Você está na página 1de 20
bre o Brasil e América Latina, Carlos Nelson Coutinho Luiz Sérgio N. Henriques Leandro Konder Gilvan P. Ribeii José Paulo Netto Realismo e Anti-Realismo na Literatura Brasileira Paz e Terra © Carlos Nelson Coutinho, Luts Sérgio Henriques, Lean- Qo Konder, Gilvan Ribeiro e José Paulo Netto, 1972, ‘ Sumario Capa: LAURA GASPARIAN Prefacio 1X © SIGNIFICADO DE LIMA BARRETO NA LITERATU- ‘ RA BRASILEIRA (Carlos Nelson Coutinho) 1 CONTRADICOES DO MODERNISMO (Luiz Sérgio Nas- ‘cimento Henriques) 57 Todos 0s direitos desta edigdo reservados pela ‘ EDITORA PAZ E TERRA, S. A. A“VITORIA DO REALISMO” NUM POEMA DE DRUM- MOND: A MESA (Leandro Konder) 75 - Ri , 156, 5/1.222 2 ee ee © ALEGORICO EM GUIMARAES ROSA (Gilvan P. Ri- Rio de Janeiro — GB. beiro) 95 DEPOIS DO MODERNISMO (José Paulo Netto) 105 Em Grande Sera: Veredas o homer sev redurido & ago abstrata, campo para o debate entre Ceom permissao da apa. reocupar 0 Kom Fegio. a0 infiito.Tnfinito que transcende de m Istria do homem no mundo concreto e que tudo 0 que po da 08 mecanismos que le. fam a alicnaedo e & ftichizagao, a um empobreeimen. to humano do homem. A reeusa em colocar. tas poz biemas em pauta fasta o artista da vida e far desu bra um mindo mor Had sua sparidade en- gio Toseana ¢ 0 real que se propumha co- imo base tors ‘Grande Serio: Veredas umn imenso alco pars a exibicio. do mmo do ‘autor: um Palco povoado de sombras que os arabescos li fos se esforgam por prender e retcr. 104 Depois do Modernismo jolégica da heranga cul jira contemporiinea José Paulo Netto © que define a literatura brasileira de nossos dias, & precisamente 0 transito da contestagdo a constatacao. Considerados os ltimos dez anos (1962/1972), pereebe-se que, numa primeira etapa — justamente fins de 1968 —, a nota dominante foi a contestacic de inicios de 1969 para cA, processa.se aceleradamente to para a constatagio. Comparemos, por exem- is excertos de poetas representativos para as duas "... tu, ante o presente, como te defines a0 que seré ‘A.C, ‘pasado? D.C. Ha urgéncia de resposta, antes que w.c.” pam.” como onda) José Paulo ‘ou deixaris que apenas sejamos 0 Paes, 1970) tempo e irreparsvel_meméi ©, ergo 105 fo que esta pequenina amostra — que podia ser finito, envolvendo 0 conto, 0 indicar 0 transito a que me as coisas se passam mai poesia se rende ¢ se aumentano “Para mim, 0 estorgo de interpretar 0 munde, problema fun. ‘mas esse mundo interpretado € 0 tuniverso coletivo dos homens, e seus a ling uagem.” (Haroldo de Campos, 1972) 10 dominante nos cit- critica com relacdo. ap seu universo. so. cial, Apés 1968, a de fiuenet lien Seno sentido de retirar da naldade que a sobrepasse: a por'sie a'si mesma, Contestagao ¢ cor ticas nem conceitos jt erminados processos humanos_globi 0s, etc.) que 0 texto — ¢ exclusivamente ele — de. flagra no seu receptor. Em resumo, poder-se.é dizer que contestaga tatacdo so resultantes do fend- supor-se, é erdrio, uma estrut segregue em estado virtual a resultante, Amani fagao é aquela que, rio elementos concretos do ser dos processos culturais nos quais esta imers configurado na obra apresenta caracteri ‘riundas do seu método criativo, que o fruidor i ca nele forcas, tendéncias, conflitos que esto na base dde Sua existéncia cotidiana mas que, pelo cardter ime- diato desta, ele $6 pode vivenciar conscientemente apis a experiéncia estética. Em suma: a ia da obra, capacita o fruidor a um conhecimento critico da coti. dade. Um tal conhecimento s6 pode pela sua insergao num devenir génese e sua essincla, que suas aparéacias em Jmediatas, simultaneamente, ocultam e denunciam. A tagao refigura sempre o tépico como indicando sempre due, subjazendo a este conjunto, tende a transformé-lo; engendrando o conhecimento do t6pico, 107 couguladas. Este processo de dissolugao das permanéne ‘a3 convengs identemente se manifesta pelo. uso articulada como meio, torna-se ‘mais é 0 seu poder simbél capacidade em cat idea sua rest toda, e nome provoca wi com propricdade 1 ou Descrever™, in Ensios sobre Lleratura iano do conceit, conforme as reflxies én Ei substrato determinagao, que a smente, organiza as outras: & que as condigdes culturais em que ele se efetiva so abso- I ditas na histria, Pela ver. primeira, de- pois que se tornow prans espe ‘que romper com este ancl-de ferro. rrecusa a ser espeticulo; ela se propOe como anti- 3. Ch H. Lefebure, La Vie Quotdicae dans le Monde Moderne, 1968, 4 CL, Lakdes, Reakimo Critica Hole, Basia, 1969. 109 a) nao Ihe basta refigurar ianidade, mas é-The necessaria uma b) nao Ihe basta provocar um efei necessirio fazer da catarse um imperativo. de contestacao porque se opse a um hifestagao cultural a que cabe a denominagao de litera “wira de constatacao, Esta, embora quase sempre asst- ‘ma uma postura neonaturalista, tem em comum com 0 naturalismo® clissico apenas a’ negacéo das mediagdes do fim do sécu- formulacdes das vanguardas euro ; Jo XIX e do imediato primeiro pés-guerra; seria, no entanto, um erro dissolver sua inediticidade em movi- mentos que, realmente, apenas a antecipam. Aliteratura de constatagdo comeca por renegar qualquer irracionalismo: firma-se no mais rigoroso dos malismos — 0 moderno racion: é incidental a adog’o desta racionalidade quando toda a atividade cultural se burocr 0 0 que ocorre com a cultura institucional do ca- transferem.se para ela os padroes ide burocrética; dai que a a 6 CEH, Lefebvre, 0b. cit, nota 3 110 ico se confunde com o infor- formacao € sempre ma- consumo (ou manipulagao para 0 consu- lo da comunica- sulada comeca por ser valorizada laneamente, ela é associada & téc- ia, com seus apelos de ordens diversas, predominantemente ‘ando jogar com ap. que 6 hidico, desvinculado da to entra em cena. Necessariamente, a propée a refiguracdo de um mundo dis- ianidade: ela reorganiza este c , em funcdo de sua natureza burocratizada, ele 86 se Ihe apresenta como nivel de signos; dai que inte a reutilizagdo dos sig- ‘© do consumo, (Quando, num nivel inferior de burocratizagio, intenta-se a ref guracio do cotidiano, obtém.se um. imagi gico, centrado em torno da alegoria’.) A esta altura, ndo hd mais obra de ha objetas estéticos — fe- némeno compreensivel, se sé levar em conta 0 padrio de obsolescéncia que rege o sistema do consumo, Nu- ma tal situacio, onde o objeto estético é consumido vorazmente, nao pode caber 0 efeito catartico: seu subs- titutivo € 0 efeito de choque (pseudo-catarse), que se patenteia na novidade; mas esta — pelo seu carter ex- tremamente fungivel — tem que ser repetido infinita. mente, para causar qualquer comosio; aflora 0 culto do gratificantes: e eis dade do humano, 7 No sentido Tukacsiano do conceito, desenvolvido na Ex iil novo pelo novo € 0 efeito de choque torna.se uma recor- bre-the to campo de experiéncia: o sistema linguisti- co, em todos os seus niveis, adequa.se, pela sua essén- cia polarizada, a jogos formais de toda espécie. Nio é de espantar, assim, que um forte traco da literatura de constatagdo seja 0’ seu formalismo, mos. Contudo, 9 que mais singul hegemonia da e bertério. Dai que 0 fendmeno paral feratura de Jo sejam as manifestacdes da contra.cu ismo burocrético sem a contrapar- lismo escatol6gico, vratura de constatacéo, pela razio mesma de ser um epifenémeno cultural do’ capitalismo tardio, tem vel vinco técnico que, quase sempre, malgrado sua imensa divulgacao, di-Ihe um carater esotérico; fu- ‘or isto mesmo ela cria todo um ‘apa- ado a “traduzi-la”, 0 que serve, in- para Ihe salpicar uma pitada’de democratismo, fornece-the aquele indispensavel status de que tanto necessitam seus produtores. E nao se pode es- quecer que todas as suas caracteristicas a tornam sus- cetivel da mais ampla utilizagio industrial; com efei- 8 Nio € preciso recordar aqui que A tema capi 112 | { to, ela jé é um produto da terceira fase da revolugdo in implicitamente, para a manipulagio, ela introduz o seu consumidor naquilo que parece ser a auténtica moder- nidade, a do capitalismo tardio, com seu poder de auto- regulagdo e seu formidavel poder de controlar a natu- era. literatura brasileira contemporanea é, em maior ou menor escala, uma tomada de posi¢do diante do modernismo. 0 ébvio — ou sej ‘como um refe- ‘acho que ndo se pode subestimar em sentido mais ou menos absoluto a Semana, porque até hoje vivemos sob o seu signo”; “o problema é ver © que podemos fazer vo na experiéncia de 192; sempre acontece, s6 se coloca do dbvio. Se todo mundo — contestadores e constatadores — considera 10 dos depoimentos ‘Antéaio Chai, Jose Visio, 28/2/1972. 5 tespectivamente, por Anténio jos Capinam ¢ Haroldo de Campos 113 20 menos indiscutivel © “espiri porta mesmo é saber se hi na See ‘mana © nos eventos culturais dela decorrentes, inedin, ta ou mediatamente. — Ha v e quanto movimento cul. tural, como um conjunio mais ou menos orginico de projetos criadores (estéticos, ; dez anos para cé, a historiogra 8 desinformada tem combatido esta visio simpléria', ‘Segundo: dis: solver os significados do movimento acclerado por Wo. ta de 1922, situando.os como meros epifendmenos de conflitos mais abrangentes ¢ inclusivos nos fundamen. tos nacionais. bras Imo ue v8 no modern cimento da pequena burgue do café, ete; atualmente, lade com 0 passado, ‘continuidade pouguissimas vezes real, postulando.se a’ ex "precursores”. “A todos esses equivocos que, co-presentes em mes- las. desiguais, contribuiram para deformar_eficier ‘mente os sentides imanentes do modernismo em dire. 3 wualmente mais um, para o qual far eriticamente. Este quarto equivoco, jagS0 ja nos meados da década de cin: ri ura” do_modernismo: supe. se que ele Fepresente uma ruptura radical com 0 nos- so passado cultural, inaugurando a a Concise da Literatura Brasileira, ‘apenas pata citarmos um exemple brasileira. Esta posicio, que, ademais, se aprescnta co- mo a legitima continuadora do “es do modernis- ‘mo, afirma a validade exclusiva da radicalidade de 22: jamente algo do modernismo como pa- radigma, ela 0 torna paradogma — para usarmos do jogo de’ Merquior. Formulacées deste género (e mais idiante veremos da sua razio de ser), quase das sobre a ja vulgarizada nogao de "co , levam a contrafagies Hdiculas, introduzindo ‘na fauna modelo da avestruz que $6 dese para engolir 0 “novo”. Evidentemente, nao € este o local para se intentar tum balango do modernismo; indicando-se sumariamen- sérios' que 44 feitas, pi nos parecem ins pétese alguma, aerftira diante das motivacoes e provocagées_ que inci- tam a emergéncia das obras. Esta indagagéo pode per- mitir_o discernimento das herangas do -modernismo, aque, se ha conflites nas operas. ges analiticas, estes no se devem ta0-somente. 3s.di- ferencas de perspectiva dos investigadares.e sim & con- figuracaé interna do modernismo mesmo'®, Outrossim, pode nos oferecer elementos para 1 da contestagio e da_constaiacao na. ct mais proxima de nds. jor da andlise modernista, ha dois momen- dos, que podem servir como ia do fenémeno. O primeiro consti segundo das av. te é a reducdo do a 0 sentido do modernismo; exemplo tipico € 0 prefacio ao Serafim Ponte Grande que, acertadamente, um critico™ chamou de “manifes- to. modernista” de ‘Oswald. Com Mario, sempre ocorre © inverso: suas avaliagoes tornam.se progressivamente mais rigorosas; 0 que ele justamente mais renegou foi a permanéncia, ow aind idade, do gue em arte causou a barulheira da Semana — a gratuldade. A Conferéncia de 1942, por todd’os titules Tamosa, € quase ) I perguntar — embora, implicitamente, alguns o fagam — quem foi mais “moderno”, Mario ou Oswald. . . Com efeito, o nticleo da aco modernista_é que, , consubstanciado em obras, século XX. Esta questo, explicitada_pelas _vanguardas_curo- péias do primeiro quartel do nosso século, nfo eta, de modo_algum, uma_questéo_absolutamente nova. Ela s¢_ inseria no processo_de_desintegracio_cultural operado, pela segunda fase da revolucio industrial _capitalista, 8. Paulo, 1967. 14 Wilson Martins, O. Mode 116 asts~—~s~s—=———C—

Você também pode gostar