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A intervenção do Estado na Economia

Estrutura do Setor Público em Portugal

O Estado é uma sociedade politicamente organizada, fixada num determinado território, que lhe é
privativo, e que tem como características próprias a soberania e a independência.
O Setor Público em Portugal inclui a atividade não mercantil ou administrativa do Estado (Setor Público
Administrativo - SPA) e a atividade mercantil do Estado (Setor Público Empresarial - SPE).

Setor Público

Setor Público Administrativo (SPA) Setor Público Empresarial (SPE)

• Setor Empresarial do Estado


• Administração Cental;
- Empresas públicas
• Administração Regional e Local;
- Empresas participadas
• Fundos da Segurança Social
• Setor Empresarial Local
- Empresas públicas
- Empresas participadas

O Setor Público Administrativo (SPA) é constituído por unidades institucionais públicas não mercantis,
que desenvolvem a sua atividade tendo como principal objetivo a satisfação das necessidades coletivas;
inclui os serviços da Administração Central, da Administração Regional e Local e os Fundos da
Segurança Social.
O Setor Público Empresarial (SPE), constituído pelo Setor Empresarial do Estado (SEE), e pelo Setor
Empresarial Local, intervém na atividade económica como produtor de bens e prestador de serviços
(por exemplo, transportes públicos, saneamento básico e água canalizada), ou relativamente aos quais o
setor empresarial privado, em determinado momento, não revela interesse ou capacidade para
produzir. O SEE português é composto por um vasto conjunto de unidades produtivas, de vários setores
de atividade, organizadas e geridas de forma empresarial: as empresas públicas (sociedades sobre as
quais o Estado exerce, direta ou indiretamente, uma influência dominante) e as empresas participadas
(sociedades em que o Estado não exerce uma influência dominante).
A intervenção económica e social do Estado
Justificar a intervenção do Estado na atividade económica

O Estado intervém na atividade económica para promover o desenvolvimento económico e a justiça


social. São funções económicas e sociais do Estado promover a eficiência, a estabilidade e a equidade.
A eficiência pressupõe que na produção de qualquer bem se utilize o mínimo de recursos, aos mais
baixos custos (económicos, sociais, ambientais, etc.). No entanto, os mercados não são eficientes
porque existem falhas de mercado:
 mercados de concorrência imperfeita: para que o mercado funcione de forma eficiente, é
necessário que haja concorrência. O Estado deve intervir de forma a repor a concorrência ou a
evitar a concentração, promulgando leis antimonopólio (antitrust):
 bens públicos: são os bens que podem ser usufruídos por várias pessoas sem que se possa
impedir alguém de os utilizar (ex.: iluminação pública). São características dos bens públicos a
não rivalidade (um bem ao ser consumido por alguém não diminui a quantidade disponível para
os outros) e a não exclusividade (não se pode impedir o acesso de qualquer pessoa a esse bem).
Os bens excluíveis e rivais são bens privados.
 externalidades: correspondem ao efeito (não intencional) da ação de um agente económico
sobre o bem-estar de outros agentes (que não participaram dessa ação), o qual não está
repercutido no sistema de preços do mercado. As externalidades podem ser negativas (o custo
social da produção ou do consumo é superior ao seu custo económico. O Estado deverá intervir,
desincentivando a sua produção ou o seu consumo, através da aplicação de impostos ou
restrições) ou positivas (o benefício da produção ou do consumo é superior ao seu custo
económico. O Estado deverá intervir, incentivando a sua produção ou o seu consumo, através da
atribuição de subsídios ou dando incentivos de ordem fiscal).
A atividade económica não evolui de forma linear, a fases de crescimento económico seguem-se fases
de desaceleração da atividade económica, com redução da produção, aumento do desemprego e
variações de preços. Cabe ao Estado antecipar-se a esta sucessão de fases de expansão e de recessão da
atividade económica, reduzindo as flutuações do ciclo económico para garantir a estabilidade.
A repartição primária do rendimento gera desigualdades económicas que se transformam também em
desigualdades sociais, sendo estas indesejáveis; assim, para evitar este tipo de situações, o Estado,
orientado por princípios de justiça social, deverá garantir uma maior equidade entre os cidadãos,
efetuando, assim, uma redistribuição dos rendimentos, através da aplicação de impostos diretos
progressivos ou da atribuição de subsídios.
Instrumentos de intervenção do Estado na esfera económica e social

Para que possa desempenhar as suas funções económicas e sociais, o Estado pode intervir de forma
direta. colocando no mercado bens e serviços para satisfazerem as necessidades coletivas, ou de forma
indireta, através do planeamento e das políticas económicas e sociais.
O planeamento consiste na ação de definição de objetivos quantificados e dos recursos necessários
para os atingir e o seu horizonte temporal pode ser de médio ou longo prazo (mais de 1 ou de 5 anos) e
de curto prazo ou anual (até 1 ano). Ao plano anual do Estado é dado o nome de Orçamento do Estado.
O planeamento é imperativo para o setor público e meramente indicativo para o setor privado.
O Estado também pode intervir através das políticas económicas e sociais, que são o conjunto de
medidas tomadas pelo Governo com o objetivo de melhorar a situação económica e social da
sociedade. Na maioria das vezes, as políticas económicas são interdependentes das políticas sociais,
apresentando-se diretamente relacionadas umas com as outras. Na prática, quando o Estado aplica
medidas de política económica, os resultados têm repercussões ao nível social, e vice-versa.

Orçamento do Estado

O Orçamento do Estado é uma lei da Assembleia da República que contém uma descrição detalhada da
previsão de todas as receitas, uma autorização de despesas, assim como uma autorização para o
endividamento necessário, relativos a um horizonte temporal de um ano, constituindo um importante
instrumento de intervenção económica e social do Estado.
Para que o Estado possa promover a eficiência, a estabilidade e a equidade, torna-se necessário realizar
um conjunto de despesas - são as despesas públicas. Para fazer face a toda a despesa pública, é
necessário que sejam arrecadadas receitas - são as receitas públicas.
As despesas públicas podem ser classificadas em despesas correntes e despesas de capital. As despesas
públicas correntes realizam-se ao longo de um ano, e os seus efeitos terminam no final desse ano (por
exemplo: vencimentos dos funcionários públicos, pensões, aquisição de bens não duradouros, entre
outros). As despesas públicas de capital são realizadas ao longo de um ano, mas os seus efeitos
prolongam-se para além desse ano (por exemplo: construção de infraestruturas, aquisição de
equipamentos e de tecnologia, entre outros).
São várias as fontes das receitas públicas:
 Receitas coativas (ou tributárias ou não voluntárias) - são autoritariamente fixadas por via
legislativa, como as taxas (correspondem ao pagamento de um serviço prestado pelo Estado, por
exemplo, preço dos passaportes, taxas moderadoras da saúde, propinas, entre outros), os
impostos (IVA, IRS, IMI, entre outros), as multas (pagamento com carácter de sanção, por
exemplo, infrações de trânsito) e as contribuições para a Segurança Social. É a fonte mais
importante de todas, devido aos impostos.
 Receitas patrimoniais (ou voluntárias) - rendimentos gerados pelo património de que o Estado é
proprietário, por exemplo, venda ou aluguer de edifícios, terrenos ou bens de investimento,
lucros das empresas que pertencem ao SEE, entre outros.
 Receitas creditícias - correspondem à contração de empréstimos. Quando o Estado não
consegue obter, através das receitas coativas e patrimoniais, o valor necessário para cobrir as
despesas públicas, terá de recorrer a empréstimos, originando a dívida pública.
As receitas públicas podem ser classificadas em receitas correntes e receitas de capital. As receitas
públicas correntes derivam de rendimentos criados no período de vigência do Orçamento e que se
prevê que se voltem a repetir noutros anos (por exemplo, impostos, taxas, muitas, entre outros), As
receitas públicas de capital correspondem às receitas cobradas ocasionalmente, podendo não se voltar
a repetir nos anos seguintes (por exemplo, venda do património do Estado e obtenção de empréstimos,
entre outros).

O saldo orçamental corresponde à diferença entre as receitas e as despesas públicas, num determinado
ano:
Saldo orçamental = Receitas públicas - Despesas públicas
 Se Receita pública < Despesa pública, o saldo e negativo (Défice público ou défice orçamental) -
há necessidade de financiamento do setor institucional;
 Se Receita pública > Despesa pública, o saldo é positivo (Excedente público ou excedente
orçamental) - há capacidade de financiamento do setor institucional;
 Se Receita pública = Despesa pública, o saldo é nulo ou equilibrado (Equilíbrio público ou
equilíbrio orçamental).

Podemos calcular vários tipos de saldos orçamentais:


 Saldo orçamental corrente = Receita corrente - Despesa corrente
 Saldo orçamental de capital = Receita de capital - Despesa de capital
 Saldo orçamental primário (SOP) = Receita - Despesa primária
 Saldo orçamental global = Receita efetiva - Despesa efetiva
O saldo orçamental é expresso em unidades monetárias, mas pode também ser calculado em
percentagem do PIB para efeitos de análise e de comparação.

Políticas económicas e sociais do Estado

A intervenção do Estado no domínio económico e social faz-se através de um conjunto de medidas que
são implementadas com vista a serem atingidos determinados objetivos previamente definidos, no
âmbito das suas funções económicas e sociais (promoção da eficiência, da estabilidade e da equidade).
Na definição das políticas económicas e sociais, torna-se importante definir o horizonte temporal
dentro do qual se espera obter o resultado pretendido, podendo estas políticas ser classificadas em
conjunturais ou estruturais. As políticas conjunturais são políticas de curto prazo (período inferior a um
ano), cujo objetivo é promover a estabilização da economia, corrigindo os desequilíbrios existentes no
curto prazo (por exemplo, política fiscal, política orçamental, política monetária e política de
redistribuição de rendimentos, entre outras); as políticas estruturais são políticas de médio (entre 1 e 5
anos) e longo (mais de 5 anos) prazo, cujo objetivo é alterar o funcionamento e as estruturas em que
assenta a economia, promovendo o crescimento económico (por exemplo, políticas setoriais como a
agrícola, das pescas, industrial, entre outras).
Políticas económicas do Estado:
 Política fiscal - é a política mais importante de todas na medida em que, privadas de recursos
financeiros, as autoridades não poderiam executar nenhuma das suas políticas. São objetivos
desta política a obtenção de verbas, a redistribuição dos rendimentos e o controlo de diversas
variáveis económicas; os principais instrumentos são os impostos e os benefícios fiscais.
 Política orçamental - utilização, por parte do governo de um país, das despesas e das receitas
públicas com o intuito de influenciar a economia. São objetivos desta política a satisfação das
necessidades coletivas (compensar falhas de mercado), a redistribuição do rendimento e a
estabilização e dinamização da economia; os principais instrumentos são as despesas e as
receitas públicas.
 Política monetária - uma vez que Portugal pertence à área do euro, a autoridade responsável
pela definição e pela implementação da política monetária é o Eurosistema. O objetivo
primordial desta política, na área do euro, é a manutenção da estabilidade de preços, ou seja, a
manutenção do valor da moeda; o principal instrumento é o controlo das taxas de juro a que o
Eurosistema cede liquidez ao sistema bancário e absorve liquidez do sistema bancário, para
controlar a massa monetária em circulação.
 Política de preços - esta política tem como objetivo controlar o preço de venda de alguns bens
considerados essenciais, para combater a inflação e proporcionar uma maior justiça social; os
seus principais instrumentos são a atribuição de subsídios aos produtos, o “congelamento” dos
preços de alguns produtos, a fixação de preços máximos e o lançamento de impostos indiretos.

Políticas sociais do Estado:


 Política de combate ao desemprego - porque o desemprego é o principal fator de exclusão
social, este é considerado um dos problemas mais graves da atualidade. São objetivos desta
política reduzir o desemprego existente e prevenir e evitar o desemprego; os seus instrumentos
são o aumento da escolaridade da população e a sua adaptação às necessidades reais da
economia, assim como a formação profissional contínua e incentivos às empresas.
 Política de redistribuição de rendimentos - o objetivo desta política é a promoção da equidade
social, atuando na repartição dos rendimentos de forma a diminuir as desigualdades verificadas
e assegurar um nível de bem-estar adequado às famílias de menores rendimentos; são
instrumentos desta política os impostos diretos com taxas progressivas e a aplicação de
impostos indiretos sobre certos consumos, com taxas diferenciadas (política fiscal), as
transferências internas, a distribuição ou fornecimento direto de determinados bens e serviços e
a atribuição de subsídios à produção de alguns bens (política social).

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