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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

Medidas Elétricas III

APOSTILA DIDÁTICA DE MEDIDAS ELÉTRICAS

Prof. Marcos Riva Suhett


Prof. José Eduardo R. Alves Jr

Niterói / RJ
2012
2

Sumário

Parte um
1. Unidades legais de medida....................................................................................8
1.1 O sistema internacional de unidades..............................................................8
1.2 A escrita das unidades do SI...........................................................................8
2. Conceitos gerais em medidas...............................................................................14
2.1 Definições básicas..........................................................................................14
2.1.1 O que é uma medição?....................................................................14
2.1.2 Valor verdadeiro (de uma grandeza)...............................................14
2.1.3 Valor verdadeiro convencional (de uma grandeza).........................14
2.1.4 Mensurando....................................................................................14
2.1.5 Grandeza de influência...................................................................15
2.1.6 Resultado de uma medição..............................................................15
2.1.7 Indicação (de um instrumento de medição)....................................15
2.1.8 Resultado não-corrigido..................................................................15
2.1.9 Resultado corrigido.........................................................................15
2.1.10 Exatidão de medição......................................................................16
2.1.11 Tendência..................................................................................... 16
2.1.12 Calibração....................................................................................16
2.1.13 Ajuste............................................................................................16
2.1.14 Correção........................................................................................16
2.1.15 Repetitividade (de resultados de medições)...................................17
2.1.16Reprodutibilidade (dos resultados de medição)..............................18
2.1.17 Rastreabilidade.............................................................................18
2.1.18 Faixa de indicação.........................................................................18
2.1.19 Faixa de medição...........................................................................18
2.2 Erros de medição............................................................................................19
2.3 Classificação dos erros....................................................................................20
2.4 Propagação dos erros......................................................................................21
2.5 Distribuição de Probabilidades......................................................................23
2.5.1 Tipos de Distribuição de Probabilidades....................................................26
3

2.5.1.1 Distribuição Retangular..........................................................................26


2.5.1.2 Distribuição Triangular...........................................................................27
2.5.1.3 Distribuição Normal ou Gaussiana.........................................................27
2.6 Conceitos Básicos de Estatística....................................................................28
2.7 Cálculo de incerteza de medições...................................................................28
2.7.1 Avaliação da incerteza padronizada...............................................29
2.7.1.1 Avaliação da Incerteza Tipo A...........................................29
2.7.1.2 Avaliação da Incerteza Tipo B............................................30
2.7.2 Incerteza padronizada combinada..................................................31
2.7.2.1 Grandezas estatisticamente independentes........................32
2.7.2.2 Grandezas estatisticamente dependentes............................33
2.7.2.3 Grandezas com dependência estatística parcial..................33
2.7.2.3.1 Combinação de grandezas estatisticamente
dependentes e independentes.................................................33
2.7.2.3.2 Caso Geral...............................................................34
2.7.3 Incerteza expandida........................................................................34
2.7.3.1 Fator de abrangência...........................................................35
2.7.4 Procedimento de avaliação da incerteza de medição.......................36
4. Operações com algarismos significativos............................................................36
4.1 Aproximação..................................................................................................37
4.2 Adição ou subtração.......................................................................................37
4.3 Multiplicação e divisão..................................................................................37
4.4 Raiz quadrada................................................................................................37
5. Exercícios Resolvidos...........................................................................................38
5. Exercícios Propostos............................................................................................41
6. Referências bibliográficas.....................................................................................46

Parte dois
1. Introdução à medição de faturamento..................................................................47
2. Potência Instantânea e Potência Ativa................................................................48
2.1 Potência Instantânea.....................................................................................48
4

3. Diagrama fasorial................................................................................................48
4. Conceito de Potência Ativa e Reativa....................................................................51
4.1 Conceito de Potência Ativa............................................................................52
4.1.1 Valor Médio e Valor RMS..............................................................52
4.1.2 Conceitos de potência ativa por meio de fasores.............................53
4.1.2.1 Potência ativa para cargas resistivas...................................53
4.1.2.2 Potência ativa para cargas indutivas e resistivas.................53
4.1.2.3 Potência ativa para cargas capacitivas e resistivas...............53
4.2 Conceito de potência reativa..........................................................................54
4.2.1 Conceito de Potência Reativa por meio de Fasores........................54
4.2.1.1 Potência reativa para cargas indutivas e resistivas...............54
4.2..1.2 Potência reativa para cargas capacitivas e indutivas...........54
5. Potência Aparente................................................................................................55
6. Triângulo de potências.........................................................................................55
6.1 Triângulo de potências de cargas indutivas e resistivas..............................55
6.2 Triângulo de potências de cargas capacitivas e resistivas............................55
7. Fator de Potência...................................................................................................56
8 Principais sistemas de fornecimento de energia em distribuição............................57
8.1 Fornecimento a dois fios monofásico..............................................................57
8.2 Fornecimento a três fios monofásico..............................................................58
8.3 Fornecimento a três fios, bifásico, com neutro...............................................58
8.4 Fornecimento a três fios, trifásico, sem neutro..............................................59
8.5 Fornecimento a quatro fios, trifásico, com neutro.........................................59
9 Teorema de Blondel..............................................................................................61
9.1 Exemplos do teorema de Blondel....................................................................62
9.1.1 Medição trifásica (kWh) sem transformadores de corrente (sistema
4 fios – estrela aterrada) – BAIXA TENSÃO.........................................62
9.1.2 Medição trifásica (kWh/kW) com três transformadores de corrente
(sistema 4 fios – estrela aterrada) – BAIXA TENSÃO...........................64
9.1.3 Medição trifásica (kWh/kW) com dois transformadores de corrente
e dois de potencial (sistema 3 fios delta ou estrela isolada) – MÉDIA
TENSÃO.................................................................................................64
5

9.1.4 Medição trifásica (kWh/kW) com dois transformadores de corrente


e três de potencial (sistema 3 fios delta ou estrela isolada) – ALTA
TENSÃO.................................................................................................66
10 Princípios básicos da medição para faturamento..................................................66
11 Principais equipamentos de medição de energia elétrica......................................69
11.1 Transformadores de potencial indutivo.......................................................69
11.1.1 Conceituação básica....................................................................69
11.1.2 Grandezas de influência no erro de relação e no ângulo de fase...71
11.1.3 Principais características de especificação...................................72
11.1.4 Principais irregularidades associadas à medição com TPI..........7 3
11.2 Transformadores de corrente.....................................................................73
11.2.1 Conceituação básica....................................................................73
11.2.2 Grandezas de influência no erro de relação e no ângulo de fase...76
11.1.3 Principais características de especificação...................................76
11.1.4 Principais irregularidades associadas à medição com TC...........77
11.3 Medidores eletromecânicos.........................................................................78
11.3.1 Medidores de energia eletrodinâmicos (kWh)..............................78
11.3.1.1 Conceituação básica.........................................................78
11.3.1.2 Ajustes de calibração........................................................80
11.3.1.3 Principais características de especificação........................82
11.3.2 Medidores de energia e demanda eletrodinâmicos (kWh/kW)......83
11.3.2.1 Por que medir demanda para fins de faturamento de uma
unidade consumidora?....................................................................83
11.3.2.2 Principais conceitos associados à demanda......................84
11.3.2.2.1 Demanda máxima................................................84
11.3.2.2.2 Demanda acumulada............................................84
11.3.2.2.3 Demanda pesquisa (Janela deslizante)..................85
11.3.2.2.4 Fator de carga.......................................................85
11.3.2.2.5 Fator de demanda..................................................85
11.3.2.2.6 Reposição de demanda..........................................85
11.3.2.3 Conceituação básica..........................................................85
11.4 Medidor de demanda de princípio térmico..................................................86
6

11.5 Medidores eletrônicos..................................................................................87


11.5.1 Funcionamento interno...............................................................88
11.5.2 Aspectos funcionais......................................................................90
11.5.3 Características técnicas gerais......................................................90
11.6 Registradores digitais..................................................................................92
11.7 Conjuntos de medição..................................................................................93
11.8 Medição de energia reativa..........................................................................93
11.8.1 Porque medir a energia reativa.....................................................93
11.8.2 Medição de energia reativa com medidores eletromecânicos........95
11.8.3 Medição de energia reativa com medidores eletrônicos................97
12. Aferição de medidores..........................................................................................98
12.1 Blocos de aferição.........................................................................................98
12.2 Verificação (aferição) de medidores no campo.............................................98
12.2.1 Calibração do medidor eletromecânico pelo método Potência x
Tempo......................................................................................................99
12.2.1.1 Exemplo básico................................................................101
12.2.2 Calibração do medidor eletromecânico pelo método do Medidor
Padrão....................................................................................................101
12.3 Considerações para dimensionamento dos condutores secundários de
transformadores de corrente e de potencial........................................................105
12.3.1 Exemplo básico – Transformador de corrente............................106
12.3.2 Exemplo básico – Transformador de potencial...........................107
13. Exercícios Propostos.........................................................................................108
14 Referências bibliográficas.................................................................................115

Parte três
1. Instrumentos elétricos de medição.....................................................................116
1.1 Instrumentos elétricos de medição analógicos.............................................117
1.1.1 Instrumento de bobina móvel imã permanente............................117
1.2 Instrumentos de ferro móvel........................................................................119
1.2.1 Instrumentos de núcleo mergulhador...........................................119
1.2.2 Instrumentos de repulsão.............................................................120
7

1.3 Instrumentos eletrodinâmicos.....................................................................120


2. Medição de tensão e corrente...............................................................................122
2.1 Medição da corrente elétrica........................................................................122
2.2 Medição da tensão elétrica...........................................................................127
2.3 Multímetro (ou Multiteste).........................................................................130
2.3.1 Como medir tensão contínua........................................................133
2.3.1.1 Em um multímetro analógico...........................................133
2.3.1.2 Em um multímetro digital................................................134
2.3.2 Como medir tensão alternada........................................................135
2.3.3 Como medir corrente contínua.....................................................135
2.3.3.1 Em um multímetro analógico...........................................135
2.3.3.2 Em um multímetro digital................................................135
3. Medição de resistência.........................................................................................136
3.1 Medição de baixas resistências: 10 a 1 ..............................................136
3.1.1 Método do galvanômetro diferencial.............................................137
3.1.2 Método do potenciômetro..............................................................139
3.1.2 Ponte Kelvin.................................................................................140
3.1.4 Ohmímetro Ducter.......................................................................143
3.2 Medição de resistências médias: 1  a 1 M..............................................145
3.2.1 Método do voltímetro e amperímetro............................................145
3.2.1.1 Montagem a montante......................................................145
3.2.1.2 Montagem a jusante.........................................................146
3.2.2 Método do ohmímetro a pilha.......................................................147
3.2.3 Método de substituição.................................................................148
3.2.4 Método da Ponte de Wheatstone..................................................149
3.3 Medição de resistências elevadas: maiores do que 1 M............................150
3.3.1 Método do voltímetro....................................................................150
3.3.2 Método da carga do capacitor.......................................................150
3.3.3 Método do Megger (Megaohmímetro)..........................................151
4. Pontes de corrente alternada...............................................................................155
4.1 Pontes clássicas para a medição de capacitâncias........................................156
4.1.1 Ponte de Wien...............................................................................156
8

4.1.2 Ponte de Schering.........................................................................158


4.1.3 Ponte de Sauty..............................................................................159
4.1.4 Ponte de Nernst............................................................................160
4.2 Pontes clássicas para a medição de indutâncias..........................................161
4.2.1 Ponte para comparação de indutâncias........................................161
4.2.2 Ponte de Maxwell.........................................................................162
4.2.3 Ponte de Hay................................................................................163
4.2.4 Ponte de Owen..............................................................................164
4.2.5 Relacionamento das pontes de Maxwell, de Hay e de Owen........165
5. Exercícios Propostos............................................................................................166
6. Referências bibliográficas.....................................................................................177
9

Parte 1

1. Unidades legais de medida

1.1 O Sistema Internacional de Unidades


As informações aqui apresentadas irão ajudar você a compreender melhor e a
escrever corretamente as unidades de medida adotadas no Brasil. A necessidade de
medir é muito antiga e remota à origem das civilizações. Por longo tempo cada país,
cada região, teve o seu próprio sistema de medidas, baseado em unidades arbitrárias e
imprecisas, como por exemplo, aquelas baseadas no corpo humano: palmo, pé,
polegada, braça, côvado.
Isso criava muitos problemas para o comércio, porque as pessoas de uma região
não estavam familiarizadas com o sistema de medida das outras regiões. Imagine a
dificuldade em comprar ou vender produtos cujas quantidades eram expressas em
unidades de medida diferentes e que não tinham correspondência entre si.
Em 1789, numa tentativa de resolver o problema, o Governo Republicano
Francês pediu à Academia de Ciências da França que criasse um sistema de medidas
baseado numa "constante natural". Assim foi criado o Sistema Métrico Decimal.
Posteriormente, muitos outros países adotaram o sistema, inclusive o Brasil, aderindo à
"Convenção do Metro". O Sistema Métrico Decimal adotou, inicialmente, três unidades
básicas de medida: o metro, o litro e o quilograma.
Entretanto, o desenvolvimento científico e tecnológico passou a exigir medições
cada vez mais precisas e diversificadas. Por isso, em 1960, o sistema métrico decimal
foi substituído pelo Sistema Internacional de Unidades - SI, mais complexo e
sofisticado, adotado também pelo Brasil em 1962 e ratificado pela Resolução nº 12 de
1988 do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial –
Conmetro, tornando-se de uso obrigatório em todo o Território Nacional.

1.2 A escrita das unidades do SI


10

As unidades SI podem ser escritas por seus nomes ou representadas por meio de
símbolos.
Ex: metro (m); segundo (s)
 Os nomes das unidades SI são escritos sempre com letra minúscula
Ex: quilograma, newton, metro cúbico
Faz-se exceção a essa regra quando o nome da unidade vier no início da frase ou
quando nos referirmos à medida de temperatura em graus Celsius.

 A Resolução Conmetro 12/88 estabelece regras para a formação do plural dos


nomes das unidades de medir. Para facilitar a consulta, indicamos na tabela 2 o
plural dos nomes mais utilizados.

 Na pronúncia do nome, o acento tônico recai sobre a unidade, e não sobre o


prefixo.
Ex: micrometro, hectolitro, milissegundo, centigrama
Às exceções ficam por conta de: quilômetro, hectômetro, decâmetro, centímetro
e milímetro.

 Símbolo não é uma abreviatura, é um sinal convencional e invariável utilizado


para facilitar e universalizar a escrita e a leitura das unidades SI, por isso não é
seguido de ponto.

Certo Errado
segundo s s. ; seg.
metro M m. ; mtr.
quilograma Kg kg. ; kgr.
hora H h. ; hr.

Tabela 1: símbolos de algumas unidades SI.

 Símbolo não é expoente, por isso não deve ser escrito como tal.

 Símbolo não é plural e portanto não é seguido de “s”.

 Toda vez que você se refere a um valor ligado a uma unidade de medir, significa
que, de algum modo, você realizou uma medição. O que você expressa é,
11

portanto, o resultado da medição, que apresenta as seguintes características


básicas:

Figura 1: representação do resultado de uma medição.

 Ao escrever uma unidade composta, não se deve misturar o nome com o


símbolo.
Certo Errado
quilômetro por hora quilômetro/h
km/h km/hora
metro por segundo metro/s
m/s m/segundo

Tabela 2: escrita de unidades compostas.

 O grama pertence ao gênero masculino. Por isso, ao escrever e pronunciar essa


unidade, seus múltiplos e submúltiplos, faça a concordância corretamente.
Ex: dois quilogramas, duzentos e dez gramas.

 O prefixo quilo (símbolo k) indica que a unidade está multiplicada por mil.
Portanto, não pode ser usado sozinho.

 Ao escrever as medidas de tempo, observe o uso correto dos símbolos para hora,
minuto e segundo. Os símbolos ‘ e “ representam minuto e segundo em unidades
de ângulo plano e não de tempo.

Veja abaixo as principais unidades SI:


Grandeza Nome Plural Símbolo
comprimento Metro metros m
Área metro quadrado metros quadrados m²
volume metro cúbico metros cúbicos m³
ângulo plano Radiano radianos rad
tempo Segundo segundos s
freqüência Hertz hertz Hz
velocidade metro por segundo metros por segundo m/s
12

aceleração metro por segundo metros por segundo m/s²


por segundo por segundo
massa Quilograma quilogramas kg
massa específica quilograma por quilogramas por kg/m³
metro cúbico metro cúbico
Vazão metro cúbico metros cúbicos m³/s
por segundo por segundo
quantidade de matéria Mol mols mol
Força Newton newtons N
pressão Pascal pascals Pa
trabalho, energia Joule joules J
quantidade de calor
potência, fluxo de Watt watts W
energia
corrente elétrica Ampère ampères A
carga elétrica Coulomb coulombs C
tensão elétrica Volt volts V
resistência elétrica Ohm ohms 
condutância Siemens siemens S
capacitância Farad farads F
Temperatura Celsius grau Celsius graus Celsius ºC
temp. termodinâmica Kelvin kelvins K
intensidade luminosa Candela candelas cd
fluxo luminoso Lúmen lúmens lm
iluminamento Lux lux lx

Tabela 3: Principais unidades SI.

Algumas unidades em uso com o SI, sem restrição de prazo:


Grandeza Nome Plural Símbolo Equivalência
Volume litro litros l ou L 0,001 m³
ângulo plano grau graus º  /180 rad
ângulo plano minuto minutos ´  /10 800 rad
ângulo plano segundo segundos ´´  /648 000 rad
Massa tonelada toneladas t 1 000 kg
Tempo minuto minutos min 60 s
Tempo hora horas h 3 600 s
velocidade rotação rotações rpm  /30 rad/s
angular por minuto por minuto

Tabela 4: unidades utilizadas com o SI, sem restrição de prazo.

Unidades fora do SI, admitidas temporariamente:


Grandeza Nome Plural Símbolo Equivalência
Pressão atmosfera atmosferas atm 101 325 Pa
Pressão bar Bars bar 10 5 Pa
Pressão milímetro milímetros mmHg 133,322 Pa
de mercúrio de mercúrio aprox.
quantidade caloria calorias cal 4,186 8 J
de calor
Área hectare hectares ha 10 4 m²
13

Força quilograma- quilogramas- kgf 9,806 65 N


força força
Comprimento milha milhas 1 852 m
marítima marítimas
Velocidade nó Nós (1852/3600)m/s

Tabela 5: unidades fora do SI, usadas temporariamente.

Prefixos das unidades do SI:


Nome Símbolo Fator de multiplicação da unidade
yotta Y 1024 = 1 000 000 000 000 000 000 000 000
zetta Z 1021 = 1 000 000 000 000 000 000 000
exa E 1018 = 1 000 000 000 000 000 000
peta P 1015 = 1 000 000 000 000 000
tera T 1012 = 1 000 000 000 000
giga G 109 = 1 000 000 000
mega M 106 = 1 000 000
quilo k 10³ = 1 000
hecto h 10² = 100
deca da 10
deci d 10-1 = 0,1
centi c 10-2 = 0,01
mili m 10-3 = 0,001
micro µ 10-6 = 0,000 001
nano n 10-9 = 0,000 000 001
pico p 10-12 = 0,000 000 000 001
femto f 10-15 = 0,000 000 000 000 001
atto a 10-18 = 0,000 000 000 000 000 001
zepto z 10-21 = 0,000 000 000 000 000 000 001
yocto y 10-24 = 0,000 000 000 000 000 000 000 001

Tabela 6: prefixos das unidades SI.

Observações:
 Para formar o múltiplo ou submúltiplo de uma unidade, basta colocar o nome do
prefixo desejado na frente do nome desta unidade. O mesmo se dá com o
símbolo.
Ex:
Para multiplicar e dividir a unidade volt por mil
quilo + volt = quilovolt; k + V = kV
mili + volt = milivolt; m + V = mV

 Os prefixos SI também podem ser empregados com unidades fora do SI.


Ex: milibar, quilocaloria, megatonelada.
14

 Por motivos históricos, o nome da unidade SI de massa contém um prefixo:


quilograma. Por isso, os múltiplos e submúltiplos dessa unidade são formados a
partir do grama.

2. Conceitos gerais em medidas

2.1 Definições básicas


Para definir alguns dos termos que passaremos a usar daqui por diante,
buscaremos auxílio no Vocabulário Internacional de Medição.

Figura 2: Vocabulário internacional de termos fundamentais e gerais de metrologia.

2.1.1 O que é uma medição?


Segundo o Inmetro, medição é o “conjunto de operações que tem por objetivo
determinar um valor de uma grandeza”.
Em outras palavras, medir é comparar duas grandezas de mesma espécie, ou
seja, que possuem um padrão único e comum entre elas. Esta definição é a base da
metrologia. Duas grandezas de mesma espécie possuem a mesma dimensão.
No processo de medida, a grandeza que serve de comparação é denominada de
grandeza unitária ou padrão unitário. Quando comparamos, estamos fazendo uma
avaliação entre dois resultados e vemos o quanto um cabe no outro.
Vamos aos exemplos. Uma balança de cozinha está comparando uma quantidade
de café e um peso de 1 kg.
15

Figura 3: Balança comparando uma quantidade de pó de café com um peso de 1kg.

Este é um exemplo básico de que medir é comparar. Agora, você estaria ou não
realizando uma medição, da mesma quantidade de café, usando uma balança digital?

1,000

Figura 4: Balança digital com a mesma quantidade de pó de café.

2.1.2 Valor verdadeiro (de uma grandeza)


Valor consistente com a definição de uma dada grandeza específica. Vamos a
algumas observações:
 É um valor que seria obtido por uma medição perfeita.
 Valores verdadeiros são, por natureza, indeterminados.
 O artigo indefinido “um” é usado preferivelmente ao artigo definido “o” em
conjunto com “valor verdadeiro” porque pode haver muitos valores consistentes
com a definição de uma dada grandeza específica.

2.1.3 Valor verdadeiro convencional (de uma grandeza)


Valor atribuído a uma grandeza específica e aceito, às vezes por convenção,
como tendo uma incerteza apropriada para uma dada finalidade.
 Valor verdadeiro convencional é às vezes denominado valor designado, melhor
estimativa de valor, valor convencional, ou valor de referência.
16

 Frequentemente, um grande número de resultados de medições de uma grandeza


é utilizado para estabelecer um valor verdadeiro convencional.

2.1.4 Mensurando
Objeto da medição. Grandeza específica submetida à medição. (Ex: pressão de
vapor de uma dada amostra de água a 20°C)
 A especificação de um mensurando pode requerer informações de outras
grandezas como tempo, temperatura ou pressão.

2.1.5 Grandeza de influência


Grandeza que não é o mensurando, mas que afeta o resultado da medição deste.
(Ex: a freqüência na medição da amplitude de uma diferença de potencial em corrente
alternada).

2.1.6 Resultado de uma medição


Valor atribuído a um mensurando obtido por medição.
 Quando um resultado é dado, deve-se indicar, claramente, se ele se refere: à
indicação; ao resultado não-corrigido; ao resultado corrigido; e se corresponde
ao valor médio de várias medições.
 Uma expressão completa do resultado de uma medição inclui informações sobre
a incerteza de medição.

2.1.7 Indicação (de um instrumento de medição)


Valor de uma grandeza fornecido por um instrumento de medição.
 O valor lido no dispositivo mostrador pode ser denominado de indicação direta.
Ele é multiplicado pela constante do instrumento para fornecer a indicação.
 A grandeza pode ser um mensurando, um sinal de medição ou uma outra
grandeza a ser usada no cálculo do valor do mensurando.
 Para uma medida materializada, a indicação é o valor a ela atribuído.
17

2.1.8 Resultado não-corrigido


Resultado de uma medição, antes da correção, devida aos erros sistemáticos.

2.1.9 Resultado corrigido


Resultado de uma medição, após a correção, devida aos erros sistemáticos.

2.1.10 Exatidão de medição


Grau de concordância entre o resultado de uma medição e um valor verdadeiro
do mensurando.
 Exatidão é um conceito qualitativo.
 O termo precisão não deve ser utilizado como exatidão.

2.1.11 Tendência

É o erro sistemático da indicação de um instrumento de medição. Normalmente


estipulada pela média dos erros de indicação de um número apropriado de medições
repetidas menos o valor do padrão. Como exemplo, suponha que foram realizadas três
medições com valores iguais a: M1 = 1014g, M2 = 1016g e M3 = 1015g e padrão igual
a 1000g. A tendência será dada pela média das medições dada por 1015g menos o valor
padrão. Logo, teremos uma tendência de 15g.

2.1.12 Calibração

Conjunto de operações que estabelece, sob condições específicas, a relação entre


os valores estabelecidos por um instrumento de medição e os valores estabelecidos por
padrões, ou seja, levantar a tendência e a incerteza de medição do instrumento.

2.1.13 Ajuste

Operação destinada a fazer com que um instrumento de medição tenha


desempenho compatível com seu uso, ou seja, reduzir a tendência do instrumento.

2.1.14 Correção
18

Valor adicionado algebricamente ao resultado não corrigido de uma medição


para compensar um erro sistemático.
Os conceitos de calibração, ajuste e correção podem ser resumidos como se segue
abaixo:

 Calibrar = Conhecer as correções (Tendências);


 Ajustar = Eliminar a tendência do instrumento;
 Corrigir = Somar a correção ao resultado da medição;

2.1.15 Repetitividade (de resultados de medições)


Grau de concordância entre os resultados de medições sucessivas de um mesmo
mensurando efetuadas sob as mesmas condições de medição.
 Estas condições são denominadas condições de repetitividade.
 Condições de repetitividade incluem: mesmo procedimento de medição; mesmo
observador; mesmo instrumento de medição, utilizado nas mesmas condições;
mesmo local; repetição em curto período de tempo.
19

 Repetitividade pode ser expressa, quantitativamente, em função das


características de dispersão dos resultados.

2.1.16 Reprodutibilidade (dos resultados de medição)


Grau de concordância entre os resultados das medições de um mesmo
mensurando efetuadas sob condições variadas de medição.
 Para que uma expressão da reprodutibilidade seja válida, é necessário que sejam
especificadas as condições alteradas.
 As condições alteras podem incluir: princípio de medição; método de medição;
observador; instrumento de medição; padrão de referência; local; condições de
utilização; tempo.
 Reprodutibilidade pode ser expressa, quantitativamente, em função das
características de dispersão dos resultados.
 Os resultados aqui mencionados referem-se, usualmente, a resultados corrigidos.

2.1.17 Rastreabilidade
Propriedade do resultado de uma medição ou do valor de um padrão estar
relacionado a referências estabelecidas (geralmente padrões nacionais ou internacionais)
através de uma cadeia contínua de comparações, todas tendo incertezas estabelecidas.

Figura 5: Visualização do conceito de rastreabilidade.


2.1.18 Classe de exatidão

É o número declarado pelo fabricante e que diz respeito à qualidade da medição.


20

2.1.19 Faixa de indicação

É o intervalo entre o menor e o maior valor que o instrumento pode indicar.

2.1.20 Faixa de medição


Conjunto de valores apurados onde o erro do instrumento está dentro dos limites
especificados.

2.2 Erros de medição


Imagine a quantidade de café que está em uma embalagem comprada no
supermercado. Quando você pesa em uma balança, esta quantidade de café apresenta
uma diferença com relação ao padrão.
Esta medição mostra que a quantidade de café não é exatamente 1 kg. Esta
diferença a menos entre a quantidade de café e 1 kg é importante para fazermos ou não
uma reclamação. Devido a isto, normalmente as balanças são graduadas para mostrar
esta informação, como mostrado a seguir.

0,2 0,2
0,1 0 0,1

Figura 6: Diferença entre a quantidade pesada e o padrão. Graduação de uma balança.

De acordo com o ponteiro mostrado a seguir, o valor da diferença entre o padrão de um


quilograma é de 0,15 kg (segundo os nossos olhos).
21

0,2 0,2
0,1 0 0,1

Figura 7: Valor apontado pela graduação da balança.

Fazendo uma conta rápida, a quantidade de café então seria de 0,85 kg e não de 1 kg.
Alguém poderia falar que isto é um erro, o que é verdade. Entretanto, este erro não é a
definição de erro de medição.
O erro de medição é a resposta para a seguinte pergunta: o valor de 0,85 kg medido pela
balança está correto?
Por vários motivos, o valor da medida correta pode ser, por exemplo, 0,95 kg. Esta
situação nos traria dois tipos de erros:
 Erro absoluto (X): é a diferença algébrica entre o valor medido (Xm) e o valor
aceito como verdadeiro (Xv). Assim pode-se dizer que o valor verdadeiro situa-
se entre:
X m  X  X v  X m  X

Neste caso, X é o limite máximo do erro absoluto ou simplesmente erro


absoluto. Assim, diz-se que:
Se X > Xv, o erro é por excesso e;
Se X < Xv, o erro é por falta.
No exemplo acima, o erro é de 0,85 kg – 0,95 kg ou -0,1 kg.
 Erro relativo (: é definido como a relação entre o erro absoluto (X) e o valor
aceito como verdadeiro (Xv) de uma grandeza, podendo ou não ser expresso em
percentual.
X X
 ou  %    100
Xv Xv
Para efeito de cálculo do erro relativo, pode-se considerar Xv = Xm, logo:
X

Xm
No nosso exemplo, o erro relativo é de:
22

0,85  0,95
  100  10,5%
0,95

2.3 Classificação dos erros


Toda medida experimental está sujeita a erros provenientes de várias fontes, que podem
ser identificados como sendo:
 Erros grosseiros: erros que ocorrem por falhas de leitura do instrumento pelo
operador ou sistema de aquisição. São facilmente detectáveis após uma análise
cuidadosa dos dados.
 Erros constantes: erros invariáveis em amplitude e polaridade devido a
imprecisões instrumentais. Em geral podem ser facilmente corrigidos pela
comparação com um padrão conhecida da medida.
 Erros sistemáticos: erros de amplitude variável, mas de polaridade constante.
Podem ser eliminados a partir de medidas diferenciais. São ligados às
deficiências do método, do material empregado ou da avaliação da medida do
operador. Estes erros podem ser classificados como:
 Erros de construção e ajuste: são erros atribuídos, por exemplo, a falhas
na graduação da escala na indústria ou erros de ajuste entre pinos e eixos,
assim como de componentes elétricos. Estes erros tendem a crescer com
a idade do instrumento devido à oxidação; desgaste dos contatos entre
peças móveis e fixas; variação dos coeficientes de elasticidade de molas
etc. Esses erros são diferentes em diferentes pontos da escala. Eles
podem ser contornados através da construção de uma tabela de correção
de erros.
 Erros de leitura: são devidos a influência do operador e dependem das
características do sistema de leitura. São também resultados do ângulo de
observação (paralaxe) do operador. Podem ser limitados usando-se dois
ou mais operadores e/ou equipando o instrumento com um espelho junto
à escala.
 Erros inerentes ao método: ocorrem quando a medida é obtida por
métodos que necessitem de processamento indireto de grandezas
auxiliares.
23

 Erros devido às condições externas: são aqueles inerentes as condições


de medida de uma grandeza: variações de temperatura, pressão, umidade,
presença de campos elétricos etc.
 Erros periódicos: erros variáveis em amplitude e polaridade, mas que obedecem
a uma certa lei. Podem ser eliminados pela medição repetitiva, sob condições
distintas e conhecidas.
 Erros aleatórios: são todos os erros restantes, possuem amplitude e polaridade
variáveis e não seguem necessariamente uma lei sistemática. São em geral
pequenos, mas estão presentes em qualquer medida, provenientes de condições
variáveis de observação, ruídos do próprio instrumento etc.

Figura 8: Representação gráfica dos erros sistemático e aleatório.

A figura anterior irá nos auxiliar na compreensão dos conceitos expostos anteriormente.
Supondo que quatro atiradores A, B, C e D tenham atirado a uma mesma distância e o
mesmo número de vezes, sobre os alvos.
O atirador A apresentou um espalhamento muito grande em torno do centro do alvo, no
entanto os tiros estão aproximadamente eqüidistantes do centro. O espalhamento é
devido a um alto erro aleatório e a posição média das marcas dos tiros, que coincide
aproximadamente com a posição do centro do alvo, reflete a influência do erro
sistemático baixo.
O atirador B, além de apresentar um espalhamento muito grande, não conseguiu que o
“centro” dos tiros ficasse próximo do centro do alvo. Este atirador apresenta elevado
erro aleatório e sistemático.
24

O atirador C apresenta os tiros concentrados, com baixa dispersão, mas afastados do


centro do alvo. Isto indica reduzido erro aleatório e um grande erro sistemático.
Por fim, o atirador D conseguiu acertar quase todos os tiros no centro do alvo, o que
demonstra um baixo erro sistemático e aleatório.
Comparando-se os atiradores A, B e C, quem você imagina que seja o melhor dentre
eles?
Temos que C é o melhor, pois apesar de nenhum dos tiros ter acertado o alvo, o seu
espalhamento é muito menor. Se ajustarmos sua mira, conseguiremos uma condição
próxima à do atirador D. O que jamais conseguiremos com A e B.
Podemos concluir disto que o erro sistemático não é tão crítico quanto o erro aleatório,
uma vez que é possível determina-lo e, através de uma calibração, efetuar a sua
compensação.

2.4 Propagação de erros


Pode-se calcular o máximo erro sistemático de uma grandeza X que depende de várias
grandezas a,b,c,...q. Seja X o valor obtido para esta grandeza que é a função de outras
grandezas: a,b,c,....q. X = f(a,b,c,....q)
Torna-se necessário relacionar o erro X em relação a cada um dos erros das grandezas
associadas, assim:
X X X X
X  a  b  c  ....  q
a b c q

Onde as derivadas parciais podem ser positivas ou negativas a a, b, c, q são as
variáveis de cada uma das grandezas associadas.
O fato de se tomar o módulo de cada uma das derivadas parciais garante o deslocamento
de cada um dos erros parciais na mesma direção.

Erros de inserção
Suponhamos que o valor teórico de uma grandeza seja Xs. O valor teórico dessa
grandeza, com a presença do instrumento, que apresenta uma resistência interna Ri (na
freqüência considerada), é denominado Xc. O erro de inserção do instrumento é:
Xs  Xc
ins   100
Xs
25

2.5 Distribuição de Probabilidades


Existem funções cujo comportamento é perfeitamente previsível. Estas funções
são denominadas determinísticas. A função f(x) = 2x-4 é uma função determinística
uma vez que seu valor está perfeitamente caracterizado quando x é definido. O mundo
real não é composto apenas por funções determinísticas. Certas propriedades, como por
exemplo a resistência mecânica de um material, a vida de uma lâmpada, a soma de dois
dados não viciados jogados ao acaso, variam de amostra para amostra. Um valor médio
é obtido, porém é impossível prever exatamente qual o valor será encontrado na própria
amostra a ser testada.
Funções que apresentam imprevisibilidade são denominadas de aleatórias. Como são
imprevisíveis, não podem ser equacionadas através dos recursos usuais da matemática
determinística. Ferramentas estatísticas são necessárias para tal. Neste curso,
abordaremos a distribuição de probabilidade, considerando que todos os valores dentro
dos limites estabelecidos (-a e +a) podem ocorrer. Para tal usaremos como base o
seguinte:

Caso1 : Valor de 1 dado não viciado;


Caso2 : A soma dos valores de 2 dados não viciados;
Caso3 : A soma dos valores de 3 dados não viciados;

Analisaremos abaixo a probabilidade em cada um desses casos citados

Caso 1 = Um dado não Viciado


Se lançarmos um dado não viciado, as chances de que o valor do dado jogado ao
acaso resulte em 1 são as mesmas do que resultem em 2, 3, 4, 5 e 6. Em outras palavras,
a probabilidade é igual para todos os possíveis resultados.

A probabilidade é dada por:


26

Total.de.eventos. favoráveis
P=
Total.de.eventos. possíveis

No exemplo apresentado, com 1 dado temos que a probabilidade de que o número 1 seja
obtido como resultado é de 1/6. O mesmo acontece para os demais números.

Caso 2 = Dois dados não Viciados


A soma de dois dados não viciados pode resultar em qualquer número entre 2 e
12. Embora exista apenas uma combinação que resulte em 2 (1 + 1), nota-se que
existem seis diferentes combinações de dados cuja soma resulta em 7 (1+6, 2+5, 3+4,
4+3, 5+2, 6+1). Conseqüentemente, as chances da soma resultar em 7 são maiores do
que 2. No total são 36 combinações possíveis.

Caso 3 = Três dados não Viciados


A soma de dois dados não viciados pode resultar em qualquer número entre 3 e
18. Embora exista apenas uma combinação que resulte em 3 (1+1+1), nota-se que
existem 27 diferentes combinações de dados cuja soma resulta em 10.
Conseqüentemente, as chances da soma resultar em 10 são maiores do que 3. No total
são 216 combinações possíveis.
27

2.5.1 Tipos de Distribuição de Probabilidades

2.5.1.1 Distribuição Retangular

Quando não há conhecimento específico sobre a distribuição, assume-se a


distribuição retangular como segurança. A incerteza padrão considerando a distribuição
retangular será:
a
u ( xi ) 
3
É caracterizada por apresentar a mesma densidade de probabilidade para todos
os valores dentro dos limites dados por “µ-a” e “µ+a”, e zero fora destes.
28

2.5.1.2 Distribuição Triangular

a
u ( xi ) 
6

2.5.1.3 Distribuição Normal ou Gaussiana

s
u ( xi ) 
n

Onde “µ” é a incerteza padrão que corresponde a um desvio padrão, “s” é o desvio
padrão da amostra e “n” o número de medições.
29

2.6 Conceitos Básicos de Estatística

Considerando uma variável aleatória da qual n observações independentes xi,


foram obtidas sob as mesmas condições de medição, podemos dizer que o valor
esperado é a média aritmética, conforme segue:

1 n
x   xi
n i 1

A variância experimental
s 2 ( xi ) informa uma estimativa de quanto as

observações individuais diferem em valor por causa das variações aleatórias intrínsecas
do processo de medição.

 x i  x
2

s 2 ( xi ) 
i 1

n 1

Esta estimativa da variância


s 2 ( xi ) e sua raiz quadrada positiva sxi  ,

denominada desvio padrão experimental, caracterizam a variabilidade dos valores de xi


observados, ou mais especificamente, sua dispersão em torno da média x. Assim, para

uma grandeza de entrada xi determinada por n observações repetidas independentes,


podemos dizer que a incerteza padrão da média é o desvio padrão experimental da
média.

s  xi 
u  xi   s  xi  
n

2.7 Cálculo de incerteza de medições


A incerteza do resultado de uma medição reflete a falta de conhecimento exato
do mensurando. O resultado de uma medição após a correção dos efeitos sistemáticos
30

reconhecidos, é ainda, tão somente uma estimativa do valor do mensurando por causa
da incerteza proveniente dos efeitos aleatórios e da correção imperfeita do resultado no
que diz respeito aos efeitos sistemáticos.

Na prática, existem muitas fontes possíveis de incerteza em uma medição, incluindo:


a) definição incompleta do mensurando;
b) realização imperfeita da definição do mensurando;
c) amostragem não representativa - a amostra medida pode não representar o
mensurando;
d) conhecimento inadequado dos efeitos das condições ambientais sobre a medição ou
medição imperfeita das condições ambientais;
e) erro de tendência pessoal na leitura de instrumentos analógicos;
f) resolução finita do instrumento ou limiar de mobilidade;
g) valores inexatos dos padrões de medição e materiais de referência;
h) valores inexatos de constantes e de outros parâmetros obtidos de fontes externas e
usados no algoritmo de redução de dados;
i) aproximação e suposições incorporadas ao método e procedimento de medição;
j) variações nas observações repetidas do mensurando sob condições aparentemente
idênticas.
Estas fontes não são necessariamente independentes, e algumas das fontes de a) até i)
podem contribuir para a fonte j). Naturalmente, um efeito sistemático não reconhecido
não pode ser levado em consideração na avaliação da incerteza do resultado de medição,
porém contribui para seu erro.

2.7.1 Avaliação da incerteza padronizada


A incerteza padronizada ou padrão de uma fonte de erro é a faixa de dispersão
em torno do valor central equivalente a um desvio padrão. A avaliação da incerteza
padronizada pode ser classificada em Tipo A e Tipo B. O propósito de classificação
Tipo A e Tipo B é de indicar as duas maneiras diferentes de avaliar as componentes da
incerteza e serve apenas para discussão, a classificação não se propõe a indicar que haja
qualquer diferença na natureza dos componentes resultando dois tipos de avaliação.

2.7.1.1 Avaliação da Incerteza Tipo A


31

Consiste na análise estatística de uma série de observações. Esse tipo de avaliação


apresenta incerteza da medição com probabilidade de 68,27%. A incerteza padrão do
tipo A apresenta distribuição de probabilidade normal.

2.7.1.2 Avaliação da Incerteza Tipo B

Método de avaliação da incerteza por outros meios que não a análise estatística de
uma série de observações.
Listamos abaixo alguns exemplos de avaliações Tipo B:

 Resolução;
 Livros e Manuais Técnicos;
 Dados técnicos de fabricantes;
 Especificação dos instrumentos e padrões;
 Certificados de Calibração;
 Estimativas baseadas na experiência;

Ambos os tipos de avaliação são baseados em distribuições de probabilidade e os


componentes de incerteza resultantes de cada tipo são quantificados por variâncias ou
desvios padrão.
A incerteza padronizada u (xi) é avaliada por julgamento científico baseando-se
em todas as informações disponíveis sobre a possível variabilidade de xi. O conjunto de
informações pode incluir:
- dados de medições prévias;
- a experiência ou o conhecimento geral do comportamento e propriedades de materiais
e instrumentos;
- especificações do fabricante;
- dados fornecidos em certificados de calibração e outros certificados e;
- incertezas relacionadas a dados de referência extraídos de manuais.
Devem ser coletadas informações que permitam estimar a incerteza associada a
cada fonte de erro. Recomenda-se apresentar o valor associado aos limites de variação
da fonte de incertezas em sua unidade natural e identificar o tipo de distribuição de
probabilidade envolvida (normal, retangular, triangular ou outra).
32

Em função do tipo de distribuição será definido o divisor utilizado para


converter o valor conhecido na incerteza padronizada. Para distribuições normais este
valor geralmente é unitário no caso da avaliação de incerteza tipo “A”, ou coincide com
o fator de abrangência utilizado na fonte de informação quando a avaliação tipo “B” é
considerada.
Os divisores para algumas distribuições de probabilidade são:
- Retangular = 3
- Triangular = 6
-U=2

2.7.2 Incerteza padronizada combinada


A incerteza padronizada combinada de um resultado de medição é a incerteza
padronizada quando este resultado é obtido por meio dos valores de várias outras
grandezas, sendo igual à raiz quadrada positiva de uma soma de termos, sendo estes as
variâncias ou covariâncias destas outras grandezas, ponderadas de acordo com quanto o
resultado da medição varia com mudanças nestas grandezas. A incerteza combinada é
dada por:

u c  u12  u 22  u32  ...  u n21  u n2

2.7.2.1 Grandezas estatisticamente independentes


Este item trata do caso onde todas as grandezas de entrada são independentes
(grandezas de entrada não correlacionadas). A incerteza padronizada de y, onde y é a
estimativa do mensurando Y e desta maneira o resultado da medição é obtido pela
combinação apropriada de incertezas padrão das estimativas de entrada x1, x2, ..., xn.
Esta incerteza padronizada combinada da estimativa y é representada por uc(y).
A incerteza padronizada combinada uc(y), é a raiz quadrada positiva da variância
combinada u c2 ( y ) , que é dada por:
2
n
 f 
u ( y )     u 2 ( x j ) (1)
2

i 1  xi 
c

Onde f é a função dada na equação:


y  f ( x1 , x2 ,..., xn )
33

Cada u(x) é uma incerteza padronizada avaliada (avaliação Tipo A ou avaliação


Tipo B). A incerteza padronizada combinada uc(y) é um desvio padrão estimado e
caracteriza a dispersão dos valores que poderiam razoavelmente ser atribuídos ao
mensurando Y. A equação (1) e sua correspondente para grandezas de entrada
correlacionadas, equação (2), ambas as quais são baseadas numa aproximação da série
de Taylor de primeira ordem de Y = f (X1, X2, ..., XN), expressam o que é denominado
no Guia de Expressão de Incerteza de Medição como a lei de propagação da incerteza.

As derivadas parciais f são iguais a f avaliadas para Xi = xi. Os


xi X i
valores assumidos por estas derivadas, freqüentemente denominadas coeficientes de
sensibilidade, descrevem como estimativa de saída y varia com alterações nos valores
das estimativas de entrada x1, x2, ..., xN .

2.7.2.2 Grandezas estatisticamente dependentes


A equação (1) é válida somente se as grandezas se entrada Xi são independentes
ou não-correlacionadas. Se alguns dos Xi são significativamente correlacionados, as
correlações devem ser levadas em consideração. Quando as grandezas de entrada são
correlacionadas, a expressão apropriada para a variância combinada u c2 ( y ) associada
com o resultado de uma medição é:
n n
f f
u c2 ( y )   u ( xi , x j ) 
i 1 j 1 xi x j
2 (2)
n
 f  2 n n
f f
  
i 1  xi 
u ( x i )  2  
i 1 j i 1xi x j
u ( xi , x j )

Onde xi e xj são as estimativas de Xi e Xj e u(xi ,xj) = u (xj ,xi) é a covariância estimada


associada com xi e xj. O grau de correlação é caracterizado pelo coeficiente de
correlação estimado:
u ( xi , x j )
r ( xi , x j )  (3)
u ( xi )u ( x j )

Onde r(xi, xj) = r (xj, xi) e -1  r (xi, xj)  + 1. Se as estimativas xi, xj são
independentes, r(xi, xj) = 0 e a variação numa delas não implica em uma variação
esperada na outra. Em termos de coeficientes de correlação, que são mais prontamente
interpretados do que covariâncias, a equação pode ser escrita como:
34

n
 f  n n
f f
u c2 ( y )    u 2 ( xi )  2  u ( xi )u ( x j )r ( xi , x j ) (4)
i 1  x  i 1 j i 1xi x j

 
Considere duas médias aritméticas q e r que estimam as expectativas q e r
 
de duas grandezas q e r variando aleatoriamente e calcule q e r a partir de n pares
independentes de observações simultâneas de q e r, feitas sob as mesmas condições de
 
medição. Então a covariância de q e r é estimada por:
  1 n  
s ( q, r )  
n(n  1) k 1
(q k  q)(rk  r ) (5)

 
Onde qk e rk são as observações individuais das grandezas q e r, e q e r são calculados
a partir das observações. Se, de fato, as observações não são correlacionadas, espera-se
que a covariância calculada fique próxima de 0.
Assim, a covariância estimada de duas grandezas de entrada correlacionadas Xi e
 
Xj que são estimadas pelas médias X i e X j determinadas por pares independentes de
   
observações simultâneas repetidas é dada por u(xi,xj) = s( X i , X j ) com s( X i , X j )
calculado de acordo com a equação (5).
Esta aplicação da equação (5) é uma avaliação Tipo A da covariância. O
 
coeficiente de correlação estimado de X i e X j é obtido da equação (3):
 
 
r ( X i , X j )  r ( X i , X j )  s( X i , X j )  
s( X i ) s( X j )

2.7.2.3 Grandezas com dependência estatística parcial


Há casos mais complexos onde as interações entre grandezas de entrada que
compõem uma medição direta não podem ser realisticamente modeladas como sendo
completamente estatisticamente dependentes e nem independentes. Pode haver
dependência estatística parcial. A forma de quantificar a dependência estatística linear
parcial é através do coeficiente de correlação linear entre cada par de grandezas de
entrada envolvidas. Haverá dependência parcial se o coeficiente de correlação for um
número não inteiro.

2.7.2.3.1 Combinação de grandezas estatisticamente dependentes e independentes


35

Será abordado o caso onde apenas combinações de grandezas de entrada


estatisticamente dependentes e independentes são envolvidas. Sejam por exemplo as
grandezas a, b e c onde se sabe, a priori, que:
- a e b são estatisticamente dependentes (r(a, b) = 1);
- a e c e b e c são estatisticamente independentes entre si (r(a,c) = 0 e r(b,c) = 0).
A incerteza padronizada combinada da grandeza G dada por: G = f(a, b, c) pode ser
estimada por:

 f f   f
2 2

u (G )   u (a )  u (b)    u (c) 
2

 a b   c 

2.7.2.3.2 Caso geral


A expressão usada para estimar a incerteza padrão combinada de uma grandeza
G = f(x1, x2, x3,..., xn) considerando que pode haver dependência estatística parcial entre
cada par das grandezas de entrada x1, x2, x3, ..., xn , é dada por:

 f  f f
n 2 n n
u (G)     u 2 ( xi )  2 
2
u ( xi )u ( x j )r ( xi , x j )
i 1  x  i 1 j i 1xi x j

2.7.3 Incerteza expandida


Embora a incerteza padronizada combinada uc(y) possa ser universalmente usada
para expressar a incerteza de um resultado de medição, em algumas aplicações
comerciais, industriais e regulamentadoras, e quando a saúde e a segurança estão em
questão, é, muitas vezes, necessário dar uma medida de incerteza que define um
intervalo em torno do resultado da medição com o qual se espera abranger uma extensa
fração da distribuição de valores que poderiam ser razoavelmente atribuídos ao
mensurando.
A medida adicional de incerteza que satisfaz o requisito de fornecer um intervalo
do tipo indicado anteriormente denominada incerteza expandida e é representada por U.
A incerteza expandida U é obtida multiplicando-se a incerteza padronizada combinada
uc por um fator de abrangência k:
U  k  uc ( y)
O resultado de uma medição é, então, convenientemente expresso como Y = y ±
U, que é interpretado de forma a significar que a melhor estimativa do valor atribuível
ao mensurando Y é y, e que y - U a y + U é o intervalo com o qual se espera abranger
36

uma extensa fração da distribuição de valores que podem ser razoavelmente atribuídos a
Y. Tal intervalo é também expresso como:
y U  Y  y U
U é interpretado como definindo um intervalo em torno do resultado de medição
que abrange uma extensa fração P da distribuição de probabilidade, caracterizada por
aquele resultado e sua incerteza padronizada combinada, e P é a probabilidade de
abrangência ou nível da confiança do intervalo.
Sempre que praticável, o nível de confiança P, associado com intervalo definido
por U deve ser estimado e declarado. Deve ser reconhecido que multiplicando u c(y) por
uma constante, não acrescenta informação nova, porém se apresenta a informação
previamente disponível de forma diferente. Entretanto, também deve ser reconhecido
que, na maioria dos casos, o nível de confiança P (especialmente para valores de P
próximos de 1) é um tanto incerto, não somente por causa do conhecimento limitado da
distribuição de probabilidade caracterizada, por y e uc(y) (especialmente nas
extremidades), mas também por causa da incerteza da própria uc(y).

2.7.3.1 Fator de abrangência


O valor do fator de abrangência k deve levar em conta, além do nível de
confiança desejado, o número de graus de liberdade efetivos associados ao caso para o
intervalo y - U a y + U. O valor de k geralmente está entre 2 e 3, mas pode assumir
diversos outros valores.
É comum calcular o número de graus de liberdade efetivos (ef) através da
equação de Welch-Satterthwaite:
u c4
 ef  n
u i4

i 1 i

Onde:
- uc: incerteza combinada;
- ui: incerteza padronizada associada a i-ésima fonte de incerteza;
- i: número de graus de liberdade associado a i-ésima fonte de incerteza;
- N: número total de fontes de incertezas analisadas.
37

O valor de k pode ser retirado de uma tabela da distribuição de t-Student, por exemplo.

2.7.4 Procedimento de avaliação da incerteza de medição


1. Determinar o modelo matemático que relaciona a grandeza de entrada com a saída;
y = f (x1, x2, ... , xn )
2. Identificar todas as correções a serem feitas ao resultado de medição;
3. Listar componentes sistemáticos da incerteza associada a correções e tratar efeitos
sistemáticos não corrigidos com parcelas de incerteza;
4. Atribuir valores de incertezas e distribuição de probabilidades com base em
conhecimentos experimentais práticos ou teóricos;
5. Calcular a Incerteza Padronizada (ui) para cada componente de incerteza;
6. Calcular a Incerteza Combinada (uc) ou uc(y);
7. Calcular a Incerteza Expandida (U).

2.7.5 Coeficiente de Sensibilidade (Ci)


É a relação entre a grandeza do mensurando e a grandeza da fonte de incerteza.
O Ci é calculado pela derivada parcial da função (modelo matemático) em relação a
variável para qual se deseja o Ci, ou seja:

f
Ci 
xi

Obs: Quando a estimativa de entrada Xi estiver na mesma unidade de medida da


estimativa de saída Yi, considerar Ci igual a 1.

3. Operações com algarismos significativos


Os algarismos significativos de um número são os dígitos diferentes de zero,
contados a partir da esquerda até o último dígito diferente de zero à direita, caso não
haja vírgula decimal, ou até o último dígito (zero ou não) caso haja uma vírgula
decimal.
Aqui aprenderemos a realizar operações com estes números.
38

3.1 Aproximação
Neste caso, se o último número for menor ou igual a quatro, simplesmente descartamos
este número.
Exemplo:
13,403  13,40
Se o último número for maior ou igual a seis e menor ou igual a nove, descartamos o
último número e aumentamos em uma unidade o número anterior.
Exemplo:
13,406  13,41
Se o último número for cinco, temos de observar se:
- O número anterior for par: apenas descartamos o cinco.
13,425  13,42
- O número anterior for ímpar: descartamos o cinco e aumentamos o número anterior
em uma unidade.
13,415  13,42

3.2 Adição ou subtração


Usamos o número de casas decimais da menor parcela.
Exemplo:
85,45m  5,6m  98,523m  189,573m  189,6m

3.3 Multiplicação e divisão


O resultado deve ter o mesmo número de algarismos significativos da parcela que
possuir o menor número de algarismos significativos.
89m 2
 16,2735417809 5m  16m
5,469m
3.4 Raiz quadrada
O resultado terá entre n e (n-1) algarismos significativos.
25,5  5,0

25,5  5,05
39

4 Exercícios Resolvidos

4.1 Uma balança foi utilizada para medir o peso de um Peso Padrão Calibrado em
1000g. As indicações da balança foram:

X 1  1014 g
X 2  1016 g
X 3  1015 g

Determine a incerteza padrão, em gramas, da balança utilizando a distribuição normal.

Solução:

O desvio padrão experimental é dado por:

 x i  x
2

s  xi   i 1

n 1

A incerteza padrão com distribuição normal é dada por:

s
u
n
Dessa forma, temos que:

Xi Indicação da balança Erro de indicação


Peso Padrão [g]
[g] [g]
X1 = 1014g 1000 14
X2 = 1016g 1000 16
X3 = 1015g 1000 15
X = 1015g -1000 Tendência = 15g

Substituindo os valores de X1, X2, X3 e X na expressão do desvio padrão


experimental, encontramos: s = 1

A Incerteza Padrão com distribuição normal é dada por:


40

s 1
u   0,577g
n 3

4.2 Consultado um livro de física, encontramos uma tabela que informa os coeficientes
de expansão térmica linear (α) de diversos tipos de metais e ligas. A tabela informa que
o coeficiente de expansão térmica linear do alumínio (α Al ) pode assumir qualquer valor
no intervalo de23 a 27 µm/m ⁰ C. Determine o valor esperado para o α Al e a incerteza
padrão associada ao valor esperado.

Solução:

Como não sabemos a distribuição da incerteza, usaremos a distribuição retangular.

23  27
x  25m / mC
2
a = 27 – 25 = 2

a 2
u   1,15m / mC
3 3

4.3 O fabricante informa que a temperatura ambiente altera a indicação da balança na


proporção de 0,2 g/ºC. Este é o coeficiente de sensibilidade (ci).

a) Considerando que a temperatura ambiente durante a medição foi de (32 ± 3) ºC,


calcule o valor da incerteza padrão em graus Celsius.

b) Em seguida, determine quanto será a incerteza padrão em gramas.

Solução:

a 3
a) u  
 1,73C
3 3
b) u  u(C ).Ci  1,73.(0,2)  0,346g

4.4 Determinar o resultado da medição (com sua respectiva incerteza) da seguinte


balança:

X1 = 1014 g
X2 = 1016 g
X3 = 1015 g

Certificado de calibração (Td = 15 g, U = 0,1, k = 2)


41

Resolução = 1 g
Coeficiente de temperatura da balança = 0,2 g/ºC
Temperatura durante o ensaio = 22 ± 3 ºC
Usar fator de abrangência k = 2 (95%)

Solução:
n

 x i  x
2

Desvio padrão experimental: s  xi  


i 1

n 1

Como x1 = 1014g , x2 = 1016g , x3 = 1015g , x 1015g e n=3 , temos que: s = 1

s 1
Desvio padrão da média: u    0,577g
n 3

Cálculo da Incerteza pelo Certificado de Calibração:

Como nos certificados de calibração é informado a incerteza expandida, precisamos


transformá-la em incerteza padrão, dividindo a incerteza expandida pelo fator de
abrangência k.

U 0,1
u   0,05 g
k 2

Resolução de 1 dígito = 1 g

a 0,5
u   0,289g
3 3

Variação com a temperatura:

a
ui  Sendo a = 0,2 . 3 = 0,6g
3

0,6
ui   0,346g
3

Incerteza Padrão Combinada:

u c  0,577 2  0,05 2  0,289 2  0,346 2  0,7339 g

Incerteza Expandida:

U  k.uc  1,4678g
42

Resultado Final: 1000 ± 1,5g (95%)

4.5 Calcule o coeficiente de sensibilidade ci para a medição do comprimento de uma


peça de aço, sabendo que o comprimento medido foi de 50 mm (0,05 m) onde a
temperatura ambiente foi de (20 ± 3) ºC e o coeficiente de expansão térmica linear do
aço é (11 ± 1) µm/m ºC.

Solução:

Modelo matemático: L final  Linicial  L. aço .T

f
C T  C T  L. aço → C T  0,05.11  0,55m / C
T

f
C  C  L.T → C  0,05.3  0,15mC


5. Exercícios Propostos

1) Calcule as operações indicadas e expresse os resultados segundo as regras de


arredondamento e de algarismos significativos:

2) Para comparar a precisão de dois micrômetros, um técnico estuda medidas tomadas


com ambos os aparelhos. Com um aparelho mediu repetidamente o diâmetro de uma
pequena esfera de rolamento; as medidas acusam média de 5,32 mm e desvio-padrão
0,019 mm. Com outro, mediu o comprimento natural de uma mola, e as medidas
acusaram uma média de 6,4 cm e desvio-padrão de 0,03 cm. Qual dos dois aparelhos é
relativamente mais preciso?
43

3 – Julgue os itens abaixo em certo ou errado e justifique sua resposta.

(a) O valor verdadeiro convencional de uma grandeza é estabelecido, frequentemente,


através de um grande número de resultados de medições.

(b) A Repetitividade de resultados de medições podem ser realizadas com instrumentos


de medição distintos desde que apresentem a mesma constante de medição.

(c) A Reprodutibilidade é o grau de concordância entre os resultados de medições de


mensurandos distintos sob condições variadas de medição.

(d) O número de graus de liberdade está associado diretamente a confiabilidade do


resultado da medição.

(e) O fator de abrangência relaciona a incerteza expandida com a incerteza padronizada


combinada.

(f) O erro sistemático é mais severo que o erro aleatório.

(g) O resultado de uma medição deve conter informações sobre a incerteza da medição.

(h) Os métodos de avaliação da incerteza padronizada são baseados em distribuições de


probabilidade.

4 – Descreva o procedimento para a avaliação da Incerteza de uma medição.


44

5 – Ao comprar maçãs em uma feira, uma pessoa pagou R$ 5,00 reais por 0,65 kg da
fruta. Para confirmar o peso pago, verificou a medida na balança da sua casa e
encontrou 0,55 kg. Sabendo que a balança da sua casa é exata, essa pessoa pensou em
duas possibilidades para a diferença de 0,10 kg encontrada:

1º possibilidade: Inexatidão do Instrumento do vendedor.


2º possibilidade: Falha de leitura do instrumento do vendedor.

Essas possibilidades referem-se, respectivamente, aos erros:

( a ) Grosseiro e periódico
( b ) Constante e sistemático
( c ) Aleatório e sistemático
( d ) Constante e grosseiro
( e ) Sistemático e periódico

6 - Considere que um perito utiliza um instrumento de medida de tensão calibrado para


250,0 V e cuja classe de exatidão é 1. Em relação a esse instrumento de medida, julgue
em verdadeiro ou falso o item que se segue.
A classe de exatidão 1 do instrumento indica que, para cada 1 volt de diferença nas
medidas efetuadas em relação ao valor 250,0 V, a precisão do instrumento é reduzida
em 50%.

7 - Considerando que, na calibração de um voltímetro analógico, em que se utilizou


uma bateria-padrão de 12,0 V, o instrumento calibrado tenha indicado 12,6 V, julgue o
item abaixo.

Se o instrumento tiver sido utilizado em uma escala de 50,0 V, então o erro de medição
relativo à escala foi superior a 2 %.

8) Uma analogia interessante para compreender erros estatísticos e erros sistemáticos é


possível se considerarmos um instrumento lançando projéteis a um alvo. A máquina é
45

ajustada para atingir o centro “verdadeiro” do alvo da mesma forma como tentamos
assegurar que o experimento fornecerá o valor “verdadeiro” do que se pretende medir.
A imagem mostra o alvo e o seu centro e onde os projéteis atingiram quando quatro
instrumentos distintos foram usados com o mesmo objetivo: atingir o centro. Use esta
imagem para discutir os erros estatísticos, erros sistemáticos, dispersão, exatidão e
precisão.

9) Com base nas medidas de tensões tomadas por um multímetro, e no certificado de


calibração apresentado abaixo, exprima o resultado final da medição.
46

MEDIÇÕES

1 100,0015 mV
2 100,0003 mV
3 100,0022 mV
4 100,0000 mV
5 100,0000 mV
6 100,0012 mV
7 100,0020 mV
8 100,0009 mV
9 100,0017 mV
10 100,0019 mV

MÉDIA mV

desvio padrão
da amostra mV

desvio padrão
da média mV

CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO DO MULTÍMETRO XXX

Valor de Referência Valor Medido Desvio Incerteza Fator de Nível de tipo


(mV) (mV) (%) (%) Abrangência k confiança
100,0000 99,998 -0,002% 0,001% 2 95,45% normal

tendência -0,0020 mV incerteza


correção 0,0020 mV padrão 0,001 mV

Estabilidade
tipo
0,0025 mV retangular

tensões termoelétricas tipo


0,001 mV retangular

resultado não corrigido mV


correção mV
resultado corrigido mV

PLANILHA DE INCERTEZAS

FONTE TIPO VALOR DIVISOR u


ESTATÍSTICA A mV mV
CERT. CALIBRAÇÃO B mV mV
ESTABILIDADE B mV mV
TENSÕES TERMOELÉTRICAS B mV mV

INCERTEZA COMBINADA mV
INCERTEZA EXPANDIDA mV coeficiente k 2

EXPRESSÃO FINAL ± mV
47

6. Referências bibliográficas

[1] MENDES, Alexandre & ROSÁRIO Pedro P.


Metrologia e Incerteza de Medição, volume único. Editora EPSE São Paulo - SP, 2005.

[2] INMETRO
Consulta ao material no site:
www.inmetro.gov.br
Publicações:
Sistema Internacional de Unidades – SI, 8ª edição (revisada) Rio de Janeiro – RJ, 2007
Vocabulário de Metrologia Legal, 3ª edição Rio de Janeiro – RJ, 2003
Vocabulário internacional de termos fundamentais e gerais de metrologia, 2ª edição
Brasília – DF, 2000.

[3] BARCA, Luis F.


Consulta ao material no site:
http://www.barca.unifei.edu.br/
48

Parte 2

1. Introdução à medição de faturamento


A medição de faturamento de energia elétrica numa empresa concessionária de
distribuição é uma atividade que envolve uma diversidade grande de tarefas vinculadas
às áreas técnicas e comerciais dessas companhias. O faturamento da empresa é
diretamente dependente de uma atuação e gestão adequada em todas as fases que
envolvem a medição de faturamento, como, por exemplo, especificação, aquisição,
controle, testes e manutenção dos equipamentos de medição, verificação e inspeção das
instalações da medição, leitura e processamento no sistema de faturamento, atendimento
ao consumidor e aos requisitos legais e regulatórios, controle metrológico, redução de
perdas técnicas e comerciais de energia, etc.
Neste contexto, é necessário que as empresas disponham de recursos humanos
com conhecimento técnico e com procedimentos e processos de trabalho que consigam
atingir os resultados esperados: manter os sistemas de medição de faturamento com
nível de exatidão elevado, preservando a receita da empresa da empresa de eventuais
perdas e garantindo a qualidade de atendimento ao consumidor.
Unidades consumidoras que possuam consumos de energia elevados necessitam,
portanto, de uma atenção especial no que se refere à medição de faturamento, uma vez
que irregularidades em poucas unidades representam grandes quantidades de energia
que podem não estar sendo corretamente medidas e/ou faturadas. Nesta seção
apresentaremos, de forma geral, aspectos teóricos e alguns casos práticos relativos à
medição de faturamento associada à prestação do serviço público de distribuição de
energia elétrica, ressaltando em particular as unidades consumidoras que possuam, além
dos medidores de energia / demanda ativa e reativa, sejam eletromecânicos ou
eletrônicos, Transformadores de Instrumentos (Transformadores de Corrente ou
Transformadores de Potencial Indutivos), mais comumente identificada como Medição
Indireta, que por suas peculiaridades e especificidades possuem uma maior
complexidade na sua especificação, instalação, manutenção, leitura e inspeção.
49

2. Potência Instantânea e Potência Ativa

2.1 Potência Instantânea

A Potência instantânea entre dois sistemas elétricos é dada por:


p(t) = v(t). i(t)

3. Diagrama fasorial
Fasor é o nome utilizado amplamente nas áreas de engenharia elétrica e
eletrônica, de modo facilitar a análise e cálculos das grandezas elétricas com forma de
onda senoidais, podendo ser definido como um vetor girante. Em um diagrama fasorial
setas substituem as formas de onda, como apresentado na Figura 1, considerando-se que
elas estão girando para completar um ciclo, ou 360 graus, da mesma forma que as
grandezas que estão representando.

t t

360
o

Figura 1: Representação fasorial – ondas senoidais.

Para circuitos elétricos, a tensão V e a corrente I são dadas por:

V(t)= V . sen(wt)

I(t)= I .sen(wt-90)

O comprimento das setas representa o módulo da grandeza (valor eficaz) que se


deseja representar e a sua projeção no eixo vertical indica o respectivo valor instantâneo
dessa mesma grandeza, à medida que o fasor está girando. Os valores dessas projeções
variam na mesma medida que a forma de onda senoidal assume valores distintos ao
longo do tempo. Podemos dizer, então, que o diagrama fasorial é basicamente uma
50

“fotografia” das grandezas senoidais em um determinado instante de tempo. O ângulo


de um fasor indica sua posição em relação a outro fasor considerando-se como
referência a linha horizontal à direita da origem. Deste modo uma notação fasorial da
forma I significa que uma corrente de módulo I está  graus adiantada em relação à
linha de referência.
A seguir representamos à análise no tempo e fasorial de três ondas senoidais (por
exemplo, ondas de tensão).

Figura 2: Análise no tempo x análise fasorial.

Dependendo da defasagem entre as ondas de tensão, temos a chamada


“seqüência de fases”, ilustrada abaixo:

Figura 3: Seqüências de fases ABC e CBA.

A utilização de diagramas fasoriais requer que sejam seguidas as seguintes regras ou


convenções principais:
51

 Um fasor pode ser deslocado para qualquer parte do diagrama, desde que sua
amplitude e sentido sejam mantidos.
 A direção de rotação de todos os fasores em um diagrama deve ser a mesma.
 Fasores só podem representar ondas senoidais.
 A notação de duplo subscrito é usada para designar entre quais dois pontos está
a direção do fasor. Por exemplo, a tensão Vab indica a diferença de potencial
Va  Vb , da seguinte forma:

Figura 4: Representação fasorial da diferença de potencial entre Va e Vb.

Os diagramas fasoriais são extremamente úteis na análise de sistemas de


medição para faturamento, uma vez que podemos avaliar com base nos fasores de
tensão e corrente aplicados aos medidores o real desempenho e comportamento da
instalação da medição. A representação de quantidades elétricas por ondas senoidais
seria mais difícil e exigiria mais tempo de análise, o que é facilitado pela representação
de tensões e correntes senoidais em diagramas de coordenadas retangulares. Um
diagrama fasorial possui em geral dois ou mais fasores desenhados em escala,
mostrando a amplitude e o ângulo de fase entre estas grandezas.
Na representação fasorial, para análise do comportamento da medição,
considera-se que a posição dos fasores de tensão é constante, e os fasores de corrente
variam de posição em função da carga que está sendo medida pelo sistema de medição.
Na presença de cargas e circuitos onde há maioria de cargas indutivas, a corrente
está atrasada em relação à tensão, enquanto que em circuitos capacitivos, a corrente está
adiantada em relação à tensão. Em cargas puramente resistivas, como lâmpadas
incandescentes, aquecedores, fornos à resistência, etc, corrente e tensão estão em fase.
52

Os diagramas fasoriais destes tipos de cargas estão ilustrados a seguir:

Figura 5: Diagrama fasorial das diferentes cargas de um circuito.

Nos diagramas fasoriais referentes aos tipos de cargas ilustrados acima, temos,
na representação da carga capacitiva + resistiva, que a tensão V está atrasado em relação
corrente I. Já no diagrama fasorial referente a carga do tipo Indutiva + resistiva, temos
que a tensão V está adiantada em relação a corrente I. Na carga puramente resistiva, a
tensão V e a corrente I encontram-se em fase.
Quando as grandezas tensão e corrente são aplicadas em um medidor de energia
elétrica é importante verificar quais fasores estão sendo efetivamente combinados de
modo a proporcionar o registro correto da grandeza que se quer medir, seja energia
ativa, reativa indutiva ou energia reativa capacitiva.

4. Conceitos de potência ativa e reativa

4.1 Conceito de potência ativa


A Potência ativa é dada por:

T T
1 1
P   p(t )dt   v(t ).(t )dt
T0 T0

A Potência ativa é o valor médio da potência instantânea e corresponde a parcela da


potência que é convertida em trabalho (potência útil)

4.1.1 Valor Médio e Valor RMS


53

T
1
Valor Médio: Vm   f (t )dt
T0

T
1
Valor RMS: Vrms  
T 0
f 2 (t )dt

4.1.2 Conceito de Potência Ativa por meio de Fasores:

Podemos obter a potência ativa para os três tipos de cargas citadas no tópico
anterior, fazendo o uso de diagramas fasoriais.
P  V .I . cos( )

4.1.2.1 Potência ativa para cargas resistivas


Nas cargas resistivas, tensão e corrente estão em fase. Potência é definida como
o produto entre tensão, corrente e o co-seno do ângulo entre estas grandezas. Assim:

Figura 6: Potência ativa em cargas puramente resistivas.

4.1.2.2 Potência ativa para cargas indutivas e resistivas


Neste tipo de carga, a corrente está atrasada com relação à tensão. Calculando a
potência da mesma forma que para uma carga resistiva, temos:
54

Figura 7: Potência ativa em cargas indutivas e resistivas.

4.1.2.3 Potência ativa para cargas capacitivas e resistivas


Aqui, a corrente está adiantada com relação à tensão. Então temos:

Figura 8: Potência ativa em cargas capacitivas e resistivas.

4.2 Conceito de Potência Reativa:


Potência Oscilante trocada entre fonte e carga. É requerida por elementos
armazenadores de energia: Indutores e Capacitores.

4.2.1 Conceito de potência reativa por meio de Fasores:


Assim como fizemos para a potência ativa, podemos obter a potência reativa fazendo o
uso de diagramas fasoriais.
Q  V .I .sen( )

4.2.1.1 Potência reativa para cargas indutivas e resistivas


55

Usando as mesmas considerações já apresentadas anteriormente sobre este tipo


de carga, e considerando que a potência reativa é definida como o produto da tensão,
corrente e do seno do ângulo entre estas grandezas, temos:

Figura 9: Potência reativa em cargas indutivas e resistivas.

4.2.1.2 Potência reativa em cargas capacitivas e indutivas


Para este caso, temos:

Figura 10: Potência reativa em cargas capacitivas e resistivas.

5 Potência Aparente
Potência total fornecida. Máxima potência útil fornecida

6 Triângulo de potências
56

O triângulo de potências é uma representação gráfica que consolida em um


triângulo os tipos de potência fornecidos por uma carga.
Como as cargas resistivas só fornecem potência ativa, as mesmas não tem um
triângulo de potências.

6.1 Triângulo de potências de cargas indutivas e resistivas

Figura 11: Triângulo de potências de uma carga indutiva e resistiva.

Note que a potência aparente também pode ser definida por S  Q 2  P 2 .

6.2 Triângulo de potências de cargas capacitivas e resistivas

Figura 12: Triângulo de potências de uma carga capacitiva e resistiva.


57

7 Fator de Potência
Razão entre P e S no triângulo de potências. Do triângulo, temos que:

P P
FP =   cos( )
S V .I

Para sistemas trifásicos com cargas Desequilibradas, temos:

S 3  S A  S B  S C  V A I A  VB I B  VC I C

P 3  PA  PB  PC  V A I A cos( A )  VB I B cos( B )  VC I C cos(C )

Para sistemas com cargas Equilibradas, temos:

S 3  3S  3.V .I  3.V f .I
P 3  3P  3.V .I cos( )  3.V f .I cos( )
P 3
FP  3  cos( )
S

8. Principais sistemas de fornecimento de energia em distribuição

8.1 Fornecimento a dois fios monofásico


Normalmente usado para baixa tensão e para consumidores com baixa potência
instalada.

Figura 13: Circuito monofásico – dois fios.


58

8.2 Fornecimento a três fios monofásico


Normalmente usado para baixa tensão. Algumas concessionárias usam esta
modalidade para permitir algumas cargas com potências instaladas maiores.

Figura 14: Circuito monofásico – três fios.

8.3 Fornecimento a três fios, bifásico, com neutro


Normalmente usado para baixa tensão. Algumas concessionárias usam esta
modalidade para permitir algumas cargas com potências instaladas maiores.

Figura 15: Circuito a três fios, bifásico, com neutro.

8.4 Fornecimento a três fios, trifásico, sem neutro


Normalmente usado para média tensão.
59

Figura 16: Circuito trifásico, três fios, sem neutro.

8.5 Fornecimento a quatro fios, trifásico, com neutro


Usado na baixa tensão e alta tensão.

Figura 17: Circuito a quatro fios, trifásico, com neutro.


60

9. Teorema de Blondel
A medição de energia elétrica em sistemas de distribuição de energia elétrica,
que muitas vezes apresentam diferentes configurações e topologias, deve,
independentemente dessas diversidades, atender ao Teorema de Blondel (1893),
conforme a seguinte definição:
“Em um sistema de fornecimento de energia elétrica com N condutores, são necessários
apenas N-1 elementos de medição (sendo um elemento composto por uma
bobina/circuito de potencial e uma bobina/circuito de corrente), apropriadamente
conectados, para medir corretamente a energia entregue à carga. A conexão deve ser
feita de tal modo que todas as bobinas de potencial estão ligadas em um ponto de um
dos condutores no qual não está ligada nenhuma bobina de corrente”.
Em resumo, podemos afirmar que para a medição de um circuito trifásico a 3
fios é suficiente um medidor de 2 elementos, e, para o circuito trifásico a 4 fios, um
medidor de 3 elementos, independentemente das condições da carga.
No circuito apresentado na figura a seguir, três wattímetros (W1, W2 e W3)
possuem suas bobinas de potencial conectadas a um ponto comum D, que pode ter uma
diferença de potencial em relação ao ponto N, igual à EN. A potência instantânea da
carga é dada pela expressão:
PL = Ea*Ia + Eb*Ib + Ec*Ic (1)

Figura 18: Demonstração do teorema de Blondel.


61

Podemos escrever também as seguintes equações das tensões:

Ea = E’a + EN (2)
Eb = E’b + EN (3)
Ec = E’c + EN (4)

Substituindo os termos, podemos re-escrever:

PL = (E’a + EN) * Ia + (E’b + EN) * Ib + (E’c + EN) * Ic (5)


PL = E’a * Ia + E’b * Ib + E’c * Ic + EN * (Ia + Ib + Ic) (6)

No circuito em análise podemos escrever:

Ia + Ib + Ic = 0, ou seja,
PL = E’a * Ia + E’b * Ib + E’c * Ic = W1 + W2 + W3 (7)
Deste modo, os três wattímetros medem corretamente a potência da carga.
Considerando o ponto comum D localizado em um dos condutores, a tensão na
bobina de potencial do wattímetro conectado na respectiva linha, E’b, é igual a zero e a
equação (7) se reduz a:

PL = E’a * Ia + E’c * Ic = W1 + W3 (8)

O mesmo raciocínio é válido para qualquer ponto comum escolhido nos outros
condutores, provando ser necessário apenas N-1 elementos de medição para obter a
potência requerida pela carga.

9.1 Exemplos do teorema de Blondel

9.1.1 Medição trifásica (kWh) sem Transformadores de Corrente (sistema 4 fios –


estrela aterrada) – BAIXA TENSÃO
Neste tipo de configuração temos as seguintes combinações de correntes e
tensões nos elementos do medidor para se obter a potência das cargas:

1° elemento: Van (bobina de potencial) e Ian (bobina de corrente)


62

2º elemento: Vbn (bobina de potencial) e Ibn (bobina de corrente)


3° elemento: Vcn (bobina de potencial) e Icn (bobina de corrente)
A expressão da potência total avaliada pelo medidor, será:

Pot = Van x Ian x cos1 + Vbn x Ibn x cos2 + Vcn x Icn x cos3

Na aplicação somente de cargas fase-fase o medidor também irá medir corretamente o


valor da energia requerida.
Na figura seguinte temos uma visualização deste exemplo de medição.

Figura 19: Exemplo de medição trifásica a quatro fios, sem TC´s.


63

Figura 20: Medição a quatro fios.

9.1.2. Medição trifásica (kWh/kW) com três Transformadores de Corrente (sistema 4


fios – estrela aterrada) – BAIXA TENSÃO
Permanecem válidos todos os comentários citados para o caso anterior, sendo
que especial atenção deve ser dada às marcas de polaridade dos Transformadores de
corrente.
Outro aspecto importante a ser citado é que se possuirmos uma carga conhecida
Z, podemos, mediante uma simples verificação do sentido de rotações do disco,
identificar erros de ligação no sistema de medição, considerando o comportamento dos
fasores em cada caso.

9.1.3 Medição trifásica (kWh/kW) com dois transformadores de corrente e dois de


potencial (sistema 3 fios delta ou estrela isolada) – MÉDIA TENSÃO
Neste tipo de configuração temos as seguintes combinações de correntes e
tensões nos elementos do medidor para se obter a potência das cargas:

1° elemento: Vab (circuito de potencial) e Ia (circuito de corrente)


2° elemento: Vcb (circuito de potencial) e Ic( circuito de corrente)
64

Figura 21: Esquema de medição trifásica a três fios.

Figura 22: Diagrama fasorial de uma ligação a três fios.


65

Figura 23: Demonstração de como o valor da potência a três fios pode ficar negativa em um dos
elementos.

A Figura 23 apresenta três situações fasoriais distintas, onde se demonstra que,


para fator de potência inferior a 0,5, um dos elementos vê potência negativa.
É importante ressaltar que neste tipo de medição não pode haver cargas com
conexão à terra, uma vez que este constituiria o quarto fio, produzindo erros no sistema
de medição. Deste modo todos os transformadores de carga do consumidor devem ser
de ligação estrela isolada ou em delta. O mesmo deve ser aplicado para eventuais
bancos de capacitores que sejam utilizados.
Do mesmo modo que no caso anterior, se possuirmos uma carga conhecida Z,
podemos, mediante uma simples verificação do sentido de rotações do disco, identificar
erros de ligação no sistema de medição, considerando o comportamento dos fasores em
cada caso.

9.1.4 Medição trifásica (kWh/kW) com dois transformadores de corrente e três de


potencial (sistema 3 fios delta ou estrela isolada) – ALTA TENSÃO
Neste tipo de configuração temos as mesmas combinações de correntes e tensões
nos elementos do medidor do caso anterior. Em geral são utilizados três
transformadores de potencial, uma vez que por questões de custo e conseqüentemente
66

menores níveis de isolamento, são instalados transformadores de potencial com ligação


fase-terra ao invés de ligação fase-fase.

Figura 24: Medição a três fios.

10. Princípios básicos da medição para faturamento


Os equipamentos e sistemas de medição de faturamento devem atender, em
todos os níveis, aos seguintes princípios básicos, de modo a desempenhar
adequadamente sua função:
 Exatidão: Manter os desvios em relação às grandezas-padrão dentro dos limites
máximos permitidos pelos organismos metrológicos legais, pelas Normas
Brasileiras e/ou internacionais e especificações com as quais estão subordinadas.
 Inviolabilidade: Os medidores e demais equipamentos de medição de
faturamento devem estar acondicionados de tal forma que minimizem a
possibilidade de adulteração de suas características normais e serem providos de
dispositivos de selagem e procedimentos associados que garantam a sua
inviolabilidade ou deixem sinais visíveis de que ocorreram manipulações
indevidas.
 Segurança: Uma vez que a maioria das atividades de campo ocorre no interior
das unidades consumidoras, os padrões de instalação, os procedimentos
associados e todas as tarefas envolvidas devem seguir rígidos controles de
segurança, notadamente nas instalações consumidoras, por envolver vidas e
patrimônios de terceiros.
67

 Exclusividade: Os equipamentos e sistemas de medição de faturamento devem


possuir suas instalações, características e funções associadas (operação e
manutenção) para uso exclusivo, de modo a evitar que eventuais operações
indevidas afetem seu funcionamento.

 Adequação das constantes de medição: Os sistemas de medição de faturamento,


principalmente aqueles com medição indireta, dependem de várias constantes,
relacionadas não somente aos equipamentos, mas também à topologia do
sistema de fornecimento de energia elétrica, sendo, portanto, fundamental, o
conhecimento de suas características para a sua aplicação de forma correta.
Entre as principais constantes utilizadas nos sistemas de medição de
faturamento, podemos citar as seguintes:
- RTP: Relação de Transformação de Potencial;
- RTC: Relação de Transformação de Corrente;
- P/DR: Número de pulsos por rotação do disco de um medidor eletromecânico;
- kWh/pulso: taxa de pulsos equivalente a 1 kWh de consumo;
- kW/pulso: taxa de pulsos equivalente a 1 kW de demanda, em determinado
intervalo de tempo;
- KM: Constante de multiplicação do registrador de um medidor eletromecânico;
- Ra: Relação de acoplamento das engrenagens de um registrador de ponteiros;
- Rr: Relação do registrador;
- Kd: Constante de Disco de um medidor eletromecânico(Wh/rotação);

11. Principais equipamentos de medição de energia elétrica

11.1 Transformadores de potencial indutivo

11.1.1 Conceituação básica


Os Transformadores de Potencial Indutivos (TPI) são utilizados em instalações
de Média e Alta Tensão (normalmente de 13,8 kV até 138 kV). Para tensões mais
elevadas, utilizam-se Transformadores de Potencial Capacitivos (TPC), por serem mais
econômicos, minimizarem certos fenômenos que podem ocorrer em sistemas de
68

Transmissão, como, Ferro-Ressonância, por exemplo, além de permitirem a utilização


de equipamentos de telecomunicações/tele-proteção.
Além de reduzir o nível de tensão a ser aplicado aos medidores de energia
elétrica, o transformador de potencial deve fornecer um valor de tensão que deve
retratar o mais fielmente possível (módulo e ângulo) a tensão aplicada ao enrolamento
primário. Um TPI introduz, portanto, dois erros na medição de energia elétrica, o erro
de relação e o erro de ângulo de fase, conforme definidos a seguir:
 Erro de relação percentual:
RTP  (VS  VPN )
p   100
VPN
Onde:
- RTP: Relação de Transformação Nominal do Transformador de Potencial,
conforme especificado;
- VS: Tensão medida no secundário do Transformador de Potencial;
- VPN: Valor verdadeiro da Tensão Primária Nominal, na condição especificada,
obtida pelo diagrama fasorial;
Pode ser utilizado também o Fator de Correção de Relação (FCR P), definido
como:
RTR
FCR p 
RTP
Onde:
- RTR: Relação de Transformação Verdadeira do TPI
Pode-se deduzir que:
P % = 100 – FCRP%

 Erro de ângulo de fase:

 = Ângulo de defasagem, geralmente dado em minutos, entre a tensão primária


e a tensão secundária, podendo ser positivo ou negativo.
69

Figura 25: Exemplos de Transformadores de Potencial Indutivos.

Estes erros são produzidos, basicamente, pelas seguintes causas:


- A corrente de excitação que é necessária para magnetizar o núcleo provoca uma queda
de tensão no enrolamento primário (resistência ôhmica e reatância de dispersão);
- A corrente de carga provoca queda de tensão nos enrolamentos primários e
secundários (resistências ôhmicas e reatâncias de dispersão).
Podemos visualizar melhor estas quedas de tensão através do circuito equivalente de um
transformador.

Figura 26: Circuito equivalente de um transformador.

Onde:
- R0: Resistência ôhmica que representa as perdas de potência ativa por correntes de
Foucault e histerese;
70

- X0: Reatância de magnetização;


- R1: Resistência ôhmica do enrolamento primário;
- X1: Reatância de Dispersão do enrolamento primário;
- R2: Resistência ôhmica do enrolamento secundário;
- X2: Reatância de Dispersão do enrolamento secundário;
- ZL: Carga imposta ao secundário do TPI;
- I1: Corrente no enrolamento primário;
- I2: Corrente no enrolamento secundário;
- I0 : Corrente de excitação;

A classe de exatidão de um transformador de potencial é afetada principalmente


pela carga conectada ao seu secundário, sendo, portanto função da corrente solicitada e
do ângulo do fator de potência da carga. A classe de exatidão de um TPI associa,
portanto, os erros de relação e ângulo de fase entre valores limites normalizados,
conforme a seguinte definição: “considera-se que um TPI está dentro de sua classe de
exatidão, em condições especificadas, quando nestas condições, o ponto determinado
pelo erro de relação P ou pelo fator de correção de relação (FCR) e pelo ângulo de fase

 estiver dentro do paralelogramo de exatidão especificado na Figura 27 correspondente


à sua classe de exatidão”.
O paralelogramo é obtido por meio da expressão  = 2600(FCT – FCRP), onde
FCT é definido como Fator de Correção de Transformação, que é um fator pelo qual se
deve multiplicar a leitura de um wattímetro ou medidor de energia elétrica, cujo circuito
de potencial é alimentado por meio do referido Transformador de Potencial para corrigir
o efeito combinado do erro de relação e do ângulo de fase.
71

Figura 27: Limites das classes de exatidão: 1,2 – 0,6 – 0,3.

A seleção da classe de exatidão depende da utilização a que se destinam os


Transformadores de Potencial. Para aplicação em medição de faturamento de energia a
classe de exatidão deve ser 0.3, ou melhor.
A Tabela 1 apresenta alguns valores de cargas padronizadas, as quais são
utilizadas na especificação de um TPI, com base nos equipamentos que são energizados
pelo mesmo. É importante ressaltar que devem ser levadas em consideração as quedas
de tensão nos condutores secundários se as distâncias entre os TPI e os
medidores/instrumentos forem muito grandes.
Potência Reatância
Fator de Resistência Impedância
DESIGNAÇÃO aparente Indutiva
Potência (ohms) (ohms)
(VA) (ohms)
P 12,5 ou W 12,5 0,1 115,2 1146,2 1152
P25 ou X 25 0,7 403,2 411,3 576
P75 ou Y 75 0,85 163,2 101,1 192
P200 ou Z 200 0,85 61,2 37,9 72
P400 ou ZZ 400 0,85 30,6 19 36
Tabela 1: Cargas nominais para Transformadores de Potencial – 120 V – 60 Hz.
72

11.1.2 Grandezas de influência no erro de relação e de ângulo de fase


As principais grandezas que podem influir no erro de relação e ângulo de fase de
um TPI são as seguintes: Carga Secundária, Tensão Primária e Resistência dos
condutores secundários, acerca das quais podemos citar as seguintes considerações:
 Cargas Secundárias: As cargas secundárias aplicadas aos Transformadores de
Potencial têm sido reduzidas com a instalação de medidores eletrônicos cujos
circuitos de potencial apresentam baixo consumo em relação aos medidores
eletromecânicos convencionais.
 Tensão Primária: Sua maior influência ocorre na presença de sobre-tensões,
onde o núcleo do TPI aproxima-se da saturação e a corrente de excitação
aumenta rapidamente, provocando variações acentuadas nos valores de erro de
relação e ângulo de fase, conforme indicado na Figura 28.
 Condutores Secundários: Em casos de distâncias elevadas entre os secundários
dos TPI e o local da instalação de medidores e a utilização de cargas secundárias
elevadas, estes condutores devem ser dimensionados adequadamente, de modo a
não aumentar os erros de relação e ângulo de fase originados nos TPI a valores
fora de sua classe de exatidão.

Figura 28: Curva de saturação típica de um Transformador de Potencial.


73

11.1.3 Principais características de especificação


A Figura 29 apresenta os esquemas mais usuais de transformadores de potencial
indutivo utilizados especificamente para medição de faturamento, cujas principais
características são as seguintes:
1. Tensão Secundária (usualmente 115 V ou 115 3)
2. Tensão Primária
3. Tipo de Ligações (fase-fase e fase-terra)
4. Classe de Exatidão
5. Carga Nominal
6. Potência térmica
7. Nível de Isolamento
8. Polaridade

Figura 29: Esquemas clássicos dos principais modelos de Transformadores de Potencial.


74

11.1.4 Principais irregularidades associadas à medição com TPI


 Ligações invertidas nos terminais secundários e nos blocos de aferição;
 Ligações secundárias não correspondem à relação adequada em TPI com mais
de uma relação nominal;
 Desconexão dos condutores secundários;
 Mau contato na ligação dos condutores nos blocos de terminais dos medidores;
 Ligações no bloco de terminais não correspondem à correta seqüência de fases
da instalação (medição de energia reativa).

11.2 Transformadores de corrente

11.2.1 Conceituação básica


Os transformadores de corrente são utilizados tanto em instalações de Baixa Tensão,
quanto às de Média e Alta Tensão, onde as correntes solicitadas pelas unidades
consumidoras são elevadas, além de prover isolamento elétrico entre os circuitos
primários e secundários. A corrente secundária deve retratar o mais fielmente possível
(em módulo e ângulo) a corrente primária do circuito que fornece energia elétrica à
unidade consumidora. Um TC introduz, portanto, dois erros na medição de energia
elétrica, o erro de relação e o erro de ângulo de fase, conforme definidos a seguir:
 Erro de relação percentual:
RTC  ( I S  I PN )
c   100
I PN
Onde:
- RTC: Relação de Transformação Nominal do Transformador de Corrente,
conforme especificado;
- IS: Corrente medida no secundário do Transformador de Corrente;
- IPN: Valor verdadeiro da Corrente Primária, na condição especificada, obtida
pelo diagrama fasorial;
Pode ser utilizado também o Fator de Correção de Relação (FCRC), definido
como:
RTR c
FCR c 
RTC
Onde:
- RTRc: Relação de Transformação Verdadeira do Transformador de Corrente
75

Pode-se deduzir que:


C % = 100 – FCRC%

 Erro de ângulo de fase:

 = Ângulo de defasagem, geralmente dado em minutos, entre a corrente

primária e a corrente secundária, podendo ser positivo ou negativo.


Estes erros variam principalmente com a corrente primária e com o tipo de carga
ligada no secundário do Transformador de Corrente. A partir do diagrama fasorial
podemos concluir que a corrente de excitação é a causa essencial dos erros de relação e
ângulo defase de um Transformador de Corrente. Uma vez que o fluxo magnético varia
de acordo com a intensidade da corrente primária, que pode ir desde zero até a corrente
de carga máxima do circuito no qual o TC está inserido, a corrente de excitação que
produz este fluxo também varia numa ampla faixa. Considerando as não linearidades do
circuito magnético, as variações da corrente de excitação não são proporcionais às
variações na corrente primária, conforme ilustrado no gráfico da Figura 30. A principal
conclusão deste comportamento é que na especificação e aplicação de um TC para
medição de faturamento, a corrente nominal deve ser escolhida o mais próximo possível
da corrente de carga do circuito, de modo a não serem introduzidos erros superiores aos
previstos. Casos práticos dessa situação podem ocorrer em unidades consumidoras com
diferenças grandes entre as demandas contratadas nos horários de ponta e fora de ponta.

Figura 30: Corrente de excitação x Corrente primária de um TC.


76

A classe de exatidão de um TC associa, portanto, os erros de relação e ângulo de


fase entre valores limites normalizados, conforme a seguinte definição: “Considera-se
que um TC para serviço de medição está dentro de sua classe de exatidão em condições
especificadas quando, nestas condições, o ponto determinado pelo erro de relação ou
pelo fator de correção de relação e pelo ângulo de fase estiver dentro dos
paralelogramos de exatidão, sendo o paralelogramo menor referente a 100% da corrente
nominal e o paralelogramo maior referente a 10% da corrente nominal”.
O paralelogramo da Figura 31 é obtido por meio da expressão  = 2600(FCRC –
FCTC), onde FCTC é definido como Fator de Correção de Transformação, que é um
fator pelo qual se deve multiplicar a leitura de um wattímetro ou medidor de energia
elétrica, cujo circuito de corrente é alimentado por meio do referido Transformador de
Corrente para corrigir o efeito combinado do erro de relação e do ângulo de fase. A
seleção da classe de exatidão depende da utilização a que se destinam os
Transformadores de Corrente. Para aplicação em medição de faturamento de energia a
classe de exatidão deve ser 0.3, ou melhor.

Figura 31: Limite das classes de exatidão 0,3 – TC.

A Tabela 2 apresenta alguns valores de cargas padronizadas, as quais são utilizadas na


especificação de um TC, com base nos equipamentos que são energizados pelo mesmo.
77

Potência Reatância
Fator de Resistência Impedância
DESIGNAÇÃO aparente Indutiva
Potência (ohms) (ohms)
(VA) (ohms)
C 2,5 2,5 0,9 0,09 0,044 0,1
C5 5 0,9 0,18 0,087 0,2
C 12,5 12,5 0,9 0,45 0,218 0,5
C 25 25 0,5 0,5 0,866 1
C 50 50 0,5 1 1,732 2
C 100 100 0,5 2 3,464 4
C 200 200 0,5 4 6,928 8
Figura 2: Cargas nominais para Transformadores de Corrente.

11.2.2 Grandezas de influência no erro de relação e de ângulo de fase


As principais grandezas que podem influir no erro de relação e ângulo de fase de
um TC são as seguintes: Carga Secundária, Corrente Primária e Resistência dos
condutores secundários, acerca das quais podemos citar as seguintes considerações:
 Cargas Secundárias: Um aumento na carga secundária requer um aumento na
tensão secundária, de modo a manter a corrente secundária constante. Este
aumento na tensão induzida é alcançado pelo aumento de fluxo no núcleo do
TC, produzido pelo aumento da corrente de excitação, afetando, portanto, os
valores dos erros de relação e ângulo de fase do TC.
 Corrente Primária: Uma vez que a corrente de excitação não é uma função
linear da corrente primária, variações do erro de relação e do ângulo de fase
ocorrem à medida que a corrente primária varia. Estes erros são em geral
maiores em correntes inferiores a 10% da corrente nominal.
 Condutores Secundários: Em instalações que utilizam condutores secundários
em longas distâncias entre os TC’s e os medidores, a resistência dos mesmos
pode se constituir numa carga preponderante e deve ser levada em consideração
na sua especificação.

11.2.3 Principais características de especificação


A Figura 32 apresenta os esquemas mais usuais de transformadores de corrente
utilizados especificamente para medição de faturamento, cujas principais características
são as seguintes:
1. Corrente Secundária (em geral, 5 A, podendo em casos especiais ser 1 A);
2. Corrente Primária;
78

3. Classe de Exatidão;
4. Carga Nominal;
5. Fator Térmico;
6. Nível de Isolamento;
7. Corrente Térmica Nominal;
8. Corrente Dinâmica Nominal;
9. Polaridade

Figura 32: Esquemas clássicos dos principais modelos de Transformadores de Corrente.

11.2.4 Principais irregularidades associadas à medição com TC


 Curto-circuitar enrolamento secundário;
 Curto-circuitar enrolamento primário;
 Polaridades invertidas (primário ou secundário);
 Ligações secundárias não correspondem à relação adequada em TC com mais de
uma relação nominal;
 Ligações invertidas nos terminais secundários e/ou nos blocos de aferição;
79

Figura 33: Exemplos de Transformadores de Corrente.

11.3 Medidores eletromecânicos

11.3.1 Medidor de energia eletrodinâmico (kWh)

11.3.1.1 Conceituação básica


O medidor de energia elétrica tipo indução utiliza como princípio básico de
funcionamento a interação eletromagnética (fluxos magnéticos e correntes induzidas),
de modo a produzir, no disco, um conjugado proporcional à energia que deve ser
medida e registrada pelo referido equipamento, de acordo com a seguinte equação:

WATT-HORA = Tensão(V) x Corrente (A) x Fator de potência x Tempo (Horas).

Os principais componentes, considerando um medidor monofásico, são:


 Bobina de potencial, altamente indutiva, com grande número de espiras de fio
fina, ligada em paralelo com a carga a ser medida;
 Bobina de corrente, com poucas espiras de fio grosso de cobre, para ser ligada
em série com a carga a ser medida;
 Núcleo de material ferromagnético;
 Imã permanente para produzir um efeito frenador proporcional à velocidade do
disco, em qualquer condição de carga;
 Disco de alumínio associado a um sistema mecânico de engrenagens e um
registrador;
 Ajustes de calibração (Carga Nominal, Carga Pequena e Carga Indutiva).
80

O medidor eletromecânico produz um conjugado CM proporcional à VI cos ,


onde  é o ângulo do fator de potência da carga a ser medida. No projeto do medidor é
definida uma velocidade nominal, em geral 500 rph, 1000 rph ou 1800 rph, nas
condições de corrente nominal e tensão nominal, com fator de potência unitário. A
partir daí podemos estabelecer a constante do disco do medidor (KD) que indica o
número de Watts-hora equivalente a uma rotação do disco do medidor, conforme a
seguinte formulação matemática:

Potencia (watts) =Vn * In * 1.0, na velocidade nominal Wn (rotações por hora), logo:
VN  I N  1
KD 
WN
Para um medidor monofásico de 120 Volts, 15 Ampères e velocidade nominal
1000 rotações por hora teremos um valor de KD = 120 x 15 /1000 = 1,8 Wh/rotação.
Esta constante é utilizada para aferir o medidor tanto em campo quanto em laboratório.
Além do KD, outras constantes importantes do medidor eletromecânico são aquelas
relativas às engrenagens do registrador e sua correlação com a constante de disco do
medidor:
 Rr: Relação do registrador;
 Ra: Relação de acoplamento;
 KM: Constante de multiplicação do registrador;
Estas constantes se relacionam da seguinte maneira:

Rr  Ra  KD  10000 KM

Cálculo da Relação do registrador e da Relação de acoplamento de um registrador de


ponteiros:
81

Figura 34: Diagrama de um registrador de ponteiros.

Uma relação de engrenagens errada aplicada em registradores de medidores de


energia eletromecânicos pode significar um registro maior ou menor em relação à
medição adequada do consumo. Neste contexto deve-se evitar a possibilidade de
registradores serem utilizados em tipos diferentes de medidores. Se um medidor estiver
utilizando um registrador com Rr inferior ao correto, irá registrar consumos a maior, e,
em caso contrário, relações de registrador maiores do que a correta implicarão em
registros de consumo a menor.

11.3.1.2 Ajustes de calibração


Os medidores de energia elétrica do tipo indução possuem dispositivos de ajuste
que permitem adequar a velocidade do disco de modo a que o mesmo possa registrar o
respectivo consumo de forma a mantê-lo dentro dos limites de sua classe de exatidão
nas várias condições de carga. No caso do medidor monofásico (uma bobina de
potencial e uma bobina de corrente) são três os ajustes disponíveis:
 Carga nominal: Consiste em atuar no elemento frenador (imã permanente) de
modo a alterar o valor do seu conjugado que se opõe ao conjugado motor
82

produzido pela interação entre os fluxos magnéticos e correntes induzidas no


disco do medidor. Este ajuste é realizado aplicando-se tensão nominal e corrente
nominal com fator de potência unitário. É importante ressaltar que este ajuste
atua de forma uniforme em todas as condições de carga, ou seja, se o ajuste é
realizado para aumentar a velocidade do disco em 1%, este valor será
incrementado em todas as condições de carga.
Principalmente em medidores mais antigos, em que a qualidade do imã-
permanente ainda não era muito desenvolvida, o imã-permanente pode
desmagnetizar e apresentar o desempenho conhecido como imã-fraco,
caracterizado por erros nas cargas pequena e nominal de valores aproximados e
superiores a 15%(fora das margens de calibração).
 Carga indutiva: Consiste em ajustar o fluxo produzido pela bobina de potencial
de modo que ele esteja 90 graus em atraso em relação à tensão aplicada,
garantindo assim um correto registro do consumo com a variação do fator de
potência da carga.
 Carga pequena: Consiste em adicionar um conjugado suplementar ao disco de
modo a compensar os atritos e eventuais assimetrias que apresentam maior
efeito quando o medidor está submetido à baixas correntes. Assim como no caso
do ajuste de carga nominal, este torque adicional está presente em todas as
condições de carga, porém seu efeito na corrente nominal será de 10% daquele
aplicado na carga pequena, ou seja, um ajuste para aumentar a velocidade do
disco em 5% na carga pequena significará um aumento de 0,5% na carga
nominal.

Os medidores polifásicos, que possuem mais de um elemento motor, requerem


um outro ajuste para equilibrar os conjugados, em condições idênticas de carga, ou seja,
quando submetidos, separadamente, a uma mesma carga, devem produzir o mesmo
conjugado motor sobre o conjunto móvel.
Compensações automáticas adicionais:
- Sobrecarga;
- Variação da tensão;
- Elevação da temperatura;
83

11.3.1.3 Principais características de especificação


1. Tensão Nominal
2. Corrente Nominal
3. Corrente Máxima
4. Freqüência nominal
5. Constante do Registrador
6. Constante do Disco
7. Relação de Acoplamento
8. Relação do Registrador
9. Número de elementos
10. Terminal de prova interno
11. Tipo do mancal (magnético/mecânico)
12. Classe de Exatidão: condições de tensão nominal, fator de potência unitário,
freqüência nominal, variação da corrente desde 10% do valor nominal até
corrente máxima.

Figura 35: Detalhes de um medidor eletromecânico.


84

11.3.2 Medidores de energia e demanda eletrodinâmicos (kWh / kW)

11.3.2.1 Por que medir demanda para fins de faturamento de uma unidade
consumidora?
O termo demanda quando aplicado no setor elétrico significa: média das
potências elétricas ativas ou reativas, solicitadas ao sistema elétrico pela parcela da
carga instalada em operação na unidade consumidora, durante um intervalo de tempo
especificado. A demanda é expressa pela grandeza kW (quilowatts) e pode ser obtida
pela seguinte expressão:

DEM = energia elétrica absorvida pela carga durante intervalo de tempo T


Intervalo de tempo T

Este conceito pode ser ilustrado na Figura 36 onde é apresentada uma curva de carga
típica (Demanda x Tempo). A demanda representa então o valor da potência que, se
mantida constante, iria produzir o mesmo consumo da carga real, no intervalo de tempo
especificado. A área sob a curva representa o consumo em kWh, naquele intervalo de
tempo.

Figura 36: Curva de carga típica e valores de demanda associados.


85

Neste sentido, é necessário diferenciar duas unidades consumidoras, que


possuem consumos de energia elétrica iguais, porém solicitam da rede, ou seja,
requerem uma maior necessidade de investimento (em termos de equipamentos de
transformação, linhas de distribuição, sistemas de proteção, etc) de modo a garantir
o fornecimento e o atendimento de cargas mais elevadas. Torna-se então necessário
medir e faturar a respectiva grandeza demanda. São abrangidos pela necessidade de
medição e faturamento da demanda, unidades consumidoras com fornecimento em
Média e Alta Tensão (Grupo A). Consumidores com fornecimento em Baixa Tensão,
que compartilham de forma mais capilar uma mesma rede e equipamentos de
transformação, com menor nível de investimento por unidade consumidora são
faturadas com base somente no consumo (kWh). A Tabela 3 apresenta valores de
consumo e demanda de dois consumidores típicos que apresentam esta diversidade de
atendimento e, conseqüentemente de faturamento. O intervalo de demanda considerado
para fins de faturamento é de 15 minutos.
INDUSTRIAL INDUSTRIAL
CONSUMIDOR
PLÁSTICO METALÚRGICO
DEMANDA (kW) 1800 600
UTILIZAÇÃO 8 HORAS/DIA 24 HORAS/DIA
CONSUMO (kWh)/MÊS 432000 432000

Tabela 3: Tabela comparativa – consumos e demandas.

11.3.2.2 Principais conceitos associados à demanda

11.3.2.2.1 Demanda máxima


Maior valor obtido, em ciclo mensal de faturamento, a partir da média das
potências elétricas ativas ou reativas, solicitadas ao sistema elétrico pela parcela da
carga instalada em operação na unidade consumidora, durante um intervalo de tempo
especificado (15 minutos).

11.3.2.2.2 Demanda acumulada


Soma de valores de demandas máximas obtidas de períodos anteriores de
faturamento. A demanda máxima de um determinado período é igual á diferença entre
as demandas acumuladas do período atual e do período anterior.
86

11.3.2.2.3 Demanda pesquisada (Janela deslizante)


Método para obter valores de demanda em intervalos de tempo específicos,
inferiores ao do intervalo de integração de demanda pré-definido (15 minutos),
aumentando a faixa de observação da curva de carga.

11.3.2.2.4 Fator de carga


Razão entre a demanda média e a demanda máxima da unidade consumidora,
ocorridas no mesmo intervalo de tempo especificado. Geralmente é utilizada a seguinte
expressão, com base nos valores de faturamento:
DEM média Consumo mensal
FC  
DEM máxima 720h  DEM máxima

11.3.2.2.5 Fator de demanda


Razão entre a demanda máxima num intervalo de tempo especificado e a carga
instalada na unidade consumidora.

11.3.2.2.6 Reposição de demanda


Número de vezes em que é atuado o dispositivo de um medidor ou registrador de
demanda, de modo a retroceder a zero seu valor e iniciar um novo período de medição.
Esta atuação também registra o valor da demanda acumulada no período.

11.3.2.3 Conceituação básica


O medidor de energia e demanda eletromecânico combina, em um mesmo
equipamento as funções de medir e registrar o consumo e a demanda de uma unidade
consumidora, sendo provido de dois conjuntos de engrenagens: um que aciona o
registrador de energia elétrica e outro que aciona, em conjunto com um motor síncrono
ou por um sistema de relógio, o registro de demanda em cada intervalo de tempo.
Existem, basicamente, dois tipos de medidores eletromecânicos que estão sendo
substituídos por medidores eletrônicos, porém ainda em uso em muitas concessionárias:
 Indicativo: indica por meio de um ponteiro indicador a demanda máxima em
cada ciclo de faturamento, ou período entre dois “reset”. Possui também um
ponteiro propulsor que, partindo do zero da escala, indica a demanda alcançada
87

no final de cada intervalo de 15 minutos, retrocedendo ao zero da escala e


iniciando o registro de um novo período;
 Cumulativo: Ao final do intervalo de demanda, por meio da operação manual,
adiciona a última demanda máxima aos valores de demanda anteriormente
registrados e indica este valor em um registrador de ponteiros de forma similar
ao registrador de consumo (kWh).
O registro de demanda D, em watts, em um determinado intervalo de tempo T, em
horas, pode ser obtido pela expressão abaixo:
Kd  Nr
D
T
Onde:
- Kd: constante do disco em Wh/rotação;
- Nr: número de rotações do disco;
É importante ressaltar que, por se utilizar dois dispositivos diferentes para
registro do consumo, em kWh e indicação da demanda máxima em kW, muitas vezes o
medidor possui constantes diferentes para cada grandeza. Neste caso, especial atenção
deve ser dada na instalação e cadastramento do faturamento.
Outro aspecto a considerar é o da falta de alimentação do motor síncrono, que
quando não está energizado e há cargas ligadas na unidade consumidora, faz com que
haja registros acumulados de demanda, pois deixa de ocorrer, a cada 15 minutos, o
retorno ao zero da escala. Uma das formas de minimizar este problema, no sistema de
medição de 2 elementos, é o de alimentar o motor síncrono entre as fases A e C no
secundário dos Transformadores de Potencial , que será visto mais adiante.

11.4 Medidor de demanda de princípio térmico


O medidor de demanda de princípio térmico se baseia no efeito de diferença de
temperatura aplicada em lâminas bimetálicas fixadas de tal forma que variações da
corrente de carga produzem dissipação de quantidades de calor em resistências pré-
fixadas. Estas lâminas bimetálicas produzem então o deslocamento do ponteiro
propulsor equivalente à variação da carga e proporcional a sua potência ativa. A
principal diferença entre este tipo de medidor e os medidores eletromecânicos é de que a
indicação de demanda responde de forma mais lenta às variações de carga, conforme
pode ser visto no gráfico da Figura 37. Na prática esta diferença não se torna
significativa, ambos os medidores apresentando resultados similares na indicação da
88

demanda máxima. Mesmo no caso dos medidores eletromecânicos, caso os motores


síncronos não estejam rigorosamente sincronizados, pequenas diferenças podem surgir
entre suas indicações, à medida que a carga varia na unidade consumidora.

Figura 37: Curva do medidor de princípio térmico.

11.5 Medidores eletrônicos


Os medidores eletrônicos possibilitam a inclusão de inúmeras facilidades na
medição para faturamento:
1. Possibilitam a memorização da curva de carga do consumidor, de forma a
registrar o histórico de consumo, para fins de faturamento ou monitoração. Esta
curva de carga pode ser inclusive oferecida ao consumidor, para seu próprio
controle.
2. Podem apresentar aspectos construtivos que inibam ou reduzam a possibilidade
de realização de irregularidades na medição.
3. Podem registrar a demanda ativa e/ou reativa de maneira acessível.
4. Capacidade de multitarifação.
5. Capacidade de interconexão com sistemas de leitura remotos.
6. Podem ter a capacidade de registro dos níveis de tensão na rede.
7. Possuem geralmente classe de exatidão superior a dos medidores
eletromecânicos.
8. Podem fornecer os valores de potência nos quatro quadrantes.
89

Figura 38: Página fiscal de um medidor eletrônico.

11.5.1 Funcionamento interno


Um medidor de energia eletrônico comercial pode ser esquematizado pelo
diagrama de blocos como mostrado na Figura 39. Consiste de cinco blocos básicos: dois
blocos de transdutores, multiplicador, integrador e registrador. Os transdutores de
tensão e corrente adquirem e adequam os sinais a serem multiplicados. A potência
instantânea é determinada através do bloco Multiplicador, realizando a multiplicação da
medição da tensão e da corrente. A energia é obtida com o bloco Integrador. Finalmente
esta informação de energia é armazenada e registrada no bloco Registrador.
90

Figura 39: Diagrama em blocos geral de medidores eletrônicos de energia elétrica.

Na figura acima, os transdutores de tensão são construídos internamente por


divisores resistivos ou por transformadores internos de potencial. Os transdutores
internos de corrente geralmente são transformadores de corrente, resistores “shunt”,
transdutores baseando-se em efeito Hall.
O bloco multiplicador, no caso dos medidores eletrônicos de energia, pode ser
implementado de quatro maneiras: Multiplicação por Divisão no Tempo (TDM),
Multiplicação por Efeito Hall, Multiplicação por Transcondutância e Multiplicação
digital. Os multiplicadores digitais são os mais usados e devido a este fato, serão mais
detalhados.
Como o próprio nome diz, os multiplicadores digitais realizam a multiplicação dos
sinais de corrente e tensão convertidos para o formato digital. Para isto é necessário um
amostrador e um conversor analógico–digital (CAD) para digitalizar estes sinais de
corrente e tensão. Uma possível implementação apresenta-se na Figura 40. Utiliza-se
um CAD para cada entrada de tensão e de corrente permitindo que as medidas sejam
realizadas simultaneamente para posterior processamento. O bloco microprocessador na
Figura 40 é responsável pelo cálculo do produto tensão x corrente para o cálculo da
potência ativa e também pela integração da energia. Nos medidores de energia, este
bloco normalmente pode ser implementado com microcontroladores ou DSPs (“digital
signal processors” ou processadores digitais de sinais). Atualmente, também circuitos
integrados dedicados são utilizados. Sistemas de aquisição controlados por computador
também são utilizados normalmente para padrões de potência e energia.

Conversor
Tensão Amostrador
A/D
Ao Registrador
Microprocessador

Conversor
Corrente Amostrador
A/D

Figura 40: Implementações do multiplicador digital.


91

11.5.2 Aspectos funcionais


Entre os aspectos que se apresentam na especificação ou programação de um
medidor eletrônico é a forma de apresentação das grandezas no mostrador, que pode ser
em pulsos, com aplicação posterior da constante previamente cadastrada no sistema de
faturamento ou diretamente na grandeza desejada, seja kWh, kvarh ou kW, e a constante
ser programada internamente na memória do medidor. Algumas concessionárias
preferem a primeira opção, tendo em vista minimizar erros de programação que
acarretem perdas no sistema de faturamento. Nesta condição o controle das constantes
fica mantido no sistema de faturamento, mais robusto e com maior capacidade de crítica
das constantes associadas ao faturamento.

11.5.3 Características técnicas gerais


Os medidores eletrônicos podem ser para ligação direta ou para ligação indireta:
 Os medidores para ligação direta são ligados diretamente ao circuito a ser
medido. Sua corrente nominal é 15 A podendo ser de 30 A também. As tensões
padronizadas são de 120V e 240V, mas há outros valores de tensão em caráter
excepcional;
 Os medidores para ligação indireta fazem uso de transformadores para
instrumentos, ou seja, transformadores de corrente e transformadores de
potencial. Sua corrente nominal é 2,5 A. Sua tensão nominal é 120V, mas há
valores de tensão excepcionais.
Uma primeira preocupação, sobretudo para medidores eletrônicos de ligação
indireta, é se a faixa de tensão dos mesmos atende ao secundário do transformador de
potencial. Por exemplo, pode acontecer que um medidor não consiga funcionar em
115/3 (66,4V).
A topologia de medição permitida para os medidores deve ser avaliada.
 Medidores monofásicos a dois fios, medidores monofásicos a três fios, todos
normalmente de ligação direta;
 Medidores trifásicos a três fios, de ligação direta e indireta;
 Medidores trifásicos a quatro fios, de ligação direta e indireta;
Os medidores que seguem as normas ABNT possuem saídas para usuário
padronizadas segundo a norma NBR14519 e protocolos segundo a norma 14522. A
norma NBR14522 estabelece os padrões para intercâmbio de informações para sistemas
92

de medição de energia elétrica. Mais recentemente, no caso do sistema interligado, foi


estabelecido um sistema de coleta de informações, chamado “Sistema de Coleta de
Dados de Energia” ou SCDE. Este sistema segue os procedimentos de rede (Módulo 12
– Medição para Faturamento). Os protocolos são definidos pela CCEE Câmara de
Comércio de Energia Elétrica.
Os medidores eletrônicos devem, caso sejam com mostrador digital que não seja
mecânico, guardar as informações principais (relógio interno, o programa e as
informações registradas) por pelo menos 120 horas. Alguns medidores possuem
baterias para guardar as informações de relógio e calendário por até 10 anos e ainda
uma bateria (super-cap) auxiliar para permitir a troca da bateria, com autonomia de até
200 horas).
Os medidores eletrônicos podem possuir memória de massa, usada para guardar
as informações do consumo diário. Devem ter a capacidade para guardar os dados em
tempo hábil para a leitura, ou seja, mais de 30 dias.
Os medidores eletrônicos podem ser unidirecionais (em situações nas quais a
energia irá somente ser transferida em um sentido apenas) ou bidirecionais (em
situações nas quais a energia pode passar por dois sentidos, como em situações de
fronteira ou co-geração, por exemplo). No caso unidirecional, trabalham em dois
quadrantes para permitir energia reativa indutiva ou capacitiva. No caso bidirecional
podem trabalhar nos quatro quadrantes.

Figura 41: Representação geométrica das Potências Ativa e Reativa.


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Conceitos principais com relação à leitura de medidores eletrônicos: reposição


de demanda (comando 00 da norma NBR14522), verificação (comando 01 da norma
NBR14522) e recuperação (comando 02 da norma NBR14522).
 Reposição de demanda: realiza as leituras dos dados desde a última reposição de
demanda á leitura atual.
 Verificação: realiza a leitura dos dados compreendidos entre a última fatura e o
último intervalo de integração.
 Recuperação: realiza a leitura dos dados compreendidos entre a penúltima fatura
e a última fatura.

11.6 Registradores digitais


A partir de 1981 e ainda em uso em muitas concessionárias foi desenvolvido o
Registrador Digital para Tarifa Diferenciada, que é um equipamento eletrônico
destinado ao registro de grandezas elétricas para aplicação em tarifas diferenciadas, ou
horo-sazonais (sistema interligado). Este equipamento evoluiu até o que hoje é
conhecido REP - Registrador Eletrônico Programável, atualmente em fase de
substituição pelos medidores eletrônicos. O diagrama de blocos da Figura 42 apresenta
os principais componentes dos Registradores Digitais, onde pode ser percebido que ele
não possui características de base metrológica, ou seja, os sinais referentes às grandezas
são provenientes de iniciadores de pulsos (IP) acoplados a medidores eletromecânicos.

Figura 42: Diagrama de blocos de um Registrador Digital (RDTD, RDMT ou REP).


94

11.7 Conjuntos de medição


Nos últimos anos, com o crescente aumento das perdas comerciais e no intuito
de diminuir o acesso e manipulação em unidades consumidoras que possuem medição
indireta, têm sido usados os assim chamados conjuntos de medição, que incluem, em
um mesmo invólucro, transformadores de potencial, transformadores de corrente e o
medidor eletrônico, instalados em postes, no ramal de entrada da unidade consumidora.
A obtenção dos dados do medidor é obtida por meio de um equipamento
leitor/programador, que se comunica por rádio, a uma distância limitada, com o medidor
eletrônico que se encontra no interior do referido invólucro. Além disso, é, geralmente,
disponibilizado um mostrador digital no interior da unidade consumidora de modo que
o consumidor possa verificar os registros de consumo e demanda da sua instalação.
A grande dificuldade desta instalação é realizar aferições em campo, uma vez que não
existe acesso aos condutores secundários dos circuitos de corrente e potencial.

11.8 Medição de energia reativa

11.8.1 Por que medir a energia reativa?


A energia reativa (VArh), diferente da energia ativa (Wh), não é convertida em
trabalho, porém é necessária para produzir os campos magnéticos que estão presentes
em inúmeros equipamentos instalados no sistema elétrico, como transformadores,
motores, geradores, reatores, etc. A potência total requerida pela carga e na qual é
baseada no dimensionamento dos sistemas elétricos é definida como potência aparente e
é expressa em VA, e pode ser obtida da soma vetorial das potências ativa e reativa,
como já demonstrado na seção 3.3 através do triângulo das potências. Usando
novamente este artifício, podemos definir o fator de potência de uma instalação.

Figura 43: Triângulo de potências.


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Fator de potência é definido como o cos , e pode ser encontrado por:


W
FP   cos 
VA

Onde VA  W 2  VAr 2
Para um circuito monofásico:

VA = V x I
WATTS = V x I x COS 
VARS = V x I x SEN  = V x I x COS( 90 -  )

As instalações com baixo fator de potência apresentam uma série de


desvantagens tanto para a concessionária quanto para o consumidor entre as quais
podemos destacar as seguintes:
 Redução da capacidade de fornecimento do sistema elétrico da concessionária;
 Queda de tensão nas instalações da unidade consumidora;
 Aumento das perdas de energia ativa nos condutores;
 Aumento das faturas de energia elétrica.
Neste contexto, a legislação prevê que unidades consumidoras, em determinadas
situações devem possuir medição de energias e demandas reativas e conseqüentemente
permite que a concessionária venha a faturar valores de modo a incentivar que o fator de
potência dessas instalações fique o mais próximo possível da unidade e acima de um
valor pré-estabelecido, que no Brasil é de 0,92. O detalhamento da forma de
faturamento está apresentado na Resolução ANEEL nº 456/2000. É importante
esclarecer que o valor que a concessionária fatura está associado à energia ativa
que seria liberada pelo sistema caso o fator de potência estivesse acima de 0,92 e
não à energia reativa propriamente dita.
96

Figura 44: Benefício da correção do Fator de Potência.

11.8.2 Medição de energia reativa com medidores eletromecânicos


Com base nas expressões apresentadas no item 7.8.1 anterior, verificamos que se
utilizarmos medidores de energia ativa nos quais suas bobinas de potencial são
alimentadas por meio de tensões com 90° em atraso em relação àquelas que seriam
aplicadas normalmente para medição de energia ativa, obtemos como resultado um
conjugado proporcional à energia reativa da carga. Entre os métodos utilizados para se
obter as tensões atrasadas de 90°, podemos destacar:
 Utilização de autotransformadores defasadores específicos para medição a dois
elementos ou três elementos. Este método é muito utilizado (até que se conclua a
substituição por medidores eletrônicos) por não introduzirem constantes de
multiplicação adicionais, já que todos possuem relação 1:1. Para que se consiga
obter o defasamento desejado o ATD possui conexões e taps em pontos
definidos nos seus enrolamentos de modo que as tensões se combinam
fasorialmente e se consiga os deslocamentos de 90° desejados, conforme a
Figura 45.
97

Figura 45: Tensões defasadas de 90° - medição de energia reativa.

Conjugado aplicado ao medidor é proporcional à:


VI cos90     VI sen    VAr
Uma vez que se faz uso de composição fasorial de tensões para a
medição de energia reativa é necessário que se identifique a correta seqüência de
fases da instalação, pois dependendo dessa informação a referida combinação
deverá ser feita de modos distintos e conseqüentemente a ligação do ATD será
diferente.
A seqüência de fases diz respeito a ordem em que os valores instantâneos
de tensão e corrente de um sistema polifásico alcançam seus valores máximos
no tempo. Os diagramas para seqüência de fases ABC e CBA são apresentados
na Figura 3, onde, por convenção, se considera o sentido de rotação dos fasores
como contrário aos ponteiros de relógio.
 Outro método existente é o de cruzamento de fases (cross-phasing) no qual se
obtém as tensões defasadas de 90° combinando-se as tensões de uma fase com a
corrente de outra fase, no sistema trifásico onde normalmente as tensões estão
defasadas de 120°. Por exemplo, no sistema de fornecimento à 4 fios e um
medidor de 3 elementos, podemos combinar a corrente Ia com o potencial Vbc, a
corrente Ib com o potencial Vca e a corrente Ic com o potencial Vab, considerando
a seqüência de fases abc, o medidor irá registrar um valor equivalente à 3
vezes a energia requerida pela carga. O inconveniente deste método é que
necessita da aplicação de um fator multiplicador de 0,577 para compensar a
utilização das tensões fase-fase. Obviamente as bobinas de potencial devem
trabalhar com a tensão fase-fase do sistema.
 A energia reativa também pode ser obtida indiretamente pela medição da
grandeza Q. Aplicando-se tensões defasadas de um ângulo de 60°, o conjugado
do medidor será proporcional a uma certa quantidade convencionalmente
98

designada como “Q”. A equação que relaciona estas quantidades é dada pela
seguinte expressão:
2Q  W
VAr 
3
W  V  I  cos 
Q  Vq  I  cos60   

Q  Vq  I  cos60   cos   Vq  I  sen 60   sen    W  0,5  VAr 


3
2

Figura 46: Diagrama fasorial para cálculo da grandeza Q.

A medição de energia reativa utilizando-se o método “Q” avalia fator de


potência capacitivo até 30 graus.

11.8.3 Medição de energia reativa com medidores eletrônicos


A medição de energia reativa utiliza-se de medidores eletrônicos com os
mesmos princípios citados anteriormente no item 7.5, sendo o deslocamento de fases
realizado, geralmente, de forma analógica ou digitalizado.

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