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Justiça determina que apostilas sobre diversidade sexual que Doria ma... https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/09/10/justica-determin...

Justiça determina que apostilas sobre


diversidade sexual que Doria mandou
recolher sejam devolvidas às escolas de SP

A justiça determinou nesta terça-feira (10), por meio de decisão liminar, a


suspensão do recolhimento das apostilas de ciências dos alunos do 8º ano do
Ensino Fundamental da rede estadual de São Paulo. O material didático foi
recolhido na última terça-feira (3) a pedido do governador João Doria (PSDB) que
considerou o conteúdo da apostila como uma "apologia à ideologia de gênero".

A apostila explica os conceitos de sexo biológico, identidade de gênero e


orientação sexual. Também traz orientações sobre gravidez e doenças
sexualmente transmissíveis.

A juíza Paula Fernanda de Souza considerou o pedido de liminar procedente e


determinou a suspensão do recolhimento das apostilas. Com relação ao material
que já havia sido recolhido, a decisão determinou que as apostilas devem ser
conservadas e devolvidas aos estudantes dentro do prazo de 48 horas. Em caso de
descumprimento, o governo poderá pagar multa.

"Não há dúvidas que a retirada do material suprimiria conteúdo de apoio de todo


o bimestre de diversas áreas do conhecimento humano aos alunos do oitavo ano
da rede pública, com concreto prejuízo ao aprendizado", disse a juíza em sua
decisão.

Além disso, a decisão também considerou que "a lesão ao patrimônio público e ao
erário estão suficientemente demonstradas, eis que o caderno foi distribuído a
todos os alunos da rede pública (cerca de 330 mil apostilas), com evidente custos
aos cofres estaduais, após regular aprovação dos órgãos estatais responsáveis".

O G1 procurou a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, que não se


manifestou até a publicação dessa reportagem.

O recolhimento das apostilas foi determinado nessa terça (3) pelo governador
João Dória. "Fomos alertados de um erro inaceitável no material escolar dos
alunos do 8º ano da rede estadual. Solicitei ao Secretário de Educação o imediato
recolhimento do material e apuração dos responsáveis. Não concordamos e nem
aceitamos apologia à ideologia de gênero", escreveu Doria pelo Twitter.

Em nota, a Secretaria de Educação de São Paulo argumentou que o termo


"identidade de gênero" estaria em desacordo com a Base Nacional Comum
Curricular do MEC e com o Novo Currículo Paulista aprovado em agosto, e que a
apostila é complementar aos estudos dos alunos.

Em 2017, o Ministério da Educação tirou o termo "orientação sexual" da terceira e


última versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino infantil
e fundamental, que passou a valer em 2019. De acordo com o documento, o
Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiria orientações específicas sobre
orientação sexual e identidade de gênero.

Para a professora FGV Cláudia Costin e diretora do Centro de Excelência e


Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE), “[A base] não só não menciona, mas
ela não proíbe. Ao traduzir a base em currículos estaduais, os currículos podem ou

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não introduzir uma questão sobre isso, o que não impede que professores ou até
escolas abordem o tema.”

O termo "ideologia de gênero" utilizado pelo governador João Doria surgiu na


década de 90 e início dos anos 2000 em uma ala conservadora da Igreja Católica,
segundo o Centro de Estudos Multidisciplinares Avançados da Universidade de
Brasília (UnB).

O termo foi formulado como uma reação ao feminismo por grupos


neofundamentalistas católicos, segundo os quais a luta feminista atinge a
tradicional família cristã. Mas, de acordo com a UnB, o termo contraria, inclusive,
disposições do Concílio Vaticano II, quando vários temas da Igreja Católica foram
regulamentados na década de 1960.

Depois, em 2000, a expressão aparece em documento da Cúria Romana, com a


publicação de “Família, Matrimônio e Uniões de fato”.

O termo não é reconhecido pelo mundo acadêmico. A expressão é utilizada por


conservadores contrários aos estudos de gênero iniciados entre décadas de 1960 e
1970 que buscavam a diferença entre o sexo biológico e o gênero na Europa e nos
Estados Unidos.

Para esses estudiosos, ser um homem ou uma mulher não depende apenas da
genitália ou dos cromossomos, mas de padrões culturais e comportamentais. Tais
padrões, segundo os teóricos da área, são adquiridos na vida em sociedade. Já os
grupos conservadores consideram que as conclusões desses estudos sobre o
gênero não obtiveram validação das ciências exatas e biológicas.

O Ministério Público de São Paulo instaurou um inquérito na última quarta-feira


(4) para apurar o recolhimento das apostilas. A promotoria apura a possível
violação do direito à educação e aos princípios constitucionais do ensino, além de
eventual lesão ao erário.

O MP enviará um ofício à Unidade de Atendimento aos Órgãos de Controle


Externo questionando sobre os fundamentos jurídicos para o recolhimento das
apostilas e se os docentes da rede e órgão colegiados de gestão democrática foram
consultados antes da ação ser realizada.

Além disso, a promotoria também solicitará informações a respeito dos valores


pagos para edição, impressão, distribuição e armazenamento das citadas
apostilas, especificando as empresas contratadas ou setores da administração
pública mobilizados para a realização de tais atividades.

Em nota, a Secretaria Estadual da Educação informou que "está à disposição do


Ministério Público Estadual para prestar todos os esclarecimentos necessários".

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