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Luiz Tatit Iva Carlos Lopes Eos DE MELODIA E LETRA andlise semiética de seis canoes ‘ee eto Coprigho 28 Le Cal apes nis sada rtp pl 9610 19 ce ec de 18. sis « ‘ea oun pc sem ator, porate, Do nena de Cath ma Ping (C1P) (ina Bnd L$, Sr Bose ee amie conic dei nee Ls Taha aor ape = Ct Se ‘ole enc s748-74904088 grin Lisi pote = Lat 2. Sem apes ae i —___cv0-missnt (nr ig sini Lars ang Ae sein Dirsoorsaed prt Enon asd lic de Carpe 97 D0 Crane Vina ~Cate= SP “Tet 63566 ‘enetdicombr/ at ca br aa Joga Introdugto ‘CaBtano Vavoso “Tetra” — Aportanda na Cangio “Fora da Ordem” ~ Ciclos de Construgio ¢ Ruina .. Cinico Buarque “Olé, Ole” ~ Sol Contra Samba “As Vitrines” ~ Caréncia © Prager «2. + 00+ ‘Tox Jos / Vinicius ps Morass “Bu Sei que Vou te Amat” ~A Emogio Cantada.....-. “A Felicidade” ~ Blogio a Leveza Bibliografia Citada... Publicagdes Avusas dos Capituos.. SUMARIO 15 31 279 13 153 us 77 “OLB, OLA” — Sor ConTRA SAMBA No decorrer de sua primeita fase de implantagio, a teoria, seiidtics ensinava que a erdem temporal dos acontecimentos. descitos num discurso constituia uma das formas de ordenacto Final de fungdes mais abstratas,oriundas de um plano légica-nar- rativo subjacente. Tinhamos, assim, num nivel puramente gea- ‘matical, as posigdes € os papéis actancias, com seu estatuto de pressuposto, ¢, num nivel mais préximo A manifestaglo do texto, © tratamento sequencial ~ 2 aspectualizagto e a temporaizagio propriamente ditas ~ que, na qualidade de elemento pressupo- nent, atribufa uma orientaglo cronol6giea aos segmentos defi- nidos por um sister lice, Essa disposiglo dos conceitos atendia is exighncias dle coe- réncia do modelo semistico, mas, com o tempo, demonstiou Ferir 0 critério da adequagio, tendo em vista que nem sempee © universo figurativo dos textos analisados pressupunha formas narrativas bem constitu e além disso, essas mesmas formas jé dlenuncfavam uma selecia prévia de valores aspectunis (desconti- 9 rnuidades¢ continuidades) que regiara tanto os confltos(sujeito -anti-sueito) quanto 0s acordos (destinacor ¢ destinatitio) en- tre as fangGes actanciais. Ademais, esse period de primazia do componente narrative deixou de lado a anslise do plano da ex- _pressio, a caro aos processos semiticos de natueza atistica ‘Ao longo dos anos 1980, semiotiestas como Claude Zilber- berg (Roison et podtique du sens) e Herman Parvet (Le sublime ‘he quotidien) i charnavam a atengio dos estudiosos para a ne~ ‘cevsidade de uma profunda revisio teérica do esquema gerativo proposto por Greimas-e chegavam a salientar, sem esconder certo enleva com o pensamento de alguns poetas, que © modelo traria bom proveito de um processo de “musicalizagio”. Quetiam dizet com isso que as propriedades “proto-estruturas” da aspectuali- zagio, as mesmas que tegem as articulagbes internas do discurso ‘sical, possuem um grau mais elevado de wnivetsalidace para explicar tanto as formagdes do plano da expressdo como as ope tagbes narrativas e iscursivas do plano do contetdo', Essa hi- pateses esto presentes, de um modo ou de outro, nos principios| tensivos que Jacques Fontanille ¢ 9 préprio Claude Zilberberg véan formulanda desde a dada de 1990%. ‘A precedéncia dos valores aspectuais¢ temporais em relacto ‘os termes das demas niveis do percurso gerativo pode ser veri= ficada com bastante caveza no dominio da cangio, uma vez que seus autores dependem (mesmo que inconscientemente) de ea tegorias gerais para estabelecer compatibilidades entre elementos lingisticos e musieais, Esse campo toma-se ainda mais privile- siado quando o compositor tem por habito o tratamento diteto 1: ea Ln pi, dso Hoang 9 8 hyn & Cle eto 80 das questdes temporais. £0 caso de Chico Buarque, de quem to- ‘mamosa canglo “Ole, Olé” como objeto deste capitulo. Onsenvagoss somne a Lena Ni chore ainda nao Que euteaho umn volo Ens vamos cantar Felicidade aqui Pode pasar e ouvir seal for de samba i de querer fear Seupadie toca o sino Que é pra tode mundo ser Que a noite eerianga Que stds € menine Quea dor to velba Que pode moreet Ol ol lols “Tem sama de sara Quer sabe ser Que entre ne roda Que metre gingado ‘Mo nite cuidado io vale chorar Ni chore ainda nao Que eu tenho une Pract ita chorar Amiga me perdos ‘Se insist a tos Maca vida bos Para quem cestar Meu pinto, tafe, & Que pra todo mundo seordar No fle da vide Nem fale da mote “Ter dé da mening No dia corse Of ole eas “Tem tba de abr ‘Quem sabe sabar ‘Que entee na roda Que morte gingado Moe mito cuidado Nose chorar [No chore sinda mo Que en tenho a impressto (Que osama vem i [Em sims tho imenso Que eas vzes penso {Que proprio tempo para pra ouvir Lau espere um pou ‘Ove po me samba poder hess En se que ilao Bs aco, et re Mata minha vox No cami de chamar Ole ogo ot “Tem samba de obra Ning que samba [No hi sis quer cane [Nem hi lgae mais gar Osa chegou anes Do samba chegar Quem pass nem igs vai uabathar voce minha amiga i pode chorar (© mote "Nao chore ainda no” demarea, por trés vezes, 0 ‘inicio da mesma melodia, e eeonstréi, a cada Vea, arelagio entre destinador e destinatirio, com sua petsuasio em forma de apelo (nao chore"), seguida de uma extensa argumentagio que se propaga pelos demais versos da trina de segmentas. Essas fan- Bes ¢ as numerosos figuras concebidas pelo autor concorrem sem civida para a ordenagao do contesdo exposto, mas no ex- plicam a tensio basica que regula o apela em si nem, de resto, a8 ‘emog6es do enuinciador veiculadas simultaneamente pela letra € pela melodia Na realidade, esse mote inical_ manifesta, antes de tudo, a selegio de valores mais abstratos que aqueles cantidos nas rla- Ges entre os actantes mencionadbos, Nao é dificil reconhecer que (0s termos “ainda nfo” anunciam a escolha de duas articulages tensivas muito bem entrosadas, que podem ser definidas como

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