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Resumo
O nepotismo no poder público é um dos termos mais abordados quando se fala em eficiência
e moralidade. Em conduta pungente, o Supremo Tribunal Federal baniu da ordem pública a
possibilidade de provimento de cargos comissionados com pessoas aparentadas até o terceiro
grau em relação à autoridade nomeante, cuja materialização normativa sintetizou a Súmula
Vinculante 13. Entretanto, após estudos aprofundados acerca do cerne do real problema
interposto em relação ao atendimento ao princípio da moralidade quando do provimento de
cargos públicos (sejam eles efetivos ou comissionados) restou a seguinte pergunta: A
imoralidade no provimento de cargos comissionados decorre de fato do vínculo de parentesco
do agente nomeado e da autoridade nomeante? Pela análise realizada, a resposta será não! A
imoralidade decorre da ineficiência do agente investido, da consubstanciação do gasto público
sem a contraprestação do serviço demandado!
1 INTRODUÇÃO
d) Se a Súmula Vinculante 13 não foi a solução para o provimento ético dos cargos
comissionados, qual será a alternativa a ser adotada?
O termo nepotismo deriva do latim, das expressões nepos e nepotis, que respectivamente
significam neto e sobrinho, remetendo à ideia de parentesco ou descendência.
Ao longo deste artigo, este autor chama atenção ao equívoco cometido pelo Poder
Judiciário na abordagem do tema, sendo seu motivo muito mais uma questão de falta de
eficiência no exercício de cargo público comissionado, que aliás é também um dos princípios
constitucionais norteadores do Poder Público.
Segundo COUTO, quando da edição da súmula vinculante 13, o Poder Judiciário tomou
como diretriz a resolução n.º 7 do Conselho Nacional de Justiça, uma normativa interna
daquele ente que abarcava toda a órbita do Poder Judiciário e que regulamentava a proibição
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da existência do nepotismo entre servidores daquela esfera, sem, entretanto, estender seus
efeitos aos Poderes Executivo e Legislativo.
Após sua edição, a súmula vinculante 13, como sua própria denominação revela, vinculou
os efeitos da proibição da existência do nepotismo a todos os entes públicos de todos os três
poderes (Judiciário, Executivo e Legislativo) e de todas as esferas de poder (Federal,
Estadual, Municipal e Distrito Federal), possuindo a partir do momento de sua publicação
efeito de lei, já que por definição e segundo a Constituição Federal, somente por força de lei
um ato pode compulsoriamente ser imputado a ser ou não ser realizado.
Que o nepotismo foi proibido é fato passivo e inquestionável, sendo exceção somente o
rol de cargos comissionados classificados como de natureza política. Também foi notória a
boa aceitação da população quanto à edição daquela normativa judiciária, entretanto, é
forçoso questionar alguns pontos que até então carecem de ser pontuados, sendo o primeiro:
Até que ponto a existência de nepotismo no provimento de cargos públicos (de provimento
em comissão) é danoso ao ente estatal e como avaliar a imoralidade de uma nomeação
baseada no grau de parentesco?
Sim, em princípio tal questionamento poderia submeter o leitor à ideia de que tal vertente
seria uma defesa à manutenção do paternalismo exacerbado ou das máfias políticas, que se
fecham em si como um círculo de criminosos. É evidente que tal questionamento não possui
tal condão mas eleva o cerne da problemática da imoralidade declarada como fundamental
alicerce para a constituição da proibição aos reais objetivos da referida classificação.
Sendo mais claro e conciso, a questão acima opõe aceitação de que a imoralidade no
provimento de cargos públicos de natureza comissionada decorra do vínculo de parentesco, já
que em nenhum momento a Constituição Federal dispõe que seu provimento seja realizado
com a submissão a prévio concurso público ou a quaisquer outros métodos isonômicos de
classificação, muito pelo contrário, a dita Constituição pugna clara e objetivamente de que tais
cargos, de natureza comissionada, serão providos e vagos segundo a discricionariedade da
autoridade competente.
A imoralidade reside no fato de que quando investido em cargo público, seja de qual
natureza for, o servidor deve fazer jus à remuneração percebida, em resumo deve eficiente e
laborar em conformidade com as demandas e atribuições de sua função, além de zelar pelos
princípios de conduta profissional e atender às exigências e normativas lhe atinentes,
obviamente.
Por outro lado, muitos servidores aparentados das respectivas autoridades nomeantes são
exemplos de profissionais atuantes, zelosos pelo desempenho, pela eficiência, pela honradez e
seguindo das normativas legais e regulamentares. Nestes casos, poder-se-ia dizer que o
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simples fato de que o vínculo de parentesco seria danoso ao erário? Poder-se-ia classificar
como improba ou imoral a relação profissional de um cidadão dedicado com o objetivo a que
se propõe o cargo que ocupa? Por fim, cabe questionar, o que é mais danoso à ordem pública:
um servidor que embora sem ocorrência de nepotismo fora investido como favorecimento
politiqueiro e que figurará somente como despesa para o ente público e outro que, mesmo
havendo a ocorrência de nepotismo direto, se dedica de forma eficiente à execução das
funções a que seu cargo demanda? A resposta é muito fácil, o servidor contratado em
favorecimento politiqueiro é muito mais prejudicial ao poder público já que não produz, se
consubstancia em mera despesa improba.
Sim, existe realmente imoralidade no contexto abarcado, entretanto, ela está subsidiada
pela remuneração realizada pelos cofres públicos de serviços não prestados, não estando, em
análise aprofundada, sustentada na mera existência do nepotismo já que cargos de natureza
comissionada nunca foram para ampla concorrência, estando pautadas essas nomeações no
vínculo de confiança entre servidor e agente nomeador.
Com certeza a edição da Súmula Vinculante 13, cuja proposta era o banimento do
nepotismo nas nomeações para cargos de provimento comissionado nos poderes públicos
brasileiros não atingiu sua eficácia.
Vários autores pugnam que tal ineficácia tem origem na interpretação realizada pelo
Supremo Tribunal Federal quando criou a distinção entre cargos comissionados no sentido
amplo e cargos comissionados de natureza política, estes últimos tendo a permissão para que
ocorressem nomeação ora repudiadas pela Súmula Vinculante 13 em razão de que tais cargos
carecem de serem providos com pessoas calibradas com maior confiança em relação ao
agente nomeador, geralmente agente político.
Essa abertura na proibição nepotista trouxe à baila novas situações e problemáticas até
então não vivenciadas em muitos municípios.
É válido enfatizar que a criação das secretarias municipais e de sua respectiva estrutura
de cargos não é ato ilegal, inconstitucional ou imoral, posto que tal circunstância se encontra
pautada na discricionariedade do poder do agente político, o vício está na criação de despesa
sem motivação, pelo menos motivação justa.
Assim sendo, a real situação maculosa ora reinante, a oneração do erário com pessoas
ineficientes, não foi solucionada, muito pelo contrário, como os cargos outrora ocupados por
agentes nepotistas foram vagos e providos por pessoas cujo grau de parentesco não eram
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vedados pela Súmula Vinculante 13 e aquelas pessoas exoneradas por improbidade à norma
nepotista foram investidos em cargos comissionados de natureza política, o nível da despesa
com pessoal teve um incremento considerável daquele momento (vigência da Súmula
Vinculante 13) em diante.
Embora sejam necessárias várias adequações para que a norma proibitiva em tela alcance
a eficácia pretendida, mudando o enfoque problemático, é claro que após a vigência da
Súmula Vinculante 13 houve um novo enfoque em relação aos cargos de natureza
comissionada, principalmente pelo Ministério Público, que passou a atuar com maior
acuidade em relação às atividades que os mesmos exercem.
Se a súmula vinculante 13 não foi a solução para o provimento ético dos cargos
comissionados, qual será a alternativa a ser adotada?
Essa é uma difícil questão já que ética e moralidade são elementos culturais dinâmicos
que devem ser formados ao longo de gerações e que se constituem a partir de preceitos
compilados através do convívio social.
Há, entretanto, formas objetivas que alguns doutrinadores do ramo do direito público
adotaram como solução basilar da celeuma: adotar uma proporcionalidade estrita de cargos de
provimento comissionado em relação ao número de cargos efetivos.
Tal saída é fundamentalmente racional pois uma vez que a Constituição Federal dita a
finalidade para qual os cargos de provimento em comissão se destinam, sendo exclusivos para
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as atribuições de chefia, direção ou assessoramento, é razoável fixar um número de servidores
de carreira que serão submetidos às ordens desses servidores comissionados, justificando a
criação de despesa além de se configurarem em importantes auditores e regradores para a
autoridade nomeante.
A medida acima também elimina a questão da ineficiência, pois obriga à pessoa investida
no cargo comissionado a dirigir (chefiar ou assessorar) servidores de carreira e serviços
prestado pelo ente público e força a autoridade nomeante a selecionar pessoas com perfis
específicos, detentores de conhecimentos ou de capacidade de liderança, em resumo,
consubstanciando em notável ganho para o poder público.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como resultado dos estudos realizados para a confecção do presente trabalho acadêmico,
ficou claramente demonstrada a origem racional da prática do nepotismo bem como de sua
denominação contemporânea, ficando agregada a responsabilidade desta autoria à classe
eclesiástica do Vaticano, quando das nomeações de sobrinhos do Papa para exercício de
cargos junto àquela organização ecumênica.
Quanto ao fundamento de síntese é bastante lógico e razoável: Os governantes de outrora
preferiam manter o poder restrito aos entes com vínculo sanguíneo, pois assim estariam
delegando autoridade a pessoas de confiança.
A finalidade do presente artigo científico foi analisar a prática do nepotismo sob a ótica
do regramento constitucional (Constituição Federal de 1988) em relação ao provimento de
cargos de natureza comissionada das organizações públicas brasileiras (Administração Direta
e Indireta e das Esferas Federal, Estadual e Municipal), bem como contrapondo tais
informações na busca da relação de causa-efeito da proibição desta prática de vínculo
(nepotista), imposta pelo Supremo Tribunal Federal quando da edição da súmula vinculante
13.
O argumento de base sustentado pelos nobres ministros do Supremo Tribunal Federal era
o de que a prática do nepotismo no provimento de cargos comissionados contrariava os
princípios constitucionais de moralidade e de isonomia, já que o ingresso a tais cargos não era
acessível a todos os cidadãos.
Bem, em relação ao acesso a estes cargos o erro do Supremo Tribunal Federal foi crasso,
já que a Constituição Federal pondera claramente que tais cargos são de livre nomeação e
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exoneração da autoridade nomeante, ou seja, o único critério de provimento é o desejo (ato
discricionário) daquela autoridade.
Após estudos mais aprofundados foi comprovado que o elemento danoso presente no
provimento de cargos de natureza comissionada não estava restrito somente ao vínculo de
parentesco do agente nomeado em relação à autoridade nomeante, mas sim em virtude da
ineficiência ora demonstrada pelos agentes, não sendo este quadro exclusivo àqueles
aparentados.
REFERÊNCIAS
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 40ª ed. Atualizada por Délcio
Balestero Aleixo et al. São Paulo: Malheiros Editores, 2014.
MORRO AGUDO, Município de. Lei nº 2613/2008. “Dispõe sobre a criação e alteração de
Secretarias Municipais e cargos que especifica e dá outras providências”. Acervo Municipal.
2017.
PÉRES, Taynah Litaiff Isper Abrahim Carpinteiro. SILVA, Adriana Carla de Souza. Súmula
Vinculante nº 13: a “estrada dos tijolos amarelos” do funcionalismo público brasileiro.
Disponível em <https://jus.com.br/artigos/22866/sumula-vinculante-n-13-a-estrada-dos-
tijolos-amarelos-do-funcionalismo-publico-brasileiro>. Acesso em: 28 ago. 2017.
SOUSA, Arthur César Albuquerque de. Súmula Vinculante 13: nepotismo e cargos
públicos. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba, 2014.