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I.-Introduc A o PDF
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Introdução
1. O conceito de Finanças Públicas
Fala-se na afetação pública de bens económicos à satisfação de necessidades sentidas
pela sociedade.
Como explica Sousa Franco, a expressão finanças públicas pode utilizar-se em vários
sentidos:
• Sentido orgânico ! Conjunto de órgãos do Estado ou outro ente público a
quem compete gerir recursos económicos para a satisfação de certas
necessidades.
• Sentido objetivo! A atividade através da qual o Estado afeta bens
económicos à satisfação de certas necessidades sociais.
• Sentido subjetivo ! A disciplina científica que estudo os princípios e regras
que regem a atividade do Estado com o fim de satisfazer as necessidades que
lhe estão confiadas.
Porque é que o Estado tem atividade financeira? Que despesas é que o Estado tem que
justifiquem a cobrança de receitas?
! Há muitas razões que ditam a intervenção do Estado.
Critérios que o Estado tem para encontrar as despesas que tem de financiar:
Segurança; bem comum
• Bem comum: O Estado vai fazer despesa para aquilo que valorizamos
Eficiência ! É a busca desta eficiência, nos termos em que é expressa pelos teoremas
de bem-estar, que leva o Estado a atuar no mercado de forma a promover o
aproveitamento ótimo dos recursos produtivos. Uma das formas de atuação do Estado
com este objetivo prende-se com a colmatação das falhas de mercado.
Justiça! Não satisfeito com as distribuições feitas pelo mercado, o Estado pode
proceder a uma correção das mesmas (redistribuição de rendimentos) de forma a
promover uma afetação de recursos socialmente mais justa. A igualdade, a equidade,
e os critérios utilitaristas são exemplos de subcritérios que podem nortear a atuação
do Estado com o objetivo de promoção da justiça.
Ou seja, a despesa pública acaba também por ser determinada por falhas na
intervenção do Estado ou falhas do Governo.
Exemplos de falhas na Intervenção do Estado:
• Falhas de informação: Fazem com que o Estado desperdice alguns recursos
por não conseguir uma informação rigorosa acerca dos contribuintes ou
beneficiários de certos programas. Por exemplo, no pagamento do Rendimento
Social de Inserção (RSI) há situações fraudulentas porque o Estado não tem
uma informação real do nº de pessoas carenciadas.
• Captura das decisões por parte dos lobbies, que defendem interesses privados,
os quais acabam por gerar despesa, não necessariamente correspondente com
o bem comum.
• Oscilação de ciclos eleitorais: Faz com que os agentes políticos procurem a
todo o custo manter ou conquistar o poder (com promessas de mais despesa); e
faz com que assistamos à coincidência das medidas financeiras simpáticas
com a proximidade dos atos eleitorais.
• Corrupção: Conduz à promoção de ineficiência e desperdícios na utilização
dos recursos disponíveis, levando à realização de obras inúteis ou ao
desenvolvimento de programas de apoio desnecessários.
• Excesso de burocracia;
Há algum critério constitucional que nos permita dizer que existem despesas
prioritárias em relação a outras?
• Temos de considerar prioritária a despesa relacionada com a existência do
Estado. Há certas instituições que têm de existir obrigatoriamente: Presidente,
Governo, Assembleia da República, Tribunais, Administração Pública. São
despesas implícitas na Constituição às quais não se pode prescindir.
• Direitos fundamentais ! Direitos, liberdades e garantias são despesas
prioritárias em comparação com os Direitos sociais. Mesmo dentro dos
direitos, liberdades e garantias o Estado vai ter de fazer ponderações: olhar
para o dinheiro disponível e ver a melhor forma de colocar aqueles direitos em
ação.
Professor Paulo Otero: Defende que a nossa Constituição é minimalista pois ele vê na
Constituição o princípio da subsidiariedade.
Princípio da subsidiariedade! O Estado tem uma ação de última linha, ou seja, atua
apenas se os privados não intervierem e onde não intervierem.
• O princípio da subsidiariedade resulta do princípio da dignidade da pessoa
humana e este supõe o princípio da liberdade da sociedade civil
• O princípio da subsidiariedade foi reconhecido na revisão constitucional de
1997 (que veio expurgar os elementos socialistas da Constituição) no artigo 6º
da Constituição. Não obstante no artigo 6º não se falar em subsidiariedade
económica, o Professor Paulo Otero diz que está implícito. Ou seja, que
estamos perante uma afirmação constitucional implícita
• Só a subsidiariedade conjuga bem com uma liberdade de iniciativa e uma
liberdade de organização empresarial que são assumidos como princípios
fundamentais de organização económico-social.
A nossa Constituição não é minimalista, mas sim muito generosa. Mas ela não toma
um partido nem de direita nem de esquerda política. Num governo de esquerda é uma
Constituição que permite uma intervenção ampla; num governo mais liberal permite
que subtraia aquilo que não quer fornecer. Existe um mínimo de intervenção? Sim
existe, e cola com as falhas de mercado.
Falhas de Mercado
A busca da eficiência leva o Estado a atuar no mercado de forma a promover o
aproveitamento ótimo dos recursos produtivos. Uma das formas de atuação com este
objetivo se prende com o suprimento das falhas de mercado.
Existe uma falha de mercado quando estamos perante um bem que não é produzido
pelo mercado de forma eficiente. Isto sucede porque:
• Se verifica a existência de um desequilíbrio entre a utilidade individual e a
utilidade social na produção e utilização de um bem, que faz com que este não
se produza ou se produza insuficientemente
• Geram custos/ benefícios para a comunidade sem que esta possa imputá-los a
quem os provoca
• A produção de certos bens conduz à destruição da concorrência nesse mercado
Aproveitamento ótimo dos recursos produtivos! O artigo 80º da Constituição que
consagra a existência do sector público exige o mínimo e esse mínimo tem a ver com
as falhas de mercado. As falhas de mercado correspondem a bens que não são
produzidos pelo mercado ou o são de forma ineficiente obrigando o Estado a intervir
se a sociedade os considerar importantes
Bem público puro! Bens que o mercado não tem interesse nenhum em produzir. São
dotados das seguintes características:
• São bens de satisfação passiva, ou seja, a sua apropriação não depende de
nenhum esforço por parte do consumidor.
• São não exclusivos, ou seja, aquilo que é fornecido é imediatamente
disponibilizado para todos os indivíduos na mesma quantidade. O meu
consumo não exclui o consumo de todos os outros. Muitas pessoas beneficiam
ao mesmo tempo.
• São não emulativos, ou seja, os utilizadores não entram em concorrência para
beneficiarem do bem. Não havendo rivalidade no consumo, o custo adicional
de ter mais um indivíduo a consumir o bem público é nulo.
Exemplos: Faróis; defesa nacional; justiça.
O facto de serem bens congestionáveis significa que à medida que mais pessoas
utilizam o bem, menos utilidade retiram dele os seus utilizadores. Exemplos: estrada,
ponte, jardim público, piscina, praias, bibliotecas, museus.
Estes bens podem, em princípio, ser produzidos no mercado, mas o preço de exclusão
seria muito alto, não beneficiando muitas pessoas, e daí resulta a necessidade do
Estado intervir. Por exemplo, porque têm capacidade para mais utilizações do que as
que correspondem ao número da população que servem ou porque são produzidos
com custos decrescentes, podendo gerar uma situação de monopólio, com prejuízo
para os utilizadores.
• Nestes casos, estamos perante uma falha de mercado que deve ser suprida pelo
Estado.
• A produção destes bens não pode ser assegurada em termos eficientes pelo
mercado.
O grande problema é que o vendedor vai querer aproveitar-se do fato de ser o único,
gerando a renda do monopolista (corresponde a um sobrelucro das empresas). Os
preços tendem a situar-se acima do nível normal do preço em concorrência, sendo o
seu limite único a elasticidade da procura.
Isto é uma ineficiência (uma vez que os consumidores acabam por suportar um preço
mais alto do que o custo médio e marginal) então o Estado vai ter que resolver o
problema do monopólio, assegurando-se que o preço permanece justo ou tomando
outras medidas.
3. Exterioridades/ Externalidades
Outra falha de mercado são as externalidades que são benefícios ou prejuízos que o
comportamento de um agente económico provoca da esfera de outro.
4. Assimetria de Informação
O mercado para funcionar de forma eficiente precisa que a oferta e a procura
disponham de informação simétrica ou pelo mesmo não completamente desigual. A
assimetria de informação é o mercado não fornecer a informação verdadeira e fiável
ao consumidor. A assimetria de informação gera situações de desequilíbrio entre a
oferta e a procura.
Por exemplo:
• A venda de carros em segunda mão! A assimetria de informação
normalmente gera prejuízo para o vendedor
• Situação de empréstimos ! Se quem pede um empréstimo desconhece todas
as taxas variáveis a que está sujeito o seu contrato, verá quem empresta
beneficiar da sua falha de informação.
• Venda de medicamentos ou alimentos ! A falta de informação pode gerar
desconfiança por parte dos consumidores.
O papel do Governo na correção das falhas de informação vai para além das meras
medidas de proteção do consumidor. A informação, em muitos aspetos é um bem
público. A eficiência requer que a informação seja disseminada livremente, e que o
seu único preço seja correspondente ao custo real da transmissão da informação.
5. Mercados incompletos
A existência da incompletude dos mercados passa pelo reconhecimento de que nem
sempre o mercado prevê todas as necessidades sentidas pelos consumidores. A esta
incompletude associam-se os casos de incerteza e risco na atividade económica e
ainda os casos em que se faz sentir a falta de coordenação dos agentes do mercado.
Incerteza e Risco
Outra falha de mercado é a incerteza e o risco. Há riscos que são tão elevados que o
mercado só poderia cobri-los com custos muito elevados, desproporcionados em
relação ao risco ocorrido.
A incapacidade do mercado surge quando os riscos que se entendem que devem ser
segurados apenas o são no mercado a preços muito elevados ou não o são pura e
simplesmente, pelas condições gravosas a que estariam sujeitos.
Fazer um seguro de vida é caro (os prémios são muito elevados) porque temos certeza
de que temos de pagar um dia aquele seguro. Pode não haver incentivo no mercado
privado para fazer seguros de vida, tendo o Estado que intervir.
Mercados Complementares
Há casos em que a produção de um bem, por si só, pode não ser rentável sem a
produção de outro. Nesses casos, ou existe interesse em produzir os dois bens em
simultâneo ou existe o perigo de o seu produtor correr o risco de o seu bem ser um
total fracasso em face da ausência do produto complementar.
Se se reconhecer que o Estado tem alguma coisa a fazer pelo melhoramento destes
indicadores negativos, então pode dizer-se que a intervenção do Estado se deve ao
suprimento de uma incapacidade de mercado.
O direito financeiro tem uma história que está associada a dois princípios:
1. Representação política
2. Participação política ! É aqui que o direito financeiro se distingue do direito
administrativo (decisões tomadas pelo Estado). no Direito Financeiro temos
decisões tomadas pelos representantes da comunidade. É necessário uma
participação política pelos representantes porque o Estado não tem dinheiro
próprio; o dinheiro do Estado está nos nossos bolsos. Precisamos dar o nosso
consentimento para que o Estado tire o dinheiro que vai servir de base para a
intervenção pública – princípio do consentimento