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ENSINO MÉDIO

SOCIOLOGIA
AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS

Seria bom nesse momento apresentar as grandes realizações da teoria


sociológica para explicar o comportamento humano, a interação e a organização.
Mas atualmente há pouco consenso sobre quais teorias são as melhores, e
tampouco existe entre os pesquisadores a iniciativa de testar cada uma de
nossas muitas teorias e ver qual parece melhor. De fato, a sociologia revela uma
tendência infeliz, para os teóricos, de criar teorias que não são muito acessíveis
aos testes e, para os pesquisadores, de coletar e analisar os dados sem prestar
muita atenção a teoria (Turner e Tumer, 1990). Assim, é triste mas verdadeiro
que os teóricos e pesquisadores tendem a seguir caminhos isolados. O lado
cético das teorias evidencia para a sociologia uma série de propostas teóricas,
interessantes apesar de muitas vezes não verificadas empiricamente, para
interpretar os fatos no mundo social (Ritzer, 1975, 1988; J. Turner, 1991). Deixe-
me esboçar amplamente algumas das mais importantes dessas propostas,
deixando para capítulos posteriores as teorias específicas que foram
desenvolvidas dentro dessas amplas perspectivas. Nós já encontramos algumas
dessas perspectivas quando discutimos a emergência da sociologia no capítulo
anterior. Aqui seremos mais explícitos nos elementos fundamentais dessas
amplas propostas (Turner, 1991).

Teorias do conflito

Karl Marx e Max Weber foram as origens intelectuais de teorias sobre o conflito,
embora outros sociólogos antigos também vissem o mundo social segundo suas
contradições. Ao contrário das teorias funcionalistas, que enfatizam a
contribuição das partes para um todo maior, as teorias do conflito veem os todos
sociais cheios de tensão e os contradições (Collins, 1975). Embora haja muitas
teorias distintas sobre o conflito, todos partilham um ponto em comum: a
desigualdade é a força que move o conflito; e o conflito é a dinâmica central das
relações humanas. De fato, seria difícil não notar as tensões e os conflitos que
emanam da desigualdade. Por exemplo, em sua aula de sociologia há uma
contradição inerente entre você e seu professor sobre um elemento básico: sua
nota. O professor controla a nota, e isso significa que ele tem poder sobre você.
Você está, então, numa situação de grande desigualdade, e a tensão está
apenas sob a superfície. Se não consegue a nota que você queria, você pode
ficar contrariado, e, se você pudesse, faria algo para reverter a situação. A
mesma força básica funciona em todas as relações sociais entre atores distintos,
como indivíduos, grupos étnicos, escritórios e pessoal num escritório, classe
social, ou nações.
Ao olharmos ao redor de nossa própria sociedade, vemos os efeitos da
desigualdade que a contradição produz em todo lugar Os trabalhadores e
gerentes nas empresas frequentemente estão inquietos; as pessoas pobres
agridem as pessoas ricas; as mulheres se ressentem dos salários mais altos e
poder que os homens têm na sociedade; as minorias étnicas se ressentem com
o status de “segunda classe” que lhes é dado; e assim vai. Todas essas fontes
de contradição que se manifestam em formas distintas de conflito—crime
violento, desordens, protestos, manifestações, greves e movimentos sociais —
originam-se da distribuição desigual de recursos valorizados pelas sociedades,
como dinheiro, poder, prestígio, moradia, saúde e empregos. O conflito é,
portanto, uma contingência básica da vida social; ele é potencialmente sentido
em todo lugar, desde as relações interpessoais entre homens e mulheres,
passando pela exigência de interações entre diferentes etnias, até os
ressentimentos contra o poder dos pais, professores e empregadores.
A Situação Atual da Teoria Sociológica

Há muitas variantes específicas dessas perspectivas teóricas.


Encontraremos algumas delas à medida que avançarmos na questão da
sociologia. Do ponto de vista da ciência, seria bom ter teorias mais centradas e
precisas que tenham sido sistematicamente testadas e que agora organizariam
essa introdução à sociologia. Mas isso não vem ao caso. Muitos sociólogos não
acreditam que isso possa ou deveria ser o caso (Seidman e Wagner, 1992). Ao
contrário, as teorias sociológicas atuais podem apenas nos ajudar a interpretar
aspectos específicos do mundo social, e então para o presente nossas teorias
não são como aquelas das “hard sciences” (Giddens, 1971, 1976, 1984).
A sociologia tem muitas partes de teoria, tipicamente inspiradas pelos
fundadores, mas a maioria não foi sistematicamente testada e aceita como a
melhor explicação do mundo social. Para alguns, os objetivos da ciência na
sociologia são ilusórios, e o sonho de Comte de uma ciência da sociedade é
apenas um sonho. Para muitos outros, a sociologia ainda não se tornou uma
ciência madura, mas seu potencial está presente nas ideias teóricas que foram
elaboradas através destas quatro perspectivas: funcionalista, de conflito,
interacionista e utilitarista. Além disso, há muitas teorias “menores” ligadas a
essas quatro e outras propostas mais genéricas, que nos ajudam a entender
muitos processos sociais, como veremos.
A sociologia, como as demais ciências, passa hoje por uma crise provocada
pelas transformações que estão atingindo o contexto social da vida humana. E
uma realidade de mudanças confusas e, às vezes, incontroláveis, que provocam
a alteração do papel social da mulher, modificam as relações de trabalho,
fortalecem o sistema capitalista e aumentam a flexibilidade no gerenciamento. A
globalização une os espaços e varre as distâncias, modificando o papel do
Estado-Nação e o comportamento das classes sociais. Essa nova ordem social
exige o repensar das categorias sociológicas. Diz Lanni (1997:14): “Diante das
metamorfoses do objeto da sociologia, a teoria logo se vê desafiada, posta em
causa no que se refere a conceitos e interpretações. Não se trata apenas de
acomodar e reformular conceitos e interpretações. Trata-se de repensar alguns
fundamentos da própria reflexão sociológica. Há metamorfoses do objeto da
sociologia que desafiam as categorias de tempo e espaço, micro e macro,
holismo e individualismo, sincronia e diacronia, continuidade e descontinuidade,
ruptura e transformações. Nesse contexto, algumas categorias básicas da
reflexão sociológica abalam-se, parecem declinar ou emergem, desafiando a
imaginação”. Para Lanni, talvez um dos maiores expoentes da Sociologia
brasileira, a crise dos paradigmas provocada pela metamorfose das relações
sociais força um repensar das análises e categorias sociológicas.

VARIAÇÕES CULTURAIS

Os homens criam sistemas de símbolos culturais porque precisam deles. Eles


são desenvolvidos para facilitar a interação e a organização, como
argumentam os teóricos do funcionalismo. E, porque as pessoas vivem e agem
em diversos ambientes, a cultura naturalmente também se diferenciará. E,
como enfatizaria a teoria do conflito, as variações culturais são uma fonte de
constantes contradições e tensão numa sociedade. Exatamente como as
línguas, outros sistemas culturais também diferem, tais como a tecnologia, os
valores, as crenças, as normas e os repertórios de conhecimento. Esse fato
tem enormes implicações. Deixe-me revisar algumas delas.

Cultura ou os sistemas de símbolos


que os homens usam para orientar
seu comportamento.
Conflito Cultural

Os sistemas culturais como os valores e crenças são um conjunto “de lentes” ou


um prisma colorido através do qual vemos o mundo. Nossas percepções são tão
influenciadas pela cultura, que percebemos algumas coisas mas ficamos
inconscientes quanto a outras. E por isso que a ciência foi criada como um
esforço consciente para a redução dos preconceitos inerentes de cada cultura.
A ciência é um tipo de sistema de crença e, como outros aspectos da cultura,
surgiu para lidar com os problemas humanos. No caso da ciência, o desejo de
coletar informação precisa e verificar as ideias empiricamente levou ao
desenvolvimento da crença de que o conhecimento é gerado por teorias que são
constantemente verificadas com dados sistematicamente coletados.
lnicialmente, as crenças sobre a ciência, e mais tarde o desenvolvimento de
normas de comportamento para os cientistas, encontraram grande resistência
por parte de outros tipos de sistemas de crenças — religião, filosofia e ideologia,
para citar apenas as mais importantes. E alguns destes ainda veem a ciência
com grande antipatia. Tal antipatia pode criar conflitos culturais entre indivíduos
que concomitantemente mantêm um número de crenças diferentes, assim como
conflitos maiores entre grupos de indivíduos que aderem a diferentes crenças.
Os fundamentalistas religiosos questionam a ciência quando suas conclusões
violam seus dogmas. Marxistas, de direita ou de centro, geralmente se recusam
a aceitar o conhecimento cientificamente fundamentado. Até mesmo nos
Estados Unidos, onde a ciência é uma crença cultural dominante, o conflito vem
à tona quando questões com forte fator emocional, como o ensinamento da
evolução darwiniana no lugar da Criação divina, são debatidas.
Quando as diferenças nas crenças culturais se tornam a base da
organização política e da ação, conflitos culturais tornam-se mais intensos. Por
exemplo, o conflito atual sobre
o aborto envolve não apenas o desacordo entre as crenças sobre maternidade,
vida e concepção mas um verdadeiro combate entre vários grupos organizados
(Luker, 1984). Tais conflitos são difíceis de resolver porque as crenças dos
“combatentes” são muito diferentes e energicamente defendidas. Conflitos
semelhantes ocorreram inúmeras vezes nos Estados Unidos e em todas as
sociedades complexas em que o consenso absoluto sobre os símbolos é
simplesmente impossível.

Bibliografia: http://evunix.uevora.pt/~eje/introducao%20_a_sociologia.htm

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