Você está na página 1de 5

ECONOMIA A 11.

º ANO

U11. A intervenção do Estado na economia


11.1 Funções e organização do Estado
O Estado é constituído por uma comunidade (a população), por um território (espaço geográfico) e por um poder
político.
A Estado é, então, uma sociedade politicamente organizada, fixada num determinado território com
soberania e independência.
O exercício do poder pelo Estado implica a definição de uma ordem jurídica e constitucional que
estabeleça um conjunto de competências para o Estado.
As competências do Estado estão definidas na Constituição do país, dando, assim, origem às funções do
Estado (jurídicas e não jurídicas). No desenvolvimento destas funções, o Estado cumpre o seu principal
objetivo: a satisfação das necessidades coletivas.

Funções jurídicas do Estado (correspondentes à divisão tradicional dos poderes do Estado):


 Legislativa - consiste na elaboração das leis de acordo com as políticas delineadas. Cabe à Assembleia
da República, embora o Governo também tenha competência legislativa;
 Executiva - tem por objeto a execução/concretização das leis e a satisfação das necessidades
coletivas, de acordo com as políticas e as leis planeadas. Cabe ao Governo;
 Judicial - tem por finalidade administrar a justiça de acordo com a lei. Cabe aos Tribunais.

Funções não jurídicas do Estado


 Políticas – através destas funções o Estado garante a satisfação dos interesses gerais da comunidade,
tais como a defesa, a segurança e a justiça, ou seja, as atividades tradicionais do Estado Liberal,
hoje alargadas ao domínio económico e social, na perspetiva do Estado intervencionista, pois
inclui o bem-estar económico e social da população como um dos seus fins;
 Sociais – têm em vista criar as condições necessárias ao bem-estar da população, garantindo
padrões mínimos de vida aos cidadãos, através da concessão de rendimentos mínimos às famílias e
do acesso a serviços essenciais como a saúde, a educação, a justiça, a fim de reduzir as desigualdades
sociais;
 Económicas – têm por objetivo favorecer o desenvolvimento económico, criando infraestruturas,
desenvolver a saúde e a educação, fornecer bens públicos, apoiar a ciência e a investigação,
promover a estabilidade dos preços e do emprego, através de políticas fiscais e monetárias,
preservar os recursos naturais e o ambiente.

No desempenho das suas funções, o Estado exerce um papel dinamizador, regulador, planificador e
fiscalizador da atividade económica.

Organização do Estado Português


Nas sociedades atuais, as leis constitucionais são as leis mais importantes às quais todas as outras normas
jurídicas têm de se subordinar.
Em Portugal, após a Revolução do 25 de Abril de 1974, vigora a Constituição da República Portuguesa
(CRP), aprovada em 1976 e que foi objeto de várias revisões.

De acordo com a CRP, o poder político pertence ao povo, sendo exercido nos termos da Constituição
que define os seguintes órgãos de soberania:
 Presidente da República – é eleito de 5 em 5 anos, por voto direto e secreto. As suas competências
encontram-se nos artigos;
 Assembleia da República – é a assembleia que representa todos os cidadãos portugueses;
 Governo – é o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da administração pública;
 Tribunais – é o órgão com competência para administrar a justiça em nome do povo. Compete aos
Tribunais assegurar a defesa dos direitos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade democrática e
resolver os conflitos de interesses públicos e privados.

As competências de cada um destes órgãos estão também consagradas na CRP.

Estrutura do setor público


Hoje em dia, verifica-se na generalidade dos países um setor público produtivo que se distingue do conjunto das
atividades tradicionalmente atribuídas aos Estados.
De facto, os Estados não só criam as condições necessárias ao desenvolvimento da economia e à melhoria do
nível de vida das populações, como também se tornaram agentes económicos com intervenção direta na
produção de bens e serviços.

Apontamentos de Economia A _11.º_A intervenção do Estado na economia Página 1


O setor público inclui:
 O Setor Público Administrativo (SPA);
 O Setor Empresarial do Estado (SEE)

O Setor Público Administrativo (SPA) inclui:


 a Administração Central;
 a Administração Local (autarquias locais);
 a Segurança Social e
 os Fundos Autónomos (fundos criados para fazer face a determinados objetivos. Por exemplo, o Fundo
de Garantia Automóvel, Fundos de Pensões, etc.)

O Setor Público Administrativo abrange as atividades tradicionais do Estado, tais como:


 A gestão administrativa do aparelho de Estado (ministérios e outros departamentos públicos);
 A segurança do território, da propriedade e dos cidadãos e a administração da justiça;
 A construção de infraestruturas (portos, aeroportos, estradas, pontes, escolas, hospitais, tratamento de
águas, etc.);
 A prestação de bens e serviços que satisfazem necessidades essenciais da população.

O Setor Empresarial do Estado (setor público produtivo)


O Estado intervém na atividade económica como empresário, sobretudo em setores-chave da economia (na
banca, na siderurgia, na petroquímica e refinarias, nos cimentos, nas indústrias extrativas, na produção e
distribuição de água e energia, nos transportes, na construção), quer através da constituição de empresas pelo
próprio Estado, com capitais públicos, quer, por exemplo, através de nacionalizações como aconteceu em
Portugal após a Revolução de 25 de Abril de 1974.

Nacionalizações
A nacionalização de uma empresa consiste na transferência da sua propriedade para o Estado, com ou sem
indemnização aos seus antigos proprietários.

As razões justificativas das nacionalizações resultam de um ou mais fatores, tais como:


 A grande importância que a empresa tem para o país, quando a satisfação dos interesses privados
pelos seus proprietários prejudique a satisfação dos interesses da coletividade;
 A situação de desagregação da empresa que ponha em perigo a sua existência (falência) e
consequente desemprego dos seus trabalhadores;
 A não satisfação por parte da empresa das necessidades da população;
 A má administração da empresa ou o boicote aos objetivos necessários ao desenvolvimento do país.

Até 1974, a participação de Portugal na atividade económica foi reduzida, restringindo-se à construção de
algumas infraestruturas, à criação de algumas empresas públicas (CP, RTP) e a algumas medidas de política
económica (pautas aduaneiras, fixação da taxa de juro).

A partir de 1974, o Estado português passou a desempenhar um papel relevante na condução da


atividade económica, através da:
 Criação de novas empresas públicas em todos os ramos-chave da economia (produção e distribuição de
energia – EDP, na recolha e distribuição de cereais – EPAC, na indústria (Quimigal), etc.;
 Intervenção em empresas através da concessão de créditos e nomeação de gestores;
 Nacionalização de grandes e importantes empresas privadas.

Com a criação de novas empresas públicas, com a intervenção em empresas privadas já constituídas e com as
nacionalizações, o Estado ficou com um vasto setor público e um importante peso na economia.

O setor empresarial do Estado é constituído por:


 Empresas públicas – são empresas (criadas pelo Estado ou que foram objeto de nacionalização)
propriedade do Estado, ou seja, o Estado detém mais de 50% do capital;
 Empresas mistas – são empresas propriedade do Estado em menos de 50% do capital e de
particulares;
 Empresas intervencionadas – são empresas que tiveram intervenção do Estado, através da
concessão de créditos, da nomeação de gestores, da viabilização económica ou da garantia dos postos
de trabalho, por razões diversas, tais como a fuga dos seus donos e respetivos capitais para o
estrangeiro, com a consequente descapitalização das empresas e incapacidade financeira para manter
os postos de trabalho ou o estado de desagregação de algumas empresas, sem capacidade para
enfrentarem os novos custos de produção ou novas condições laborais.

Apontamentos de Economia A _11.º_A intervenção do Estado na economia Página 2


Privatizações
A partir de 1978, o Estado começou a entregar algumas empresas intervencionadas aos seus proprietários.
A partir de 1989, na sequência da 2.ª Revisão Constitucional, o Estado iniciou a privatização de algumas
empresas públicas, alienando uma parte ou a totalidade do seu capital social
As privatizações mais significativas verificaram-se na banca, nos seguros, nos transportes rodoviários, nas
telecomunicações, no petróleo, na siderurgia, na pasta de papel, nos cimentos, na alimentação, nas cervejas e
no tabaco.
O peso do SEE na economia tem vindo a diminuir - atualmente, o Estado está a vender as participações que
tem em diversas empresas e a privatizar algumas empresas públicas, em parte por determinação do Programa
de Assistência Económica e Financeira (PAEF).

O processo de privatizações foi inicialmente desenvolvido no Reino Unido e nos EUA, na década de 80, do
século XX, na sequência da crise petrolífera dos anos 70 que fez disparar a inflação e o endividamento do
setor público, e da influência das teorias de economistas neoliberais como Milton Friedman, defensores do
mercado livre e da não intervenção do Estado na economia, que puseram em causa a importância do
setor produtivo do Estado e da despesa pública como estimuladora de investimento e do crescimento
económico.

Nota: o primeiro choque petrolífero foi após a Guerra Israelo-Árabe, em 1973/1974, cujo embargo durou 5
meses, seguido de um aumento acentuado dos preços do petróleo pelos países árabes, devido ao apoio dos
EUA a Israel; o segundo choque petrolífero registou-se em 1978/79. Em 1978 a Revolução no Irão cessou as
exportações e em 1979 a OPEP aumentou os preços do petróleo.

O movimento das privatizações, em que empresas do setor público passaram para as mãos de privados,
alastrou-se por todo o mundo, incluindo a Rússia e a China, e Portugal não escapou a este movimento.

Objetivos das reprivatizações de empresas do setor público:


 Modernização e aumento da competitividade das empresas – objetivo com maior significado económico,
pois pretendia-se aumentar a eficiência produtiva das empresas privatizadas;
 Redução da dívida pública – as receitas obtidas com a privatização das empresas permitiram ao Estado
diminuir a dívida pública;
 Redução do peso do Estado na economia – a diminuição da importância do Estado como empresário,
enfraquece a sua intervenção na economia;
 Desenvolvimento do mercado de capitais (ações) e maior distribuição da propriedade das ações pela
população – as operações de privatização são efetuadas na Bolsa de Valores.

11.2. A intervenção do Estado na atividade económica


Evolução da intervenção do Estado na economia
O Estado surgiu na economia associado à apropriação privada do excedente económico resultante daquilo que
se produzia ser superior ao consumo, acumulando-se riquezas. Com o desenvolvimento das primeiras cidades e
multiplicação das profissões e das trocas, surgiu uma nova organização social – o Estado – que legitima a
repartição desigual e assegura a estabilidade do poder aos detentores das riquezas.

Estado liberal
Desde sempre que o Estado, de alguma forma, tem vindo a intervir na esfera económica.
Mesmo no período do liberalismo político e económico, após a Revolução Industrial, o Estado interferia
na economia, mas apenas para garantir o funcionamento do mercado (ponto de encontro entre os
interesses dos produtores de bens e serviços e dos consumidores).
Afirmava Adam Smith que o mercado permitia a satisfação do interesse próprio dos indivíduos através da livre
concorrência, garantida pela lei.

A conceção do Estado liberal é aquela em que o Estado apenas define o quadro jurídico que a atividade
económica deve respeitar.
Este posicionamento do Estado perante a atividade económica corresponde ao início do capitalismo (uma nova
forma de ordem económica). Surgiu no século XVIII associado às ideias liberais, após o feudalismo.
O capitalismo assentava na propriedade privada, na liberdade de iniciativa (possibilidade de qualquer
indivíduo utilizar os meios de produção na atividade produtiva) e na liberdade de concorrência (possibilidade
de qualquer empresa poder competir com as outras, em qualquer ramo de atividade económica).
A liberdade de iniciativa e de concorrência juntamente com a existência de muitas pequenas empresas fizeram
com que a esfera económica ficasse reservada às empresas privadas, movidas pelo lucro.
Deste modo, o Estado não intervinha diretamente na economia. Apenas lhe competia a regulamentação jurídica
da economia, a defesa da ordem social e a garantia das liberdades individuais.

Apontamentos de Economia A _11.º_A intervenção do Estado na economia Página 3


A par do processo de industrialização, desenvolveram-se movimentos sociais operários que lutavam
contra as duras condições de trabalho: jornada de trabalho longa; salários reduzidos; exploração do trabalho
das crianças; inexistência de segurança social, de associação ou de livre expressão.
A partir da 2.ª metade do século XIX, no Ocidente, o movimento operário passou a ser uma organização melhor
estruturada, constituindo-se em 1864 a Associação Internacional do Trabalho (AIT) para coordenar o
movimento operário em vários países.

A partir das décadas de 1860 e 1870, criaram-se muitas organizações sindicais e partidos políticos que
passaram à ação direta, conquistando-se um conjunto de direitos políticos, económicos e sociais: a jornada de
trabalho de 8 horas diárias (comemorado em 1 de Maio); o princípio de “para trabalho igual, salário igual”, o
direito à contratação coletiva, à segurança social, a férias remuneradas e a condições dignas de trabalho.

Entretanto, o funcionamento da economia, segundo as leis do mercado de concorrência perfeita começou a


sofrer perturbações, devido à concentração industrial e financeira, após a Revolução Industrial. E a partir de
meados do século XIX, surgiram monopólios e oligopólios, caraterísticos de um mercado de concorrência
imperfeita, com desfasamentos entre a oferta e a procura, mostrando que as regras do mercado eram
incapazes, por si só, de assegurar o equilíbrio económico.
O excesso de produção de bens mais lucrativos em prejuízo de outros, nomeadamente bens de primeira
necessidade ou de satisfação coletiva, cujo baixo preço de venda para assegurar o consumo por todos, não
oferecia a rendibilidade desejada, levava o investidor a desinteressar-se pela sua produção.

O Estado liberal conheceu, então, graves crises económicas, resultantes da desadequação da oferta à procura.
A grande crise de 1929, conhecida como a “Grande Depressão”, surgiu nos EUA como o mais perfeito
exemplo de que uma economia, por si só, muito dificilmente consegue regular-se.
Com efeito, o excesso de produção face à procura foi de tal grandeza, que as empresas, vendo os seus stocks
acumulados nos armazéns, diminuíram a produção. Esta quebra de produção deu lugar ao desemprego e os
consumidores com menores rendimentos tiveram de reduzir o consumo. Diminuindo o consumo, a produção
diminuiu e, consequentemente diminuiu também o emprego, que por sua vez fez novamente baixar o consumo
devido à diminuição dos rendimentos, em virtude de mais desemprego. De forma circular a crise gerava mais
crise.

A crise de 1929 foi também uma crise internacional, devido ao colapso do sistema financeiro internacional
(os EUA deixaram de apoiar a economia) e às políticas protecionistas adotadas por muitos países, incluindo os
EUA, que aplicaram elevadas tarifas alfandegárias para diminuir a importação de bens, a fim de fomentar a
produção nacional.

Estado intervencionista
Nos anos 30, a produção e o comércio diminuíram e, consequentemente, o desemprego aumentou.
Perante as crises económicas, em particular, a Grande Depressão da década de 1930, que revelavam a
incapacidade de as leis do mercado regularem, por si só, a economia, o Estado foi obrigado a intervir
diretamente na economia para prevenir outras crises e minimizar os seus efeitos. As medidas do New
Deal, adotadas pelo presidente Roosevelt, nos EUA, são um exemplo da intervenção do Estado na economia.

O Estado passou, então, a intervir diretamente na esfera produtiva, juntando à sua atividade tradicional a
tomada de medidas de natureza económica, a fim de atingir os seus objetivos políticos, económicos e sociais.
Esta intervenção do Estado na economia fez-se essencialmente através de apoios diversos a empresas:
fornecimento de determinados produtos a preços reduzidos (energia); concessão de subsídios para a produção
de bens essenciais ou que promovam a criação de postos de trabalho.

Na sequência da crise de 1929, o economista John Maynard Keynes defendeu que o Estado passasse a
intervir em certas áreas da economia (investimento, emprego, rendimento), para atenuar os efeitos das
crises económicas. Por exemplo, promovendo o investimento para criar emprego e gerar rendimento.

Hoje é frequente assistir-se à intervenção do Estado na atividade económica de diversas formas,


nomeadamente, na:
 condução de políticas anticrise, através de instrumentos fiscais, monetários e de controlo dos preços;
 elaboração de um planeamento indicativo, que parte do diagnóstico e caracterização socioeconómica do
país, com vista ao desenvolvimento;
 constituição de um setor público empresarial;
 regulação da atividade económica;
 fiscalização dos agentes económicos;
 dinamização da economia.

Apontamentos de Economia A _11.º_A intervenção do Estado na economia Página 4


Apontamentos de Economia A _11.º_A intervenção do Estado na economia Página 5

Você também pode gostar