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2. RESPONSABILIDADE DA PREFEITURA EM CRIAR E MANTER ATENDIMENTO
ADEQUADO EM ENTIDADE DE ABRIGO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
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Uniaõ o, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municíópios. No entanto, a sua diretriz
principal eó a municipalização do atendimento, inclusive com a criaçaõ o e
manutençaõ o de programas especíóficos, entre eles, a entidade de abrigo. Tudo
conforme arts. 86; 87; 88; 90, IV; e 101, VI, todos do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
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Joseó Luiz Moê naco da Silva, in “ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – COMENTAÁ RIOS”, Ed.
RT, paó ginas 128/129
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cumprimento de sua responsabilidade eó imperioso, sobrando espaço para sua
discricionariedade apenas no que tange aà forma de execuçaõ o. Isto eó , naõ o importa se
as vagas adequadas em entidade de abrigo se daraõ o por execuçaõ o direta do Poder
Puó blico Municipal ou por terceiros, mediante conveê nios ou parcerias. O que eó
inafastaó vel eó que, na auseê ncia de entidades naõ o-governamentais, a Prefeitura
forneça o quanto necessaó rio para o cumprimento da medida protetiva de abrigo.
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Celso Antoê nio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, ed. Malheiros, 24ª ed, p.
948/949.
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Por isso, o respeito à norma legal não está sujeito ao arbítrio
do administrador público. Só há discricionariedade quando de duas ou mais
providências possíveis, qualquer delas possa atender ao escopo legal.
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fachada, naõ o deve ter placas indicativas da natureza institucional do equipamento.
Tudo visando evitar a discriminaçaõ o do menor em situaçaõ o de abandono e manter
sua identidade e autonomia – arts. 5º e 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
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cozinha; h) aó rea de serviço; i) aó rea externa: com espaço que possibilite o convíóvio e
brincadeiras, mas sem equipamentos que estejam fora do padraõ o da realidade dos
menores abrigados; j) sala para equipe teó cnica: destinada ao desenvolvimento das
atividades de natureza teó cnica, em imoó vel separado da moradia dos menores; l)
sala de coordenaçaõ o e atividades administrativas: destinada a aó rea contaó bil,
financeira, documental, logíóstica etc., com prontuaó rios individuais dos menores, em
imoó vel separado da moradia dos menores; m) sala de reunioõ es: destinada a
realizaçaõ o de reunioõ es de equipe e de atividades grupais com as famíólias de origem.
Evidentemente, tudo com segurança e salubridade garantidas.
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Ainda deve o abrigo desenvolver programa de reinserção
familiar e desabrigo, visando assegurar os seguintes princíópios baó sicos,
determinados no art. 92, I, II e VIII do Estatuto da Criança e do Adolescente. Para
tanto, o programa deve prever: a) elaboraçaõ o de estudo psicossocial do menor e
seu nuó cleo familiar, inclusive com visita domiciliar, logo apoó s sua chegada; b) com
base neste estudo, criaçaõ o e implementaçaõ o de plano de atendimento individual
para o menor, com vistas aà sua reinserçaõ o familiar ou colocaçaõ o em famíólia
substituta, conforme o ponto de vista do que for mais beneó fico ao menor e possíóvel;
c) fortalecimento da autonomia do menor, ouvindo-o e considerando suas opinioõ es;
d) reavaliaçaõ o individual a cada seis meses, com comunicaçaõ o dos resultados aà
Vara da Infaê ncia e Juventude.
5.2. Irregularidades
5.2.1. Falta de Condições Sanitárias e Superlotação
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Haó superlotaçaõ o da entidade governamental destinada ao
abrigo de menores. Segundo informou a proó pria Vigilaê ncia Sanitaó ria Municipal, a
capacidade maó xima eó de 15 crianças e adolescentes, portanto, estando com mais de
46% do nuó mero de menores do que comporta.
Aleó m disto, nas treê s inspeçoõ es realizadas por tal oó rgaõ o, foi
anotado o seguinte:
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E a questaõ o estaó longe de ser resolvida. Falando dos que
estaõ o hoje na “Casa Abrigo”, apenas 5 menores teê m chances concretas de retorno
para o seio familiar. Dos menores restantes, os genitores de 15 deles estaõ o sendo
processados para a perda do poder familiar e, com relaçaõ o aos outros 2, apenas naõ o
existe açaõ o de destituiçaõ o por naõ o haver vantagens reais para eles 5. De outro lado,
naõ o se verifica a existeê ncia de investimento na aó rea, por parte da Prefeitura, o que
torna claro o interesse de agir do Ministeó rio Puó blico, na modalidade necessidade,
na presente demanda.
ESTATÍSTICAS
Número de
Entrada
abrigados
Antes de 2008 8
2008 5
2008 e 2009 Ateó setembro de 14
9
2009
total 22
Número de
abrigados
com chances reais
de retorno para a 5
famíólia
ateó 2 anos de
5
idade
de 3 a 6 anos de
sem chances de 5
idade 17
retorno -
6 a 11 anos de
5
idade
adolescentes 2
total 17 22
Número de Número de
Idade Idade
abrigados abrigados
Crianças -1 1 18
1 2
2 2
3 2
4 2
5 2
6 2
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Trata-se de uma menina com 11 anos e um adolescente de 13 que dificilmente encontrarão
interessados para adoção.
10
8 1
9 2
11 2
13 1 2
Adolescentes
14 1
total 20
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Percebe-se a completa ineó rcia do Poder Puó blico Municipal
que, mesmo diante da instauraçaõ o de inqueó rito civil pelo Ministeó rio Puó blico e das
inuó meras reunioõ es realizadas, conforme as atas que estaõ o no Inqueó rito Civil, que
serve de supedaê neo para a presente demanda, nada fez para melhorar a falta de
material humano e auseê ncia de capacitaçaõ o adequada.
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Em outra passagem, em total desrespeito aà orientaçaõ o
meó dica, constou: “A médica passou pra ele (além dos remédios que já estava
tomando), o carbamazepina 1 comprimido de manhã e outro a noite, os outros
permanecem a 2 de manhã e 2 à noite. Os da tarde foram tirados. Porém a Maria
Luiza disse p/ tomar um carbamazepina a tarde e outro à noite e não de manhã.
Achei uma boa idéia, assim ele não fica sem remédio”.
Estaõ o sendo desatendidas vaó rias normas baó sicas, entre elas,
o dever de respeito aà dignidade enquanto ser humano em desenvolvimento e o
dever de prevençaõ o, nos termos dos artigos seguintes do Estatuto da Criança e do
Adolescente:
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pode servir para ampliaçaõ o de um dos quartos. O quintal frontal tambeó m foi
melhorado. No entanto, ainda existe apenas um banheiro e as dimensoõ es dos
quartos e sala naõ o comportam o nuó mero de menores que hoje ali estaõ o acolhidos.
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Naõ o rara vez a Coordenadora do abrigo menciona que sabe
muito pouco ou quase nada sobre as histoó rias de vida dos menores.
(...)
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todas estas irregularidades, apontadas nos itens anteriores, a Prefeitura opta por
investir em outros segmentos que, legalmente, naõ o teê m prioridade sob a Infaê ncia.
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A instauraçaõ o do Inqueó rito Civil nº 04/08 deu-se com
fundamento faó tico na ata de vistoria realizada pelo Ministeó rio Puó blico e pelo Poder
Judiciaó rio na “Casa Abrigo” e no ofíócio nº 106/08 do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente endereçado ao Prefeito. As queixas iniciais,
em suma, eram a falta de funcionários capacitados e falta de programa de desabrigo.
Durante as investigaçoõ es, chegou-se aà informaçaõ o de que o local tambeó m carência
de condições normais sanitárias e de segurança, sequer possuindo alvaraó do corpo
de bombeiros e da vigilaê ncia sanitaó ria. Aleó m disto, tambeó m não tinha inscrição no
Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, ao contraó rio do que preconiza o
art. 90, paraó grafo uó nico do Estatuto da Criança e do Adolescente.
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irregularidades. Com isto expediu-se ofíócio para que a Municipalidade dissesse se
tinha interesse de firmar Termo e Ajustamento de Conduta, recebido no mesmo
meê s. Apenas assim, diante do concreto e proó ximo ingresso com açaõ o civil puó blica eó
que foram sanadas as imperfeiçoõ es, instalando-se extintores de inceê ndio e
transferindo os botijoõ es de gaó s GLP para local naõ o confinado.
8. PEDIDO
1.5. Em 10 (dez) dias, nomeie quantos cuidadores e auxiliares necessaó rios para
atender adequadamente os menores, nos termos desta inicial (uma equipe de
cuidadores e auxiliares, respectivamente com níóvel meó dio e níóvel fundamental,
sendo ambas com capacitaçaõ o especíófica na aó rea, sendo que, em cada turno, deve
haver um cuidador e um auxiliar para cada grupo de dez menores sem demandas
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especíóficas6, ou um cuidador e um auxiliar para cada oito menores, se entre eles
houver apenas um com demandas especíóficas, ou um cuidador e um auxiliar para
cada grupo de seis menores, no caso de haver dois ou mais usuaó rios com
demandas especíóficas. Isto sem falar nas equipes de vigilaê ncia, cozinha e limpeza
da casa)
2. Citação da requerida;
3. Seja dada procedência da açaõ o para condenar a requerida, com relaçaõ o aà “Casa
Abrigo”, criada pelo Decreto Municipal nº 1.286, de 03 de setembro de 1997, em 60
(sessenta dias), sob pena de multa diaó ria de treê s salaó rios míónimos:
3.1. Manter atendimento para grupo reduzido, de no maó ximo 20 menores;
3.2. Manter o aspecto físico do imoó vel, que deve ser em aó rea residencial, sem
distanciar-se excessivamente, do ponto de vista geograó fico e soó cio econoê mico,
da realidade de origem dos menores abrigados, e deve manter aspecto
semelhante ao de uma resideê ncia, de acordo com o padraõ o da comunidade, e,
sua fachada, naõ o deve ter placas indicativas da natureza institucional do
equipamento;
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profissional para limpeza e outro para a cozinha, em 40 horas semanais, para
garantir o míónimo de segurança e limpeza ao ambiente e a alimentaçaõ o dos
menores;
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abrigado, colhendo as suas impressoõ es e esclarecendo-o as razoõ es do
abrigamento; c) naõ o desmembramento de grupos de menores com víónculos de
parentesco; d) relaçaõ o afetiva e individualizada com cuidadores; e) definiçaõ o do
papel e valorizaçaõ o dos cuidadores, que devem ter suas opinioõ es ouvidas nos
estudos realizados; f) organizaçaõ o de registros sobre a histoó ria de vida e
desenvolvimento de cada abrigado; g) preservaçaõ o e fortalecimento da
conviveê ncia comunitaó ria; h) desligamento gradativo, preparando naõ o apenas o
menor que estaó saindo, como tambeó m os que permaneceraõ o na casa e a equipe
profissional; i) articulaçaõ o intersetorial para o desenvolvimento das açoõ es:
contato perioó dico com Conselho Tutelar, Justiça da Vara da Infaê ncia e Juventude,
Ministeó rio Puó blico, unidades da Rede de Atendimento do municíópio e outros,
com reunioõ es; j) previsaõ o de capacitaçaõ o e formaçaõ o contíónua do profissional;
3.6. Criar e implantar programa de reinserçaõ o familiar e desabrigo, prevendo: a)
elaboraçaõ o de estudo psicossocial do menor e seu nuó cleo familiar, inclusive com
visita domiciliar, logo apoó s sua chegada; b) com base neste estudo, criaçaõ o e
implementaçaõ o de plano de atendimento individual para o menor, com vistas aà
sua reinserçaõ o familiar ou colocaçaõ o em famíólia substituta, conforme o ponto de
vista do que for mais beneó fico ao menor e possíóvel; c) fortalecimento da
autonomia do menor, ouvindo-o e considerando suas opinioõ es; d) reavaliaçaõ o
individual a cada seis meses, com comunicaçaõ o dos resultados aà Vara da Infaê ncia
e Juventude;
3.7. Garantir condições sanitárias, obtendo-se o alvaraó da Vigilaê ncia Sanitaó ria
Municipal e Estadual, inclusive solucionando a questaõ o do mau cheiro do
banheiro.
4. Requisite-se da requerida a planta do imóvel e a lista com todos os funcionários
atualmente na “Casa Abrigo”, indicando seus nomes, suas funçoõ es e carga horaó ria,
bem como quantos profissionais e em quais funçoõ es existem em cada turno
(diurno e noturno, dias uó teis e finais de semana);
5. Provar o alegado por todos os meios de prova admissíóveis em direito, sem
exceçaõ o de nenhum, especialmente pelo depoimento das testemunhas a seguir
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arroladas, bem como produçaõ o de prova documental, períócia, estudo social, se
necessaó rio.
6. Daó -se aà causa o valor de R$ 1.000,00 para efeitos de alçada, aguardando isençaõ o
de custas.
Rol de testemunhas:
SANDRA REIMBERG
Promotora de Justiça
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