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Finanças Públicas

Introdução
1. O conceito de Finanças Públicas
Fala-se na afetação pública de bens económicos à satisfação de necessidades sentidas
pela sociedade.

Finanças ! Tudo o que tem a ver com os fenómenos de captação de receitas e de


realização de despesas que permitam a satisfação de necessidades económicas.

Finanças Públicas ! Atividade económica de um ente público tendente a afetar


bens à satisfação de necessidades que lhe são confiadas.

Como explica Sousa Franco, a expressão finanças públicas pode utilizar-se em vários
sentidos:
• Sentido orgânico ! Conjunto de órgãos do Estado ou outro ente público a
quem compete gerir recursos económicos para a satisfação de certas
necessidades.
• Sentido objetivo! A atividade através da qual o Estado afeta bens
económicos à satisfação de certas necessidades sociais.
• Sentido subjetivo ! A disciplina científica que estudo os princípios e regras
que regem a atividade do Estado com o fim de satisfazer as necessidades que
lhe estão confiadas.

2. A necessidade do estudo do Direito Financeiro: a atividade


financeira do Estado

Porque é que o Estado tem atividade financeira? Que despesas é que o Estado tem que
justifiquem a cobrança de receitas?
! Há muitas razões que ditam a intervenção do Estado.

Critérios que o Estado tem para encontrar as despesas que tem de financiar:
Segurança; bem comum
• Bem comum: O Estado vai fazer despesa para aquilo que valorizamos

a) A atividade financeira baseada em decisões políticas


Existem várias justificações para a existência de atividade financeira, ou seja,
explicações para a existência de despesas públicas às quais o Estado deve afetar
receita.

Um primeiro critério é o critério da valoração política:


• A atividade financeira se constrói em função da satisfação das necessidades
(ou de uma certa ideia sobre elas, visto que as pessoas têm prioridades e graus
de necessidade que têm a ver não só com a sua natureza humana, mas também
com as suas histórias e cultura) em concreto sentidas por uma comunidade e
que são assumidas pelo poder político.

Os antigos atenienses proporcionavam banhos públicos e ginásios aos cidadãos, mas


nunca lhes proporcionaram o que quer que fosse de remotamente parecido com
seguro de desemprego ou segurança social. Faziam uma opção sobre a maneira de
gastar os dinheiros públicos, opção essa presumivelmente baseada na noção que
tinham dos requisitos necessários à vida em comum.

Ou seja, a despesa pública de um Estado é ditada por decisão política.

Quando associadas a regimes económicos liberais, as finanças públicas são


caracterizadas por uma despesa pública o mais reduzida possível – princípio do
mínimo.
Os regimes económicos mais intervencionistas são caracterizados por uma despesa
pública mais elevada, devida a uma maior intervenção do Estado na economia. O
princípio do mínimo, é substituído pela regra do ótimo.

Traços marcantes das Finanças Liberais (Clássicas):


→ Separação entre economia e finanças
→ Abstenção económica por parte do Estado perante o mercado
→ Organização da atividade financeira pública de forma a não perturbar a
atuação livre dos sujeitos económicos
→ Predomínio da instituição parlamentar de forma a assegurar que todos os
cidadãos controlam o exercício da atividade económica por parte do Estado,
associada com a aplicação de um estrito princípio da legalidade
→ Importância primordial do imposto; todo o dinheiro que o Estado deve possuir
deve resultar da contribuição dos seus cidadãos
→ Equilíbrio orçamental: impondo que as despesas normais fossem financiadas
apenas por receitas normais, apenas podendo recorrer-se ao crédito em
situações de guerra ou calamidade, para evitar que o Estado tenha de recorrer
a empréstimos que iriam necessariamente onerar as gerações futuras e desviar
dinheiro do sector privado para o público (regra de ouro das finanças
clássicas).

Traços marcantes das Finanças Intervencionistas (Funcionais):


→ Integração entre economia e finanças públicas
→ Intervenção/ ordenação económica por parte do Estado
→ Complexificação do fenómeno financeiro
→ O Governo é o único que está em posição de dominar os números de um
Estado cada vez maior e com crescentes funções.
b) A atividade financeira baseada numa racionalidade económica, tendo em vista
a prossecução da eficiência no mercado e da justiça na distribuição de bens

Muito embora a decisão política tenha um papel central na determinação da despesa


pública e da atividade financeira, por detrás de muitos gastos públicos também se
encontra hoje uma racionalidade económica.

Essa racionalidade económica radica no paradigma do Estado de bem-estar.


Paradigma esse que conduz o Estado a afetar receitas na prossecução do ótimo social
e à procura de soluções para a manutenção de um mercado eficiente e justo.

A economia de bem-estar tem dois teoremas fundamentais:


1. Sob certas condições, mercados competitivos em equilíbrio caracterizam-se
por uma afetação de recursos eficiente. Existe um sistema de preços, de bens e
fatores produtivos, para o qual as empresas utilizam os seus recursos
produtivos de forma ótima.
2. Se as curvas de indiferença e as isoquantas forem convexas, se existir um
conjunto completo de mercados, houver informação perfeita e for possível
levar a efeito transferências e tributações de soma fixa, então qualquer das
possíveis afetações de recursos ótimas em termos de Pareto pode ser alcançada
através de um equilíbrio de concorrência, desde que se concretizem
adequadamente aquelas transferências e impostos. E qualquer posição nas
curvas pode ser atingida desde que se dotem os agentes com rendimentos
adequados, através de um processo de transferências que não provoque
desperdícios em termos de bem estar.

Eficiência ! É a busca desta eficiência, nos termos em que é expressa pelos teoremas
de bem-estar, que leva o Estado a atuar no mercado de forma a promover o
aproveitamento ótimo dos recursos produtivos. Uma das formas de atuação do Estado
com este objetivo prende-se com a colmatação das falhas de mercado.

Justiça! Não satisfeito com as distribuições feitas pelo mercado, o Estado pode
proceder a uma correção das mesmas (redistribuição de rendimentos) de forma a
promover uma afetação de recursos socialmente mais justa. A igualdade, a equidade,
e os critérios utilitaristas são exemplos de subcritérios que podem nortear a atuação
do Estado com o objetivo de promoção da justiça.

c) A atividade financeira provocada por falhas de intervenção do Estado


Uma última razão que nos faz compreender a despesa do Estado é o facto de haver
intervenção que é gerada pelas falhas do próprio Estado. Ou seja, uma grande parte
dos gastos do Estado (das despesas públicas) acaba por ser influenciada pelos
problemas que se manifestam no exercício do poder. Muitas vezes a despesa pública
chega mesmo a absorver esses problemas.

Ou seja, a despesa pública acaba também por ser determinada por falhas na
intervenção do Estado ou falhas do Governo.
Exemplos de falhas na Intervenção do Estado:
• Falhas de informação: Fazem com que o Estado desperdice alguns recursos
por não conseguir uma informação rigorosa acerca dos contribuintes ou
beneficiários de certos programas. Por exemplo, no pagamento do Rendimento
Social de Inserção (RSI) há situações fraudulentas porque o Estado não tem
uma informação real do nº de pessoas carenciadas.
• Captura das decisões por parte dos lobbies, que defendem interesses privados,
os quais acabam por gerar despesa, não necessariamente correspondente com
o bem comum.
• Oscilação de ciclos eleitorais: Faz com que os agentes políticos procurem a
todo o custo manter ou conquistar o poder (com promessas de mais despesa); e
faz com que assistamos à coincidência das medidas financeiras simpáticas
com a proximidade dos atos eleitorais.
• Corrupção: Conduz à promoção de ineficiência e desperdícios na utilização
dos recursos disponíveis, levando à realização de obras inúteis ou ao
desenvolvimento de programas de apoio desnecessários.
• Excesso de burocracia;

*Teoria da escolha pública ! Contestação de que exista um bem comum que é


prosseguido pelos agentes políticos. Estes só procuram o desenvolvimento dos seus
interesses.

3. Incapacidades ou Falhas de mercado

Há algum critério constitucional que nos permita dizer que existem despesas
prioritárias em relação a outras?
• Temos de considerar prioritária a despesa relacionada com a existência do
Estado. Há certas instituições que têm de existir obrigatoriamente: Presidente,
Governo, Assembleia da República, Tribunais, Administração Pública. São
despesas implícitas na Constituição às quais não se pode prescindir.
• Direitos fundamentais ! Direitos, liberdades e garantias são despesas
prioritárias em comparação com os Direitos sociais. Mesmo dentro dos
direitos, liberdades e garantias o Estado vai ter de fazer ponderações: olhar
para o dinheiro disponível e ver a melhor forma de colocar aqueles direitos em
ação.

A nossa Constituição é mais minimalista ou maximalista (obriga um Estado


despesista ou pouco interventivo)?

Professor Paulo Otero: Defende que a nossa Constituição é minimalista pois ele vê na
Constituição o princípio da subsidiariedade.
Princípio da subsidiariedade! O Estado tem uma ação de última linha, ou seja, atua
apenas se os privados não intervierem e onde não intervierem.
• O princípio da subsidiariedade resulta do princípio da dignidade da pessoa
humana e este supõe o princípio da liberdade da sociedade civil
• O princípio da subsidiariedade foi reconhecido na revisão constitucional de
1997 (que veio expurgar os elementos socialistas da Constituição) no artigo 6º
da Constituição. Não obstante no artigo 6º não se falar em subsidiariedade
económica, o Professor Paulo Otero diz que está implícito. Ou seja, que
estamos perante uma afirmação constitucional implícita
• Só a subsidiariedade conjuga bem com uma liberdade de iniciativa e uma
liberdade de organização empresarial que são assumidos como princípios
fundamentais de organização económico-social.

Professora Maria d’Oliveira Martins: A nossa Constituição dá grande liberdade ao


legislador nas suas escolhas. A Constituição não toma uma posição concreta em
relação ao sector público.
É a própria Constituição que impõe que haja um sector público (não podemos não ter
um sector público). Contudo, não diz qual deve ser a sua dimensão, deixando tudo em
aberto. Pode-se afirmar que tem de existir, pelo menos, o mínimo. O artigo 80º da
Constituição consagra a coexistência do sector público, privado e cooperativo
• Não devemos contentar-nos com uma perspetiva minimalista porque a
Constituição dá uma grande liberdade ao legislador. Por exemplo: o artigo 84º,
83º nº6 (faculdade que o Estado tem)
• A Constituição atribui ao Estado tarefas no sentido da concretização de um
modelo de Estado de bem estar (199º alínea g).
• Nos artigos 80º g) e 83º vemos que o Estado pode praticar todos os atos e
tomar todas as providências necessárias para a promoção do desenvolvimento
económico e social e para a satisfação das necessidades coletivas.

A nossa Constituição não é minimalista, mas sim muito generosa. Mas ela não toma
um partido nem de direita nem de esquerda política. Num governo de esquerda é uma
Constituição que permite uma intervenção ampla; num governo mais liberal permite
que subtraia aquilo que não quer fornecer. Existe um mínimo de intervenção? Sim
existe, e cola com as falhas de mercado.

Falhas de Mercado
A busca da eficiência leva o Estado a atuar no mercado de forma a promover o
aproveitamento ótimo dos recursos produtivos. Uma das formas de atuação com este
objetivo se prende com o suprimento das falhas de mercado.

Existe uma falha de mercado quando estamos perante um bem que não é produzido
pelo mercado de forma eficiente. Isto sucede porque:
• Se verifica a existência de um desequilíbrio entre a utilidade individual e a
utilidade social na produção e utilização de um bem, que faz com que este não
se produza ou se produza insuficientemente
• Geram custos/ benefícios para a comunidade sem que esta possa imputá-los a
quem os provoca
• A produção de certos bens conduz à destruição da concorrência nesse mercado
Aproveitamento ótimo dos recursos produtivos! O artigo 80º da Constituição que
consagra a existência do sector público exige o mínimo e esse mínimo tem a ver com
as falhas de mercado. As falhas de mercado correspondem a bens que não são
produzidos pelo mercado ou o são de forma ineficiente obrigando o Estado a intervir
se a sociedade os considerar importantes

Vamos estudar 6 falhas de mercado:


1. Bens coletivos ou bens públicos puros
2. Falhas na concorrência ou concorrência imperfeita
3. Exterioridades/ Externalidades
4. Assimetria de informação
5. Mercados incompletos (incerteza e risco; mercados complementares)
6. Desemprego, inflação e desequilíbrio

1. Bens coletivos ou bens públicos puros


Há bens que ou não são produzidos no mercado, ou que quando o são, demonstram
que são insuficientes em relação às necessidades que se fazem sentir. Se esses bens
não forem essenciais (bens supérfluos), a comunidade poderá facilmente prescindir
deles. Mas sendo essenciais, não poderão deixar de ser produzidos ou fornecidos pelo
Estado. Estes são bens coletivos ou bens públicos puros.

Bem público puro! Bens que o mercado não tem interesse nenhum em produzir. São
dotados das seguintes características:
• São bens de satisfação passiva, ou seja, a sua apropriação não depende de
nenhum esforço por parte do consumidor.
• São não exclusivos, ou seja, aquilo que é fornecido é imediatamente
disponibilizado para todos os indivíduos na mesma quantidade. O meu
consumo não exclui o consumo de todos os outros. Muitas pessoas beneficiam
ao mesmo tempo.
• São não emulativos, ou seja, os utilizadores não entram em concorrência para
beneficiarem do bem. Não havendo rivalidade no consumo, o custo adicional
de ter mais um indivíduo a consumir o bem público é nulo.
Exemplos: Faróis; defesa nacional; justiça.

Problema ! Sem ser o Estado, só um altruísta ou uma associação constituída para


esse efeito teria interesse em produzir estes bens.
• Se estes bens forem produzidos no âmbito da economia privada, vai haver um
desequilíbrio entre a utilidade daquele que suporta os custos para a produção
do bem e a utilidade daqueles que beneficiam do bem. Há mais utilidade no
aproveitamento do bem do que utilidade na produção do bem
• Há um desincentivo de produção e o Estado tem que intervir, chamando a si a
produção ou subsidiando-a.
• O custo dos bens coletivos será financiado por todos os membros da
comunidade, por meio dos impostos.
A construção de faróis é um negócio pouco rentável para os privados, mas essencial,
cabendo portanto ao Estado construi-los. O farol é um bem público puro ou um bem
coletivo. Igualmente, se dependesse dos agentes económicos não haveriam jardins.
Por exemplo: no local do Jardim da Estrela, alguém podia construir prédio ou um
condomínio. É um bem valorizado pela sociedade.

Bens Públicos Impuros


Os bens públicos impuros partilham com os bens públicos puros a característica de
terem um custo marginal zero por cada utilização a mais, mas são susceptíveis de
ficar congestionados.

O facto de serem bens congestionáveis significa que à medida que mais pessoas
utilizam o bem, menos utilidade retiram dele os seus utilizadores. Exemplos: estrada,
ponte, jardim público, piscina, praias, bibliotecas, museus.

Sendo o bem facilmente congestionável, haverá vantagem em promover a exclusão de


alguns utilizadores, através por exemplo das portagens, pagamento de entrada, etc.
Nesse caso estaremos perante um bem de clube

Estes bens podem, em princípio, ser produzidos no mercado, mas o preço de exclusão
seria muito alto, não beneficiando muitas pessoas, e daí resulta a necessidade do
Estado intervir. Por exemplo, porque têm capacidade para mais utilizações do que as
que correspondem ao número da população que servem ou porque são produzidos
com custos decrescentes, podendo gerar uma situação de monopólio, com prejuízo
para os utilizadores.
• Nestes casos, estamos perante uma falha de mercado que deve ser suprida pelo
Estado.
• A produção destes bens não pode ser assegurada em termos eficientes pelo
mercado.

2. Falhas na concorrência ou concorrência imperfeita

Um monopólio é uma empresa que domina a venda de um determinado bem. Os


monopólios podem formar-se de duas formas possíveis:
1. Pela permanente existência de custos decrescentes na produção de um
determinado bem. Quando os custos são decrescentes, a empresa maior
consegue sempre fornecer os bens a um custo inferior ao das demais empresas,
o que gera um monopólio (exemplo: rede elétrica, sistemas de gás, água,
telefone) – monopólio natural.
2. Por determinação do Governo – monopólio artificial

O grande problema é que o vendedor vai querer aproveitar-se do fato de ser o único,
gerando a renda do monopolista (corresponde a um sobrelucro das empresas). Os
preços tendem a situar-se acima do nível normal do preço em concorrência, sendo o
seu limite único a elasticidade da procura.
Isto é uma ineficiência (uma vez que os consumidores acabam por suportar um preço
mais alto do que o custo médio e marginal) então o Estado vai ter que resolver o
problema do monopólio, assegurando-se que o preço permanece justo ou tomando
outras medidas.

*Em Portugal, a existência de uma Autoridade para a Concorrência prende-se com a


necessidade do suprimento desta falha de mercado.

3. Exterioridades/ Externalidades

Outra falha de mercado são as externalidades que são benefícios ou prejuízos que o
comportamento de um agente económico provoca da esfera de outro.

Externalidades positivas ! Se o comportamento económico provoca benefícios a


terceiros. Há bens que provocam benefícios a outros sujeitos económicos sem que os
seus fornecedores possam receber por isso uma recompensa. Exemplo: construção de
escola, de estrada, de hospital, de esgoto. A utilidade social obtida pelo fornecimento
do bem supera a utilidade de quem suportou os seus custos. As externalidades
positivas geram um défice no fornecimento dos bens.

Externalidades negativas! Se o comportamento económico implica a imposição de


custos a terceiros. Há bens que provocam prejuízos a outros, sem que se possa impor
uma compensação. Exemplos: lixeira, ruídos de fábricas. É imposto um custo social,
por quem beneficia desses bens que provocam prejuízo, sem que se consiga exigir o
pagamento de uma compensação. As externalidades negativas geram uma
proliferação das atividades que as causam.

Estes casos são resolvidos pelo Estado, de várias maneiras:


• Promoção da socialização da exterioridade: pagamento de taxa de esgotos,
fornecimento público e gratuito de caixotes de lixo, recolha municipal do lixo
doméstico
• Tributação: tributação ao impositor do custo externo (princípio do poluidor-
pagador; impostos sobre a poluição; impostos sobre o ruído); tributação geral
em relação ao benefício auferido (tributação de mais valias).
• Financiamento de certas atividades (escolas; hospitais).
Mesmo em escolas privadas há financiamento. O princípio do poluidor pagador é
baseado nesta externalidade negativa da poluição.

4. Assimetria de Informação
O mercado para funcionar de forma eficiente precisa que a oferta e a procura
disponham de informação simétrica ou pelo mesmo não completamente desigual. A
assimetria de informação é o mercado não fornecer a informação verdadeira e fiável
ao consumidor. A assimetria de informação gera situações de desequilíbrio entre a
oferta e a procura.

Por exemplo:
• A venda de carros em segunda mão! A assimetria de informação
normalmente gera prejuízo para o vendedor
• Situação de empréstimos ! Se quem pede um empréstimo desconhece todas
as taxas variáveis a que está sujeito o seu contrato, verá quem empresta
beneficiar da sua falha de informação.
• Venda de medicamentos ou alimentos ! A falta de informação pode gerar
desconfiança por parte dos consumidores.

O Estado deve intervir para reduzir a assimetria de informação, impondo o


fornecimento de mais informação, criando serviços de certificação da qualidade ou
mesmo assumindo alguns serviços de informação (informação meteorológica).

O papel do Governo na correção das falhas de informação vai para além das meras
medidas de proteção do consumidor. A informação, em muitos aspetos é um bem
público. A eficiência requer que a informação seja disseminada livremente, e que o
seu único preço seja correspondente ao custo real da transmissão da informação.

5. Mercados incompletos
A existência da incompletude dos mercados passa pelo reconhecimento de que nem
sempre o mercado prevê todas as necessidades sentidas pelos consumidores. A esta
incompletude associam-se os casos de incerteza e risco na atividade económica e
ainda os casos em que se faz sentir a falta de coordenação dos agentes do mercado.

Incerteza e Risco
Outra falha de mercado é a incerteza e o risco. Há riscos que são tão elevados que o
mercado só poderia cobri-los com custos muito elevados, desproporcionados em
relação ao risco ocorrido.

A incapacidade do mercado surge quando os riscos que se entendem que devem ser
segurados apenas o são no mercado a preços muito elevados ou não o são pura e
simplesmente, pelas condições gravosas a que estariam sujeitos.

Como resposta, o Estado tem assumido funções de segurador. Por exemplo:


• Funções desempenhadas na segurança social: O Estado oferece compensação
das perdas de rendimento de trabalho por velhice, invalidez ou doença aos
trabalhadores nela inscritos e com as suas quotizações em dia.
• O Estado pode legislar no sentido da promoção destes seguros. O Estado cria
uma entidade pública, por exemplo, o Sistema de Indemnização dos
Investidores que tem a função de os indemnizar no caso da falência do banco.

Fazer um seguro de vida é caro (os prémios são muito elevados) porque temos certeza
de que temos de pagar um dia aquele seguro. Pode não haver incentivo no mercado
privado para fazer seguros de vida, tendo o Estado que intervir.

Mercados Complementares
Há casos em que a produção de um bem, por si só, pode não ser rentável sem a
produção de outro. Nesses casos, ou existe interesse em produzir os dois bens em
simultâneo ou existe o perigo de o seu produtor correr o risco de o seu bem ser um
total fracasso em face da ausência do produto complementar.

Se depender exclusivamente do mercado, a resolução deste problema passará ou pela


não produção desses bens ou pela sua produção individual em quantidades muito
reduzidas.

O Estado é chamado a intervir de forma a promover a cooperação entre os produtores


de bens complementares.
• Há muitos casos em que a coordenação é requerida em larga escala e isto pode
requerer planeamento governamental. Argumentos semelhantes foram
invocados como justificação para programas públicos de renovação
urbanística. Desenvolver uma vasta secção da cidade requer uma coordenação
entre fábricas, vendedores, senhorios e outros negócios.

6. Desemprego, inflação e desequilíbrio


A verificação de elevadas taxas de desemprego e inflação corresponde a um
funcionamento deficiente do mercado. Para alguns economistas, o desemprego
elevado é a prova mais dramática e evidente de uma falha de mercado.

Se se reconhecer que o Estado tem alguma coisa a fazer pelo melhoramento destes
indicadores negativos, então pode dizer-se que a intervenção do Estado se deve ao
suprimento de uma incapacidade de mercado.

4. Génese e evolução histórica do Direito Financeiro


*Esta matéria não sai no exame

O direito financeiro tem uma história que está associada a dois princípios:
1. Representação política
2. Participação política ! É aqui que o direito financeiro se distingue do direito
administrativo (decisões tomadas pelo Estado). no Direito Financeiro temos
decisões tomadas pelos representantes da comunidade. É necessário uma
participação política pelos representantes porque o Estado não tem dinheiro
próprio; o dinheiro do Estado está nos nossos bolsos. Precisamos dar o nosso
consentimento para que o Estado tire o dinheiro que vai servir de base para a
intervenção pública – princípio do consentimento

Momentos marcantes da história das Finanças Públicas:


• Magna Carta (1215)! Da Magna Carta resulta a ideia de que ninguém pode
ser forçado a pagar tributos sem dar o seu consentimento. A Magna Carta do
século XIII trás uma ideia muito importante – a ideia de convocação das cortes
para votação de tributos.
• Petition of Rights e Bill of Rights (século XVII) ! Introduz uma nova ideia
de que o Parlamento deve reunir-se anualmente. Todos os cidadãos têm direito
a não pagar impostos que não sejam aprovados anualmente. É preciso que o
consentimento seja renovado. Não basta o princípio do consentimento
• Declaração de Independência (1776) ! Restaura o princípio da Magna Carta
que estava um pouco esquecido.
*Esta evolução permitiu a afirmação clara de que sempre que são impostos sacrifícios
patrimoniais aos cidadãos, estes devem poder fazer ouvir a sua voz. A votação anula
do Orçamento corresponde, pois, a uma conquista do processo democrático.

O Direito Financeiro sofreu uma crise com a passagem a formas de intervencionismo


estatal, caracterizadas pela grande importância atribuída aos direitos sociais.
• O Direito Financeiro deixou de se centrar na defesa da propriedade privada e
da iniciativa privada, passando a servir um Estado que se quer de bem-estar.
• Assiste-se no século XX a um crescimento ímpar na História do volume de
despesas públicas e de receitar a ser exigidas dos contribuintes.
• As faces visíveis desta crise são os crescentes défice orçamental (com
consequente aumento de impostos) e recurso ao endividamento público.
• A chave para superação desta crise tem passado pelo ressurgimento dos
grandes princípios clássicos em matéria de direito financeiro.

Tentativas de superação da crise das Finanças Públicas em Portugal:


• Tentativas de reforço do controlo orçamental
• Tentativas tendentes à reintrodução de uma regra de equilíbrio

*De acordo com o Pacto Orçamental (2012), os Estados-Membros da UE devem


inscrever na Constituição um limite ao défice estrutural de 0,5%, o qual acresce ao
limite de 3% previsto no Tratado de Funcionamento da União Europeia. O Objetivo
desta regra é conter o endividamento de forma a equilibrar a produção e o consumo
evitando um endividamento estrutural que onere as gerações futuras.

Conseguimos estabelecer um paralelo entre o Direito Financeiro e o Direito Penal. O


Direito Financeiro impõe sacrifício patrimoniais, enquanto que o Direito Penal impõe
sacrifícios pessoais.

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