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PROSTITUIÇÃO: ressignificações trabalhistas e feministas

Por Maria Fernanda Moreira (IEL – UNICAMP)

“'Gosto da minha inseparável companheira, somente a ela que eu amo com amor,
como as abelhas roubam o mel de flor em flor, as mariposas...' Por quê? […] 'As
mariposas do meu peito roubam o amor'. Roubam! Que palhaçada é essa?”
Sandra Cabelão (transcrição do documentário, ver Anexo I, p.25. HELENE, Didi. 28
de janeiro de 2015. Mulheres Guerreiras: desbravando estradas da vida [27:18 –
27:53]).

Desde o final do século XX emergiram no contexto nacional outros sentidos possíveis para
prostituição. Esses deslocamentos que vieram à tona foram produzidos sobretudo pela inscrição na
memória discursiva1 dos sentidos das próprias mulheres que se prostituem. Neste trabalho enfoco
uma dessas produções e mostrarei como ela se discursiviza de uma maneira que me permite
considerar os efeitos de sentidos produzidos por ela não só trabalhistas como também feministas2.
Segundo Andreia Skackauskas Vaz de Mello em sua tese de doutorado Prostituição, Gênero
e Direitos: noções e tensões nas relações entre prostitutas e Pastoral da Mulher Marginalizada,
desde o final dos anos 1980 a concepção de prostituição “ganhou novos contornos com a entrada
das prostitutas nos espaços públicos reivindicando direitos enquanto trabalhadoras […], no âmbito
internacional e também no Brasil” (SKACKAUSKAS, 2014, p.4). Um dos marcos brasileiros deste
movimento, de acordo com a autora, “foi o I Encontro Nacional de Prostitutas no Brasil, que
aconteceu no ano de 1987 e trouxe a público, fundamentalmente, a denúncia da violência policial
contra as prostitutas nas principais capitais do país” (Moraes, 1995; Rodrigues, 2003; Olivar, 2010;
Lenz, 2011; Simões, 2011) (Idem, p.94).
Neste mesmo ano, logo após este encontro, foi criada a Rede Brasileira de Prostitutas na
cidade do Rio de Janeiro que deu início ao movimento associativo das prostitutas no Brasil (Idem,

1 Memória discursiva é entendida aqui “como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. É o [...]
saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito que está na base
do dizível, sustentando cada tomada da palavra. […]” (ORLANDI, 1999, p.31). Para além de subsídio do que pode
vir a ser dito, já significa muito, porque representa “um saber / poder / dever dizer, em que os fatos fazem sentido
por se inscreverem em formações discursivas que representam no discurso as injunções ideológicas” (Idem, p.53).
É sobre essa memória, de que não detemos o controle, que nossos sentidos se constróem [...]” (Idem, p.54). Também
conhecida como interdiscurso, essa memória admite inclusive que nem tudo que já dito seja lembrado, afinal por ser
“da ordem da [...] memória afetada pelo esquecimento” (Idem, p.34), exige para ser lembrado a inscrição em uma
memória – vale notar que isto está intrinsecamente relacionado com as possibilidades de circulação de seus dizeres.
2 “As teorias feministas são inúmeras, mas todas partem de uma consideração elementar: que a opressão das mulheres
é um fato histórico, social e cultural inquestionável” - formula Carla Cristina Garcia em Os novos feminismos e os
desafios para o século 21, um texto jornalístico (sintético e muito bem fundamentado), disponível em
http://revistacult.uol.com.br/home/2015/03/os-novos-feminismos-e-os-desafios-para-o-seculo-21/, acessado em 18
de Out. De 2016. Para além deste embate, rejeito alguns sentidos associados à feminilidade como “fragilidade,
irresponsabilidade, irracionalidade, passividade, incapacidade física, desregramento moral, superficialidade […],
desdobrando-se em sedução, artimanhas, armadilhas para os incautos” (SWAIN, 2001, p.15). Recuso também a
redução do feminino a um corpo sobre o qual o sujeito não se tem gerência. Para uma revisão detalhada a respeito
de fases ou ondas do feminismo, ver Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes
brasileiras (PISCITELLI, 2008).
p. 96-97)3. Hoje constam como membros integrantes desta Rede pelo menos nove associações4.
A primeira manifestação pública que se tem notícia é ainda mais antiga: junho de 1975 5.
Kempadoo e Doezema (1998) consideram que “essa grande mobilização desencadeou a emergência
de um movimento altamente politizado em defesa dos direitos das prostitutas na Europa, que
sinalizava para o começo do movimento autoidentitário com o estabelecimento/fortalecimento de
organizações” (apud SKACKAUSKAS, 2014,p. 94).
No capítulo 2 de sua tese, entitulado A Mulher anunciando a Libertação, a autora diz ainda
que a figura da prostituta como trabalhadora sexual, reivindicando direitos análogos a de outros
trabalhadores prestadores de serviços, já vinha sendo discutida desde a década de 1970 nos Estados
Unidos e na Europa. No Brasil, no entanto, a reivindicação por direitos trabalhistas apareceria
apenas em 1994 no III Encontro Nacional das Trabalhadoras do Sexo e só se sustentaria de maneira
mais firme depois do lançamento de uma campanha nacional executada pelo Programa Nacional de
DST/AIDS em 2002 em parceira com a RBP. Nesse sentido,
a campanha “Sem vergonha, garota. Você tem profissão” tem considerável
importância ao se empenhar em afirmar pela primeira vez na história das
políticas públicas a identidade profissional da prostituta. Entre as idas e
vindas das representações e resistências entre setores da Saúde e prostitutas,
foi possível que a Rede partir daquele momento fosse alçada à “braço
direito” do trabalho preventivo proposto pelo Ministério da Saúde (SIMÕES,
2011, p.473 apud SKACKAUSKAS, 2014, p.97-98).

Essas conquistas, em termos de reconhecimento e legitimidade pelo poder público,


representam ao meu ver o resultado de muita pressão popular e de um intenso trabalho de
representação política das mulheres que se prostituem e se assumem publicamente enquanto tal.
Digo isto por considerar o contexto brasileiro tão marcado pela cristalização de sentidos médicos-
sanitaristas ao significar as prostitutas (associando-as diretamente ou não à doenças e à sujeira) ou
ainda aos sentidos policiais ao associá-las à criminalidade e à marginalidade.
A ocupação dos espaços públicos por elas próprias possibilitou inclusive a inscrição de seus
sentidos. Dos anos 1990 aos anos 2010, foram

3 Sob a influência desse encontro, Aparecida Fonseca Moraes (1995) afirma que as prostitutas da Vila Mimosa em
setembro do mesmo ano (1987) foi criada a Associação de Prostitutas do Rio de Janeiro. De acordo com Lenz
(2011), o mesmo esforço foi seguido em outras partes do Brasil, em 1990, quando foi criada a Associação de
Prostitutas do Ceará, a “Associação Gaúcha de Prostitutas” – que em 1991 passaria a ser Núcleo de Estudos da
Prostituição (Olivar, 2010) – e outras duas organizações em Belém e em Aracaju (LENZ, 2011 apud
SKACKAUSKAS, 2014, p.97).
4 Entre as mais de 30 organizações que compõem esta rede como ONGs, núcleos de pesquisa e outros grupos,
encontramos ao menos 9 associações: Associação das Prostitutas Minas Gerais - Belo Horizonte / MG, Associação
Mulheres Guerreiras – Campinas / SP, Associação de Mulheres Profissionais do Sexo do Estado do Amapá / AP, As
Amazonas - Manaus / AM, Associação de Prostitutas da Bahia - Salvador / BA, Associação das Prostitutas do
Maranhão - São Luiz / MA, Associação Pernambucana das Profissionais do Sexo – Recife/ PE, Associação das
Prostitutas da Paraíba - Campina Grande / PB e Associação de Prostitutas de Piauí - Teresinha / PI. (Informações
disponibilizadas pelo site “Um Beijo Para Gabriela”, http://www.umbeijoparagabriela.com/?page_id=2579.
Acessado em 9 de Out. 2016).
5 Para uma revisão mais detalhada, Skackauskas (2014, p.70) indica e resenha Les filles de noce. Misère sexuelle et
prostitution aux 19e et 20e siècles de Corbin de 1978.
as próprias prostitutas travando suas lutas políticas ou simplesmente
contando suas histórias mais íntimas [que], de alguma forma, [já] estão
implícita ou explicitamente, recusando/fugindo/questionando a linguagem do
sofrimento e da compaixão proferida por aqueles que adotam a lógica do
resgate [...] (Idem, p.4).

Exemplos disto são as biografias de Gabriela Leite (1992, 2009), de Sally Gogu (1994), de
Bruna Surfistinha (2005) e das prostitutas da Daspu (2007). Um movimento semelhante se deu na
produção acadêmica nesta mesma época. Elas aumentaram consideravelmente
em estreita colaboração com as ideias das trabalhadoras do sexo (sendo
muitas produções escritas por elas), [em] que consideram esses indivíduos
enquanto sujeitos de direitos integrantes de uma categoria ocupacional. De
modo geral, essas produções contestam frontalmente o estigma vinculado à
prostituição, inclusive nas abordagens feministas (Idem, p.79).

Um dos grandes deslocamentos introduzidos por estas perspectivas trabalhistas a respeito da


prostituição nestas produções residiu, de acordo com Piscitelli, em como passou a ser encarada as
pessoas que prestam serviços sexuais: “o deslocamento se reflete em perspectivas que longe de
considerar as (os) trabalhadores do sexo vilãos(ãs) ou vítimas concedem a eles um lugar de seres
dotados de capacidade de agência6” (2005, p.14-15).
Partindo da ideia de que “não há dominação sem resistência” (PÊCHEUX, 1978, p.281) e de
que a transformação só é possível porque há falhas e contradições que permitem na reprodução do
“mesmo” movimentos de resistência, pretendo explicitar neste trabalho como linguisticamente se
marca os sentidos próprios de uma posição sujeito 7 e como esses sentidos se relacionam com os
sentidos de outras posições com os quais direta ou indiretamente dialoga (tecendo vínculos de
aliança, antagonismo, dominação ou subordinação).
Tomando como objeto de análise o documentário “Mulheres Guerreiras: desbravando
estradas da vida”8 produzido e distribuído pela Associação Mulheres Guerreiras de Campinas / SP,
quero demonstrar como ele reitera, desloca, nega e estabelece fronteiras com outros discursos 9 ao
constituir seu dizer. Nesse fluxo, questiono: quais são os sentidos sustentados pela Associação

6 Para a autora, a noção de agência representa a “capacidade de ação, mediada social e culturalmente” (PISCITELLI,
2013, p.22). Além disto, ela não toma agência como sinônimo de resistência, embora admita que ela possa funcionar
desta maneira.
7 Retomamos esta noção porque nos interessa descrever aqui “[…] não [só] os sujeitos físicos [e] os seus lugares
empíricos como [...] estão inscritos na sociedade e que poderiam ser sociologicamente descritos [...], mas suas
imagens que resultam de projeções”. Afinal, “são essas projeções que permitem passar das situações empíricas – os
lugares dos sujeitos – para as posições dos sujeitos no discurso” (ORLANDI, 1999, p.40). Não desconsideramos
essas relações de força que existem entre os dizeres. Afinal, “se o sujeito fala a partir do lugar de professor, suas
palavras significam de modo diferente do que se falasse do lugar do aluno. [...]” Além disto, “como nossa sociedade
é constituída por relações hierarquizadas, são relações de força, sustentadas no poder desses diferentes lugares, que
se fazem valer na [dita] 'comunicação'” (Idem, p.39). A produtividade deste conceito para nós reside sobretudo em
não estacionar no lugar empírico ocupado pelos sujeitos para compreender os efeitos de sentido produzidos;
extremamente importante considerar quando pensamos que os sujeitos são constituídos também pela contradição.
8 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=zgCf_QQjxRg. Acesso realizado em 13/10/2016 às 14h40.
9 Eni Orlando, em Análise do Discurso: princípios e procedimentos, define discurso como o “efeito de sentidos entre
locutores” (ORLANDI, 1999, p. 19).
através do documentário? E como essas formulações rompem com a objetificação urbanista e como
deslocam a vitimização abolicionista? Quais são os elementos que me permite encarar estas
formulações enquanto marcadamente feministas?
Para começar a explorar essas questões, apresentarei o corpus que disponho, tecendo
algumas considerações sobre ele. O objetivo deste percurso é explicitar como esse documentário
produz efeitos de sentido. Começarei então por como o gênero discursivo desta produção áudio-
visual já produz sentidos.

Documentário

O primeiro passo será delinear brevemente suas condições de produção 10. Eunice Pereira
Guimarães em sua dissertação Os documentários na constituição imaginária de sujeitos e
identificações, ao apresentar o funcionamento discursivo dessas produções, afirma que esse gênero
discursivo multimídia visa apresentar a proposição de um problema ou tópico. Seguido de
informações históricas, “desenvolve uma narratividade que se presta a um exame de seriedade ou
complexidade da temática enfocada” (GUIMARÃES, 2013, p.36).
Em linhas gerais, o documentário em análise visa apresentar fundação da Associação
Mulheres Guerreiras e apresentar sua história até então. Essa narrativa é elaborada a partir de
excertos de diversos depoimentos em que “os registros históricos em funcionamento […] recortam
fragmentos da realidade”. No entanto, os fragmentos “só se constituirão em documentário se
conduzidos por uma narrativa que constitui unidade em torno do que é contado” (Idem, p.37). Ou
seja, o documentário precisa constituir um fio do dizer que contemple e organize um passado e um
presente discursivamente, que narre um acontecimento.
Neste documentário a narrativa se desenvolve iniciando em um momento que antecedeu a
fundação da associação, ou seja, constituindo toda essa parte da história enquanto passado,
construindo um “antes”. A partir do ensejo da apresentação histórica, inclusive, denuncia. E é a
partir das sistemáticas violações de direitos humanos, promovidas não só pelo poder público como

10 “No sentido estrito, condições de produção são as circunstâncias da enunciação, é o contexto imediato. No sentido
amplo, ela inclui o contexto sócio-histórico, ideológico. Esse sentido amplo se relaciona com a noção de memória
(interdiscurso)” (ORLANDI, 1999, p. 30-31). O contexto sócio-histórico e a marcação ideológica é materializada
linguisticamente na (re)produção de dois efeitos: o de pré-construído e o de sustentação. Para Pêcheux, o efeito de
pré-construído é entendido enquanto “discursos anteriores à enunciação em que algo fala sempre antes, em outro
lugar e independentemente” (PÊCHEUX, 1975, p. 162) e que “corresponde[m] ao 'sempre-já- aí' da interpelação
ideológica que fornece-impõe a 'realidade' e seu 'sentido' sob a forma da universalidade” (Idem, p.164). Além disto,
esse efeito é associado ao funcionamento da metáfora: um termo pelo outro, é o que permite a substituição
contextual (orientada a traçar diferentes domínios semânticos). Já o efeito de sustentação (também conhecido
como“discurso transverso”) é responsável pela articulação de enunciados. Podemos dizer que ele basicamente
constitui a “lógica” que articula os elementos tomados como dados, com expressiva marcação ideológica (ou seja,
relativo a diferentes formações discursivas – aliadas, antagônicas, subordinadas ou dominantes). “O [...]
funcionamento do 'discurso transverso' remete àquilo que, classicamente, é designado por metonímia, enquanto
relação da parte com o todo, da causa com o efeito, do sintoma com o que ele designa, etc.” (Idem, p. 166).
também por membros da sociedade civil, que se desenvolve a reconstituição de fatos. Através deste
evento o documentário constitui e atualiza uma memória. Assim, associadas e parceiros políticos
trazem à tona e se colocam contra as políticas públicas de enobrecimento dos centros urbanos 11.
Essas e outras medidas legitimavam e requeriam a expulsão das prostitutas que trabalhavam no
centro da cidade a fim de segregá-las em zonas de confinamento 12. Destacam ainda na retomada
histórica que fazem que a imposição de políticas marginalizantes só foi possível a partir da aliança
entre comerciantes locais, especuladores imobiliários e representantes religiosos.
Traçado este contexto, o documentário apresenta o passado recente da fundação da
associação narrando da mobilização das prostitutas associadas (primeira reunião, primeira eleição,
primeira assembleia). Para além dos processos de formalização da associação (como elaboração do
estatuto, registro dos documentos em cartório), apresenta ainda atividades internas de formação.
Conta também das ocupações do espaço público que realizaram a exemplo de uma passeata
contra o fechamento dos hotéis e bares, promovida pela prefeitura, com o intuito de inviabilizar a
prestação de serviços no centro da cidade de Campinas.
Outras formas de resistência e protagonismo entram em cena ainda quando o documentário
mostra que, de acordo com a Associação, lugar de puta é na política e na luta: na universidade, em
desfiles, em congressos, em encontros, em seminários. Em Campinas, em São Paulo, no Rio de
Janeiro e em Florianópolis. Estes gestos, “ao mesmo tempo que constró[em] o acontecimento que
mostra, produz[em] um passado” (ORLANDI, 2011, p.56 apud Idem p.35). Além disso, através
dessas produções entalham suas memórias no interdiscurso e tornam possível que essa história
reverbere.
É ainda digno de nota que este gênero discursivo se vale de uma apresentação que traz em
seu bojo uma recomendação ou solução conclusiva, ainda que dê espaço à polêmica (mesmo que
também bastante monofônica13). Isto pode ser observado em como o documentário compõe sua
11 Também chamado de gentrificação, este processo diz respeito à expulsão de moradores estigmatizados de
determinados espaços a fim de empreender nestes espaços um processo de valorização imobiliária e comercial. Ele
“remete [à] [...] transformação do espaço urbano e ocorre, com ou sem intervenção governamental, nas mais
variadas cidades do mundo” (BERNSTEIN, 2008, p.346). As especificidades do contexto brasileiro é marcado pela
herança do início da modernização em que, por não existir ainda “a diferenciação espacial entre os equipamentos
urbanos valorizados e os desvalorizados, [as] 'moradias e edifícios públicos, os cortiços e sobrados, mercados e
igrejas, cemitérios e asilos' foram se agregando [...] sem obedecer à uma ideia de planejamento”. A partir da
instituição de uma proposta burguesa para a cidade, no entanto, essa espontaneidade não seria mais adimitida. A
urbanização empreendida instituiu uma configuração que regulou inclusive a “ocupação deste espaço e a
movimentação intra e interespaços” (HELENE, 2014, p.3). Construindo para além de um esquadrinhamento da
cidade, “um espaço de interpretação, que permite que o urbano seja interpretado como sendo 'a cidade', ou mais,
permitindo interpretações sobre 'o lugar (de) X na cidade'. Legitimando as representações dos espaços e fazendo
sentido para o sujeito” (ORLANDI, 2001, p.15).
12 Territórios específicos para o meretrício, delegando à prostituição áreas confinadas distantes o suficiente ou
preservadas de modo a não ameaçar os valores morais da urbanidade moderna. Esses locais segregados facilitariam
o controle da saúde, e fundamentalmente do corpo das prostitutas, visando a não propagação de doenças. (HELENE,
2014, p.13)
13 A monofonia pode ser definida como resultado de uma voz socialmente homogeneizante que faz parte do
mecanismo articulado entre o silenciamento e a injunção do dizer posta em prática por mediadores que distribuem
socialmente os sentidos (ORLANDI, 2008, p. 44). Ou seja, diz respeito ao que pode e deve ser dito: se relaciona
narratividade a partir de um mosaico de diferentes vozes: associadas e parceiros políticos 14. Ou seja,
ele funciona na tensão do dizer não só da heterogeneidade discursiva entre as prostitutas associadas
como também entre os apoiadores: uma representante do poder público, um integrante de um
coletivo, uma figura vinculada à uma ONG religiosa e duas extensionistas da universidade.
É pertinente destacar ainda que este documentário, produzido e distribuído pela Associação
Mulheres Guerreiras, foi lançado na edição de 2014 do PutaDei 15 de Campinas. Exibido pela
primeira vez neste evento público no centro da cidade em 2 de Junho, ele representa um dos dizeres
das prostitutas da maior zona de confinamento da América Latina, o bairro Jardim Itatinga.
Este lançamento fez parte da programação do dia internacional da prostituta e ele contou
também com um seminário no Salão Vermelho da Prefeitura a fim de discutir a regulamentação da
prostituição e apresentações artísticas como o desfile da Daspu e o grupo Samba das Mina. Cerca de
cem cópias do documentário foram vendidas a fim de arrecadar fundos para associação e pouco
menos de dois anos depois, foi tornado público a partir de uma conta pessoal na internet. Segundo
indicadores do site YouTube, em outubro de 2016 este vídeo contava com 1062 visualizações.
Para delinear as recomendações e a soluções conclusivas, por sua vez, mais do que o que foi
dito, exige que consideremos como foi dito. Justamente por conta disto me interesso aqui,
sobretudo, pela forma pela qual essas histórias são discursivizadas. Afinal, neste processo sentidos
são disputados, fronteiras discursivas são estabelecidas e a contraditória posição de sujeito de
direito que reivindicam para si ganha corpo (demarcando inclusive a partir de quais especificidades
se sustentam).
Por conta da extensão deste artigo, não será possível discutir adequadamente muitos trechos.
Sendo assim, trago aqui para análise dois recortes que realizei ao considerá-los representativos para
as questões que viso aqui discutir. Foco, portanto, em como este documentário rompe com sentidos
médico-sanitaristas e urbanistas higienistas (que ressoam formulações regulamentaristas16) e como
intrinsecamente com a noção de formação discursiva e de memória discursiva.
14 Entre as primeiras estão, por ordem de apresentação, Teresa, Betânia, Marlene, Denise Martins, Laura, Elaine,
Sandra Cabelão e Maria Lúcia. Os apoiadores, por sua vez são: Rose do Centro de Testagem e Aconselhamento,
Centro de Orientação e Apoio Sorológico e Centro de Referência DST/Aids (CTA/COAS/CR DST-AIDS), Paulo
Mariante (advogado do [coletivo LGBTT] Identidade), Irmã Maria Lourdes Vicari da ONG “Centro de Promoção
para um Mundo Melhor” (CEPROMM), ligada à Pastoral da Mulher Marginalizada e Aline e Diana, ambas da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UNICAMP (ITCP-UNICAMP).
15 O Puta Dei é um evento realizado em celebração do Dia Internacional da Prostituta. Comemorado tradicionalmente
2 de junho, este dia tem o objetivo de fortalecer a visibilidade das pautas do movimento organizado como forma de
lutar contra o estigma e o preconceito social, principais obstáculos para as conquistas de direitos. Também visa
denunciar a discriminação e a exploração das prostitutas, assim como as precárias condições de vida e de trabalho.
No Brasil, o dia começou a ser comemorado em Belém do Pará, em 2012. Em 2014 se estendeu também a cidades
de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Informações veiculadas pelo site do Sindicato dos Trabalhadores da
UNICAMP - STU (http://www.stu.org.br/puta-dei-em-homenagem-ao-dia-internacional-da-prostituta/) e pela revista
Caros Amigos (http://www.carosamigos.com.br/index.php/fale-conosco/expediente/73-agenda-cultural/palestras-e-
encontros/815-campinas-tera-puta-dei-pela-primeira-vez).
16 a perspectiva jurídica regulamentarista segue a noção de que “a prostituta deve ser controlada para servir da melhor
forma possível ao seu papel social e, portanto, esta atividade é encarada enquanto necessária para o 'equilíbrio
social'” (SKACKAUSKAS, 2014, p.15). Essa noção de equilíbrio e de social parte da lógica de que a instituição
familiar tal como descrita (heterossexual, geradora de filhos e monogâmica para as mulheres) é a unidade base da
desloca perspectivas feministas abolicionistas17 , se contrapondo às duas primeiras e ressignificando
esta última. Nesta próxima parte busco levantar a partir das análises possíveis respostas para essas
questões.

Recortes

Em relação à primeira questão, desenvolvo trechos referentes sobretudo à disputa de


sentidos. Enfoco a divergência representada pelo documentário e como os sentidos do outro são
ressignificados ao ser incorporado em um discurso, ao negá-los ou deslocá-los.
Em relação à segunda questão viso demonstrar como o protagonismo se marca, como as
dificuldades associadas ao trabalho assumem o tom de denúncia e não de resignação e qual o tipo
de enfrentamento que se toma como referência.
Comecemos juntos a explorar a primeira. Logo ao primeiro minuto do vídeo nos deparamos
com o seguinte trecho:
Denise Martins (Ass. Mulheres Guerreiras): As reuniões elas
começaram a acontecer porque toda vez que mudava de governo.
Rose (CTA/COAS/CR DST-AIDS): Em anos de mudança de gestão
política tem o tal de movimento de limpeza da cidade.
Denise Martins (Ass. Mulheres Guerreiras): Então começava-se todo
o processo de dizer que ia limpar o centro da cidade.
Paulo Mariante (advogado do Identidade): Inclusive com essa
expressão, assim, “limpar o centro”.
Betânia (Ass. Mulheres Guerreiras): Criar uma visibilidade melhor
pro centro de Campinas.
Denise Martins (Ass. Mulheres Guerreiras): “Revitalizar”, que é a
palavra que eles usam muito.
Betânia (Ass. Mulheres Guerreiras): Como se o centro de Campinas
não fosse vivo. Se a gente deixar fica 24 horas lá.
Denise Martins (Ass. Mulheres Guerreiras): Então eles diziam que
tinha que tirar os moradores de rua.
Paulo Mariante (advogado do Identidade): Mendigos ou pessoas em
situação de rua.
Denise Martins (Ass. Mulheres Guerreiras): As profissionais do
sexo.
Paulo Mariante (advogado do Identidade): E todos os demais que
não fossem, que não compusessem aquilo que eles consideravam o
adequado estar no centro (transcrição do documentário, ver Anexo I,
p.18, grifos nossos. HELENE, Didi. 28 de janeiro de 2015. Mulheres
sociedade. Desta forma, a necessidade de conservar a sociedade exige consequentemente a conservação também
desta estrutura como tal, ainda que conflitante com a “natureza” ou “essência” do homem (pessoa do sexo
masculino). Assim, a sociedade como um todo passa a requerer a canalização dos desejos sexuais (prejudiciais ao
vínculo conjugal) do homem às práticas extraconjugais com prostitutas. A partir da perspectiva do “mal necessário”,
busca então engendrar a prostituição a partir de um conjunto de regras que legitime e normatize sua existência,
tomando-a produtiva, útil, restrita e adequada ao seu papel social.
17 “De acordo com as formulações abolicionistas, as prostitutas são consideradas 'vítimas' que devem ser 'resgatadas' e
'reabilitadas' e não punidas ou policiadas, uma vez que a prostituição é considerada uma violência contra os direitos
das mulheres. Nessa perspectiva, a prostituição, vista antes como uma estratégia de sobrevivência, não é considerada
um trabalho eleito e consentido pelas mulheres, mas como um fenômeno social que estigmatiza e exclui as mulheres
de uma vida digna” (SKACKAUSKAS, 2014, p.1), independente de seu consentimento e autodeterminação.
Guerreiras: desbravando estradas da vida [01:22 – 001:32]).

Observe as frases destacadas. A primeira demarca inicialmente pela prosódia (aqui transcrita
empregando o recurso das aspas) que revitalizar é uma palavra que merece destaque. Em seguida
especifica o domínio no qual ela foi empregado (“que é a palavra que eles usam muito”). O
referente do pronome pode encontrado anteriormente, nas duas primeiras frases: governo, gestão
política.
Adiante, especificam os sentidos deste termo, “revitalizar”: “tirar os moradores de rua,
mendigos, profissionais do sexo e todos os demais que não compusessem o que era considerado
adequado para estar no centro da cidade”. Note que o verbo empregado, para além de admitir outros
complementos, exige nesse contexto por mim recortado três argumentos - um sujeito (agente), um
objeto direto (paciente) e um locativo. Em outras palavras, alguém tira alguma coisa de algum lugar.
Este processo de tomar pessoas enquanto “alguma coisa”, objetos da ação de alguém, instalações
removíveis já foi descrito por Zoppi-Fontana ao analisar os processos de designação dos camelôs
em discursos da mídia, da lei e do discurso do sindicato na cidade de Campinas. A autora concluiu
que a reificação (ou objetificação) é uma das operações semânticas que colocam em cena
“processos metonímicos pelos quais os camelôs são definidos enquanto objetos, seja por
contigüidade sintática (enumerações por justaposição), seja através de enunciados definidores”
(ZOPPI-FONTANA, 2005, p. 252). Acrescento ainda: seja ainda através de estruturas sintáticas e
semânticas que tomam as prostitutas enquanto objetos e atribuem a elas o papel exclusivamente de
pacientes (e não de experienciadoras – como em “as mulheres do centro sofriam muita
discriminação”18, em que as mulheres do centro experienciam um estado psicológico ou físico-, ou
de benefactivas – como em “distribuir camisinhas para as garotas de programa” 19, em que garotas
de programa é a entidade que se beneficia do evento) 20. Ou seja, este processo de reificação ocorre
também quando é delegado às prostitutas a partir da regência do verbo empregado nessa formulação
(tirar) o lugar não de alguém, mas de alguma coisa.
Neste mesmo trabalho a autora enfocou os processos de designação dos camelôs em
discursos da mídia, da lei e do discurso do sindicato e concluiu que
o funcionamento desses três processos de designação se caracteriza por
operar no equívoco entre criminalidade e marginalização, produzindo
sentidos que se sedimentam historicamente como senso comum,
sobreinterpretando negativamente a presença dos camelôs no espaço urbano
(ZOPPI-FONTANA, 2005, p.251-2).

Processo semelhante ocorre neste trecho do documentário, em que se faz alusão aos sentidos

18 HELENE, Didi. 28 de janeiro de 2015. Mulheres Guerreiras: desbravando estradas da vida [0:45 – 0:53].
19 Idem, [10:53 – 10:59].
20 Para uma revisão introdutória à teoria temática e à atribuição sintática de papéis θ, ver o capítulo Teoria Temática do
Novo Manual de Sintaxe (2007), de autoria de Carlos Mioto, Maria Cristina Figueiredo Silva e Ruth Elizabeth
Vasconcellos Lopes.
de marginalidade materializando a política pública que irrompe aqui enquanto discurso do outro,
perspectiva tão afim dos discursos de administradores gentrificantes. Esses sentidos elitistas e
higienistas tecem conexões também com a urbanização modernista que dispõe os sujeitos e as
práticas no espaço a partir de sua adequação: assegura que no corpo da cidade cada um(a) tenha seu
lugar, ainda que marginal, irregular, ilegítimo. Materializando desta forma no ordenamento espacial
barreiras simbólicas que atualizam e naturalizam a segregação de determinados sujeitos.
Neste trecho, no entanto, os sujeitos que compõem a narrativa do documentário apesar de
não compartilharem dos mesmos sentidos, não desconhecem os que estão em jogo. Logo após a
demarcação da diferença de concepções, do estranhamento do termo, da quebra no efeito de
evidência21 retoma o dizer deles. Essa delimitação estabelece fronteiras entre o dizer de diferentes
Formações Discursivas: de um lado, as prostitutas associadas e seus apoiadores, do outro, o poder
público e representantes da sociedade interessados na segregação de “mendigos, pessoas em
situação de rua, as profissionais do sexo e todos os demais que não fossem,que não compusessem
aquilo que eles consideravam o adequado estar no centro”.
Partindo deste princípio, portanto, podemos considerar que os sentidos de revitalização
conforme empreendida pelo governo nessas investidas certamente não coincidem com os sentidos
de vida, vitalidade, vitalizar e revitalizar dessas mulheres. Isto se mostra quando Betânia relaciona a
circulação de clientes que demandam seus serviços como sinônimo de vida/vivo e como antônimo
de morte/morto. A quebra na identificação se dá na medida em que não entende este espaço como
abandonado, sem movimentação, deserto, carente de transações financeiras, de consumo e de
prestação de serviços.
Este é um exemplo do enunciado dividido (COURTINE, 1981, p.55), que funde em um
mesmo significante (no caso, revitalizar) diferentes e inconciliáveis sentidos. Reúne em si o
dissensso incontornável que sempre culmina na sobreposição de uma perspectiva à outra. Vale notar
inclusive que eles constituem um espaço privilegiado para observar como se travam as disputas
sociais.
Neste caso, por exemplo, as formulações destacadas sinalizam a quebra da coesão entre
significante e significado para quem enuncia. Indica ainda que esta designação não é delas, mas do
governo. Além disso, funcionam como uma correção, ou seja, não só atestam a diferença mas
também (re)direcionam a argumentação para sentidos próprios dessas prostitutas e dos apoiadores
da Associação. Assim, conduz a narratividade para suas versões dos fatos.

21 A evidência é um efeito de sentido que simula transparência e é fruto do trabalho de uma memória (com a qual o
sujeito se identifica). Em outras palavras, segundo Pêcheux (1975), ele corresponde ao esquecimento número dois,
que é da ordem da enunciação. Também chamado de ilusão da estabilidade referencial, faz com que um nome seja
tomado como literal, neutro. Inclusive “nos faz acreditar que há uma relação direta entre o pensamento, a linguagem
e o mundo, de tal modo que pensamos que o que dizemos só pode ser dito com aquelas palavras e não outras, que só
pode ser assim” (ORLANDI, 1999, p. 34-36).
Ao traçar fronteiras com estes discursos, dá indícios ainda a relação que têm entre si. Nesse
sentido, note que quem diz quais são as supostas pessoas adequadas para estar no centro é o
governo. E mais: diante de mudanças de gestão, se autorizam ainda a redefinir quem tem que sair e
quem pode ficar. Essa perspectiva impositiva de cima para baixo transparece no mínimo uma
relação assimétrica, em que uns decidem e em que os outros supostamente deveriam obedecer.
Marca basicamente uma relação de dominação do governo em relação às prostitutas e,
inversamente, de subordinação das prostitutas ao governo. Isto faz com que os dizeres signifiquem
diferente, que pesem desigualmente.
Além disso, o modo pelo qual elas discursivizam essas relações demarca de cara o
antagonismo: o tal do movimento de limpeza da cidade, inclusive com essa expressão “limpar o
centro”, como se o centro de campinas não fosse vivo. Este cenário não inspira resignação, mas
estranhamento (“inclusive com essa expressão”) e oposição (“o tal do”..., “como se x não fosse y”).
Mais do que demarcar diferença, essa disputa de sentidos realça sua concepção: “como se o
centro fosse morto!”. Esse confronto é crucial para a inscrição de sentidos na memória discursiva,
além de ser um espaço muito importante de disputa, afinal permite que algumas perspectivas
(lógicas, concepções, visões de mundo) se cristalizem (e se naturalizem, se incorporem ao dizer
corrente, ao senso comum) e não outras. Em outras palavras, o embate é não só importante como
necessário porque “se a gente não toma as palavras pelo chifre e assume elas, a gente não muda
nada”22.
Mais adiante, podemos notar também como o documentário retoma o mesmo e o articula de
forma diferente. Neste caso, desloca a “linguagem do sofrimento” (cf. SKACKAUSKAS, 2014,
p.4). Esses elementos discursivos (metafóricos e metonímicos) 23 tão reiterados na significação das
prostitutas24, as significam pela ideia de sofrimento à impotência, incapacidade, fraqueza ou
vulnerabilidade. Essa ligação assume outras feições aqui.
Não negando a violação de direitos humanos aos quais estão expostas, a precarização

22 MURRAY, Laura. (12 de junho de 2013). Porque Gabriela gosta da palavra puta / Why Gabriela prefers the word
puta (whore) [01:27 – 01:37]. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=zgCf_QQjxRg. Acesso realizado
em 13 de outubro de 2016.
23 Uma palavra por outra: assim pode ser sintetizado o efeito metafórico. Definido como o valor de substitubilidade de
um termo por outro dentro de um mesmo domínio discursivo e semântico (GADET; HAK, 1997, p.95), este recurso
analítico permite o mapeamento de possibilidades de substituição ou sinonímia contextual (família parafrástica). O
efeito metonímico, por sua vez, é responsável pela articulação (ou sustentação) de enunciados. Também chamado de
“discurso transverso” materializa na articulação sintagmática a “lógica” que por um lado retoma elementos tomados
como dados (pré-construídos, metafóricos) e por outro marca sua posição ideológica (ou seja, relativa à sua
formação discursiva). Em outras palavras, “o [...] funcionamento do 'discurso transverso' remete àquilo que,
classicamente, é designado por metonímia, [por conta de evocar a] relação da parte com o todo, da causa com o
efeito, do sintoma com o que ele designa, etc.” (PÊCHEUX, 1975, p. 166).
24 Para uma revisão mais detalhada sobre a perspectiva abolicionista enfocando especificamente o contexto brasileiro
nos anos 1970 aos anos 2000 a respeito da prostituição enquanto trabalho ver a Parte 1: Construir-se sujeito
benevolente da tese de Skackauskas. No primeiro, as narrativas da miséria e do sofrimento são resgatadas (p.54-62),
no segundo, confrontos discursivos surgidos quando as prostitutas organizadas enfim entram em campo (p.70-80)
são tematizados e o terceiro, por sua vez, se encarrega da atualização dos debates nos anos 2000 (p.105-134).
trabalhista, a marginalização que a elas é imposta e também a solidão da mulher não branca 25, aos
vinte e três minutos do documentário, Sandra Cabelão enuncia:
Sandra Cabelão (Ass. Mulheres Guerreiras): Olha, eu falo pra você uma
coisa, você sabe a maior arma que nós tivemos? Foi o sofrimento, foi o
sofrimento. Porque é muito duro você ver teu filho sofrendo ou você e você
não ter quem te ajude, você não ter um hospital, você não ter ninguém. Que
mundo é esse aqui, que nós vive? (transcrição do documentário, ver Anexo I,
p.24. HELENE, Didi. 28 de janeiro de 2015. Mulheres Guerreiras:
desbravando estradas da vida [23:39 – 24:00]).

Observe como a noção sofrimento aparece aqui instrumentalizada pela pessoa que o
experiencia, tornando-a agente do que se sucede. Note também como ainda assim não a concebe
como meramente experienciadora, expectadora do que se passa consigo mesma, impotente diante de
violações e opressões (vale notar que se fossem assim concebidas já produziriam outros sentidos, ou
seja, atribuiria a posição de alguém e não de algo e que essa é uma das diferenças entre
perspectivas administrativas médico-sanitaristas e feministas abolicionistas. Além disso, o modo
pelo qual esse dizer é discursivizado no documentário, no entanto, desloca os sentidos vitimizantes
e articula suas queixas, tomando para si a posição de sujeito, de agente. Nessas formulações,
sofrimento não só é arma, como é a maior delas. Ressoa: se formos falar de armas de luta, temos
várias.
Este funcionamento de deslocar os sentidos a partir de categorias que tecem conexões com
dizeres outros (e, muitas vezes, antagônicos a este) é semelhante ao descrito por Pêcheux quando
toma por exemplo a formulação “o homem que morreu na cruz jamais existiu”. Nele, apesar de
retomar um referente cristão (aquele que morreu na cruz), articula os elementos pelo discurso ateu
(nunca existiu). Ou seja, para além de estabelecer fronteiras com o dizer do outro, ainda que o
retome, se contrapõe a ele. Sobre este mesmo exemplo, Danny Jessé Falkembach Nascimento e
Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes no trabalho Discurso da Mídia ou Interdiscurso? A
memória discursiva em pauta, ao analisar como enunciados considerados “discursos da mídia”
comenta este exemplo de Pêcheux.
Este enunciado nos mostra perfeitamente o funcionamento do interdiscurso
que, por meio de uma conexão entre o “já-dito”, o “retorno do saber” (neste
caso, implícito – Jesus Cristo, que morreu na cruz) e outra “formação
ideológica/discursiva” (ateu), acaba articulando outro enunciando no
intradiscurso. Desta maneira, podemos avaliar que discurso transverso
caracteriza a articulação do pré-construído em outro discurso, isto porque
todo discurso é atravessado por outras formações discursivas e/ou

25 Dizemos isto por considerar que existem regularidades inclusive afetivas as quais incidem sobre mulheres não
brancas e que se contrapõem inclusive ao feminismo branco eurocêntrico. Para uma discussão mais detalhada,
retomar os feminismos chamados de negros, os chicanos e os indígenas que circularam inicialmente nos Estados
Unidos da América por volta do final dos anos 1990.“Algumas dessas mulheres são Audre Lorde, bell hooks, Angela
Davis, Gloria Anzaldúa, Cherríe Moraga e Chela Sandoval. Essas mulheres alçam suas vozes para dizer que não
existe uma categoria única do que é ser mulher, porque a opressão pela qual todas as mulheres passam não é a
mesma. Uma mulher branca e de classe média alta não sofre os mesmos processos de exclusão que uma mulher
negra e pobre” (MELINO, 2015, p.77).
ideológicas (NASCIMENTO; GOMES, 2012, p. 8).

Desta forma os sentidos deslizam. De fraqueza para resistência.


Ou seja, as formulações do documentário se contrapõem a concepção de que a prostituição
seja por si só um uso abusivo do sexo e a prostituta, por sua vez, um objeto sexual ou uma vítima da
violência desta transação comercial. Diante dessas noções convido a nos juntarmos à Piscitelli
quando ela nos chama a “olhar de maneira crítica as bases teóricas nas quais se apoia a noção de
exploração sexual nas perspectivas feministas” (Piscitelli, 2013, p. 55) a fim de diferenciar
exploração comercial de sexual.
Afinal, mesmo sujeitas às pressões do mercado, à alienação de seu trabalho, ao
neoliberalismo (ao capitalismo, em suma) ou ainda aos efeitos de um trabalho precarizado, ao
confinamento urbano e à todas as sistemáticas violações de direitos empreendidas pelo poder
público, as prostitutas (a exemplo das associadas que compuseram o documentário em análise)
“demonstraram capacidade de negociar seus espaços de agência, quando inseridas em categorias de
corpos e no desempenho sexual atribuídos pelo mercado do sexo, na valorização da sensualidade,
do cuidado com a saúde do corpo e no ato de carinho” (Piscitelli, 2013, p. 227). Além disto,
demarcaram juntas a resistência às investidas que lesam seus direitos, inscrevendo seus sentidos
tanto através da ação direta (manifestação, passeata, eventos públicos na prefeitura) quanto da
disputa da memória discursiva (através da produção de um documentário e circulação de seus
dizeres, por exemplo).
Inclusive conceber “o sexo [...] como uma tática cultural que pode reforçar o poder, mas
também pode desestabilizá-lo” (Piscitelli, 2013, p. 38) vem a ser uma forma de resistência e
subversão inclusive nos outros trabalhos femininos que envolvem a mercantilização do cuidado
como terapeutas, enfermeiras, professoras e massagistas – desmistificando os temas que se
associam ao domínio sexual. Além disto, pode contribuir para desestabilizar a moral machistas que
incide sobre o gênero feminino o (des)valorizando a partir de critérios sexuais que, diametralmente
opostos, sobrevaloriza as masculinidades, fazendo assim a manutenção das opressões e
desigualdades.

Considerações Finais

A fim de finalizar minhas reflexões, vale a pena retomarmos as três questões iniciais que
nortearam a escrita deste artigo: 1. quais são os sentidos sustentados pela Associação através deste
documentário? 2. como essas formulações deslocam a objetificação urbanista e a vitimização
abolicionista? 3. quais elementos me permite caracterizar este dizer enquanto feminista?
Comecemos pela primeira: os sentidos sustentados pela associação neste material de
divulgação. Pudemos observar no percurso que trilhamos neste artigo como o documentário
enquanto gênero discursivo já significa. Ou seja, simplesmente por empregar essa modalidade
narrativa, como alguns sentidos são mobilizados. Por exemplo, já entra em cena um exame de
seriedade sobre a temática (neste caso, a fundação da associação) e desenvolve a apresentação deste
tópico acoplado a uma série de informações históricas.
Neste processo de narrar um acontecimento, organiza e constitui um passado, um presente e
uma perspectiva de futuro pela unidade narrativa. Através de recortes de fragmentos da realidade
advindos de diferentes enunciadores, este gênero discursivo áudio-visual explicita o contexto que o
antecedeu, as atividades desempenhadas para efetivar a fundação (eleição, elaboração do estatuto,
registro em cartório dos documentos) e narra algumas atividades já concluídas (bazares,
homenagens) ou ainda em curso (congressos, palestras, debates, eventos, desfiles).
Como efeito de sentido desta modalidade discursiva temos ainda a atmosfera de seriedade e
retomada histórica – que aborda denúncia, conquistas e perspectivas. Assim consegue inscrever
determinados sentidos retomando já ditos cristalizados e conferindo a eles outros sentidos possíveis.
Disputando, confrontando.
Além disto, em seu final traz consigo uma solução conclusiva. Neste caso, que o
enfrentamento coletivo das profissionais do sexo a fim de combater as violências é efetivo.
Apresenta também uma recomendação que, para as profissionais do sexo, se apresenta como
convite:
Betânia (Ass. Mulheres Guerreiras): Eu espero que a associação assim como
é pra mim, seja pra outras profissionais e profissional de Campinas e região
uma porta aberta. Que ela dê um, como é que a gente fala, uma balançada
nos profissionais do sexo. Que nós entendamos que esse é o nosso trabalho,
essa é a profissão. Não é uma passagem, não é um bico (transcrição do
documentário, ver Anexo I, p.24. HELENE, Didi. 28 de janeiro de 2015.
Mulheres Guerreiras: desbravando estradas da vida [24:23 – 24:50]).

Ou seja, através da perspectiva trabalhista (trabalho, profissão) põe em cena alguns sentidos
da associação e delineia uma conclusão.
Para compreender uma das significações produzidas pelo documentário é necessário
também considerar o contexto de lançamento do documentário e seu espaço de circulação. Ele foi
exibido em público pela primeira vez enquanto programação do PutaDei. Ou seja, um evento de
articulação política, promovido e produzido pelas prostitutas associadas vinculadas à Rede
Brasileira de Prostitutas. Ou seja, materializam alguns dos sentidos das resistências autoorganizadas
das prostitutas de rua. Cerca de cem pessoas acompanharam o evento neste momento e, além disto,
foram vendidas cerca de cem cópias do documentário em formato de DVD. Desde que foi
disponibilizado no YouTube, este vídeo conta com pouco mais de mil visualizações 26. Estimo,
26 O YouTube é um site que permite o compartilhamento de vídeos em formato digital a partir de uma conta pessoal.
Além disto, possibilita que o usuário seja notificado em caso mais vídeos sejam disponibilizados, informação que é
portanto, que em termos de alcance não tenha passado da casa da dezena de milhar, o que pode ser
considerado uma baixa circulação. Ou seja, ainda que seja um discurso midiático ainda incide sobre
esta temática invisibilidade que contribui para a manutenção de preconceitos e mera repetição de
sentidos totalizantes, vitimizantes e estigmatizantes.
Passemos agora à segunda questão: como essas formulações rompem com 1. a objetificação
urbanista?
De uma forma sintética, poderíamos responder: através dos processos discursivos que
materializa. Especificarei nos três tópicos a seguir quais são eles:
1. marcação de fronteiras discursivas: o que é o nosso dizer e o que é o dizer do outro. É o que
acontece quando a expressão “operação limpeza” não assume o efeito de transparência
(“inclusive com essa expressão”) e quando o termo “revitalização” assume diferentes
sentidos.
2. redirecionamentos semânticos: se esse dizer não põe em cena nossos sentidos, coloquemos
nós mesmas. É o que houve ao explicitar os sentidos próprios da associação (“como se o
centro de Campinas não fosse vivo, se a gente deixar fica 24 horas lá”) logo após a
demarcação de fronteiras, constituindo uma disputa semântica.
3. perspectiva de resistência. Isto se dá na medida em que o dizer do documentário encontra-se
não só subordinado a um poder dominante (“eles diziam que tinha que tirar”, “aquilo que
eles consideravam adequado estar no centro”) como também em declarado antagonismo e
insubordinação (“o tal do movimento 'limpeza da cidade'”).
Através desses processos que sentidos médico-sanitaristas e urbanistas higienistas são postos
em xeque.
Agora, como essas formulações deslocam 2. a vitimização abolicionista? A partir dos
processos de
1. retomada de pressupostos que possuem interseções com o abolicionismo quando se fala de
prostituição. É o que acontece quando a noção de sofrimento novamente entra em cena.
2. ressignificação dessa perspectiva pelo modo a partir do qual ela é discursivizada. No caso,
como ele é instrumentalizado enquanto arma.

convertida em números e apresentada ao lado esquerdo da página inicial de cada conta pessoal. Denominados
“inscritos”, os usuários que optam acompanhar o perfil, quando convertidos em números, dão pistas da dimensão da
circulação dessas informações. Os vídeos também possuem indicadores, denominados “visualizações” que
contabilizam a quantidade de vezes que ele foi exibido até o fim. A título de comparação em termos de circulação de
informação, podemos citar dois canais como exemplo: PewDiePie, um canal suiço, voltado para apresentação de
jogos digitais, que possui em seu canal 48.662.263 inscritos e seu video mais recente conta com 8.845.970
visualizações; e 5incominutos, conduzido por uma mulher brasileira, com conteúdo variado que se dedica entre
outras temáticas à produção de paródias, enquetes, trotes e vídeos de opinião. Este canal, por sua vez, conta com
9.645.447 inscritos e seu video mais recente possui 5.017.797 visualizações. O documentário “Mulheres Guerreiras:
desbravando estradas da vida”, por sua vez, conta com 1062 visualizações e está hospedado na conta de Didi
Helene, que possui 13 inscritos. Essas iformações foram levantadas por mim em acesso aos canais em 18 de Out.
2016. Para além deste meio de circulação, cerca de cem cópias foram vendidas no lançamento do documentário.
Assim acontece o deslocamento da vitimização abolicionista; seus sentidos deslizam (são
retomados, porém ressignificados) e por conta disto funcionam de outra maneira, produzem outros
sentidos: de fraqueza, vulnerabilidade, subordinação para protagonismo, enfrentamento, resistência.
Portanto, comparado aos discursos analisados por Skackauskas, aponto enquanto
semelhança entre o documentário e as formulações mais recentes descritas por ela a recusa, o
deslocamento e o questionamento da linguagem do sofrimento e da compaixão proferida por
aqueles que adotam a lógica do resgate. Além disto, este material que analisei contesta frontalmente
o estigma vinculado à prostituta e à prostituição e encara o sexo enquanto um terreno em disputa,
“em que a ordem sexista, fundada em posições fixas de gênero e poder, não é mais considerada
como absolutamente determinante [...]” (cf. SKACKAUSKAS, 2014, p.79). Afinal,
tem pessoas que fala 'ah, mas você se orgulha de ser puta?', me orgulho sim. Através
do meu trabalho como profissional do sexo eu tenho casa, tenho carro, tenho uma
filha universitária, tenho duas filhas adolescentes com o meu trabalho. Então acho
que nós temos que ter essa liberdade de gostar da gente mesma e gostar do trabalho
que a gente faz (transcrição do documentário, ver Anexo I, p.22. HELENE, Didi. 28
de janeiro de 2015. Mulheres Guerreiras: desbravando estradas da vida [15:42 –
16:10]).

Enquanto principal diferença, por sua vez, estão a publicização de sentidos não
exclusivamente eróticos (a exemplo de relatos autobiográficos como o de Bruna Surfistinha).
Afinal, os sentidos que vêm à tona nesse material de divulgação da associação diz respeito
sobretudo à publicização de denúncias de perseguições às quais estão submetidas, abrindo espaço
para reivindicar a garantia de seus direitos inalienáveis.
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