Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Part3 PDF
Part3 PDF
Esforço transverso
Esta condição, embora necessária, não é suficiente para definir o estado de tensão devido ao esforço
transverso.
A igualdade entre as tensões tangenciais em duas faces, representada acima, mostra ainda que as
tensões no bordo da secção têm que ser paralelas a este. Se esse não fosse o caso, existiriam tensões na
face da peça o que é impossı́vel....
Vamos começar por analisar uma viga constituı́da por duas tábuas de madeira, que podem ou não
estar pregadas uma à outra.
Como é fácil de concluir desta figura, a existência de uma ligação entre as duas tábuas altera o
comportamento do sistema. Ou seja, a ligação está sujeita a tensões, e portanto, numa viga à flexão
1
1.1. TEORIA DE COLLINGNON
simples existem tensões tangenciais na direcção do eixo da viga. Por equilı́brio, também têm que existir
tensões tangenciais verticais, na secção transversal.
Figura 1.3:
Se considerarmos duas secções transversais muito próximas (A e A’), temos momentos flectores ligei-
ramente diferentes. Como tal, teremos também tensões normais ligeiramente diferentes.
Figura 1.4:
Vamos agora considerar o equilı́brio do troço entre estas duas secções, A e A’.
Vamos agora cortar este troço por um plano horizontal, como representado na Figura 1.6. As regiões
assim obtidas têm de estar em equilı́brio.
2
CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO
Figura 1.5:
Figura 1.6:
Para que exista equilı́brio, a resultante de todas as tensões horizontais abaixo do corte tem que ser
nula.
Chamemos à parte da secção transversal abaixo do corte (plano vertical) A, e à secção horizontal B.
Nesse caso:
My My + dMy
Z Z Z
z+ τ− z=0 (1.4)
A Iy B A Iy
3
1.1. TEORIA DE COLLINGNON
Figura 1.7:
Figura 1.8:
Logo:
dMy
Z Z
τ− z=0 (1.5)
B A Iy
Passando para fora do integral as constantes, temos:
dMy
Z Z
dx τ− z=0 (1.6)
C Iy A
R
Sabendo que A z é o momento estático relativo ao eixo y, Say , podemos simplificar como:
dMy Say
Z
τ= (1.7)
C dx Iy
Sabendo que a derivada do momento flector dMx /dx é o esforço transverso, obtemos:
Say
Z
f= τ =V (1.8)
C Iy
em que Iy é a inércia da secção transversal, e Say é o momentos estático da região acima ou abaixo do
corte ao longo do qual se calculam as tensões.
Esta dedução mostra que, se partirmos uma secção transversal em duas, o fluxo de tensão é dado por:
Say
Z
f= τ =V (1.9)
C Iy
O fluxo pode ser visto como a soma das tensões perpendiculares ao corte, ao longo deste. Como
exemplo considere-se uma viga constituı́da por 3 tábuas pregadas umas às outras, como representado
4
CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO
na Figura 1.9. Calcule a resistência que tem que ter a ligação entre as tábuas, admitindo um esforço
transverso de 500kN.
Podemos calcular a soma da força de corte entre a tábua de cima e a alma, usando:
Say
Z
f= τ =V (1.10)
C Iy
Assim
em que
5
1.1. TEORIA DE COLLINGNON
Figura 1.11:
Vamos considerar que a secção é dividida em duas partes, por uma linha horizontal.
Considerando a região de cima, temos:
Sax
f =V (1.15)
IY
O momento estático é dado por:
h x
Sax = xg A = − x·b (1.16)
2 2
Logo
h x
2 − 2 x·b
f =V bh3
(1.17)
12
6
CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO
Figura 1.12:
f 6 (h − x) x
τ= =V (1.18)
b bh3
Para metade da altura, x = h/2, temos:
6 (h/2) h/2
τ =V (1.19)
bh3
1.5V
τ= (1.20)
bh
Obtemos assim o diagrama de tensões tangenciais ao longo da altura representado na Figura 1.13.
Figura 1.13:
7
1.1. TEORIA DE COLLINGNON
No entanto, as tensões tangenciais não são na realidade constantes ao longo da largura. A sua distri-
buição ao longo da largura da viga é semelhante ao apresentado na Figura 1.14.
A relação entre a tensão média e a tensão máxima e mı́nima ao nı́vel da linha neutra é dada por:
b
h 0.25 0.5 1 2 4 6 10 20 50
τmax
τmed 1.008 1.033 1.126 1.396 1.988 2.582 3.770 6.740 15.650
τmin
τmed 0.996 0.983 0.940 0.856 0.805 0.800 0.800 0.800 0.800
Verifica-se assim que para rectângulos finos a tensão é quase constante, mas para rectângulos muito
largos a diferença entre resultados é enorme, e esta simplificação deixa de ser válida.
O esforço transverso em estruturas em betão provoca tensões substancialmente diferentes daquelas
descritas até aqui. Como tal a teoria das tensões tangenciais usando a teoria da elasticidade reduz-se
fundamentalmente à análise de estruturas metálicas. Assim é fundamental analisar as formas de secções
mais comuns em estruturas metálicas, como sejam as secções de parede fina.
Estas secções têm em comum serem todas constituı́das por troços muito longos e pouco espessos. Para
estas secções pode-se admitir que a tensão é constante ao longo da espessura da parede. Basicamente
temos
e
=∞ (1.21)
L
Como vimos anteriormente, as tensões no bordo têm que ser paralelas ao bordo. Portanto necessari-
amente temos tensões paralelas às paredes finas.
As tensões provocadas por esforços transversos em qualquer ponto de uma secção de parede fina
fechada, podem ser calculadas como:
Say
Z
f= τ =V (1.22)
C Iy
Assumindo tensões constantes ao longo da espessura, temos:
8
CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO
Figura 1.15:
Say
τ =V (1.23)
Iy · e
em que e é a espessura na zona em que se corta a secção.
Exemplo
Seja o perfil abaixo, um perfil HEA 200, sujeito a um esforço transverso positivo de 100 kN.
Se se considerar que as paredes são muito finas, a secção pode ser analisada como o conjunto de
segmentos de recta representado na Figura 1.17. Assim a secção pode ser ver como se apresenta a na
Figura 1.17.
As tensões podem ser calculadas como:
9
1.1. TEORIA DE COLLINGNON
Say
f =V (1.24)
Iy · e
O esforço transverso V é igual a 100 kN vertical para baixo. O momento de inércia é dado em tabelas
de perfis metálicos:
4
Iy = 36.92 × 10−6 m (1.25)
Para calcular a tensão em cada ponto, é necessário dividir a secção em duas partes passando pelo
ponto que se quer analisar. Vamos analisar um ponto no lado esquerdo do banzo superior.
O momento estático é:
0.190
Sy = A · yg = (x · 0.010) × = 9.50 × 10−4 x (1.26)
2
Ou seja, a distribuição de tensões ao longo do banzo superior é linear. Começa em zero no ponto A e
termina em
10
CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO
11
1.1. TEORIA DE COLLINGNON
0.190 x
Say = 0.190 · 0.010 · + x · 0.0065 · (0.095 − ) (1.28)
2 2
Temos portanto uma parábola. A análise desta parábola mostra que o valor máximo do momento
estático ocorre ao nı́vel do centro de massa, e que a equação é simétrica em relação ao eixo horizontal.
As tensões podem ser calculadas de modo semelhante ao anterior
12
CAPÍTULO 1. ESFORÇO TRANSVERSO
Figura 1.26:
Figura 1.27:
As tensões instaladas têm que ser equivalentes ao esforço aplicado. Ou seja, a resultante das tensões
tem que ser igual ao esforço e o momento provocada pelas tensões tem que ser igual ao momento provocado
pelo esforço. Se considerarmos um ponto do lado esquerdo da secção, as tensões horizontais provocam,
em relação a esse ponto, um momento anti-horário, enquanto as tensões verticais, provocam um momento
no sentido horário. Estes dois momentos anulam-se num ponto, que denominamos centro de corte.
Ou seja, o centro de corte é localizado à esquerda da secção. Se a força for aplicada nesse ponto, não
temos rotação.
A distância e pode ser calculada igualando o momento provocado pelas tensões tangenciais a zero:
h h
F×+ F′ × − V × 2 = 0 (1.31)
2 2
O centro de corte tem algumas propriedades que facilitam o cálculo da sua posição.
• Se a secção tiver um eixo de simetria, o centro de corte está sobre esse eixo de simetria
• Se a secção tiver dois eixos de simetria, o centro de corte está sobre a intersecção dos dois eixos.
• Se a secção for constituı́das por duas paredes finas, o eixo de corte está na intersecção das duas
paredes
13
1.1. TEORIA DE COLLINGNON
Figura 1.28:
14
Capı́tulo 2
Até agora calculámos as tensões provocada por um esforço. Em geral, temos mais que um esforço presente
numa secção. Mais ainda, verifica-se que a análise de tensões e deformações apresentada até aqui, é válida
não apenas para peças lineares, mas tembém para elementos bi-dimensionais ou tri-dimensionais.
Podemos considerar que este elemento é também traccionado nas outras duas direcções.
15
2.1. ANÁLISE DE TENSÕES
Neste caso temos portanto três tensões normais independentes, uma segundo cada direcção (x, y,z).
Vamos demoninar cada uma destas tensões normais em função da sua direcção como σx , σy e σz , como
representado abaixo
σy
σx
σz
Além das tensões normais, podemos ter tensões tangenciais em todas as direcções. Considerando todas
estas tensões temos um total de nove tensões como representado na Figura 2.4.
σy
τyx
τyz
τxy
τzy σx
τxz
τzx
σz
Figura 2.4:
16
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES
Esta matriz define o estado de tensão num ponto. Ou seja, permite saber se o material está próximo
da rotura e quais são as extensões do material. Deve notar-se, no entanto, que este estado de tensão só é
válido para um ponto. Diferentes pontos de uma estrutura, ou mesmo de uma secção, estão associados a
estados de tensão diferentes.
Figura 2.5:
17
2.4. TENSÕES EM FACETAS INCLINADAS
εx 1 −ν −ν 0 0 0 σx
εy
−ν 1 −ν 0 0 0
σy
εz = 1 −ν −ν 1 0 0 0 σz
(2.8)
γxy E
0 0 0 2(1 + ν) 0 0
τxy
γxz 0 0 0 0 2(1 + ν) 0 τxz
γyz 0 0 0 0 0 2(1 + ν) τyz
Para saber se a cola resiste às forças aplicadas, é necessário saber as tensões na cola. Para tal, podemos
considerar apenas a metade esquerda da peça.
τ
F σ
Figura 2.7:
Como anteriormente podemos considerar que esta parte da estrutura está em equilibrio.
18
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES
P
Fx1 = 0 (2.9)
2
⇒ σx1 · A0 − σy sin θA0 − τxy cos θ · sin θ · A0 − σx cos2 θ − τxy cos θ · sin θ · A0 = 0 (2.10)
2
⇒ σx1 = σx cos θ + σy sin2 θ + 2τxy cos θ · sin θ (2.11)
P
Fy1 = 0 (2.12)
2
cos2 θ
⇒ τx1 y1 = − (σx − σy ) sin θ cos θ + τxy − sin θ (2.13)
Ou seja, se considerarmos dois referenciais diferentes em torno do mesmo ponto, obtemos tensões
diferentes.
Assim, para um estado plano de tensão, as tensões num diferencial rodado de θ são dadas por:
σx + σy σx − σy
σx 1 = + cos 2θ + τxy sin 2θ (2.16)
2 2
σx + σy σx − σy
σy 1 = − cos 2θ − τxy sin 2θ (2.17)
2 2
σx − σy
τ x 1 y1 = − sin 2θ + τxy cos 2θ (2.18)
2
Um raciocı́nio semelhante pode ser utilizado para as extensões, substı́tuindo a tensão normal, σ, pela
extensão, ε, e as tensões tangenciais, τ por metade das distorções, γ/2. Assim:
εx + εy εx − εy γxy
εx1 = + cos 2θ + sin 2θ (2.19)
2 2 2
εx + εy εx − εy γxy
εy1 = − cos 2θ − sin 2θ (2.20)
2 2 2
γx1 y1 εx − εy γxy
=− sin 2θ + xy cos 2θ (2.21)
2 2 2
Em geral, saber a deformação numa direcção não é suficiente, e são associados vários extensómetros
para dar a extensão em várias direcções diferentes.
Como tal é comum o uso de rosetas, com 3 extensómetros inclinados em diferentes ângulos.
Para a segunda roseta podemos usar a expressão descrita acima, para calcular o tensor das extensões:
εx + εy εx − εy γxy
ε= + cos 2θ + sin 2θ (2.22)
2 2 2
Assim temos um sistema de 3 equações a 3 incógnitas:
19
2.5. CRITÉRIOS DE ROTURA
Figura 2.9:
εx + εy εx − εy γxy
ε−30 = + cos 2(−30◦ ) + sin 2(−30◦ ) (2.23)
2 2 2
εx + εy εx − εy γxy
ε90 = + cos 2(90◦ ) + sin 2(90◦ ) (2.24)
2 2 2
εx + εy εx − εy γxy
ε210 = + cos 2(210◦ ) + sin 2(210◦ ) (2.25)
2 2 2
20
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES
σx τxy 0
σ = τyx σy 0 (2.27)
0 0 0
Este estado de tensão é comum em elementos de estruturas planas.
Em particular é o estado de tensão existente quando, numa viga, apenas existem momento flector,
esforço axial e um esforço transverso.
Consideremos novamente a expressão para a tensão em facetas inclinada.
σ + σy σx − σy
σ= x
+ cos 2θ + τxy sin 2θ
2 2 (2.28)
σx − σy
τ =− sin 2θ + τxy cos 2θ
2
Podemos escrever isto como
x = A + B cos 2θ + C sin 2θ
(2.29)
τ = −B sin 2θ + Ccos2θ
Isto é a equação paramétrica de uma circunferência. Nesta circunferência, as tensões normais são
traçadas no eixo das ordenadas e as tensões tangenciais do eixo das abcissa. Esta circunferência, designada
por circunferência de Mohr, permite analisar as tensões num ponto.
Considere-se a tensão normal positiva se for de tracção, e a tangencial se for segundo o sentido dos
ponteiros do relógio. Consideremos as tensões num rectângulo elementar
Figura 2.10:
21
2.5. CRITÉRIOS DE ROTURA
Figura 2.11:
Figura 2.12:
Estas duas tensões designam-se por tensões principais, e podem ser calculadas, ou usando o cı́rculo de
Mohr ou calculando os valores próprios do tensor das tensões.
Verifica-se ainda que o ângulo que 1OA é o dobro do ângulo que a faceta de tensão máxima faz com
a faceta 1.
Portanto o cı́rculo de Mohr pode servir para calcular as tensão principais, assim como o ângulo que
as facetas correspondentes, denominadas facetas principais.
Se se considerar este referencial, o tensor resume-se a:
σx 0
[σ] = (2.30)
0 σy
Este referencial denomina-se referencial principal. Os eixos associados a este referencial denominam-se
eixos principais. Verifica-se que as tensões normais assim obtidas são as tensões máximas e mı́nimas.
Estes valores coincidem com os valores e vectores próprios do tensor das tensões, e podem ser calculados
com os métodos estudados em álgebra.
22
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES
Figura 2.13:
Figura 2.14:
23
2.6. TRI-CÍRCULO DE MOHR
I1 = σx + σy + σz (2.31)
2 2 2
I2 = σx σy + σx σz + σy σz − τxy − τxz − τyz (2.32)
I3 = det[σ] (2.33)
σ 3 − I1 σ 2 + I2 σ − I 3 = 0 (2.34)
As direcções principais podem ser calculadas resolvendo a equação:
(σ − σi I)ni = 0 (2.35)
em que ni é o vector perpendicular à face superior.
Consideremos o seguinte exemplo:
100. 30. 40.
σ = 30. 50. −30. (2.36)
40. −30. −60.
I1 = σx + σy + σz (2.37)
2 2 2
I2 = σx σy + σx σz + σy σz − τxy − τxz − τyz (2.38)
I3 = det[σ] (2.39)
I1 = 100 + 50 − 60 = 90 (2.40)
σ 3 − I1 σ 2 + I2 σ − I 3 = 0 (2.43)
σI = 117.64 (2.45)
σII = 52.05 (2.46)
σIII = −79.69 (2.47)
24
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES
Quando temos um estado tri-dimensional de tensões, temos três tensões principais. Nesse caso pode-
mos utilizar uma representação semelhante ao cı́rculo de Mohr, denominado tri-cı́rculo de Mohr.
Consideremos que conhecemos as três tensões principais (por determinação dos valores próprios do
tensor das tensões). Se traçarmos cada uma destas tensões num eixo horizontal, e unirmos cada duas
tensões por uma circunferencia, obtemos algo como representado na Figura 2.15.
σIII σII σI
Figura 2.15:
Verifica-se que considerando todas as orientações tridimensionais, o estado de tensão uma faceta
corresponde sempre a um dos pontos da zona a sombreado na Figura 2.16.
σIII σII σI
Figura 2.16:
σ1 − σII
τmax = (2.48)
2
Quando se analisa um estado plano de tensão utilizando o tri-cı́rculo, uma das tensões principais é
nula. Assim, podemos ter uma das situações representadas nas Figuras 2.17 ou 2.18.
No primeiro caso as duas tensões principais no plano são positivas. No segundo caso, as tensões no
plano têm sinais contrários.
25
2.6. TRI-CÍRCULO DE MOHR
σIII σII σI
Figura 2.17:
σIII σII σI
Figura 2.18:
|σI | ≤ σy (2.49)
|σII | ≤ σy (2.50)
|σI − σII | ≤ σy (2.51)
26
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES
Um segundo critério, mas ajustado à realidade é o critério de Von Mises, que define a rotura em termos
da energia distorcional máxima.
Nesse caso a condição a verificar, para um estado plano de tensão, é:
2
σI − σI σII + σII ≤ σy2 (2.52)
σx2 + 3τxy
2
≤ σy2 (2.54)
27
2.6. TRI-CÍRCULO DE MOHR
Critério de Coulomb
Diz que a rotura não se dá se ambas as tensões normais forem menores que a tensão obtida em ensaios
de tracção:
|σI | ≤ σu (2.55)
|σII | ≤ σu (2.56)
Este critério tem o defeito de considerar o comportamento à tracção e à compressão iguais. Na maioria
dos materiais frágeis isto não é verdade, e portanto, o campo de aplicação deste critério é relativamente
limitado.
Critério de Mohr
No critério de Mohr utilizam-se vários ensaios (tracção, compressão e corte). Traça-se a circunferência de
Mohr associado a cada um dos estados de tensão na rotura. O critério estabelece que não se dá a rotura
se o cı́rculo de Mohr associado ao estado de tensão estiver no interior da envolvente dos estados de tensão
obtidos dos ensaios.
Como exemplo, considere-se que são realizados três ensaios: tracção pura, compressão pura e torção
pura. A rotura para cada um destes ensaios ocorre para estados de tensão diferentes. Se cada um destes
estados de tensão for representado no cı́rculode Mohr obtemos algo como se apresenta na Figura 2.22.
Quando se considera apenas 2 ensaios, temos uma menor exactidão no resultados, resultando num
critério de rotura menos correcto. Isto acontece, por exemplo, para os resultados representados na Figura
2.23.
28
CAPÍTULO 2. ANÁLISE DE TENSÕES E EXTENSÕES
Figura 2.22: Beer et al. (2003) Figura 2.23: Beer et al. (2003)
29
2.6. TRI-CÍRCULO DE MOHR
30
Capı́tulo 3
Calculo de deformações
Como vimos anteriormente, quando sujeitas a uma variação de temperatura ou a esforços, as estruturas
apresentam deformações. Em cada ponto, estas são muito pequenas. No entanto, quando somadas para
toda a estrutura implicam deslocamentos e rotações que são significativos, e não raramente, observáveis
a olho nu.
Todos os esforços produzem deslocamentos ou rotações das estruturas. No entanto, quando existem,
o momento flector e o momento torsor são os esforços que maiores deslocamentos produzem.
Existem fundamentalmente dois métodos para calcular deslocamentos ou rotações. O primeiro baseia-
se na integração das deformações em cada secção, o segundo baseia-se na análise do equilı́brio energético.
∂ϕ Mt
= (3.1)
∂x G Ip
em que ϕ é o ângulo de rotação, Mt é o momento torsor, G é o módulo de distorção e Ip é o momento
polar de inércia.
Se o momento for constante numa barra, a rotação relativa entre duas secções, A e B, é:
Z B Mt Mt L
ϕAB = dx = (3.2)
A G Ip G Ip
1 M
χ= = (3.3)
ρ EI
31
3.1. INTEGRAÇÃO DAS DEFORMAÇÕES
σ ε
1 y ′′
χ= =− (3.4)
ρ (1 + (y ′ ) 2 )3/2
em que y é o deslocamento transversal, e y ′ e y ′′ são a primeira e a segunda derivada do deslocamento
transversal.
No entanto, podemos considerar que para situações correntes, quer o deslocamento quer a sua derivada
são muito pequenas. Assim, podemos dizer que:
2 3/2
1 + y′ ≃1 (3.5)
A equação ( (3.4)) resume-se a:
1 M
χ= = −y ′′ = (3.6)
ρ EI
Esta equação, denominada equação deferencial da linha elástica, pode ser utilizada para calcular as
deformações associadas ao momento flector. Assim y traduz os deslocamento perpendiculares à barra,
enquanto y ′ traduz as rotações.
Consideremos, como exemplo, a deformação de uma barra bi-apoiada, sujeita a uma carga uniforme-
mente distribuı́da.
3 kN/m
5m
∂M
=V (3.7)
∂x
∂V
= −p (3.8)
∂x
32
CAPÍTULO 3. CALCULO DE DEFORMAÇÕES
7.5
V
7.5
9.375
Figura 3.2:
Assim:
V = 7.5 − 3 · x (3.9)
3
M = 7.5 · x − x2 (3.10)
2
Utilizando a equação da elástica, podemos escrever:
!
M 1 3
′′
y =− =− 7.5 · x − x2 (3.11)
EI EI 2
!
′ 1 7.5 2 1 3
y =− · x − x + C1 (3.12)
EI 2 2
!
1 7.5 3 1 4
y=− · x − x + C1 · x + C 2 (3.13)
EI 6 8
(3.14)
y(x = 0) = C2 = 0 (3.15)
!
1 7.5 3 1 4
y(x = 5) = − · 5 − 5 + C1 · 5 = 0 → C1 = 15.625/EI (3.16)
EI 6 8
33
3.1. INTEGRAÇÃO DAS DEFORMAÇÕES
24.41
ymax = y(x = 2.5) = (3.17)
EI
e a rotação máxima é:
15.625
y ′ max = y ′ (x = 0) = (3.18)
EI
A deformada obtida é:
′
ymax
ymax
Figura 3.3:
3 kN/m
C
A B
4m 2m
Figura 3.4:
3
M = −36 + 15 · x − x2 (3.19)
2
No entanto, neste caso há a considerar dois troços: um do encastramento à rótula, outro da rótula até
ao apoio de roletes. Isto é necessário pois na rótula as rotações à esquerda e à direita serão diferentes, e
há um ponto de descontinuidade da equação.
Para o primeiro troço e considerando a origem no ponto da esquerda temos:
34
CAPÍTULO 3. CALCULO DE DEFORMAÇÕES
36
Figura 3.5:
M 1 3
′′
yAB =− = 36 − 15 · x + x2 (3.20)
EI EI 2
1 1
′
yAB = 36 · x − 7.5 · x2 + x3 + C1 (3.21)
EI 2
1 1
yAB = 18 · x2 − 2.5 · x3 + x4 + C1 · x + C2 (3.22)
EI 8
′ ) são nulos na origem, temos que
Sabendo que quer o deslocamento (yAB ) quer a rotação (yAB
C1 = 0 (3.23)
C2 = 0 (3.24)
M 1 3
′′
yBC =− = 36 − 15 · x + x2 (3.25)
EI EI 2
1 1
′
yBC = 36 · x − 7.5 · x2 + x3 + C3 (3.26)
EI 2
1 1
yBC = 18 · x2 − 2.5 · x3 + x4 + C3 · x + C4 (3.27)
EI 8
Quando às condições de fronteira, sabemos que no apoio C o deslocamento vertical é nulo. Sabemos
ainda que o deslocamento do ponto B é igual para o troço AB e para o troço BC. Assim
yBC (x = 6) = 0 (3.28)
yBC (x = 4) = yAB (x = 4) (3.29)
35
3.2. MÉTODOS ENERGÉTICOS
135
C3 = − (3.30)
EI
540
C4 = (3.31)
EI
A deformada é portanto:
C
A B
Figura 3.6:
2. aplicação de uma carga unitária fictı́cia segundo o deslocamento ou rotação que se pretende (se se
pretender um deslocamento aplica-se uma força com a mesma direcção, se se pretende uma rotação
aplica-se um momento);
M M N N Mt Mt V V
δ= + + + (3.32)
EI EA GJ GA′
em que M e M são os momentos flectores devidos ao carregamento e à carga fictı́cia, respectivamente,
N e N os esforços axiais, MT e Mt os momentos torsores, V e V os esforços transversos, E o módulo
de Young, G o módulo de distorção, I a inércia, A a área da secção, J a inércia de torção e A′ a
área de corte.
Este método é relativamente simples para o cálculo de apenas um deslocamento numa estrutura, mas
mais complicado se são necessários os deslocamentos em vários pontos.
O cálculo do integral pode ser realizado utilizando uma tabela como a representada na Figura 3.7.
36
CAPÍTULO 3. CALCULO DE DEFORMAÇÕES
Figura 3.7:
37
3.2. MÉTODOS ENERGÉTICOS
Analisemos um exemplo simples, como o representado na Figura 3.8. Para essa figura calcule o
deslocamento vertical da extremidade livre.
3kN/m
5m
4m
Figura 3.8:
A barra apenas está sujeita a momentos flectores, esforços axiais e esforços transversos. Os esforços
transversos provocam deslocamentos em geral negligenciáveis. Neste caso vamos também desprezar o
efeito do esforço axial. Assim apenas temos momentos.
Para esta estrutura podemos facilmente calcular o diagrama de momentos flectores, como se representa
abaixo.
24
M
24
Figura 3.9:
Como o objectivo é calcular o deslocamento vertical na extremidade livre, temos que aplicar nesse
ponto uma força vertical unitária.
Os diagramas de esforços correspondentes a esta carga estão representados na Figura 3.11.
Utilizando a equação (3.32) podemos calcular os deslocamento:
38
CAPÍTULO 3. CALCULO DE DEFORMAÇÕES
5m
4m
Figura 3.10:
4
M
4
Figura 3.11:
M M N N Mt Mt V V
δ= + + + (3.33)
EI EA GJ GA′
MM
δ= (3.34)
EI !
1 1 574
δ= (−24) · (−4) · 5 + · (−24) · (−4) · 4 = (3.35)
EI 4 EI
Logo o deslocamento vertical é para baixo (δ é positivo, logo o deslocamento é de acordo com a força
574
fictı́cia) e toma o valor .
EI
39
3.2. MÉTODOS ENERGÉTICOS
40
Bibliografia
Beer, F. P., Johnston, E. R., and DeWolf, J. T. (2003). Mecânica dos Materiais. McGraw-Hill.
Cervera Ruiz, M. and Blanco Dı́az, E. (2001). Mecánica de estructuras I. Resistencia de materiales. UPC.
41