poetas © historiadores; frequentemente, a autoridade, para dar credibilidade, € buscada nas palavras e nas obras desses homens. XXL 79. Tendo sido expostos todos os t6picos para argumentar, € preciso compreender, primeiramente, que nio ha nenhuma discussio za qual nao incorta algum topico, ¢ que dificilmente todos os topicos incidem em todas as discussdes, e que, em cada questfo, uns tépicos S30 mais convenientes do que outros. Ha dois tipos de questio: uma denominada questao indefinida, € ‘outra, questo definida. A questao definida é 0 que os gregos denominam ‘Snégesin e nds de causa; a indefinida, que eles denominam gésin, nos ‘podemos chamar de proposicao em geral. 80. A causa é discernida em determinadas pessoas, Ingares, circunstancias, aces ¢ certos negécios, quer seja em todos, quer sea na maior parte deles; a proposicdo, entretanto, € discernida ou em alguns oa na maioria destes elementos, mas ndo nos mais importantes. Assim, a causa ¢ parte da proposigao em geral ¢ toda questto trata do assunto de algumas partes, das quais a causa é delimitada, seja por uma delas, pela major parte ou as vezes por todas elas. 81. E ha dois tipos de questdes indefinidas: um, as questoes de teoria, e outro, as de pritica 82. As questées de teoria sfo aquelas cula finalidade € 0 con! mento, como, por exemplo, quando se questiona se o direito provers da natureza ou de um tipo de acordo e da convencio entre os homens. valor, Mas, Das questées da pritica ha exemplos como este: “E conveniente para um sibio ingressar na administracdo pablica?” TRADUGOES 335 ‘As questdes de teoria se dividem entre partes: se hd uma questio, ‘0 que € a questéo, ou qual a natureza da questo. A primeira delas € desenvolvida pela conjetura, a segunda pela definicio e a terceira pela distingao entre o justo e 0 injusto, A questio por conjeturas se divide em quatro partes, das quais a primeiza é quando se investiga se ha uima questao, a segunda, onde ela se origina, a terceira, qual causa a produziu € a quarta, qual mucanca ‘ocorre na questao, Se existe (ou nic) uma questio: ha realmente algo nesta questio: 0 que ¢ a honra ou o que € a equidade, ou estas nocoes existem somente como uma opiniao? De onde a ques ina, por exemplo, quando se pergunta se a virtude pode ser obtida pelo carter ou pela educacao. A causa eficiente ‘obtém-se perguntando a partir do que a cloquencia é feita. Fxemplo mudanga qualquer, converter-se em incapacidade de falar’ XXII. 83. Mas quando se pergunta o que € algo, ¢ preciso desdobrat © seu conceito, sua caracte' ‘cular, sua andlise ¢ a enumeracao de suas partes, Com efeito, estes sio os atributos de uma definigao; a eles Gacrescentada ainda a descricao, a qual os gregos denominam caraktyra O conceito € questionado assim: é justo equilo que € util para quem € mais poderoso? ‘A caracteristica particular, dessa maneira; a doenca acomete somente a homens ou também aos animais? ‘A anilise ea enumeragdo das partes sto questionadas do mesmo modo: ha tres tipos de bens? A descrigao: 0 que € um avarento, um adulador ¢ outros individuos desse tipo, cujas figuras slo tracadas por sua natureza € por sua vida? 84. Quando se procura saber a qualidade de algo, questiona-se @ coisa quer seja pura ¢ simplesmente, quer seja por comparacdo. Pura e simplesmente: deve-se procurar a gloria? Por comparagdo: deve-se preferir a gloria as riquezas? Sao trés 0s modos de questionar pura e simplesmente: 0 que se deve procurar eevitar, o que ¢ justo e injusto e o que é hontoso e vergonhoso. Entretanto, ha dois tipos de comparacoes: um refere-se a semelhanga e & diferenga, ¢ outro a superioridade e & inferioridade. is exemplos do que se deve procurar e evitar: porventura se devern procurar as riquezas? Por acaso deve-se evitar a pobreza? A respeito do 336 _ REVISTA BRASILEIRA DE FLOSOFIA 2010 ~ RBF 234 justo e do injusto: seria justo vingar-se por uma injuria que sofremos de alguém? No que concerne ao honroso ¢ a0 vergonhoso: € honroso morrer em favor da patria? 85. Quanto a0 outro tipo de questo, partes, uma refere-se a0 semelhante e ao dessemelhiante, como, por exemplo, procurar saber a diferenca entre um sécio e um partidario, um rei e um tirano. A outra parte refere-se ao superior ¢ ao inferior, como procurar saber o que vale mais, a eloquencia ou a ciéncia do direito civil que foi dividido em duas Até aqui, tratamos das questies de teoria 86. Restam as questdes de prética, das quais ha dois tipos: um destinado a realizar um dever ¢ outto para produzir, ow para acalmar ‘ou para suprimir totalmente a comogéo da alma. Para realizar um dever, por exemplo, quando se questiona se os filhos devem ser reconhecides jendi, isto ¢, levantados diante da familia, a partir do que eram defesa da repiiblica, da honra e da reputacdo; pertencem 2 este grupo as queixas judiciais, 0s arroubos ¢ os lamentos dolorosos; e, pelo contratio, fo discurso quando extingue a ira, retira o medo, contém a exultagdo de alegriae aflicdo. Embora estas situagoes selam de questdes de proposicio xgeral, elas sio transpostas igualmente as causas particulares. XXIIL 87. £ preciso examinara seguiros topicos questo apropriados para cada uma das questdes. Com efeito, todos eles sio adequados @ ‘maior parte das questoes, mas, como eu disse, uns so mais apropriados para algumas questées, e outtos, mais apropriados para outras questoes. Destarte, s20 absolutamente apropriados para a questao de conje- tura os fatos que poclem ser tirados seja das causas, sea dos efeitos, seja das proposigées aparentadas. Para a questio de definicho, devem ser utilizados o conhecimento e ‘ométodo de defini. Vizinho a este tipo de questao € aquilo que dissemos chamar.se semelhante ¢ dessemelhante, porque, de certa forma, ¢ um tipo de definicao. Por exemplo, se for questionado se a obstinacao € & perseveranca sao a mesma coisa, tal questo deve ser resolvida pelas stias aefinigoes, 88. Convem a este tipo de questio os topicos do consequente, do antecedente e das ideias em oposicao; a eles sao acrescentados os topicos retirados das causas ¢ dos efeitos. Pois se uma coisa segue a esta coisa, tnas nao Segue outra; ou se ela antecede a esta coisa, mas nao antecede a ‘outra; ou se ela ¢ contraditdria 2 esta coisa, mas nao a outra; ou se desta TRADUCOES 337 coisa a causa é uma, mas daquela a causa ¢ outra; ow se de uma coisa o efeito € um, mas de outra coisa o efeito é outro: de cada uma destas relagées pode ser encontrado 0 assunto sobre o qual se discute, seja ele ‘o mesmo ow diferente. 89. Quanto ao terceito tipo de questo, no qual ¢ procurada a natureza de algo, aplicam-se 05 t6picos destinados & comparacto que foram enumerados pouco antes, ao discutir 0 topico das comparagées, Neste topico, em que se pergunta sobre o que é preciso desejar e evitar, empregam-se as ages pertinentes 2 alma, 20 corpo, ouas agOes externas, quer sejam convenientes, quer sejam inconvenientes, Da mesma forma, quando se questiona sobre o honroso 0 vergonhoso, 0 discurso precisa ser todo baseado nas qualidades e nos defeitos de alma 90. Quando se disserta sobre 0 justo e o injusto, serao coligidos os tépicos da equidade. Estes sio separados em duas partes, pela lei da natureza e pela 10. A lei da natureza compreende duas partes: a atribuiggo a cada pessoa do que ela possui e dirtito de vingar uma ofensa. A instituicio da equidade, porém, é dividida em wes partes: a primeira é assegurada pelas leis, a segunda, pela conveniéncia ea terceira, por costumes de longa data, [Afirma-se ainda que a equidade ¢ dividida em tres partes: uma pertinente aos deuses do céu, outra 20s espitites dos antepassados (manes) € uma terceira pertinente aes homens. A primeira parte recebe o nome de piedace, a segunda, de santidade e a terceira, de justica ou equidade_] XXIV Sobre a proposicéo em geral jé € 0 suficiente. A seguir deverdo ser mencionadas poucas caracteristicas da causa; pois a maior parte destas caracteristicas so comuns & proposigto em geral. 91. Existem és tipos de causas: a judiciaria, a deliherativa e a laudat6ria. A propria finalidade de cada uma demonstra quais tp podem ser utilizados. Pois a finalidade da causa judiciaria € a justica (0 Gireito), a partir do que a causa recebe seu nome. As partes do diceito foram expostas por ocasito da equidade. A finalidade da causa delibe- rativa € @ utilidade, cujas partes sto aquelas que ja foram expostas hit pouco [explicagao das coisas que se deve procutar]. A finalidade da causa laudatéria é a honra, sobre a qual também jé fol discutido antes. 92. Mas as questoe: as so guamecidas com seus t6picos ‘como se thes fossem proprios (...) Elas se dividem em acusacao e defesa; ‘manifestam-se nestas partes os seguintes modos de agit: se, por exemplo, ‘um acusador atribui a autoria de um crime a uma pessoa, 0 defensor 338 REVISTA BRASILEIRA DE FLOSOHIA 2010 RBF 234 opde uma destas trés situagdes: 0 crime ndo existe, ou, caso o crime exista, é outro o nome dele, ou ainda, ele foi cometido em conformidade coma lei. E assim, a primeira causa pode ser chamada de negativa ou conjetural, 2 segunda de causa de definicéo e a terceira, por mais que este nome seja chocante, de causa “juridiciéria” XXV, Os argumentos proprios destas causas, retirados dos t6picos que acabei de explicar, sio desenvolvidos nos preceitos da arte oratoria. 93, No entanto, a refutagto de uma acusagéo que consiste na negagdo de um crime pode ser chamada em latim de status (posigao), visto que é denominada oxéors em grego; pois este é 0 local em que a defesa, por primeira, toma a sua posicio como se o agarrasse para rechagar uma acusa¢io. is laudatérias ha esses Tanto nas causas deliberativas quanto mesmos status (posicionamentos). Pois frequentemente quando se negam as coisas que irio ocorrer, que sio afirmadas por alguém em uma declaracdo, se elas nao podem acontecer em absoluto, ou se elas 53 podem acontecer sem extrema dificuldade, nesta argumentacao transpa- rece o status conjectural 94, Quando se discute sobre a utilidade, a honra e 2 equidade, € sobre as coisas que Ihes so comtraias, incorre-se ai num status de questio de direito ou de nome do assunto. Acontece a mesma coisa nos discursos laudatorios. Por exemplo, pode-se negar que o fato elogiado foi realizado. Ou que ele nao deve ser estabelecido pelo nome com o qual aquele que elogia The conferiu. Ou ainda o ato nto ¢absolutamente digno de elogio porque nao é correta e nao foi realizado de acordo com alet, César utilizou sem nenhum pudor todos estes tipos de argumentos contra meu amigo Catao. 95, Mas a discussio que este status produz os gregos a denominam rin menon, mas eu prefiro, agora que estou te escrevendo, chamar isto de questio litigiosa. E 0s pontos em que a questic litigiosa se sustenta serdo chamados de fundamentos, pois é como se fossem suportes de ‘uma defesa que, se forem tirados, ndo hd nenhuma defesa, Mas no julgamento de uma controvérsia, visto que nada deve ser mais eficaz do que a lei, devernos concentrar esforcos para recorrer a ‘uma lei que sitva de ajuda ¢ de testemunha, Nesta controvérsia surgem utras questoes como se fossem novas, mas que podem ser chamadas de disputas Legais. | | | | | i | | TRADUGOES 339 96. Por exemplo, alguem defende que a lei nio expressa aquilo que o adversério deseja, mas outta coisa, Isso acontece quando a redagao € ambigua, de modo que podem ser aceitas duas interpretacdes diferentes, Entéo, no texto da lei, opde-se a intencéo do autor, como se procurasse saber se devem prevalecer mais as palavras do que interpretacdo. Desse ‘modo apresenta-se uma lei contraria a lei em questio. Estas sio as trés situacées que podem causar uma controvérsia em todo texto escrito: ambiguidade,a discrepancia entre 0 texto da lei e@ intencéo de seu autor € 05 textos de lei contratios, XXV. Estd claro que as mesmas controvérsias podem surgit nfo mais nas leis do que nos testamentos, nos contratos © nas questOes restantes que sio tratadas a partir dos textos escritos. As manetras de tratar esses assuntos estio explicadas em outros livros. 97. Nao somente as defesas inteiras, mas também as partes de um discurso sdo auxiliadas por estes topicos, uns proprios (a cada questio), outros comuns (a qualquer questio). Por exemplo, no exordio, para que os ouvintes se tornem benevolentes, docels e atentos, devem ser empregados t6picos proprios a questo. Do mesmo modo, as narracoes, para que atinjam sua finalidade, vale dizer, que sejam simples, breves, claras, confiéveis, comedidas e dignas de crédito. Embora essas quiall- dades devam ser pertinentes a todo tipo de discurso, sto mais proprias a narragao. 98. A parte que segue a narragao ¢ a prova, porque ela se concretiza persuadindo. Os tépicos mais apropriados & persuas4o foram expostos acima por ocasi4o da teoria geral do diseurso (Cic., Top. 2, 6.4 5, 24). A peroracio, porém, emprega varios outros topicos, mas vale-se especial- mente da amplificagio, cujo efeito deve ser 0 de excitar ou cle acalmar as mentes, e caso clas ja se encontrem com tais disposigdes, que 0 discurso aumente estes sentimentos ou os suavize. 99. Os preceitos de dispor as mentes pari a misericérdia, a ira, 0 odio, a inveja e outras inclinacoes da alma esto prescritos em outros livros, que poderas ler comigo, quando quiseres. Quanto ao que eu percebi ser de teu interesse, isto deve satisfazer 0s teus desejos. 100. Pois para que eu ndo omitisse alguma coisa concernente a todo método de encontrar 0 argumento, eu abracei mais copiosamente aspectos que desejavas ¢ fiz o que 05 vendedores generosos sempre costurmam fazer. Por exemplo, quando eles vendem uma casa ou urna pl 5340. REVISTA BRASILEIRA DE FULOSOFIA 2010 - RAF 234 propriedade rural, tendo reservado os bens méveis a serem retirados,* Tres, entretanto, oferecem a0 comprador algo que pareca apropriado para omamentar e que este colocado no lugar certo. Da mesma forma, quanto ao que nés tinkamos obrigacBo de transmitir como se fosse uma propriedade, nés quisemos acrescentar alguns ornamentos no deman- dados por nossa obriga¢io. BiatiocRana ‘Textos latinos Cicenos, M.T. Partigbes oratérias, Trad. A. Chiappetta. In: Cmmaorerta, A Animnos Tactendas: comocao, fé e ficgao nas partitiones oratoriae ¢ no de ofilis de Cicero. Tese. Sto Pauilo: FFLCH/USP, 1997. Pro archia”; “pro Marcello"; “pro Ligario”, Trad. 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