Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Sector Público é composto pelo conjunto de entidades públicas que exercem a atividade
financeira. O esquema do Sector Público começa com uma grande divisão entre sector público
administrativo e sector empresarial do Estado. Dentro do sector público administrativo focaremos o
fenómeno de actuação financeira do Estado, através de órgãos da Administração Pública, sem fins
lucrativos. No sector empresarial do Estado será dado destaque ao fenómeno de actuação do Estado
por entidades com a forma jurídica de empresa, cuja acção é motivada por critério económicos.
Ficaram fora deste esquemas as Associações Públicas propositadamente. Não entram aqui porque
são fruto de uma descentralização institucional. Estas têm competências financeiras próprias e têm
independência orçamental. Do ponto de vista contabilístico, fazem parte do sector privado, e não
estão sujeitas às regras de contabilidade pública.
! Nas administrações das Regiões Autónomas temos o correspondente aos serviços integrados
(departamentos regionais) e aos serviços e fundos autónomos (serviços e fundos autónomos da
Administração regional). Os setores empresariais das Regiões Autónomas são compostos pelo
conjunto das empresas públicas e as empresas participadas regionais.
Para efeitos de reporte do défice à União Europeia, a aplicação de regras de contabilidade nacional
obriga a um recorte do setor administrativo (SEC 95), feito de acordo com a averiguação de três
níveis:
1) Apurar se a entidade é uma unidade institucional
2) Averiguar se a entidade é uma unidade institucional pública
3) Determinar se a entidade é uma unidade institucional pública não-mercantil.
A União Europeia vai distinguir aquilo que está no setor público administrativo e aquilo que está
fora, e que se encontra no setor mercantil. Quando a União Europeia começou a apertar os seus
critérios devido à moeda única, começou a não fazer confiança no legislador. O critério para
distinguir os dois setores é, para ela, económico e não político. Fez dois critérios (duplo critério
económico) que permitem identificar o caráter mercantil ou não mercantil de uma entidade pública:
o critério dos preços economicamente vantajosos e o critério dos 50%
• Critério dos preços economicamente vantajosos: Preços cobrados são significativos para a
vida da empresa. Faz depender a distinção entre mercantil e não mercantil de os preços
cobrados serem ou não economicamente significativos.
• Critério dos 50%: Exige um controlo dos custos de produção da entidade em causa. Se os
custos de produção forem cobertos em mais de 50% pelas vendas, as entidades serão
mercantis. Se os custos de produção não forem cobertos em mais de 50% pelas vendas então
as entidades serão não-mercantis e integradas no setor administrativo.
*Fala-se em entidades públicas re-classificadas.
Por força da revisão de 2011 da Lei de Enquadramento Orçamental, fez-se procurando reverter esta
disparidade (entre o que preconizava a UE e o que preconizava o legislador nacional), uma tentativa
de aproximação às regras de contabilidade nacional. No artigo 2º nº4 da Lei de Enquadramento
orçamental estatui-se que: “Integram ainda o setor das administrações públicas as entidades que,
independentemente da sua natureza e forma, tenham sido incluídas em cada sub-setor no âmbito do
Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais, na última lista das entidades que compõem o
setor das administrações públicas divulgada até 30 de junho, pela autoridade estatística nacional,
designadas por entidades públicas reclassificadas”
a) Os Serviços Integrados
! Artigo 2º nº2 Lei de Enquadramento Orçamental: “Os serviços do Estado que não disponham de
autonomia administrativa e financeira são designados, para efeitos da presente lei, por serviços
integrados”.
Os serviços integrados e os serviços e fundos autónomos distinguem-se pelo seu regime jurídico.
O regime regra é o da autonomia administrativa. Os serviços que têm autonomia administrativa são
os serviços integrados. Os serviços com autonomia financeira e administrativa são os fundos
autónomos.
Os serviços integrados não são necessariamente aqueles que, sem personalidade, fazem parte da
administração direta do Estado. Pode dar-se o caso de estarmos, quer perante serviços integrados
sem personalidade jurídica, quer perante serviços integrados com personalidade jurídica. Por
exemplo: Um Instituto Público que, por não reunir os requisitos da lei de Bases da Contabilidade
Pública para gozar de autonomia administrativa e financeira, fica sujeito ao regime regra da
autonomia administrativa. Com efeito, o artigo 35º nº1 da Lei Quadro dos Institutos Públicos
estabelece que: “Os institutos públicos encontram-se sujeitos ao regime orçamental e financeiro
dos serviços e fundos autónomos, à excepção dos institutos públicos desprovidos de autonomia
financeira, aos quais são aplicáveis as normas financeiras dos serviços com autonomia
administrativa, sem prejuízo das especificidades constantes da presente lei.
! Assim sendo, na maior parte dos casos, identificamos serviços integrados pela ausência de uma
Lei ou Decreto-Lei que diga expressamente que estão sujeitos a um regime diferente do regime
regra.
Regime regra ! A autonomia administrativa é o regime que permite qualquer entidade pública
praticar atos administrativos de realização de receita ou de despesa, em matéria de gestão corrente.
Tudo o que tenha a ver com a atividade habitual da entidade, a regra é da autonomia administrativa,
não é preciso pedir autorização por tudo e por nada. Atribui-se competência aos dirigentes dos
serviços e organismos da Administração para a prática de atos administrativos definitivos e
executórios apenas de gestão corrente, para realizarem despesas e ordenarem o seu pagamento. Por
força do disposto no artigo 12º da Lei nº4/2004, “os serviços da administração direta do Estado
dispõem, em regra, de autonomia administrativa para actos de gestão corrente”.
• Atos de gestão corrente ! Atos que integram a atividade que os serviços e organismos
normalmente desenvolvem para a prossecução das suas atribuições (artigo 2º nº2 Lei de Bases
da Contabilidade Pública). Nos termos do artigo 2º nº3 da mesma Lei, está excluídos actos
que envolvam opções fundamentais de enquadramento da atividade destes serviços. Nos atos
de gestão corrente não é necessária autorização prévia por parte da Direção Geral do
Orçamento.
• Os atos de gestão corrente estão apenas sujeitos a um controlo sistemático por parte das
entidades que supervisionam a sua atividade (artigo 10º Lei Bases de Contabilidade Pública).
Este controlo implica a “fiscalização da conformidade legal e regularidade financeira das
despesas efectuadas, abrangendo ainda a análise da sua eficiência e eficácia” (artigo 10º nº1
LBCP).
Nos termos do artigo 2º nº4 da LBCP, estes organismos estão sujeitos aos poderes de direcção,
supervisão e inspeção dos membros do Governo. Esta sujeição explica-se por duas razões:
(1) Para garantir que a competência dos dirigentes destes serviços se restringe a atos de gestão
corrente.
(2) Para garantir que a tomada de decisões respeitantes aos atos que não são de gestão corrente
fica para órgãos superiores.
Nos termos deste mesmo artigo, os serviços integrados estão sujeitos à intervenção de órgãos de
planeamento, sempre que esteja em causa a aprovação de planos e programas.
Os serviços integrados não têm orçamento próprio, sendo que o seu orçamento está integrado no
Orçamento do Estado. Para o pagamento das suas despesas, efetuam levantamentos mensais junto
da Direção-Geral do Tesouro. Os serviços integrados não podem contrair empréstimos.
Nos termos do artigo 2º nº3 da Lei de Enquadramento Orçamental, devemos contar com dois
requisitos (um positivo e um negativo) na definição de serviços e fundos autónomos:
• Requisito negativo ! Não são serviços e fundos autónomos os organismos que tenham
natureza e forma de empresa, fundação ou associação pública.
• Requisito positivo ! Só são serviços e fundos autónomos os organismos que tenham
autonomia administrativa e financeira.
**A Lei de Enquadramento Orçamental refere ainda um terceiro requisito que é a existência de receitas próprias, mas
este não deve ser considerado como verdadeiro requisito. Isto constitui apenas um pressuposto da atribuição do regime
de autonomia administrativa e financeira. Esta alínea impõe-se somente ao legislador, de forma a que o reconhecimento
de autonomia administrativa e financeira seja feito em relação apenas aos serviços e organismos que disponham de
receitas próprias, excluindo os outros.
Requisito Positivo
A autonomia administrativa e financeira é maior do que a autonomia administrativa, permitindo que
em geral com alguns limites, sejam praticados atos em matéria de realização de despesa, por parte
dos dirigentes desses serviços e organismos da administração pública, mesmo que esses atos não
sejam de mera gestão corrente.
Cada serviço faz o seu próprio orçamento, os quais são integrados no Orçamento do Estado.
Dispõem de orçamentos próprios porque dispõem de receitas próprias e de administração e
contabilidade privativas. Contudo, não podem executar os orçamentos como bem entendem, uma
vez que estão submetidos a regras. Por exemplo: os serviços e fundos autónomos têm de utilizar
prioritariamente as suas receitas próprias. Só no caso de estas serem insuficientes, é que estes
devem proceder à cobertura das suas despesas através de transferências que recebam do
Orçamento do Estado. Os serviços e fundos autónomos executam o seu orçamento apenas com
controlo sucessivo por parte do Ministério das Finanças, e em última instância do Tribunal de
Contas.
! Os serviços e fundos autónomos podem recorrer ao crédito com autorização prévia do Ministro
das Finanças (artigo 48º do Regime da Administração Financeira do Estado).
! Estes serviços dispõem sempre de património próprio.
Este foi um regime pensado inicialmente para Institutos Públicos, daí o imperativo de personalidade
jurídica, como manifestação financeira da descentralização administrativa que estes
consubstanciam.
Cessação do regime:
! A cessação deste regime para as entidades mencionadas no artigo 6º nº1 LBCP, será operada nos
termos do artigo 7º da mesma:
• Não verificação dos requisitos do artigo 6º nº1 durante dois anos consecutivos determinará
a cessação do regime de autonomia administrativa e financeira
• Esta cessação será constatada por meio de portaria
** Este preceito não se aplica nem aos serviços e organismos que gozem de autonomia administrativa e financeira por
imperativo constitucional, nem àqueles a quem esse mesmo regime tenha sido reconhecido por razoes ponderosas,
previstas em lei ou decreto-lei.
Este preciso levanta uma dúvida: É a portaria que procede à revogação da Lei ou DL em que se
determina a atribuição do regime de autonomia administrativa e financeira ou a portaria é apenas
emitida por uma razão de segurança jurídica, sendo a cessação deste regime automática por
verificação da situação descrita no artigo 7º nº1? Esta questão é importante porque se é a portaria
que procede à revogação, então padecerá de inconstitucionalidade por violação do artigo 112º nº5
da Constituição que proíbe os regulamentos delegados.
Resta responder a mais uma dúvida: Em termos de invalidade qual o regime que devemos aplicar?
! Não vamos deitar fora nada da teoria administrativa. Só que o direito financeiro impõe também
regras especiais.
! Temos, no que toca a despesas de aquisição de bens e serviços, o DL nº197/99 que fixa
patamares de despesas:
• Até 20.000 contos, os diretores-gerais ou equiparados e os órgão máximos dos serviços
com autonomia administrativa
• Até 40.000 contos, os órgãos máximos dos organismos dotados de autonomia
administrativa e financeira, com ou sem personalidade jurídica.
• Até 750.000 contos, os ministros
• Até 1.500.000 contos, o Primeiro Ministro
• Sem limite, o Conselho de Ministros
! As despesas que são autorizadas devem estar previstas no orçamento
! Esteja ou não a competência dos agentes administrativos limitada pela gestão corrente, devem
ter-se sempre em conta os limites quantitativos de despesa legalmente prescritos, sob pena de o acto
ser inválido por vício de incompetência.
Explica o Grupo de Trabalhos Para os Institutos Públicos que uma fundação pública “terá de
preencher três requisitos:
a) Ser uma pessoa colectiva pública de natureza institucional;
b) Ter fins de interesse social, idênticos ou afins das fundações de direito privado, traduzidos na
necessária existência de beneficiários externos da sua acção, não sendo suficiente qualquer
interesse público de natureza administrativa;
c) Viver essencialmente de receitas próprias, provenientes de rendimentos de património ou do
fundo que lhe foi afecto pela entidade instituidora, ou ainda provenientes das suas próprias
actividades”
O Grupo De Trabalho Para os Institutos Públicos esclarece que “devem ficar de fora do conceito de
fundação pública (ou seja, das fundações de direito público) as pessoas colectivas públicas que não
tenham os fins indicados nem vivam essencialmente de receitas próprias. Assim, não deve entrar
nessa categoria [de fundação pública] a única entidade pública que tem o nome de fundação (a
Fundação para a Ciência e Tecnologia), visto que, apesar dos seus fins de interesse social, não vive
de receitas próprias (nomeadamente as receitas de um património ou fundo afecto), mas sim de
dotações ordinárias regulares do orçamento do Estado”.
Tomando como base este esclarecimento, percebe-se em que consiste a divergência de significados
dos conceitos de “fundo público” e “fundação pública”. Ao passo que a fundação pública reúne os
três elementos acima indicados, o fundo público – embora possa reunir os dois primeiros elementos
mencionados – não apresenta recursos efectivos próprios (recursos provenientes de um património
próprio ou fundos afectos) que possa gerir livremente. Em conformidade com isto, entende-se por
fundo público um serviço ou organismo da Administração que gere meios financeiros, provenientes
não de recursos próprios, mas de dotações orçamentais regulares.
c) A Segurança Social
! Ver Lei de Bases da Segurança Social
Para analisarmos o estado atual da Segurança Social, devemos olhar para a Constituição, para os
artigos 105º e 63º.
Conclusão: Os que estão na atividade económica são cada vez menos e, se nada mudasse, deveriam
dedicar cada vez mais tempo e esforço para pagar os encargos da protecção dos mais velhos, em
detrimento da sua própria proteção e bem-estar (Fernando Ribeiro Mendes).
A despesa da Segurança Social tem vindo a aumentar. O pico entre 2013 e 2014 tem a ver com a
crise económica. A crise faz disparar o que Kant chama os “estabilizadores automáticos”. Há na
economia formas do Estado injectar dinheiro na economia e esta maneira é pelas pensões, subsídios
de desemprego,etc.
Os primeiros tempos da Segurança Social era tão generoso que permitia que uma pessoa com meses
de trabalho e contribuições para a Segurança Social pudesse beneficiar de uma pensão durante anos.
Havia uma desproporção daquilo que se contribuía e aquilo que se recebia. Hoje em dia tem-se
tentado fazer o equilíbrio. Numa das últimas reformas da Segurança Social introduziu-se o factor de
estabilidade que visa adaptar imediatamente a Segurança Social à esperança média de vida.
Equidade intergeracional
Este princípio decorre do facto de as decisões da Segurança Social dificilmente se compaginarem
com uma ótica anual, uma vez que têm um horizonte temporal alargado, necessariamente
intergeracional.
Deve evitar-se a oneração excessiva de uma geração em favor da outra. Os recursos não podem ser
gastos de uma vez com a geração presente, ficando a futura sem acesso, ou com acesso reduzido, à
Segurança Social. Visa-se repartir equitativamente os encargos e os ganhos com a Segurança Social
pelas diferentes gerações. Assim:
• Impede-se a ruptura do financiamento da geração mais velha pela mais nova
• Impede-se um aumento das reformas e dos benefícios das gerações inativas pondo em perigo
as prestações futuras.
Ideia é encontrar um equilíbrio que permita fazer uma partilha equitativa dos cortes necessários para
uma sustentabilidade a longo prazo da segurança social para uma efetiva divisão de benefícios.
Argumentos da nossa geração ! A geração dos mais velhos já dificilmente volta a trabalhar, por
isso não podemos, sem mais, fechar-lhes a torneira. Contudo, apetece-nos pegar no dinheiro das
pensões e investir.
• Sistema de capitalização: Investir em fundos de pensões (maneira de financiamento de
Segurança Social). Para nós garantirmos que nós temos reforma, ou que temos direito a
recebermos aquilo que contribuímos. Há autores que consideram que isto é um direito de
propriedade (damos ao Estado com expectativa de recebermos uma prestação, por isso
aceitamos ser coagidos a investir todos os meses na Segurança Social).
O sistema de capitalização não garante o pagamento das pensões dos mais velhos. Se quisermos
alterar o sistema de capitalização, a primeira geração vai ter um duplo sacrifício. Este é um primeiro
problema que se coloca à nossa geração.
Argumentos da geração mais velha ! Deve ser sustentada. O sistema não deve ser de capitalização,
sendo que a geração ativa deve pagar ao que se chama o Sistema de repartição (“pay as you go”). É
a geração ativa que vai pagando as despesas da geração inativa.
!Escolhemos atualmente este modelo porque é o modelo que é mais apelativo em termos
políticos, apela a sentimentos populares (de que devemos cuidar dos mais velhos) e além disso
beneficia todos os grupos que são mais expostos a riscos.
!Numa conjuntura de grande desemprego, no sistema de capitalização vão ser penalizados aqueles
que estão desempregados. Com o modelo de repartição é mais fácil financiar as prestações de
doença, desemprego. Acaba por ser um sistema que permite uma segurança social mais abrangente.
Permite também adoptar, desde logo, valores mínimos de pensões.
!Tem alguns problemas, como o problema de ser um Estado paternalista, modelo de financiamento
paternalista, do qual o Estado parte do princípio que as pessoas são tão irresponsáveis que não vão
poupar nada para a velhice.
Não há nada entre uma coisa e outra? Como se pode resolver este problema?
Há várias ideias de como ultrapassar este problema. A geração mais velha vem muito com a
conversa dos direitos adquiridos, e seria violação da confiança mexer nas pensões.
• Determinação dos benefícios: Benefícios devem poder depender da contribuição que cada um
faz para a segurança social. Deve haver um mínimo social garantido pelo Estado, mas a partir
desse mínimo as pessoas devem receber mais, conforme contribuam mais para a segurança
social.
• É preciso que o sistema seja sustentável. É preciso de alguma forma, haja um esforço sério do
alargamento pessoal dos esforços contributivos.
• Equilíbrio entre as 3 gerações: Todas as idades têm despesas que são garantidas pela
Segurança Social, e para que a mais nova aceite contribuir para a mais velha, tem de haver um
equilíbrio para o que é dado para as 3 gerações.
1. 1ª Idade ! licenças de paternalidade, abonos de família, creches, educação pré-
escolar, educação fora da família.
2. 2ª Idade ! subsídios de desemprego e doença; pensões de reforma antecipada;
programas especiais contra a pobreza e a exclusão social.
3. 3ª idade ! pensões de velhice substitutivas dos rendimentos de trabalho/ pensões de
sobrevivência (viúvos).
O que garante que a geração ativa aceita respeitar os direitos dos idosos?
Sustentabilidade ! O que garante que a geração ativa aceita respeitar os direitos dos idosos é a
sustentabilidade. O sistema da Segurança Social foi estabelecido beneficiando uma geração que
esgota os recursos existentes neste modelo totalmente protetor daquilo que era o nível de vida ainda
na fase ativa. Esse modelo de segurança social não vai continuar. Talvez vamos ter um modelo de
segurança social que permita mínimos e um espaço que permita complementar mínimos com mais
contribuições que venham com aquilo que são os nossos rendimentos.
Atividade financeira da Segurança Social
No âmbito da Segurança Social, a atividade financeira do Estado manifesta-se na obtenção de
receitas, gestão de recursos e realização de despesas, tendo em vista a cobertura obrigatória e
universal das carências sociais por prestações compensatórias.
As receitas e despesas da Segurança Social estão previstas no Orçamento do Estado. Por força de a
Segurança Social ser composta por serviços integrados e serviços e fundos autónomos, encontramos
o seu orçamento global disperso pelo Orçamento do Estado.
• As receitas e despesas correspondentes aos serviços integrados da Segurança Social estão
previstas nos mapas correspondentes aos serviços integrados.
• No Orçamento da Segurança Social estão previstas quase exclusivamente as receitas e
despesas dos serviços e fundos autónomos.
A cada um destes sistemas corresponde a sua fonte de financiamento. De acordo com o artigo 89º
da LBSS, o princípio da adequação seletiva impõe que os recursos financeiros disponíveis sejam
afetados de acordo com a natureza e objetivos da proteção social em causa.
Assim, o primeiro sistema é financiado por receitas gerais da Segurança Social; o segundo conta
com as receitas das contribuições das entidades patronais e trabalhadores; e o terceiro aposta num
sistema de capitalização (de adesão facultativa) das receitas obtidas por via do pagamento
quotizações.
Artigo 90º ! Dentro das fontes de financiamento, vemos o primeiro sistema de proteção social de
cidadania é financiado por receitas fiscais afetas ao pagamento dessas despesas. As pensões no
sistema presidencial, em princípio são financiadas pelas contribuições dos trabalhadores (não há
transferencias do orçamento do estado, as despesas são as das contribuições).
Artigo 91º ! Fala no fundo das despesas do sistema presidencial. Contribuições dos trabalhadores,
transferências do estado na parte em que as contribuições não sejam suficientes para pagar as
prestações desse mesmo sistema.
A relação que se estabelece entre as despesas e receitas da segurança social permite-nos notar que a
Segurança Social vincula obrigatoriamente os membros ativos da sociedade como financiadores
diretos do sistema através de contribuições sociais sobre os rendimentos do seu trabalho, tendo por
contrapartida serem beneficiários das prestações e dos serviços correspondentes tanto na fase ativa
das suas vidas como na reforma.
Podemos dizer que a nossa Segurança Social, embora assente ainda, numa pequena parte, num
sistema de capitalização (isto é, num sistema em que as prestações dão origem a reservas
financeiras, cuja aplicação e rendimentos garantem o financiamento dos encargos), também
apresenta uma forte componente de repartição (método de financiamento em que as despesas
correntes de pensões atribuídas aos beneficiários são suportadas pelas receitas correspondentes,
oriundas de uma contribuição social resultante da aplicação de uma certa taxa sobre os rendimentos
de trabalho). Existe um Fundo de Estabilização da Segurança Social, o qual retém uma pequena
parcela das quotizações dos trabalhadores (Entre 2% e 4%) de forma a estabilizar as variações
conjunturais das receitas, dissociado da formação de direitos subjetivos à proteção.
d) As Autarquias locais
A autonomia financeira resulta do artigo 238º da CRP. Nos termos do nº1 do artigo 238º: “As
autarquias locais têm património e finanças próprios”. Ora, as autarquias elaboram e aprovam o
seu orçamento, arrecadam e dispõem de receitas atribuídas por lei, e gerem o seu próprio
património. Gozam portanto de independência orçamental.
Algumas notas:
1) Esta autonomia financeira não pode ser encarada como sinónimo de auto-suficiência das
Autarquias. Elas não são auto-suficientes nem têm receitas próprias para financiar as suas
despesas. As receitas próprias de que dispõem as autarquias locais não cobrem a totalidade das
suas despesas. Esta é uma consequência do modelo de repartição de receitas entre o Estado e as
autarquias que privilegia um financiamento local dependente de transferências do Estado.
Encontramos-nos assim perante uma forma imperfeita de federalismo financeiro.
2) A autonomia financeira tem de ser conjugada com uma tutela inspectiva de legalidade, portanto
ainda que disponham de Autonomia Financeira vão ser sujeitas a um controlo de legalidade
pelo Governo. Também não é sinónimo de ausência de controlo no que toca ao gasto e a
despesa. A autonomia financeira também tem de ser conjugada com o facto de, não obstante
terem lei de enquadramento orçamental própria, que essa lei está sujeita à Lei de
Enquadramento do Estado (o prazo de execução orçamental é o mesmo).
3) Mesmo tendo independência orçamental, as autarquias estão vinculadas pelos mesmos
princípios orçamentais, aplicáveis ao Orçamento do Estado (artigos 105º CRP, 2º nº6 Lei de
Enquadramento Orçamental e 3º Regime Financeiro das Autarquias Locais e das entidades
inter-municipais).
4) As autarquias locais também contribuem para os objectivos e metas orçamentais traçados no
âmbito das políticas de convergência a que Portugal está obrigado perante a União Europeia
(artigo 10º-A LEQ). As autarquias podem ver definidos na Lei do Orçamento do Estado limites
máximos de endividamento e, em caso de violação desses mesmo limites, podem ver reduzidas
as transferências devidas em anos subsequentes (artigo 12º-A LEQ).
A autonomia financeira:
• Recursos próprios adequados para a prossecução das suas atribuições (artigo 9º nº1 da Carta
Europeia de Autonomia Local): da Constituição não resulta nenhuma quantia e nenhuma
percentagem. As Autarquias Locais vão ter de viver muito daquilo que é o confronto com o
Orçamento do Estado e o que é a vontade do legislador. O Estado as deve dotar de recursos
suficientes para a prossecução das atribuições que lhes remete e para a manutenção do estatuto
de autonomia, que lhe reconhece constitucionalmente.
• Relações entre Estado e Autarquias Locais pautam-se pela solidariedade: As Autarquias
Locais não têm recursos próprios nem poder tributário próprio, logo estão dependentes das
transferências do Orçamento do Estado.O Orçamento de Estado vai ter de reservar uma verba
para transferir para as Autarquias Locais.
• Receitas próprias: Incluem obrigatoriamente receitas provenientes da gestão do seu
património e receitas provenientes da utilização dos seus serviços (artigo 238º nº3
Constituição)
A autonomia financeira não se confunde com auto-suficiência económica entendida como o poder
das autarquias para decidir de todas as suas fontes de financiamento. Nem todas as suas receitas se
devem ter como receitas próprias das autarquias.
Esta autonomia financeira é objeto de definição por lei que estabeleça o regime das finanças locais.
Esta é uma mataria da reserva relativa da Assembleia da República nos termos do artigo 165º alínea
1) da Constituição. Podemos, então, encontrar esta matéria tratada quer por Decreto-Lei autorizado,
quer por Lei da Assembleia da República. Atualmente, é o Regime financeiro das Autarquias Locais
e das entidades intermunicipais que cumpre esta função de definição da autonomia financeira das
autarquias.
Não são as Autarquias Locais que decidem acerca das suas fontes de financiamento. Isto é
importante para percebermos a dependência das Autarquias Locais em relação ao Orçamento de
Estado.
Quadro de receitas das Autarquias Locais
Transferências Orçamentais Transferências orçamentais para os municípios !
Anualmente é inscrita no OE a transferência orçamental
• São as principais receitas das autarquias para o Fundo de Equilíbrio Financeiro de 19,5% da
locais. receita líquida de IRS, IRC e IVA. O FEF atribui uma
• Esta partilha de recursos pelo Estado tem subvenção a cada um dos Municípios através do Fundo
Geral Municipal e do Fundo de Coesão Municipal.
como objetivo dotar as autarquias das Anualmente é também inscrita no OE a transferência
condições financeiras adequadas à orçamental para o Fundo Social Municipal. O OE pode
ainda operar anualmente uma transferência para os
prossecução das suas atribuições e promover municípios correspondente a uma participação variável
a correção de desigualdades para que haja até 5% do IRS (artigo 26º RFAL)..
um desenvolvimento harmonioso de todo o
Transferências orçamentais para as freguesias ! As
território. freguesias têm uma transferência orçamental, para o
• Ora, as transferências são operadas pelo Fundo de Financiamento das Freguesias, mais pequena de
Orçamento de Estado que determina tanto os 2% da receita de IRS, IVA e IRC.
montantes globais a atribuir a cada um dos Transferências extraordinárias
fundos como aquilo que cabe em concreto a É proibida a transferência extraordinária de verbas para
cada autarquia. os municípios e freguesias (se for feita ela é nula).
Existem naturalmente exceções que têm um nome
“cooperação técnica e financeira”: casos de
financiamento de projectos de interesse nacional,
situações de calamidade pública, afectação negativa por
investimentos da responsabilidade da administração
central, etc. O objetivo é que todas beneficiem da mesma
maneira do Estado (princípio da igualdade das Autarquias
Locais)
As freguesias têm muito poucas receitas. Esta escassez de receitas acompanha o número diminuto
de tarefas que lhes incumbem. As freguesias estão remetidas para um nível secundário de atuação,
uma vez que ao novel do poder autárquico, os municípios são aqueles que surgem com as funções
principais.
A tendência deveria ser de promover um federalismo fiscal perfeito, ainda que se admita que não
pode haver uma cobertura integral das despesas autárquicas por meio de impostos locais e que, por
isso, não se pode prescindir totalmente das transferências do Estado. Este federalismo fiscal perfeito
deveria assentar numa descentralização das competências do Estado, baseada no princípio da
subsidiariedade, correspondendo a uma maior cobrança de receitas por parte das autarquias.
Ao nível local têm se desenvolvido organismos que não são nem freguesias nem municípios. Temos
as CCDRs e tem-se desenvolvido associações de freguesias, associações de municípios, e temos de
considerar tudo isto que faz parte do nível local.
• CCDRs (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional): Actuam ao nível local
mas são no fundo um fenómeno de desconcentração administrativa. São serviços periféricos
da administração direta do Estado mas beneficiam em alguns casos de autonomia
administrativa e financeira. Elas no fundo dinamizam a cooperação inter-regional, asseguram
a articulação entre autarquias locais e prestam apoio técnico às autarquias locais. Não
beneficiam da aplicação do quadro de receitas das autarquias locais. Eles vão constar do OE
embora a sua acção se sinta ao nível local. Além disso, como têm autonomia administrativa e
financeira vão ter receitas próprias para gastar.
• Comunidades Inter-municipais, Associações de Freguesias e de Municípios: Não
beneficiam do quadro das AL mas desde 2013 elas beneficiam de transferências orçamentais
directas (artigo 69º do regime financeiro das Autarquias Locais e comunidades inter-
municipais). O legislador decidiu conceder-lhes mais autonomia em relação aquilo que são as
comunidades de base. Estas associações e comunidades continuam com um handicap que é
difícil de resolver: não têm poder político próprio, o que faz com que muitas vezes estas
sociedades não sejam suficientes para resolver os impasses que se criam entre os municípios e
as freguesias, porque não têm uma representatividade política própria. E muitas vezes não
conseguem angariar receitas suficientes para os projectos que querem implementar
(transferências orçamentais são muito reduzidas).
e) As Regiões Autónomas
Resulta do artigo 227º nº1 h) da Constituição o regime da autonomia financeira das regiões
autónomas. Esta autonomia é diferente da autonomias das autarquias locais, é concedida em maior
grau. Com efeito, esta autonomia consubstancia-se em:
1) Autonomia patrimonial ! Corresponde à possibilidade de disposição de bens próprios e à
liberdade de disposição de bens que o integram, sem sujeição a qualquer poder de
superintendência ou tutela do Estado (artigo 227º nº1 h) Constituição).
2) Independência orçamental ! Inclui o poder de aprovar um plano de desenvolvimento
económico e social próprio, o seu orçamento regional e a sua conta regional (artigo 227º nº1
p) Constituição). Esta independência orçamental das Regiões Autónomas não corresponde a
uma descentralização meramente administrativa. É uma derivação do reconhecimento dos
poderes políticos e legislativos próprios (artigo 225º Constituição). Esta autonomia
financeira é, assim, uma autonomia qualificada. As Regiões Autónomas vão beneficiar de
um volume maior de receitas em relação aquele que é atribuído às autarquias locais. Por
outro lado, pela conjugação da autonomia financeira com autonomia política, vão poder
beneficiar mais das receitas do que as atribuídas às autarquias locais. A associação de ideias
de independência orçamental e de autonomia politico-legislativa nos permite falar do
reconhecimento de verdadeiros poderes tributários, o que diferencia as regiões autónomas
das autarquias locais, cujos poderes tributários são muito reduzidos. Não obstante estas
diferenças, têm um traço em comum: também não definem o volume das receitas públicas de
que beneficiam. Adicionalmente, as regiões autónomas têm o seu próprio regime de
enquadramento orçamental (que consta da LFRA). Por fim, deve-se mencionar que não
obstante gozarem de independência orçamental, as regiões autónomas estão vinculadas aos
mesmos princípios orçamentais aplicáveis ao Orçamento do Estado e ao dever de assegurar a
estabilidade orçamental.
3) Autonomia de tesouraria ! É com base na autonomia de tesouraria que as regiões
autónomas arrecadam e dispõem de receitas atribuídas por lei (artigo 227º nº1 alíneas i) j) r)
da Constituição). Por força desta autonomia dispõem de:
• Poder tributário próprio
• Poder para adaptar o sistema fiscal nacional às especificidades regionais
• Receitas fiscais nela cobradas ou geradas
• Uma participação das receitas tributárias do Estado.
Muitas vezes, os estatutos político-administrativos contêm uma alínea que diz que são as
Assembleias Legislativas Regionais que estabelecem o conteúdo das relações financeiras entre
Estado e Regiões Autónomas. Embora estatutos digam isso, isto é uma matéria da reserva absoluta.
Ou seja, é frequente as Regiões Autónomas invocarem os seus Estatutos tendo em vista a
reclamação de deveres financeiros do Estado ou para a invocação da ilegalidade de novos diplomas
que os contrariem. Contudo, é jurisprudência consolidada no Tribunal Constitucional que as normas
relativas às relações financeiras entre o Estado e as Regiões Autónomas não está abrangidas pela
reserva de Estatuto, podendo ser alteradas por Lei Orgânica da Assembleia da República sempre
que esta o desejar. Não há nesta matéria nenhuma reserva de estatuto. A existir esta esvaziaria o
sentido do artigo 164º alínea t) da Constituição.
Estas relações financeiras entre o Estado e as Regiões Autónomas são atualmente reguladas pela Lei
das Finanças das Regiões Autónomas e pela Lei de Enquadramento Orçamental.
Princípio da solidariedade (artigos 225º nº2 e 229º Constituição e artigo 8º LFRA): Tanto o
Estado está obrigado a participar nos gastos das Regiões Autónomas, como estas estão obrigadas a
participar nos gastos da Administração Central. Mas, na prática, o regime é muito benéfico para as
Regiões Autónomas. É um princípio com aplicação reciproca obrigando, por um lado, o Estado e
por outro as Regiões Autónomas.
Por força do princípio da solidariedade, podemos dizer que a autonomia financeira das Regiões
Autónomas não é ilimitada porque estão obrigadas a coordenar as suas finanças com as do Estado.
Para tanto:
• O Estado e as Regiões prestam mutuamente toda a informação em matéria económica e
financeira necessária para a prossecução das respectivas políticas financeiras (artigo 10º-C
LEO).
• As Regiões devem apresentar todos os anos uma estimativas de contas não financeiras e da
divida pública das administrações públicas regionais, para os anos anteriores e corrente, de
acordo com a metodologia do SEC 95 e do Manual do Défice e da Dívida aprovado pelo
Eurostat (artigo 21º LFRA)
• As Regiões devem apresentar relatórios mensais de estimativas da execução orçamental e da
divida pública do Governo Regional, sendo que a falta de apresentação é sancionada (artigo
22º LFRA)
• As Regiões devem suportar reduções aos limites legais do endividamento, quando tal se torne
necessário para cumprimento da estabilidade orçamental decorrente do Pacto de
Estabelecimento e Crescimento (artigo 87º LEO)
Para assegurar a coordenação entre as finanças das Regiões e do Estado, as Regiões estão sujeitas
aos controlos administrativo, politico e jurisdicional.
A situação orçamental das Regiões é seguida de perto pelo Conselho de Acompanhamento das
Políticas Financeiras, o qual funciona junto do Ministério das Finanças. Este órgão vigia as políticas
orçamentais regionais, e o seu nível de endividamento, assegurando ainda a coerência entre o
sistema fiscal nacional e o regional. Se detectar alguma irregularidade, este Conselho deve
comunicá-la à Assembleia da República ou Assembleia Legislativa Regional.
Quem gasta?
• Regiões Autónomas
• Departamentos regionais (serviços integrados)
• Serviços e fundos autónomos
Problemas:
1. Federalismo Fiscal Imperfeito: Há um traço em comum que é da pouca autonomia na decisão
quanto às receitas de que beneficiam uns e outros. a descentralização administrativa (AL) e
policia (RA) não é acompanhada da responsabilização financeira dessas mesmas entidades.
Tanto as AL como as RA estão muito dependentes do OE. O que significa que não obstante a
sua base democrática, acabam por não responder perante os eleitores mas sim perante o
governo. Os eleitores desinteressam-se daquilo que são os gastos das autarquias e das regiões,
porque os gastos não são acompanhados de aumentos impostos, não nos preocupamos. Esta
desresponsabilização financeira faz com que haja uma inexistência quase total em Portugal
daquilo que é a competição financeira que poderia haver entre as várias AL e RA.Será a solução
impor mais impostos locais e regionais? Poderiam as autarquias locais e as regiões autónomas
viver apenas de impostos locais e regionais, sem as transferencias orçamentais? Não parece
possível. Seriam sempre desiguais, porque a distribuição populacional pelo país é desigual.
Talvez por isso o Governo prefere controlar, uma vez que não pode prescindir de transferir,
transfere a maior parte e assim controla os gastos.
2. Dificuldades existentes na coordenação com o Orçamento do Estado: Há mecanismos de
coordenação financeira. A coordenação vai obrigar a que as AL e as RA estejam obrigadas a um
dever de informação permanente em relação ao governo sobre aquilo que é a execução do seu
próprio orçamento. Têm manter o governo informado sobre contras, divisas, compromissos
assumidos. Se o dever de informação não for cumprido por alguma autarquia local, o Governo
pode suspender as transferências do OE. Esta coordenação gera relações tensas, porque durante
a elaboração do orçamento o Governo vai estar sempre a querer saber o que as AL e as RA vão
querer lá por. O Governo tem de controlar permanentemente a execução orçamental. Estes
orçamentos nem sequer têm aplicação diferida. O Governo vai ter de ir controlando e ir
procurando resolver os vários desvios que vão aparecendo. Na Lei de Enquadramento
Orçamental, ainda se permite ao Governo reduzir transferencias orçamentais sempre que esteja
em causa fazer face ao cumprimento da estabilidade orçamental. No caso das RA se houver
redução das transferencias orçamentais, ela reverte para um fundo de amortização da dívida da
região. Quem controla isto é a AR, as ALR, e em última linha o Tribunal de Contas.
Transferências Orçamentais: A sua A concessão das transferencias orçamentais não resulta de
uma negociação entre as RA e o Governa, mas sim da
necessidade é explicada com referência a dois aplicação de uma fórmula matemática que está na LFRA
factores: (artigo 48º).
• Tendencial assunção da generalidade das Uma parte destas reverte para o Fundo de Coesão das
funções do Estado Regiões ultra-periféricas, com vista a assegurar a
• Problemas especiais de desenvolvimento que convergência económica de todo o território nacional.
se fazem sentir e que decorrem da As transferências orçamentais podem ser reduzidas por
ultraperificidade destas regiões. uma violação dos limites de endividamento impostos pela
Lei do Orçamento do Estado ou pela necessidade de
assegurar o estrito cumprimento dos princípios da
estabilidade orçamental e da solidariedade recíproca, para
assegurar o cumprimento do artigo 126º TFUE e do Pacto
de Estabilidade e Crescimento.
Receitas Tributárias: Todas as receitas que são Receitas tributárias do Estado cobradas nas Regiões
ou com conexão a pessoas aí residentes ou
cobradas nas Regiões Autónomas ou às pessoas representadas:
aí residentes ou que representem bens nela • IRC devido por pessoas colectivas residentes nas
localizados, revertem a favor das Regiões Regiões
• IRS devido por pessoas singulares residentes nas
Autónomas. Regiões
• IVA cobrado pelas operações realizadas nas Regiões
As Regiões Autónomas têm muitas receitas • Impostos especiais de consumo,
• Imposto de selo,
tributárias! • Imposto especial do exercício da atividade do jogo.
*Artigos 25º a 32º LFRA
Dívida Acessória
Desde 2010, admite-se que o Estado assuma uma posição
devedora no que toca às dívidas das Regiões Autónomas
se prestar uma garantia pessoal (aval ou fiança) ou se isso
resultar de lei expressa (artigo 43º LFRA)
Outras receitas Constituem ainda receitas das Regiões Autónomas:
• Juros sobre impostos que constituem receitas próprias
• Multas e coimas se a ação ou omissão que
consubstancia a infração se tiver verificado nas
Regiões Autónomas (artigo 34º LFRA)
• Preços públicos devidos pela prestação de serviços
regionais (artigo 35º)
• Participação sobre os resultados líquidos da exploração
dos jogos sociais explorados pela Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa (artigo 36º)
O recurso à dívida pública é feito em caso de falta de receita (patrimonial ou tributária). Podemos
ter todos os limites mas se nos faltar receita, vamos ter de ir à receita creditícia. Por isso é que em
2009 tivemos de pedir auxílio à Troika: não havia crédito público a ser concedido a taxas
suportáveis.
A Administração Central gasta mais do que os Serviços e Fundos Autónomos porque o seu regime é
o regime da autonomia administrativa (é o regime regra) — é normal que a Administração Central
conte com mais despesas do que os serviços e fundos autónomos.
Há uma grande dificuldade por parte dos governos em fazer o orçamento do Estado. O processo
pelo qual se faz o orçamento é o processo incrementalista (pegar no OE do ano anterior e
acrescentar o valor da inflação, pelo menos). É preciso prever igualmente aumentos de pensões,
rever o montante dos impostos (que varia consoante haja ou não crescimento económico). Quer
dizer, há algumas variações, mas as grandes rubricas estão feitas.
É muito difícil mexer nestes grandes números. Quase parece que estamos condenados a ter défices
para sempre.
Na Lei de Enquadramento Orçamental havia um artigo que falava no orçamento de base zero. Era
uma ideia boa mas era “poesia legislativa”. Era obrigar todos os governos a não utilizarem o
processo de orçamento incrementalista. Era terem um orçamento a zeros e questionarem uma a uma
as rubricas orçamentais. A nova Lei de Enquadramento Orçamental que sai daqui a 3 anos não fala
disto do orçamento de base zero.
Em termos de média em relação aos outros países da União Europeia estamos alinhados com aquilo
que são os gastos, temos embora mais despesa quanto à saúde e educação.
Quando entram no perímetro orçamental têm uma contabilidade diferente, não vão aplicar o plano
oficial de contabilidade pública, actuam com uma lógica empresarial: Não atuam segundo as regras
de Direito Administrativo.
As duas são organização empresariais que se regem pelo Direito Privado (Direito Comercial) e em
que o Estado detém uma participação permanente.
• As empresas públicas são entidades em que Estado exerce uma influência dominante: ou
detém a maioria do capital social (CTT, Estradas de Portugal), ou tem direitos de voto ou
direito de designar e destituir a maioria dos membros do órgão de fiscalização e de
administração, ou dispõe de participações qualificadas ou direitos especiais que lhe permitam
influenciar de forma determinante os processos decisórios ou opções estratégicas da empresa.
• As empresas participadas são aquelas em que o Estado não exerce influência dominante.
A independência orçamental não pode ser tida como sinónimo de total indiferença perante a
situação orçamental nacional. Com efeito, as empresas carecem de autorização para a sua
constituição (artigo 10º) e estão sujeitas a um controlo permanente do Governo.
O facto de o critério relevante para integração no setor administrações públicas para efeitos de
aplicação do SEC 95 ser económico, faz com que a situação económica de algumas destas empresas
do setor empresarial do Estado tenha reflexos no apuramento dos défices excessivos. A aplicação do
duplo critério económico faz com que algumas empresas tenham de ser integradas no sector
administrativo. Em relação a estas não as podemos eximir de um dever de observância da
estabilidade orçamental.
Recurso ao crédito: Em geral, todas as empresas que integram o sector empresarial do Estado têm
capacidade para contrair dívidas.
Estando fora do perímetro orçamental, podem ou não endividar-se?
• Sendo consideradas dentro do perímetro orçamental, então tanto o ativo como o passivo vai se
refletir na situação orçamental. Se podem entrar no perímetro, então temos de ter cuidados
quanto ao endividamento.
• Algumas podem contrair crédito. Se apresentarem um capital negativo vão ter de pedir
autorização à direção geral de tesouro e finanças (DGTF) porque vai-se ver se esta entidade
está ou não na iminência de ser reclassificada. As empresas que tenham sido reclassificadas
não se podem endividar. Só podem obter financiamento junto do Ministério das Finanças.
Ou seja, nos termos do artigo 29º do Regime Jurídico do Sector Público Empresarial:
a) Só as empresas públicas não financeiras que apresentam capital próprio positivo e não tenham
sido integradas no setor administrações públicas nos termos do SEC95 podem de forma direta
e autónoma negociar e contrair financiamento para a prossecução das suas atividades
b) As empresas públicas não financeiras com capital próprio negativo só podem aceder
financiamento com prévia autorização da DGTF
c) As empresas públicas não financeiras que tenham sido integradas no sector administrações
públicas, nos termos do SEC95, não podem aceder a novos financiamentos junto de
instituições de crédito
Sector Empresarial Local ! É composto pelo conjunto das sociedades comerciais participadas
pelos municípios, pelas associações de municípios e pelas áreas metropolitanas. Ou seja, é
composto por serviços municipalizados, empresas locais e participadas.
• Empresas Locais ! São aquelas sobre as quais as entidades públicas participantes exercem uma
influencia dominante (detenção da maioria do capital ou dos direitos de voto, direito de designar
ou destituir a maioria dos membros do órgão de administração ou de fiscalização). Têm por
objeto exclusivo a exploração de atividades de interesse geral ou a promoção do
desenvolvimento local e regional. Não podem ser constituídas empresas para a prossecução de
actividades de natureza exclusivamente administrativa ou com intuito exclusivamente mercantil.
Têm de prosseguir actividades que se insiram nas atribuições dos respectivos municípios,
associações de municípios ou áreas metropolitanas.
As empresas locais podem contrair dívida — Nos termos do artigo 40º, o legislador prevê que os
sócios cubram os resultados líquidos da empresa, na devida proporção das suas participações
sociais. Os serviços municipalizados podem contrair emprestamos, mas devem obedecer às regras
legais aplicáveis aos municípios. Há dois factores que explicam os limites ao endividamento:
1) Ideia de que estas empresas não têm uma verdadeira independência orçamental, visto que
orbitam em torno da atividade financeira municipal
2) Necessidade de evitar fraudes à aplicação de regras de contabilidade pública.
Todas as empresas do sector empresarial das Regiões Autónomas têm capacidade de contrair
dívidas. Mas esta capacidade tem limites: o endividamento deve estar previsto no orçamento da
respectiva empresa; excepcionalmente a assunção de dividas das empresas regionais deverá ser
submetida a uma autorização prévia:
a) Açores ! Serão submetidos a autorização do Ministro das Finanças e do ministro responsável
pelo setor ou da assembleia geral, todos os casos de endividamento ou assunção de
responsabilidade de natureza similar não previstos nem no orçamento nem no plano de
investimentos da empresa a que se refere.
b) Madeira ! Serão submetidos a autorização dos membros do Governo Regional, responsáveis
pelas Finanças e pelo sector ou da assembleia geral, todos os casos de endividamento ou
assunção de responsabilidades de natureza similar não previstos nem no orçamento nem no
plano de investimentos da empresa a que se refere.
Hoje já não existe o exagero de empresas públicas que tivemos nos anos 90 (o Estado escondia o
lixo por baixo do tapete). Era um expediente de desorçamentação de despesa. Com o controlo da
UE isso acabou e temos um sector empresarial muito mais disciplinado. Mas isso não significa que
não tenhamos problemas:
• Dispersão de participações do Estado: torna o controlo muito difícil. Se o Estado tem
pequenas participações, não se justifica o Tribunal de Contas estar em cima de todas as
empresas, mas torna difícil fazer o controlo e questionar a intervenção do Estado nessas
empresas.
O sector empresarial do Estado, em Portugal, conta com muitas entidades que bem poderiam
pertencer à administração indirecta do Estado (até porque contabilisticamente não são mais do que
isso. Estas entidades não se regem por princípios económicos, mas o Estado aparece nelas sob uma
forma empresarial, isentando-se quer de contabilizar nesses domínios os seus ganhos e perdas de
acordo com as regras do POCP, quer de respeitar os mecanismos de direito público que de outra
forma lhe seriam aplicáveis.