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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIAM-FAAM

DHEBORA PITA DA FONSECA


DIANA BEZERRA ARAÚJO DA COSTA
MARIANA MARTINS COLLADO
RITA MENEZES DE SENA

FAKE NEWS E OS LÍDERES DE OPINIÃO NA ERA MIDIÁTICA: O RISCO


PARA A DEMOCRACIA

SÃO PAULO
2019
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................... 3

ABSTRACT ............................................................................................................. 3

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 5

3. O CONCEITO DA PÓS-VERDADE ........................................................................ 7

3.1. APLICAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE .................................................... 7

4. A OPINIÃO PÚBLICA .............................................................................................. 9

4.1. ORIGEM E CONCEITO ................................................................................... 9

4.2. OS LÍDERES DE OPINIÃO NA ERA MIDIÁTICA............................................. 9

5. CONTEXTOS ATUAIS .......................................................................................... 12

5.1. INFLUENCIADOR X INFLUENCIADOS E SEUS INTERESSES PESSOAIS 12

5.2. FAKE NEWS NO PROCESSO DEMOCRÁTICO ........................................... 13

5.3. OS EFEITOS DAS INFORMAÇÕES IMPRECISAS DO DISCURSO DE JAIR


BOLSONARO ........................................................................................................ 15

6. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 18

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 20


RESUMO
O presente artigo se propõe a analisar até que ponto um forte de líder de
opinião constantemente vinculado à Fake News na era midiática pode ser um risco
para a democracia do país. A sua primeira parte consiste na busca das origens e
aplicação na sociedade do conceito de pós-verdade, onde os fatos perdem a solidez
e os indivíduos passam a selecionar as verdades que os convém, abstendo-se da
apuração e da constatação de fatos. A segunda parte investiga o impacto que os
líderes de opinião têm na formação da opinião pública, e a terceira engloba os dois
estudos para averiguar os efeitos práticos nos indivíduos através da análise da
repercussão do discurso do presidente Jair Bolsonaro na 74ª Assembleia Geral das
Nações Unidas (ONU), marcado pela presença de inúmeras informações imprecisas
e infundadas.

Palavras-chave: Fake News; rede sociais; democracia; líder de opinião; pós-


verdade; opinião pública

ABSTRACT
This article proposes to analyze to what extent a strong opinion leader
constantly linked to Fake News in the media age could be a risk to the country's
democracy. Its first part is the search for the origins and application in society of the
concept of post-truth, where facts lose their solidity and individuals start to select the
truths that suit them, refraining from finding and verifying facts. The second part
investigates the impact that opinion leaders have on shaping public opinion, and the
third part encompasses both studies to ascertain practical effects on individuals by
analyzing the repercussions of President Jair Bolsonaro's speech at the 74th United
Nations General Assembly (UN), marked by the presence of numerous inaccurate and
unfounded information.

Keywords: Fake News; social media; democracy; opinion leadership; post-truth;


public opinion

3
1. INTRODUÇÃO
Os processos pelos quais recebemos e credibilizamos uma notícia, vêm se
modificando de maneira proporcional às etapas em que a sociedade evolui
tecnológica e socialmente. Receber uma informação já não necessita mais de
espacialidade física ou de tempo significativo de locomoção, uma vez que o
ciberespaço proporciona instantaneidade nas trocas comunicacionais.
Com isso, provar a credibilidade das grandes mídias na era da informação vem
sendo uma das tarefas mais desafiadoras para o jornalista contemporâneo, não só
pelo excesso de informação por toda a rede, mas pela influência de grandes líderes
de opinião que disseminam, propositalmente ou não, informações com fatos
imprecisos e deturpados. E quem o público escolhe: as grandes mídias sem rosto que
se juntam para dar a mesma informação, ou a figura física que superficialmente tem
os mesmos ideais (religiosos, políticos e éticos) que ele e com a qual ele acaba por
desenvolver uma relação simbólica-afetiva?
O conceito de pós-verdade e as relações interpessoais entre líderes de opinião
e o público influenciado serão explorados neste artigo que busca averiguar até que
ponto um líder de opinião, na era da informação e das Fake News, pode ser um risco
para a democracia do país quando coloca seus interesses pessoais acima de tudo e
a falta de ética acima de todos.
Para isso concluir este estudo, será analisada a repercussão nas redes sociais
do discurso do atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, na 74ª Assembleia
Geral das Nações Unidas (ONU), marcado pela presença de inúmeras informações
incorretas ou infundadas sobre o território e a política nacional e internacional. Além
disso, também haverá comparação com as teorias de comunicação dos autores
expostos no referencial teórico.

4
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A primeira referência a ser explorada como referencial teórico neste artigo é o
conceito de pós-verdade, de Steve Tsich. Mcintyre (2018) destaca que “o
negacionismo científico, a hiperpolarização política, vieses cognitivos, big data, mídias
sociais, bolhas on-line e pós-modernidade são fatores base para que se estabeleça
um ambiente de desconfiança como é característico da pós-verdade”. Essa afirmação
forma um sentido linear frente ao argumento do indivíduo que abre mão dos fatos
racionalmente comprovados, em prol do que ele simplesmente acredita
ideologicamente.
Nós, como um povo livre, escolhemos livremente que queremos viver em um
mundo de pós-verdade”, ele registrou. O “pós” não se refere simplesmente a
“depois”. O sentido está relacionado a palavras como “pós-nacional” ou “pós-
racial”, em que os conceitos se tornaram irrelevantes. A “política de pós-
verdade” seria, assim, uma política marcada pela irrelevância da verdade,
soterrada pela emoção. Como no referendo britânico ou na eleição
americana. (TISCH, 1979)

Posteriormente, os estudos de Walter Lippmann introduzem sobre a criação


da opinião pública e a transformação do líder em opinião em um símbolo para o seu
receptor.
"O símbolo faz isso. Ele obscurece a intenção pessoal, neutraliza a
discriminação, e ofusca o propósito individual. [...] Ele torna a massa móvel,
muito embora imobilize a sua personalidade. O símbolo é um instrumento
através do qual no curto prazo a massa escapa de sua própria inércia, a
inércia da indecisão, ou a inércia do movimento precipitado, e é tornada
capaz de ser carregada ao longo do ziguezague de uma situação complexa."
(LIPPMANN, 1922, p. 211)

Desta relação simbólica, ainda para Lippmann, forma-se o risco de o receptor


se manter apenas em situação passiva em relação ao líder e, portanto, um fácil alvo
de manipulação.

Quando resultados rápidos são imperativos, a manipulação das massas


através dos símbolos pode ser somente a única forma rápida de ter uma coisa
urgente feita. É frequentemente mais importante agir do que entender. Às
vezes é verdade que a ação falhará se todos a compreenderem. (LIPPMANN,
1922, p. 210)

Aplica-se seu conceito na contemporaneidade, juntamente ao nosso líder de


opinião na era midiática, onde a informação ultrapassa o espaço físico e o tempo. Este
líder influenciador costuma ser escolhido através dos parâmetros de familiaridade e
ideais do receptor.

5
Defleur e Rokeach (1993, p.213) corroboram as ideias de Lazarsfeld e Katz
(2009, p. 32), visto que, de acordo com tais autores, em quase todos os
ambientes em que as pessoas necessitam tomar decisões as mesmas
recorrem à opinião de outras consideradas confiáveis. Porém, conforme
Littlejohn (1988, p. 330), existia uma seleção daqueles que se tornavam
líderes de opinião. Tais indivíduos só se tornavam influentes quando o
assunto era de interesse de todos os membros do grupo. Assim infere-se que,
as pessoas que recebiam informações não eram submissos aos líderes de
opinião, uma vez que esses selecionavam quem seriam seus mediadores de
informações. (LAZARSFELD; KATZ; LITTLEJOHN apud OLIVEIRA, 2015, p.
2)

Já na era da comunicação de massa, Two-step-flow of communication


(Lazarsfeld e Kantz, 1955) é a teoria que reconfigura o líder de opinião na sociedade,
criando agora um mediador entre o meio, a mensagem e o receptor.

Nessa teoria, a comunicação se dava em duas fases. Na primeira,


encontravam-se os líderes de opinião (pessoas tidas como bem informadas,
com maior contato com os meios de comunicação, mais politizadas) que
recebiam a mensagem dos meios de comunicação. Já na segunda fase,
esses indivíduos repassavam as informações para o público em geral que é
menos exposto à mídia e, por isso, tornava-se dependente de outros seres
para receber sua própria informação. (LAZARSFELD; KATZ apud OLIVEIRA,
2009, p. 32)

A credibilidade jornalística também é um ponto abordado, À vista de Altares


(2018), “essa desconfiança se prolonga até nossos dias, com aqueles que acreditam
erroneamente que a imprensa conta mentiras, e que as redes sociais oferecem
verdades”. Essa afirmação pode se ramificar com os estudos de Katz (2008), que
diziam que uma das características a compor o líder do opinião é a facilidade que
ele possui de fazer a alteração do conteúdo e do seu discurso de forma a persuadir
o indivíduo em suas necessidades, “encontrando o melhor caminho para influenciá-
lo”.
Chistofoletti (2011, p. 1) aponta os efeitos das relações afetivas e dos elos
sociais ganhando novas formas com as redes sociais na internet. Denunciando a
descentralização dos meios tradicionais de comunicação, ele frisa que “a política e a
organização social despertam para movimentos subjacentes ao ciberespaço, [...] as
relações afetivas e os elos sociais ganham novos contornos com as redes sociais na
internet.”

6
3. O CONCEITO DA PÓS-VERDADE
O fenômeno da pós-verdade adere-se ao mundo num momento pós-moderno,
aonde é possível detectar uma profunda noção de globalização, advinda da tecnologia
e da facilidade da existência de uma conexão on-line. Se trata de um momento
contemporâneo da existência humana, aonde a consciência sobre a verdade é
facilmente alterada quando vinculada a conceitos que mexem com sentimentos,
emoções e crenças. De forma geral, pode-se classificar a pós-verdade como um
momento aonde os fatos perdem a solidez diante da opinião pública quando
comparados com as opiniões do espectador. Uma verdade alternativa, advinda da
opinião de quem fala e apresentada de maneira sensacionalista, com o propósito de
chocar o espectador e estabelecer o vínculo emocional com suas opiniões e
sentimentos a respeito do tema.
O artifício do sensacionalismo é também característico do diálogo pós-
verdadeiro, já que chega aos ouvidos do público como um diálogo que é
assumidamente intimidador, pretende se utilizar minuciosamente de palavras capazes
de persuadir e convencer o leitor/espectador de que a verdade absoluta dos fatos está
sendo apresentada para ele naquele exato momento, e que ele precisa enxerga-la
rapidamente, antes que seja tarde.
O termo "pós-verdade" (ou "post-truth, do inglês) é definido da seguinte forma
de acordo com o dicionário de Oxford (2016), “Post-truth (pós-verdade): relativo ou
referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na
opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais”.
Ainda segundo o Oxford, a expressão surgiu pela primeira vez na literatura em
um artigo de Steve Tsich que foi publicado na revista The Nation, em 1992. No artigo
em questão, Tsich falava sobre a primeira Guerra do Golfo: "Nós, como povo livre,
decidimos livremente que queremos viver em uma espécie de mundo da pós-
verdade".
3.1. APLICAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE
Dentro do contexto social atual, a velocidade de disseminação de informação é
um aliado e também um inimigo que, juntamente com as redes sociais e a formação
de bolhas de interesse, contribui em larga escala para o compartilhamento de notícias
falsas. Ao mesmo tempo que existe a facilidade proporcionada pela comunicação
global entre pessoas de todas as regiões do mundo, a verdade é jogada para

7
escanteio, e torna-se não mais um elemento factual, mas opinativo. Fatos são
publicados e de forma praticamente imediata, surgem diversas versões explicativas
que se apresentam como verdade absoluta, e a sociedade acaba por patinar num
campo minado entre a mentira e o fato.
Por ter se alastrado de maneira astronômica, a imprensa se preocupa em
alertar e ensinar seu público consumidor a entender melhores e mais seguras
maneiras de consumir informações de forma que entendem a diferença entre
informações falsas e verdadeiras e, principalmente, entre o que é uma opinião e o que
é um fato.
Mcintyre (2018) aponta fatores como o negacionismo científico, a
hiperpolarização política, vieses cognitivos, big data, mídias sociais, bolhas on-line e
pós-modernidade como sendo fatores base para que se estabeleça um ambiente de
desconfiança como é característico da pós-verdade.
O filósofo Friedrich Hegel pondera a História como “um mito consentido”, aonde
cada acontecimento gera diferentes percepções nas pessoas, e pode ser contado e
recontado de diferentes perspectivas, resultando em versões diferentes de uma
mesma história, um mesmo momento. Hegel acredita que cada um contará a história
de acordo com seu ponto de vista, apresentando a sua versão dos fatos, e a partir daí,
será ou não aceita pela sociedade.
Entretanto, considerando a ética jornalística e os princípios da profissão, a
apuração detalhada e feita de forma mais fiel a realidade possível se faz necessária
quando entendemos a importância de repercutir uma informação para toda uma
nação, que irá, de acordo com Hegel, interpretar o fato de maneira singular e subjetiva.

8
4. A OPINIÃO PÚBLICA
4.1. ORIGEM E CONCEITO
A prática da opinião pública manifestou-se pela primeira vez na Grécia Antiga,
apesar de seu conceito e definição só começarem a ser concretizados no sentido
sociológico às vésperas da Revolução Francesa (1789-1799) por Jean-Jacques
Rousseau, posteriormente aparecendo na literatura acadêmica a partir de 1922 com
a obra bem-sucedida Opinião Pública, de Walter Lippmann, que tornou-se um clássico
nos estudos de comunicação.
Para ilustrar o seu sentido, podemos reatar às suas origens: era costumeiro
que os gregos se reunissem em volta de praças públicas, denominadas Ágora, para
que discutissem sobre questões ligadas à vida da cidade (polis1). Vê-se então que a
opinião pública se constrói pela relação entre os cidadãos em contato com os
acontecimentos externos e comuns do lugar onde vivem, buscando um consenso
sobre aspectos relevantes para a harmonia do convívio social de sua comunidade.
É deste ponto que surge uma opinião comum, a opinião da maioria, o filtro,
até então democrático, das vontades da população. Mas até que ponto isso pode, de
fato, no século 21, após os efeitos da globalização e da drástica evolução dos meios
de comunicação, interferir negativamente na democracia de um país? E como?
Após a Revolução Industrial, o crescimento populacional, a alteração nas
fronteiras dos países e a reformulação dos sistemas políticos, é inviável que a
população se reúna nas praças de sua cidade para decidir o que é melhor para o
convívio. Então, como se forma a opinião pública hoje em dia?

4.2. OS LÍDERES DE OPINIÃO NA ERA MIDIÁTICA


Na era midiática, os líderes de opinião passam por transformações. Se antes
esses indivíduos capazes de influenciar a opinião de um conjunto ou da maioria das
pessoas, como amigos, família ou centros religiosos, necessitavam estar fisicamente
próximos dos indivíduos aos quais eles influenciavam, hoje os meios de comunicação
demonstram ser um forte modificador na relação do povo com a opinião pública,
devido à proximidade física não ser mais um fator para a troca de informação.

1
Polis eram cidades-estados que tiveram papéis cruciais no desenvolvimento da cultura
grega. Atenas e Esparta são os exemplos de polis gregas mais famosas.
9
Seguindo a ordem cronológica, foi no ano de 1940 que os sociólogos Paul
Lazarsfeld, Bernard Berelson e Hazel Gaudet iniciaram um estudo que buscava
analisar as relações entre os meios de comunicação e os seus receptores durante o
período eleitoral, percebendo quais eram os elementos de maior influência na hora do
voto. Esse projeto recebeu o nome de The People Choice’s e sua conclusão foi de
que a influência que o rádio e os jornais tinham diante do eleitorado era ínfimo,
considerando que o que mais obtinha relevância em suas decisões era a opinião dos
mediadores do seu círculo.

Certas pessoas em todos estratos da comunidade atuavam retransmitindo


papéis nos meios de comunicação de massa de informação e influenciavam
nas eleições. [...] Quando essas pessoas eram perguntadas sobre o que tinha
contribuído para a decisão delas, a resposta era: outras pessoas.
(LAZARSFELD; KATZ, 2009, p. 31)

Deste ponto surge o conceito de líder de opinião da era midiática por Lazarsfeld
e Katz (2009), que os definem como “pessoas tidas como bem informadas, com maior
contato com os meios de comunicação e mais politizadas”. E por que os chamados
mediadores?
Os mesmos autores lançam a teoria de comunicação Two-stop flow of
communication, também chamada de Teoria do fluxo comunicacional em duas etapas,
que contrapõe a Teoria Hipodérmica, ou Teoria da Bala Mágica, cujo estudo determina
que a repetição de uma mensagem midiática influencia igualmente a opinião de todos
os seus receptores.
Se o segundo exemplo massifica a sociedade, a Teoria do fluxo comunicacional
estipula uma individualidade crucial ao tempo em que se decide por quais opiniões e
por qual líder de opinião se deixar influenciar. Pelas palavras de Littlejohn (apud
OLIVEIRA, 1988, p. 330)

Existia uma seleção daqueles que se tornavam líderes de opinião. Tais


indivíduos só se tornavam influentes quando o assunto era de interesse de
todos os membros do grupo. Assim infere-se que, as pessoas que recebiam
informações não eram submissas aos líderes de opinião, uma vez que esses
selecionavam quem seriam seus mediadores de informações.

As duas partes então consistem, primeiro, na posição do líder de opinião, e


segundo, na mediação da informação que transforma a fórmula: “informação → mídia
→ público” em “informação → mediador de opinião → mídia → público”. A informação
chega ao público não em sua forma bruta, mas mediada por alguém que concorda ou

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não com seus preceitos e que pode influenciar os próximos a terem contato com a
sua expressão.

O fator que enfatizava a imagem do líder era a facilidade que o líder de


opinião possuía de modificar o conteúdo conforme ele interagia com o
indivíduo. Com base no comportamento do receptor, tal líder construía sua
argumentação e decidia qual o melhor caminho para influenciá-lo. (KATZ
apud OLIVEIRA, 2008, p. 50)

Uma vez que o líder domina o seu discurso e obtém credibilidade do seu
público, facilmente cria-se de sua imagem um símbolo de verdade, de semelhança
com os seus ideais. Conquistar essa relação simbólica-afetiva, torna seus dizeres
muito mais aceitáveis ou releváveis, pois a racionalidade do fato é sobreposta pela
sensação de representatividade que da figura. Se o receptor passa a acreditar
piamente no líder de opinião, sem um levantamento de dados e perspectivas através
de outras fontes, ele se torna passível diante da veracidade e consistência de todas
as informações divulgadas. E este se torna um terreno fértil, por exemplo, para a
conquista de votos políticos e o apoio cego, por parte dos eleitores, às medidas
tomadas pelo líder após a conquista do cargo.

11
5. CONTEXTOS ATUAIS
5.1. INFLUENCIADOR X INFLUENCIADOS E SEUS INTERESSES PESSOAIS
Essa relação de poder entre o líder de opinião e o grupo influenciado é
construída por uma linha muito tênue que pode facilmente se inclinar, de uma forma
extremamente sutil, para uma manipulação mais profunda e intrínseca. Quando a
integridade ética do líder é corrompida pelos seus interesses pessoais e individuais, o
público deve manter-se em extrema posição de alerta para que não se torne passivo
e maleável demais. Quando uma grande verdade se mistura com inúmeras pequenas
mentiras, temos um desacordo na ética da formação da opinião.

Aymanns, Foerster e Georg (2017) diferenciam Fake News claramente


identificáveis (como sátiras), muitas vezes partilhadas pelo seu valor
humorístico, daquelas cuja ausência de base factual não é óbvia e levanta
incerteza sobre a veracidade de seu conteúdo, as quais classificam como
“preocupantes”. (DELMAZO; VALENTE, 2018)

O ponto em que o público se permite ser influenciado deve ser mediado pela
objetividade dos fatos e das suas ações, para que se mantenha a autonomia de
pensamento da população.
A lealdade tem se mostrado um ponto muito forte para os brasileiros que foram
desiludidos pelo sistema político do seu país desde o último mandato da presidenta
Dilma Rousseff, substituída por Michel Temer através de um articulado golpe de
estado. O processo foi curioso, já que a população começou protestando pelo
aumento do preço do ônibus, e quando se deu conta, gritava “fora, querida!” pelas
ruas brasileiras sem saber o porquê. De certo tinham uma certeza: haviam ouvido, e
não se sabe de onde, que aquele governo decaía cada vez mais, e que o país cairia
em ruínas com o “golpe comunista” que os partidos de esquerda ameaçam dar. Foi
então que esse conjunto de líderes políticos que aparecem sem rosto para a maior
parte da população, mas que são incrivelmente influentes no controle da mídia e da
população, transformaram uma grande verdade (a insatisfação do povo quanto aos
altos preços e a estagnação do governo em contraste com uma forte crise econômica)
em inúmeras pequenas mentiras que o povo brasileiro comprou de graça.
De acordo com o Datafolha, em março de 2013, antes das manifestações que
antecederam a Copa do Mundo, a popularidade de Dilma era avaliada em 65%
satisfatória. Ao final de junho, repentinamente, apenas 40% de aprovação, seguido

12
por 41% em fevereiro e, finalmente, o governo de Dilma chegou a apenas 33% de
aprovação.
Nesta época, os três poderes se mostravam estagnados, já que nem as
medidas do poder executivo e nem as dos poderes legislativo e judiciário eram aceitas,
estrategicamente mantendo a imagem do governo como ineficaz e sem cuidado com
população que continuava a pedir por salários mais altos e saúde de maior qualidade.
Mostrava-se naquela ocasião, a fórmula perfeita da seleção dos grandes fatos e
pequenas mentiras (vide a sempre promessa de um “golpe comunista” historicamente
relacionada aos governos de esquerda que ocuparam o poder) que gerariam efeitos
cruciais na população, de interesse das grandes figuras políticas.
Dilma foi a primeira presidenta mulher e também a primeira a sofrer um
impeachment, num país extremamente machista, onde a opinião da mulher parece
sempre ter que percorrer um caminho mais longo para se tornar tão influente quanto
a dos homens. As mulheres são facilmente aceitas como formadoras de opinião
dentro de um meio estereotipado como moda, beleza, cuidados da casa, mas
dificilmente é dada voz quando se trata de seu potencial na ciência, na política e na
economia de um país, e a eficácia das suas escolhas é constantemente duvidada.

5.2. FAKE NEWS NO PROCESSO DEMOCRÁTICO


“Uma mentira repetida mil vezes se torna-se verdade” a frase de autor
desconhecido é atribuída ao ideólogo nazista Joseph Goebbels, Ministro de
propaganda de Adolf Hitler, que de certa forma encaixa-se no contexto atual, em que
pessoas acreditam facilmente no que é propagado sem se questionarem se os fatos
são mesmo reais.
Um estudo do MIT (Instituto de tecnologia de Massachusetts) dedicado a
Revista Science, diz que “Fakes News têm 70% de chance virilizarem como sendo
notícias verdadeiras”. Os cientistas analisaram que todas as postagens falsas
alcançam em torno de cem mil pessoas, enquanto as verdadeiras atingem somente
mil. Conforme afirma Sinan Aral, o estudo é exclusivamente nos EUA, mas se aplica
da mesma forma em outros países incluindo o Brasil.
O Twitter, Facebook, Instagram e WhatsApp são os principais meios por onde
circulam as Fake News. Nessas redes a comunicação entre seus pares exerce a
afirmação de identidades, ou seja, tudo que é compartilhado de certa maneira busca-

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se dividir com pessoas que tenha uma linha ideológica parecida, tendemos a fazer
trocas com pessoas que possuem opiniões parecida. Os algoritmos trabalham dessa
maneira, mostrando o que nos agrada e colhe informações para mostrar aquilo que
condiz com o perfil de cada pessoa, desta forma, ao mesmo tempo, que nos conecta,
também nos distancia, formando bolhas sociais.
As redes sociais são um terreno fértil para a disseminação de Fake News,
geralmente vem acompanhadas por títulos chamativos, polêmicos, que são fáceis de
serem entendidos, um atrativo fácil aos olhos de quem está lendo. Sua criação tem
origem ou por pessoas comuns, já que hoje temos a possibilidade de interagir de
maneira rápida e fácil, ou também por grupos de empresas ilegais que criam conteúdo
falso e disparam essas mensagens na internet.
E com a forte polarização e a crise econômica e social que o Brasil vem
enfrentado desde o governo de Dilma Rousseff, as redes se mantiveram aquecidas
das mais diversas informações, muitas delas falsas, geralmente usadas para
desestabilizar adversários políticos como ocorreu nas últimas eleições de 2018.
Exemplo disso, foi a manipulação de imagem com a deputada Manuela D’Ávila, em
uma foto em que ela usava uma camiseta escrito “rebelar-se", que fora trocada por
“Jesus é Travesti”. O intuito era de denegrir sua imagem, já que na época que
repercutiu, D’Ávila era vice-presidente de Fernando Haddad.

Imagem 1: Fake News criada com a foto de Manuela D’Ávila. Fonte: fb.com/manueladavila
14
5.3. OS EFEITOS DAS INFORMAÇÕES IMPRECISAS DO DISCURSO DE JAIR
BOLSONARO
As últimas eleições não foram somente palco para notícias falsa, recentemente
o atual presidente Jair Messias Bolsonaro discursou na 74ª Assembleia Geral das
nações unidas da ONU, dando informações distorcidas sobre a política e o território
nacional e internacional. Em uma amostragem, o site do G1 fez uma checagem do
discurso, mostrando os pontos equivocados e apontando o quais eram informações
falsas e as verdadeiras:

I.
Imagem reproduzida da notícia “Veja o que é #FATO ou #FAKE no discurso de Bolsonaro na
ONU”. Fonte: G1
15
II.
Imagem reproduzida da notícia “Veja o que é #FATO ou #FAKE no discurso de Bolsonaro na ONU”.
Fonte: G1

III.
Imagem reproduzida da notícia “Veja o que é #FATO ou #FAKE no discurso de Bolsonaro na ONU”.
Fonte: G1
16
A pós-verdade facilmente se aplica a estratégias de disputas políticas, como
vistas na campanha de Donald Trump e de Jair Bolsonaro, e potencializa seus efeitos
quando combinada com a divulgação de dados imprecisos e adulterados que
trabalham para dar crédito ao próprio partido e descredibilizar e demonizar seus
concorrentes. Isso possibilita um caminho mais fácil para a vitória presidencial.
Como descreve Marcia Tiburi (2017), “a verdade se tornou mercadoria,
conveniência, para qualquer um”.

Alguns consideram que o discurso da pós-verdade corresponde a uma


suspensão completa da referência a fatos e verificações objetivas,
substituídas por opiniões tornadas verossímeis apenas à base de repetições,
sem confirmação de fontes. Penso que o fenômeno é mais complexo que
isso, pois envolve uma combinação calculada de observações corretas,
interpretações plausíveis e fontes confiáveis em uma mistura que é, no
conjunto, extremamente falsa e pretenciosa. Não se trata de pedir ao
interlocutor que acredite em premissas extraordinárias ou contra intuitivas,
mas de “explorar preconceitos que o destinatário cultiva e que, gradualmente,
nos levam a confirmar conclusões tendenciosas. (DUNKER, 2017)

Nesse processo de checagem de informação, que é algo primordial para


atividade jornalística para sua credibilidade ser garantida, o jornalismo vem sofrendo
uma crise por conta das Fake News, ao contraponto de que também vem
acompanhado de uma checagem muito mais aprofundada para fugir desse abismo.
Inúmeras empresas estão se remodelando para os ambientes digitais onde a
interação com o público é muito maior, e as trocas podem enriquecer o trabalho do
jornalista neste sentido, por isso é preciso estar atento às redes onde a maioria dos
usuários passam a maior parte do tempo.

Os meios de comunicação não têm mais a centralidade/primazia/exclusi-


vidade que tinham no processo de informação dos cidadãos. A escola e as
instituições de ensino, sozinhas, não mais preenchem e atendem às
necessidades de conhecimento das pessoas, que buscam
formação/instrução/capacitação em outros recursos e fontes. A política e a
organização social despertam para movimentos subjacentes ao ciberespaço,
onde o ativismo reedita a utopia e renova algum sentido de coletivismo. As
relações afetivas e os elos sociais ganham novos contornos com as redes
sociais na internet. (CHISTOFOLETTI apud OLIVEIRA, 2011, p.1)

Atualmente, há mídias independentes que fazem um trabalho minucioso nesse


espaço, como a Mídia Ninja e os Jornalistas Livres. Alcançando cada vez mais
visibilidade nas suas plataformas on-line, estes dois exemplos são de formadores de
opinião que buscam agregar o debate como principal ferramenta de conhecimento.
Muito se observa nessas mídias, um espaço que revela a verdade como resposta e
fuga às empresas jornalísticas e televisivas - os meios tradicionais que mantinham o
monopólio da informação.
17
6. CONCLUSÃO
Esse estudo apresentou a influência dos líderes de opinião na era midiática e
seus riscos e efeitos para a democracia do país quando eles se tornam fonte de
informações inverídicas.
Trabalhamos a questão da credibilidade jornalística quando as Fake News são
viralizadas através de líderes de opinião invadem as redes e notamos que, mesmo
com fontes que conquistaram sua credibilidade ao longo dos anos conforme cresciam
como grande mídia informativa, a população que escolhe seguir um líder de opinião,
geralmente filtra as notícias não pela checagem e racionalidade dos fatos, mas pelo o
seu senso moral ou ideológico.
As imagens abaixo confirmam que, mesmo após a repercussão do discurso do
presidente nas mídias e redes sociais, e após todos os dados reais e justificativas
apresentadas objetivamente pela grande mídia informativa, os seus seguidores
continuam o apoiando incondicionalmente, convencidos pela imagem de um homem
honesto e engenhoso construída para formar o líder de opinião.

I. II. III.
Imagens I, II e III reproduzidas das respostas do público ao tweet “ANÁLISE | Discurso de
Bolsonaro na ONU isola ainda mais o Brasil”. Fonte: Twitter @Estadao

Enquanto o presidente toma atitudes que prejudicam a imagem do país no


exterior, e a coexistência da população nacional, o povo segue dividido entre os que
acham que a função da oposição é “torcer para o Brasil não dar certo” e que acreditam
que todos os meios de informação que fogem do fanatismo político bolsonarista são

18
mentirosos, doutrinadores e esquerdistas, e os que tentam fazer a população
enxergar que as medidas tomadas pelo presidente são, sim, um risco à democracia.
Seus seguidores se tornam a personificação do líder: mimados, avulsos da realidade
comum e presos a um nicho que acredita ser para quem Bolsonaro governa, mas que
foge da população branca e elitista.
Desta forma, enquanto a população não for capaz de conviver com as suas
diferenças e se tornarem dispostos à ajuda mútua na averiguação dos fatos que
realmente aconteceram na sociedade comum em que vivem, haverá dificuldade em
alcançar o consenso sobre o que é melhor para o país, e aos poucos, democracia e
coexistência se tornará nada mais do um termo histórico, em meio às nebulosas
inverdades que tentam manipular, mais uma vez, a sociedade em prol dos seus
interesses pessoais e únicos.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTARES, Guillermo. A longa história das notícias falsas: utilização política das
mentiras começou muito antes das redes sociais, e a construção de outras realidades
era uma constante na Grécia antiga. El País. Madrid (2018). Acesso em 28 de outubro
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