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Capı́tulo 1

Esforço transverso

Como vimos anteriormente, o esforço transverso é a resultante das tensões tangenciais:


Z
Vy = τxy dA (1.1)
A
Z
Vz = τxz dA (1.2)
A
Vimos também que, por equilı́brio:

τxy = τ yx τxz = τ zx τyz = τ zy (1.3)

Figura 1.1: Beer et al. (2003)

Esta condição, embora necessária, não é suficiente para definir o estado de tensão devido ao esforço
transverso.
A igualdade entre as tensões tangenciais em duas faces, representada acima, mostra ainda que as
tensões no bordo da secção têm que ser paralelas a este. Se esse não fosse o caso, existiriam tensões na
face da peça o que é impossı́vel....
Vamos começar por analisar uma viga constituı́da por duas tábuas de madeira, que podem ou não
estar pregadas uma à outra.
Como é fácil de concluir desta figura, a existência de uma ligação entre as duas tábuas altera o
comportamento do sistema. Ou seja, a ligação está sujeita a tensões, e portanto, numa viga à flexão

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1.1. TEORIA DE COLLINGNON

Figura 1.2: Cervera Ruiz and Blanco Dı́az (2001)

simples existem tensões tangenciais na direcção do eixo da viga. Por equilı́brio, também têm que existir
tensões tangenciais verticais, na secção transversal.

1.1 Teoria de Collingnon


Vamos considerar uma barra sujeita à flexão e a esforço transverso.

Figura 1.3:

Se considerarmos duas secções transversais muito próximas (A e A’), temos momentos flectores ligei-
ramente diferentes. Como tal, teremos também tensões normais ligeiramente diferentes.

Figura 1.4:

Vamos agora considerar o equilı́brio do troço entre estas duas secções, A e A’.
Vamos agora cortar este troço por um plano horizontal, como representado na Figura 1.6. As regiões
assim obtidas têm de estar em equilı́brio.

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CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO

Figura 1.5:

Figura 1.6:

Para que exista equilı́brio, a resultante de todas as tensões horizontais abaixo do corte tem que ser
nula.
Chamemos à parte da secção transversal abaixo do corte (plano vertical) A, e à secção horizontal B.
Nesse caso:

My My + dMy
Z Z Z
z+ τ− z=0 (1.4)
A Iy B A Iy

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1.1. TEORIA DE COLLINGNON

Figura 1.7:

Figura 1.8:

Logo:

dMy
Z Z
τ− z=0 (1.5)
B A Iy
Passando para fora do integral as constantes, temos:

dMy
Z Z
dx τ− z=0 (1.6)
C Iy A
R
Sabendo que A z é o momento estático relativo ao eixo y, Say , podemos simplificar como:

dMy Say
Z
τ= (1.7)
C dx Iy
Sabendo que a derivada do momento flector dMx /dx é o esforço transverso, obtemos:

Say
Z
f= τ =V (1.8)
C Iy
em que Iy é a inércia da secção transversal, e Say é o momentos estático da região acima ou abaixo do
corte ao longo do qual se calculam as tensões.
Esta dedução mostra que, se partirmos uma secção transversal em duas, o fluxo de tensão é dado por:

Say
Z
f= τ =V (1.9)
C Iy
O fluxo pode ser visto como a soma das tensões perpendiculares ao corte, ao longo deste. Como
exemplo considere-se uma viga constituı́da por 3 tábuas pregadas umas às outras, como representado

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CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO

na Figura 1.9. Calcule a resistência que tem que ter a ligação entre as tábuas, admitindo um esforço
transverso de 500kN.

Figura 1.9: Beer et al. (2003)

Podemos calcular a soma da força de corte entre a tábua de cima e a alma, usando:

Say
Z
f= τ =V (1.10)
C Iy
Assim

Figura 1.10: Beer et al. (2003)

em que

Say = A · zg = (0.020 × 0.100) × 0.060 = 120 × 10−6 m3 (1.11)


A momento de inércia da figura em relação ao eixo horizontal baricentrico é dada por:

0.1 × 0.143 0.1 × 0.103 0.02 × 0.103


Iy = − + = 16.20 × 10−6 m4 (1.12)
12 12 12

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1.1. TEORIA DE COLLINGNON

Logo o fluxo de corte é:

V · Say 500kN · 120 × 10−6 m3


f= = = 3704kN/m (1.13)
Iy 16.20 × 10−6 m4
Assim, na ligação entre a alma e o banzo superior, temos que ter uma resistência, por metro de
comprimento, superior a 3704 kN/m
Considerando que os pregos estão espaçados de 25 mm, a força em cada parafuso é:

F = d × f = 0.025 × 3704 = 92.6kN (1.14)


O formulação apresentada é válida para calcular o fluxo de tensão em qualquer secção. No entanto,
na maioria dos casos, é necessário calcular as tensões num determinado ponto da secção.
Ao contrário do que acontece para as tensões normais, não há uma expressão geral, e para cada
geometria temos que assumir algo que seja razoável.
O caso mais simples consiste em tensões tangenciais em secções rectangulares.
Podemos assumir que as tensões são paralelas ao esforço transverso e constantes na largura da secção.
Isso é verdade para secções altas. Conforme o racio hb aumenta, isto deixa de ser verdade.
Consideremos, como exemplo, as tensões tangenciais provocadas numa secção rectangular dealtura h
e largura b, por um esforço transverso vertical.

Figura 1.11:

Vamos considerar que a secção é dividida em duas partes, por uma linha horizontal.
Considerando a região de cima, temos:

Sax
f =V (1.15)
IY
O momento estático é dado por:
 
h x
Sax = xg A = − x·b (1.16)
2 2
Logo
h x

2 − 2 x·b
f =V bh3
(1.17)
12

Assumindo que a tensão é vertical e constante ao longo da largura, obtemos:

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CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO

Figura 1.12:

f 6 (h − x) x
τ= =V (1.18)
b bh3
Para metade da altura, x = h/2, temos:

6 (h/2) h/2
τ =V (1.19)
bh3

1.5V
τ= (1.20)
bh
Obtemos assim o diagrama de tensões tangenciais ao longo da altura representado na Figura 1.13.

Figura 1.13:

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1.1. TEORIA DE COLLINGNON

No entanto, as tensões tangenciais não são na realidade constantes ao longo da largura. A sua distri-
buição ao longo da largura da viga é semelhante ao apresentado na Figura 1.14.

Figura 1.14: Beer et al. (2003)

A relação entre a tensão média e a tensão máxima e mı́nima ao nı́vel da linha neutra é dada por:

b
h 0.25 0.5 1 2 4 6 10 20 50
τmax
τmed 1.008 1.033 1.126 1.396 1.988 2.582 3.770 6.740 15.650
τmin
τmed 0.996 0.983 0.940 0.856 0.805 0.800 0.800 0.800 0.800

Verifica-se assim que para rectângulos finos a tensão é quase constante, mas para rectângulos muito
largos a diferença entre resultados é enorme, e esta simplificação deixa de ser válida.
O esforço transverso em estruturas em betão provoca tensões substancialmente diferentes daquelas
descritas até aqui. Como tal a teoria das tensões tangenciais usando a teoria da elasticidade reduz-se
fundamentalmente à análise de estruturas metálicas. Assim é fundamental analisar as formas de secções
mais comuns em estruturas metálicas, como sejam as secções de parede fina.
Estas secções têm em comum serem todas constituı́das por troços muito longos e pouco espessos. Para
estas secções pode-se admitir que a tensão é constante ao longo da espessura da parede. Basicamente
temos
e
=∞ (1.21)
L
Como vimos anteriormente, as tensões no bordo têm que ser paralelas ao bordo. Portanto necessari-
amente temos tensões paralelas às paredes finas.
As tensões provocadas por esforços transversos em qualquer ponto de uma secção de parede fina
fechada, podem ser calculadas como:

Say
Z
f= τ =V (1.22)
C Iy
Assumindo tensões constantes ao longo da espessura, temos:

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CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO

Figura 1.15:

Say
τ =V (1.23)
Iy · e
em que e é a espessura na zona em que se corta a secção.

Exemplo
Seja o perfil abaixo, um perfil HEA 200, sujeito a um esforço transverso positivo de 100 kN.

Figura 1.16: Figura 1.17:

Se se considerar que as paredes são muito finas, a secção pode ser analisada como o conjunto de
segmentos de recta representado na Figura 1.17. Assim a secção pode ser ver como se apresenta a na
Figura 1.17.
As tensões podem ser calculadas como:

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1.1. TEORIA DE COLLINGNON

Figura 1.18: Figura 1.19:

Say
f =V (1.24)
Iy · e
O esforço transverso V é igual a 100 kN vertical para baixo. O momento de inércia é dado em tabelas
de perfis metálicos:
4
Iy = 36.92 × 10−6 m (1.25)
Para calcular a tensão em cada ponto, é necessário dividir a secção em duas partes passando pelo
ponto que se quer analisar. Vamos analisar um ponto no lado esquerdo do banzo superior.
O momento estático é:
0.190
Sy = A · yg = (x · 0.010) × = 9.50 × 10−4 x (1.26)
2
Ou seja, a distribuição de tensões ao longo do banzo superior é linear. Começa em zero no ponto A e
termina em

100 (9.5 − ×10−4 0.095) 100 (9.5 − ×10−4 0.095)


τ= = = 24.4 × 103 kPa (1.27)
Ie 36.92 × 10−6 · 0.01
Obtemos assim o diagrama representado na Figura 1.19.
Para calcular as tensões do lado direito, voltamos a partir a secção. Podemos considerar a região à
esquerda ou à direita do corte.
No entanto, por simetria, é fácil concluir que as tensões são iguais.
Agora precisamos de calcular as tensões na alma. Para tal voltamos a dividir a secção em duas partes.
O momento estático de toda a área acima do corte é igual ao momento estático do banzo superior,
adicionado ao de parte da alma.
Assim

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CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO

Figura 1.20: Figura 1.21:

Figura 1.22: Figura 1.23:

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1.1. TEORIA DE COLLINGNON

0.190 x
Say = 0.190 · 0.010 · + x · 0.0065 · (0.095 − ) (1.28)
2 2
Temos portanto uma parábola. A análise desta parábola mostra que o valor máximo do momento
estático ocorre ao nı́vel do centro de massa, e que a equação é simétrica em relação ao eixo horizontal.
As tensões podem ser calculadas de modo semelhante ao anterior

100 (18.1 × 10−4 0.095)


τE = τG = = 75.2 × 103 kPa (1.29)
36.92 × 10−6 · 0.0065

100 (21.1 × 10−4 0.095)


τF = = 87.4 × 103 kPa (1.30)
36.92 × 10−6 · 0.0065
Já sabemos as tensões em cada ponto. Temos agora que analisar a direcção e sentido da tensões em
cada ponto.
Das propriedades das secções de parede fina, sabemos que as tensões são paralelas às paredes.
A resultante das tensões tem que ser tal que a resultante seja igual os esforços aplicados. Assim:

Figura 1.24: Figura 1.25:

1.1.1 Secções assimétricas


Até aqui falámos de secções simétricas sujeitas ao corte. Nesse caso dissemos que os esforços transversos
eram equivalentes a uma força aplicada no centro de massa, no plano da secção.
Vamos considerar uma secção que não seja bisimétrica, como a representada abaixo.
Se colocarmos uma carga vertical no centro de massa, não só a secção se deforma na vertical, como
roda no plano da secção. Ou seja, também torce.
Ou seja, uma força vertical aplicada no centro de massa não é equivalente a um esforço transverso,
mas um esforço transverso e um momento torsor.
O esforço transverso é equivalente a uma força vertical aplicada não no centro de massa, mas num
ponto denominado centro de corte. Se a força vertical for aplicada nesse ponto, a secção deforma-se na
vertical mas não torce.
Para calcular este ponto, temos que calcular o ponto em relação ao qual as tensões não provocam
momento. Olhemos novamente para a secção anterior. As tensões provocadas pelo esforço transverso
podem ser calculadas como feito anteriormente.

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CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO

Beer et al. (2003)

Figura 1.26:

Beer et al. (2003)

Figura 1.27:

As tensões instaladas têm que ser equivalentes ao esforço aplicado. Ou seja, a resultante das tensões
tem que ser igual ao esforço e o momento provocada pelas tensões tem que ser igual ao momento provocado
pelo esforço. Se considerarmos um ponto do lado esquerdo da secção, as tensões horizontais provocam,
em relação a esse ponto, um momento anti-horário, enquanto as tensões verticais, provocam um momento
no sentido horário. Estes dois momentos anulam-se num ponto, que denominamos centro de corte.
Ou seja, o centro de corte é localizado à esquerda da secção. Se a força for aplicada nesse ponto, não
temos rotação.
A distância e pode ser calculada igualando o momento provocado pelas tensões tangenciais a zero:

h h
F×+ F′ × − V × 2 = 0 (1.31)
2 2
O centro de corte tem algumas propriedades que facilitam o cálculo da sua posição.

• Se a secção tiver um eixo de simetria, o centro de corte está sobre esse eixo de simetria

• Se a secção tiver dois eixos de simetria, o centro de corte está sobre a intersecção dos dois eixos.

• Se a secção for constituı́das por duas paredes finas, o eixo de corte está na intersecção das duas
paredes

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1.1. TEORIA DE COLLINGNON

Beer et al. (2003)

Figura 1.28:

Figura 1.29: Beer et al. (2003)

Figura 1.30: Beer et al. (2003)

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Capı́tulo 2

Análise de tensões e extensões

Até agora calculámos as tensões provocada por um esforço. Em geral, temos mais que um esforço presente
numa secção. Mais ainda, verifica-se que a análise de tensões e deformações apresentada até aqui, é válida
não apenas para peças lineares, mas tembém para elementos bi-dimensionais ou tri-dimensionais.

2.1 Análise de tensões


Consideremos um elementos tri-dimensional de muito pequenas dimensões, como o representado na Figura
2.1, sujeito apenas a uma tensão de tracção.

Figura 2.1: Elemento tri-dimensional

Podemos considerar que este elemento é também traccionado nas outras duas direcções.

Figura 2.2: Elemento tri-dimensional

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2.1. ANÁLISE DE TENSÕES

Neste caso temos portanto três tensões normais independentes, uma segundo cada direcção (x, y,z).
Vamos demoninar cada uma destas tensões normais em função da sua direcção como σx , σy e σz , como
representado abaixo

σy

σx

σz

Figura 2.3: Elemento tri-dimensional

Além das tensões normais, podemos ter tensões tangenciais em todas as direcções. Considerando todas
estas tensões temos um total de nove tensões como representado na Figura 2.4.
σy
τyx
τyz
τxy

τzy σx
τxz
τzx
σz

Figura 2.4:

Estas tensões podem ser representadas na forma de uma matrix:


 
σx τxy τxz
[τ ] =  τyx σy τyz  (2.1)
τzx τyx σz
No caso de só existirem tensões num plano, podemos reduzir o tensor a:
 
σx τxy
[τ ] = (2.2)
τyx σy
Por equilibrio verifica-se que este tensor é sempre simétrico. Ou seja:

τxy = τxy (2.3)


τxz = τzz (2.4)
τyz = τzy (2.5)

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CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES

Esta matriz define o estado de tensão num ponto. Ou seja, permite saber se o material está próximo
da rotura e quais são as extensões do material. Deve notar-se, no entanto, que este estado de tensão só é
válido para um ponto. Diferentes pontos de uma estrutura, ou mesmo de uma secção, estão associados a
estados de tensão diferentes.

2.2 Análise de deformações


Também as deformações podem ser organizadas como uma matrix ou tensor, na forma:
 
εx γxy /2 γxz /2
[ε] =  γyx /2 εy γyz /2  (2.6)
γzx /2 γzy εz
em que ε representa o aumento de comprimento (extensão) segundo cada direcção, e γ representa a
variação de ângulo entre fibras inicialmente perpendiculares.
Num caso plano de deformação teremos:
 
εx γxy /2
[ε] = (2.7)
γyx /2 εy
Ao contrário das tensões, que não podem ser medidas, as extensões podem ser medidas com relativa
facilidade.
Tipicamente usam-se extensómetros eléctricos. Estes são compostos por pequenos fios eléctricos, cola-
dos à peça a ser analisada. Quando ocorre aumento de comprimento segundo a direcção do extensómetro
os fios aumentam de comprimento, fazendo variar as suas propriedades eléctricas.
Medindo estas cuidadosamente é possı́vel medir o aumento de comprimento e, consequentemente a
extensão segundo uma dada direcção.

Figura 2.5:

2.3 Relação tensão-deformação


Como vimos anteriormente, as tensões podem ser relacionadas com as deformações. Esta relação depende
do tipo de material, e pode assumir formais mais ou menos complexas. O caso mais simples corresponde a
materiais elásticos lineares isotrópicos. Materiais elásticos são materiais que, uma vez retiradas as tensões,
voltam à sua posição inicial. Os materias lineares

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2.4. TENSÕES EM FACETAS INCLINADAS

εx 1 −ν −ν 0 0 0 σx
    

 εy 


 −ν 1 −ν 0 0 0 
 σy 

εz = 1  −ν −ν 1 0 0 0 σz
    
   (2.8)

 γxy  E
  0 0 0 2(1 + ν) 0 0 
 τxy 

 γxz   0 0 0 0 2(1 + ν) 0  τxz 
γyz 0 0 0 0 0 2(1 + ν) τyz

2.4 Tensões em facetas inclinadas


Vamos considerar que temos a peça abaixo, colada como se representa na Figura 2.6.

Figura 2.6: Peça colada

Para saber se a cola resiste às forças aplicadas, é necessário saber as tensões na cola. Para tal, podemos
considerar apenas a metade esquerda da peça.

τ
F σ

Figura 2.7:

Figura 2.8: Beer et al. (2003)

Como anteriormente podemos considerar que esta parte da estrutura está em equilibrio.

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CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES

As equações de equilı́brio são:


Soma de forças segundo x1 :

P
Fx1 = 0 (2.9)
2
⇒ σx1 · A0 − σy sin θA0 − τxy cos θ · sin θ · A0 − σx cos2 θ − τxy cos θ · sin θ · A0 = 0 (2.10)
2
⇒ σx1 = σx cos θ + σy sin2 θ + 2τxy cos θ · sin θ (2.11)

Soma de forças segundo y1

P
Fy1 = 0 (2.12)
2
cos2 θ

⇒ τx1 y1 = − (σx − σy ) sin θ cos θ + τxy − sin θ (2.13)
Ou seja, se considerarmos dois referenciais diferentes em torno do mesmo ponto, obtemos tensões
diferentes.
Assim, para um estado plano de tensão, as tensões num diferencial rodado de θ são dadas por:

σx1 = σx cos2 θ + σy sin2 θ + 2τxy cos θ · sin θ (2.14)


= − (σx − σy ) sin θ cos θ + τxy cos2 θ − sin2 θ

⇒ τx1 y1 (2.15)

Reescrevendo as equações, temos

σx + σy σx − σy
σx 1 = + cos 2θ + τxy sin 2θ (2.16)
2 2
σx + σy σx − σy
σy 1 = − cos 2θ − τxy sin 2θ (2.17)
2 2
σx − σy
τ x 1 y1 = − sin 2θ + τxy cos 2θ (2.18)
2
Um raciocı́nio semelhante pode ser utilizado para as extensões, substı́tuindo a tensão normal, σ, pela
extensão, ε, e as tensões tangenciais, τ por metade das distorções, γ/2. Assim:

εx + εy εx − εy γxy
εx1 = + cos 2θ + sin 2θ (2.19)
2 2 2
εx + εy εx − εy γxy
εy1 = − cos 2θ − sin 2θ (2.20)
2 2 2
γx1 y1 εx − εy γxy
=− sin 2θ + xy cos 2θ (2.21)
2 2 2
Em geral, saber a deformação numa direcção não é suficiente, e são associados vários extensómetros
para dar a extensão em várias direcções diferentes.
Como tal é comum o uso de rosetas, com 3 extensómetros inclinados em diferentes ângulos.
Para a segunda roseta podemos usar a expressão descrita acima, para calcular o tensor das extensões:

εx + εy εx − εy γxy
ε= + cos 2θ + sin 2θ (2.22)
2 2 2
Assim temos um sistema de 3 equações a 3 incógnitas:

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2.5. CRITÉRIOS DE ROTURA

Figura 2.9:

εx + εy εx − εy γxy
ε−30 = + cos 2(−30◦ ) + sin 2(−30◦ ) (2.23)
2 2 2
εx + εy εx − εy γxy
ε90 = + cos 2(90◦ ) + sin 2(90◦ ) (2.24)
2 2 2
εx + εy εx − εy γxy
ε210 = + cos 2(210◦ ) + sin 2(210◦ ) (2.25)
2 2 2

em que os valores ε−30 , ε90 e ε210 são lidos nos extensómetros.

2.5 Critérios de rotura


A principal pergunta que se coloca quando conhecemos o estado de tensão num ponto é saber se ocorre
rotura do material nesse ponto ou não.
Quando temos apenas uma tensão normal podemos saber se ocorre rotura por comparação directa com
um ensaio de tracção. Se tivermos apenas tensões tangenciais poderiamos utilizar um ensaio de torção.
E quando temos tensões normais e tangenciais?
É agora fundamental lembrar que o estado de tensão num ponto é descrito por um tensor num dado
referencial.
 
σx τxy τxz
σ =  τyx σy τyz  (2.26)
τzx τzy σz

Isto para um referencial xyz. E para outro referencial?


Comecemos por analisar um estado plano de tensão. Um estado plano de tensão é caracterizado por
um tensor do tipo:

20
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES

 
σx τxy 0
σ =  τyx σy 0  (2.27)
0 0 0
Este estado de tensão é comum em elementos de estruturas planas.
Em particular é o estado de tensão existente quando, numa viga, apenas existem momento flector,
esforço axial e um esforço transverso.
Consideremos novamente a expressão para a tensão em facetas inclinada.

σ + σy σx − σy

 σ= x

+ cos 2θ + τxy sin 2θ
2 2 (2.28)
 σx − σy
 τ =− sin 2θ + τxy cos 2θ
2
Podemos escrever isto como

x = A + B cos 2θ + C sin 2θ
(2.29)
τ = −B sin 2θ + Ccos2θ
Isto é a equação paramétrica de uma circunferência. Nesta circunferência, as tensões normais são
traçadas no eixo das ordenadas e as tensões tangenciais do eixo das abcissa. Esta circunferência, designada
por circunferência de Mohr, permite analisar as tensões num ponto.
Considere-se a tensão normal positiva se for de tracção, e a tangencial se for segundo o sentido dos
ponteiros do relógio. Consideremos as tensões num rectângulo elementar

Figura 2.10:

Só nos interessam as tensões em duas facetas perpendiculares


Tracemos as tensões num gráfico. A tensão normal segundo o eixo horizontal e a tangencial no eixo
vertical. Cada face corresponde a um ponto. As tensões normais são consideradas positivas se forem para
fora, as tensões tangenciais são positivas se forem no sentido dos ponteiros do relógio.
Se os dois pontos forem traçados usando facetas perpendiculares, então são pontos opostos do cı́rculo
de Mohr. Basta considerar o segmento de recta que os une como diâmetro do cı́rculo.
Cada ponto da circunferência corresponde a uma face. Nomeadamente, os pontos correspondentes à
intersecção do circulo com o eixo horizontal, corresponde à tensão normal máxima e mı́nima.

21
2.5. CRITÉRIOS DE ROTURA

Figura 2.11:

Figura 2.12:

Estas duas tensões designam-se por tensões principais, e podem ser calculadas, ou usando o cı́rculo de
Mohr ou calculando os valores próprios do tensor das tensões.
Verifica-se ainda que o ângulo que 1OA é o dobro do ângulo que a faceta de tensão máxima faz com
a faceta 1.
Portanto o cı́rculo de Mohr pode servir para calcular as tensão principais, assim como o ângulo que
as facetas correspondentes, denominadas facetas principais.
Se se considerar este referencial, o tensor resume-se a:
 
σx 0
[σ] = (2.30)
0 σy
Este referencial denomina-se referencial principal. Os eixos associados a este referencial denominam-se
eixos principais. Verifica-se que as tensões normais assim obtidas são as tensões máximas e mı́nimas.
Estes valores coincidem com os valores e vectores próprios do tensor das tensões, e podem ser calculados
com os métodos estudados em álgebra.

22
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES

Figura 2.13:

Figura 2.14:

23
2.6. TRI-CÍRCULO DE MOHR

2.6 Tri-cı́rculo de Mohr


No caso de um estado tri-dimensional de tensão, a mudança de referencial é feita de um modo semelhante.
As tensões principais podem ser calculadas usando métodos de álgebra linear ou métodos numéricos.
Analiticamente, o cálculo pode ser feito considerando os invariantes do tensor, dados por:

I1 = σx + σy + σz (2.31)
2 2 2
I2 = σx σy + σx σz + σy σz − τxy − τxz − τyz (2.32)
I3 = det[σ] (2.33)

Nesse caso, as tensões principais são as raı́zes da equação:

σ 3 − I1 σ 2 + I2 σ − I 3 = 0 (2.34)
As direcções principais podem ser calculadas resolvendo a equação:

(σ − σi I)ni = 0 (2.35)
em que ni é o vector perpendicular à face superior.
Consideremos o seguinte exemplo:
 
100. 30. 40.
σ =  30. 50. −30.  (2.36)
40. −30. −60.

I1 = σx + σy + σz (2.37)
2 2 2
I2 = σx σy + σx σz + σy σz − τxy − τxz − τyz (2.38)
I3 = det[σ] (2.39)

I1 = 100 + 50 − 60 = 90 (2.40)

I2 = 100 · 50 + 100(−60) + 50(−60) − 302 − 402 − (−30)2 = −7400 (2.41)

I3 = det[σ] = −488000 (2.42)


Assim

σ 3 − I1 σ 2 + I2 σ − I 3 = 0 (2.43)

σ 3 − 90σ 2 − 7400σ − (−488000) = 0 (2.44)


Resulta

σI = 117.64 (2.45)
σII = 52.05 (2.46)
σIII = −79.69 (2.47)

24
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES

Quando temos um estado tri-dimensional de tensões, temos três tensões principais. Nesse caso pode-
mos utilizar uma representação semelhante ao cı́rculo de Mohr, denominado tri-cı́rculo de Mohr.
Consideremos que conhecemos as três tensões principais (por determinação dos valores próprios do
tensor das tensões). Se traçarmos cada uma destas tensões num eixo horizontal, e unirmos cada duas
tensões por uma circunferencia, obtemos algo como representado na Figura 2.15.

σIII σII σI

Figura 2.15:

Verifica-se que considerando todas as orientações tridimensionais, o estado de tensão uma faceta
corresponde sempre a um dos pontos da zona a sombreado na Figura 2.16.

σIII σII σI

Figura 2.16:

Verifica-se portanto que a tensão tangencial máxima é dada por

σ1 − σII
τmax = (2.48)
2
Quando se analisa um estado plano de tensão utilizando o tri-cı́rculo, uma das tensões principais é
nula. Assim, podemos ter uma das situações representadas nas Figuras 2.17 ou 2.18.
No primeiro caso as duas tensões principais no plano são positivas. No segundo caso, as tensões no
plano têm sinais contrários.

25
2.6. TRI-CÍRCULO DE MOHR

σIII σII σI

Figura 2.17:

σIII σII σI

Figura 2.18:

2.6.1 Critérios de rotura


Diferentes materiais atingem a rotura de modos diferentes. Cada grupo de materiais pode ser associado a
um critério de rotura que, de modo aproximado, estabelece quais as combinações de tensões que conduzem
à rotura.

2.6.2 Materiais Dúcteis


Um dos mais simples critérios de rotura é o Critério da tensão tangencial máxima
Segundo este critério um material rompe quando a tensão tangencial numa faceta atinge um deter-
minado valor. O valor da tensão tangencial máxima está relacionado com a distancia entre as tensões
principais.
Consideremos um estado plano de tensão (ou seja, uma das tensões principais é nula). Podemos ter
as outras duas tensões com o mesmo sinal (ver Figura 2.17). Nesse caso a tensão tangencial máxima é
igual a metade tensão máxima em tracção simples.
Se as duas tensões principais tiverem sentidos inversos (ver Figura 2.18), a tensão tangencial máxima
é dada por metade da diferença entre as duas tensões pricipais.
Num ensaio de tracção, a tensão tangencial máxima é metade da tensão de cedência à tracção, σy .
Portanto não há cedência enquanto:

|σI | ≤ σy (2.49)
|σII | ≤ σy (2.50)
|σI − σII | ≤ σy (2.51)

26
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES

Estas condições são equivalentes ao representado na Figura 2.19.

Figura 2.19: Beer et al. (2003)

Um segundo critério, mas ajustado à realidade é o critério de Von Mises, que define a rotura em termos
da energia distorcional máxima.
Nesse caso a condição a verificar, para um estado plano de tensão, é:

2
σI − σI σII + σII ≤ σy2 (2.52)

Se só existir tensão normal numa face e uma tensão tangencial:


 
σx τxy
[σ] = (2.53)
τxy 0
O critério resume-se a:

σx2 + 3τxy
2
≤ σy2 (2.54)

Este critério pode ser representado como:

Figura 2.20: Beer et al. (2003)

27
2.6. TRI-CÍRCULO DE MOHR

2.6.3 Materiais frágeis


Os materiais frágeis, como sejam as pedras ou o vidro, têm um comportamento na rotura completamente
diferente.

Critério de Coulomb
Diz que a rotura não se dá se ambas as tensões normais forem menores que a tensão obtida em ensaios
de tracção:

|σI | ≤ σu (2.55)
|σII | ≤ σu (2.56)

Pode ser representada como:

Figura 2.21: Beer et al. (2003)

Este critério tem o defeito de considerar o comportamento à tracção e à compressão iguais. Na maioria
dos materiais frágeis isto não é verdade, e portanto, o campo de aplicação deste critério é relativamente
limitado.

Critério de Mohr
No critério de Mohr utilizam-se vários ensaios (tracção, compressão e corte). Traça-se a circunferência de
Mohr associado a cada um dos estados de tensão na rotura. O critério estabelece que não se dá a rotura
se o cı́rculo de Mohr associado ao estado de tensão estiver no interior da envolvente dos estados de tensão
obtidos dos ensaios.
Como exemplo, considere-se que são realizados três ensaios: tracção pura, compressão pura e torção
pura. A rotura para cada um destes ensaios ocorre para estados de tensão diferentes. Se cada um destes
estados de tensão for representado no cı́rculode Mohr obtemos algo como se apresenta na Figura 2.22.
Quando se considera apenas 2 ensaios, temos uma menor exactidão no resultados, resultando num
critério de rotura menos correcto. Isto acontece, por exemplo, para os resultados representados na Figura
2.23.

28
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES

Figura 2.22: Beer et al. (2003) Figura 2.23: Beer et al. (2003)

29
2.6. TRI-CÍRCULO DE MOHR

30
Capı́tulo 3

Calculo de deformações

Como vimos anteriormente, quando sujeitas a uma variação de temperatura ou a esforços, as estruturas
apresentam deformações. Em cada ponto, estas são muito pequenas. No entanto, quando somadas para
toda a estrutura implicam deslocamentos e rotações que são significativos, e não raramente, observáveis
a olho nu.
Todos os esforços produzem deslocamentos ou rotações das estruturas. No entanto, quando existem,
o momento flector e o momento torsor são os esforços que maiores deslocamentos produzem.
Existem fundamentalmente dois métodos para calcular deslocamentos ou rotações. O primeiro baseia-
se na integração das deformações em cada secção, o segundo baseia-se na análise do equilı́brio energético.

3.1 Integração das deformações


Quando se calcula os deslocamentos ou rotações numa estrutura, é necessário separar a parcela dos
deslocamentos devidos a cada esforço.

3.1.1 Momento torsor


O ângulo de torção de uma barra com simetria radial sujeito a um momento torsor é:

∂ϕ Mt
= (3.1)
∂x G Ip
em que ϕ é o ângulo de rotação, Mt é o momento torsor, G é o módulo de distorção e Ip é o momento
polar de inércia.
Se o momento for constante numa barra, a rotação relativa entre duas secções, A e B, é:
Z B Mt Mt L
ϕAB = dx = (3.2)
A G Ip G Ip

3.1.2 Momento flector


Vimos no capı́tulo ?? que os momentos flectores provocavam um diagrama de tensões lineares. A este
diagrama de tensões está associado um diagrama de extensões também linear, como se representa na
Figura 3.1.
Este diagrama de extensões está associado a uma curvatura dada por:

1 M
χ= = (3.3)
ρ EI

31
3.1. INTEGRAÇÃO DAS DEFORMAÇÕES

σ ε

Figura 3.1: Diagrama de tensões e extensões

em que χ é a curvatura, ρ é o raio de curvatura, M é o momento flector, E é o módulo de elasticidade de


Young, e I é o momento de inércia.
Com base na teoria das curvas, concluı́-se que:

1 y ′′
χ= =− (3.4)
ρ (1 + (y ′ ) 2 )3/2
em que y é o deslocamento transversal, e y ′ e y ′′ são a primeira e a segunda derivada do deslocamento
transversal.
No entanto, podemos considerar que para situações correntes, quer o deslocamento quer a sua derivada
são muito pequenas. Assim, podemos dizer que:
 2 3/2
1 + y′ ≃1 (3.5)
A equação ( (3.4)) resume-se a:

1 M
χ= = −y ′′ = (3.6)
ρ EI
Esta equação, denominada equação deferencial da linha elástica, pode ser utilizada para calcular as
deformações associadas ao momento flector. Assim y traduz os deslocamento perpendiculares à barra,
enquanto y ′ traduz as rotações.
Consideremos, como exemplo, a deformação de uma barra bi-apoiada, sujeita a uma carga uniforme-
mente distribuı́da.

3 kN/m

5m

O cálculo de reacções e diagramas de esforços é relativamente simples, resultando nos diagramas


representados na Figura ...
A partir destes diagramas é possı́vel determinar os diagramas de esforços, relembrando que:

∂M
=V (3.7)
∂x
∂V
= −p (3.8)
∂x

32
CAPÍTULO 3. CALCULO DE DEFORMAÇÕES

7.5

V
7.5

9.375

Figura 3.2:

Assim:

V = 7.5 − 3 · x (3.9)
3
M = 7.5 · x − x2 (3.10)
2
Utilizando a equação da elástica, podemos escrever:
!
M 1 3
′′
y =− =− 7.5 · x − x2 (3.11)
EI EI 2

Primitivando duas vezes chegamos a:

!
′ 1 7.5 2 1 3
y =− · x − x + C1 (3.12)
EI 2 2
!
1 7.5 3 1 4
y=− · x − x + C1 · x + C 2 (3.13)
EI 6 8
(3.14)

Sabemos que o deslocamento vertical nos apoios é nulo. Assim:

y(x = 0) = C2 = 0 (3.15)
!
1 7.5 3 1 4
y(x = 5) = − · 5 − 5 + C1 · 5 = 0 → C1 = 15.625/EI (3.16)
EI 6 8

Logo o deslocamento a meio vão é:

33
3.1. INTEGRAÇÃO DAS DEFORMAÇÕES

24.41
ymax = y(x = 2.5) = (3.17)
EI
e a rotação máxima é:

15.625
y ′ max = y ′ (x = 0) = (3.18)
EI
A deformada obtida é:


ymax
ymax

Figura 3.3:

Como segundo exemplo, considere-se a estrutura representada abaixo:

3 kN/m

C
A B

4m 2m
Figura 3.4:

A equação do diagrama de momentos é dada por:

3
M = −36 + 15 · x − x2 (3.19)
2
No entanto, neste caso há a considerar dois troços: um do encastramento à rótula, outro da rótula até
ao apoio de roletes. Isto é necessário pois na rótula as rotações à esquerda e à direita serão diferentes, e
há um ponto de descontinuidade da equação.
Para o primeiro troço e considerando a origem no ponto da esquerda temos:

34
CAPÍTULO 3. CALCULO DE DEFORMAÇÕES

36

Figura 3.5:

M 1 3
′′
yAB =− = 36 − 15 · x + x2 (3.20)
EI EI 2
1 1

yAB = 36 · x − 7.5 · x2 + x3 + C1 (3.21)
EI 2
1 1
yAB = 18 · x2 − 2.5 · x3 + x4 + C1 · x + C2 (3.22)
EI 8
′ ) são nulos na origem, temos que
Sabendo que quer o deslocamento (yAB ) quer a rotação (yAB

C1 = 0 (3.23)
C2 = 0 (3.24)

Para o segundo troço, o diagrama de momentos segue a mesma equação, logo:

M 1 3
′′
yBC =− = 36 − 15 · x + x2 (3.25)
EI EI 2
1 1

yBC = 36 · x − 7.5 · x2 + x3 + C3 (3.26)
EI 2
1 1
yBC = 18 · x2 − 2.5 · x3 + x4 + C3 · x + C4 (3.27)
EI 8
Quando às condições de fronteira, sabemos que no apoio C o deslocamento vertical é nulo. Sabemos
ainda que o deslocamento do ponto B é igual para o troço AB e para o troço BC. Assim

yBC (x = 6) = 0 (3.28)
yBC (x = 4) = yAB (x = 4) (3.29)

35
3.2. MÉTODOS ENERGÉTICOS

É assim possı́vel calcular as restantes constantes:

135
C3 = − (3.30)
EI
540
C4 = (3.31)
EI
A deformada é portanto:

C
A B

Figura 3.6:

3.2 Métodos energéticos


Existem vários métodos baseados no princı́pio da conservação da energia úteis para o cálculo de de-
formações em estruturas. Nesta disciplina vamos apenas analisar o método da unidade fictı́cia de carga.
Este método permite calcular de um modo eficaz o deslocamento ou rotação de um determinado ponto
de uma estrutura.
O calculo de deformações usando este método pode ser dividido nos seguintes passos:

1. cálculo dos diagramas de esforços presentes na estrutura;

2. aplicação de uma carga unitária fictı́cia segundo o deslocamento ou rotação que se pretende (se se
pretender um deslocamento aplica-se uma força com a mesma direcção, se se pretende uma rotação
aplica-se um momento);

3. calculo dos diagramas de esforços associados à carga fictı́cia;

4. cálculo do deslocamento com a expressão:

M M N N Mt Mt V V
δ= + + + (3.32)
EI EA GJ GA′
em que M e M são os momentos flectores devidos ao carregamento e à carga fictı́cia, respectivamente,
N e N os esforços axiais, MT e Mt os momentos torsores, V e V os esforços transversos, E o módulo
de Young, G o módulo de distorção, I a inércia, A a área da secção, J a inércia de torção e A′ a
área de corte.

Este método é relativamente simples para o cálculo de apenas um deslocamento numa estrutura, mas
mais complicado se são necessários os deslocamentos em vários pontos.
O cálculo do integral pode ser realizado utilizando uma tabela como a representada na Figura 3.7.

36
CAPÍTULO 3. CALCULO DE DEFORMAÇÕES

Figura 3.7:

37
3.2. MÉTODOS ENERGÉTICOS

Analisemos um exemplo simples, como o representado na Figura 3.8. Para essa figura calcule o
deslocamento vertical da extremidade livre.

3kN/m

5m

4m

Figura 3.8:

A barra apenas está sujeita a momentos flectores, esforços axiais e esforços transversos. Os esforços
transversos provocam deslocamentos em geral negligenciáveis. Neste caso vamos também desprezar o
efeito do esforço axial. Assim apenas temos momentos.
Para esta estrutura podemos facilmente calcular o diagrama de momentos flectores, como se representa
abaixo.
24

M
24

Figura 3.9:

Como o objectivo é calcular o deslocamento vertical na extremidade livre, temos que aplicar nesse
ponto uma força vertical unitária.
Os diagramas de esforços correspondentes a esta carga estão representados na Figura 3.11.
Utilizando a equação (3.32) podemos calcular os deslocamento:

38
CAPÍTULO 3. CALCULO DE DEFORMAÇÕES

5m

4m

Figura 3.10:
4

M
4

Figura 3.11:

M M N N Mt Mt V V
δ= + + + (3.33)
EI EA GJ GA′
MM
δ= (3.34)
EI !
1 1 574
δ= (−24) · (−4) · 5 + · (−24) · (−4) · 4 = (3.35)
EI 4 EI

Logo o deslocamento vertical é para baixo (δ é positivo, logo o deslocamento é de acordo com a força
574
fictı́cia) e toma o valor .
EI

39
3.2. MÉTODOS ENERGÉTICOS

40
Bibliografia

Beer, F. P., Johnston, E. R., and DeWolf, J. T. (2003). Mecânica dos Materiais. McGraw-Hill.

Cervera Ruiz, M. and Blanco Dı́az, E. (2001). Mecánica de estructuras I. Resistencia de materiales. UPC.

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