Você está na página 1de 13

1

JORNALISMO ONLINE E JORNALISMO IMPRESSO: UM ESTUDO


COMPARATIVO BASEADO EM SUSTENTABILIDADE

ONLINE AND PRINTED JOURNALISM: A COMPARATIVE


STUDY BASED IN SUSTAINABILITY

Évelyn Bisconsin1
Centro Universitário Ritter dos Reis, Rio Grande do Sul

Resumo
Este trabalho se propõe a levantar aspectos sustentáveis da difusão de informação
jornalística através da internet em comparação ao tradicional jornal impresso.
Pretende avaliar aspectos positivos e negativos de ambos suportes (aqui tratando do
ciberespaço e do jornal impresso como suportes) do ponto de vista da
sustentabilidade. Não há respostas ou avaliações definitivas, visto que a tecnologia
verde avança rapidamente, tanto em se tratando de informática quanto de indústria
gráfica. O objetivo é conseguir visualizar e esclarecer toda uma gama de variáveis
que permeiam tais mídias, de modo a enriquecer o campo de conhecimento do
designer a respeito.

Palavras-chave: desenho do caminho da informação; internet; jornalismo impresso.

Abstract
This paper aims to raise sustainable aspects of information broadcast by Internet
compared to printed journalism. To evaluate positive and negative aspects of each
media (deal with cyberspace and the print newspaper as media) from the standpoint
of sustainability.
There are no definitive answers or ratings, since green technology advances quickly,
both when it comes to computers and the printing industry. The goal is to observe
and to clarify a range of variables that underlie such media, in order to improve the
field of about designer's knowledge.
Key words: draw of information path; internet; printed journalism.

1
evelynbisconsin@gmail.com
2

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, tem-se presenciado um significativo aumento dos


movimentos ambientalistas e do interesse pela preservação ambiental. A população
mundial tem mostrado que está cada vez mais informada de que o modelo atual de
de economia industrializada, tanto em países desenvolvidos como naqueles em vias
de desenvolvimento, está intimamente associado à degradação do meio ambiente,
com impactos diretos na qualidade de vida e na própria sobrevivência da espécie
humana.
Graças ao crescente interesse pelas questões ambientais e aos recentes avanços
tecnológicos e científicos, conhece-se mais sobre os problemas ambientais do que no
passado. Isso, apesar de não ter sido suficiente para deter o processo de degradação
ambiental em curso, fez surgir diversas discussões ao redor do assunto
sustentabilidade. Atualmente e, pode-se contar com líderes e formadores de opinião
interessados em debater e patrocinar estudos ligados ao tema.
Este artigo objetiva revisar as características dos processos de propagação de
informação via jornalismo online e impresso, delimitando a rota da informação a
partir do momento que sai das empresas geradoras de conteúdo até o público final
(leitor). Mostrará um pouco do complexo universo gráfico e de suas implicações no
meio ambiente, mostrando as etapas de pré-impressão, impressão, produção do
papel e a busca por certificações sustentáveis que permeia várias etapas.
Sobre o jornalismo online, a rota da informação também será avaliada, a fim de
se perceber que, apesar do dinamismo e da velocidade inerente ao acesso a dados,
há toda uma gama de infraestrutura, serviços e produtos por trás de um simples
clique na tela de um computador.
Assim, a partir dessa análise, buscar-se-á enriquecer o campo de conhecimento
do designer sobre tais processos, visto que o este profissional pode ser um agente
social em várias frentes, no ramo gráfico, tecnologia, produto, estratégia, entre
outros.

1. QUE É SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento sustentável é um conceito que surgiu nos anos 70, com maior
repercussão a partir do lançamento do livro Limites do crescimento: um relatório
para o Projeto do Clube de Roma sobre o Dilema da Humanidade (MEADOWS, et.
al., ano da publicação?1972), quando se fez uma previsão bastante pessimista do
futuro da humanidade, caso as bases do modelo de exploração do meio ambiente
não fossem alteradas.
Com poucas e pequenas modificações, o conceito amplamente divulgado nos
dias de hoje e atribuído a Lester Brown é o de que sustentabilidade significa suprir
as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras
de suprir as suas.
A construção de uma eco-economia é empolgante e recompensadora.
Significa podermos viver num mundo onde a energia venha de turbinas
eólicas, e não de minas de carvão; onde as indústrias de reciclagem
substituam indústrias de mineração; e onde as cidades sejam planejadas
para pessoas e não para carros. E, mais importante talvez, ter a satisfação
de construir uma economia para sustentar, e não solapar as gerações
futuras. (BROWN, 2001 p. 36).

Com base nisso, Manzini e Vezzolli (2002, p. 28) citam que as ações humanas,
3

para serem consideradas realmente sustentáveis, devem responder aos seguintes


requisitos:
• basear-se fundamentalmente em recursos renováveis;
• otimizar o emprego dos recursos não-renováveis (compreendidos como o ar,
a água e o território);
• não acumular lixo que o ecossistema não seja capaz de reutilizar (isto é,
fazer retornar às substâncias minerais orgânicas e, não menos importante, às
suas concentrações originais);
• agir de modo com que cada indivíduo e cada comunidade das sociedades
“ricas” permaneça nos limites de seu espaço ambiental, bem como que cada
indivíduo e cada comunidade das sociedades “pobres” possa efetivamente gozar
do espaço ambiental ao qual potencialmente têm direito.
Pode-se dizer que a sustentabilidade nasce e se fortalece por conta da reflexão
sobre uma crise de olhar, uma visão de que a única função da natureza seria
apenas a de suprir alimentos, matéria-prima, energia e belas paisagens ao homem.
Segundo Trigueiro (2005, p. 264), “dilapidamos o patrimônio natural sem a
percepção de que somos parte do planeta, de que o meio ambiente começa no meio
da gente (...)”.
A partir de tais definições e apesar de, em um primeiro momento, elas serem
simples e diretas, conseguir trabalhar com vistas ao sucesso no presente e no futuro
envolve uma série de variáveis, como, por exemplo: (i) análise do ciclo de vida
completo, desde a extração de algum recurso e o impacto ambiental causado por
esse processo; (ii) avaliação dos custos de energia para transporte, (iii) produção e
envio (tanto da matéria-prima como do objeto manufaturado); e, finalmente, (iv) seu
posterior descarte e possibilidade de reuso, reciclagem ou compostagem. Cada item
citado acima se divide em uma série de variáveis que dá origem a um conjunto de
outras variáveis, e todas devem ser observadas para uma compreensão e
visibilidade do impacto de qualquer criação no todo.
Será mostrado, na próxima seção, o fluxo de informação jornalística no meio
impresso e virtual, desde a etapa que vai da empresa geradora de conteúdo até o
leitor. Serão mostrados que tipos de recursos são utilizados para o consumo e
penetração da notícia, bem como no que a tecnologia tem auxiliado para fazer com
que ambos os suportes (impresso e virtual) sejam menos prejudiciais ao meio
ambiente.

2. INFORMAÇÃO NA MÍDIA IMPRESSA E AVANÇOS NO QUE SE DIZ RESPEITO


À SUSTENTABILIDADE
O caminho da informação nos meios de comunicação de massa tradicionais (jornal,
rádio e televisão) é tratado como sendo um emissor que codifica e emite uma
mensagem e a um receptor (que a decodifica) e aguarda uma resposta ou feedback.
Esses quatro elementos (emissor, receptor, mensagem e feedbackresposta) seriam os
atores principais no processo, conforme Kotler, 2000:
4

Figura 1: Elementos do processo de comunicação.


Fonte: Kotler (2000, p. 571).
(fonte de referência consultada?).

Em se tratando de sustentabilidade, porém, será analisado o caminho dessa


informação pelo que esquematiza a Figura 12, na qual cada número corresponde a
uma parte do percurso da informação jornalística no meio impresso.

Figura 12: Legenda da figura e fonte de referência?Caminho da notícia no jornal impresso (Fonte: da
autora)

Neste artigo, são abordadas notícias geradas por empresas de jornalismo, que
podem ter sua divulgação online ou, como nesta seção, via suportes impressos. No
caso do esquema apresentado na Figura 1, trata-se diretamente da informação no
meio impresso. A seguir, serão abordadas as etapas 1 (gráfica/impressão), 2
(distribuição) e 3-4 (leitores principais e secundários), de modo a informar sobre o
momento no ciclo da informação, abordando aspectos descritivos e, claro,
sustentáveis.
5

2.1 GRÁFICA (impressão)


A constante procura por materiais impressos fez com que a produção gráfica
buscasse uma modernização constante. De algumas décadas para cá, muita coisa
se modificou, principalmente com o avanço da tecnologia e com a popularização dos
computadores.
Os antigos profissionais que montavam os impressos de forma manual, os
pestapistas, trocaram suas pranchetas pelos computadores, tendo que se adaptar
com um novo conceito que surgiu, o Desktop Publish (uso de computadores
pessoais para desenhar, compor e imprimir peças gráficas com qualidade
profissional) (Baer, 1999, p. 117). Hoje em dia, todo processo de produção é feito
através do computador.

2.1.1 Gráficas e políticas ambientais


As gráficas estão adequando os seus processos a fim de que eles se enquadrem
em políticas ambientais e, com isso, sejam concedidas as certificações de
preservação ambiental, comprovando a existência da preocupação e
responsabilidade com o meio ambiente, além, é claro, desse tipo de certificação
funcionar como diferencial de vendas dos serviços. As principais certificações são:

- FSC Brasil - o Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC Brasil) é uma


organização não-governamental, independente e sem fins lucrativos, reconhecida como
uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e com cadastro no
CNEA (Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas). A missão do Conselho
Brasileiro de Manejo Florestal é difundir e facilitar o bom manejo das florestas
brasileiras conforme Princípios e Critérios que conciliam as salvaguardas ecológicas
com os benefícios sociais e a viabilidade econômica (CONSELHO BRASILEIRO DE
MANEJO FLORESTAL, 2009);
-
RoHS - A Legislação para RoHS (Restriction of use of Hazardous Substances)
inclui a restrição ao uso de chumbo e outras substâncias potencialmente perigosas
comumente usadas em equipamentos eletroeletrônicos. Muito clara sobre o tipo de
substâncias consideradas restritas, estabelece níveis precisos considerados
toleráveis. É uma diretiva europeia, mas muitos fabricantes de equipamentos
eletroeletrônicos fora da Europa já incorporaram a legislação, pois seus produtos
são exportados para países-membros da Comunidade Europeia (SGS, 2010);

- ISO 14001 – Internacional Organization of Standardization (Organização


Internacional de Padronização). A ISO 14001 é uma norma internacionalmente
reconhecida que define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de Gestão
Ambiental (SGA) efetivo. A norma é desenvolvida com objetivo de criar o equilíbrio
entre a manutenção da rentabilidade e a redução do impacto ambiental com o
comprometimento de toda a organização. Com ela, é possível que sejam atingidos
ambos objetivos (SGS, 2010).

Observando as certificações acima, pPercebe-se que há consideráveis avanços


no que diz respeito à relação da indústria gráfica com o meio ambiente. No Brasil,
ainda é necessária uma série de leis que organizem e guiem empresários sobre o
impacto ambiental, não só na indústria gráfica como em outras de maior ou menor
abrangência. Mesmo assim, o exemplo europeu mostra um aspecto positivo no que
diz respeito ao futuro do parque gráfico nacional.
6

2.1.2 Pré-impressão
A pré-impressão engloba os processos que antecedem a impressão, ou seja,
todas as operações que são necessárias para a criação do material, finalização da
arte, layout, originais ou artes-finais, tratamento de imagens, confecção de fotolitos,
gravação dos clichês e verificação da qualidade dos mesmos por meio de provas
digitais ou analógicas (fonte de referência consultada?FERNANDES, 2003).
A matriz de impressão do sistema offset, por exemplo, é obtida a partir de dois
processos: gravação de fotolito (Imagesetter) para gravação da chapa ou gravação
direta na chapa sem precisar de fotolito (CTP - Computer to Plate).
O fotolito é um filme transparente fotossensível, uma espécie de folha de acetato
que, através de exposição de luz, transfere a imagem digitalmente ou através de
processo fotográfico. Esse filme passa por banhos químicos para ser revelado e,
assim, se obter o fotolito pronto para a gravação da chapa.
Na gravação das chapas metálicas, o fotolito fica sobre a chapa para que ela seja
exposta a uma luz por um determinado tempo. Esse processo é similar ao da
ampliação de fotografias. .
(As partes que são expostas à luz se tornam hidrófilas e não têm como acumular
tinta).
Muitas gráficas não utilizam mais o sistema de gravação de fotolito, sendo pois a
chapa é gerada através de CTP - Computer to Plate, pois a chapa é gravada
diretamente por meio de um laser controlado por um computador. Essa chapa,
porém, também passa por banhos químicos para ser revelada e estar pronta para a
impressão.
A eliminação do fotolito é algo vantajoso para o meio ambiente, pois, além de não
usar o filme de acetato, ainda minimiza a utilização de banhos químicos que podem
causar um impacto ambiental.
Contando com a ajuda da eliminação do fotolito acompanhando a evolução cada
vez maior do CTP, há, hoje em dia, uma nova geração de chapas que podem ser
eficazes contra a degradação do meio ambiente. Eliminando variáveis de
processamento, torna a produção mais sustentável. Segundo a fabricante
Heidelberg, a tecnologia consiste em um processo simples de gravação, goma e
impressão, sem o uso de produtos químicos e sem as preocupações com as
tradicionais variáveis de processamento, sem uso de tintas ou solução de molhagem
especial (HEIDELBERG, 2010).
Tanto a fase de pré-impressão quanto a fase de impressão geram resíduos que
podem ser classificados2 como perigosos, não-inertes e inertes, dado o grande
número de processos físicos e químicos para a preparação e impressão. Mesmo
com o avanço das tecnologias e a busca das empresas por processos e
2
Segundo a norma NBR 10004:2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, cada resíduo
geradotem uma classificação de periculosidade:
§ Resíduos Classe l - perigosos; São aqueles que apresentam periculosidade, (…) ou uma das características
seguintes: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade
§ Resíduos Classe ll - não inertes; São aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos classe l
perigosos ou de resíduos da classe lll inertes, nos termos desta norma. Podem ter tais como: combustibilidade,
biodegradabilidade ou solubilidade em água.
§ Resíduos Classe lll - inertes. Quaisquer resíduos que, quando a mostrados de forma representativa e
submetidos a um contato estático ou dinâmico com água destilada ou ionizadas, a temperatura ambiente,
conforme teste de solubilização, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água, executando se ou os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor.
Como exemplo, podem se citar as rochas, tijolos, vidros e certos plásticos os e borrachas que não são
decompostos prontamente.
7

equipamentos menos poluentes, deve-se considerar o ramo gráfico, ainda, gerador


de serviços de alto impacto ambiental.

2.1.3 Papel
Atualmente, 100% da produção de papel e celulose no Brasil emprega matéria-
prima de áreas de reflorestamento, principalmente de eucalipto (65%) e pinus (31%)
(IDEC, 2010). A especialização, ou seja, a monocultura de eucalipto e pinus apresenta
algumas contradições, porque, se de um lado ela promove um aumento na circulação
de produtos e de pessoas, por outro lado, há o perigo que toda monoatividade
econômica pode representar para o meio ecológico e social, causando a diminuição de
espécies da fauna e da flora regional típicas, bem como a perda de empregos em
outros setores da produção.
Segundo a consultora de meio ambiente do Idec, Lisa Gunn, utilizar
madeira de área reflorestada é sempre melhor do que derrubar matas
nativas, mas isso não quer dizer que o meio ambiente está protegido.
"Quando o reflorestamento é feito nos moldes de uma monocultura em
grande extensão de terras, não é sustentável porque causa impactos
sociais e ambientais, como pouca oferta de empregos e perda de
biodiversidade."
De acordo com algumas pesquisas científicas, a monocultura do
eucalipto, por exemplo, consome tanta água que pode afetar
significativamente os recursos hídricos. (IDEC, 2010)

Para o jornalismo impresso, o papel tradicionalmente utilizado é o papel


imprensa, fabricado principalmente com pasta mecânica ou mecanoquímica, tendo
de 45 a 56 g/m², com ou sem linhas d'água no padrão fiscal e com ou sem colagem
superficial. Existem, no Brasil, duas empresas fabricantes desse produto, ambas
localizadas no estado do Paraná. É o tipo de papel que apresenta o maior volume de
importações (BRACELPA, 2010).
Mesmo tendo em vista que há grandes áreas de reflorestamento e que não
ocorram mais derrubadas de árvores para produção de papel, é válida a observação
de que reflorestar não quer dizer, exatamente, significativo significativa diminuição
do impacto ambiental. Como dito acima, aA monocultura pode exercer impactos
negativos no ambiente. Há vários padrões de problemas ambientais florestais, como:
(i) há, hoje, solos contaminados que, além de estéreis, são perigosos à saúde
humana e animal; (ii) solos que sofreram o processo de desertificação (fenômeno
que acontece, inclusive, no Rio Grande do Sul); (iii) e, segundo Trigueiro (2005, p.
151), há problema da “conexão hambúrguer”, processo que faz da pecuária o
destino de 80% de toda a área desmatada na Amazônia brasileira; e, entre outros, a
monocultura. Entre estes, a monocultura configura-se como a alternativa menos
nociva. Não se deve, porém, acreditar que ela seria a melhor solução ou alternativa,
pois há exemplos de locais com a intervenção humana que sim, podem ser
considerados fantásticas soluções sustentáveis.
Um exemplo disso são as RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural),
propriedades particulares brasileiras nas quais o dono se compromete a não agravar
a devastação, ou seja, não há herdeiros, filhos ou netos que possam mudar isso
num cartório. Como exemplo, há a fazenda verde de Sebastião Salgado, Fazenda
Bulcão, em Minas Gerais. Além de não devastar, a área verde natural da fazenda já
dobrou, tudo a partir da plantação de mudas típicas de Floresta Atlântica
(TRIGUEIRO, 2005, p. 167).
Desse modo, o papel, no Brasil, não pode ser tratado como um vilão ambiental,
8

pois não é um agente devastador do ambiente natural, como pastagens e outras


explorações (mineração, escavação e até mesmo a urbanização). Ele pode ser
considerado como de médio impacto ambiental. Porém, mesmo com
reflorestamentos, há gastos energéticos para obtenção da celulose em todo o
processo de beneficiamento e, claro, de impressão. A produção do jornal impresso
segue seu curso (muitas vezes, ainda poluindo bastante) e o reflorestamento, num
olhar global, até ameniza efeitos nocivos, mas está longe fazer do papel e da
indústria gráfica ramos sustentáveis.

2.2 DISTRIBUIÇÃO
Em Jornalismo, a distribuição é a etapa final do processo de produção de
veículos impressos. Os dois processos mais comuns de distribuição são a
assinatura e a venda avulsa.
Na assinatura, o leitor recebe os impressos em sua residência ou no endereço
designado, mediante pagamento prévio por um tempo determinado. Para que isso
ocorra, as empresas gráficas empregam caminhões e automóveis de grande porte,
como utilitários e vans, para levar os impressos de seu local de impressão (parque
gráfico) até o destino final. Os destinos mais distantes são carregados primeiro, e
assim sucessivamente, até os endereços mais próximos. A entrega em volumes
menores é feita de motocicleta ou a pé.
A venda avulsa utiliza jornaleiros ambulantes (atualmente, chamados de
promotores, em vários casos) que circulam pelas ruas oferecendo exemplares, ou
bancas de jornal, quiosques especificamente voltados para a venda de impressos.
Existe, também, a venda em estabelecimentos comerciais como livrarias, tabacarias
e cafeterias.
O caminho que percorrem os jornais, diariamente, no Brasil, conta
majoritariamente com transporte rodoviário, além de aéreo, via transportadoras e via
correio (esses últimos que mesclam os tipos de transporte). Apesar da oferta de
biocombustível, a emissão de gases poluentes pelos veículos pode ser considerada
uma grande vilã nesse cenário. Todo o percurso, não só da gráfica ao leitor, mas
também aquele que leva o papel e demais insumos às gráficas, quanto o percurso
que o próprio leitor faz de carro de uma banca de jornal até a sua casa, por exemplo,
são momentos em que há grande impacto ao meio ambiente.

2.3 LEITOR PRINCIPAL E LEITORES SECUNDÁRIOS


No caso da notícia impressa, vale observar que o suporte jornal pode ter um
leitor principal (que pode ser o assinante, o comprador, etc.) e leitores secundários.
Assim, ainda há uma etapa de transporte do jornal dentro da etapa dos leitores (do
trabalho para casa, via empréstimos). Logo, pode haver um miniciclo logístico
direcionando o meio impresso de um leitor a outro, o que caracteriza mais gastos
energéticos com transporte e armazenamento.
Antes de o presente artigo iniciar o capítulo que falará da web como suporte de
notícias, vale ressaltar que há ainda a etapa de descarte, reciclagem e/ou
compostagem (tanto do papel como de computadores) que não serão analisadas
neste trabalho.

3 INFORMAÇÃO NA WEB E SUSTENTABILIDADE


Pode-se verificar, na figura 23, que o caminho da informação da empresa de
jornalismo até o consumidor é mais curto na web.
9

3.1 PU
B Figura 23: Caminho da notícia no jornal online (Fonte: da autora)Legenda e fonte de LICAÇÃO
referência da figura? NA
INTERNET EM SITES ESPECÍFICOS (DATA CENTER)
Assim como para o jornal impresso, a web necessita que o material seja editado,
diagramado e revisado. Assim como o material é enviado para a gráfica nos moldes
tradicionais, ele é publicado em um site – na web.
Segundo Capra (2002, p. 146), a internet é uma forma interativa de uso dos
computadores, que, em menos de trinta anos, passou de uma rede experimental,
que atendia a pouco mais de dez institutos de pesquisa dos Estados Unidos, a um
sistema global feito de milhares de redes interconectadas, ligando milhões de
computadores e aparentemente capaz de uma expansão e uma diversificação
infinitas.
Na etapa da publicação, em termos de sustentabilidade, há os data centers, que são
serviços de valor agregado, oferecendo recursos de processamento e armazenamento
de dados em larga escala para que organizações de qualquer porte possam ter ao seu
alcance uma estrutura de grande capacidade e flexibilidade, alta segurança e
capacidade, do ponto de vista de hardware e software, para processar e armazenar as
suas informações (fonte de referência consultada/DINIZ, 2010).
Estabelecendo-se uma comparação entre o processo de pré-impressão (jornal
impresso) e o processo de publicação na internet, por exemplo, pode-se levar em
conta o consumo de energia. Hoje, os grandes data centers já consomem quase 1%
de toda energia elétrica gerada no planeta. Metade mantém os servidores em
funcionamento, e o restante é usado nos gigantes sistemas de ar-condicionado que
regulam a temperatura das salas onde ficam as máquinas (TEIXEIRA, 2007, p. 100).
Mesmo com os gastos de energia, a produção de praticamente zero resíduo mostra
uma face um tanto quanto sustentável da informação digital.
Há, ainda, alternativas verdes dentro desse processo. Sabe-se que os data
centers, pela própria natureza dos seus respectivos equipamentos, necessitam de
refrigeração. Algumas estimativas sugerem que dois terços da energia consumida
por um data center seja para fins de arrefecimento. A IBM, em Madrid, utiliza o calor
gerado pelos servidores do centro de dados para aquecer o edifício (AGUIAR e
AFONSO, 2009, p. 4).

3.2 e 3.3 COMPUTADOR PESSOAL, NO TRABALHO E CELULAR E O


LEITOR
duas seções juntas? Não é um erro de digitação?
Hoje em dia, computadores em casa e no trabalho dos cidadãos são as formas mais
comuns de acesso à internet, seguidas pelo acesso no celular. Já há novas alternativas
de suportes para leitura de livros, mas como configuram-se como lançamentos e não
são populares, não serão tratados no corrente estudo.
Pode-se ter a errônea impressão de que uma informação disponibilizada na web
seja gratuita. Há, porém, toda uma estrutura para que essa informação esteja
10

disponível para o leitor, como a fibra óptica e os sistemas de satélite, que


possibilitam cada vez mais rapidez e acessibilidade. Dentre as tecnologias que
oferecem velocidades superiores aos modems convencionais (56kbps), destacam-se
o acesso via Cable Modem, o ADSL (Asymmetric Digital Subscriber Linedescrever a
sigla por extenso) e o Satélite. Tais tecnologias possibilitam o acesso à rede,
inclusive, em locais remotos. Por conta disso, de toda essa tecnologia e dessa
arquitetura de informação, o leitor/consumidor paga por este serviço.
Assim, a internet não pode ser considerada uma mídia limpa, pois há tecnologia,
recursos, gastos de energia na produção e montagem das redes, bem como na
manutenção do seu funcionamento. Numa abordagem mais holística da web, o seu
diferencial sustentável reside no fato de ela proporcionar acesso a um mesmo conteúdo
por vários usuários concomitantemente, ou seja, para que dois leitores, em cidades
diferentes, leiam uma mesma matéria em um jornal, esse mesmo conteúdo pode ser
acessado ao mesmo tempo, sem que seja necessário um novo template,
diferentemente do jornal impresso que, nesse caso, necessitaria de dois exemplares.
Não se deve esquecer, porém, que há, ainda, o suporte dessa informação: o
computador ou o celular. Essa seria a subetapa do processo em que o caminho
deixa de ser verde.
Na fabricação de um computador, são utilizados, em média, 1800 quilos de
materiais. Segundo Rosa (apud Pinto, 2009), “são, por exemplo, 240 quilos de
combustíveis fósseis, 22 quilos de produtos químicos e – talvez o dado mais
impressionante – 1500 quilos de água3”.
Há, ainda, que pesar que, num país como o Brasil, vive-se uma dependência
quase que total de importações de hardwares. Em termos de sustentabilidade, além
da questão da fabricação vista no parágrafo anterior, há o problema do impacto
ambiental gerado pelo transporte, que vai das matérias-primas aos fabricantes de
peças, dessas peças aos fabricantes de hardwares e do computador (hardware)
pronto até o consumidor final.
E, uma vez na casa do consumidor, para que ele acesse a informação
supostamente gratuita, há o gasto com energia elétrica. Nesse ponto, observam-se
alternativas e avanços no sentido de otimização de gastos. Conforme aponta Teixeira
(2007, p. 101), é claro que o consumo de um computador doméstico é muito pequeno
quando comparado a um chuveiro ou um ferro elétrico. Mas a pressão sobre as
fabricantes de processadores deve ser cada vez maior, pois seus maiores mercados
são os países ricos, onde a energia custa caro e o consumo ambientalmente correto é
cada vez mais presente.

4 CONCLUSÕES
Sustentabilidade é um tema amplo e complexo, pois mostra que cada pequena
ação do homem dentro de um processo pode mudar influenciar o todo, gerando
muito mais ou muito menos impacto ambiental. Por conta disso, não se pode afirmar
se as mídias impressas são mais ou menos sustentáveis que a web. O que se
observa, na web, é uma tendência forte no sentido de facilitar o alcance à
informação sem grandes aumentos de custo para o leitor/consumidor ou, ainda, sem
o aumento de impactos ambientais.
Mesmo na consagrada mídia impressa, pôde-se notar uma série de iniciativas,
legislações e tendências para que haja diminuição do impacto ambiental. Como o
3
Para se obter a pureza necessária na produção de pasta de silício, utilizado na fabricação de circuitos e placas
de computadores, por exemplo, deve-se banhar o material em grande quantidade de água pura.
11

processo de impressão é muito poluente, há ainda um grande caminho a ser


percorrido, mas a tecnologia, a mesma que busca democratizar o conhecimento na
web, também tem-se mostrado uma aliada eficiente na redução de insumos no ramo
gráfico.
Num contexto tão dinâmico, em que as tecnologias evoluem rapidamente, cabe
ao designer ter a capacidade de avaliar o todo e, se não dispuser de meios para ser
um agente sustentável no processo da distribuição da informação (de dentro das
empresas), que seja um observador e crítico, um conhecedor do amplo espectro de
variáveis para, a partir disso, poder ser um agente formador de opinião.
12

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Hugo; AFONSO, Pedro. A contribuição da Informática para o Desenvolvimento


Sustentável: o exemplo do conceito de Grid Computing. Nov. 2009. Disponível em
< http://run.unl.pt/handle/10362/2005>. Acesso em 03/06/2010

BRACELPA, Associação Brasileira de Celulose e Papel. Disponível em


<http://www.bracelpa.org.br/bra/saibamais/tipos/imprensa.html>. Acesso em 01/06/2010

BAER, Lorenzo. Produção Gráfica. São Paulo: Editora Senac, 1999.

BROWN, Lester R. O Vigésimo nono dia Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
1980

CAPRA, F. As conexões ocultas. Ciência para uma vida sustentável. São Paulo:
Cultrix, 2002.

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso


futuro comum. Rio de Janeiro: FGV, 1991.

CONSELHO BRASILEIRO DE MANEJO FLORESTAL. In: home. Disponível em


< http://www.fsc.org.br/>. Acesso em 03/06/2010

DINIZ, Stenio. Gestão de Hardware e Serviços. Disponível em


<http://www.scribd.com/doc/19841802/null. Acesso em 08/09/2010.

FERNANDES, Amaury. Fundamentos de produção gráfica: para quem não é


produtor gráfico. Rio de Janeiro: Rubio, 2004.

HEIDELBERG. In: Sustentabilidade: CtP´s Heidelberg Suprasetter A52 e A75


permitem que o gráfico obtenha excelentes resultados com menor consumo de
energia. Disponível em
<http://www.br.heidelberg.com/www/html/pt/content/articles/news/2010/100129_sup
rasetter.
Acesso em 03/06/2010.

KOTLER, Philip. Administração de marketing: A Edição do Novo Milênio. 10. ed.


São Paulo: Prentice Hall, 2000.

MEADOWS, Donella H. Et Al. Limites do crescimento: um relatório para o Projeto do


Clube de Roma sobre o Dilema da Humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.

PINTO, Flávio Nakamura. TI Verde: A tecnologia sendo influenciada pelo meio


ambiente. São Paulo: Faculdade de Tecnologia da Zona Leste, 2009.

SERVIÇO: AMBIENTE. In: Home: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor


(IDEC). Disponível em <http://www.idec.org.br/rev_servicosambiente.asp>. Acesso
em 01/06/2010.
13

SGS – empresa de certificação internacional. In: Restrição do uso de Substâncias


Perigosas Disponível em
http://www.br.sgs.com/pt_br/rohs_certification_services_br. Acesso em 03/06/2010.

TEIXEIRA, Sérgio Jr. A Era da Computação verde. Exame, Ed. 895 ano 41
20/06/2007 p. 100-101.

TRIGUEIRO, André. Mundo sustentável: abrindo espaço na mídia para um planeta


em transformação. São Paulo: Globo, 2005.

VEZZOLI, Carlo e MANZINI, Ezio – O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis – Os


requisitos dos produtos industriais. EdUSP, São Paulo, 2002.

Você também pode gostar