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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA – CAMPUS BAGÉ


MESTRADO ACADÊMICO EM ENSINO
BA5093-SEMINÁRIO I: DISCUSSÃO CRITICA DA PRODUÇÃO CIENTIFICA EM ENSINO

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, LEARNING ANALYTICS E DESIGN INSTRUCIONAL:


UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA

Elvis Galarça Menezes Mendes - elvismendes@unipampa.edu.br(1),


¹Discente; Universidade Federal do Pampa; Bagé.

INTRODUÇÃO

A Educação a Distância (EaD) é uma modalidade de ensino mediada por


Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), onde professores e alunos podem
estar afastados geograficamente e temporalmente. Para que essa interação ocorra
usam-se ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs) para mediar o processo de
ensino e de aprendizagem entre professor, tutor e aluno.
O AVA consiste em um conjunto de ferramentas relacionadas para
compartilhar informações entre pessoas, utilizando-se de vários tipos de
comunicações, síncronas e assíncronas, em um mesmo espaço virtual. Com a
utilização dos ambientes virtuais de aprendizagem gera-se um grande volume de
dados que podem ser usados como parâmetros para responder perguntas
específicas da Educação, interligando processos de aprendizagem, desenvolvimento
de objetos e acompanhamentos educacionais.
Para tratar esse grande volume de dados emprega-se técnicas de Learning
Analytics (LA) que buscam coletar, medir, analisar e relatar os dados e seus
contextos com objetivo de propor ações para melhorar o processo de aprendizagem
dos alunos [ROMERO et al. 2010]. O LA é uma ferramenta otimizadora do processo
de tomada de decisão mostrando-se favorável aos processos de personalização na
educação.
A construção de um ambiente de Educação é composta por várias fases,
dentre elas a fase de Design Instrucional (DI).

O design instrucional é compreendido como o planejamento do


ensino-aprendizagem, incluindo atividades, estratégias, sistemas
de avaliação, métodos e materiais instrucionais.
Tradicionalmente, tem sido vinculado à produção de materiais
didáticos, mais especificamente à produção de materiais
analógicos. (FILATRO, 2004, p. 2)
O Design Instrucional contribui com a aplicação do conhecimento tornando-se
importante no processo de comunicação, aprendizagem e ensino para melhorar os
materiais e ambientes de aprendizagem.
Diante desse cenário, por meio de uma revisão sistemática de
literatura, busca-se mapear estudos que correlacionam as práticas de Learning
Analytics como suporte ao Design Instrucional.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método de revisão usado nesta pesquisa baseia-se nos princípios da


Revisão Sistemática da Literatura (RSL), apresentado por Kitchenham et al.(2007).
A RSL é um método empírico que tem por objetivos identificar, avaliar e interpretar
pesquisas relevantes, área de um tópico ou fenômeno em uma pesquisa.
Para esta revisão definiu-se a seguinte questão: Como o Learning Analytics
pode ajudar no planejamento e implementação do Design Instrucional? Como
questões secundárias, buscou-se verificar quais são os métodos e recursos mais
utilizados neste âmbito, bem como as vantagens e obstáculos que o uso de Learning
Analytics pode apresentar (Q2, Q3 e Q4).
Finalmente, apresenta-se uma questão que busca analisar assuntos
relacionados à temática no sentido de ampliar as possibilidades de pesquisas
futuras (Q5). A tabela 1 apresenta a formulação das questões.

Tabela 1 - Questões da revisão sistemática.


ID QUESTÃO
Q1 Como o Learning Analytics pode ajudar no planejamento e implementação
do Design Instrucional?
Q2 Quais são os métodos e recursos usados para testar o Design Instrucional?
Q3 Quais são as vantagens de usar o Learning Analytics como suporte ao
Design Instrucional?
Q4 Quais são os obstáculos no uso do Learning Analytics?
Q5 Quais trabalhos relacionam Learning Analytics e Design Instrucional?
Fonte: Elaborado pelo autor

A pesquisa foi realizada com base em publicações publicadas entre janeiro de


2010 e outubro de 2018. Para tanto foram utilizadas as seguintes fontes: Portal de
Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes)1, Catálogo de Teses e Dissertações Capes2, SCIELO (Scientific Electronic
Library Online)3 e Google Acadêmico4, tendo em vista sua importância e amplo
acervo de títulos disponíveis. Os descritores foram escolhidos após alguns testes de
retorno nas bases. Inicialmente trabalhou-se com os termos "learning analytics" e
"design instrucional", porém ao analisar alguns retornos percebeu-se a ampla
utilização dos termos “analytic”, "análise de aprendizagem", "design educacional" e
"projeto instrucional" sendo assim agregaram-se na cadeia de caracteres de busca,
resultando em: ("learning analytic" OR "learning analytics" OR "análise de
aprendizagem") AND ("design instrucional" OR "projeto instrucional" OR "design
educacional"), para alcançar uma maior quantidade de trabalhos os descritores
englobam tanto trabalhos em português como em inglês.
A busca realizada resultou em 79 (setenta e nove) publicações. (Portal de
Periódicos da Capes: 2 resultados, Catálogo de Teses e Dissertações Capes: 3
resultados, SCIELO: não foram encontradas publicações e Google acadêmico: 74
resultados,). Procedeu-se, então, a leitura a fim de identificar o tema/problema
/questões/objetivos, metodologia e principais resultados apresentados nas
publicações, na tabela 2 são apresentados os critérios de inclusão e exclusão que
foram utilizados para descartar as publicações que não atendiam os parâmetros
definidos nesta revisão.

Tabela 2. Critérios de inclusão e exclusão.


Critérios de Inclusão Critérios de Exclusão

CI1. Teses ou dissertações ou artigos


CE1. Estudos que não atendem os
publicados entre janeiro de 2010 e
critérios de inclusão; ou
outubro de 2018; e

CI2. Teses ou dissertações ou artigos


CE2. Estudos duplicados; ou
em português ou inglês; e

CI3. Teses ou dissertações ou artigos CE3. Estudos que não foi possível

1
http://www.periodicos.capes.gov.br
2
http://catalogodeteses.capes.gov.br
3
http://www.scielo.br
4
https://scholar.google.com.br
que descrevam um processo, acessar o texto na íntegra; ou
ferramenta para usar o Learning
Analytics como suporte ao Design E4. Estudos que não são artigos de

Instrucional. revista/evento científico

Fonte: Elaborado pelo autor

Aplicados os critérios de inclusão e exclusão obteve-se 10 publicações dentre


elas, sete teses e três artigos. Passou-se então a leitura completa e aprofundada
dos trabalhos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção, os resultados obtidos na RSL são descritos resumidamente. A


tabela 3 apresenta os trabalhos selecionados.

Tabela 3. Resultado das buscas realizadas

ID Autor Título Ano Gênero


GONÇALVES, Formação do Pedagogo para a Gestão
T01 Marluce Torquato Escolar na UAB/UECE: a Analítica da 2018 Tese
Lima Aprendizagem na Educação a Distância
Analítica da Aprendizagem como
SALES, Viviani Estratégia de Previsão de Desempenho
T02 2018 Tese
Maria Barbosa de Estudantes de Curso de Licenciatura
em Pedagogia a Distância
Visualização de Desempenho
ROSA, Lilian Acadêmico de Estudantes: uma Análise
T03 2017 Tese
Landvoigt da Quantitativa de Feições De Movimento
para Propósitos de Predição
MENEZES,
Visualização de Dados como Suporte
T04 Douglas Afonso 2017 Tese
ao Design Instrucional
Tenório de
Comportamento de estudantes em
BANDEIRA,
T05 ambientes virtuais: uma análise de 2016 Tese
Michele
padrões sequenciais
T06 SANTOS, Natália A Polaridade do Sentimento Expresso 2016 Tese
Bráulio dos por Estudantes em Ambientes Virtuais
de Aprendizagem: Potencialidades de
Análise Automática a Partir da
Mineração de Textos em Português
Rede de Atividades de Alto Nível
aplicada à edição, atualização e
NUNES, Isabel
T07 acompanhamento de Design 2014 Tese
Dillmann
Instrucional com suporte a Learning
Analytics
Tecnologia e Metodologia para uma
T08 TORI, Romero 2015 Artigo
Educação sem Distância
Mineração de Dados: A Nova Maneira
BANDEIRA,
T09 de Compreender o Comportamento do 2016 Artigo
Michele. et al.
Usuário do Ensino a Distância
Metodologias de Planejamento e
FALCADE
T10 Organização para Ambientes Virtuais de 2016 Artigo
Andressa et al.
Aprendizagem Pervasivos
Fonte: Elaborado pelo autor

Gonçalves (2018) focou seu trabalho na formação e no desempenho dos alunos


de um determinado curso de licenciatura na área de gestão escolar, sob a
concepção do Learning Analytics (Q1 e Q4). A autora analisou o Projeto Pedagógico
do Curso (PPC), os livros-texto da licenciatura e as atividades utilizadas no AVA. Os
resultados mostraram que a gestão escolar é realizada de modo superficial
necessitando de aperfeiçoamento (Q3) e que o desemprenho no curso é
diretamente interferido pelo modo como as tarefas são visualizadas (Q1).
O trabalho de Sales (2018) teve por objetivo um modelo probabilístico para
identificar os alunos em risco de evasão em um curso de licenciatura à distância
(Q3), tomando por base as ações dos estudantes no ambiente AVA sobre a
perspectiva analítica de aprendizagem (Q1). Os resultados evidenciam que, pelo
acompanhamento das ações desenvolvidas pelos alunos é possível perceber quais
são os alunos com risco de insucesso no curso (Q1).
O objetivo do trabalho de Rosa (2018) foi analisar os dados por meio de
técnicas de mineração e visualização de dados para compreender o comportamento
dos usuários e dos processos de ensino e aprendizagem (Q1). O trabalho explora o
impacto que as oscilações na trajetória temporal de interação provocam no
desempenho acadêmico do aluno (Q4). Os resultados indicaram que o Design de
informação tem papel relevante para evidenciar as trajetórias das interações de
estudantes com o Ambiente Virtual de Aprendizagem (Q2).
O estudo de Menezes (2017) apresentou uma proposta para visualização de
dados educacionais, com o objetivo de analisar como a visualização de dados pode
ajudar o professor a identificar e adequar um Design Instrucional problemático (Q1).
De acordo com Menezes (2017), os dados gerados nos AVAs não são explorados
adequadamente, o que dificulta a geração de indicadores da qualidade (Q4).
Os resultados mostraram que a adequação do material em sala de aula
determina a qualidade do aprendizado e o histórico de sucesso e insucesso nas
edições anteriores devem ser levadas em consideração (Q2 e Q3).
Bandeira (2016) em sua tese propôs investigar a relevância da sequência de
interações realizadas por estudantes em AVAs para propósitos de predição de
comportamentos que levem ao sucesso/insucesso acadêmico (Q1 e Q2). Aplicando
técnicas de mineração de padrões sequenciais os resultados mostraram que a
inclusão da sequência de interações pode melhorar em até 32% a predição de
evasão (Q3). Podendo prover melhor suporte para profissionais de Design
Instrucional, que, conhecendo o comportamento dos estudantes terão melhores
subsídios para planejar sua experiência de aprendizado (Q1 e Q2).
Santos (2016) em seu trabalho inicia por contribuir ao discutir as práticas
clássicas de Design Centrado no Usuário, bem como, verificar as possibilidades de
contribuição do Designer Instrucional frente à tarefa de melhor compreender hábitos
e preferências de usuários (Q1 e Q2). Resultados implicaram na identificação de
sentimento em postagens de estudantes, bem como sua polaridade, inferindo que a
mineração de textos em fóruns educacionais possa auxiliar o Designer Instrucional
no processo de conhecer melhor o comportamento do estudante (Q3).
Nunes (2014) propõe a utilização de Rede de Atividades de Alto Nível – RAAN
como ferramenta de autoria e acompanhamento da execução de Design Instrucional
o que possibilita o acompanhamento de alunos, com o objetivo de identificar pontos
de atraso ou complexos (Q1 e Q2). Os resultados mostram que o acompanhamento
em tempo de execução do Design Instrucional são pontos relevantes para o bom
desempenho de um aluno na Educação a Distância (Q3).
Romero Tori (2015) em seu artigo faz uma analise sobre o futuro da sala de
aula à luz do perfil das novas gerações e das tendências tecnológicas na educação.
Como conclusão, o autor escreve que as novas mídias interativas estão provocando
mudanças de comportamento em todas as camadas da sociedade. Ele apresenta
uma visão geral das tendências tecnológicas na educação.
Os autores Bandeira et al. (2016) apresentam um paralelo entre métodos
tradicionais do Design Centrado no Usuário e as contribuições da área de Mineração
de Dados. As principais conclusões são que a Mineração de Dados conecta e
oportuniza novas formas e práticas de análise das respostas dada pelos estudantes.
Andressa Falcade et al (2016) realizou um estudo para encontrar
implementações de metodologias, como as Arquiteturas Pedagógicas (AP), o Design
Instrucional (DI) e o Planejamento Instrucional (PI), em ambientes virtuais voltados à
educação pervasiva. Para tanto, realizou um Mapeamento Sistemático, apontando
os trabalhos mais relevantes. O estudo mostrou que há um grande número de
aplicações de metodologias de DI, AP e PI em ambientes virtuais voltados à
educação. Apesar disso, a utilização de tecnologia para promover a aprendizagem
pode ser alvo de estudos futuros, quando aliadas a outras características individuais
do estudante como o nível de conhecimento e estilos de aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão sistemática realizada neste estudo ocupou-se na análise dos


trabalhos que relacionam Learning Analytics e o Design Instrucional. Ao avaliar os
trabalhos, constatou-se que poucos são os trabalhos que discutem as
potencialidades do Learning Analytics no planejamento e implementação do Design
Instrucional. Entende-se que as reflexões não se esgotam no material selecionado,
uma vez que dizem respeito a contextos específicos e que, além disso, existe pouco
direcionamento a aplicação com o uso de design instrucional. Sendo esta uma
tendência no cenário educacional, acredita-se relevante realizar estudos futuros
sobre o entendimento de suas possíveis integrações com LA.

REFERÊNCIAS

BANDEIRA, M. et al. Mineração de dados: a nova maneira de compreender o


comportamento do usuário do ensino a distância. In: Congresso brasileiro de
pesquisa e desenvolvimento em design, 12. Belo Horizonte. 2016.

BANDEIRA, M. Comportamento de estudantes em ambientes virtuais: uma


análise de padrões sequenciais. 2016. 96 f. Dissertação (Mestrado em Design) –
Centro Universitário Ritter dos Reis, Faculdade de Design, Porto Alegre, 2016.
FALCADE A. et al. Metodologias de Planejamento e Organização para
Ambientes Virtuais de Aprendizagem Pervasivos. In: Centro Interdisciplinar de
Novas Tecnologias na Educação. 14. Porto Alegre. 2016.

FILATRO, A.; PICONEZ, S.C.B. (2004). Design instrucional contextualizado.


Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2004/por/pdf/049-TC-B2.pdf/>.
Acesso em: 22 de nov. 2018.

GONÇALVES, M. Formação do pedagogo para a gestão escolar na UAB/UECE:


a analítica da aprendizagem na educação a distância. 2018. 225 f. Tese
(Doutorado em Educação) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Educação,
Fortaleza, 2018.

KITCHENHAM, B.; BRERETON, P.; BUDGEN, D.; TURNER, M.; BAILEY, J.;
LINKMAN, S. (2009) Systematic literature reviews in software engineering – A
systematic literature review. In: Information and Software Technology, v.51, p.7-
15.

MENEZES, D. Visualização de dados como suporte ao design instrucional.


2017. 167 f. Tese (Doutorado em Ciência da Computação) – Universidade Federal
de Campina Grande, Centro de Engenharia Elétrica e Informática, Campina Grande,
2017.

NUNES, I. Rede de Atividades de Alto Nível aplicada à edição, atualização e


acompanhamento de Design Instrucional com suporte a Learning Analytics.
2014. 212 f. Tese (Doutorado em Ciência da Computação) – Universidade Federal
de Campina Grande, Centro de Engenharia Elétrica e Informática, Campina Grande,
2014.

ROSA, L. Visualização de desempenho acadêmico de estudantes: uma análise


quantitativa de feições de movimento para propósitos de predição, 2017. 111 f.
Dissertação (Mestrado em Design) – Centro Universitário Ritter dos Reis, Faculdade
de Design, Porto Alegre, 2017.

SALES, V. Analítica da Aprendizagem como estratégia de previsão de


desempenho de estudante de curso de licenciatura em Pedagogia a distância.
2017. 223 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual do Ceará,
Centro de Educação, Fortaleza, 2017.

SANTOS, N. A polaridade do sentimento expresso por estudantes em


ambientes de aprendizagem: potencialidades de análise automática a partir da
mineração de textos em português. 2016. 56 f. Dissertação (Mestrado em Design) –
Centro Universitário Ritter dos Reis, Faculdade de Design, Porto Alegre, 2016.

TORI, R. Tecnologia e metodologia para uma educação sem distância. Revista


Em Rede. Porto Alegre: Unirede. 2015.

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