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Constituição do Orçamento do Estado em Moçambique

O Orçamento do Estado em Moçambique é constituído por três partes nomeadamente:


(i) Receitas públicas;
(ii) Despesas publicas e;
(iii) Financiamentos.

Despesas Públicas

Abordadas como o emprego de uma soma em dinheiro, gasto de conta do Estado por agente do
sector público administrativo e tendente à promoção de bens de interesse público, ou seja, para
satisfação de necessidades públicas colectivas.

As despesas públicas concretizam o próprio fim da actividade económica do Estado – satisfação


de necessidades. O estudo da despesa pública, tem de ser feito antes do mais, através da análise do
seu conteúdo, e da verificação da diferente natureza das despesas públicas e dos seus efeitos sobre
a economia.

A natureza da despesa pública num Estado moderno é, assim, crucial para compreensão do
conteúdo das actividades financeiras e a sua importância na concretização das políticas financeiras
do Estado.

Assim sendo, distingue-se três elementos dentro da noção de despesa (o tipo de operação, o
sujeito e o fim da operação):

1º - O tipo de operação – a despesa corresponde à afectação de recursos correntes de que um


sujeito dispõe a uma determinada finalidade, sendo dispêndio de dinheiro a forma mais típica de
realizar.

2º - O sujeito da operação – de harmonia com a nossa concepção de finanças públicas, o sujeito


tem de ser uma entidade pública (Estado e outros entes públicos). A despesa pública seria segundo
essa concepção, apenas aquela que o Estado efectua no exercício do seu poder de comando e para
satisfazer necessidades colectivas.

3º - A finalidade da operação – a despesa pública se destina apenas a satisfazer necessidades


públicas.

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IMPORTÂNCIA DA DESPESA PÚBLICA

A despesa Publica – é considerada em termos genéricos como um factor importante para a


promoção do crescimento económico e do bem estar social.

Um nível reduzido de despesa pública significa que serão necessárias menos receitas públicas para
obter o equilíbrio das contas públicas, o que significa também menos impostos e uma maior
contribuição para estimular o crescimento e o emprego.

A despesa publica também é naturalmente uma variável chave no que diz respeito à
sustentabilidade das finanças púbicas.

A DESPESA PÚBLICA EM MOÇAMBIQUE

Classificação Orçamental da Despesa


A despesa orçamental é classificada de acordo com os seguintes critérios:
 Económico;
 Orgânico;
 Funcional;
 Territorial.

Classificação Económica da Despesa

O classificador económico – classifica a despesa em (corrente e de investimento), pelo seu


carácter económico e segundo os conceitos da Contabilidade Nacional (por exemplo: o consumo,
o investimento e as transferências publicas).

DESPESA PÚBLICA – Conceitos

São todas as saídas de recursos, desembolsos, dispêndios que ficam a cargo de uma entidade
pública, seja para ocorrer aos compromissos da dívida pública, seja para atender às necessidades
dos serviços públicos criados no interesse e beneficio da colectividade, seja para acrescer bens ao
domínio público ou patrimonial;

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É todo o dispêndio de recursos financeiros, seja qual for a sua proveniência ou natureza, gastos
pelo Estado, com ressalva daqueles em que o beneficiário se encontra obrigado à reposição dos
mesmos (art.: 15, nr. 1, Lei nr. 09/02, de 12 de Fevereiro).

Despesas Correntes (Funcionamento) – são os gastos que o Estado faz em bens e serviços
consumíveis durante o período financeiro, ou que se vão traduzir na compra/aquisição de bens de
consumo. Por exemplo, compra de combustíveis, material de expediente para escritório,
pagamento de salários aos funcionários de Administração Pública, o pagamento de pensões de
reforma aos pensionistas. Nesta categoria inclui-se os gastos com obras de conservação e
adaptação de imóveis bem como gastos de manutenção de equipamentos diversos.

As Despesas de Capital – são despesas com o planeamento e execução de obras ou infra-


estruturas básicas tais como estradas, pontes, barragens, administração, etc, a construção e
reabilitação de infra-estruturas sociais: escolas, clínicas públicas, hospitais públicos, etc., e a
pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, a aquisição de imóveis, aquisição de equipamentos,
aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie como
as transferências do capital, etc. Nesta rubrica inclui-se a aquisição de instalações para realização
de actividades públicas, aumento do capital de empresas que não sejam de carácter comercial ou
financeiro. Inclui-se, também despesas em medicamentos.

Este assume um papel central na classificação das despesas, já que permite ou facilita:

 A determinação do saldo orçamental e das necessidades de financiamento do Estado,


sendo por isso de especial utilidade na analise do impacto da política fiscal na economia;
 O cálculo das alterações registadas no património do Estado durante o ano económico;
 Avaliação da capacidade fiscal das províncias;
 Identificação da natureza das despesas, a sua correcta contabilização e a análise da sua
economicidade;
 A obtenção de informações sobre o grau de realização dos objectivos das políticas
orçamental, económica e social.

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Classificação Funcional da Despesa

O classificador funcional, por sua vez, identifica as despesas de acordo com a natureza das
funções exercidas pelo Estado (defesa, saúde, educação, segurança, etc.), obedecendo aos critérios
das Nações Unidas.

Este classificador, permite julgar a orientação que o governo da aos recursos de que dispõe para
satisfazer necessidades colectivas, avaliar as opções tomadas em momentos diferentes e efectuar
comparações internacionais.

Classificação Orgânico da Despesa

Classifica as despesas por órgão da Administração Publica com responsabilidades na execução


orçamental.

Classificação Territorial da Despesa

Evidencia a afectação de recursos segundo a divisão territorial do Pais. Ele assume uma especial
importância na avaliação das metas do governo e do esforço financeiro por este realizar ao nível
do desenvolvimento das diferentes regiões do pais.

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Tipologia das Despesas Públicas

Despesas orçamentais – são aquelas que integram o orçamento do Estado e dependem da


autorização legislativa (Parlamento).

Despesas Extra-orçamentais – são aquelas que não integram o orçamento do Estado e que não
dependem da autorização legislativa.

FASES DA DESPESA PÚBLICA

A realização da despesa compreende três fases:

Cabimento – O Cabimento representa a 1ª fase da despesa pública. É definido como acto


administrativo de verificação, registo e comprometimento do valor do encargo a assumir pelo
Estado. Este acto só pode ser efectuado pelo gestor público se a Unidade Gestora possuir saldo
suficiente nas contas denominadas Dotação Disponível e Quota de Limite Orçamental a Utilizar.

Liquidação – A Liquidação da Despesa representa a 2ª fase da despesa pública e é onde se


verifica a entrega do bens ou serviços contratados, bem como o apuramento do valor que
efectivamente há a pagar para emissão da competente ordem de pagamento.

Pagamento – O Pagamento da Despesa representa a 3ª fase da despesa pública e significa a


entrega de uma importância em dinheiro ao titular do documento de despesa.

RECEITA PÚBLICA

Constituem receita pública todos os recursos monetários, seja qual for a sua fonte ou natureza,
postos à disposição do Estado, com ressalva daquelas em que o Estado seja mero depositário
temporário.

Nenhuma receita pode ser estabelecida, inscrita no Orçamento do Estado ou cobrada senão em
virtude de lei e, ainda que estabelecidas por lei, as receitas só podem ser cobradas se estiverem
previstas no Orçamento do Estado aprovado.

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CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTAL DA RECEITA PÚBLICA

A receita orçamental é classificada de acordo com os seguintes critérios:

 Económico;
 Territorial; e
 Por fontes de recursos;

1. Classificação Económica da Receita

Classe “4” que inclui as contas representativas dos recursos auferidos na gestão a serem
consideradas no apuramento do resultado do exercício, tendo características de contas de
resultado, desdobradas nas categorias económicas de Receitas Correntes e de Receitas de Capital:

a) Receitas Correntes – receitas fiscais, não fiscais, as consignadas e as de donativos;


Exemplos: Imposto sobre o Rendimento de Pessoa Singular, Rendas de Casa, Taxas de
Portagem, Donativos Não consignados à Projectos.

b) Receitas de Capital – receitas de alienação de bens, receitas de donativos e receitas de


fundo de empréstimos. Exemplos: Alienação do Património do Estado, Donativos em
Espécie a Projectos, Fundo de Empréstimos Externos.

Os montantes de receita inscritos no Orçamento do Estado constituem limites mínimos a serem


cobrados no correspondente exercício.

Os códigos das contas de receitas iniciam-se com o número 4, sendo que os demais dígitos
correspondem à Classificação Económica da Receita. Exemplo:

4. 1. 1. 3. 0. 02 – Conta Contabilística: Imposto sobre Veículos

Classe - Receita

Grupo – Receitas Correntes

Sub-grupo – Receita Fiscal

Elemento – Outros Impostos

Sub-elemento - ---

Item - Imposto sobre


Veículos

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2. Classificação Territorial da Receita

Permite o registo das receitas segundo a divisão territorial do país (Central, Provincial, Distrital).

3. Classificação por Fonte de Recurso da Receita

Tem como objectivo identificar a origem dos recursos financeiros, permitindo a sua gestão a nível
de programação e execução do Orçamento do Estado, e está estruturado em três níveis.

a) Classificador da fonte de recursos 1º nível


Grupo das Fontes de Recursos que identifica o trânsito dos recursos pelo Tesouro
Nacional.
 1 – Recursos do Tesouro (Transita pela CUT)
 2 – Recursos de Outras Fontes (Não transita pela CUT)
 3 – Recursos do Tesouro de Exercícios Anteriores
 4 – Recursos de Outras Fontes de Exercícios Anteriores
 5 – Recursos Vinculados Originários de Fontes do Tesouro
 6 – Recursos Vinculados Originários de Outras Fontes.

b) Classificador da fonte de recursos – 2º nível

Sub-grupo das Fontes de Recursos que identifica o detalhe do Grupo por tipo de origem de
recursos.
 01 – Recurso Fiscal
 02 – Recurso Não Fiscal
 03 – Recurso Consignado
 04 – Recurso Oriundo de Reembolso de Acordo de Retrocessão
 05 – Recurso Oriundo de Alívio da Dívida — HIPC
 11 – Recurso Próprio
 2x – Donativos Internos
 3x – Donativos Externos
 4x – Créditos Internos
 5x – Créditos Externos
 6x – Acordos

c) Classificador da fonte de recursos – 3º nível

Identifica a Fonte de Financiamento, sendo que 000000000 identifica a fonte de


financiamento “Não Detalhada”.

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A - RECEITA PÚBLICA EFECTIVA

As Receitas Efectivas podem provir de:


1- Da venda de produtos e das prestações de serviços contratualmente estabelecidos (receitas
patrimoniais);
2- Da prestação de serviços a preços autoritariamente fixados (taxas);
3- Da cobrança de impostos.

1- RECEITAS PATRIMONIAIS EFECTIVAS

1.1- As Receitas Patrimoniais – podem derivar do Património do Estado, do seu domínio Rural,
das explorações industriais e comerciais de utilidade pública.

a) Património Mobiliário

O Estado tem quase sempre um património mobiliário, uma certeira de títulos constituída por
acções e obrigações de bancos e companhias.

i) O Estado- Compra acções ou obrigações para garantir a certas empresas os capitais


necessários à sua constituição, ao seu desenvolvimento, ou à sua sobrevivência.
- Na verdade, pode ser de considerado de utilidade pública que se crie ou se expanda
determinada empresa, mas não concorrem capitais privados em montante suficiente. Nessa
altura, o Estado compra acções ou obrigações, perfazendo o investimento necessário.
- Outras vezes, a empresa já esta formada, já existe, mas atravessa uma situação financeira
difícil. Como a falência dessa empresa seria socialmente desastrosa, o Estado acode a salva-
la.

ii) O Estado também adquire acções para participar na gestão das empresas privadas,
constituindo o que se chama Sociedades de economia mista. Isto porque nelas se combina
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interesses públicos e privados. Com acções em mão, o Estado penetrar às assembleias
Gerais e consegue fazer-se eleger para o Conselho de Administração, a par dos outros
accionistas privados.
As Sociedades de economia mista, desempenham um papel de relevo nas economias em
desenvolvimento, onde os mercados são pequenos, por isso maior o risco das empresas:

- Quanto menor é o mercado, menos é a probabilidade de uma nova empresa encontrar


procura a preço remunerador para os seus artigos.
Como o Estado subscreve boa parte do seu capital, logo os capitalistas se convencem de
que o negocio é seguro, e acorrem a subscrever o resto.

b) Domínio Rural
O Estado, não só possui património mobiliário, mas também tem um património de domínio rural
(Resultante das Nacionalizações após a Independência, explorações florestais tais como os
Parques, Reservas, etc.)

c) Explorações de utilidade pública

As explorações industriais do Estado: Monopólios fiscais e explorações de utilidade pública:

O Estado – explora certas indústrias e comércios, umas vezes em monopólio, outras em


concorrência com os particulares.

Quando o Estado faz em monopólio, temos a distinguir:

- Ou o Estado se reserva a exploração de determinada industria com o fim de obter


receitas;
- Ou o Estado se reserva a essa exploração, não por causa das receitas, mas para assim
satisfazer melhor as necessidades colectivas.

As receitas patrimoniais provem de preços negocialmente estabelecidos – preços que, ou são


puros preços privados, ou são preços inferiores aos que os particulares praticariam, como as
tarifas portuárias.

Em qualquer caso, porem, as receitas patrimoniais resultam de preços lucrativos, isto e, de preços
superiores ao custo de produção.

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2- RECEITAS DAS TAXAS

Os preços autoritariamente fixados (Taxas)

a) Bens Técnica e Financeiramente Semipúblicos

Temos taxas sempre que os preços são inferiores ou iguais aos custos;

As taxas são cobradas pela utilização bens semipúblicos, isto é, de bens públicos que satisfazem
necessidades individuais.

Assim, cobram-se taxas nas escolas secundárias e superiores, nos tribunais, nos cartórios, nas
conservatórias, etc.

b) O montante das taxas

A cobrança de taxas, pode ter em vista, a repartição do custo pelos utentes e a limitação da
procura do serviço.

Se a procura é inelástica, ou não é superior à oferta ao preço zero (0), a finalidade das taxas só
pode ser a repartição do custo;

Se a procura é elástica e superior à oferta ao preço zero (0), as taxas podem ter qualquer
finalidade: ou a limitação da procura, ou a repartição do custo.

Dado que as taxas, sendo preço, limitam sempre a procura, quando esta é elástica: e sendo
receitas, cobrem sempre uma parte ou totalidade do custo do serviço.

O montante das taxas vai depender, portanto, da finalidade que o Estado deseja alcançar:

Ex: Serviços da administração da Justiça – interessa que os Tribunais só sejam utilizados quando
haja razões serias para eles intervirem na definição do direito; isto e, interessa evitar que se vá aos
tribunais, como autor ou como réu, por qualquer motivo fútil.

Há pois, que limitar a procura do serviço da justiça. O Estado limita-a cobrando taxas (custas)
mais pesadas à parte vencida.

3- RECEITAS DOS IMPOSTOS

a) Elementos do imposto

É do imposto que provem, a maior parte das receitas efectivas.

Noção do imposto

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O imposto define-se como sendo uma prestação pecuniária, coactiva e unilateral, sem carácter de
sanção, exigida pelos Estado com vista à realização de fins públicos.

Prestação pecuniária- o imposto é uma prestação em dinheiro ou equivalente a dinheiro;

Coactiva- o montante do imposto é estabelecido por Lei ou por forca da Lei.

Unilateral- ao pagamento do imposto não corresponde qualquer contraprestação por parte do


Estado.

Sem o carácter de sanção- o imposto não tem natureza de penalidade, como a multa.

Logo podemos distinguir as principais diferenças entre imposto e taxa (a taxa também é prestação
pecuniária, é prestação coactiva, mas já não é prestação unilateral), uma vez que ao seu
pagamento corresponde a contraprestação de um serviço por parte do Estado.

b) Finalidade da tributação: Impostos fiscais e impostos extrafiscais.

Encontramos impostos que o Estado cobra apenas para obter receitas: são os impostos fiscais;

Encontramos impostos que o Estado cobra para simultaneamente obter receitas e atingir outras
finalidades, ou só para atingir essas finalidades: são os impostos extrafiscais.

Assim, quando o Estado exige direitos alfandegários com vista a proteger determinada industria, a
sua finalidade não é conseguir recursos, mas satisfazer as necessidades colectivas de que aquela
industria seja preservada da concorrência estrangeira. Aqui temos a finalidade extrafiscal da
tributação.

B - RECEITA PÚBLICA NÃO EFECTIVA – “OS EMPRESTIMOS”

As Recitas não efectivas- queremos nos referir as receitas proveniente dos empréstimos e
donativos. Visto quase todas receitas não efectivas serem derivadas do recurso ao crédito.

O Recurso ao Crédito:
a) Défice da Tesouraria;
b) Défice Orçamental;
c) Esterilização de poder de compra.

O Estado pode faze-lo por um dos seguintes motivos:

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1) Cobertura do défice da tesouraria- Compreende-se que a tesouraria apresente uma situação
deficitária. Decerto que no orçamento se previram receitas suficientes para cobrir todas as
despesas. Mas alo longo do período financeiro, os montantes das cobranças não coincidem com os
montantes dos pagamentos por parte dos contribuintes.

Haverá dias em que afluam para os cofres públicos receitas superiores, outros em que afluam
receitas inferiores, aos pagamentos que nesses dias se tem de efectuar.

Dai que o tesouro passa encontrar-se, em determinada altura, com fundos insuficientes para
ocorrer aos pagamentos. Quando tal acontece, há que encontrar receitas e isso só poderá ser feito
através do crédito de prazo muito reduzido, dado que trata-se de um défice passageiro, transitório,
proveniente da falta de sincronização entre a entrada de receitas e saída de despesas.

2) Cobertura do défice orçamental- isto é, do excesso das despesas efectivas sobre as receitas
efectivas. Quando o orçamento apresenta um défice, é por meio de receitas não efectivas, e
geralmente por meio de empréstimos, que se terá de preencher a diferença.

Nesta situação, como o défice foi previsto, tem de presumir-se que os empréstimos contraídos
para lhe fazer face não poderão ser reembolsados dentro do período financeiro. Só poderão ser nos
períodos financeiros subsequentes.

Quando o Estado contrai empréstimos para cobrir o défice orçamental, recorre ao crédito de
médio e longo prazo.

3) Esterilização de poder de compra- O Estado não só recorre ao crédito para financiar a


despesa publica, também a ele recorre, por vezes, para impedir despesas privadas. É quando se
desenvolve um processo inflacionista em que a subida dos preços é imputável à pressão da
procura. A fim de reduzir esta, o Estado pode absorver, através de empréstimos, aforros de
capitalistas que de outro modo seriam gastos, pelo menos em boa parte.

Visando este empréstimo a redução do poder de compra, o Estado se encontra inibido de utilizar
o seu produto na cobertura de despesas. Tem de o manter em saldo, até que as circunstâncias se
modifiquem a ponto de ser aconselhada a política contraria – a política do fomento do poder de
compra

FASES DA EXECUÇÃO DA RECEITA

A execução da receita compreende três fases:


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a) Lançamento – A 1ª fase compreende o procedimento administrativo de verificação da
ocorrência do facto gerador da obrigação correspondente;

b) Liquidação – A 2ª fase compreende o cálculo do montante da receita devida e


identificação do respectivo sujeito passivo;

c) Cobrança – A 3ª fase corresponde a acção de cobrar, receber ou tomar posse da receita e


subsequente entrega ao Tesouro Público. Em função da adopção do regime de caixa para o
lançamento da receita pública, somente essa fase ocasiona registos contabilísticos, que
estão a seguir descritos:

ANULAÇÃO DA RECEITA

Em função da adopção do regime de caixa utilizado para o registo da receita pública, a restituição
da receita arrecadada indevidamente, quando ocorra no respectivo exercício da sua arrecadação,
deve ser efectuada nesse exercício, mediante anulação do valor na rubrica orçamental respectiva.

Quando a restituição da receita arrecadada indevidamente ocorra em exercícios posteriores, esta


deverá ser realizada em rubrica orçamental de despesa adequada, do exercício em que ela ocorrer.

DÍVIDA ACTIVA
Constituem dívida activa - os valores relativos a contribuições e impostos e demais créditos fiscais
do Estado liquidados e não cobrados dentro do exercício financeiro de origem, sendo
incorporados pela contabilidade pública, em conta própria, findo o exercício.

A DÍVIDA PÚBLICA

Ajuda Externa – são os fluxos de poupança de não-residentes de um determinado Pais para o


outro. (Castelo Branco N: 1994:23-24).

Estes fluxos incluem normalmente empréstimos com condições de reembolso concessionais


(baixas taxas de juros e períodos de graça e de reembolso prolongado), donativos em espécie ou
monetários.

Não se incluem na categoria de ajuda, os investimentos directos estrangeiros (compra de activos


financeiros por não-residentes, os empréstimos bancários e os créditos as exportações para os
países importadores), todos eles da poupança privada negociáveis no mercado.

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A Ajuda Externa é normalmente canalizada por pais (bilaterais), por agências multilaterais
especializadas tais como:

- Sistema da Nações Unidas;

- Banco Mundial;

- Fundo Monetário Internacional; e

- Por instituições de caridade (organizações não-governamentais).

Ela pode ser destinada ao apoio da balança de pagamentos ou ligada a empreendimentos


específicos.

De acordo com Todaro (1997, citado por Mreira S. 2005:45) classifica a ajuda ligada por fonte ou
por projecto:

 Ajuda ligada por fonte – significa que os donativos e os empréstimos devem ser gastos na
compra de bens e servicos do pais doador;
 Ajuda ligada por projecto – traduz a obrigatoriedade de os fundos serem aplicados em
projectos específicos do pais doador.

A 1ª - pode implicar a oferta de bens e serviços mais dispendiosos, enquanto que a 2ª pode
implicar um projecto menos prioritário. Assim sendo, a ajuda externa não ligada seria aquela que
não impõe estas condições ao receptor.

A ideia subjacente a ajuda externa - é que esta tem influencia positiva estimulando o
desenvolvimento económico e social dos países receptores, financiando investimentos não
cobertos pela poupança domestica para além de facultar divisas para o pais adquirir no mercado
externo os recursos não disponíveis no mercado local.

O DONATIVOS

De acordo com Moreira (2005:34-37), os donativos podem ser em forma de:

 Cooperação técnica ou assistência técnica (pode ser pura ou relacionada com


investimentos);
 Ajuda alimentar ou desenvolvimento (concessão de géneros alimentares, custos de
transporte, pagamentos para aquisição de alimentos, distribuição de produtos intermédios
tais como fertilizantes, sementes, etc.);

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 Anulação total ou parcial da divida;
 Auxílio de emergência ou ajuda humanitária.

O argumento humanitário sugere que os Países de alto rendimento consideram que o bem-estar
deve ser extensivo aos restantes Países, por isso, contribuem com ajuda externa para a
redistribuição internacional da renda.

Sabe-se porem que as motivações da ajuda externa se estendem para além deste argumento,
podendo estar incorporado a defesa de interesses económicos, políticos e militares dos doadores.

Assim sendo a ideia de que a ajuda externa exerce um impacto positivo no crescimento
económico dos países receptores é aceite mas, em certos círculos, com algumas reservas.

ESPECIES DE EMPRESTIMOS

Os Empréstimos contraídos pelo Estado, são susceptíveis de varias distinções:

a) Quanto ao Lugar

 Interno – Os contraídos dentro do próprio Pais; (subscritos quase na sua totalidade por
habitantes do próprio Estado e com capitais nele existentes);
 Externo – Os contraídos fora do Pais; (subscritos quase na sua totalidade por habitantes e
capitais de outros Estados).

b) Quanto à Duração: Perpétuos e Temporários.

1. Perpétuos – Aqueles que o Estado contrai obrigando-se a pagar um certo juro anual, mas
não a proceder o reembolso.
Umas vezes, e até quase sempre, o Estado fica com a faculdade de efectuar o reembolso quando
quiser (temos os empréstimos perpétuos remíveis); Outras vezes, o Estado não goza da faculdade
de realizar o reembolso (temos os empréstimos perpétuos irremíveis).

Vantagens: Empréstimos perpétuos remíveis – O Estado pode decide o pagamento do capital e do


momento oportuno para o fazer.

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Desvantagens : Empréstimos perpétuos irremíveis – O Estado tem de suportar o ónus perpétuo do
juro, a menos que proponha, e os credores aceitem, o reembolso (isto é, a menos que os credores
transformem a empréstimos remíveis).

Os empréstimos perpétuos são sempre titulados, isto é, representados em títulos de crédito; ora
estes são negociáveis, podem transaccionar-se todos os dias na Bolsa.

São títulos que incorporam a promessa de pagar um determinado juro, e que, portanto, têm valor
venal. Ora, vendendo, negociando os títulos, os possuidores realizam os seus créditos.

2. Empréstimos Temporários
a) Reembolsáveis a vista – aqueles que o Estado se compromete pagar quando o credor o
pretenda.
b) Rendas Vitalícias – são empréstimos que o Estado se obriga a pagar uma renda anual ao
seu credor enquanto vivo (o credor). É através da renda que o reembolso se efectua.
c) Amortizaveis por sorteio – o Estado reembolsa todos os anos um numero constante ou
variável de títulos tirados a sorte, de modo que o empréstimo se encontre inteiramente
amortizado ao fim de certo prazo. (Ex: empréstimo de 1 milhão, com prazo de 20 anos,
pode tirar por sorteio 1/20 do capital para amortizar, e no fim de 20 anos terminar).
d) Reembolsaveis em data fixa – O Estado obriga-se a reembolsar todo o capital do
empréstimo em certa data.

Créditos adicionais
Durante o exercício financeiro, o poder executivo pode solicitar ao legislativo o acréscimo das
dotações orçamentárias. Esses acréscimos, quando autorizados pelo legislativo, serão, então,
adicionados ao orçamento corrente. Por isso, tais adições chamam-se de créditos adicionais.

Por se tratar de aumento de despesa do orçamento corrente, cada solicitação de crédito adicional
deve ser acompanhada da fonte de recursos.

A lei orçamental anual pode incluir autorização para abertura de créditos adicionais até
determinado montante, a fim de tornar mais rápido a gestão orçamental e financeira.

Os créditos adicionais classificam-se, segundo sua finalidade em:

 Créditos suplementares;

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 Créditos especiais;
 Créditos extraordinários.

Créditos suplementares - destinam-se a reforçar uma dotação já existente no orçamento do


exercício financeiro corrente. A sua vigência acompanha a do orçamento em vigor. São abertos
por decreto, mas autorizados por lei. A lei que autoriza determinado crédito suplementar é uma
única, porém vários decretos podem abrir, por parcelas, o crédito autorizado.

Os créditos especiais se destinam a financiar programas novos, que não possuem dotação
específica no orçamento em vigor. A sua vigência acompanha a do orçamento em vigor, excepto
se abertos nos últimos quatro meses do ano, caso em que serão reabertos no orçamento do
próximo ano no limite dos seus saldos remanescentes.

Igualmente aos créditos suplementares, são autorizados por lei e abertos por decreto. A
autorização, em geral, pode constar na própria lei que criou o programa a ser financiado pelo
crédito especial.

Os créditos extraordinários destinam-se a atender despesas imprevistas e urgentes (calamidade


pública, guerra, surtos epidêmicos, etc). São abertos por decreto do executivo, independentemente
de autorização legislativa, face à urgência das situações que o justificam.

Quando aberto este tipo de crédito adicional, o governo tem a obrigação de informar
imediatamente a Assembleia da Republica, justificando as causas de tal procedimento.

A vigência dos créditos extraordinários cessa em 31 de dezembro do ano de sua abertura, salvo se
abertos nos últimos quatro meses do ano, caso em que sua vigência se estende até o término do
exercício subsequente ou até quando cessarem as causas que justificaram o crédito extraordinário

CONCEITOS BÁSICOS DA DÍVIDA

Dívida – é a consequência de recurso ao crédito e da emissão de empréstimos. Geralmente é


aliada a uma promessa de pagamento futuro de determinada quantia emprestada acrescida de
respectivos juros. Assim sendo, pode-se concluir que a divida corresponde a capitalização dos
créditos ou empréstimos.

Tipos de Divida Publica


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O recurso ao empréstimo pelo Estado resulta a divida Publica. Portanto, esta divida pode ser:

a) Interna e Externa;

b) Fundada e Flutuante;

a1)Divida Publica Interna – Será a que é devida por um Pais aos seus próprios cidadãos.

Ela circunscreve-se para a maior parte dos Países em desenvolvimento, na emissão de


instrumentos da divida pelo Governo Central. Não obstante, para além do Governo Central, os
instrumentos da divida podem ser emitidos pelos Governos regionais e locais, as Empresas
Publicas, que juntamente com a divida do Governo Central, constituem a divida publica interna.

Os instrumentos da divida publica interna, podem ser de curto prazo (Bilhetes de Tesouro-BT’s)
e de médio e longo prazo (Obrigações do Tesouro-OT’s).

Bilhetes de Tesouro – São instrumento de curto prazo que tem como objectivo financiar défices
temporários da tesouraria do Estado, ou simplesmente para efeitos de gestão de política monetária,
como consequência de natureza sazonal da receita fiscal e para cobertura de eventuais atrasos nos
desembolsos prometidos pelos parceiros de cooperação ao longo do exercício económico. Por
regra, deve ser saldada no final de cada exercício económico.

Obrigações de Tesouro – instrumento da divida de MLP, cujo objectivo é financiar défice


orçamental. Este instrumento para o caso de Moçambique, é emitido pelo MF através da
colocação na BVM.

Razões do endividamento interno:

O financiamento do défice orçamental – O Governo procura contrair empréstimo a nível nacional


numa situação de insuficiência de receitas mobilizadas a nível nacional, tais como impostos e
direitos, e de doações em relação aos seus compromissos de despesas.

Inconveniências

O endividamento por meio de poupança interna por parte do Governo, reduz a disponibilidade de
crédito para a economia prejudicando assim o sector privado porque o dinheiro se torna mais
caro, isto e, haverá subida da taxa de juro o que ira de certo modo expulsar o investimento
privado (crowding-out).

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Implementação de Política Monetária – O Governo através de operações no mercado aberto (open
market), ou seja, atreves da compra e venda de BT’s, pode alterar a quantidade da oferta de moeda
na economia. A venda de BT’s, por parte do Estado reduz a oferta de moeda e absorve a liquidez,
pois as pessoas e as instituições ao comprarem BT’s ficam assim sem liquidez, ao passo que as
compras de títulos do tesouro por parte do Estado agem de forma contraria, pois injectam mais
liquidez no sistema.

O desenvolvimento do Sector Financeiro – Neste caso, o Governo oferece títulos de tesouro de


curto prazo, que proporcionam uma rentabilidade certa e desenvolvem a confiança dos
investidores nos instrumentos públicos da divida e outros instrumentos de MLP com estruturas
diversas de taxas de juro, normalmente obrigações de tesouro.

a2) Divida Pública Externa – Corresponde a responsabilidade de pagamento do Governo sobre o


exterior. Pode resultar de empréstimos monetários directos, ou de transacções comerciais a prazo.

De acordo com Sylvestre M. & Navalha F. (2004), a divida publica externa quanto ao credor,
pode-se classificar em três categorias:

1- Bilateral – são acordos de empréstimos estabelecidos entre Governos, isto é, de Governo para
Governo. Normalmente, os valores são concedidos ou garantidos por Governos ou agências
governamentais.

2- Multilateral – são os empréstimos contraídos por um Governos a instituições financeiras


internacionais, (BAD, WB, FMI) entre outras, que resultam de uma associação de Governos.
Neste caso o Pais devedor esta indirectamente a relacionar-se com vários Governos ao mesmo
tempo (dai o termo multilateral).

3- Comercial – Solicitações por parte do Governo de um adiantamento em dinheiro para fazer


face a uma determinada necessidade. Este processo é feito em um banco comercial internacional
geralmente, as condições de pagamento (taxa de juro e prazo de amortização) são comerciais.

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