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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E AUDITORIA DE MOÇAMBIQUE

Finanças Públicas

O SECTOR PÚBLICO E SUA ESTRUTURA

Sector Público é o conjunto de actividades económicas de qualquer natureza exercidas pelas entidades
públicas (Estado, associações e instituições públicas), quer assentes na representatividade e na
descentralização democrática, quer resultantes da funcionalidade tecnocrática e da desconcentração
por eficiência.” (Franco, 1995).

Sector Público é assim definido como conjunto de instituições e agências directa e indirectamente
financiadas pelo Estado, que têm como objectivo final a provisão de bens e serviços públicos.

Estrutura do Sector Público


- Estado (inclui órgãos do Estado)

Administração Administração - Serviços e fundos autónomos da


Pública Central - Administração central

Segurança - Instituições sem fins lucrativas da


Social - Administração central
SECTOR
PÚBLICO
- Conselhos Municipais
Administração - Instrituições sem fins lucrativas da Adm., local
Empresas Local - Serviços autónomos de Adm. local
Públicas

O Sector Público Administrativo (SPA) é constituído pelo conjunto de entidades e de serviços da


Administração Central, Local e Regional e ainda pela Segurança Social e pelos Fundos Autónomo.

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O Grupo de Disciplina
Este sector, cuja actuação se desenvolve com base em critérios não empresariais, ou seja, sem ter
por objectivo o lucro, integra as actividades tradicionais do Estado, tais como a sua gestão
administrativa (ministérios e demais departamentos públicos), o exercício da segurança e defesa, a
administração da justiça pelos tribunais, o lançamento de infraestruturas e todo o conjunto de
serviços susceptíveis de satisfazerem as necessidades essenciais da comunidade, como, por
exemplo, a assistência médico-hospitalar e o ensino gratuito.

O Sector Público Empresarial (SPE) é constituído pelo conjunto das unidades produtivas do
Estado, organizadas e geridas de forma empresarial, integrando as empresas públicas e as empresas
participadas.
 Empresas públicas são: as organizações empresariais constituídas sob a forma de
sociedade de responsabilidade limitada nos termos da lei comercial, nas quais o Estado ou
outras entidades públicas possam exercer, isolada ou conjuntamente, de forma directa ou
indirecta, influência dominante e as entidades públicas empresariais.

 Empresas participadas são: as organizações empresariais em que o Estado ou quaisquer


outras entidades públicas, de carácter administrativo ou empresarial, detenham uma
participação permanente, de forma directa ou indirecta, desde que o conjunto das
participações públicas não origine influência dominante.

Sector Público Administrativo Vs Sector Público Empresarial

Sector Público Sector Empresarial


Administração do Estado

Regras de Contabilidade Regras de Contabilidade das


da Administração Pública entidades privadas

Sujeito ao Plano Básico de Sujeito ao Sistema de


Contabilidade Pública Contabilidade para o Sector
Empresarial em Moçambique

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O Grupo de Disciplina
Do ponto de vista contabilístico

No Sector Público Empresarial - Não existem diferenças fundamentais em relação às empresas


privadas uma vez que, perseguindo fins similares (nomeadamente a criação de excedentes lucro),
as empresas públicas utilizam Sistema de Normalização Contabilística (SNC) das empresas
privadas.

A própria NICSP do IFAC refere que Contabilidade, Auditoria e Relato Financeiro das empresas
públicas “comerciais” devem seguir as Normas Internacionais das empresas privadas;

 Empresas comerciais, industriais, financeiras ou outras, de capitais públicos, cujo principal


objectivo é produzir bens e prestar serviços para serem vendidos num mercado;
 Principais recursos financeiros provêm das vendas, mas também podem receber dinheiros
públicos;
 Não há orientação estrita para o lucro
 Inclui actividades dominadas exclusivamente por critérios económicos, cujo fim é a
produção de bens ou a prestação de serviços visando algum lucro;
 Resultam de mais intervenção do Estado na economia – prestam serviços que se entenderam
estrategicamente ser melhor prestados por EPs (p. ex. fugir à concorrência do mercado para
a fixação dos preços);

O Sector Público Administrativo – As actividades económicas que, pela sua natureza, são próprias
do Estado ou de outras entidades públicas;

 Actividades desenvolvidas de acordo com critérios não empresariais;


 Entidades públicas que visam prestar serviços à comunidade, gratuitos ou semi-gratuitos
(com comparticipação directa dos utilizadores);
 Entidades públicas que desenvolvem operações de redistribuição de rendimentos;
 Entidades públicas cujos recursos financeiros provêm essencialmente do Estado ou de
outras organizações públicas que, por sua vez, os obtêm dos contribuintes;
 Obedecem às regras da Contabilidade Pública.

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O Grupo de Disciplina
Diferenças fundamentais Sector Público Administrativo e Sector Público Empresarial

Sector Público Administrativo Sector Público Empresarial


 Procura prestar o melhor serviço com  Orientação para lucro – medida
os recursos disponíveis; objectiva de desempenho;
 Não orientação para lucro;  Recursos provêm das vendas.
 Desempenho não pode ser
objectivamente medido (mas estão a
desenvolver-se indicadores);
 Recursos provêm de impostos e
outras contribuições obrigatórias, sem
contrapartida directa;
 Obedece a um regime orçamental –
ORÇAMENTO formaliza políticas
públicas e permite o controlo (da
legalidade).

SECTOR PÚBLICO ADMINISTRATIVO

Administração Central

A Administração Central inclui os diversos gabinetes ministeriais e as entidades que se encontram


sob a sua tutela:

 SERVIÇOS integrados;
 Dependem do Orçamento do Estado (não têm orçamento próprio);
 Incluídos na Conta Geral do Estado;
 Integrados ou dependentes de outras entidades públicas (subentidades);
 Não têm Direcção Financeira própria – é assegurada pela Administração Financeira do
Estado;
 Todas as despesas têm que ser superiormente autorizadas;
 Gabinetes ministeriais, direcções gerais, entre outros.

Administração Central Autónoma

 Serviços incluídos no Orçamento do Estado (autónomos);


 Novo Regime da Administração Financeira do Estado;

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a) Serviços com Autonomia Administrativa (regime geral)
o Apenas gerem as verbas a que têm direito, incluídas nos montantes globais do
Orçamento do Estado
o Todos os meses o Conselho Administrativo requer a libertação dos créditos para
uso corrente
o Direcção Administrativa é responsável pela gestão financeira e, no fim de cada
ano, presta responsabilidades ao Tesouro

b) Serviços com Autonomia Administrativa e Financeira (regime excepcional) – receitas


próprias cobrem pelo menos 2/3 das despesas totais, ou imperativo constitucional.
o Possuem e decidem sobre o seu próprio património, têm orçamento próprio, gerem
o seu dinheiro autonomamente e podem contrair empréstimos até certos limites,
assumindo todas as responsabilidades;
o Exemplos: Hospitais, centros de saúde, unidades militares, universidades e escolas
públicas, Assembleia da República;

Fundos autónomos são unidades/serviços dedicados exclusivamente à gestão de recursos


financeiros (e.g. Fundo de Turismo e Fundo Geral de Aposentações).
o Não têm independência orçamental, mas o orçamento próprio é publicado
separadamente dentro do Orçamento do Estado.

Administração Local

Por sua vez, a Administração Local engloba os órgãos cuja actividade tem por objectivo prosseguir
os interesses colectivos próprios da população de uma parte do território nacional (ex: municípios):

 Entidades cujas actividades e poder de decisão são separadas da Administração Central;


 Não se deve confundir com a Administração Local do Estado (entidades do Governo Central
prestando serviços numa dada área territorial – p. ex. Direcção Regional da Agricultura);
 Presta serviços visando a satisfação dos interesses da população de um determinado
território;
 Consequência de um processo de descentralização territorial administrativa;
 Têm finanças, património e orçamento próprios;
 Independência orçamental

Segurança Social
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Relativamente à Segurança Social, saliente-se que a mesma tem sido dotada de autonomia crescente,
dispondo de um regime e fundos próprios, encontrando-se, porém, integrada na Lei do Orçamento
do Estado:

 O regime é diferenciado;
 Instituições de nível central e regional;
 Prestam serviços sem contraprestação directa, mas exigem contribuições obrigatórias;
 Regras financeiras próprias – Lei de Bases da Segurança Social;
 Subsistema do Orçamento do Estado.

AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA

Autonomia - medida da liberdade dos poderes financeiros das entidades públicas; ou a capacidade
financeira de uma pessoa ou órgão público.

Os diferentes tipos de descentralização vão potenciar a existência de diferentes tipos de autonomia:

Modalidades de autonomia

Quanto à matéria:
 Autonomia Patrimonial;
 Autonomia Orçamental;
 Autonomia Tesouraria;
 Autonomia Creditícia;

Quanto ao grau:

 Não existe uma medida comum, podendo a lei determinar diferentes formas materiais de
autonomia;
 No entanto, do ponto de vista orçamental podemos considerar a existência de:
o Independência orçamental (caso do Sector Publico Empresarial);
o Caso especial (Segurança Social)
o Submissão ao Orçamento de Estado.

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Regime da Administração Financeira do Estado

Regime Geral Regime Excepcional


Personalidade Jurídica Não Sim
Tipo de Autonomia Administrativa Administrativa e Financeira
Património Próprio Não Sim
Poder dos dirigentes Gestão Corrente Gestão
Recursos efectivos Créditos inscritos no Transferência do Orçamento do Estado e
Orçamento do Estado Receitas Próprias
Créditos Não é permitido Permitido com autorização do MF
Pagamento de despesas Libertação de créditos Autorização dos dirigentes
na base dos duodécimos

Tipos de Autonomia

Autonomia Patrimonial – é o poder de ter património próprio e/ou tomar decisões relativos ao
património público no âmbito da lei.

Autonomia Orçamental é o poder de ter orçamento próprio gerindo as correspondentes despesas e


receitas, isto significa tomar decisões em relação a elas.

Autonomia de Tesouraria é o poder de gerir de forma autónoma os recursos monetários próprios,


em execução ou não do orçamento.

Autonomia Creditícia é o poder de contrair dívidas, assumindo as correspondentes


responsabilidades, pelo recurso a operações financeiras de crédito.

Autonomia Administrativa – consiste essencialmente no poder atribuído a um serviço de proceder


ao pagamento das próprias despesas, ainda que em execução do orçamento do Estado e por contas
de levantamentos dos cofres do Tesouro, pelos quais são responsabilizados os respectivos agentes
pagadores.

Autonomia Financeira – é o poder de ter orçamento e contabilidade privativos com receitas


próprias. De igual modo, é um atributo dos poderes financeiros das entidades públicas relativamente
ao Estado.

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Serviços Autónomos e Fundos

 Serviços Autónomos – são aqueles cuja importância e a sua autonomia justifica-se, em


princípio, para além de carecerem de agilidade e rapidez de gestão, eles dispõe de receitas
próprias geradas pela venda de bens e prestação serviços. Por exemplo, notários e
funcionários de justiça, o cofre dos tribunais e outros «cofre», as administrações regionais
de saúde, o Instituto de Acção Social Escolar e os Serviços Médicos-Sociais das
Universidades, as unidades e estabelecimentos militares.

 Fundos – são entidades autónomas com competência fundamentalmente financeira, por


exemplo, Fundo Nacional do Turismo, e Fundo Nacional de Estradas, Fundo de
Desenvolvimento Agrário, Fundo de Fomento de Habitação e outros.

SUBSECTORES DO SECTOR PÚBLICO

O Sector Público é constituído pelos seguintes subsectores:


 Sociedades não financeiras públicas
 Empresas não financeiras e participadas maioritariamente pelo sector público
 Quase-sociedades não financeiras públicas

 Sociedades financeiras públicas


 Banco Central
 Outras sociedades de depósitos públicos
 Outros intermediários financeiros públicos
 Auxiliares financeiros públicos
 Sociedades de seguros públicos

 Administrações Públicas

 Administração Central
• Estado (incluindo órgãos de Estado – Lei 8/2003)
• Serviços e fundos autónomos da administração central
• Instituições sem fins lucrativos da administração central
 Administração Local
• Municípios
• Serviços autónomos de administração local
• Instituições sem fins lucrativos da administração local
 Fundos de Segurança Social

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 Sociedades Não Financeiras Públicas – é o conjunto de entidades dotadas de personalidade
jurídica que são produtores mercantis e cuja actividade principal consiste em produzir bens
e serviços não financeiros.

Empresas não financeiras públicas e participadas maioritariamente pelo sector Público,


integram as unidades com a forma jurídica de empresas com estatuto de empresa pública ou empresa
estatal, com origem em empresas criadas ou nacionalizadas pelo Estado e nas quais a totalidade do
capital social é detido pelas administrações públicas. Este subsector reúne, ainda, o conjunto das
sociedades participadas maioritariamente e controladas pelo sector público.

 Sociedades Financeiras Públicas – é o conjunto de sociedades e quase-sociedade cuja


função principal consiste em fornecer serviços de intermediação financeira e/ou exercer
actividades financeiras auxiliares.

OS SECTORES E UNIDADES INSTITUCIONAIS

Os Sectores Institucionais agrupam tipos similares de Unidades Institucionais Residentes,


segundo objectivos, funções e comportamentos económicos.

Uma Unidade Institucional é uma entidade económica com capacidade, por si própria, de possuir
activos, incorrer em passivos, e envolver-se em actividades económicas e transacções com outras
entidades.

Ou seja, uma unidade institucional tem capacidade:


 De possuir e trocar/transaccionar bens ou activos por si própria;
 De tomar decisões e envolver-se em actividades económicas
 De contrair empréstimos e efectuar depósitos em seu próprio nome, assumir outras
obrigações e compromissos futuros, e entrar em contratos.

A unidade institucional é um centro elementar de decisão económica. Caracteriza-se por uma


unicidade de comportamento e uma autonomia de decisão no exercício da sua função principal.

Uma Unidade Institucional é Residente quando tem um centro de interesse económico no


território económico do país em questão, isto é, quando realiza actividades económicas neste
território durante um período prolongado (um ano ou mais).

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Três conceitos à partida para definir uma Unidade Institucional:

 Território económico
 Centro de interesse económico
 Critério de residência

O Território económico de um país consiste no espaço geográfico administrado por um governo,


e dentro do qual pessoas, bens e capitais circula livremente. Inclui: as ilhas que pertencem ao país;
o espaço aéreo, as águas territoriais e a plataforma continental que possua em águas internacionais
sobre a qual o país goza de direitos exclusivos ou sobre a qual tem ou reclama jurisdição em relação
ao direito de explorar recursos nela existentes.

O território económico também inclui os enclaves territoriais no estrangeiro constituídos por áreas
bem demarcadas e que são utilizadas pelo governo, como proprietário ou por arrendamento, para
fins diplomáticos, militares, científicos ou outros fins, com o consentimento político formal dos
governos dos países em que se encontram fisicamente localizadas; são os casos das embaixadas,
consulados, bases militares, estações científicas, serviços de informação ou imigração, agências de
assistência, etc. O território económico inclui ainda as zonas francas e unidades exploradas por
empresas off-shore.

Uma Unidade Institucional tem um Centro de Interesse Económico dentro de um país quando
existe um lugar – habitação, local de produção ou outra instalação – dentro do território económico
desse país, no qual ou a partir do qual, desenvolva e tencione continuar a desenvolver um volume
significativo de produção de bens e serviços, tanto indefinidamente como durante um período longo
mas finito (geralmente um ano ou mais).

Considera-se que uma unidade residente constitui uma unidade institucional desde que goze de
autonomia de decisão no exercício da sua função principal, disponha de uma contabilidade
completa ou que seja possível e significativo, tanto de um ponto de vista económico como jurídico,
elaborar uma contabilidade completa se tal for necessário.

Assim, o sistema considera a existência de 2 tipos de Unidades Institucionais:

I. Famílias consistindo em indivíduos, famílias ou outros grupos de pessoas que partilham a


mesma habitação, que partilham total ou parcialmente do mesmo rendimento e riqueza, e

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que consomem colectivamente certos tipos de bens e serviços. As famílias podem realizar
actividades de produção económica.

II. Entidades jurídicas ou sociais que realizam actividades económicas em nome próprio e são
reconhecidas juridicamente ou pela sociedade como entidades que existem
independentemente das unidades a que elas pertencem ou pelas quais são controladas:

a) Unidades que têm contabilidade completa e autonomia de decisão:


(1) As sociedades de capital,
(2) As sociedades cooperativas e as sociedades de pessoas com personalidade jurídica,
(3) Os produtores públicos dotados de estatuto que lhes confere personalidade jurídica,
(4) As instituições sem fim lucrativo dotadas de personalidade jurídica,
(5) Os organismos públicos administrativos.

b) Unidades que têm contabilidade completa e que se considera terem autonomia de decisão:
(1) As quase-sociedades.

c) Unidades que não têm necessariamente contabilidade completa mas que, por convenção,
se considera disporem de autonomia de decisão:
(1) As unidades residentes fictícias

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1. ORÇAMENTO DO ESTADO EM MOÇAMBIQUE

O Orçamento do Estado - é um dos cinco subsistemas do Sistema de Administração Financeira do Estado


(SISTAFE) (Lei nr. 9/2002, 12 de Fevereiro).

Conceito: Subsistema de Orçamento do Estado – designado abreviadamente por SOE, compreende todos
os órgãos ou instituições que intervêm nos processos de programação e controlo orçamental e financeiro e
abrange ainda as respectivas normas e procedimentos. (Art. 10, Lei nr. 09/2002, 12 de Fevereiro).

Compete aos órgãos e instituições que integram o SOE (Art. 11):

a) preparar e propôr os elementos necessários para a elaboração do Orçamento do Estado;


b) Preparar o projecto de Lei Orçamental e respectiva fundamentação;
c) Avaliar os projectos de orçamentos dos órgãos e instituições do Estado;
d) Propôr medidas necessárias para que o Orçamento do Estado comece a ser executado no início do
exercício económico a que respeita;

e) Preparar, em coordenação com o Subsistema do Tesouro Público, a programação relativa à execução


orçamental e financeira, mediante a observância no disposto na presente Lei e respectiva
regulamentação complementar;

f) Avaliar as alterações ao Orçamento do Estado;

g) Avaliar os processos de execução orçamental e financeira.

O Orçamento do Estado - é o documento no qual estão previstas as receitas a arrecadar e fixadas as


despesas a realizar num determinado exercício económico e tem por objecto a prossecução da política
financeira do Estado.

Trata-se de uma previsão, já que se refere a um período futuro (o próximo ano económico) e não ao
momento presente. E o futuro, como todos sabemos, é incerto.

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O Orçamento do Estado - é um mapa de previsão, em regra anual, das despesas a realizar pelo Estado e
dos processos de as cobrir, incorporando a autorização concedida à Administração Financeira para cobrar
receitas e realizar despesas e limitando os poderes financeiros de administração em cada período anual.

Pode-se também olhar para o orçamento como o quadro geral básico de toda a actividade financeira do
Estado, uma vez que é através dele que se procura guiar-se no âmbito da utilização dos dinheiros públicos.

1.1. DIMENSÕES E FUNÇÕES DO ORÇAMENTO

São três as dimensões do orçamento:

Económica: o orçamento é uma previsão da gestão orçamental do Estado (plano financeiro). Fixa as
despesas a realizar e antecipa as receitas a arrecadar pelo Estado num determinado período de tempo.

Política: o orçamento, uma vez aprovado, é a autorização política do plano financeiro do Estado.
Autoriza o Governo a realizar certas despesas e a cobrar determinadas receitas.

Jurídica: o orçamento é o instrumento através do qual se limitam os poderes da administração do Estado


no plano financeiro. Por outras palavras, os órgãos da administração terão de seguir as linhas traçadas
pelo orçamento na execução da gestão financeira do Estado. Não poderão gastar mais do que aquilo que
vem especificado no orçamento nem cobrar receitas que não estão inscritas neste documento.

Sendo assim, o orçamento cumpre funções de natureza económica, política e jurídica. Tais funções
assumem importância extrema para o funcionamento de qualquer economia e sistema político. Daí a
razão da existência do orçamento e a importância que ele assume.

No plano económico:

 Facilita a gestão dos dinheiros públicos, torna a gestão desses dinheiros mais racional e eficiente.
Por outras palavras, evita o improviso, que é sempre uma causa de desperdício.

 Constituí um elemento fundamental na definição e execução da política económica do Governo


e permite aos agentes económicos e à sociedade em geral conhecer as principais linhas desta
política.

No plano político:

 Garante que a tributação do rendimento dos cidadãos para cobrir os gastos públicos sejá feita
mediante decisão dos seus representantes na Assembleia da República, isto é, mediante a
aprovação dos Deputados.
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 Assegura o equilibrio e a separação dos poderes: o Parlamento autoriza a arrecadação de receitas
e a utilização das mesmas; o Executivo (Governo) executa o orçamento; e o Parlamento e/ou
outro órgão jurisdicional fiscaliza a conta do Estado.

No plano jurídico:

 A autorização política que é concedida ao Estado para realizar despesas e cobrar receitas limita
os poderes financeiros da Administração Pública. De acordo com a lei, aquela não poderá
efectuar gastos nem arrecadar receitas que não estão previstas no Orçamento.

2. CICLO ORÇAMENTAL

Conceito
O ciclo orçamentário, ou processo orçamentário, pode ser definido como um processo contínuo,
dinâmico e flexível, através do qual se elabora, aprova, executa, controla e avalia os programas do sector
público nos aspectos físicos e financeiros, corresponde, portanto, ao período de tempo em que se
processam as actividades típicas do orçamento público.

Preliminarmente é conveniente ressaltar que o ciclo orçamentário não se confunde com o exercício
financeiro. É o período durante o qual se executa o orçamento, correspondendo, portanto, a uma das
fases do ciclo orçamentário. Por outro lado, o ciclo orçamentário é um período muito maior, iniciando
com o processo de elaboração do orçamento, passando pela execução e encerramento com o controle.

Identifica-se, basicamente, quatro etapas no ciclo ou processo orçamentário:


 Programação;
 Elaboração da proposta orçamental
 Discussão e aprovação da Lei do Orçamento;
 Execução orçamentária e financeira

LEI DO ENQUADRAMENTO DO ORÇAMENTO E DA CONTA GERAL DO ESTADO


(LEOE)

As actuais práticas orçamentais não estão ajustadas a nova realidade económica e política de
Moçambique. A gestão orçamental tem sido caracterizada por uma acentuada falta de transparência e
rigor e uma certa doze de improviso na captação e afectação dos dinheiros públicos. Tal não é

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compatível com um bom desempenho do Estado em matéria de política económica nem com o processo
de democratização em curso no País.

Torna-se, por isso, necessário e urgente adequar o orçamento as necessidades de uma intervenção
pública eficaz e eficiente, que cumpra com as exigências de uma economia de mercado funcional e uma
democracia parlamentar como a moçambicana. Por outras palavras, é essencial que o Orçamento do
Estado passe a cumprir de forma satisfatória as funções que lhe competem, sejam elas de natureza
económica ou política.

Um primeiro e fundamental passo no sentido de modernizar e adequar o orçamento as mudanças


político-institucionais e as reformas económicas em curso no País foi dado com a elaboração e
aprovação da LEO. Esta lei entrou em vigor no dia 01 de Janeiro de 1998.

Objectivos da Lei

A LEO define o quadro de funcionamento do sistema orçamental. Ela tem por objectivo o
estabelecimento de princípios, regras e normas referentes ao orçamento do Estado e a Conta Geral do
Estado segundo critérios modernos.

O Orçamento

A LEOE estabelece que o orçamento constituí o instrumento base do Governo para prosseguir a
gestão racional das finanças e património do Estado.

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3. PRINCÍPIOS E REGRAS ORÇAMENTAIS

Na preparação do Orçamento, dever-se-ão respeitar vários Princípios e Regras. Estas regras foram
teorizadas durante o período do Liberalismo e tem como objectivo tornar o orçamento claro, simples e
verdadeiro, de forma a garantir que as funções Económica, Política e Jurídica da instituição orçamental
não sofram desvios. São no fundo regras de bom senso, boa administração, rigor técnico e eficácia.

Funções do Orçamento

Económica Política Jurídica

Regras Orçamentais

Existem 8 regras orçamentais básicas: - nº 1 do Artigo 13, da Lei 9/2002, de 12 de Fevereiro:

Anualidade: o orçamento tem uma duração anual. Refere-se ao ano económico, o qual coincide com o
ano civil. Ou seja, o orçamento em Moçambique é um documento no qual se prevêm as receitas e se
fixam as despesas do Estado para o período compreendido entre 01 de Janeiro e 31 de Dezembro.

A regra da anualidade implica a votação anual do orçamento pela Assembleia da República e uma
execução também anual do orçamento pela Administração Pública.

Do ponto de vista político, a anualidade assegura que o controlo exercido pelo Parlamento sobre a gestão
dos dinheiros públicos é feito com uma certa regularidade. Este controlo é efectuado tanto na fase de
previsão das despesas e receitas, como na fase de execução dessas mesmas despesas e receitas e na fase
de prestação de contas (uma vez determinado o ano económico).

Do ponto de vista económico o ano apresenta-se com um bom período para a realização de cálculos
económicos no domínio da gestão corrente dos fundos públicos.

Universalidade – implica que todas as receitas e todas as despesas devem ser inscritas no orçamento.
Unidade – significa que o orçamento deverá constituir um único documento. Em suma, um só
orçamento e tudo no orçamento.

Constituem excepção as receitas e despesas das instituições autónomas, empresas públicas e autarquias,
que se regem por legislação própria. No entanto, os elementos necessários à apreciação da situação
financeira destes três tipos de organismos devem constar em anexo do orçamento.

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Estas 2 regras visam evitar que escape a autorização política (na fase da previsão), ao controlo político
e administrativo (na fase de execução) e a responsabilização judicial e/ou parlamentar (na fase de
prestação de contas).

As regras conferem uma maior abrangência, racionalidade e transparência ao orçamento, facilitando


assim o controlo político, a formulação de opções globais de natureza financeira e uma execução
orçamental rigorosa.

Não consignação: no orçamento não pode afectar-se o produto de quaisquer receitas à cobertura de
despesas pré-determinadas. Todas as receitas devem servir para cobrir todas as despesas. Quer isto dizer
que não se pode consignar certas receitas a certas despesas. Caso contrário, não se estaria a fixar o
montante das despesas, que é um dos objectivos do orçamento.

Esta regra visa evitar que cada serviço ou Ministério constitua um mundo a parte, com receitas e
despesas próprias.

Constituem excepção a esta regra os casos em que em virtude de autonomia financeira ou de outra razão
especial, a lei determine expressamente a afectação de receitas a determinadas despesas. (Excepções nº
2 e 3 do Artigo 13, da Lei 9/2002, de 12 de Fevereiro)

A título de exemplo, constituem casos de excepção, os hospitais que financiam parte das suas despesas
com receitas provenientes de consultas.

Nos casos em que a lei determina por uma razão especial a consignação de receitas, pretende-se colocar
certas despesas em situação de favor (existe a garantia de que as receitas consignadas serão suficientes
para cobrir as despesas que se destinam a financiar), assegurar que certas despesas só sejam realizadas
na totalidade se forem cobradas receitas que as cubram, ou promover a eficiência e flexibilidade na
gestão de determinados organismos e empresas públicas.

Especificação: o Orçamento do Estado especificará pormenorizadamente as receitas mínimas previstas


e os limites máximos das despesas, segundo classificações (classificadores) que fixam o grau de
discriminação de forma a permitir a sua uniformização. Inscreve-se, contudo, no orçamento do Estado
uma dotação provisional destinada a fazer face a despesas consideradas importantes e inadiáveis, mas
que não haviam sido previstas na preparação do orçamento.

Através da especificação das despesas e receitas alcança-se uma maior clareza, veracidade e
racionalidade económica.

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Em Moçambique, as despesas públicas são especificadas de acordo com a sua natureza económica,
funcional, orgânica e territorial. A especificação das receitas públicas por sua vez, é feita de acordo
com o classificador económico de receitas e o classificador territorial.

Constitui excepção ao princípio da especificaçãoa inscrição no Orçamento do Estado de uma dotação


provisional, sob gestão do Ministro que superintende a área das Finanças, por forma a permitir a sua
afectação, em momento oportuno e atempado, à realização de despesas não previsíveis e inadiáveis.

Orçamento Bruto: todas as receitas e despesas são inscritas no orçamento pela importância ou valor
integral em que foram avaliadas. Por outras palavras, as receitas e as despesas devem ser inscritas no
orçamento de forma bruta e não líquida. No caso das receitas, não se deduzem, por exemplo, os encargos
de cobrança. No caso das despesas, não se deduzem as receitas por elas geradas.

À semelhança do que sucede com a regra da especificação, o orçamento bruto permite uma maior
clareza, veracidade e racionalidade económica. Se as receitas e as despesas fossem inscritas pelo seu
valor líquido não se saberia exactamente qual o seu montante exacto.

Publicidade: o orçamento será publicado no Boletim da República, sendo matéria de públicação a Lei
Orçamental, a tabela de receita e da despesa. Serão objecto de separação orçamental estes três
documentos e outras informações económicas e financeiras julgadas pertinentes.

Um orçamento não publicado não é orçamento. É através da publicação do orçamento que se concretiza
a autorização política das receitas e despesas e se dá conhecimento formal à Administração Pública do
conteúdo desta autorização. Também só com a públicação do orçamento os cidadãos terão um
conhecimento do mesmo, estando assim em condições de controlar e criticar a sua natureza e execução.

Equilibrio: o Orçamento do Estado preverá os recursos necessários para cobrir todas as despesas. Todas
as despesas têm que estar, de facto, cobertas por receitas nele inscrito. Em última instância, as despesas
serão cobertas parcialmente através de donativos e empréstimos contraídos no país ou no exterior.

O respeito pelos princípios e regras acima indicados requer a sistematização das receitas e das despesas.
Para o efeito o Governo aprovou os Classificadores Orçamentais previstos na LEO; cuja aplicação é
obrigatória.

4. TIPOS DE ORÇAMENTOS

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O orçamento da gerência: é aquele em que se prevêem as receitas que o Estado irá cobrar e as despesas
que irá pagar durante o período financeiro. É uma previsão de receitas e despesas na sua fase terminal
das cobranças e de pagamentos.

O orçamento do exercício: é aquele em que se prevêem as receitas que o Estado irá cobrar e as despesas
que irá pagar em virtude dos créditos e das dívidas que irão surgir a seu favor e contra si durante o
período financeiro. É uma previsão da receitas e de despesas na sua fase inicial de créditos e de dívidas.

Vantagem e Desvantagem do Orçamento do Exercício

Vantagem -O orçamento do exercício tem a vantagem de nos elucidar sobre a situação financeira do
Estado.

Desvantagem - Como nem todos os créditos serão cobrados, nem todas as dívidas serão pagas até ao
fim do ano, o orçamento do exercício não nos diz qual virá a ser durante o período a situação da caixa
do Estado, ou seja, a situação do Tesouro Público.

Vantagem do Orçamento da Gerência

Vantagem - o orçamento da gerência oferece a previsão do montante das receitas a cobrar e das despesas
a pagar em cada ano.

As despesas plurianuais, inscrevem-se em cada orçamento apenas os encargos a satisfazer no próprio


ano.

Finanças Públicas 19
O Grupo de Disciplina

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