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EEEEEEEEEEEEEEEEEEE EES RESTS EGEERSE A SAI: 40) Aw TOs Critieas de Kant 1) Tratade de Be qiensatologin 42) Problemtiea da Pilozefla Conerela J vol 48) Teoria Coral dav Tensbes — 1 vo. 44) Teoria Gorut das Tenses — Ut veh 45) Filosofia ¢ Romantiamo 46) Grandeza © Miséria os Logisticos 47} Dialéotien Concreta 48) Filosofia Suprema (Mathesis Megisthe) 03 volumes subsegtlentes ser2 oportunamente anucindos, OUSRAS OBLAS DO MIESMO AUTOR: Fublicadas. = <0 Homem gue Fol um Campo de Balathay — Pevoxw ue . solutas, Mas 0 que demenstramos até aqui em favor da filo. Sofia positiva ¢ concreta, a tinica que realmente 6 Filoso- fia, como hé apenas uma Ciéneia Natural, que € apenes cigneia natural, teré ainda outras provas, mais dialécti. cas © construidas com o rigor que exigem as demonstra. | | I waitio FERREIRA DOS SANTOS 36 gorosas. 1 o que faremos cportunamente, depo} alisatarmos ouiros crros fundamentals, e mostrar em que bases so hod estabeleoer um pensamento positivo © conereto. ‘Almuns criticos da, (asofia, e que buscam, indtilmen: to dusmereci:it, oblenio ‘alto’ apenas entre incipientes. Costumam dizer que cla ii possui um método, 9 que nae se verifica corn a ciéneia experimental famos demonstrat que a Filosofia possui néo ovation nats in, 9 eines apenas sebetr © UP og camimamos em nossos Livros. Contudo, todo e qual quer método da Glosotia gira em tOrno da abstracgao- Soneregao. Assim, « dialscliea conereta, que wsamos, rea Yea @ congrecio «jus 2 ansilise abstractiva, conextonando 6 que implica ¢ cxige a sus presenga, A concede come qa pela eontracyio, quc ¢ ma operagao inversa & abstrac- tora. doe todo fundamen: De qualquer modo, todo ¢ qualquer métor ey na absiracgéo €, sobretudo, pos seus trés g te eesp sce qvae da abstracgio, Guanto & opera 40 intelectual, os seguintes: to € abstrai ‘a singularidlae 1) quando 0 objecto 6 abstraide da st : de, ‘Assim east, ehagieu, dtvare sao abstraidos da sua sin- gularidade, ¢ 0 conceito relere-se @ sses entes. Sa0-a5 GiMtracgoes de primeiro grau, proprias das Ciencias Nov turais. _ 2) Quando 0 abjeclo intelectual é abstraido da sin: nade ee propnimates sensei, considerandose peemee ve nos nUMELOS Frateméligos: € @ abstracgiio de se- Fundo rau, propris das Matematicas, no sentido em qui Bio comumenie conside-adas. . raido de t6 3) Quando @ odjec:o intelectual & abstraido sate es aco susivel como inteigivel, como CS vetiselios ce caus, CID, a8 categorias, em Suma, OS ene qoncphateriais, abjeclo «a Metafisiea, temos a abstracgao de terceire © ; A abstrcgio mental 6 a precise, como vimos. i teoria da abs- Por nao havevem jamais estudado a tracgao, ow por trio 1Gla entendido, € natural que muitos ofuGEM Dos GF DI ERROS FILOSOFICOS 37 filosofastros tenham combatido a Metatisica, que, para éles, € caricaturizada. Alheles aos estudos da filosofia po- sitiva e concreta, que vern de Pitagoras, através de Sécra- tes, Platuo e Aristoteles e os escoldsticos, e que certamen- te antes de Pitigoras era osotérica, entre os iniciades das altas eulluras, para tais filosofastros, 2 metafisica ¢ ape- nas fundada em entes Liecionais, em meros entes de zaziio, sem qualquer fundamento real, Uma série de defeitos pensamentais revelam tzis se- mhores, Fagamos algumas andlises. im primeiro lugar, hh muitos que nio conecbem outro medo de ser seaio 0 corpored; ou seja, 0 tridimensional tépico, espacial Pa- 74 Gsses Stnhores, a Corporeidade € da esséncia do s2r po- sitivo. Fora da Corpereidade nio ha nada. Dizemos e: séneia, embora tal térmo Tuborize alguns “pensadares”, com o intuito de nos Teferirmos ao que, sem o qual, uma isa ndo € 0 que cla é, ¢ é por ésse algo que uma coisa € 0 que ela & Assim o ser, positivamente considerado, para tais senhores, 56 ¢ se {r corpéreo, se apresentar a tridimensionalidade espacial; caso contrérlo seré apenas nada, néo serd, Portante, é da sua esséneia ser corpd- 3€0. ' Sao tais “pensadores” os descendentes dagueles que, no séeulo pasado consideravam 0 peso como esséncia da matéria, ou a resistibilidade, etc, Pera tais pessoas, ou- tro mode de ser, que nio © sensivel, o que seus olhos véem, seus ouvidos ouvem, suas mios tocem, suas narl- nas cheiram, sua lingua gusta, nio 6 nada, nio 6. Edo alto da sua tolice, em palavras proferidas em tom rrofe: soral € catedratico, negam realidade a tudo quanto nic pode ser objecto de assimilagio pelos esquemas da sensi- bilidade. Mas acontece, quer éles queiram quer njio, quer éles teimem em provar 0 contrérlo, que o ser humaro nao © 56 sensibllidade, € também alectividade ¢ intelectual dade e, seja come for, néo conseguirao jamais der um peso on pesar, nem medir, um sentimento, uma afeigao, nem tampouco medir ou pesar ou dar uma idade a um coneelto, pols tais séres se excluem da tridimensionalida: de espacial. Ademais, em face dos actuais conhecimentos da Fisica, € ante 0 desenvolvimento da Ciéncia, j4 se sabe que a corporeidade é apenas um modo de ser dos entes fisicos, niio o vinico modo de ser de tais entes. A Fisica, pa- ya esciindalo désses “revenants” dos velhos erros, vai alar. xando cada vez mais o conceito de ser, ultrapassaada 0 campo da matéria sensivel, o concelto eomum de matéria, ” “ wt a a at oa ab ab sD a al ad sb) ab ad sb at ld sb ad ad ab ad ad sib ad ah alo ma nad si ont a 38. MAIO FHIEKKIRA DOS SANTOS © também xs cimensionaliciades, que eram proprias dos entes de nossa experiencia sensivel. ‘lemento ciledras de filosolia, ¢ esrxevendo livros para aumentar a confusio da juveniude, nao podemog deixar de tratar aéles aqui Para os que juluron que 3 abstracgio de segundo ¢ de terceiro grius nio {en forcamento, porque jamal se de dicaram a estuttiins, nao perderdo por esperar. Nas pr ximas paginas tralaremos dessa matéria. DA VERDADE ‘Verdade, como térmo verbal, é um substantivo abstrac to, 20 qual, sativo € de lethes, esquecimento, significando o que é des. sesquecido, o que no € mais oculto, o que se revela, pa. ra nomear a verdade, B © térmo empregaco de diversas maneiras, através de seus derivados, como verdadeiro, veraz, veridico, etc, gulwse em “amigo verdadero", em “ouro verdadelro”, em oposicdo £0 amigo falso, que demonstra falsa amlade, a0 oure faiso. Quando se fala em palavras verdadeiras, Gzse que sao palavras que nao contém mentira. - Quando Se fala num conhecimento verdadeiro, quer-se referir a ur conhecimento que nio € falso, que’ se opde ao fa'so. Desde logo se nota que ¢ conceito de verdade implica dots termos extremos © uma conformidade entre éles Genéricamente, yerdade significa que hia formidade entre implica que um alguma con dois extremos. Mas, especificamente, ses dois térmos seja o intelecto. Entdo quer dizer que hd atirma © intelecto e a coisa, essa afirmacio. Dai os anti conformidade entre ¢ que 9 abjecto a0 qual se refere g0s terem afirmaco que a ver- dade, no sentico idgico, nada mais 6 que a adequagao en. ite a coisa e ¢ intelecto, a coisa a qual aquéle se refore, ou na formula latina: aducquatio rei et intellectus, Dizer'se que verdade niio & isso, € negarse ao té-mo 8 intencionalidade que Ihe da a nossa mente. Poderseda ter outro conceito de verdade? Absolutamente nao, Sor aie fora déste nao seri mais © que mtencionalmente que, Femos dizer com tat térmo. Poder-se-ia, contudo, em sentido lato, dizer que verdade € apenas a’ conformidade portanto, nao corresponde nenhum sujeito. Usavam os gregos a palavra alétheia, formada do alfs pri. | 40 MARIO F NIRA DOS SANTOS entre dois extremos, nos quais nenhum déles é 0 intelecto, come quando se diz uma noite verdadeira, agua verdadel- ra, uma dor verdaceira. Mas a verdade l6gica, que 6 ba- siga para 2 Pilosois, ¢ tomada no sentido estricto que a ma citamos, Nao estamos, porém, trilhando camino pa- cific, Ao conirirco, li aqtu imimeras controvérsias. Ha muitos que escreveriun pagings e paginas contra a verda- de, e julgam “verdadviras” as suas afirmagoes, B apon- tatamclhe inumeros inconvenientes, como analisaremos a seguir. Antes de Iuéto, © mister que preeisemos um onjunto de ideias para que clas nos sirvam depois, para ‘analisar as razdos aprescntadas pelos que lutsm contra ela, e que acham que Weiramente” nio ha verdade. Dizse que a verdade € ontoldgica ou real, quando ela consiste na conformiciade entre coisas e 0 intelecto. Diz- -se que é légiea, quando « conformidade se dé entre o in- telecto © a coisa {intellects cum re). Assim é uma ver- dade ontoldgica que o anterior tem prioridade sobre 0 pos: terior; € uma verdade Igica chamar esta residéncia de ‘casa, por que realmente 0 que conceltuamos por casa esti conforme com cla. Vejamos primeizunente o que se entende por confor- midade, adequatiio, Diz-se que € conforme o que esté de acérdo form com alguma coisa. Adequado ¢ 0 ad ae- qualis, 0 que ¢ igual ce certo modo 2 outro. Ao tomarmos um objecto, podemos considerdlo se gundo todas as suas notas e propriedades; ou seja, segun: do & sua compiensiv. ‘Tomamoo, assim, materialmen- fe, Mas se considcramos segundo uma ou mais notas © propriedades, nos o tonzimos formalmenie. Ora, nds no eonhecemos {ude cle wnt coisa, ¢ quando falamos em ver- dade Idgica queremos nos relerir que bd adequagio entre o que conhecenios, ou dizemos da coisa, com a coisa. Dés- te modo, ¢ que conhecemos pode sor verdadeiro. Uma verdade légica seria perluita se a conformidade se desse em tédas us notus. Ha, assim, verdades légicas mais per- feitas ou menos perfcilas. Mas a menor no € menos verdadeira que 2 inslor, porque a verdade nao se refere A quantidade do quo so sabe, mas & qualidade do que se sabe. Wao 6 mister que © que sabemos seja total para ser verdadeiro, pode ser parcial. Quando filésofos moder. ORIGEM DOS GRANDE ROS FILOSOWICOS 41 nos dizem que 0 conhecimento ¢ falso, por que nfo sabe: mos tudo, seria o mesmo que dizer que € falso aficmar que é um ser humano 0 soldado A do pelotie tal, do Ba- talhiio tal, pelo simples facto de no sabermos tudo s6- bre éle. Do mesmo modo nao iremos dizer que © conhe- cimento que temos de tal fildsofo é falso, pelo simples fac- to de nao o conhecermos pessoalmente, nie saber sua ida- de, sua filiagdo, seu peso, Sua altura, Contudo, embora seja de pasmar, hi fildsofos que afirmam que hé fa'sida de no conhecimento enquanto no € éle total Ora, a felsidade ¢ © oposto da verdade. Quando se diz falsidade, dizse que nh ausénela de verdade. Uma verdade mais perfeita ou menos perfeita nao é mals ver- dadeira que outra, nem é mais falsa ou menos falsa que outra, Estaria certa essa afirmagéo se entre verdade e fal dade fosse possivel inserever-se um terceiro termo. Sao extremos, porém, que se excluem, ‘Mas a conformidade que se exige do intelecio com a coisa é uma conformidade intencional. Néo é mister uma identiticagao, 0 que seria impossivel. Portanto, a melhor definigdio da verdade légica € a con- formidade ou adequacdo intencional do intelecto com a coisa. E podemios provar que 0 6 ‘Vejamos primeiramente quais sfio as posigdes cantré- vias a essa definigio, que é clara, breve, reciproca ¢ nlo contém negacio, ‘0 gue caracteriza uma boa defiricio, Nio que essa definicSo seja uma nevidade na Filosofia. Ni; osta definicdo € a aceita por todos os fildsofos posi. tivos @ coneretas em todos as tempos. Diz Kant quo a verdade consiste na conjormidade da cognicao consigo mesma; ou seja, na conformidade de to- 38 BS cognigdes com as leis do cogitar, e entre si mesmas. Também esta € a opinido dos relativistas de toda espécie. Ora, tal definigao é fatha, porque niic ¢ reeiproca. Dizer- se que @ verdade é 8 conformidade da cogni¢io coasigo mesma nio permite a inversa: a conformidade da cogni- (40 consigo mesma néo ¢ 2 verdade, porque entio basta ria haver essa cenformidade para haver verdade, neste ¢a- $0 qualquer cognicio falsa seria verdadeira, bastandc ape nas ter conformidade consigo mesma. PooeevcovvocvoorcesseaayyitiTiTes. PURE L ULE RE LEER EEL E ELL ELE ELE EESOS INHER DOS SANTOS Diverse que i verdad 6 estar de acérdo com as leis do cogilar 6 a letinicwe da rectitude, nao da verdade. Uma eogitagte porle provedr reccumente e, contudo, ser falsa. Dizem os empiristas que s6 é verdadeiro o que se ve- riffea na experiencia, conie os sensistas, verificado através dos seuliedos, "Pais poscucss restringem o @inbito da ver- dade, Dizem os praymotistos oue a verdade é apenas 0 que 6 Uil, e que 6 HVC av conhveimento, o que favorece a vi- da. Ora, fal posigwo sscims capta uma note da verdade, Ademais, ba crros que sio duels, e nem por isso so les verdadeizos. Modernanente, alguns cultores da Axiolo- gia (como Rickert, Wild:Tiand, ete.), dizem que a verdade 6um valor, Mas nica houve tanta confusiio e tanta con- trovérsia sobre 0 valor, como houve entre os modernos axidloges. Se nap cio win cefinigao clara do que € va- Tor, e como poderie dur una definigao clara do que é ver. dadeiro? Querendo esclarecer o que 6 0 valor, tornaram és: se tema um dos mais chscuros da Filosofia, e no conse- guiram resolver nenhum problema, mas obtiveram, isso sim, 0 aumento da confus:io nos espiritos, e a multiplica- ho’ de uma linguagem filoscfiea pretenciosa e perndstica, que apenas ceull 2 vacuidace e © contra-senso. ‘Mas muitas objecedes 4 pesigdo positiva sdbre a ver- ade foram upresentadas pelos adversérios, Examinemos seus principais argiunentos. Argumentam os adversizios do seguinte modo: nfio é possivel uma conformicad= iatencional entre o intelecto e a coisa, porque pure que tal se desse seria mister que se yeferisse a {das as perivigtss que esizio na coisa. Mas esquecem que ni se traia de uma adequacso total, mas apenés parcial, como ri mostramos, “Mes prosseguem afirmando quo una sceciicno parcial € uma eontradictio in adjectis, pois quaidu se diz adequagio se diz total no parcial, porque ume udequacdo parcial € uma inade- quagio. Mas a resposta a tai argumento 6 muito simples: haveria tal inadequiicio se postuldssemos uma adequagao meramente quintitaliv Mas a propria adequaciio qualitativa é por sua vez re- jeitada pelos acversivios, purque nao admitem nenhuma gspécle de adequacio entre o intelecto ¢ a coisa conhecida, porque 0 primeiro é um ente mental € © segundo um ente ORIGEM DOS GRANDES ERROS MILOSOFICOS . 4g extramental, Mas a resposta que mereve tal argumento € de que niio se trata de una conturmidude entivauva, em sentido fisico, mas apenas uina conformidade inteneio. nal. E quanto aquéles que atirmam que 0 objecto men. tal 6 imaterial, emquanto o objecto conhecide & material, © que impede qualquer udequacio entre ambos, esquecers, que @ conformicade afirma uma analogia entre o objecto mental e o cxtramental, e no uma adequacao perfeita. Em suma, ésses sio os argumentos principais dos que nega @ definigio de verdade légica, Alguns argumen- tam ainda com as negagdes; pois como poderia haver ade- quacao entre um conceito negative e a coisa? Mas o con. ceito negativo néio se refere 4 coisa, mas a alguma ausén- cia na coisa; apenas afirma a recusa da presenga de algu. ma determinada positividade na coisa, sem negar esta, Portanto, também este argumento nao procede. Ademais, qualquer argumento em contrério & tese consiste apenas numa ignoratio elenehi; ou seja, numa ig. norancla clo tema, pois combate-se a adequagéo, peraue a tomam num sentido diverso daquele que tem’ para os fildsofos positives e concretos. Nenhum déles jamais afirmou que 0 esquema nostico fsse uma copia da mes- ma natureza de coisa conhecida, Nem ha necessidace pa. ra que haja alguma adequagao entre uma coisa e outra, que sejam elas da mesma natureza. © retrato de alguém se adequa fisicamente ao retratado, sem necessidade de que @ natureza do retrato seja 2 mesma daguele. Nao compreender coisas to comesinhas tem sido a causa do tantos erros. 2 embora parega incrivel, inume Tos € notOrios fildscios de fama mundial, fazem’ afirma- goes dessa espécie. Eo pior é que elas exercem unui in; fluéncia muito grande em mentes desprevenidas, Wvissimo 6110, ¢ de conseqliéncias desastrosas, 61 julgar'se que o conhecimento parcial, por ser assim, ¢ fal- 30. Uma apreensdo, que é captagio de uma noticia de slguma coisa, é mais urn alo passivo, e nao ha nela ne nhutna afirmagao ou negagao da noticia; ou seja, nao $2 estabelece um juizo sobre a noticia, mas apenas a sim: ples representagio. No juizo, hd outra operagio, poratte, néle, a mente afirma ou neza’o airibute ao sujeito, toma, Portanto, uma atitude, prefere ulguma coisa, julga, por. tanto. 44 MARIO PERRIIRA DOS SANTOS Gistingdes no referente & ver- anile importancia para fubu- ‘Vejamos agora als dade logica, @ que sa0 de ras an:ilises. uma cognigho, podemos verificar que ela é con- forme com o set obvi, concude, n¥O.s8bem08 qual 6 ess confoninigiatiy; suena sibemos quo hd uma conlormai- date, sem saberiuius quel ¢. Hsia verdade ldgica & im- petieita, © 0s uscokisticos ‘chamavammna de incoativa. Quando’ se coniiecu qual a conformidade, entdo a verdade € perfelta. 1B este pode curse de dois modos: ) quando se conhece a verdade da prépria cognigao ando, além désse conhecimento, sabemos que éste € onforme o que © A coisa noqvanto em si mesma (cbama: Entre os fildsefos, hi os que admitem a existéncia. ao eee Smee ae ste, sexta ros, mostramos a improcrdéncia de sua posigéio, que de- corre de uma falha compreensic do que seja verdade 16- Quanto & segunda posigio, que € a nossa, admitimos mma. vorda. . ), podende ela sleangar graus periveavus murs, como @ Im actu signate © a in actu exercito Perfectibilizase a verdade Wgica, quando 6 ela consis- tente num acto coznosvitivo, no qual s40 conotadas as no- ticias, que correspondem a0 objecto no mesmo modo co- mo sso elas 1epresenindas, ry no se dove contundlr a imagem (o phantasm), aque $0 fom de ina voien co 95 fonmas elachioo nostlcas sim podemos comprecndet, representar 0 ultra-violeta, Estas atirninin a ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 45 des, que alcancamos, através de nossos conhectmentos, Quando o enunciado ldgico, que fazemos (0 juize, que construimos) representa 0 dbjecto com notas adeqliadas 80 gue éle na realidads, ésse juizo encerra uma verdade formal perfeita. Na mente humana, o esquema eidéticonoétice nio € uma imagem do que esta na coisa, mas apenas uma exores- ‘so formal, que intencionalmente se refere ao que est na coisa. E se 0 que estd nesta 6 representado adequada- mente no espirito, ésto, quando estabelece um juizo com tals reprosentacdes, estabelece uma verdade formal per- feita, uma verdade légica perfeita. $6 mesmo muita ingenuldade poderia exigir que, na mente humana, eidéticonceticamente, os esquemas cor Fesponcessem © cdpias fantasmilticas das coisas. Mas ha quem afirme tal coisa, e queira reducir os esquemas inom tais apenas a meros esbogos esquemitieos memorizados de imagens, de fantasmas. E entre ésses alguns “consi eros” fildsotos, eujas obras e idélas so matéria de estu. dos demorados em aulas ¢ cursos, ¢ muitas vézes mats apreciados ¢ atagados que os fildsofos positivos e eorcre tos, que nao gozam de tantos favores. Mas, na verdade, hd outras intengoes nisso tudo. A finalidade nio é escla, recer, mas confundir; no € dar solugdes a problemas, mas envolver © homem numa problemética que Ihe parega in, Soltivel, para que o desespéro déle se aposse, ¢ mais fécil se tome présa daqueles que dosejam destrair 0 mundo cristao em que vivemos, para substituito por outro, onde, outra vez, o espirito tribal passe a ser uma forea propulso. 1A, © © “olho por ole ¢ dente por dente”, um direito tum. damental dessa sociedade. Volvendo aos esquemas eidéticonoéticos, sem duvida que a muitos déles esto unidos esbocos methorizados do experiéncias sensivels. Mas, é inegivel a capacidade hu. mana de poder, a pouco e pouco, purificar os esquemas ei. Gético-nosticos até da influéncia noétiea, buscando-se a sua pureza eidética, como jé mostramos cm nossos livros, @ neste ainds mostraremos oportunamente, A falsidade 36 se di no juizo e nio na simples apre- ensio, porque a incontormidade se da entre 0 que inteee. tualmente afirmamos do objecto € a0 qual nao se adeqia, EELEMRPERA GS PoLe rs peerverver ee FPEEFTEESSVOSSS LELUSESEDDEEEEEEEEEGS “0 walin Mikasa DOS SANTOS Pode wn juizo ser formalmente verdadeiro, sem que © seja materialmente verdedeiro, pois a prova material é outra, Assim "Deus existe” 6 um juizo logicamente ver Gadeiro, poraue & proprio de Deus existir; ou seja, o pre- Gicado existir cabe necessiziumente a Deus, pois um Deus Jnexistente nto ¢ Neus. Mus se hd verdade formal no jui- zo, a verdad Walerial tv Cecorre daquele, mas de uma prova oulra quc robustos ® adequagao, a conformidade Gaquele juizo com « realidiade, A afirmacao de que Deus existe realmente, independentemente de mente humana, jé exige outras provts, que déem as Tazbes materials de sua ‘istencia Umi jitizo Iésies pode, pois, ser ldgicamente verdadelxo e também realmente (niaterialmente verdadeiro), quando, além da verde forwial cvbothe, ainda, a verdade mate: rial. ‘Se a verdade formal v 4 material so provadas, e ha ainda a raza9 ontoloyica, sleangamos, ento, a0 que cha mamos a verdade eaneveta, que é a connexio de tédas es- sag verdades. @ eoties sniglo de ale yamola, A ier isencia de cogmigho, que: i nest ura les, naO- ae sok iegaliva, conus nescignela pura e simples, nic rece cola privativa, cau Ca auseneia da cognigso devida, Muitos confundet ti faisidade com a ignordincia, mas a distingo € simples @ clara. Na falsidade, hé inconfor- tnidade, diserepincia co conhucide com 0 cognitum, en- quanto, na ignordincia, xi falta, auséncia de conhecimento. Em face de tina oposi¢iic contraditéria, quando @ mente permeneoe insicvisa, estamos em divida. Ha opinide, quando a mente apéia, assenta sbre um juizo, mas teme, conluco, 0 xr, € que O juiz0 contrérlo seja verdadel Ha cerleza, quancio a mente j& ndo teme mais 0 as- sentimento que dé a wm jnivo. i mente permanece entre @ diivi Ora, a certexx pode ser conseguida de dois modos: subjectivamente, pela i6, ele adesGo firme da mente a i | DOS GRANDES BRROS FILOSOFIGOS «47, um juizo sem temor de érro; cu objectivamente, pela de- monstragio rigoross, qc# prova a Validez eo acerto do Juizo, relirando qualquer temor de érro. A primeira certeza (fé) ¢ a da Religido, a segunda 6 a da Filosofia, His, contudo, uma filosofia de opiniio, uma filosofia que se funda em jufzos assertéricos e meramente opinati- vos. A Filosofia deve ser provada, ¢ a prova filosofica é ‘a demonstragdo, como @ experiéncia € a prova clentifica. na Filosofia, 08 que alegam © expéem seus ponies » vist ao sabor das suas inspiragdes. Sao os estetas, que fazem eslética filos6fica, Masa Filosofia propria: mente dita nao se suibmete & Estetica, mas segue sua lusha e seu método, que Ihe € genuino: a demonstracio, ¢ esta deve ser a mais apoditica possivel; cu seja, fundada em Juizos necessarios. A falta désse rigor na Filosofia, e 0 dominio pouco eficiente da Logica ¢ da Dialéctica favoreceram que notd- amentassen o nlimend dos eftos, emt SRAM. BRENER SE OVER AL SUSIMIGS, Pontys ae Vista, pare ceres, alirmativas gratuites, doutrinas e teorias mal esbo- gadas, ¢ menos fundadas ainda, tornando quase impossivel a digestdo de tanta coisa, A humanidade adoece, assim, de errs. Fo que & mais grave, é que tém éles influ cia sobre a acgao do homem e 0 seu destino, criando pers- pectivas de vida social ainda mais terriveis ¢ ameagadozs, inclusive até do aniquilemento humano. Por esta raziio, mais do que em nenhuma outra, im- poese, em nossa época, uma tevisic da Filosofia. “Mas essa revisio tem de pruvessurse pelo uboutamento dus erros das suas origens, da sua etiologta, porque € ai que esid a chave principal do trabalho de selecgio, que deve- rao fazer as geragoes futuras, por entre o imenso cau‘al de erros, que livros filosdficos insuflaram no pensamento hhumano. E preciso seleccionar, e, para isso, € mister.se- parar, Mas a separacdo exige um critério, e éste s6 pode ser © da apoditicidade, O que nao vier revestido do cardcter de apoditicidade deve ser posto de quarentena, 2 mister examinar tudo com 0 maximo cuidado, volver & discussao 48 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Gos pontos fundamentais do iilosofsr, para de uma ves ‘por tOdas realizar a colheita benélica © proveltosa. Mus © primeiro passo, sem diivida, tem de ser dado pela do jninoia dos erros fundamentais. Eo que nds, por nossa Parte, fazemos nesta obra, Pelo que cxaminamos, é facil perceber por onde se Inicium 03 exros, Mas veremos cnde fies se fundam, e que ba argumentos aparenterente segu- 70s para justificé-los. Analisaremos todos os aspectos pa- ‘ra mostrar a inanidade fundamental de tudo quanto se apresentou até aqui em contrario &s teses da filesofia po- sitiva e concreta, Prossigemes, pois, na fundamentagdo dos principals pontos de partida. £ mister distinguir 0 juizo provavel de o jnizo de pro- habilidade, .O primeizo afirma que 0 nexe que une 0 pre Gicado ao sujeito € apenas um possivel, como se ve no juizo provivel: “Jo%o possivelmente se salvar com esta Operagdo”. Mas, no Juizo de probabilidade, o nexo que ha entro 6 predicado e 0 sujeito afirma existir j4, no su- feito, motivos, condigées, etc, para que se dé O que Ihe ' prodicado, ou no, Assim 3 juizo: “Joao tem possibili- dades de curar” é um juizo de probabilidade. A diferen- ‘ga que hd entre os dois juizos ¢ importantissima no filoso- far. E que, enquanto o precicado é afirmado do sujeito como algo ‘provavel de acontecer, no segundo juizo, a possibilidade que so afirma do sujeito, é fundamentalmen te certa porque hé naquela, condigoes para que tal acon- teca. Déste modo, quando’ se argumenta com juizos em que 0 predicado € afirmado como possivel, € mister dis- tinguir se a predicagao € provavel ou ¢ uma probabitida, de, © provével podo ser meramente fortite, mas a pro- babilidade, que também poce no acontecer, possul, ve- rém, algum elemento seguro, certo, algum motivo ou con- digo quo a afirma como predisponente para o evento, 0 que é distinto de primeiro ceso, Ora, a opinido funda-se em geral em tais juizos, B é la prudente ou imprudente, segundo se fundamente em probabilidades ou improbebilidades. A imprudente € também chamada de temeriria. Para haver uma certeza absoluta € mister que se ex- cluam a5 possibilidades opastas e sizmultaness ao juizo ‘que se formula, Enquanto tal ndo se dé, havendo ‘uma oniGEM Dos GRAND BRROS PILOSOFICOS 49 possibilidade contréria, simultaneamente, néo podemos ter uma certeza absolita. t@ modo, um jufzo, para ser absolutamente certo, tem de cxcluir 0 opinativo, ¢ no pode ser provavel ou de probabilidade, pois manteria, simultaneamente, a poss:bi- lidade contriria, © mister afastaremsse as possibilidades contrdrias para que se possa afirmar que hé certeza ab- soluta. Quando a possibilidade contriria € absurda, por ser contraditérla, estamos em face de um julzo verdadeiro pe- Ja prova de sua reducedo zo impossivel, pois seria impos- sivel enunciado contréric. Essa prova nao 6, contudo, suficiente, alega-se, no que Se refere a Matemitica e & FE Sica, pois hé casos em que 0 contraditdrio é passivel de admitir uma possibilidade ou probabilidade. Contudo, na Ontologia, ndo ha tal possibitidade, e verdadeiramente ‘também nao o ha nem na Matemitioa nem na Fisica, Mut tas possibilidades 0 séo enquanto subjectivamente funda- das, embora objectivamente nio oferegam fundamento. Adermais, em tais juizos, em que o seu contraditério ¢ pos. sivel, nem sempre hi clareza na classificagao déles. Ora, os que estudaram Légica sabem que os juizos contradits. rios so os jufzos universal afirmativo em relacio a0 par- tieular negativo, ¢ 0 universal negativo em relagZo ao par- ticular afirmativo. Um désses juizos 6 verdadeiro, 0 seu contraditdrio seré necessariamente falso. Dois juizos particulares, urn afirmativo e outro negativo, poder am- bos ser verdadeiros ¢ podem ser ambos falsos se a maté- ria for contingente. Mas um juiza universal afirmat.vo, se for verdadeizo 0 particular negative que a éle se op6e, sera necessiriamente, falso, O mesmo se dé com o uni versal negativo e 0 particular afirmativo, quando se opo=m. Mas, quando se dio dois juizos contrarios, ambos pocem cer falsos, embora apenas um poderia ser verdadeiro. Ja- mais ambos podem ser verdadeizos. Quando se alegava que a Fisica provava a contradi a0, pois afirmava © provava na teoria atémica a tese cor: puscular e 20 mesmo tempo a tese vibratéria, e que os Ul- timos entes dos dtomos, ou eram corpisculos ou eram vi- ‘ragées, e que éles procediam, ora como corpisculos, ora como vibragées, e que havia ai’uma prova da contradigzo e da validez de juizos contraditorios, tais pessoas revelavam apenas desconhecerem totalmente a Logica Fundamental, PRRASEEEELELELELLEEEEEEE EEE ESS SSS HS 50 MARIO PERRI IRA DOS SANTOS e nada mais. Primeiro mio se tratava de dois juizos con- traditorios, mss de dois juizos que predicavami atributos distintos a'um mesme s:7: vibraterio e corpuscular. Que- rlam dizer uns que 2 naitireza do dtomo era vibratoria, e outros que era corpuscular, mas corpuscular nio é total fe absoluia privwsw co vibtalério, nem vice-versa, 0 que seria exigivel part vonizadiyio. Haverla, sim, se se safirmasse quo todo atonio 6 vibratério @ que elguns ato mos nio sito vibratsrios. Ai, sim, ai estariames em face de uma contradigia. ‘Tanto vibratério como corpuscular so diferencas wccieniais. E Raver accidentes distintos num) » implica conirad:edo. Outra aparente coutradi das duas leis di Termodinamiea, que eram contraditorias. ‘Mas essa. conlradicsio nsio cra ontoldgica. Referia-se ape- has a factos que cram coslituidos de accidentes, que reve- Iavam uma oposicio, mas passiveis de serem entendidos numa concepeao crv os cenciliasse, como aconteceu, ea pseudo-contradigio, qne fizin Babar de gOzo os adversi- rios da Filosofia Positiva e Concreta, que nega validez e fundamento 2 contradi¢ao actual, rulu, finalmente, ante aS hovas explicugies dit Ciénela. Para aleancar se @ evr exelusio absolut da pos contraditérios. cz perfeita, é mister atingir a ilidade da simultancidade dos Sabemos quo cm aclo slo inpossiveis os contradite- ris sob 0 mesmo aspecto € 2a mesmo tempo. Potencial- mente, os contraditérios sio possiveis. Assim estar Joao sentado agora ¢ estar jiu pé a9 mesmo tempo é impossi- vel por contraditirio, Ni sio impossivels: estar Joao em Ps, 6 cstar Jote sentacto daqui hd pouco, pols so por sibilidsdes, que poderio actualizarse, uma ‘ow outra, nao ambas a mesino tempo ¢ Sob @ mesmo aspecto, © principio de idenlidade, @ principio de rezi0 suti- ciente, 0 de nio-contradigio, 0 do terceiro exeluido e ou- tros tiveram, através dos tempos, as mais decisivas de- monstragdes. Mus I:uniim houve os que procuraram re- tirerdhes a volidez entoligica, 1giea e dntica (real-real). E que argumentos apresentaram? Os mesmos de sempre, sempre refutados. Mas bi sempre alguém na Filosofia gue volta a reapresenliilos, e a receber a mesma refuta- do. Mas vem outro, que esouece, ow no sabe o que ja sepa | ' ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 5] fol feito, e volve a apresentar os mesmos sedigos e claudi- cantes argumentos. Chegaremos, também, a éste ponto, de onde se origi- nar inumeros erros filoséticos, Quando se fala em liberdade nao se deve confundi-la com a de excrcicio, pois esta até os unimais a posstem, mas a de especificagao, que decorre da vontade que as. sente ou dissento. Na verdade, o intelecto nfo é livre na escotha, porque, enquanto tal, éle obedece as suas leis pré- prias, O que é livre é a vontade que elege, que prefere ou pretere, que escolhe entre o que & conveniente ou nio. De her si nao ¢ livre o intelecto, mas livre a vontade im: perante do homem. O juizo nao 6 um acto da vontade, mas do intelecto. Ni ha no juizo uma apeténela a0 bem ou ao mal, mas apenas A afirmagio verdadeira. Sabemos que a apreensio 6 a noticia da coisa ror parte do intelecto, e éste erra quando ha discrepancia en- tre sujcito © predicado, o que surge de o intelecto exten. der seus assentimentos acima do que foi apreendido, cuja causa remota ¢ sempre o influxo da vontade, predisposta inuitas vézes por condigées, como seja a aparéncia do v2 dadeiro, ou pelo afecta, que vicia a Vontade ao acto inde. liberado. Erma a mente quando ela assente firmemente sobre 0 que € falso, como se fOsse verdadeiro. Para Spinoza e Hegel, o érro consiste na cognicéio ina- dequade, 0 que no expressa bem o conceito de érro. ‘Hii érro quando nosso intelecto extende seu assenti- mento além do que apreenden ~ A apreensio, como vimos, no realiza erros, Bla nos ai o que capta. '1 0 intelectd que erra ao apreticr o qe capte, além do que realmente ¢. SAO 0s nossos sentidos externos fontes de conhesi mentos certos ¢ verdacieiros. Uma afirmativa como ¢s. ta encontra objectores, Pera respondé-las, nada melhor que demonstrar as afirmativas que lazemos, Na Psicologia, os sentidos sio os melos pelos quais percebemos as coisas materials, singulares, Constituen orgiios, que tem uma fumedo vital determinada, quer vege. 52 NATIG PERIGIRA DOS SANTOS iva, quer sensitiva. Assim os olhos para a visto (nao te ollod propriamente, mes Lodo 0 conjunto do érgio vi sual, inclusive a parts cerebral), A percepgaio sensivel distinta das owtras polcneies (como a vegetativa), ela rea- liza o acto representativo co objecto por diferenciagées de potencial sensivel, 0 uhjecto da sensagao é a coisa ma: terial, sip Néo vamos aqui exai tar, mas apenas os tudos filosdticos. nar © que cabe & Psicologia tra- spectos que podem interessar aos es- iz-se que € sensivel o objecto que pode ser percebi- co pels sebtidon ia o senatel gu cabs apencs «tan Gnglos {que sina oho’ de sensivel propmley come sol # ovaue poe Sar posobi Por valle bgtos, como @oriensios pela sco" pele lao, chumnaaoe sensioels comm osama \ynlge lanes com ste Geis comune quanscce, iy wunero, some @ quietude. Chamayam dc sensivel por accidente 0 que nao. Etnies prpiimane pla seni, is'0 ao €sacluse se a tea cone deen ue vem una. we. Prapriaanente nao venue devone equ e wane fame), fois ese una subsea que se apsusnta coca Gor Pines acclgates que weshod © que gobemos por dade Xe s que sio admiti- Estamos aqui no oxime de conceitos que ni dos por todos, ¢ que porduram no pensamento filosétieo. Ademais, todos os conhiecimentos da psicologia moderna nao modificaram ci nicia lais conceltos. Surgem, aqui, diversos problemas e questées de Filo- ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSomIcOs 53 Podemos aistinguir as diversas posigbes em duas genérh as 2) A HOS Ue niio admitem haver objectos extcriores, realmente, extra mentis, 2) a dos que afirmam que, realmente, hé tals objece tos. Examinemos a primeira posicho. Podemos citar Let. nitz, due afirmava nao existirem corps formalmente, mas apenas aparentemente para nds, Para éle, os corpos ao fompostos de ménadas. Estas monadas so inaatensas. Déste medo, niio possuem os compos as tres dimansoes, Que silo da sua esséncia, pois nio hi distancia entre os tnonadas, néo ha movimento entre elas, nem interact, gio de umes sObre as outras. De modo que 0 nosso co. Bbecimento dos corpos nio se funda na realidad exte. POz Gos coxpes, pois estes nko sao, na realidade, o que parecem ser para nds, Kant, que também toma, essa posigao genérica, afir- ma que no conhecemos 0 que realmente as coisas sdo em ‘si mesmas, 0 noumenon, O que conhecemos ¢ o fendme HO, © que nos aparece, © que € modelado segundo as for. mas da nossa sensibilidade, que Thes ca as caracteristicas @o tempo ¢ do espago, como se realmente féssem corpos, Berkeley, por sua vez, também negava a existéncia dos corpos © da matéria sensivel. Por isso, sua posi¢io for chamada de imaterialista. Os fendmenos so meramente subjectivos, ¢ o ser das colsas 6 0 que perccbemos ane elas sio (esse est percipit), Tals sonsagaes sao reallsaies por Deus em nos, Da mesma posi¢ao pertenciam: Locke, gue afirmava que © que percebemos nas coisas sho aponse posse representacbes subjectivas, Malenbranche, qu: afi. tava que eram o que Deus provécava em nos, através do representacdes, 0s neo-realistas anglo-americanos, que se. guem a linha de Letbinitz, e uma coorte de inlimergs fild, sofos idealistas, que defendem também idéias como ais, A segunda posigio afirma a existéncia de corpos for. ialmente extensos. Nesta posigdo, est o realismo ingé. uo do homem comum, que nenhuma diivida poe quanto &s coisas sie realmente como elas’ sio vistas, tactendas, Ouvidas, chelradas, saboreadas. Ao lado desta posigio, a wm me mea nnnenennenaeneneennnnannene PUR TTF TU eT U GREE EEEEEEEEEEEELE RES st \iQihier INESERIA DOS SANTOS: adimite a existéncia dos cor: Sauiuin cnn Hu, senda a relagio a proporelon- Fidade dos nossos senior (ou soja, segundo’ a acomoda vy proporeionadas 4 nossa esque tit ealigade do. corpo nlagies stbajocl ivi «que dos odore: miética, ma ele, fund Esta posicAo ¢ @ aceita pelos fildsofos positives e cot eretos de todos os tempos. Temos directamente a evi déneia imediala de existéncia do mundo exterior. Em fa- ce dos actuais conhecimentos cientificos € inadmissivel ne- gar a existéncin de Lat mundo, embora se reconhegs que © conhecimento que «ele temos 6 proporcionado & nossa esquemiitica ¢ na relagio em que aquéle se encontra ante nds. Nao ha divida que as cores No sdo como nos pare. cem ser, que muitas sito, na natureza, diferentes da ima- gem que delas temos, ele.” Mas todas essas diferencas nao tomnam faisas as nossas apreensdes, como vimos, pois um conhecimento parcial nio ¢ falso pelo simples facto de ser parcial. Este tem sido um dos erros mals freqlentes cometides por mediveres fildsafos. DOS CONCEITOS UNIVERSAIS E éste sem diivida o ponto fundamental de onde par- tem os maiores erros na Filosofia e nfo s6 nesta, mas em disciplinas, inclusive cientiticas, sao praticados por aquéles que nio s¢ dedicaram cuidadosamente 20 estado da Filosofia e, sobretudo, da Logica. & da experiéncia de todos nés, em ida 2 nossa vida teOrica e pritica, na vida intelectual, na dos negécios, co- mo na do trabalho, que usamos constantemente conceitos: universais, sem os quais se tornaria impossfvel a comuni. cagdo entre es séres humanos e também seria impossivel ter construfdo 0 grande edificio dos conhecimentos cienti- ficos, pois desde os antigos sabe-se que a ciéneia tfata dos universais, que seu objecto é sempre universalmente tra. tado, Salientam-se quatro problemas que surgem do exeme ces conceitos. O primeiro problema € 0 problema eritieo, que procura resolver o valor ou realidade dos conce-tos universais. Respondendo a éste problema, estabeleceram- se trés sistemas: 0 nominalisme, que nega supdsito, sea. lidade a tais conceitos; 0 conceptualismo, que afirma haver algo no conceito universal, mas nas coisas nao Ines cor. responde nenhuma realidade e, finalmente, 0 realismo, que afirma terem os conceitos universais um valor objectvo. © segundo grande problema € 0 ontolégico ou metafi sico, 0 qual pergunta pela espécie de realidade que ha 20s conceitos universais; se possuem nas coisas a mesma Tea. lidade que tém em nossa mente, ou se sio na mente de modo distinto de o que sio nas coisas, Em resposta a lais problemas, surgem duas solugGes: 0 reatismo exagerado, que afirma que tém uma oxisténcia real a parte rei, © © realismo moderado, que atirma existirem nas coisas’ ape. nas fundamentalmente no formalments; ou soja, segun. 56 MARIO FEEKNIRA DOS SANTOS do 0 que concebemos, nko segundo 0 modo pelo qual sio concebidos (quoad in quod concipitur, non quead modum quo coneipitur), © tercviro prohleina é psicolégice, Investiga 0 modo como é feito o universal, como 0 constréi a nossa mente, Nossa mente responde pvla distingao entre o universal di *ilirectum), que 6 0 universal que ath amos na cous, © 0 universal reflexo, que 6 0 universal construido em nossa mente (universal reflexum). uarto problema ¢ 0 légico, que trata da classifica. Jogica dos conceitos universais. Hi profundus distingies entre a coisa tomada em sua materialidace © 0 conceito universal, que passam a ser matéria de estudo na Filosofia, e que marcam as pontos cia na andlise, Assim, enquanto as coisas ma- teriais sao singulares, as idcias sao essencialmente univer- sais; enquanto as primcires so contingentes, mutaveis, transitdrias, as outras slio necessdrias, imutdveis, eternas; enquanto aS pritneiras sfio concretas e determinadas se- gundo as suas circunstincias, as idéias sao abstractas © prescindem das circunstincias. Ora, sendo 140 diversos ‘os conceiios universais dus coisas singuleres, como pede- riam aquéies ser aplicados as coisas? Esta pergunta, es- tabelecida pelos escolisticos, parte da apreciagao daquelas distingoes, ‘Tédas as doutrinas modernas, que se afastam da linhe positiva e concreta da Filosofia, ‘tais como © cepticismo, © relativisio, o subjectivisme, 0 Tacionalismo, o irracio nalismo, 0 idealismo, o materialismo, o pragmetismo, o panteismo, 0 ontuloyismo, o fidefsmo, o ficcionalismo, 0 existencialismo, 0 nihilisme, ete., todas partem da manei- ra diversa de conceher os \niversais. © afirmamos mais: a maneira falsa Ge concebé-los uma das origens de todos 0s grandes erros [iosoticos, pois a outre fonte estd no Entende-se por universat algo que se dig em ordem a wailos, algo que (ent ordem em relagio a muitos, como tambén indies alginma comunidade, 0 que muitos tém em comum, Etimolosicamente, vem do latim unum et yer sum, nilo propriaicnie de vtisus, mas do verbo verto, ve tere, do que verte em ruilos, unidade de muitos. naa - ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 57 # 0 térmo universal tomado em muitos sentidas: universal no eausar (in eausc:do), quando algama causa produz todos os efeitos; universal no significar (in significando), quando sig. nifica muitos, nao, porém, por semelhanca, mas porque é apto a levar ao conhecimento de muitos outros como uma voz, um sinal, ete; universal no predicar (in praedicando), 0 que 6 apto @ predicar de muitos univocamente, e a cada um e s2gun- do téda a sua razao; universai em ser (in essendo), 0 que pode ser em mui: tos, univocamente, e em cada, e segundo t6da a sua raziio, como uma identidade em muitos; universal em representar (in repraesentande) por re- presentar muitos, por ser a imagem ou a semelhanga dé- les; assim a idéia exemplar na mente do artifice (a forma do vaso, p. 6x.) Nao nos cabe tratar do universal em causar, nem ao universal em significar, mas sim do universal em ser, do universal em predicar. © universal em ser é 0 chamado universal metatfisico, também chamado de directo, de primeira intengao, relos escolsticos, € um por ser indiviso in se, e distinto de gual- quer outre. © uma unidade precisiva, captada pela men- te, que reune as notas de uma determinada natureza, prescinde de sua individuacio, e inclui, ademais, a indi: visio ¢ a aptidio para a divisdo em muitos. F apta a estar em muitos por itentidade, pois a sua natureza, sendo uma em si, contudo pode referir-se e re petirse Gm muitas e delas’ ser predicada por identidade, Esta aptidgo de ser em muitos nao € meramente negativa Gndicando = mas positive, verda- exigincia de ser em muitos. E univocamente, quer dizer, nem andloga nem equi- yocamente tomada. E tomada distributivamente erm mui- tos, néo por multiplicagdo actual, numérica, mas por ofe- recer a multiplicabilidade de ser erm muitos sem ester em muitos com sua subjectividade, mas com a sua prosenca formal, ¢ ester em t6da a sua razio, em todo 0 Seu logos, eno com alguma de suas partes PES EERE LELEL ELE EEL ELE EEL OE ESSSSSO" 58. keane rer :HIRA DOS SANTOS © universal no predicar (in praedicando), também chamado logico, refloxo, du segundo intengao, consiste em “am” apto a ser predicasio de muitos por identidade, ~ A.unidade do universal nto a unidade do individuo, pois éste & algo win, que & Indivisivel em muitos, Nao € tuna unidade foruval, pacqie esta € Indivisda de alguma es séncia em si mesic, ¢ cru multas esséneias, porque neni tom notas separacas, nem se identifiea com qualquer es- séncie especificwnenic disunta, A unidade do individuo € incomuniesivel a outro individuo. Também nie é uma unidade fleticia, nom 6 une unidade de semelhanga, por- que esta afirins | diversicacly des individuos, que convém om outros em alguna nots, 0 que no é proprio da uni dade, mas sim1da mulliplicidide, A unidade propriamente universal ¢ aquclt que afiroa indivisie das notas ma 1 mma natures, © distincie d+ qualquer outra essénck todo 0 individuo; ow soja, unidade de precisio. © universe! pode ser dividido em fundamental, direc toe reflexo. 0 universal fulamental sto a8 proprias coir sas singulares, scmethantos en alguma nota, que levam 0 intelecto, que nao conheve a coisa compreensivamente, a consideri-las como wniversais, pondo de lado as notas in- dividuals O universal formal direeto € constituide das notas in- dividuantes, tomades cm sua universalidade, como cava Jo tomado como quadrtipede. O amiversal formal reflexo é @ natureza tomada pre- cisivamente, segundo as notas individuantes, considerada como uma unidarie de preciso, predicavel de muitos, co- mo S40 Os predicamientos de genero, especie, etc., na LO: gica. No universal, bi a conereco da natureze e da forma de universalidade. Os universais fund:umentuis sio propriamente os in dividucs, isolados das nolas individuantes. © universal formal directo refere.se i natureza e & forma de universa- lidade, como cavalo. O universal formal reflexo é a uni versalidade da universalidade, & © universal tomado co- mo referente a muitos outros, como os predicamentos de género e espécie, na Loxica. ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSoFICOS 59 Assim, quanto a um tipo de automével, em cada uni- dade hd a mesma proporgao de partes, segundo um logos, que € um em muitos ¢, univocamente, em cada um, to- mado distributlvamente, e segundo t6da a sua razio de uni- versalidade, H essa universalidade, que se dé em cada unidade de tal, tipo, na coisa, corresponde & mesma es- quematica do logos ‘de proporcionalidade intrinseca, que esté expresso nos esquemas grificos de sua construegio, © correspondem ao esquema Mental do seu tipo, segundo esteve na mente de seu criador. ‘Temos em cada uniace um universal em ser (in essen- do), um universal motafisico, directo, de primeira inten- cho, que nao é uma unidade de singularidade, porque nao ¢xclut a multiplicideds que se dé em todas as unidades de automdveis de tal tipo, no é uma mora somelhanga. Por. ianto, quando falamos do tipo X, nds o tomamos como um universal ao predicar (in praedicando), universal 16- gico, reflexo, de segumda intencdo, que ¢ apto a ser pre- dicato de muitos por identidade. Se tudo isso no é suficiente para convencer a pro. cedéneia do realismo moderado no referente aos univer: sais, ha outras provas e outras demonstragbes, due foram, manejadas através dos tempos, e que poderemos siateti zar a seguir, dando, assim, ao ‘eitor bem intencionade o meio de alcangar um conhecimento sdtido e bem orienta. do, quo Ihe permita obsorvar os erros fundamentais da queles que, a0 negarem essa realidade, prepararam 0 ca- minho para a grande enxurrada de erros, que constitui a filoscfia nao positiva nem conereta, a filosofia dos filo- sofastros, 0 filosofismo dos opinedores, dos pontos de vis- ta, dos parece que, dos assim julgamos, dos para nis. ete, Como queremes fazer realmente Filosofia, © 2spe- cular sobre as bases fundamentais do que conhecemos, através das suas razes, dando solidez as nossas afirmati- vas, no devemos, portanto, nos afastar do caminho das emonstragoes, que sio tao necessdrias. A concepedo pitagérico platonica do logos analogante, que encontramos exposte em parte nos dislogos socréti cos, nos permite compreender o sentido da universatida- de.’ Hi, nas coisas, algo de sua estructura, pelo qual elas S80 0 que elas so, € nao outras, Esse logos é encomrado 60 MARIO. PERIIRA BOS SANTOS em outras coisas idénticas, Assim, nesta gota dégua, na que esta acu, em sua estructura, ha algo pelo qual é ela Agua e no outra coisa, © também ha naguela outra gota d’agua, e naquela nais distante, e em todas as outras. Hii nelas, em suz estructura, algo pelo qual 840 élas gotas a’. gua, "Ha um logos cla ata, que se presencia em cada go- ta, € que nio € algo subjectivamente individualizado nes- ta gota, porque tambcm esi naquela, Ha algo que esta aqui totalmente, ¢ também csta ali totalmente, sem sin- gularizar-se subjectivamente aqui, nem ali, que é tanto aqui Como ali, um en muitos, sugtide toda & Sua razdo, o mes- mo em todos, universal que se singulariza, singularidade que se univer'saliza. A grande dificuldade em compreender essa univers: lidade na singularidade a singularidade que se universa- liza, decorre dos vicios naturais do raclonalismo funda- mental (nao, propriamente, do racionalismo como dow trina), mas do nosso funcionar racional, que, fundando-se na abstracco, tende, naturalmente, a manter formalmente separados, 0 jue Lormalmente distinguimos. O que é uni versal € 0 um que se diz de muites, é uma unidade, que, eo- mo vimos, no pode scr unidade de singularidade, porque oxeluiria @ multiplicabilidade, nem unidade essencial, por prescindir aquela tamhem. Nessa explicagio, a genuina concepgio pitagiricaplatonica encontra menores dificul- dades, As coisas, quando se ordenam ou sao ordenadas ‘na estructura em que sic suas partes, tomam uma deter- minada proportio em relagsio as outras, so constituidas, ‘segundo uma lei de proporcionelidade intrinseca (logos), que & 8 sua fonns, a qual ¢ uma imitagao do logos pelos elementos componenies. Assim éste quadro, na parede, imita, com suas fronteiras, 0 paralelogramo, como as ous desta mesa também © imam, e também o forro e © assoalho desta porn initum © paratelogramo com os ele- mentos componentes que ién, que repetem, em sua propor 940 intrinseca (e agui também extrinseea)’ a forma do pa- ralelogramo, com aspectos figurativos varios. O univer- Sal, que esti na coisa, 10 6 0 lags, mas algo que, por meio de ‘outros, dispoe-se le modo a imitar 0 logos. O esque- ma mental do loges referese ao esquema real imitante do logos na coisa, cic, por sua vez, imita o eldético do Jogos em sua pure v infinibucie, que ultrapassa ao mun- do fenoménico, que ¢ apenas aquéle em que a materia SG ordenada de mode « repetiz, por imitagso, os logot que ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS G1 compée 0 mundo des cide. A imitagdo (mimesis) vita: gorico-platonico caracteriza-se pela identificagao, conser- vando as distingdes formais, entre imitagio e particlpa- cao. A imitagio refere-se mais ao material, e a partici pagio mais ao formal, Para termos uma visio concreta, devemos considerd-la como sintese de imitagao-participa- 40, © que incluiria os dois modos visionais do pensamen- to pitagorico © do platonico. E assim mais {cil entender os universais através do pensamento pitagérico-platonico, que pertence ao te-cei- ro grau (grau de teleiotes), que é muito distinto de o de primeiro © segundo graus, como surge nas obras de di- vulgagao filosofica e até em autores que especialments se dedicaram ao estudo de tema tao importante, E tese universal entre os que seguem a filosofia posi- tiva e concreta, desde Pitagoras até os nossos dias, de que © universal reflexo 6 um ente de razio, mas que pode ter fundamento nas coisas, que € realissiino segundo 0 que yepresenta (ou seja, segundo a sua referéncia intercio- nal), embora nfo o seja segundo 9 modo pelo qual o uni- vorsal é representado na mente (ou seja: segundo o es. quema mental representado). (Nos térmos usados pe- los escolisticos ¢ real quod id quod representatur = se- gundo o que € representadc € non quoad modum quo re- presentatur = nao segundo o modo pelo qual é represen- tado, para traduzirmos literalmente). Em oposicao a esta tese, temos o nominalismo, cuja doutrina 6 a seguinte: o universal ndo ¢ nada, nern nas coisas, nem no supra-sensivel, nem nos conceitos (nomina- lismo rigido) ou, entéo, dio-se idéias de certo modo unt vorsais em nossa mente, meras representagées, mas suit. qualquer realidade fora daquela (nominalismo mitigado). Para o nominalismo, os conceitos universais sfio ape has nomes comuns, 20s quais no corresponde nenhum ser real nas coisas, nem no sujeito cogitante correspon. dem a nenhuma representacio. Defenderam essa posigao, na Filosofia, Herdclito, os sofistas, Protigoras, Cratilo, os Bpicuristas, os estéicos, Roscellinus, na Tdade Média e, na filosofia moderna, Locke, Berkeley, Stuart Mill, Hune, Condillac, Comto,'a escola da psicologia experimental, Fries, Wundt, Helmholtz, Unaruno, Ortega y Gasset, po- sitivistas, neo-positivistas ete. PLLCL ESC S% 69-6 8 CTEg BPEELELEELEL EE EELELE LEE EE LEE EELEEEES @ SAiGG HHH DOS SANTOS Em sma, os norinulistes afitmam: no se dio con- ceitos universitis, iis syeras Operagdes cognoscitivas por parte do Moen, te say sonsagges externas ou internas, Teproduridass sri. noun, ot com alguma elaboragao, Gombmnadis enn onrics on oeparadas de Outras por eng. Tae A ies ae hacen. dg um determines po ae coli, juve tune se nates, formam uma totalidade, nos di a imipresisae ale um tipo. Assim, wna seqiién- cin do fotonrnsiiy vie stots, superpostas, nos daria a ima: gem fuga, porn vio toslo uniéa, do am tipo, como Galton tentow f:zev com os inembros'de uma familia, Ha carscteres: connms cg 86 ¥8 nas érvores, trom , gallos, foliusy o can iene construsr tna lthagem cia generelicacs, woktatt, Ao que cade uma nos cebu na Imente, nun todo «vuncscente, que esquemnatizamos. porcionais 45 nossus associagies, a0 que herdamos de nos fe estinpe,¢ que passim a actuar some formas apsiorist tas, Agsioy, "0 thin 6 nor que 28 suas Partes” e "dois mais trés fazem cinco” sin verdades dependentes de nos- a de outres planetas, eom outras sas associagits, Min sives de oubres planets, com associagoes ¢ oltrs Ivasncis, nossos prineipios pode. yiam ser reputadus como falsos, afirmam ésses nominalis- tas, Com o nominalisinn, ne 6 possivel fundar-se nenhum_ j ane ‘ rien i2o seguro ce: cuis alumna, nem da propria exper dla, porque esta Mio pour eslendarse a todos. o3 Indiv duos ¢ a todos as casos nossiveis, nem 6 pessivel estabe- lecer rigidas conesies ruize as propriedades das coisas. E se nada podem salser pola experiéneia, menos ainda sem ‘a experiencia. A tese positivs ¢ conereta 6 que ha na mente idéias universais, e que represcniem 9 que é fundamentalmente nas coisas. Analisemos, pois, as razdes apresentadas em favor da tese que acabanios ce mo. xper, em oposigao 20 nominalis- Quando emproymos os térmos edo, arvore, casa, n> usamos apenas wma voy, nto Cueremos nos referir a um Individuo isolado, nem a ima colecgao, nem a uma ima- gem genérica, Deseja:nes significar alguma coisa nao in- dividual, ‘Todos nis, na nossa experiéncia, sabemos bem ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 63 © que queremos dizer com térmos tais como dinheiro que dem distinguimos de outros. Também quando dizenos gue alguém’é homem, nao confundimos 0 que querenos dizer coin a vou homem. Quando so diz que Joio & homem, homem nio signl- fica um individuo doterminado, nem uma totalidade co. leetiva, porque nio digo que Jodo é téda a colectividade de homens, nem tampouco afirmamos um individuo va. 80, Ou indeterminado, nem uma imagem genériea, porque Bao tem determinada magnitude, cor, determinadas nolas individuals, como seria 6 caso da imagem genérica de Galton. Quando dizemos que esta Hgura é um tridngule, do dizemos uma mera palavra, pois sabemos © que Gase, james dizer com trifingulo, Tamhém nio se retere a um Geterminado individuo, nem a uma coleogao de individuos, nem a uma figura genérica, que incluisse muitos trlargu Jos. Ademais, em cada individuo em que vejo a forma trlangwar, vejo o triangulo em sua totelidade formal ‘Tridngulo ¢, assim, um universal Ademais, se nfo discernissemos claramente entre in dividuagio © as notas semelhantes, que nos permiter construir esquemas, o que aliis comprova que o“ped: a Rossa experiéncia, ter-nosia sido impossivel construir am suber © até a ciéncia que dispomos. Quando ouvimos os térmios, quando lemos, nde formamos imagens de cada pa. lavra, mas apreendemos 0 que elas significam, Em suiia, sem conceitos universais seria imy construir a cigneia e 0 saber oxigenio ou hidrogénio nao nes referimos apenas a una Vou, mas a algo que a Fisico-quimica distingue e conhece, € as Jels que sio acharias na Cigncia, como na Matenact ca @ na Pilosotia, néo poderiem ter’ surgido, nem muito menos terem comprovado sua incidéncia em tantos actos, Defenciem os nominalistas a s mentos desta espécie: tudo quanto existe € singular, por- tanto também os conceitos referemse a coisas singulares, Ora a resposta é simples: in existendo esta certo, podese admitir, ndo, porém, in repraesentando, ossivel humano. Quando dizenios sua posigio com argu: Dizem alguns que um triangulo, sem determinada magnitude, sem uma colocagao no espago, sem determi. nada cor ete. repugna &@ nossa mente. Ora, 0 conceito universal de triéngulo seria dessa espécie; logo repugaa A DOS SANTOS os SANIO LY epugoavia, sim, respondese, se quisésse Saree meses, a remotes, sats wiingulo concebido. ‘Todos os outros argumentos ofere- Sidos sao mais ou mune dese quilate, e fundam-se na Minfvermaligife ie se bacon ne cangulnsdade das coisas hlslanle coguconce guy's exetbnal te uavetoal mie crada coin le tn obisa que se od aqui © agora, Femriue-o contenu te nin coneette toiversel tanta notes deteriminaci A womnclinuen cas de uma singulariaade Tanto o noininialisme visldo como 0 mitigado come érmos 0 smuos crr0s., cuerendo exbratr dos. tert eit sgniticady, tntauidy covaaitios, conseguen, eon is fo, na mintes epievenices, eavaiar todo coneio cs ua alor que possa ter qualquer exGesto mou destour todo ¢ quatguer fundarento, eam thibuindo para & implantagao do nlulismo etico, para or de lendem os que conspirain contra o bem da humanida de em defesa apenas de seus escusos interésses. "Volvere- | DO CONCEPTUALISMO Havendo-se demonstrado que os conceitos universais Significam e representam wm esquema eldstico, alismam Os coneeptualistas, quie tal esquema nio se ad ‘realmente Das coisas, mas apenas na mente humana; é um esquema eidéticonoético, e toda a sua objectividade esta a ZEntxe Os conceptualistas, podemos salientar, de certo modo, os estoicos na antiguidade, e na Tdade Média, Ros cellinus, Guilherme de Ockam (com restrigoes), ©, poste Gomente, Holkot, Buridan, Gerson, Nicolati de Ultricuria, Goclsh ¢ mais (prdximos @ nés, Kant, os pragmatistas, Hloegen te Row, William James, Piercé, Schiller, Dewey, Blondel e muitos existencialistas, Sf0s positives © concretos de todos os tempos afinme, fam @ue © conceito universal tem um valor objective, se gundo as notas que éle representa, nao segundo o modo Belo qual representam as mesmas, Em. suma, afirmorn SUG, 08 Sonceltos unlversais sio representados por esque, fas Mentais, que, por sua ves, se referem ao que cs de NaS coisas, embora niio as reproduzam fielmente, A tese 6 demonstrada do seguinte modo: Realmen:e co Neriticain, nas coisas, a parte vei, aguelas notas que estae ho concelto. No conceito homem, ha as notes de animal cre gncional. "Tals notas sto verificdveis no ser a0 qual Gassificammos como homem, “Mostranos a ciéncia expert Trental que tais entidades, de determinada forma (como O.gxisénio, o hidrogénio e ‘os outros elementos) a0 se om Sonuarem, segundo determinadas eondigées, procedem ao Sklerminados modos, que podem ser previstos, os quale so proporcionados & sua natureza, Se n&o se aplicassem os conceitos as coisas, nic as Classiticariamos sempre pelos mesmos conceilos, nao che : PH PPHCOOEE CEE ELEC LEPUBRLLEEIATLES FUTUR UU U RULE EEL EE EEL ELE UES EE ESS 66 MARIO MHLIIIRA DOS SANTOS mariamos sempre os homens de homens, nio aplicaria- mos @sse conccito a todos es homens, mas poderiamos aplicd Jos a outzos sér~s, © que nfo fazémos. Ha nos ho- mens, algo que nie lui nos cies, 0 que no nos permite chamemos os cies de homens, embora, apenas metafori- nos chamar alguns homens de ces, DO REALISMO Estabelecom os realistas exagerados, comumente cha- mados plutnicos, que os conceitos universais dio-se nas coisas como nalirezas cistintas da individuagao, e que nossos conceitos representam as coisas como elas sio, mas distintas da individuacko. Histdricumente, admitese ter Platdéo doutrinado a existéncia de {dias sepazadas de todos os individuos, eter- nas, imateriais, no Guu foi seguido por muitos {il6sofos, que tomaram © none generico de platonicos. Na Tdadé Média europdia, Lemos Scotus Eritigena (810'877), David de Dinant (1113), Amatricus del Bene (1206), Guilherme Campellensis (1070-1121), 0 qual reagiu contra Roscelli- nus, uma das figures mxiximas da famosa polémica dos universais, que abulou u Tdace Média, Incluem alguns 0s escotistas entre os realistas exageratios, devido & sua doutrina ca distingio formel ex natura rei, que estuda- mos em nosso “Ieoria cio Coahecimento”, Pedro Fonse- ca (1597) ¢, medernamente, os fenomenciogistas, entre dies Lotze, Husserl, Nicolai Hartmann, Rickert, Bolzano, 08 ontologistas, ete. De corta modo contrapiiose ao realismo exagerada o realismo moderado, cuja icsc Ga seguinte: nio se afirma ane existe forn m versal formal, mas apenas Auadamentilmente En suma, bi, nas coisas, um logos, que € a sua lei de proporcionalidace intrinseea, na linguager pitagdrico- -plainica, uma forma, na linguagem aristotélica, que é se- melhante ’ de outros em ouires individuos por sua natu reza, mas distinta na individin.gdo. Os que defenidem posicio do. realise moderado combatem a do realiseo exagerade, comumente chamads DOS GRANDBS ERROS PILOSOFICOS 7 ve platonica, argumentando do seguinte modo: a posigio platénica é em si mesina absurda e, ademais, indtil, Pro- vada a contradigio de sua afirmagdo, prova-se, definitiva- mente, a absurdidade, e provado que nada explica, prova- se a sua inutilidade.' Se os universais existissem em si mesmos, seriam simulténeamente idénticas © niio idénti- cos aos individuos, Seriam idénticos, porque se predi- cam por identidade aos individuos ¢ seriam no idénticos, por serem separados, e como ninguém pode separarse de si mesmo, tais naturezas seriam contraditérias. Ademais, se clas se dessem separadas, teriamos a igualdade separada das coisas iguais, 0 movimento, sem voisa que se movesse, a obscuridade, que é um negativo, seria _subsistente. Lossada chega a afirmar que tal teo- ria nfo passaria de um delirio. Se homem é formalmente universal ¢ subsistente em si, nao se explica como Sécrates € homem, porque eatao homem se verificaria em Séerates e 20 mesmo tempo fo- fa de Socrates, nos outros inomens, e seria, numericamen. te, muitos, © que faria ser ao mesmo tempo um e muitos, © que eontraditério, portanto absurdo, Se se dessem os universais, no seriam oriados 2em incriados, nem corpéreos nem incorpéreos, nem espirk. tuais. “Animal nao seria nem racional nem irracional, a velocidade nao seria nem mais veloz nem menos veloz, 9 igual no teria térmos iguais etc. Ora, tudo isso é con. traditério; logo, a chamada posigio platonica é contadt torla, € absurda conseqticntemente. Se se Cessem universais separados, 0 homem nio se- xia verdadeiramente homem, mas apenas uma sombra de si mesmo, ou uma_semelhanca on partieipagio; ora, isso € absurdo; logo, ndo se dio universais separados. tal € verdadeiro, porque a esséncia verdadeira do homem nao estaria no homem, mas fora do homem, Neste caso, és te seria apenas uma sombra, uma imitagao ou uma seme thanga do homem. Ora, tal'seria absurdo, porque os ho- mons singulares sio verdadeiramente homens, Ademais, tudo quanto existe ou pode oxistir 6 singu- lar; para a teoria platonica, os universais existem; logo, sao Singulares, nao universais. Se um ser que existe ou pode existir nio é singular, seria um por hipdtese, ¢ 20 mesmo tempo nio o seria, { 1 63. MARIO MuHitIRA DOS SANTOS porque se niultiplicaria cm maites, segundo a definiggo de universal. Ora, ou uma coisa 6 ‘si mesma ou nao é si mesma. Neste caso, seria ¢ nfo seria, 0 que € contradi- torio. Compendiamos, assim, os argumentos principais con- fra o que se chain de rtalismo exagerado, atribuido a Plalio, Os ontdloges (seguidores do ontologismo) afirmam que 08 conceitos wniverstis sio actos da mente divina, So © sio ttm Cles cazacteres divinos. E como se identifi- cam com as coisas, 10m estas earacteres divinos, 0 que seria cait no panteismo. Por essa raziio, a posigao on- tologista ¢ também condenada pelos adversarios do rea- lismo exagerucl. Em face da improcedéneia do realismo exagerado, os defensores do realismo moderado afirmam entao: os uni- versais verilicam-se nas coisas, segundo 0 que represen- tam, embora nio sejam como 840 cogitados. A sua rea- lidade esta suficientemente mantida pela presenca do uni versal na coisa, embora diferente de como esta ne mente humana, Contudo, como esié na mente humana, refere- ‘se, intencionalmente, ao que esta na coisa, como jé mes- tramos anteriormente. A aczitagéo do realismo modera- do evita tOdas as dificuldades que as outras posigées apre- sentam. NAo vamos expor nqut o que julgamos da doutrina platénica, pois, na verciade, nfo aceitamos essa maneira de consideri-ln. As vazdes de nossa atitude j4 foram reu- nidas em “O Um e o Mwiipo em Platao", e 6 acrescida de novos argumenios na obra comentada que escrevemos sobre 0s sous didlo Da mancira como a doatrina do grande mestre de Aristoteles € cxposiz, € Licil apontaremsse erros. Mas, na Filosofia, 6 mister wna corta suspiedcia, e desconfiar das solugdes faceis. Nac teria Plato sentido os defeitos tho evidentes dese douirina? Terla realmente éle expos- to 0 sou pensamento assim? ¥ esta a unica maneira de realizar a exogese, neste panto do pensamento platonico, através da leitura’ imosos didlogos? Se toda essas perguntas forent feitas, e merecorem longas e cuida- cosas meditagocs, verilicarse-4 com facilldade que o pen- samento platonico, ald de nuo ter sido expresso com cla- ORIGEM DOS GRANDES BRROS FILOS reza nos didlogos, no poderia ser éste como 0 propé2m os seus adversdrios. Bastaria que meditdéssemos sobre 0 se- guinte: os atributos, os predicados de um sujeito, néo po- dem pertencer a uma estera de realidade distinta da que pertence 0 sujeito. Entre séres fisicos, cujos Jimites sao as superficies, e cuja separagio 6 fisiea, todos os atribu- tos de distingao, separagio, posieao etc, so fisicos. Se 0s séres sio formais e, portanto, nao fisicos, os atributos sio tambem formais, ¢ nio fisicos. Quando se fala em Singularidade fisica ¢ outra coisa do que falarse em sin- gularidade nao fisica. Quando se fala em separabilidade fisiea, outra coisa que separabilidade nofisica. Entre duas formalidades, a disting&o entre elas s6 pode ser for- mal. Se essa distingao as separa, essa separagdo ji nio € fisica, mas metafisica, Se o leitor meditar bem sobre ésses pontos, verificaré, facilmente, que se atribui a Pla to, 0 que Platdo de modo algun desejava afirmar, pois dotado do talento que tinha nao iria cometer confusdes tao primérias, que qualquer critico facilmente percebe e distingue. Ademais, uma individualidade ou uma multi plicidade formal nfo é a mesma coisa que uma individua- lidade ou uma multiplicidade fisicas. Como no nos 6 possivel neste livre discutir tal tema, deixamos a discassio para. os lugares convenientes, conservande apenas o que Nos interessa para a justificaco da tese fundamental des- ta obra, que € 0 seguinte: Baste-nos a validex do realismo moderado e¢ a sua fundamentagio..,Téda posicao que afirme o nominalismo, © conceptualismo; em suma, que negue pelo menos a rea. lidade dos conceitos universais, como é exposta pelo rea~ lismo moderado, tem sido causa ¢ fomentadora de gran des erzos filosificos, como veremos no seguimento desta obra. pereerreerye PELEEEE REL EL EL ELE EEEEL LLL EES SED DDS UMA °OSICAO DO REALISMO VYainos a uni excrply bom singelo, e um tanto rude, mas suficiuntemente cristuline para mostrar em gue se funda o realismo, tomado em sua generalidade. Imaginemios que lames as m&os uma balanga, com seus dois pralos. Num déles, pomos um péso, que cor- Tesponde 20 que chamamos um quilo, Cabe a Fisica estudar que € péso, e tal propriedade Gos corpos ¢ algo que conhevemos pela experiéncia. ‘To- memos diversos sacos clo papel, e ponhamos num déles cafe, noutzo, agtear num terceiro, feijzo num quarto, bar tataS ¢ assim ‘sucessivainente, de maneira que o prato, onde 0 eolocumos, s cquilibre com 9 em que esti o peso de um quilo, Coneltimos, enti, que tafs sacos pesam um Quito cada um, Cade in, todos, pesam um quite, O pesar um quito € comum a tedos esses sacos, é um que verte (uni-versare) sibre muitos, Temos, assim, uma universalidade: 0 peso ce wm quilo, Um quilo nao esta apenas singularmente ino saco de feljaio, nem no de agi- car, nem no dv baiati, ren no de café, etc. mas esta em cada um, 1 Singularizado em nenhum, pois, do contrario, © um singularmente apenas, como’ po- Coria estar nos ouiros? slo feijdo, que esté neste saco, nao esté nuguele oniso, nem @ste agdear aqui, no outro: ali, e assim sucossivanienwe. iste fei}de est, individual ¢ singularmente, nesie s2co, Mas 0 péso de um quilo, nao. © péso de um guile ests tmbem universalmente em todos os sacds. Mas nenium désses sacos é 0 um quilo, mas tem um quilo, Eo tem csie, éste outro, aguéle, aquéle outro, ete. Nahum ¢ 9 “um quilo”, todos tém um qui- lo. Tanto ésle sco, como aquéle € os outros ttm im quilo, sem serem uh quilo, Cada um partieipa de um quilo; nao, ¢, porém, wn quilo. E além désses sacos, ou- tros Séres podlerlusn ter ¢ teni um guile de peso, Ora, se- ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 71 ra que um quilo de peso ¢ apenas um flatus vocis, um s6- pro, a combinagio de uma gutural e uma labial com vo- gals, quilo? Proceds o argumento do nominalista? ‘Serd apenas um esquema mental, algo que 86 existe na nossa mente, come 0 quer o conceptualista? claro, 6 eviden- te, qué niio. O um quito (ésse quantum de peso que cha. miamos Um quilo), 6 algo que Tauitos tém ou podem ter em comum, é um em muitos, é um universal que independe de nossa mente, que se dé fora de nossa mente, que se da na realldade, na coisa, sem estar Singularmente na coi sa, mas, sim, Universalmente nela, Se houvesse apenas uma coisa em todo 0 cosmos que pesasse wn quilo, nem. assim um quilo estaria singularmente apenas na coisa, pois seria uma possibilidade de multas coisas terem, sem Serem. Ora, essi evidéncia 6 que atirms o realisme mo- derado. © ésquema mental, que formamos, de um quilo, pao € um ente que apenas temn fundamento ou realidade em nossa mente, algo que fem uma realidade também fora da nossa mente, que tem um fundamento nas evisas. este modo, de maneira clara e definitiva, vé-se que © nominalismo ¢ o conceptualismo, em suma, toda posi- cdo que negue validez a0 realisma ‘moderado, nao € pro- cedente. Resta agora saber se o realismo exagerado tem fanda- mento, Que afirma ¢ realismo exagerado? Alirma que um quilo € ums realidade em si, independentements das coisas, que tém um quilo, pois se nio houvesse nenhuma coisa que pesesse um quilo, se desaparecesse a cocpera- a0 de factores fisicos, que ‘geram esse acontecimento fi- sico, que se chama um quilo, impedindo, assim, ave ne- nhuma coisa mais tivesse péso, © muito menos um quilo, nem por isso um quilo seria nada, Que se entende por nada senfio a auséneia total de ser? Poder-se-ia dizer, sin, que nada ha que tenia um quilo. Contudo, nao se pode: ria dizer que ndo h4 um quilo, que um quito é absoluta- mente nada, porque se ¢ absolutamente nada, nunca coisa alguma poderia ter um quilo, pois como o que é absoluta- mente nads poderia ser alguma coisa? Se poderia ser alguma coisa, era j4 alguma coisa, e nfo um absolu.o na- da, Ora, ou um quilo ¢ absolutamente nada, e entao, nunca coisa alguma poderia ter um quilo, ou € relativa: mente apenas, e, neste caso, € alguma coisa que ¢ que nao € aqui ou ali, como 0 camelo nao 6 aqui, Onde esta- 12 MARIO FERREIRA DOS SANTOS mos, mas é onde éle esti. Nesse caso, um quilo é algu- ma coisa. Eo que ¢ alguma coisa nio é absolutamente nada, ¢ 0 que no ¢ absolutamente nada € alguma realf dade, Desse modo, diz o realista exagerado: um quilo & alguma cols. Nao 6 algums coisa singularizada aqui ou Ali: agit ests @ mim quite, wu all ests dle, Um quilo nio tem a subjectividade que (em um passaro ou uma pedra. Um quilo tom ura reslicade outta, uma realidade format, € uma forma da cual wx coisa pode participar. 6 uma forma, que surge do correlacionamento de uma série de factOres fisivos, que aio surgimento ao peso de um quilo. Se se dé ou nio tal correlacionamento, néo importa. O que importa ¢ que Cle ¢ uma forma, que pode dar-se hum ow outro conjunto de tactes. Mas, como nao se singula- Tiza nesse conjunto de factos que Se déo (pois, como vi mos, éle nfio ¢ um quilo, mas tem ou teria um quilo) um auilo, em sume, ¢ uma forma que independ= das coisas que tém un quilo. 1: uma tealidade de outra espécie. ‘Como naturaimente hi pessoas que ndo podem conceber Outra reslidade que niio seja a dada pelos sentidos, como se os actuals acontecimentos cientificos ainda justificas- sem essa maneira primdria ¢ vulgar de considerar a rea- lidade, essas pessoas preferem afirmar que um quilo é nada, absolutamente nada, ja que nao podem, substan. efalmente, em sentida corpérec, tomar o um quilo em si mesmo, vélo, apalpzilo, cheirite, sabores.o. Quando os nossos sentidos eram oS tinicos meios que dispinhamos para alcancar a subjectividade das coisas, ainda se poderia admitir (embora digno de lamentar) que algumas pessoas ingénuas acreditassem que tudo quanto no 6 corporeo, nao © meciive! pelas unidades sensiveis, fOsse apenas nada, ¢ nada mais que nada, Mas, hoje, quando a ciéneia ji penetra no imponderével, invacle o gue ultrapassa a corporcidade, tange o que nao é mais sensivel, é simplesmente ce estarrecer e de causar dé que hhaja tantos que prelitam afirmar que a forma um quilo € absolutamente nada, pele simples facto de que nao ¢ abjecto da sensibilidtic, coma se a nao-experimentabili- Gade sensivel fOsse demonstracso apoditica da nao reali- dade de alguma cols; como se uma negagdo pura e sim- ples fosse suficiente para yarantir uma afirmativa tio pal- mar. Mas como isso acontece, como érros tao clementa- res de Logica Deionsirativa s? do freatientemente, no 6 de espantar que {ais alizmativas sejam feltas por ho- ORIGEM DOS GRANDES HRROS FILOSFICCS 75 mens que se julgam sdbios © prudentes. 1 simplesmen- te de causar piedade 0 espetdculo que se assiste, de pseu do-sabios, do alto de cétedras, afirmarem que 56 ¢ real 9 que os sentidos captam. Désse modo, o chamado realista exagerado poderia Gizer que nfo exagera na sua atitude, e que acoimar 9 seu realismo de exagerado ¢ uma demonstracao de ignoran cia ¢ nada mais.” E afirmaria ainda: entre o afirma: que a forma um gnilo € absolutamente nada, e a nossa, de afirmar que ¢ uma realidade de outra espécie, que a me- ramente corporea, verifice-se que @ primeira estd civada de absurdidade, enquanto a segunda, nfo. A forma um quilo nfic € absolutamente nada, mas alguma cols. E 6 alguma coisa que independe de nés. Se ns a caplamos, 6 uma honra para o espirito humano, Mas se no hcuves- se homens, se nunca houvesse homens, essa forma seria alguma coisa dentro da ordem do ser, e néo um ‘absolu- tamente nada, E mais, afirma tal realista: essa forma sempre foie sempre seré, Ela nao € alguma coisa que muda, que se transforma, que deixa de ser 0 que é para ser outra coisa. Bla é eterna na eternidade do ser, € coc terna com éle, sempre foi, sempre ¢, e sempre sera. Ela niio 6 tempo, mas elernidade, Ora, as coisas que sao tem- porais, que sucedem no tempo, sio as que mudam, se transformam, deixam de ser 0 que sio para serem outra coiss. A forma um quilo ndo é uma coisa dessa espécie, é sempre ela mesma, idéntica a si mesma, idéntica a sua especificidade sempre, pois nao sofre corrupgio, pois um guile nfo deixa de ser um quilo, enquanto formalidade. A verdade ¢ uma adequagao e a forma um quilo adectia-se sempre a si mesma, Uma coisa temporal adeqiast a si mesma apenas no mesmo instante e sob 0 mesmo éspec- to, mas a forma adeqiiase a si mesma sempre, artes depois, sempre, Portanto, é ela de uma verdade perene, enquanto as coisas temporais mudam, ¢ sua verdade é rolativa, Logo, proclama 0 realista, quando afirmamos que ha um mundo-verdade, 0 mundo das formas, parale- Jo a0 mundo da aparéncia, ao mundo do fendmeno, 20 mundo das coisas que mudam e se trensformam, dizemos uma ingenuidade? % a forma, acaso, apenas um esquema mental do to- mem? § um quilo, acaso, apenas um esquema mental? £ acaso apenas uni flatus vocis? Nao é também algo que PREKKLTKLLTILLLAULLULALVLLLLLALE REDD PELEC EEE LELEL ELE LULL LLL LEE EEE ESS SO 6 MARIO EIA DOS SANTOS se di independentemente das coisas, um possivel eidético, que estd na ordem do ser? Pois € esta realidade que 0 realista defende isiniém. Nao nega as outras, mas afir- ma que tambin ¢ osta, © que esta 6 a prineipal, pois se tum guile nio fOsse uur possivel sempre, desde tado sem pre, nunes poderinn case coisas que Lm um quilo, por: que como poderia 0 que © wusolutamente nada ser um dia, de certo modo, alguma coisa? Aquéles que gostam de ridicularizar tais idéias, que refutem essas demonstragies, nio com berros, nem’ com ‘pelos & Joucura, ou a ignorancia, ou com argumentos ape- nas, mas com rigoresas demonstragSes, com uma seqiien- cia de juizos devidamente fundados em Juizos analiticos apoditicos, necessities. Do contrario, 6 preferivel que se calem, e Geixem ce chntinuar perturbando a mente dos inadvertides, Imoctiuido-lhes os errs @ as desconfiangas, que tantos males tém fcite & humanidade (1), Jé examinamos a distingio entre o universal funda- amental, 0 formal dixeeo & 0 format reflexo, Vimes que a abstracgao pode ser parcial ou total, bem como distin guimos, claramente, © Gut é a precisie, que 6 a cognigio de alguma coisa, separadamente tomada pola mente das que existem conjuniamente com ela, e sté identificadas com ela, A precise 6 ums opcracho abstractiva, que po- de ser sensitiva ov inteteciua!, como vimos, enguanto in tCctiva pode ser parcial ou tolal. A abstrace’o parcial nic ¢ propriamente o universal, mas, sim, a abetawcgio lots Como se realize essa abstreegio? Dos estimulos que a8 coisas nos oferecem (phuntismata) so constriidos pe. Ia acgao de nossa moule esquemas (imagines) fictico nos. ticas. Noss menic, per sua vez, através de comparagdes € Teflexdes, extrai outros esquemas noéticos, nao da sin- @ularidade, mas da nuultiplicidade, que se di nas coisas, (2) Algudon patoria ategae que asm lo ¢ uma modida cette, qe se siwuria, pordm, # que & possivet na fordem do ser fiver bn psu isi! se ge o Komtosn chama wn quilo, fou considera cone pis ale a alta, ORIGHM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 75 A abstracgdo no € o resultado de uma atitude passi- va da mente, mas activa, de uma acco realizada pela mente. Aquéles que julgam que a nossa mente funciona como uma maquina fotogréfica revelam desconhecer uma Jei fundamental de todo existir, e que se manifesta em to: do onte em relagio reciproca com outro, que é a interac: tuagio. Nenhum ser, com sua emergencia, sofre apenas a acco do meio exterior, mas também essa acgio ¢ con- dicionada pela natureza do ser. A predisponéncia actua na emergéncia, propercionadamente & capacidade de ac- tuar daquela, é proporcionadamente & capacidade de ser actuada desta, Considerar nossa mente como uma pedra & Deira da estrada, ou uma folha séca ao sabor das cor: rentes de ar, ¢ una das manelras mais primdrias de com ceber 0 funcionamento do nosso psiquismo, ao qual que rem negar qualquer fungdo activa, como se a propria ex- periéncia da reflexio, da meditagio, da actividade abstrac- tora nao fossem um desmentido formal a tais maneiras de concebéla, Naturalmente, aquéles que tém 0 intuito de reduzir o homem a uma coisa, de desmerecé-lo em seu valor, afagam com entusiasmo tais concepeées, que expli cam 0 mals pelo menos, 0 superior pelo inferior, ete. So 6 nossa mente meramente passiva ao’ conhecer, por que, Co contrario nao reproduzina sempre o que é per cebido pelos sentidos, nem realizaria precisbes, nem cons: ‘ruirla compinagbes, nom estabeleceria distingdes, nem divisdes das coisas percebidas, nem captaria as suas partes, maiéria e-forms, substancia € accidents. O universal formal € construido por uma aceay rea lizada pelo intelecto, assirn como o universal formal di recto € produzido pela precisio da mente, e 0 universal iormal 10gico € constituide pela comparagso retlexiva de natureza abstracta sobre os individuos. O universal di. yecto nao € producto de uma mera apreensio intelectual singular, mas de uma preciso, que ultrapassa a individua- ¢ao. O'universal formal € constituido pela natureza co. nhecida como uma e como apta a ser predicada de muitos por identidade, como ja vimos. E isso € obtido a:ravés da comparacio reflexiva da natureza abstracta com os in: dividuos, pela qual se obtém a natureza como uma, e co- mo prediedvel ce muitos, que 6 0 universal formal logico. Ao conkecermos algo, através da intuigio sensivel, 0 ser humano despoja, a pouce e pouco, o que é accidental, 6 Maki weeIIE BOS SANTOS Go que pode ser ot podesia ser o eontrdsio, sem que o en- te deixasse de ser o que ¢, «ld aleangar ao que é imprescin- divel, uo que é cssenrinl da coisa. Assim, a0 observarmos Giversus (ridnguios, uns ce mnideixa, outros formados por linhas que se intersecciuniwn, despotamas de todos ésses factos os eloweutiess eanponentes, para considerar abana © figurative, uni esqueni Sigurativo, que € a esséncia da forma Lrianikir. ‘Touts vssais operacoes so intelectuais, @ € gragas it prerisio, a abstraccko, que ela aleanga av unt yersal formal directo, que ¢ o universal na coisa, © a0 com- parar ésse esquem eon! os diversos individuos, aleanca, onto, ao univessatt Lorine Loco; OW Seja, 20 esquema ei dético Ga eviva. Depeis dessa longa explnagao, verifiea-se que a posi- (20 mais segura na Filosofia, em torno do tema dos uni- versais, é a do realism moderado, que se fundarnenta em. bases Seguras, em argumentos sélidos e em demonstra- goes decisivas, e serve de meic para impedir uma série de exros filosoficos, que se fundaram, em sua maior parte, na mé compreensic do que ¢ realmente o conceito uni- versal, CEPTICISMO, FONTE DE GRANDES ERROS: Todos os adversdrios da cognic indirecta fundam-se. na afirmativa de que 0 homem nio dispoe de melos ce conhecimentos seguros, que Ihe déem a certeza de que al- canga a verdade. Entre ésses adversdrios, podem ser clas- sificados, numa escala intensista descendente, em primei To ligar, OS eépticos radicais ow universais, que nogam qualquer certeza, os relativistas © os idealistas criteriolé gicos e, finalmente, os agnosticistas, que nado corseguem evadirse da esfera do eepticismo, por mais que o tentem A palavra skeptizomai, em grego, significa investigar, skeptikoi chamavam as questdes através das quais se Snquiria algo sObre a verdade. : Os fildsofos greges, que se dedicavam a tals estudos © a responderem, porianto, a tals perguntas, e que termi- naram por negar validez a0 nosso conhecimento ou, pelo menos, pér dtivida s6bre 0 mesmo, passaram a ser chama- dos de eépticos, cepticismo foi o nome que se deu & sua Posigdo filosdfica, Em suma, podese considerar como céptica toda posigiio que poe em dtivida, total ou parcial, © conhecimento humano. O cepticismo € universsl quan: do duvide totalmente de nosso conhecimento, e € parcial, quando nega a yussibilidude de se alcangar a’ verdade em determinadas regides do conhecimento humano. Na Historia da Filosofia, tomaram essa posi¢io os pledticos, que eram monistas’ metafisicos, no tocante 20 eonhecimente da mutacdo e do muiltiplo, que eram por éles negado; entre os atomistas, Demoerito afirmava que nada sabemos, embora a verdade vibre no amago das col- sas; Protégoras afirmava que todo nosso conheciniento era relativo &s nossas condigdes, e as nossos esquemas; Gorgias chegava a negar o ser e assim também Hipias, Po- PHRKHKCCKEKCTCKC CC CTL LL LLpibiwierereee PELLELERELULULELEL EVEL EL ES ESS BD DO? 78 MARIO PEKRHIRA DOS SANTOS lys, Calicles. Fsses cGpticos gregos tiveram contra sia oposigdo de Socrates, Aristiteles ete. Depois de Séurates, suzgiram a escola céptica de Pir- ro e Timo, Arcesilatt © Carncades, Bnesidemo até o gran Ge cotificaioy dy eepficiauo, que fol Sextus Empiricus. entre os modernos, polemes salientar, em ordem ero- noldgica, no Ovidente, Mont:uyne, Charron, Franciseo San- chez, Huet, Pascil, Lamennais, Bayle, Hume, Nietasche, Diithey, Spengler ¢ mna sculicls de flésofos ‘menores, Pode-se rebuter 0 enpliciso englobadamer do estes argumentos. ‘Em primeizo Ingar, a ieitura da obra dos eépticos re yela que todas éles adsnitem que podemos conhecer algu: ma coisa, 0 qe niio o acute o cepticismo universal. Eo proprio cepticismo universal seria a afirmagno de que alguma coisa sabemos ce verdadeiro, a posicao céptica, 0 que zefutaria a si mesma, O certicismo, de qualquer mo- do, nao pode impedir sua queda, na contradigéo, porque tem de fataimente admitir como certa a sua posicao, o que a refuta de qualquer maneiz. Por outro Jado, quan- do os cépticos se fundam no conhectmento parciél para afizmar quo todo cone , cometem WH ie Maldive engano, como vinos, Um conhecimento par- cial nao & nec e falso, mas pode ser verdadeiro segundo © seu Contude, vejamos a sestiir quais os mais famosas ar- gumentos que os cépticos «presentaram em todos os tem- pos para justificar a sux posicsio, , seguin, Alogam uns que nossos sentides nos levam ao érro. A resposta € simples: sip, levammos ao érro, mas 2s Vv zes, néo sempre. Nossa razito ert nvwitas vewes, examam, Sirn, erra, nado por necossidade, mas por secidente, respone-se. Vi inos os homens prenuneizresn sentencas opostas, nao se entenderem entre si, Realuiente, Tesponde-se, mas quan- Go se trata de questies gue nie sho de per si evidentes. A razio humana ¢ falivel, prodamam, Respondes nfio em tudo; apenas to erra inven por deficiencia do 0 ls COISES, Oi nasso intelec- o erra invencivelmente, erra, ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 79 © cepticismo é irrefutavel porque nio se pode de- monstrar contra éle, pois nio estabelece nenhum princi- pio, afirmam os seus cefensores. Nao se pode fazer una demonstragao positiva e directa contra éle, admitese, mas pode-se fazer negativa indirecta. DO RELATIVISMO U: NIVERSAL Concordaram os relativistas com os eépticos em que 0 conhecimento humane no é capaz de sleancar a realida- do como ela é, Contudo, nao negam tode verdade, mas admitem que somos capazes de alcangar muitas verdades, mas relativas. Santo Agostinho dizia contra os eéptizos! “se a vordade nao existe, é verdade que a verdade 1100 exis- te; e € totalmente verdade que a verdade ¢; logo se a ver- dade Dio €, a verdade 6; e consegiientemente, necessiria. mente a verdade existe.” Mas 0 relativista nao quer ne- gar a verdade, mas considera-a relativa, nao absoluta, Muitos siio os ilésofos desde os gregos que segucm 0 re: Jativismo, ¢ sao numerosos sobretudo em nosso dias. A figura ct ssica do relativismo Protagoras, que afir- mou que o homem ¢ a medida das coisas que Sio ¢ das que nio so, que é uma tese do psicologismo especitico, tese que encontraremos modernamente no psicologismo individual, na doutrina dos tipos individuais, no historicis- mo, no humanismo mocerno, cujos representantes so Dilthey, Leisegang, Fries, Fechner, Ribot ¢ tantos outros, © fundamento do relativisme, em linguagem corere- ta, pode ser compendiado da seguinte forma: todo nosso conhecimento ¢ relative A nossa cequomdticn mentel, @ qual inchii 0 sensério-motriz como base. Os esquemas que adquirimos so proporcionados & acomodacio dos nossos esquemas ¢ & assimilagdo correspondents. ‘Todo conhecimento humano gira em tOmo de tais esquemas, € niio pode ultrapassé-los, pois téda extensio da assimi: Jago, além da acomodagic, gera apenas 0 simbolo, que € um modo de conhecimento imperfeito. D8ste modo, t0- das as construcgées humanas sto proporeionais, nao sé A esquemiitica do homem, enquanto espécie, mas, tam- bém, do homem enquanto sor historic, social, caractero- L6gico (concepgao do historicismo, do sociologismo, ée.), 80 MALO WHRIUIRA DOS SANTOS que Ihe permite ver © comprender o seu mundo na pro- porgao dos seus esquumas. Este pensamento véme-lo também em Suenyler ¢ Maw, que condicionam a relativi- dade do couhecinenta as condigdes econdmicas, em seus aspectos geruis © particulares. Purtindo, Guniein, do relativisme, temos a posigio daqueles que consicieram depender a verdad da utilidade, caracteristica de praymatisino, cujos maiores representan- tes foram Nielzsche, William James, Mach, e o fieeionalis- mmo, que decorre dO criticismo Kantiano, a filosofia do Alsoh, do como se, que 2firma que as coisas nos apare- com como se fossem o cue parecem ser. Ademais pode: mos incluir ainda Schlvicrmacher, Sabatier, Loisy, Tyr- rel, € Os relativisisis nucionalistas, como Rosenberg, Gobl- neau, Stewarl-Chumberiain ete, Respondendo ao relativismo, afirmam os defensores da posigac contriiria, uv, inegavelmente, 0 homem conhe- ce Verdades absolutas, que independem do tempo, das condigées historicas, etc. Que 0 todo é quantitativamente maior que catia urnii de suas partes, que 3 vézes-4 € 12, @ outras verdacies como tais, independem da historicidade. Hé, contudo, um saber histovico, condicionado pela esque matica, mas’é mais accidental de que substancial. Subs- tancial’e essencisimentc, 1; um saber que independe do relativismo dos esctiemas, Que realmente € assim, temos 0s exemplos citndos mais os prineipios ontolégicos, as teses fundamentais da fiiosotia conereta, os axiomas da filosofia pesitiva. 5 aclgios escoldsticos, que sdo validos em qualquer Jeu e verdadciros, independentemente de qualquer iAsivriciduce. Ademais, 0 relativismo se se mantém coerenie, tera que cair no campo do cepticismo, pois nao poder afirmar nentuma verdade como definite va, nem absoluta, © que 6 afirmar uma verdade definitive @ abscluta, e cait, portanto, na contradigéo inevitavel de téda posigio ceptica. Neste caso, o relativismo terd que considerar-se como uma posigao também relative, eomo alids 0 pretende Spen- gler, no que nisto supera os outros. Nao se deve confundir o relativismo com a doutrina da relatividade de Einstein, embora muitos procurem fa- zelo no ambito foxofieo. "Nem Einstein nem seus disei- pulos de valor toraram {al alitude, nom quiseram trans: ORIGEM DOS GRANDES sEr ROS SILOSOFICOS gy formar a sua teoria numa teoria critica da verdade abso. luta, pots, pelo contraric, admitiam a sua realidade. ¢ afir. mavam a realidade indiscutivel dos conteiidos de certos Coneeitos fisicos, que nao consistiam apenas etn séres re. Istivos a nés, mas existentes, independentemente d2 nds. Os argumentos, que costumam esgrimir og relativi tas, como 0 de que & verdide aparece como Teste ts Historia, tanto na Ciencia, como na Filocolia, me tien otcs respondese que se trata da verdade material nfo ds verde formal, “Sta nto so apresent Goma : racteristicas. ® ues ea A outra afirmagio de que todo conhecimento 6 apenas ‘um acto psicoldgico e, portanto, relativo, peca pelo exces. 0. pels se realmente © a cognigio um acto psicoldgico, e: subjectivamente, © portanto relative tivamente ndo 0 ¢. 10, objec: Alegam ainda que nosso modo de conhecer nao se de- tonstrou que o tinico possivel; portanto, o nosso connie. cimento € relativo a éle. Realmente podess © deve-se admitir até outros modos de conhecer, © até superiores 03 nossos. Mas se so distintos, tal ndo implica que 0 Contetido formal do conhecimento nao soja verdadero, embora em seus aspectos accidentais seja distinto ” Outra alegagic € que nosso intelecto é uma maquina, © gue t6da mdquina, em seu funcionamento, depence da sua estructura mecanica. Logo Mas tal argumento niio tem paridade, 7 , porque nossa mente nao funciona como uma maquina’ @ ademas funcionamento de uma maquina nao depende apenas da sua estructura, pois um aulomdvel com agua, em vez de gazolina, nao funciona A teoria do relativismo da verdade explica ern ; lativi 8 08, di- vorsidade de opinides, ete. Realmente, responde-se’ ex. plica alguns erros e algumas opinides, nao, todas, porérn, nem melhor que outras posicées. . Vese, déste modo, que o reiativismo tem sido, por su xez, una fente de errs, emiora Ihe assista multe see Ge verdade. A concepeao positiva ¢ conorela nao nese Proporcionalidade do nosso conhecimento as condisces Ge nossa esquemiitica, mas no que se Tefere a verdade ma, wt KKEOCKKKKCKKKKKT KEK LILAILEEAATTYT VTTT TUCO LURE UL ELE LL UL UL ER ULL ELLE 62 MAIO PREREIRA DOS SANTOS terial, néo i fornval (1). O ser humano pode construir uma visio formal e onloldgica, com base dialéetica ¢ 16- gica bem consi:tuida, que Ihe permite aleangar a resulta- dos verdadciros sob © angula formal, ontolégico e concre- lo, sem deixar de considerar a parte material e relativa de nosso conhevitnenia. lrecisamente, saber _manter-se seguro entre Ges uxteynos & que revela a superioridade do filésofo, que nao se deix: ompolgar pelas primetras di- ficuldades que apareccmn, que enleiam facilmente os mais fracos, mas que sio venciclss pelos mais vigorosos ¢ de mente Tilostfien mais s4 (2) Assim, quando Spengler, findande-na na signiticagio des numeres, nos diversos ciclos eulumas, aflrma que para o indy um. numero tem um valor distinte do que Ihe d& um ehings ou um egipeio, apanha un aspecto da verdade wsterlal, Contado, tanta para o chit nnés, como para o hindu, con para » egipele, come para o ser inte gente do plansta X, sete vives qoualro gerd sempre (@ sempre fo!) ‘mendos no filosofar. oe 1s tre OS ERROS DO IDEALISMO Os antigos nfo consideravam um problema 0 ecnhe- cimento sensivel, 0 dado polo senso comum (pela con- jungio das assimilagdes provenientes dos sentidos). Con- tudo, contra essa objectividade surgity, entre os idealistas, um movimento contrério, que comegou a considerar um problema 0 conhecimento sensivel. Consideravam os idealistas que nossos conhecimentos das coisas sensivels nao correspondiam prépriamente a entidades existentes fora dos mesmos, coisas reais extra mentis, independente- mente da nossa mente, mas apenas representagdes met tais, aparéncias meramente subjectivas, objectos constru Gos pela nossa esquemética; portanto, dependentes exclu- sivamente das formas a priori (independentes dé experi- éneia) da prépria mente humana, que terminava por ¢ons- truir, como estructuras reais ¢ objectivas, 0 que ndo pas- sava ‘de simples construcgoes do nosso espirito, Alguns chegaram até a afirmar que nada existia fora de rossa mente, ¢ que a unica realidade ere a espiritual, como se ve nos idealistas mmetafisicos. So intmeras as posigées idealistas, ¢ algumas se dis- tinguem das outras por nimias diferengas, Nao 6 possi- vel estabelecer um quadro rigoroso das diversas deutri- nas idealistas, pois cada autor apresenta aspectos distin- tos, Contudo, é possivel estabelecer um quadro geral, on- de sio incluidas as principais posigoes. Podemos estabelecer duas posigdes polares: 1) a dos que admitem a existéncia do mundo exte- rior, independente de nossos sentidos, mas do qual ape- nas temos uma representagio, que nao corresponie A realidace do mesmo, que apenas constitui uma estructura modelada, formada, pela nossa esquemética menta. £ uma posigao universalista. bh MARIO PHIM DOS SANTOS 2) A dos que admitem que nossas representagdes so moras aparéncias subjectivas, negando a realidade do mundo corporeo, © afirmanda apenas a do mundo espi- ritual ou mei hsico, como o faz 0 idealismo acosmistice de Berkeley. © wma posicno particularista, Esla afirma ate « soso conhecimento € apenas ima- nente, e110 reprodis realinente o que estd fora de nds, nem 6 uma gavintia cle qne ¢ que ba fora de nds tenha as propriedaries que nossos scntides afirmam. Todo 0 ser que coniecemos © 0 str de nossa propria percepgio (esse est pereipi — ser & © perccbido, € o lema dessa posigao). Exaiuinanco « primeira gosigae, encontramos uma se- qiigneia de disGngoes «ue merecem ser reparadas, salien- tadas. Ha os que afiviiam gue as formas subjectivas perten- cem apenas & natureza humana, e @ mundo que conhece- mos 6 6 nosso mundo, um mundo modelade antropold- gicamente, 1 0 idealismo psicclogista, ou idealrealista, que afirma esiar a realidade das idéias apenas nas ideias. Para uns, esias formas estio no ego humano, como Fiehte, ou, entao, num ego absolute, no Absoluto, no qual tanto se identificam © ego como o n&o-ego, onde'a ordem real se identifica com a ordem ideal (reatidealismo)}, co: mo Sehelling, Para outros, estéo na Ldéia Absoluta, ‘que afirma a si mesma, ¢ oulras que a si mesma, numa conti nua evolucio, como Tegel Para outros, ‘enfim, nada mais Sao as iudias que meras eonstrucgdes das represen- tagdes que (cun0s cle nossa experiéneia, como € 0 idealis- mo empirieo de Flinuie, Dolxamos precisamente para 0 fim 0 idealismo kautizno, que chamou a si mesmo de idealismo transcendent, Ors, 0 que Ll em commun em tédas as posigdes idea. listas é 2 caracteristicn ceptica e relativistica em relagao ao conhecimenta Muwnano. Consegiientemente, tém de afirmar que nao tumos uma verdade e uma certeza for- mal. Contudo, se se assemelham ao cepticismo num as: pecto, dele diveryem pela afirmaco da certeza que tem Ga verdadie da sua posican, e do relativismo divergem, por. que nic considerin: 0 conhccimento bumano algo mera- mente historicu, ben como admitem que éle no varia, e que correspond a nulureza da mente humana. © conhe ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 5 cimento ¢ assim necessiriamente humano, 2 0 mesmo pa- ra todos. Déste modo, aquéle que pensa segundo as nor mas comuns da mente humana esta com a verdade, e se delas se desvia, erra. Refutase a posigio idealista do seguinte modo: nega ela uma certeza real e formal. Ora, tal certeza J a demonstramos. Conseqttentemente, 0 idealismo fa Jha pela buse. Ha prineipios filosdficos que no sia ver- dadeiros apenas na nossa mente, mas também na reali- dade. Diz © ideatista que todas as nossas cogitagdes vepre- sentam meras aparéncias subjectivas, que nao se confor- mam com as coisas. Se realmente 6 assim, ha um conhe- cimento que se conforma com as coisas, que ¢ 0 do idea- ista, pois seria conforme com a realidade que nossos co- uhecimentos ndo se conformam com a realidade, o gue é contraditério afirmar. Ademais, 0 idealista diz que ndo hé contormidade al- guma entre 0 nosso conhecimento com as coisas, 0 que ¢ uma afirmativa eéptiea, ja refutada, Outrossim, como poderia o idealista afirmar com fun- damento 0 seu postuiado? Como pode garantir a nao existéncia de um mundo real-real, apenas fundando-se em suas 2firmacdes, bem como poderia garantir que nos- 03 conhecimentos ‘nic sito conformes a realidade exte- rior, que éle nega conhecer? Como € possivel estabelecer uma adequagtio ou ndo entre dois térmos, quando de an- temio se afirma que se desconhece um déles? Mas 0 idealista retruca: para alguém saber se 9 seu juizo 6 verdadeire, scria mister que pudesse comparé-lo com a coisa vista ‘em si mesma. Ora, tal é impossivel, portanto, nunea se pode saber se 0 juizo é verdadet. Ei € verdadeira a afirmativa, porque @ coisa que estd no in- telecto, néle nao esté como est na realidede, mas azenas ¢ uma representacdo. Neste caso, a comparagdo 36 pode ser feita com uma representacao da coisa, e nao com a coisa; portanto, € impossivel coinparar um’ jufzo da coisa com a coisa. ‘Mas a resposta nfo se faz esperer A afirmativa da premissa maior 6 negada, porque o que se afirma com o juizo é a existéncia em acto da s0isa, ePeeeecce cece ce ccs TE, EEE EE BERERREEEEELELLEELULELELELELULUGS 86 SIALIO PSLEEIRA DOS SANTOS: © juizo € ama afirmacio, é um julgamento. Seria tolice pensar que para ler uma idéia verdadeira de um avitio necessitiissemos (Glo cenico da mente. A existéncia do avido se di om si mesiuo e no na nossa mente, ee que amente alirina nao ¢ st presenga do avido na mente, mas a realidad: «isle uni si mesmo, NGo hd necessidade, para ser verdadeivo um juizu, que éle seja idéntico com’o que @le afirma, Para (er x idéia do fogo nao precisamos ter em combustao nem em brazas a nossa mente. Dizer-se que wn ser intelectual é apenas intelectual 6 nao compreencier sux intencionalidade, Que é um sor intelectual, quem o negiria, mas que intencionalidade néo se refira do que ha fora di mente, pelo simples facto de estar na mento, revela uina confusdo mental simplesmen- te deploravel ¢ de causur dé. Quando pensamos em agua referimo-nos i tigi que hi. Nao 6 mister que o pensa- mento da agua seja aga, pare que Seja verdadeiramente una intencionalidade caguvla, Nao haver compreendido essa verdad: viementar do julzo, ou melhor, por nunca, terem compreendido claramente a teoria do juizo, é que 0 idealistas cometerain tsnta tolice e tiveram tantos Lo, Jes que os acompanhara: Um idewlista argumientou do seguinte modo, ¢ ente que nio ¢ um actu cogitudo é um ente em acto ignorado; ora, do enie ignorada nada sei; logo, do ente nae cogitado nio sei se existe indepencientemente da mente ou nao exis te. E cerlo que clo cnle de qual nao cogitamos nao pode- mos dizer que cxisie, porque entao déle cogitariamos. Go qilal Cogituanos, poderemos dizer que nao € um producto apenas (a nossa mente, e que pode ter uma existéncia independentemente de nés. Contato, de tollos esses idealistas, 0 que mais seria mente realizow wn traixdhe que muito auxiliou a confu so das idéias hunanas, ¢ ce onde partiram as Goutrinas mais erradas ¢ muis ceploraveis, foi sem duvida Kant. Em nossos “Filosofia Conersta” e ém “As trés Critieas de Kant” anuilisunos # ict obta e rebatemos as suas funda. mentais concepeors, rtem de elementares erros 16. gicos, que qualquer catudante de certo critéric evitaria, Contudo, esses erros Lixeram praga de verdades incontras. taveis, ¢ avussularam de gCzo a muitos pseudo-fildsofos, ORIGEM DOS GRANDES FRROS FILOSOFICOS 7 que se extasiaram de prazer ante seus postulacos, que aceitaram sem exame, e consideraram até como algo defi- nitivo para tode o sempre. A posigSo kantiana é falsa por muitas razGes, das quais damos algumas, que passamos @ enumerar: 1) gue o espago € 0 tempo sio formas a priori é improcedente, como se demonstra na Cosmelogis; 2) que a experiencia: nio nos da o universal, nem pode explicé-lo, revela apenas desconhecer 0 em que con: siste a abstraccio humana, como a expds Aristoteles e os esccldsticos, o que ¢ lamentivel. 3) Negar ao intelecto intuigdes préprias desmaente-se pela intuicao das proprias intuigoes e do proprio eu, e das especies impressas no mesmo, pois é éle tanto activo co. mo passivo. 4) Segundo a posigdo kantiana, ndo se podem dar juizos sintéticos a priori, 5) ‘Todas as suas éxposigdes da doutrina escoldstica so fundamentalmente erradas, € demonstram que néo a conhecia. . 6) Desconhecia a doutrina dos juizos virtuais. 1) Suas alternativas (e divisées) stio falsas, pois dei. xa de considerar uma terceira possibilidade, como se vé no referente 20 conhecimento a priori e a posteriori, 8) Entra em miuitas contradigées, como a de afir- mar que jamais a mente humana é capaz de saber 0 que € a coisa em si e, no entanto, admite que ela se di, Ade- suais, afinua que’ hi causulidade ac deciarar que 0 nume- no causa em n6s o fendmeno, e depois conclui que a exis tencia da causalidade é meramente subjectiva, 9) Ao afirmar que nossos conhecimentos si9 mera- mente subjectivos © meras aparéncias, cai no idealismo absoluto, 10) Afirma que o nimeno sé é acelto pel. [6 E como entao admitir que éle nos da conhecimentos? A obra de Kant promoveu o advento de uma série de doutrinas erroneas © prejudiciais: fomentou 0 positivis: mo, favoreceu o agnosticismo, alimentou o idealismo, co- 88 wat 0 WHEREILA DOS SANTOS operou para o inielectualismo, para © pragmatismo, para © vitalismo, par 0 vuluntarisino, estimulou 0 panteismo, eu for livising psivolégico, provocou 0 fiecio: nalismo e despexhou invites no nibilismo. Estes forum oy Srutus du arvore kantiana, Lamenlavel ten sity 6 Lire dagueles que julgam que por nao lems a pussibilidude de alcangar uma verdade absoluta, exaustiv, conscquentemente tudo quanto sabe- mos © 10ls0. Gra, nace peuemos saber desta porta por- ‘que mao caplamos's porta co st, em toda a sua pujanga de ser, Mas, eswitive © sr. Ihunt ge coisas elementares de Logica. As perlvigh niivisibili e as perteigoes in die Visipily disturguemse as prameiras por nao estarem sujei as BW graus, euqianto us segundas © estho, Assim, ou {sto € uma porta ou nao e; contude, pede ser mais alta Ou mals curta, teunauicny mars OB weHs U4 nad. OFB, a substancia, por exeniplo, nao esté sujeita a mais ou me. nos. Um ser hupano, enyuanto ser numano, nao € mais come espécie do que ouilro ser Zumano, Basta que nosso esquem mental se acemic ao que a coisa é para que dle verdadsito. Aduinais, que seria a portaemvsi? A por, Iaem-si € apenis und nionsiruosidade, porque é ela un. artefacto, que tem wa delerminada fungdo, e nada mais que isso, Alom disso ji nao € 2 porta, mas a matéria que a compoe, cle, A coiswenrsi, que Kant falava, era apenas um fanlasna, que ull capassaria a toda experiéneia, © como éle « cv consegtlentem: wa fore de toda experiéneia, seria cla, te, previamente inatingivel, Kant consewuia, assim, com: algumas idéias verdadel Tas construir estructuras ‘filosdficas falsas, e langava a cldvida total & capariduciy nuriana de conbecer, pelo sim- ples facto de guc ela nie conheaa 0 que éle pretensamen- te tornava de antomud meognosetvel. Quando dizemes que éste cbjecto 6 uma porta, dize- mos que ste facto do mundo eterior se adequa especiti camente so convcite «ite (eins de porta, ou melhor que © concelto (que significa a oxdem dos objectos, que tem uma determinada iri ce proporcionalidade intrinseca, 10+ g08) que chamamos perks se ade fa éste objecto do uhundo exterior. Nuc hit necessidade de conbecer tudo da porta para suber que a ports € porta e para saber que € verdadeiro o jniso de que o sr. Kant era um ser huma- no, A OPINIAO E mister libertar a Filosofia do predominio da opiniio € dos filodoxos, ja que esta consiste no assentimento ou no dissentimento em uma parte da contradigao ocm 0 receio, contudo, de errar. Ou seja, hé opiniZio quanco ao admitirem-se posigdes inversas, contraditdrias, aceitase uma com 0 receio, contudo, de que seja errada, podsndo @ contraria ser verdadenra.' A opiniao, portanto, é pro- pria do filosofar primario, do tilosotar axioantropotogico, do filosofar onde ainda predominam os valéres humanos, onde as vivencias afectivas podem influir na selecgac dos valores, na acentuagio, valorizagso, preterigao de valores, Em suma, onde o axioantropolégico predomina,. estamos na filosofia pritica em oposicao & filosofia especulativa, Déste modo, essa ampla divisio da filosofia 6 justifi- cada plenamente. Caracteriza a filosofia especutativa, de qual fazem pai te a Metatisica Geral, a Matematica, a Logica, a Dialéctica no bom sentido, a Cosmologia, ete., pelo especular liver- tado do axioantronolégico, dos valéres marcantemente spreciagoes valorativas de origem vivencial © filonofar ai procode como se dove procedor na Cléncia Moderna, ou seja pelo afastamento de tude quanto pode sofrer a acentuacio, a énfase ou 0 desprézo Gado pelo sentir humano. A Ciéncla Moderna 6, assim, uma justa herdeiva da {ilosofia especulativa medieval. Es: ta se caracterizou pelo af de Uhertar-se de axioantropo- Jégico, ¢ buscou até justificar, filosdficamente, os postula- dos religiosos, sem recorrer a0 sentimento, e portanto, & £6, tentando, num esforgo extraordindrio, dar fundamen. tes filoséficos as assertivas da Religiio Crista. Precisamente, a Filosofia Moderna, a que assim é chamade, quando se afasta das normas Seguras e sdbrias POUR KECKLER KCL TTTLULULLLLLLLGEETds UUM U RRR RRR EELELLELLLELELL ELLE LLL LLES 90 MAIO SERREIRA DOS SANTOS da Escokistiea, cu buscava livrar-se das influénclas axio. antropoldgicus, terminou por cair, totalmente, nas maos ou do irracionalisino, predommantemente axivantropelé: gico, ou de tir intclectualismo apaixonadamente construi- do, Como sv ve nos excessos racionalistas e nas construc. Gies do idvalisiue. A Vilosofia Especulativa estabelece-se Sdbre tn terreno ce rinorosas f6rmulas, ausentes do opt- nalivo, promovedaras do exame em profundidade, e com 0 rigor apoditice 1 rio, que eviter o meramente as- sertorice, ¢ fundenvse na demonstragdo rigorosa, a de- monsiragio apoditica, ecme @ estabelecemos em’ nossa ilosofia Conereta, Nessas condiqnes, 0 filosofar verdadeiramente con. creta deve scr preferido aa filosofia especulativa. Ora, 0 Juizo apoditico é 0 jwizo de necessidade, ou juizo neces- Sdrio. “Mas a necessicade pode ser de dicto ou de re, AS: sim, se se ciiz que "Socrates agora se move por que anda”, pode-se estabelecer 0 julzce necessdrio de “Socrates ne: cesshiriumenty agora se move porque anda”. Mas aqui a nevessidade ¢ dv divty © n&o de re, porque nao é de neces: sidade anday Socrates agora, mas, sim, se anda, deve mo- verse necessiiriamente. Estamos, agui, em face de uma necessidade hipotétien, que € mister distinguir da neces: dade absoluta, que 6 2 d2 natureza, Assim se se diz “se A é um sey conlingcnlo, necessariamente é limitado”, a necessidade aqui nao ¢ apenas de dicto mas também de re, porque ¢ uiureza e da esséncia do ser contingente, ser limitado, ¢ © que & da esséncia é sempre, e imprescin: divelmente, ‘nevessiviamnte, dO ger, A necessidade de natureza 6 a que decorre da esséncia do proprio ser, co que o ser é em sua cmergéncia estructural, em seu logos © cm sua estructura Leusional de esstnela’(do que €), & existéncia (do seu exercicio de ser) Ora, 80 porte haver opiniao onde nie se aleanga a truetura cidetica do ser, ou quando pairam ainda probabi lidades outras cle alguma coisa ser outra que o que jul gamos Na opinido, ui verdacieizamente um acto de voniade, guianco a monte uma essergao pela qual assenta ou dis. senta cie alvo, inus fincumentalmente eivada do temor de que os opostos 10 que diz possam ser verdadeiros, e 0 que afirma ou nega possi ser falso. ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS —y Ha probabilidade onde ha verossimilitude igual para tondéneias epostas. Contudo, a probabilidade pode sez maior ou menor, bem como as probabilidades podem con vergir, atingindo até um grau maximo, sen, contudo, idontificarom-se com a certeza. As menores probabilida- des sio preteridas quando em conflite com as maiores. Assim sé tam progedide. Contudo, seja como fOr, uma probabilidade, por menor que seja, nao pod2 ser elidida por uma probabilidade maior, porque esta nunca di c grau apoditico de certeza, que se deve desejar na Filosofia, porque uma probabilidade menor pode actualizar-se ent vez da maior, De modo algum a probabilidade leva & cer- toza, A certeza absoluta, come ji 0 mostramos, $6 se dit quando © assentimento da mente é verdadeiro, ou quando fundado em motivos que excluem a possibiidade da si mullaneldade dos opostos contraditérios, cenhecidos co- mo tais. Esta a razio porque os juizos de existéncia nada mais garantem de verdadvire do que a possivel exstencia, e os julzos meramente contingentes ndo nes tiram do campo da propria contingéncia, F mister, entéo, reduzir um juizo contingente em juizo necessirio, nao apenas de dic- to, mas de re; ou seja, elcangar a necessidade de natureza, que a que ressalta dos juizos analiticos, aquéles em que © predicado é da esséncia do sujeite. Contudo, muitos aqui, como o féz Kant, afirmam que niio haveria, entio, nenhuim progresso para o pensamen- to humano, porque permaneceriamos apenas em tautolo glas. Mostramos, porém, em Filosofia Conerata © em nos: 5 obras, a improcedéncia dessa afirmagio tao repeti da hoje em dia, porque Kant jamais considezeu os juizos virtuais, que estéo contidos num juizo analitico, © que permitem aleancemos verdades nfo de logo suspettadas, através do método que chamamos de apofintico, que & aquéle que, gragas & andlise dialéctica, pela via ascensus 0 pela via descensus, ilumina a mente, que descortina pos: sibilidades pensamentais, que de antem3o nao notaria, como 0 mostramos com exemplos naquela obra. Hg, assim, caminho para aleangarse uma filosofia mais segura e poderosamente apoditica, come o ¢ a Filo- sofia Concreta, 22 TAINO PERREIRA DOS SANTOS © que tem impedicio ao espirito humano de aleangar situagdes superiores @ a influéncla que exereeu a confue sio entre a verdade maivrial ea verdade formal, e, tam. bem, a de cerios esquemas histéricos, que actuam ptecon. ceittialmente, vicisndn ce smemao 0 préprio processo filo- OHO. Ev gun vernines no eapftalo seguinte, A VERDADES MATERIAL, A VERDADE FORMAL © OS PRECONCEITOS Quando Spengler chamava a atengo que os gregos concebiam o tempo distintamente dos egipcios; que os nuimeros, na concepgao magica (a arabe), eram distintos do modo de coneebé-los na culture fatistica, ocidental, e ‘que désse modo a verdade era relativa aos ciclos culturais, © que, com éles, se modificava, referia-se 0 autcr de “De- cadéncia do Ocidente”, sem diivida a verdades materiais, nae, porém, a verdades formais, como éle julgeva. Sim, poraue, formalmente, {16s € trés em todos os povos e em todos os tempos, em'todos os ciclos culturais. O que va- riou foram as verdades materiais, histéricas, nio as for mais, porque, enquanto tal, a agua é agua para todos os povos, embora para certos gregos e mesopotémicos f6sse © principio de tOdas as coisas ‘materiais, ow simbolo da vibrato, como o era para os egipelos, principio de todas, as coisas sensiveis, S6 pode haver uma filosotia genuinamente especula- tiva, iberta, portanto, do axioantrepoldgico, que é 0 ge- rador de preconceitos e de erros que se perpetuam e per- furbam © pensamento humano, quando o inteleeto con. segue aleangar uma cortesa formal, pois enquanto vale- Tern @ pessibtiidade simulténea dos contraditonos, est mos no terreno da assergio meramente opinativa, "Abso. lutamente, nao. Essa é uma verdade que a experiéncia humana ofereceu, porque sé a0 alcangarmos 2 certeca formal conseguimos aquietar, neste ponto, a mente, jun- to a uma evidéncia nic axioantropoldgica. ' © assentimen. to absolutamente certo ndo pactua com a possibilidade simuliinea ¢ aclual dos opostos, porque, se se desse 0 contrario, 0 quo se afirma poderia comper-se com o seu coniraditério, Nern tampouco se pode admitir a possibi- lidade actual da simultaneidade dos opostos contraditd- OCHO OCH CC KCC LCC CLIT ULLAL ec eres PERERELELELELELLELULELELELES EE DD? 94 NARUC FIeCeMRA DOS SANTOS rios. $6 se aleanga a0 juizo apoditico quando se atinge a excludéncia: © necessirio que seja assim... sO pode ser Géste modo... Mas esx afimnativa tem de Tundar-se s0- bre algo faruatmente necessirio, endo apenas numa vi véneia, muna conviveto, no que alguém poderia traduzir por? para min, jlo «yu: 6 necessdrio que seja assim, .., Ludo levis 8 crer que rossswamente & assim, Muites dirao quc a mente se atingisse a ésse estado, estaria om estuda pertvilo, Ora, nossa mente é imper- feila ¢ incapaz cle atinger a estados de tal perfeigao, Po- _dersedia resjionces «ike se se tralasse de alcangar um co- hecimento cxuustive, absolute, 6 certo que a mente hu mana ¢ ineapi de il. Nao € preciso saber tudo para que no seja Ilsa o que se sabe, Nio € mister ter a sa- bedoria absolute ysu'n alirmarse que alguém é sabio. Nem tampouco sv pode necar totalmente a sabedoria de alguém pelo simples facto de néo possuir a sabedoria absoluta, ‘Traty-so do slcangar uma verdade formal, e no é mister conhecer exaustivamente todas as causas de uma coist, tddas, como seria exigivel para se ter um co- nhecimento pericito de uma coisa, As teses cemansiraces na Filosofia Conereta alcan- cam essa apoditicidace, som apelos a meras assergGes opi- ativas. Demonstrancs ali que a filosofia especulativa pode alcangar 1 spotilicidade desejada. Poderao alguns dizer que esas loses i foram propostas por filésofos, desde Piliigorus als os nossos dias, € que a filosofia con: ereta nao ¢ original Mas, prectsamen gulho. A origina , 6 ai que estd 0 seu motivo de of ade ¢ apenas um anseio histérico, vi lido em certo perinde da. historia humana, em certas fa- ses de cortos ciclos. A yerdade em si jé € original e, nes se sector, nav cule novus originalidades. Nao ha origi nalidades na mnitcnxitica, Ninguém val descobrir outro resultado de 7 vézes 4, que 28. A originaliciade pode ter algum curso, e muito peque- no, na fHosofia pritica, na filosofia dominada pelo axio- aniropologico, onde as’ vivercias humanas e as verdades miateriais e historias podem ter uma certa aceitagio ¢ ‘uum campo um tanto livre para actuar. N&o no campo da filosofia especulativa, que € cléncia e nfo arte, que é apoditicldade ¢ nio asserga ORIGEM DOS GRANDES BRROS FILOSOFICOS 95 Temos falado muito em necessidade, e ¢ mister cla- rear tal térmo. Ja falamos na necessidade absoluta ou perfeita, cujo motivo é metafisico, a em que a ineedibili dade funda-se em razbes metatisicas, essenciais e nio acci- dentais, enquante a necessidade hipotética ou imperfeita é aquela em que o efeito pende da verificagao de uma condigao, 8 a que pode admitir a nfo Tealizagio do efeito. Que para algo ser humano é mister que seja ani- mal racional é de necessidade absoluta, mas que cante nao o 6, Para um ser, neste planeta, ser gramatico, ¢ neces. sdrlo que seja humano, nao é necessfirio, porém’que todo © ser humano seja gramético, Esta segunda necessidade nao pode ser confundida com a primeira, como o fazem muitos. A certeza fundada nessa necessidade serd por sua vez também hipottica, enquanto a fundada na prime.ra sera apoditica. 6 a certeza metafisica & perfeita, porque 36 cla ex- clui absolutamente a possibilidade da Simultaneidade dos contraditérios, Esta certeza nfio provém da vontade, como o afirma- va Descartes, mas do intelecto. A vontade pote ser livre; o intelecto, nao. Na escolha da verdade nfo entra a elet edo ol a preterigao de caracter afectivo. Na escotha des. Sa verdade, entra apenas o intelecto habil para alcangé-la, independentemente de nossos pendores e de nossa afec- tividade. # mister que se distinga, porém, quando falamos na néo liberdade do intelecto. H4 uma lberdade irterna e uma liberdade externa, Internamente, como faculdade de captar @ verdade, ela nao € livre, mas quanto ao exter no ela 0 €. © juizo nao 6 um acto da vontade, mas do intelecto. A vontade tende para o bem apetecido e para afastarse do mal temido, © juizo nao tem apeténcia pare 0 ver- Gadeiro conhecido, mas para o verdadeiro afirmado. A afirmagao ndo é uma busca do bem, nem # negagio uma fuga a0 mal, porque entao s6 afirmariamos aquilo do qual gostamos, ¢ negariamos aquilo que odiamos. Ora, com © juizo no se d4 tal coisa, salvo naqueles que nfo conse- guem alcangé-lo em sua pureza. O verdadeiro fildsofo nao € aquéle que se deixa arrastar por suas vivéncias e | \ | | { | 1 | | 96 VAIO VUREBIRA DOS SANTOS simpatias ou antiputias, mas ¢ que busca a verdade, inte- jectualmente, pelt verdade apenas. Por nia se proveder assim 6 que se exra. No érro, ha um desvio, ba aecitagio pela vontade do que ndo foi devidamente cxaminado pelo intelecto. 32 por que crranios? Porque ulteapassamos es limi tes do quit © caplady pelo intelecto, quando levamos nosso assentimenty além cos limites do’ que ¢ intelectualmente apreendido. A casi remota do érro esti na vontade, por- gue esl pode cesmestixarse, pode ir além dos limites. Nao se d , pore, que 9 érro seja sempre producto de uma intencionniicinds delberada, a escolha do falso, um pecado, cin sins. Nao, porque pode surgir de defettos da alengao. A voninde peca per se, por esséncia, mas por accidenie. O Cro pode surgir da aparéncia de uma verdade, ce um defeito afective, de uma confusio de idéias, de um preconceito aceito como verdadeiro, de uma infor magiio fais, de wn deiexo de retlexdo, dé raciooinio, de um desconhecimento ate. Mas que revela 0 érro? Reve. Ja gue se acvitou conio dado certo 0 que niio era, 0 que ndo se apresentarn com todos os requisitos essenciais Ouvimos uma vos yur jufyamos ser de alguém, Pedro. Di zemos que én vor Ge Pedro, Mas, poderse-ia postericr- mente verificar que nie era déle.’ Erramos, por que? Porque consicicrarnos us elementos que disptinhamos co- mo suliciontes para uma afirmaggo julgeda verdadeira, Que se fez seniio iv alcm dos limites de conhecimento que hhaviam sido dados? Vemos 0 sol em diversas posicoes durante o cia, surgir no oriente e descer no ocidente, ¢ concluimos que 0 Sol fis ésse trajeto em trno da Terra, @ que esta ¢ indvel. Eyreuse aqui, e por que? Por que 9s elementos gue se dispunham eram insuficientes para concluir como vuredeirs juiza de que @ Terra € esta. fica, @ 0 Sol ce move de um lado a outro. Enamos guaade ceixemos nossas paixdes nos domi narerd em nossas apreciacdes subjectivas e no julgamen- to da realidade. © intelecio rectamente condiizido néo erra, Pode no alcancar a verdade. Mas quando dizemos que nfio posswanws vinds meios seguros para fazer uma afirmagao verdadivir mio erramos, se realmente nao dis pomes cos misivvs salieientes. Mas se nossa vontade nos Teva @ aceilar como dclinitivamente suficientes para po- dermos realizar uni jiio, podemos errar, Mas jamais ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICO3 97 exraremos se o juizo que pronunciarmos se fundar em verdades formais, ¢ o que alirmamos ou negamcs no jul zo €um concelto’ que, necesszriamente, pode ser predica- do do sujeito, ou que nio pode ser predicado, porque 0 contradiria, Poderia ainda alguém afirmar que a Ciénela, por tra- balhar apenas com juizos contingentes, ndo poderia nun- ca falar verdade, Tal nao procede, porque a Ciéncia tem meios de prova para justificar seus julzos, que $ a expe- rigncia Gientifica, Mas esta apenes poderd garantir a pre- senga ou a auséncla dos dados afirmados ou negadas. Mas, para que a Ciéncia atinja a apoditicidade desejada, deve. r4 ter seus fundamentos também em verdades formais. ¥ enguanto ela nfo puder alcangélos, tera que se restrin: gir, come se restringe, apenas a formular hipsteses, fun. dadas em teorlas com! fundamento in re. ‘Examinemos agora a experiéneia e os seus fundamen. tos. wee ee PEEL CCC TUL UL RALALDALDAAAS TESS C—O ALOLOELELLELELELE LLL ELE LER EE EE EES FUNDAMEN'OS PARA A VERDADE, OFERECIDOS PELA EXPERIENCIA Ka experiéncia um clos meios de que dispde 0 homem para obter conhecimentos dos mais variados. Que se en: tende por meio? A intencicnalidade que damos a éste coneeito, é 0 ce que esti entre dois outros, ou, em sentido mais restrito, o que Jois extremos de certo modo os conjuga. Contudo, podeimos distinguir dois tipos de meios: 1) © que serve pars © conhecimento (meio quo, pe: Jo qual); 2) aquéle no qual a mente vai captar 0 conheci mento Gneio quod, 0 que), 0 que propriamente se chama a fonte do conherimento. Assim o ar 6 um mcio quo para ouvir; meio quod a. fonte ou fontes, por meio das quais se adquirem novos conhecimentos. Para tanto, deve dispor 0 ser humano de algo que pormita distinguir 0 verdadeiro do falso, que € 0 prerrequisito para o conliecimento. Assim a mente cla- rae si é um prerrequisito para 0 conhecimento, Funda- mento ¢ acuela verdade cxigida em ultima instaneia para fundar uma cerieza, Assim, 6 princfplo de nio-contra: Gigao € um fundaments pars 0 conhecimento, nao uma fonte As principais fontes ou meios do conhecimento sio, pois, a experiéncia intema e a experiéncla externa, ‘Tanto a experiénein intra como a externa siio fon- tes de conhecimento verdadeiro € certo, bem como ser- vem de critério particular de certeza. Passemos, pois, a analisar a experiéncia. A experigneia, interna chama-se também consciéneia. Este térmo climoldgicainente ver: de cum-scientia, noti- cia da noticia, cognigiio da cognigio. ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 99 Quem vé, sente a si ver, quem ouve sente a si ouvir, quando entendemos, temos’ noticia que entendemos, co: mo nos salienta Aristoteles, Esta consciéncia deve ser distinguida da consciéneia psicolégica, de que falam os modernos, que consiste no objecto que estd na conscién- cia, que chamam de consciente. A consciéncia psicolé- gica € 0 acto que consiste na noticia de nosses actos psi coldgicos, Hssa consciencia 6 chamada de concomitante, € a percepgao da experiéncia da propria percepeao, simul: tanea com esta, Na consciéncia psicoldgica, hd o objecto (uma casa, por exemplo), 0 proprio acto (9 conhecimento da casa), € 0 sujeito (0 ego que conhece), os quais, em= bora distintos, constituem, imanentemente, aspectos do mesmo proceso. A consciéneia € chamada reflexiva ou reflexa, quan do ha noticia dos proprios actos, cujas operagdes sto ad- vertidas pelo sujeito, que sObre éles se reflecte (se cobra, espelha-os). Esta pode ser imperfeita, como se verifica nos animais, que advertem a dor pelo acto dos sentidos combinados, ¢ a perfeita, que se realiza através de actos abstractivos, pela actuagio de esquemas mentais, que 6 propriamente a intelectual, peculiar a0 homem, Notasse desde logo que a consciéneia refleva é mais perfeotiva que a concomitante, Enouanto esta se dé sem- pre, aquela nem sempre se di. Esta é a fonte pela qual a mente conhece os factos internos, enquanto a reflxa 6 directa e propria da cognicho daqueles factos, Sem a concomitante, ndo pode haver certeza, enquanto nem sem- pre é mister @ reflexa para que haja certeza, Propriamen- te, a consciéneia reflexa é a intelectual. Nio 6 da natureza (per se) da consciéneia oferecer erros, mas, sim, por accidente (per deeidens). A ilusio, @ alucinagéo, para exemplificar, no sio essenciais aos sentidos, mas accidentais. Ea razio 6 simples: 0 que essencial di-se sempre, porque constitui a estructura emer- gencial de um ser. Ora, nem sempre os nossos sentidos esto sujeitos a alucinagées. Portanto, como o que acon: tece numa coisa algumnas vézes é accidental, tais factos so accidentals, Consegtientemente, nossos sentidos nio er- ram per se (por nattreza), mas per accidens (accidental- mente). Por haverem confundiclo o que é essencial e o que é accidental, confusio que fizeram muitos fildsofos, ¢ que 100 MARIO FERREIRA DOS SANTOS se pode explicar o surgimento de concepgdes que afirmam que tudo é sono, gue tudo é ilusio, que nossos sentidos sdo fundamentaimente fontes de erros, e outras parecl: das, tao de subor literirio, mas inequivocamente ingénuo. Os positivistas mocernos, como Hume, Stuart Mill, Wundt, ¢ culros, tuubous Sant @ 0s Subjectivistas afirmam a existéncia de fuctos internos, mas deturpados pelo nos- so teslemunho, transformados em flusGes nossas, no ser- vindo, portanto, como tonte de indubitvel certeza. A te- se contriria v, conte, « aceita pela filosofia positiva e conereta Ora, ji demonstramos que a conseigneia € uma ver- cadeira fonte de conhecimento, como vemos nao sO por sua razio, mus pela nossa prOpria experiéneia quotidiana, Desde 0 momento que vs juizos obtidos através da cons- Glénela nada afirmutn ale da sua realidade sao éles ver- @adeiros. Quando retlexionamos, reflexionamos; quando temos constiéneia, temos consciéncis, porque ‘se fosse uma ilusio ter consviencia de alguma coisa, essa mesma ilusdo mostraria a realidad» da consciéncla, porque ter consciéncia de ue se tem consciéneia demonstra a rea- lidade da conse.tneia A consciéncla é suflclente para provar a si mesa. Sem a consciéncia no haveria ne- hhuma certem. 1 ela, pois, a fonte da certeza. Contudo, io se poder diver que a consciénela é a causa ou motive ou fonte de toda ceriezs, Bla testifica-a, porem, Alegam alyuns que nossos Juizos estdo sujeitos a éx- yo, Sem duivida; pordin, ndo estdo sujeitos sempre a0 erro. Quartda alguém alega que aguéle a quem foi ampu- tado um brago, sento cor no brago, tal prova a alueinagio, © érro portanio. “Nao esquegamos que tais factos se dio, mas a dor senlida niio 0 ¢ realmente no brago, mas no eérebro, embora ceicrminada por uma ilusio da imagi- nagio. ‘Tal aconiece acciientalmente, nfo necessiria- mente (por esscneia). ‘Também os exemplos dos sonim- ‘oulos, dos hipnotizados, dos embriagados sio sempre ac- cidentals. in sma, cs erros s4o accidentals e no ne- cessiries. Resta-nos ag cia externa. ra minar © fundamento da experién- A tese cmpirisia, jd acelta por Aristdteles, é de que fibil est in intellectu’ quod non prias fucrit in sensu i ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 191 (nada ba no intelecto que n&o tenha estado primetro nos sentidos). Esse adagio empirista foi aceito pelos escolds- ticos. Contudo, éstes néio the deram um sentido téo extre- mado como comumente se julga, Na verdade, o que de- sojavam afirmar é que nosso conhecimento prineipia nos sentidos, ou é por meio déles que alcangamos o saker sO- bre as coisas do mundo exterior, Nao quer, porém, di zer que nosso conhecimento se funda exclusivamente nos sentidos, mas os dados oferecidos por éstes (os phantas- mata) séo por sua vez objecto de uma actividade do in telecto, cujo conhecimento € fundado, também, nas expe riéncias internas ¢ nilo apenas nas externas. ‘Dos sensf- veis, 0 intelecto abstrai os insensivels, as formes, que néo so ‘objecto de estimulo dos sentidos, nem so’ captados por éstes. Déste modo, a sensagdo nao é o fundamento da nossa cognigao, porque esta se funda nos juizos que o Intelecto realiza sdbre os dados da sensagao. Assim convéin distinguir que o conhecimento se int. ela nos sentidos, mas o set fundamento como virnos, é dado pelo intelecto, no qual tOda a certeza ¢ toda a verda- de se basciam. O’juizo 6 um acto intelectual e néo um acto dos sentidos. “E verdade que Toms de Aquino e os escolsticos falavam num juizo dos sentidos, come esti- Gamos no “Tratado de Esquematotogia”. Mas 0. juizo que queremos nos referir é 0 intelectual, 6 0 que expres- sa uma operacdo de assentimento, pela qual Juntamos ou separamos 0 predicado do sujeito. ste juizo revela uma operagio mais complexa ¢ de natureza distinta daguela gue realizam os sentidos, como o demonstramos naquela obra, Na “Psicologia”, entende-se por sentido, em “lato senso”, aquela poténcia organica perceptive da’ coisa ma- terial, da coisa singular, a capacidade do sensorio-motriz de pérceber as coisas ‘materiais que sio singulares. F uma capacidade orginica, porque ela se realiza através de Orgies, os quais sto partes do corpo, com ume fungio Gestinada, como se esttida na Psicologia. Dis-se que ela € perceptiva ou representativa, porque realiza um acto re- presentativo, diferente das fungdes vegctativas, que embo- Ta organicas se distinguem daquela, Coisas materiais, singulares, sio apenas essas que os sentidos captam, tune Gao distinta da que realiza 0 acto de intelecgio. Distinguem os psiedlogos os sentidos externos dos in- temos, OS externos sio aquéles que captam as coisas do PTET AAALAA LA CORORORRRRRRERRROELO COE FU Uhh eh ELE hLbEEREEEEEES 102 MAIO VERREIRA DOS SANTOS mundo exterior, as quais exercem uma mudanga de po- tencial, actuendo como cstimulos désses érgios. Estas sensagdes sfio capiacts imediatamente sem intermédio de Outras sensacoes. As sensages internas sediam-se om Srgios ink ous actus sognoeitives se realizam me diante outras semagcs. A senSagio externa, que consti- tue a nossit oxpericiicit externa, eapta os chamados sensi Veis externus, que sito os objectos que podem ser percebi- dos pelos senlides. Os sensivels so distinguidos na fi losofia posiliva ¢ concroin om sensiveis per se ¢ sensiveis per accidens, rssus sensiveis per se, 840 clasificados em sensiveis proprios, aquéles que podem ser percebidos por um s6 sentido, conto 2 car, o som, ete., ¢ sensiveis comuns, aquéles que piodemn ser percebides por muitos sentidos, como & exlensio, » tuk, que pode ser percebido pe! Ja visio e pelo lacto, Costumavam os antigos classificar @sses sensiveis em cinco: tamanho, magnitude ou quan- tidade, figura, mimero, movimento e quietagio. Sio chamados sensiveis por accidentes aquéles que nao sio percebidos clizectamente pelos sentidos, mas que, Por conjungcio corn outro sentido, podem ser deduzidos, como pela visio deduzimos a maciez ou a aspereza de alguna coisa. Quando se diz: “vejo um homem”, “segue yO um copo”, na verdace nos nao vemos 0 homem, nem seguramos 0 copo, porque homem e copo sao substancias, que nfio caem sobre 0s nossos sentidos. O que cae 6 a matéria que 03 compoo. Assim se diz que 0 homem é um sensivel por avcicente e nao per se, Corpo 6 tomado aqui no sentide vulgar do térmo, ou seja, 0 ente espacio! tridimensional, limitado por super! cies. Em relaciio it existéncia désses corpos, varias sto fas posighes na Vilosotic. Assim Leibnitz admiite que éles existem sem screm formalmente tais, e como éles se apre- seniam para nos «iraves da sensagdo, s4o0 compostos de mionadas simples ¢ incxtensas, Déste medo, nao tém as trés dimensées, no Iii dislinelas entre as suas partes, nem movimento local, apenas produzom em nés fenome- ROS, que nos chamemos curpos distaucias, movimento, ete, Kant afirma que 0 que conhecomos das coisas é apenas © que nos aparece: no mode puramente subjecti- Vo; Ou seja, o fenOnieno, endo © que elas s4o em si, o niimeno, Os corpos nio sio como nos aparecem, e nem poderemos saber von les na verdade sto. Berkeley i { ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS — 103 nega a existéncia de qualquer corpo, e apenas afirma a do fendmeno, puramente subjectiva, cujas aparéncias sao produzidas em nés por Deus. Locke afirma que os corpos dio sfio percebidos, e que séo apenas representagoes sub+ jectivas em nds. © realismo ingénuo afirma que os corpos existem com tdas as qualidades sensiveis, como nds os sentimos. Muitos escolasticos antiges e alguns recentes seguein a li- nha do realismo ingénuo. © reelismo critico afirnia que realmente os corpos tém trés dimensées, e possum as propriedades que Ihes sao atribuidas, mas essas qualida- des sensiveis nao so possuidas formslmente, mas spenas virtualmente. Em suma, ha nos corpos poderes ate pro- cuzem em nossos sentidos representagées subjectivas da c6r, ete, Afirmam alguns escoldsticos que, pela intuigio, te- mos a evidéncia imediata da existéncia dos corpos, e que nio podemos negarthes sua existéncia, sob pena de cair- mos em absurdos ¢ em aporias verdadelramente :nsolu- veis. A demenstragdo da existéncia dos corpos-pole ser feita de modo directo ou indirecto. Indirectamente, de- monstrando a improcedéncia das posiges que examina- mos, que afirmam que 0s corpos sao ilusées produzidas em nds pela divindade. Atribuir a Deus o papel de um mistifieador, ests em contradigfo com toda a convepeao culla que sd faca do Ser Supremo. Quanto aqueles que afirmam que nds no conhece- mos Os séres corporeos, que Sho meras criagdes subjecti vas, fundam-se em que? Fundamse apenas em suposi bes, porque nao oferecem um critério de verdade. O tni Co fundamento que encontram consiste na limitagio dos nossos sentidos. Mas Jd mostramos que néo saber tudo no quer dizer que o que se sabe parcialmente seja falso. Que Os corpos S40 como so, mas em nossa Tepresenta- gio sio proporcionados a nés, nio pode haver a menor dtivida, em face dos actuais conhecimentos que 2 Ciencia nos ministra ¢ a Filosofia também. Se nés nos fundds- semos apenas nos senticios, na aparéncia dos corpos, po- deriam afirmar que 6les, ou 0 que os constitut, so dife. rentes das nossas representagdes, mas esquecem que hd ‘outros meios de verificacdo, nio s6 de ordem intelectual, lus MAIIO PURINA BOS SANTOS como aind experimental © de conexio dos factos corps. reos, segundo Jes que x Cioneia capta, o que vém favo- recer a certeza cia sux cxisténcia extra mentis, Assim aquela montanha, que i distineia € para nds apenas uma massa cinyenin, 4 propurcio que dela nos aproximamos apresontasisnos cack vev tustis heterogénea até que, quan do nela estamos, uferece-se-nos maior soma de aspectos distintos quc na distancia, am que estévamos anterior mente, nig podium ser pcresbidos. Tudo isso adquiri mos através «io verifieawivs, ¢ que enriquece 0 nosso co: nheeimento, cue nos pesmile completar com aspectos rios aquilo que sc apresenta para nés de modo homoge neo, segundo a relagio que dela estamos e que nos é possivel caplar. A nao existéniela de mundo exterior nos levaria a aporias insohiveis e a absurdos clamorosos, Acel- tar a sua existencia, © so mesmo tempo de que a repre. sentagio que facwios do mundo € proporcionada & nos SA esquemnitica, e ume as nessas relagGes com éle, sem se rem faisas, sao’ verdadeiras, segundo a proporcionalidade, € uma posigio realista ¢ prudente, portanto, sdbiz, sem deixar cairmos no realisino ingénuo. Ademais, considerando-se do éngulo pritic, devemos reconhecer que 0 homem, unindo a Técnica & Ciéncia, conseguitt exercer 0 seat dominig sObre @ste mundo exte- rior, polO a seu servi¢o, larlhe uma direcgaa, e prever acontecimentos fuluros, cue decorrem com nexo rigoro- so dos antecudentes, sem desmentir a construcgio que ale faz désse mesmo mundo. Gragas a Ciéncia e a Tée- nica rectifica muito da visio que tem do mundo exterior, mas estas rectificactes, cm vez de porem em risco a evi déncia da existencia Gus sores corpéreos, robusteceu ainda mais essa evidOncis, oferecendo maiores elementos pro- bativos. 2B mister exanainar também fontes de count ora Se Os sentidos externos si0 no wedadeira e certa, no que se refere 20S stnsiveis proprios. J4 vimos que’ o sensivel préprio é 0 que & pereedido por um tnico sentido, como @ c6r, o som, qite sic chanados, também, na filosofia mo- derna, de qualuiades secundivias, }4 que as primarias 20 as substanciais, etc Emm face das demonsiragées anteriores, validas para esta parte, nko pode pairar duvida séria sobre a-oxisten- RIGHME DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 105 cia dos sensiveis proprios, das qualidades secundéri SA duivida s6 poderia permanecer quanto ao seguinte: 8) gue os sensiveis proprios stio fundamentaimente, em sua subjectividade, mas diversos, formalmente, do que A nossa Tepresontagad diz que S40. Neste caso, seriam nas coisas de um modo e de outro (formalmente) em nés; b) que os sensiveis proprios siio, nas coisas, funda mental e formaimente, o que sio, e nossas representagGes os reproduzem eidetico-noeticamente, segundo a ncssa es- quemiitica, 0 que éles so em nés. No primeiro caso, a cbr azul seria, na realidace, ape- nas um niimero determinado de vibragbes, que realizam em nés a imagem (j4 formal) do agul. No’ segundo caso, © azul seria, nas coises, azul como é em nés. ra, éste 6 um tema de Esquematologia, € é nessa dls- ciplina que tem de ser estudsdo, Para as finalidades des- ta obra, o que interessa estabelecer é que a sensagio de anil, gue temos nos olhos, representativa de algo que hé na natureza, corresponde formalmente nos olhos ao que é pelo menos fundamentalmente nas coisas, ¢ n&o une me Ta alucinacho, E nao uma mera alucinacéo por que po- demos distinguir esta de outras experiéncias, que sio ve rificdvels por meios léenico-clentificos. Assim, # clueina- go que temos pode verificarse que foi uma alucinagio, € distinta totalmente ne fendmeno de um lago de éguas azuis, de um céu azul, cuja verificabilidade pode ser feita por tmeios técnico-cientificos, o que nos demonstra que ha uma distine2o real entre’ a alucinagao e a realidade, pois ¢ impossivel fotografar uma alucinagao, e néo um. facto do mundo exterior. Onde ha meins distinins, ha distingao. A existéncia do mundo fenoménico é indubi- tivel ¢ apoditicamente demonstrével, o due assegura gran- de valor & nossa experiéneia, que era o que desejivamos provar, contra os que procuram aumentar ainda mais a confusae humana com idéias sem o devido fundarento. PRRURKKCEKCCCSCC CTL LL Liiwerercerrees VETERE LE LELEL ELL LLL ELLE EERE EOL ECCS A ETIOLOGIA DOS ERROS Demos, nas piginas que antecederam, a etiologia de grandes erros, que sia causa de grandes confusdes moder- nas. ® a Etiologia a disciplina ontolégica, euja finalidade € estudar as eutisas de win modo de ser. Delineamos af as grandes causas, de onde us grandes erros surgiram, e que todes, alinal, se reduzem a0 afastamento da filosotia positiva © concrcta, que havia jd sido esbocada desde Pi- tagoras, prosseguida por Platie ¢ Aristoteles, continuada genialmente pelos grandes medievalistas, mas que sofreu um hiato na idade moderna, quando desabrochou uma no. va linha filosdfica, que, alastundo-se das normas positivas e concretas, caiti nos alystractismos viciesos, que s6 pode- riam dar como consvqlicnel 0 que deram: a confusio moderna, Mus ossa confusiio nao ¢ como poderia pare- cer a muitos apenas uma psgina ridicula da historia hu mana, 0 testemiunlo das nossas deficiéncias, a ostentagio da debilidade, mas, sobretuco, o deploravel espetdculo acima de tudo causa (6: a insuficiéncia, tornada sufi te, a debilidacie estenials coro fortaleza, o vieid receben- do homenayens de viriude. lo ultrapassa ao ridiculo e beizou ao irixico, mas no tragico tombou to- talmente, porque muitas kigrimas @ muito sangue foram derramados devidu & inwicriacia dos fariseus, dos débeis, dos deficientes, que, de posse do krates social, exerceram, afinal, toda a brutalicade de sua f6rga sObre os mais fra- cos, sObre os cuz discardavam de seus erros, € manchi ram a hisléria da Dumanidude com o sangue de inocentes ‘Um preconceito, que sim de estulte € mais que de- plordvel, é acintoso alc, levou a muitos homens, que ascen- dem is catedras da (usobia, a pensarem do seguinte mo- ‘0: 0 pensarnenty metovulista pertence 2 uma época de trevas. Mas que trevas? Estas sfio um preconceite som- ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS — 107 brio, uma sombra de tolice a pairar na mente désses po- bres corifeus da estulticie humana. Inventow-se, para gdudio de tolos e de malintencionados (aquéles que de- Sejam destruir as bases ¢ fundamentos do cristianismo), que a chamada Idade Média foi epenas uma longa neite de trevas. Por que, em vez de repetirem afirmagoes de ho- mens que ignoravam a Histéria, que nio conheciam 0 Yongo processo da Idade Média, nao se desbrugaram a estudé-la, para aprenderem alguma coisa e nao exager: rem 0 valor do chamado “séoulo das Luzes”, o clogiadi simo “iluminismo”, que, na verdade, iluminou pouco e trouxe mais trevas, que luz. Julgam muitos que a escolastica nada mais foi que a continuacao analitica do pensamento de Aristételes. E como domina 2 mania moderna de que aquela corrente do pensamento estava totalmente dirigida pela esquemé- tica religiosa, conseqiientemente suas “verdades” seriam apenas historicas, e nada mais teriam feito do que inter- pretar Aristdteles do angulo catdlico. Désse modo, é preferfvel dar um salto de Aristdteles para 0s modernos. Ora, os modernos pertencem & nossa Epoca, a sua esquemética, dizem, & a nossa, Para que perdermos tempo com o pénsamento eseolstico? $6 ser- viria para erudigao de pessoas ociosas, que deveriam em pregar melhor 0 seu tempo. Conseqiientemente, 0 me- Jor é considerar como inexistente a obra dos medieva listas e penetrar de cheio da, “Iuminosa” obra dos moder- nos, Partindo désse preconceito estulto, era natural, era evidente”, que os medernos tinham razio. Para se ser moderno € mister pular dos gregos para Os, Se yolvermnus paru os medicvulislas, perdeinus Lem po. S6 para quem nada lem que fazer, e desejz. apenas enriquecer a sia crudigao tal investigacao pode ser justi ficada, Fi désse modo, intencional e deliberadamente, se faz, um siléncio tenebroso sobre a obra dos medievalistas, que, para os tolos de hoje, foram “superados” pelos filo- sofastros da actualidade. B preciso ter um tremendo do- minio de si mesmo para no se perder a calma e deixar- -se deminar pela ira, a0 assistir essas descabelaias afir- macoes. E que sucedeu, entao? Sucedeu que veihos er- Tos, Jil refutados com séculos de antecedéncia, passarain a ser idéias “iluminadas” para os modernos inadvertidos. ‘Tudo quanto se disse de errado,tudo quanto se construiu 108 AING FWRIRIRA DOS SANTOS dé fundamentulmente falso, todo ¢ peehibesque, e por que nao dizer todo o lixo do pensamento bumano, passou a Tessurgir aos olhos de muitos como a altima palavra da inteligéneia. Mas, na verdace, eram apenas velhos erres, velas confusies, velhas mistifivagdes, antigos productos ‘a deficiéncia mental ©, sobretude, da ignoraneia filosd- Lea, 0 que huvia sido proclamado’por mentes débeis, havia sido dorruido pels Gemonstragio rigorosa, que pas- sava @ reviver, fuuiasinas de um mundo jé passado, que tornavam agora a ingwictar as mentes despreparadas, ea receber as homenay ns inais cntustisticas de homens’ que nao haviam ulineniiule devidamente a sua mente ané- nica, Havia-se confundico a filosofia de entio com a reti- gio. A eligi era “V’nfirae" do pobre do sr. Voltaire, uma das mentes hiosdlicas mais débeis que surgiu na hu: manidade. Era mister atirar sobre a religido tédas as afrontas, tOcas as infamiss. Mas era mister ainda mais: era convenientc destruir a8 bases fllos6ficas que mostra- vam que as icéias cristiis, em nenhum sentido, apresenta- vam wim absurdo, era proviso abandonar todo esf6rgo fi- losético, que provassem que #5 afirmativas religioses nfio contrariavam nenhuma lei ontoldgice. Entéo comegaram 98 interessados em destruir a cultura cristé, por um ddio anilenar, @ apolarem focios os que se punbam a apresen- tar idéias que pudessem alastarnos da filosofia positiva fe concreta, Esse procusso € to extraordinariamente re- pleto de accntecimentos do mionta, que um dia, se tiver- mos tempo, iremos fazer um exame eronolégico das ideias destructivas, das idéias que se afastam da filosofia posi tiva. Veriamos que: wizeadn um ponte, e eomo éste niio era, suficiente para por absixo o monumento cristio, atacava- © depois, as raizes das raizes, até chegar-se, Lismo, 20 nihilismo, 20 deses. cio Gesenireada da negacao to- ‘o e absolutista, ou, quando mui- to, dum agnosticisn% com ayarencias de prudéneia, mas, na verdade, producto de wna covardia encoberta, Um exemplo rxpressivo temos no tema de causa e efei- to, onde 0 afi cle clestruir 0 que € positivo e conereto reve- lotrse tremencamente activo, Sy ORIGEM DOS GRANDES =I 0S FILOSOFICOS 109 Qual a intencionalidade humana ao considerar causa? Entendewse sempre o que pie em causa alguma coisa, ja que © térmo, tanto no grego come no latim, foi tirado da casuistica do Direito. Por em causa ¢ por em existéncia, € tornar efectivo alguma coisa. Fm seu sentido mais vulgar, foi sempre causa o que faz que alguma coisa seja, ou venha a ser, Ora, por se ter com o tempo distingui- do intimeros aspectos que cooperam para gue uma coisa venha a ser 0 que 6, distinguiram-se, entiio, as causas. Désse modo, Aristoteles, prosseguindo ¢ trabalho ja rea lizado por seus antecossores, podia dividir as causas em quatro principais: a causa eficiente (a que faz), cue é a causa activa, a causa formal, a forma da coisa, o pelo qual a coisa é 0 que ela ¢ ¢ nao outra, a causa material, 0 de que a coisa € feita e, finalmente, 2 eausa final, o para que a coisa é feita, 0 para que ela tende, a sua intencionali- dade. Gragas aos exames dos escotisticos, a conceito de causa foi tomando wn sentido claro, bem como mais sa- bio e mais seguro. Causa née 6 apenas o que antecede uma coisa, como julgam muitos modernos, mas ¢ que semi 0 qual a coisa nao é 0 que ¢, ou seja o de que a coisa depende realmente ¢ também essencial e necessixiamente para ser. Em suma, 0 efetto é algo que dypende real, es sencial, e necessiriamente de um antecedente ontolégico (nao eronoldgico, porque hd causas que sao contempora- neas a0 efcito). sse conceito claro nos permitiria com- preender que 0 efeito, de certo modo, tem actuslmente em si a causa, e nao é outro, absolutamente outro, que al gumas causas. Conseqtientemente, do exame da realidade (e notese éste ponto que € importante: os escoidsticos sempre tomiam como ponto de partida para a espesulacio filosdtica ¢ experiéneia, sia emniristas racionalistas @ niio meros racionalistas nem idealistas), verificou-se, em combinagao com os fundamentos, que sio de ordem in- telectual, mas que representam as leis ontoldgicas inde- fectiveis, uma série de adgios filoséficos, que expressam vertlade'e apenas verdade: 1) a causa (tomada abstracta e universaimente) tem de conter perfectivamente 0 efeito, Se a causa nio con tivesse a perfeiciic do cfeito, este poderia ser mais que sua causa Ou causas; entdo ésse suprimento de ser virla do nada, 9 que é absurdo, Peeeeee CCC CK UTLTLLTLLLLALAKceee eet RELELLOLLELLELELLELELLLELLE EL ELE LEOS RIIRA DOS SANTOS 6 MARIO 2) © efeito nunca pode ser superior & causa, 6 um corolério do primeiro udagio. 3) © efeito depende real, essencial ¢ necessariamen- te da causa, pois lo contririd seria apenas um ser total @ Absolutaniente autonome, ¢ no causado. Que fizeramn imimeros filésofos modernos ao veremn que a doutrina de caus © efeito, como dela tratavam os escelisticus, levarie falulnente a construir uma filosofia positiva © concreta, 0 que no interessava de modo algun aqueles que desejtvam desiruir os fundamentos cristaos de nosso ciclo cultura’, © que tinsham a seu lado “os ino- centes liteis” e alguns’ imuleis désse periodo, que servi- riam para escrever onlunhas de tolices, para combater a doutrina que éles desconheciam? Procuraram ataca- ‘la, E como? Plo caminho mais ¢ostumeiro, que é t- pico de todos os deficientes: caricaiurizar a doutrina, in- famd-la, abribuindotThe afirmativas que ela de modo algum faz, Comeguram por tornar confusos os conceitos de cau- sae efeito, A dependincia, que era real para a escolésti- ca, passou 2 ser apresentada como meramente formal, como razio de sey, ete, confindindo-se razio suficiente com causa, A priovidade ontoliyica da causa, passou a ser expos- ta como antevedcncia cronoldgica, ¢ afizmarse que 0 efeito nada mais cra que a propria causa travestida de efeito, porque aquela ainda estava no efeito, e nao era outro ser, otal e abisolutamente outro, como 0 afirmavam os esco- Jdsticos. Ali ostava a tolice e aqui jd a calinia, Mas juntowse ainda mais’ juntouse a estulticie. Houve fils. Sofos que afirmaram que o efeito podia ser stiperior em ser A causa ou catisas. Criowse uma concepeao simples: mente esttipida da ev afirmando-se que constante mente 0 universo revelava um aumento de perfectibitida- de e de ser, de modo que 0 amanha teria mais ser que hoje, e hoje mais que ontem, Kenan chegou até a afirmar que Deus seria o ponto final da evolugdo. De modo que Deus ainda nao existia, mas cxistiri, afirmava, quando 0 univer- su tiver aleancado o seu grat evolutive maximo de per. feigio. Désse modo, o mais viria do menos, o mais per- feito do menos perivito, o resultado conteria eminencial- mente mais ser que «is suas ccusas, Era virar tudo de ca- ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 111 beca para baixo. E de onde viria ésse aumento de ser? Se nao tinha uma causa anterior que o contivesse, sé po- Geria vir do nada, surgir por absoluta geracio espontanea, Entéo 0 nada passou a ser o eriador. Admitir um ser perfeito criador, era para éles um absurdo, mas admitir que © nada fOsse capaz de realizar a perfeigdo nao era ab- surdo, era o climex da inteligéncia, era a “superacio” do saber antigo. fsses senhores, como Hume, como Kant, que toma- ram causa e efeito apenas categorias, Renan ¢ muitos ou- tros, que encheriam paginas © paginas, se aqui fossemos alinhar seus nomes, fizeram a delicia de muitos delicien- tes. Os inimiges do cristianismo estavam satisfeitos, pois destruiam, assim, pelos alicerces, as provas da existéncia de Deus, que os escolusticos haviam construido; punham abaixo definitivamente Aristételes (ésse que foi acusado por um Bertrand Russel como uma verdadeira calamida- de, cuja obra, téda, nao valia uma pagina da de Copérnico, como declarou, e que féz mais mal & humanidade que bem, ¢ cutras coisas semelhantes), punham abaixo os grandes luminares da escoléstica, para, finalmente, apre- sentaremi-se como novos luminares os génios de Descar- tes, de Spinoza, de Leibnitz, de Kant, de Hegel, de ume ¢ outros tantos, | Jé dissemos acima que um dia, se 0 tem- po nos for dado, faremos um relato das peripécias para criar a confusie no espirito humano, e 0 que ore faze- mos, com o tema de causa e efeito, seré apresentado, en- tao, com nimias particularidades, com exemplos nuniero- sos. Eo mesmo se podera fazer com os conceitos de acto e poténcia, esséncia e existéncia, forma e matéria (pala: vra muito usada pelos materialistas, que até hoje nao fo- ram capazes de dizer em que consiste), finalidade, inten- cionalidade e muitos outros conceitos, que se tomaram confusos, porque tudo se féz para que se livesse uma con- cepgao contusa, pois assim se derruia pela raiz os funda mentos da concepcao crista, que é uma religifo positiva e concreta, embora assim na 0 queiram considerar os ad- versérios, sempre abstractistas ¢ negativistas, Seria um érro julgar que houve nisso tudo apenas ma i6. Sem diivida, que hi certo satanismo dos que deseja ram destruir 0s fundamentos filoséticos da escoiéstica, cor outras intengdes, mas houve, ¢ sobretudo, deficién: cia no conhecimento, ausencia de mentes fi 12 MAKIO PRERKIGA DOS SANTOS seguras, erros palniures de Logica, preconeeitos admitidos come postuludos demonstrados, quando, na verdade, nic passavam de afixmatives sem fundamento. Houve,’ sim, muita iynorancis: liad a oma auto-suficiéncia, muita im: provisagao, como se sccwios @ séculos de cuidaciose e per. ‘ucienla? atviline plulesivi sar Substituides por uma ins pirago uv origesn Guvidusa. Houve fildsofos que nto se pejavam de fuer afrmaco:s ingénuas, porque nem de leve suspeitavum du sun ingenuidade; “houve insensatez gue se considerou 0 sue do conhecimento, e houve “su: midades” improvisucias, que se julgavam o'araute do sa. ber e juizes supremos do conhecimento, Mas, tambcm, € mister que se diga, houve da parte dos escolisticos modernos também uma grande parcela de culpa. Depois da floragiie espantosa que teve @ esco- Igstica em Coimbra, Salamanca, Alealé de Henares, com aguéles nomes que pontilham de gloria a filosofia de to. dos os tempos, como toram Fonseca, Benedito Pereira, Furtado de Mendonga, Fgicio, Gols, Gouveia, Couto, Arau- jo, Joao de Sao Toinis, Suarez, Vasquez, Soto, Lossada, Bafiez e lantos outros, sucedeu um perfodo de disputas d= escolas, em que mis’ se preocuparam os escolisticos em disputer entre si sobre a oxezese do pensamento dos gran: des mestres, como Temas de Aquino, Scot, Sao Boaventu- ra, Alexandre de Hules e Suarez, do que propriamente le- ‘yar avante o trabalho désses luminares @ divulgar como se deveria divulgar o verdadeiro saber escokistico. Permitiram que a filoso‘ia moderna se divorciasse do passado proximo, que volvessem aos modelos gregos do periodo da decadéncia, que obres como as de Averrois, ‘Avicena ¢ os grandes ‘irabes, permanecessem praticamen: te desconhevidas, Aié 0 siencio se {ez em térno dos grandes mesires escokisticos. Muitos, na Igreja, ja nao Se debrucavarn mais sobre es velhos textos, que cada vez se tornavam mais :2r0s © menos lidos. E até hoje, em- bora modernamenic j:i se fega alguma coisa de diferente, os grandes livros clos medievalistas tornaram-se leitura proibida, Quem escreve esias linhas viajou a Europa & procura de textos, © adguiriu muitas obras a prego de ure, ¢ muitas outras forlhe totalmente impossivel en- contré-las, Quantos autores que desejamos ler ¢ talvez jamais os tenhamos its maos, E por que isso? Por que hao se editaram {ais obras? Nao ha leitores para elas? ORIGEM DOS GRANDES = 08 FILOSOFICOS 113, Ou € que faltou uma divulgagio mais euidadosa? 0. 08 textos queso encontram sao em leith Evento Ge Sulgam muitos scotacticos 9 ois, at, verdad nao Jé corretamente latim no pode estudar filosotia Som duvida, quanto aos textos mediovais, “Mas seco tt zessem edigdes bilingues, e boas tradugées dos princpais autores, temos certeza auie haveria leitores para tais obras iio basta editar obras de edificagio religio: mister fazer chegar as maos dos que fazem filosofia ¢ so consideram os seus luminares modernos os grandes tox, tos. Quando se sabe que homens como Leibnitz, Descar tes, Spinoza, Kant nao conheclam as obras de Tome do Aquino, de Scot, de Suarez nem até de Aristoteles, que so Poderia esperar de suas realizagdes? Por geniais quo £6: sem, © 0 eram certamente, nfo poderiam por inspiragao realizar por si ss 0 que levou séculos e mais séeulos do percuciente andlise. Muito érro que hoje domina no mun do é dovido culpa dos que deveriam ser guardities ca fh. losetia positiva, que mais se preocupam com #s polemi, cas de escola, em aeusarem-se uns aos outros de hewtioes de pantefstas, de imprudentes e do temerérios, do que em levar aos estudiosos um conhecimento claro 0 pensa. mento dos grandes fildsofos da Tdade Média. Pola accao malética de uns ¢ 2 pelo deseaso de tant cutros, © pela inadverténcia de quase todos nao ere se admirar que os semaadores de tires nfo. celheseem aoa fusao as mils cheias, © que o mundo conturbado de mee sos dias nao tivesse a principal raziio de sua angustia nos ra 'S EITOS Gue se dissemminaram em prejui: e da cultura humanas. siaize do bem TIL TLLLLTLLTCILIIIIIILVALILITigese EERE REE EEL EEURUEULUEULE LULL LEE LESS SESS” DEMONSTRAGAO E ARGUMENTAGAO Umia das maivres fontes de érros filoséficos, sobre- tudo nos seciores da Filosofia pratica, foi o valor éxagera- do que se den no arganento, e terse julgade que éle subs- titui perfeitamente a demonstracio. Arg © quanco se apdem razdes em favor ou contra um postitado, Demonstrase quando se realizam ilagdes, cujas con seqtiéncias decorrem rigorosamente de postulades }4 de- vidamente estabolecidos como verdadeiros. £ mister, na demonstracSe, que a consegiiéncia decorra, por rigoroso nexo l6gico, de premissas dadas como verdadeiras; ou se- Ja, que encontrem, cm Ultima andlise, fundamento em prinespios ontorigives. Argumentar ¢ ficil, © tudo é passivel de argumenta- co. Mas demonstrar ¢ outra tarefa, porque esta exigs um rigor, uma apoditicidade tal, que muita coisa accita como boa, verdadeira indiscutivel, ao passar pela and- Use, pela critica especululiva, como a exige a filosofia po- sitiva e a concreta, nio se manteria, Pode-se arsumentar om defesa de um politico peculs- tario, como muitos o fazem, ‘Temos 0 exemplo de um homem, que coi: os bens piblicos multiplicou, extraorai- nariamente, os scus haveres, @ usou de todos'os proces- 508 corruptivos Lio freqiientes da politica. Uma figura dessas € jgndbil, repelente, indigna, “No entanto, né quer argumente diss fécii acusar alguém por nao ser perfeito. Mas esqurcem que a perfeicsio no homem é uma lenda, porgue até o mais santo dos homens peca, porque onde o homicm esti, ali esté 0 pecado. Aquéles gue 0 acusam, deveriam prestar atengZo a0 que éle tem felto de bem," Adomuis, se muitos meios empregeu, que nao so do ayrado de muitos, esquecem que os fins que | | | { { ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS [15 le pretendia atingir eram os que interessavam ao bem pubblico, ‘Tais argumentos podem impressionar a bedcios, © so rem aplaudidos por mal intencionados. Vejamos agore, no campo filosético, as argumentages conhecidas. Poderlamos aqui dar exemplos sem fim, porque estdo dispersos nas obras de muitos “fildsofos”. ‘Vejamos éstes: a inteligéncia humana é caduca e a razio claudiea, O que 0 homem tem julgado verdade € apenas © que Ihe tom despertado a conviegio de que € certo. Os meios de conhecimento, que dispoe, sio imperfeitos & © que sabe é um arvemédo apenas da realidade. Envolta e dominada pelas convicgdes e preconceltos, a mente hu- mana sé conhece 0 que ela mesma constrdi. Seu saber sfi0 seus fantasmas, sua certeza so suas convicgées, sua cliéncia € apenas uma grande fantasmagoria de postula- dos, que nie encontram ur fundamento s¢rio fora do proprio homem. O homem sé encontra nas coisas o que nelas éle poe, etc. Eis uma série de argumentos usados por multos “fl. losofos”, e que conseguem obter éxito junto a muitos lei- tores e ‘discipulos, No entanto, temos apenas aides apostas em favor de uma tese, ndo uma demonstragio, porque esta exige rigor ldgico, obediéneia aos cfinones da Logica, 40 pouco conhecida de muitos que tentam Lilo- sofar, Vamos um exemplo de demonstragao de uma tese, pelo qual poderemos, na decorréneia do seu exame rigo- Tosamente légico, levado As Ultimas conseqiiéncias, con. cluir que a tese é falsa se ela provocar uma contradigao. Digamos que alguém estabeleea a seguinte tese: todo ser é materia, tese bem materialista. i ldgico que, de an- temio, perguntarse-é 0 que entende o defendente da tese por ser e por matéria, Jé a tese se complicaria tertivel- lente, porque poderia o materialista ter dificuldades em dizer 0 que € ser, como também o que é matéria, No i tuito de evitar a primeira dificuldade (aporia) poderia afirmar que: tudo quanto ha € matéria, Neste caso ser seria 0 que ha, 0 que tem uma positividade, uma alinma- cao. fsse o que hi ¢ nada? Auséncia de positividede? éle diria que no. Fo que nao hé é matéria? ria éle que nao. Neste caso, o juizo poderia 1 t 6 DIARIO PERRGIRA DOS SANTOS sofrer uma inversio simples: a matéria é 0 que hia — 0 que hi 6 materia Resta agers suor, para tragar os primeiros esbogos, que © matcriaistx entonde por matéria, Para alguns é 0 ente corpdren, sensivel, abjecto de cognicao sensivel (co: mo © descrevent oo sensualistas), para outros 6 um ente Indetermunadde, qae constlat o estofo das coisas, um ser potencial ¢ lamiben active. A mai mas apenas vin paiavra, esgrimida para dizer que é © principio do Widas ws coisis. Pare éstes, materia é 0 ser @ lambcn © ser 6 mnilcria, 0 que, em suma, é dizer a mes ma coisa, Nao conhevenos nenhum materialista, nem um $6, que icuba alynms vex dado um eonceito cliro do que seja matéria. Se diz que é ela poténcia e acto 2o mes: mo tempo, teri de afinnar que & acto com poténcia para alguma coisa, 10, sera um ser efectivo que actua hiza, em si mesmo, 6 gue en si mesmo ainda nao é efecti- vo, mas efectivel.’ Neste caso, é compesto do que é em acto © do que ¢ em poténcia; ou seja, pode receber do- terminagoes ce si mesma. Como 0 que é e macto tem uma forma, um logos, bg, na matéria, uma parte que é efectiva com forma, e uma parte indeterminada, amorta, apta a receber forts, ou a parte jé formada é apta a re- ceber a forma de si mesma; ou Sela, é ela sua propria, causa © scu proprio ofcite, sendo composts, portento, de algo em acto ¢ algo cm poténcia, Como a poténcia é at 80 que implies a anteredéneia do ser, porque se a poten. cia fOsse primordial, nessv caso terfamos © gue ainda n5o € 0 que poderia scr, ¢ que € apenas um efectivel, e nio um electivo, conseniicntcmente 0 que ainda nao é,'antece- deria a tudo quanto vei s ser, A poténcia pura, enquan- to tal, seria mere viawa, Nesse caso, a matéria néo pod ria ser polencia pura, ji que € © principio de todos os 8% res, @ ferin de sor activa desde inieia, acto descle inicio, B Ssse net jeri nse smat-eedénela ontoldgiea % poténcia. ‘A poléncia, 0 ye pede vir g ser, seria poténeia do acto, tas ¢ ace NAO Hedeviz, camo acto primordial, ser o ecto de uma poiencr, nls subordinado ao que ainda nio é Conseqiientemenys, aner qneira quer nao, 0 materialista ferd de udmitir que o ae.o € anterior & poténcia, no to- cante & matéris, ¢ que a poténcia estaria subordinada a éle. Antecoderia és» modo um acto puro, Que se en: tende por aciy puso? Um acto que é apenas acto, E es- sa parte, que é acto n wlsria, tera de ser puramento.ac- onien { DOS GRANDES ERROS FILOSOY nCOS ALT to, porque, antecedendo ontoldgicamiente, se nio for acto puro seria uma mescla de acto e poténcia, que seriam Gois térmos de onde principiaria a matéria, o que o materia- sta, que € monista, nio poderd admitir. A potencia te- ri de ser algo que 0 acto realiza, seré 0 possivel de ser efectivado, o efectivel, que & do poder do acto, Enzlio te- ramos um acto puro, portanto infinite, sem limitagées en- quanto tal, Pois se ‘antecede & poténcia, o que o limita- via? A poténcia? Nao, porque ela esté subordinada aquele. © nada? Nao, porque nenhum materialista vai afirmar que o nada terha poder, porque se tem poder é ser, © Se € Ser, adeus monismo, E ésse acte puro € infinito, porque 6, infinitamente, sem lumitagoes, le mesmo, ¢ ¢’éle apenas ser, porque o que ha posteriormente, ji ‘constituido da poténcia infor- mada pelo acto, é déle, subordinado a éle, no algo abso- lutamente fora déle, sendo, outra vez, adeus monismo, Lo- 0, ésse acto puro seré infinito e omnipotente. Omnipo- tente, sim, porque 0 ser pode, e 0 que’ pode ¢ ser, pois 0 nada’nada pode. Se nio possui ésse acto puro todo o poder, se © poder nao € dele, de quem seria? Do nada, © impossivel. Da potencia? ' Mas esta esté subordinada, Aquele, portanto o poder que tenha provém daquele. E se alguim novo poder surgit, que nao esteja no acto puro, viria do nada, 0 que é absurdo. Logo é omnipotenie, e ¢ também omniperfeito. Eo é porque a perfeigao € a act tualizagio de um modo de ser. E de onde viria esse po- der do modo de ser? Do nade? Nao 6 possivel, Por: tanto, vitia do acto puro “material”, que conteria, emi- nentemente, todo poder possivel, toda. perfeigsio pcssivel, eno miximo grau. Nao hé necessidade de prosseguir, Essa concepgiio da matéria € 0 que se chama Deus, e 0s istas apenas estariam dando um outro name a Deus. Ora, tal conclusio seria de arrazar de pavor um materialist, Logo @ matéria nfo poderd ser, para o ma- terialista, o que tal materialiste dizia, porque essa maté- tla era, na verdade, Deus, o que 0 materialista no pode admitir Se disser que a matéria é 0 de que 6 constituide os entes, diria a mesma coisa, pois se todo ser 6 materia, aquéle juizo expressaria que materia € ser, e que ser 6 0 que constitui as coisas, pois © nada no constitul coisa alguma, enti matéria ¢ ser sito a mesme. coisa, ¢ volve- PECK KCKKKCKCKCKCKCKLATLEDARRBRRBBBAAN MRK - FURR URE UL EL ELLELLELELLELLULEUL ELE ELLES | 118 {ARIO FEIIEIRA DOS SANTOS riamos & primetra posi acto puro, infinito, ete. a0, pois teriamos que chegar a um Resta, entiio, dizer que matéria, como ser primeiro, é corpéreo, € © ser corpéreo. Entende-se por corpéreo o ser que ¢ limituiy por superticies, portanto, limitado. O sor limilado ¢ 0 ser que recebe limites e 6," portanto, po- tencia, apticiio para receber limites, o que reduziria outra vez a ‘acto © potencia ¢ voltariamos & afirmagio de um acto pure antecedente Poderia ainda um materialista dizer que nada se sabe ao certo sobre 2 matcria, logo 6 intitil discutir o assunto, Se nada sabe, porque alirme que a matéria, que nao sa. be 0 que &, é 0 principio de tdas as coisas?’ Como pode afirmar categoricamente 0 que desconhece? Nesse case, seu materialismo ¢ apenas uma opinigo, e opinides no se discutem, Restaria, afinal, dizer que matéria é apenas a potén- cia com a aptidio de receber formas. Mas, nesse caso, sendo poléncla, nio ¢ prine;pio do sér, e volveriamos & primeira sclugio. Em sum, ndo conhécemos outra ma: neira de ser maicrialista que’ ndo essas, e nenhuma delas resiste a uma leve andlise. 4 ultima posicao 6 a da esco- Méstica, mas esta, niio é materialista, porque no da & po- téncia, enquanto apta a receber formas, o papel de princi. pio do ser, mas apenas de ser subordinado, ou melhor ser criado, criatural Poderiamos ainds Jevar avante 9 exame do materia lismo, usando, por exeinplo, 0 método analitico e o sinté- tico da Logica, uue expusemos em nossos “Métodos 16 gicos e Dialécticos”, mas seria repetir aqui o que ja fi Zemos naquela obra. Podemos, isso, sim, apenas ‘para exemplificar, ciigor que qualquer afirmagdo de que a ma- téria € 0 corpérco, o sensivel, levard falalmente a admi tir a destructih nl d2 materia, 0 seu aniquilamon: -0, 0 que terminaria por destruir 0 préprio materialismo, ou afirmar que u matéria ¢ uma combinagao de dois séres av que a 'imatéria tem um est6fo, noutra ia da materia, que seria néo-materia, Na verdaie, os material cidos ou menos evufusos: minticamente; ow s0 istas moderos mais esclare- vonsideram a matéria apenas se- © que em nossa intencionalidade OE ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 119 desejamos dizer que & matéria: 0 estofo das coisas. Neste caso, 0 materialismo cai por terra como concepgao filo- sofia, Na verdade, nao ¢ le uma filosofia no sentido especulativo, mas apenas no sentido pritico. E uma con- cepeao do mundo que ndo encontra ontoldgicamente ne- nhur fundamento, aceita apenas por aquéle que nio po- dem conceber entés nao-materialistas, no sensiveis, nao corpéreos, no cronotépicos (tempo-espaciais), que nao possuem as chamadas propriedades da matéria, Podese dizer ainda mais que o materialismo surge de Geficiéncias no pensar filoséfico, e nenhum realmente gran- Ge filésofo, em tempo algum, foi materialista. Inegavelmente, foram os escoldsticos os que melhor estudaram as regras da demonstracao e, neste sector, co: mo em tantos outros, superaram tudo quanto se féz no passado ¢ se faz no presente. Em nossas obras “Méto- dos Légicos ¢ Dialécticos”, e em “Filosofias da Afinnagio ¢ da Negacao”, estudamos ésse método: na primeira, ted- ricamente; na segunda, praticamente, através de diélogos. COLHELTA DE ERROS FAMOSOS GRANDES ERROS ONTOLOGICOS Na Filosofia Especnlativa, ¢ a Ontologia (a Metafisica Geral) a ciéncia que se dedica a0 estudo do ser enquanto ser. O naca de per si nao poderia ser objecto de estudo sengo atraves «io ser. Eo que se dedica examinar 0 ser humano, através da contemplagao (eujas fases sao a lec- tiv, a adverténcia do tcma, a meditatio, a meditagio s6 bré éle, e, finalmente, « oralio, 0 discurso correspondente), 6 uma presenca, algo que se afirma, é afirmado, j& que a negagao pure mo poderia analisarse a si mesma, mas sim algo que 6, que se dedica a examinar o que 6, ¢ © que no é, conseaiientements 2 Oatologia é, na Filosofia, a Giseipiina prima, a philesophia prima, porque 6 do conhe- cimento do ser enguante ser, ¢ de set enquanto real, que se podem construir os fundamentos de un especular se- Buro. Podese assim diver que o grau de compreenséo @ de nitidez do conhecimenio de qualquer regiéo do ser depen. de do grau ce cempreensiio ¢ de nitidez do conhecimento ontologico. Aqucies modernos, coplando posicdes Jé su- peradas de antigos filésolos, que julgem desprezivel'a On. tologia, revelam apenas wma deficiéneia e uma estulticie. Deticiencia, porgtio, sem « Ontologla, é impossivel apro- fundar-se no conheciinento das coisas, e estulticie, porque revela desde logo desconhecer © que de magnifico Ja rea- lizou 0 homem. neste sector Ge importante do conheci- mento humano. Depois de hayermus revelado os grandes erros crite- riolégicos, aue siio a fonte e origem de outros grandes erros, precisamos agera apresenlar os grandes erros onto- logieos, para que 6 leitor possa notar de modo claro e de- monstrado, onde se siluam muitas posigées que parecens sOlidas, mas que nio passam ce mal fundadas afirmativas, ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS — 121 que sé tém servido para perturbar a mente humana ¢ en- cher 0 mundo de confusées perturbadoras. Sem ctivida, a Ontologia apenas trabalha com a razio. Mas, desde Aristételes, tem ela seu ponto de partida na propria experiéncia humana, tanto interna como externa. Como meio para essa investigagao do ser, o melhor tem sido sem duvida a abstraceao total. De antemio, pode. via nossa critica posterior ser posta em diivida ou sofrer qualquer restrigao, se, préviamente, no tivéssemos jus- tificagao 4 teoria da abstraccao deploravelmente desconhe- cida quase totalmente por muitos fildsofos modernes. Rememoradas as raz6es jd apresentadas, pode zacil- mente o leitor verificar que as demonstragdes, que iremos fozer a seguir, so suficientes para justificar, com 0 ne- cessitio rigor apoditico, as nossas teses. Partamos, pois, do primeiro postulado da Ontologia: © ente (como conceito ¢ como realidade) nds 0 obtemos através da abstraegio da experiéncia, tanto interna como externa, Para o kuntismo, a idéia do ser ¢ a de todos os unl- versais sfio construfdas a priori, independentemente da experiencia, formados pelo intelecto. Para muitos, é apenas um concelto que, seméntica- mente, oxpressa uma classificagao geral do que € objecto de nossa exporiéncia. Ora, sem diivida que o conceito de ente é construido: por wma abstraccao universal dos factos da nossa expe Héneia externa, como nos mostra a teoria da abstrazcao, E também da experiéncia interna. Pela filosofia concre- ta, que a nossa, por ser impossivel 0 nada absoluto, jé qué a mera propesi¢ao da sua possibilidade afirmaria al- guma coisa, ou Seja que alguma coisa hd e a mera enun- Giagéo de que alguma coisa hé prova, indubitavelmente, que alguma. coisa hé pela propria afirmacio, e que, ha- vendo alguma coisa, 0 nada absoluto ndo ha, 0 corceito de ente, da presenca de alguma coisa, ¢ algo indubitavel ¢ ontologica e Gnticamente verdadeiro. © ente é afirmagao {ens ut sic, como o diziam os escolisticos, 0 ente (ser) como afirmagao, como sim, ¢ recusado come nio). © conceito de ente, como damentado nessas demonsti quema mental, estd fun- pois, intencionalirente, cece UU UU RU REEL ELE ELL ELL LELEE ELSES 122 MARK RA DOS SANTOS refere-se a aly que 6, podendo-se afirmar, sem a menor duivida, que, necossiriamonte, ha algo (ente = ser), por- que de algo podiiuos tratar! Mesmo que ente, ow ser, fOsse uma alucinacho, seria Tealmente algo, e no nega” tivamento sponas nat, porque a alucinagéa prova que ha algo © mao que nada hei Désse modo, vse que os negativistas, e inclusive os kantianos, quando alirmam que ente (cu ser) 6 apenas um esquetna mental, nao conseguem negar o ser, os Prk meiros porque de certo modo afirmamn, ¢ os segundos por- que a propria exisiencia do esquema mental de ser, mos- tra, apoditicamente, quc he ser endo 0 nada absolute. A objeccao de tais filosofos demonstra, por sua ves, que ha 0 que desojam refular Quanto aqueles tolos que dizem que nada saber do que 6 ser, dizem apenas tolice, porque a sua propria afir- magio esi afirmando 0 ser. Nac ¢ mister ser muito inte ligente para compreender que alguma coisa sabem do que E'ser, pois savem yue n&o ¢ 0 absolutamente nada, que aquéle 6 uma afirmacko c nio uma negagho pura, que, é uma presenga © nau uma auséncia total. E de causar dO notaremse filésofos, que gozam de certo renome, fazerem atirmagdes dessa’ espécie. E de causar dé porque tais atirmativas depdem contra a inteli- gencia humana, o que ¢ sempre de deplorar (i). Que é ser para a filosofia positiva? Ser é 0 que é apto para existir, famoso counciado de Suarez, Um ser ou é em acto, ou 6 em potencia, um possivel, Se em acto, é apto para cxisiir; se cm peiéncia, € também apto para existir, pois, do contrario, nfo seria possivel. Ente 6 0 que ¢ ‘apto a ser ¢ uma formula tomista, que afirma que ente & 0 que lem wna esséneia real, Ambas formulas, na verdade, siv 2 musi Que pode um iildsoio, que nao segue a filosofia po- sitiva e a concreta, dizer'o que é ser? Pode dizer que niio sabe 0 aue &; Gizer que nao ha; ou dizer que ser é algo indeterminade, on qie $0 mesmo que nada, Mas, (2) Un profuse univentiéeo de Mlonofin teve em avila a se guinte explivacie sine ose, cit ReNpOSLA aoe alunos: «SURE O ser, 8 lng, vous uy sai «yas @ mise eompantia de wansportes (SER Servigas ale Wnlreyins IMpide. ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 123, seja como fdr, 08 dois primeiros jt foram refutados, e 0 uuitimo tomaria 0 conceito de ser (no sentido légico) como algo indeterminado, 0 que realmente é, pois, como tal, um conceito simplicissimo, indeterminadissimo e de minima comprensio, embora de mdxima extensio, como se vé na Logica. Mas 0 conceito légico de ser néio € 0 ontoligico, que ¢ algo com esséncia real, e que inctui o que pertence 2 conceituagio da Légica. Dizer, como o faz Hegel, que ser e nada se identificam, porque 0 ser, como indeterminado, equivale a nada, é fazer confusio entre o conceito Iégico de ser com o on- toldgico; 6 confundir a logicidade com a ontologicidade. SAG AS ESS"NCIAS COGNOSCIVEIS? A filosolia posiliva ¢ a conereta afirmam que 0 sio, enquanto a filosofia negativista afirma que néo. Para es: ta as essincias S10 apenas palavras. Que se entende por esstneia? Entendese, desde os antigos gregus: 9 peiv qual o ente é éste ente que & (id quo ens esi ens illud quod est), a ousia dos gregos. © pelo qual una coisa se distingue (substancialmente (qiti- didativamente) das oulras. Uma pera distingue-se de uma magS e nfo pode ser confundida com csta. TH: muna ¢ noutra, algo que as dis- Ungue (qiiididativamentey uma da outra, B ésse quid € algo pelo qual € 0 que 6, e nie o que nao’. Ora, se algu- ma coisa tem apticido para set, ésse alguma coisa tem de ser alguma cois2, e senco alyuma coisa, hd de ter algo pe- Jo qual é 0 que é © nao alguma colsa outra distinta do que 6, Na verdade, 6 ser humane distingue as coisas que sio, @ se as distingue, 6 porque as distingue: por que nota al- guma coisa que AAO 6 O gue a outra coisa 6. Pode essa distingia nia corresnonder # realidade da coisa tomada em si mesina, nas 6, cnquaato distingao, alguma coisa que € Dig:inos que uiguem, iusoriamente, faz uma dis- tingio onde ii uma identidade. De qualquer forma, 0 que distingue tem um pelo qual é outro que o outro, a distingdo, embora nio correspondendo @ realidade da coi- sa, tern, enguanto distineao, um pele qual 6 o que € e nao outra, "De todo modo, porém, @ que 6 0 de que se pode predicar 0 ser, tem de fer algo pelo qual (quod) é 0 que é, e nfio & outro, De qualquer forma, conhecemos que ha uma esséncia, € sobre isso nio pote huver une divida séria, Resta ago: ORIGEM DOS GRANDES BRROS FILOSOFICOS 125 ra saber se se pode conhecer a esséncia de alguma 2oisa, pois aqui j4 surgem dividas sérias. Em outras palavres, sabe-se que © que tem uma esséncia. Resta saber se onhecer essa esséncia, € niio apenas saber que Sendo a esséncia o pelo qual o ente 6 o que 6 chamam. -na também de qiididade (quidditas), do latim quid, que (que €?), caja resposta é a definigio. Tarmbém chamam natureza, que é constituida da emergéncia da coisa, que 6 0 principio radical da sua operacao. ‘Tambeém chemam forma, que 6 a lei de proporcionalidade intrinseca do ser e, finalmente, substancia que 6 0 que constitui a consis- tencla da coisa, A esséncia pode ser considerada sob trés aspectos: ic © 0 logico. A esséncia fisica é a que constitui a fisieldade de uma coisa, como, no homem © corpo e a mente (ou alma); num vaso de barro, sua fi- gura geométrica ¢ 9 barro que o compde. A esséncia motafisica é a esséncia em sentido formal: no homem ani- mal e racional. 4 esséncia ldgica 6 0 seu género prdximo ¢ a diferen- ca especifica (animalidade e racionalidade), que se con- fundem muitas vézes com a metafisica, Na Logica, po- rém, € tomado o animal na sua universalidade: aninalida- de; € 0 racional, que ha no homem, em sua universalldade: racionalidade. Apresenta a esséncie as seguintes propriedades: 6 ne- cessaria, pois sem ela 0 ser ndo € 0 gle 6; 6 indivisivel, na verdade no ¢ separdvel em suas partes, pois deixacia de ser o que 6; é imutavel, porque se acrescentada alguma coisa deixaria de ser 0 que é para ser outra; é eterna, pois a essénla independe do tempo, e lomumos uqui v ern0 eterno em sua acepgao negativa, que melhor seria dizer intemporal. Adomais, a esséncia, sobretudo a metatisica, € algo dado desde sempre, pois se nao 0 f0sse, come pode: riam ter surgido séres que a tivessem? Do contririo, te ria surgido do nada absoluto, 0 que é absurdo. Sic’ as sim eternas (agora em sentido pesitivo) na ordem co Ser Frimeiro, o Ser Supremo da filosofia concreta. A esséncia fisica pode darse independentemerte da consideracio humana, porque embora nio a conheca 0 homem, ela se da, pois sem ela, como vimos, 0 ser nao POTTTL IKK CCL TTTVIGULALLLALIGITTES PEPE ELERELELLELLELLELELEL EEL EL EEE EOS 126 1 PIE tA DOS SANTOS seria o que 6. A esstncin metafisica € estructurada, es quemiticamente, pelt mente humana, segundo as notas abstraidas, Dividese a csséneia metafisica entre a pro priamente dita, que 6 2 que a mente capta e que revela uma distingio perfeiin, © 4 impropriamente dita, a ess4 ela estructurckt pela lente lumana, apenas apontanio as propricdatics cir wn ser, como 4S esséneias cuptadas pela Ciéncia, que se refercm apenas &s propriedades, pois Ocampo penitino dt Ciencia 6 Gas propeiedades des en- tes, enquanto o de Milosotia Especulativa é alcangar a es- séncia metafisiea propriamente dita, Dizse, ainda, que a csséncia metafisica ¢ actual, quan- do hi, actualmento, o ser que a tem; € possivel, quando © ser ainda nao exist, nas poderd ‘existir. A esséncia ¢ simples, quando constituida de um tnt co elemento; compasta, de muitos, Consideram-se agul og elementos quer fisiGos, quer metafisicos, quer actuals, quer possiveis. A csséneia 6 também chamada de es éneia real, quan- do € a que realmente pode ser. Alguns comentirios impiese aqui, Ha muitos auto- res modernos que riiculwizam tals térmos. Mas odser- vee que costumam confundilos com as caricaturas que constroem. Tia aulores marxistas, para exemplifiear, que riem quando se fala em satuzeza ‘humana, e proclaznam, auto-suficientemente, que ela no existe. O ser humano, para éles, deve ser um traco qualquer, e néo um ser pos: suidor «do ums naturcra propria. Mas se pensarem um pouco sobre © terme naiureza, vero que natura, do la- tim nascor, m0 iré a nascer, 0 wwe tem um i <"si mesmo. ‘Lodo ser que surge, que nasce, toni uma cmergéncia, que 6 0 que 6 feito & © pelo qual é 0 que ¢ ¢ nao outro que éle, Este vaso tem ‘uma natureza: a su ) @ a sua fornia (vaso). Suas opera homem, que nascr, c tomamos aqui nascimento no no sentido -fisioléxico, nem hiolégico, mas fisico, é um ser que surge com uma nilurevs Lisics e formal, e suas operacdes sero proporcionadis a clu ¢ bs Suas actualizagdes. Ape- nas isso € natureza, ¢ nia uma entidade existente num lugar desconhecico.” ssa natureza, como é comum aos séres chamados humanos, chamase, por sua vez, natureza ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 127 humana. ¥ apenas isso que dizem os fildsofos positivos © os concretos; 0 resto é construcgao alucinatoria de pseu- dos filésofos, que agridem apenas uma fantasmagoria, que a sua imaginagio doentia e fraca construiu, Podemos agora examinar 0 que se disse através des tempos sObre a cognoscibilidade da esséncia. £ curial que nio iremos aqui alinhar tudo quanto se disse, mas 0 que se disse apenas corn algum nexo, em suas linhas ge- Tals, pois hé aqui inumeros erros, que tém sido a causa de muitos outros. Diz-se que Platdo afirmou que hé as esséncias sesara- das dos entes que delas participam, e que so cognosciveis imediatamente por nos. Os materialistas negam a possibilidade de conrecé- las. Seguem-nos os positivistas, como Comte, os sensis- tas, como Locke, os empiristas, como Hume, Os relativistas reduzemna a meros esquemas men- tais, e apenas mentais, sem negé-las na realidade. Husserl ¢ 0 fenomenoiogistas afirmam que 2 mente humana cap: ia-as, e os existencialistas modernos negamenas, aceitan- do apenas a do homem. ‘Todas essas doutrinas sio fontes de erros no filoso- far, enquante negam a possibilidade humana de conhecer as ‘esséncias. E demonstra-se a tese, aceita pela filosofia positiva e pela concreta, do seguinte modo: pela experléneia, iatell- gimos © que pelo qual uma coisa é 0 que ela é e nao outra. Nao captamos, directa e imediatamente, a esséncia de uma coisa, mas gracas as propriedades, os efeitos e as operagoes que ela produz, concluimos qual o seu funda. mento, qual a sua Yaiz, o que nela é mister que haja para realizar © que realiza. Por que 0 homem actua como animal, sua natureza tem de ser animal; porque realiza actos racionais, é racicnal, pois um ser nfo poderia ope- rar desproporcionadamente a0 que ¢, do contrario faria o que nao poderia fazer, o que é absurdo, Na aefiniedo de esséneia, diz-se que ¢ 0 pelo qual se distingue de todos os outros, especificamente outros. Se @le nio se distinguisse dos dutros por algo que é, e que os outros nao sio, éle se distinguiria dos outros pelc que nao tem de diferente dos outros, o que seria absurdo, Se 128 MARIO BuETMA BOS SANTOS néo existirem realmente as esséneias, os séres nao teriam pelo que se distingaircin, © seriam idénticos, tomados em si mesinos, de modo que a distingao notada seria mera ficgdo Imanana, ou, entiv, se distinguiriam sem ume ra. zo de ser para distinsuirenrse, 0 que traria efeites des proporcionside fs sus casas, @ que seria também ab suruo. Restarta a posigio relativista, que afirmaria que as distingdes eso meramenie em nds @ no nas coisas, {0- rade nds, O que as cuisas apresentam de distinto seriam moras aluicinagoos nossas. Inevitavelmente, tal relativis- mo teria de eair no ficcional’smo, e até no nihilismo, pois além de afirmay que 4s disLingdes sio iusbes, a heteroge- neidade do mundo extra mentis seria nada, absolutamente nada, ja que tudo seria, cm sua realidade, homogeneamen- te 0 mesmo que tudo, wna srande homogeneidade, na qual 56 © homem seria holwroxeneo e eriador de heterdgensida- des. Mas, entio, de que nalureza seria 0 homem? Se a mesma das coisis fora Atle, como haverla, entéo, a hete- rogeneidace? Esta nio teria uma razao de ser, seria um efeito desproporeionade i sua causa, jd que seria impo: sive] explicar a heterogeneitlade sem uma heterogeneida- de, Entio teria o homer uma natureza diferente das coi- sas, outra totalmente que as coisas. Para ser eriador da heterogeneiciacies, teria cle ser totalmente heterogéneo a elas. Essa heterogencidade nao entra nas intengdes dos Telativistas, mas ¢ incvitivel postulé-le para evitar maio- Yes absurdos. Accitancio-se que ba heterogeneidade entre ‘© homem emi sta nalwreze ¢ as coisas, e admitindo-se que 2 sua origem ven das mesmas coisas, como se explicaria a heterogenciciade humana, como efeito outro e despro- poreionado J ssa ciuisa? Ademais, as coisas se compor- tam como hotercxcne's, O Aomem seria um criador de- Jas, O homem scria pois slguma coisa (aliquid = um quid de outros, Gistinto). Neste caso, na ordem da realidad a hoteroyenoidade, 9 se ha entre o homem. € as outras coisas, qual a 1zd0 hecesséria para nao ha- ver entre as coisas ouiras que 0 homem? O relativista néio mostra a razsio, nko demonstra por que, apenas ile- g8, @ suas alogagdes levam a absurdos e a incceréncias, Contucdo, os objectores da tese da filosofia positiva e conereta apreseniain suas razdes em oposigao. Alegam. do soguinte niuxio: ¢ pelos sentidos que eonhecemos as col- oRIGEN DOS ANDE ERROS FILOSOPICOS 129 sas. Oa, 08 sentidos nao nos dao as esséncias das coi. sas; porlantc, sao elas incognoscivels. Mas eis agul o velho érro entre principio e fandamen- to. Os nossos conhecimentos principiam com os sent: dos, porém ndo se fundamentan néles, nao sio as sentt dos gue os aperteigoam. Outros alegam que os nossos sentides nfo captam todos os accidentes, conseqilentemente nao captam :otal: mente os entes. Mas de onde se conclui que 6 necessario conhecer todes os accidentes para se conhecer a esséneia de uma coisa? Para combater as essénclas no sentido platénico, afirmam que estas correspondem as formes ou idéias divinas. Mas estas so incognosciveis; portanto, também aquelas. Mas o que os platnicos afirmam ¢ que as essencias esto para as idéias ou formas, na relagao de exemplatum para exemplar. As esséncias, enquanto nas coisas, apenas participam ou imitam aquelas, nao sid intripsecamente constituidas daquelas. Quanto 2 fenomenologia, que afirma que captamos, directa © imediatamente, as esséncias, fundam-se Os seus seguidores na capacidace do homem moderno de, em fa- ce de um tinico exemplar, captar o universal, o essencial Mas tal se di por uma operagao que nos parece instanta. ned, ¢ 0 6, na verdade, no nosso tempo psicoldgico, nao porém, na operagao que a nossa mente faz numa fraccao imperceptivel de tempo, pois essas operagdes, por geretn sucessivas, deverdo realizar-se num lapso de’tempo, em- bora bern’ diminuto. @ modo, a posi¢ao da filosofia Positiva e da concreta ¢ a que oferece validez e apoditici- ade, e nao leva, de modo aigum, a cair nem em incoei clas, nem muite menos em absurdos. CE CECCITICTILLLILILULBAULLRLILETET Se VELERELELEVUELLELULULELL EEL EC EE Sb eeed A EXISTENCIA, CONCEITO CONFUSO PARA ALGUNS FILOSOFOS MODERNOS Opservada ctimologicamente, @ palavra existéncia ¢ formada dos térmos latinos ex e sistentia, do verbo siste- re, do qual © lati conservou a forma defectiva sit, Sis- tere significa estar, permareer, manterse, ser. Désse modo exsistentia significa 0 que se mantém, 0 que perma- nece, 0 que ¢ fora (ex) de alguma coisa. Déste modo, 0 conceito de existencia 6 o pelo qual o ser (formalmente) & constituide fora do nada. Se combinarmos os diversos prefixos, teremos os seguintes conceitos: in | per cx sub super ab ob as | sisténcia 'reriamos, cntio, insistoneia, resisténcia, persisténcia, existéncia, subsisicacia, supersisiénela, ad-sistencia (assis- téneia) ab, Ou ub-sisicuci( sisténcia que se afasta), ¢ ob- -sisténcia (ob, contra, ante), sisténcia que se opoe. © térmo € constantemnente usado na Filosofia, e tem, sempre, in kit sensu, 0 sentido do que se dé fora de suas causas, ou melhor, o scr no exercicio de si mesmo. ‘Vimos que sex (on ente) 6 @ aptidzo para existir, é a aptidao, portanto, para estar no pleno exercicio de seu ser, para darse fora de sts causas, cuja sisténcia se dé ex. ssid ORIGEM DOS GRANDES BRROS FILOSOFICOS — 131 ‘Mas o ser possivel ainda no é no pleno exercicio de seu ser, mas s6 & possivel dar-se em pleno exereicio, se tem aptidio para tanto, embora nao se dé nem venha a dar- ‘se. Sua possibilidade ¢ expressa pela aplidao para exis+ tir, Neste caso, 0 ser possivel nfo existe, mas s6 existe 0 ser em acto, o'ser no exereicio de ser,'s6 0 ser actual existe, Um dos temas mais controvertidos na filosofia medie- ista é o referente A distingdo entre esséncia e existén- cia, tema que penetrou na filosofia moderna, sobretudo por influéncia da chamada corrente existencialista. Se volvermos ao que estudamos quanto a esséneia do ser, temios de salientar que, enquanto gilididade, a essén- cla’ é o que cabe na definicio, e sua existéncia, enquanto tal, pode ser negada, porque podemos compreendé-la ape- nas como esquema eidético-noético; enquanto natureza, a essénela existente no individuo; enquanto forma, é 0 logos de proporcionalidade intrinseea, que se repete no ser pela propor¢do intrinseca dos elementos que o com- poem. Neste caso, a existencializagio 6 das partes pro- porcionadas intrinsecamente, segundo a normal de um logos. Se a tomamos como substincia ¢ 0 que constitul a consisténcia da coisa € nesse caso a esséncia ¢ existente. Como nenhum existente ¢ nada, mas alguma co'sa, e como alguma coisa tem urna essénela, de certo mode esta € existente, ¢ identifica-se com a sua existéncia; ou melhor, a sua existéncia, Considerandose, assim, a disputa entre os fildsofos essencialistas e existencialistas sobre a priori- dade de wma e de outra ndo tem mais razio de ser, e 6 producto de ma especificagao do tema. Conceberse uma esséncia nfio existente, sb a pode. mos considerar do seguinte modo: enquanto qilididade, a esséncia nado é um existente, nfio se da fora de suas cau- sas, no pleno exercicio de si mesma, como a existéneia da eavalaridade, como entidade no pleno exereieio d2 seu ser. Contudo, Se se considerar devidamente a concepgio platonica, a cavalaridade é uma forma (eidolon). Se qui- séssemos emprestarlhe uma existéncia material, estaria- mos violentando a sua natureza, que formal, Nesse ca- 80, dird 0 platénico, que a existéncia, que se poderia dar & forma, é forma, é a formal, e niio a material. Conse- 132 AMO SURENRA DOS SANTOS gilentemente, & forma cnquante tal, no se devem exigiz 2s propriedades que encontramos na matéria, como top cidade, temporalidac, péso, medida ete., porque, a forma é forma, ¢ seu mouo de ser é eidético. Querer uma loca. Hzagao (um whi) pra a forma é um contrasenso, porque niio ¢ ela um enie eronntopiro Clompo-espacial). Seti exis: tir ¢ eideLico, 6 scixnide sua natureza, e € 0 que 6 (for, ma) e como substincii consiste em ser 0 que € ela’ mes: ma (fornia), por isso 6 sempre forma, que é, sem varia Ges no tempo © no Espace. Désse Modo, pode se, onto, distinguir: a esséncia, en- quanio qliididade, niio ¢ exstente como é; enquanto for. ma in re (natureza), no ser existente, ¢ distinta da forma enquanto natureza formal; ¢ enquanto substaneia do ser cronotipico & distinta de enquanto substéncia do ser for- mal. Portanto, se se disser que existir € 86 0 cronotopicn, € mister demonstrar apoditicamente, que n3o pode haver outzo modo de existir que mio éste, “IE como tal € impos: sivel de ser feito, e, ademais, 6 incongriionte afirmar que nao ha outros mocios dle ser Sendo os eronotépices, quan- do nossas idéias nao se cuo topicamente, embora se déer, no acto de pensar, cronologicamente, ¢'os esquemas ue slcangamos, como’ o de triingulo, 0 de mimero tes nao tem cronotopicidacle — afirmar, pols, que s6 ba séres cro- nolépicos cometer os mesmds erros que anotamos 20 examinar as {ess prinetpais dos materialistas. Simplifica-se, assim, a polémica, colocando-se com nitidez 0 que € cssencin ¢ existéncia, Quanto a espécie de Gistingio que se pede dur entre ambas, é materia que tra- tamos em nosso “Ontologis € Cosmologia” e, sobretudo, em nosso “Probleynitiea onde estudamos 1 Filosofia Concreta”, na parte ssencia @ Existéncia”, Deixames de 4 poléniica, porque no € ela propriamen- ie erros perigosos, mas, sim, de novas es: peculagdes proveitosas 40 saber filoséfico, Contudo, hi um érro que é mister apontar: eonsiste em afinmar simplesmente que no ser contingente esséncia @ existéncia se identifican Se esséncia ¢ existOnein se identificassem no ser con: fingente, essoncia seria 0 mesmo, absolutamente © mes: mo, gute existncis nete, c, neste caso, seria um ser neces: piltiuncioanacrrtmn ones ORIGEM DOS GRANDES BRROS FILO! Soricos 143, 140 ¢ ndo' cortingente, o atte seria absurdo. O ser eoritiit gente teria uma existéncia e um ser ilimitados, 0 que nao tem, £ verdade que Suarez afirma que nao haveria ne- inhum inccnveniente em admitila como contingente e finita. '- Outros: aiegam que conceltos adequadamente distin tos devem correspender a realidades realmente distintas. ¥ 0 que se di quanto aos conceitos de esséncia ¢ existey cia, “Os que nao aceitam essa tese, afirmam que rao hi exclusiio entre ésses conceitos. Ao’ contrario, um inmplica © outro: de si a esséncia se refere & existéncia e a existén- cia & essencia. Alegam outros que a esséncia sé limita a existéncia se existir, portanto ndo hd, distingdo real entre esstncia e existénela, Mas os defensores da distingao real af.rmam que a esséncia tem sua realidade propria, que consiste em Sua ordenagao & existéncia. © que € inegavel é que hd uma distinglio de razio en- tre 0s conceitos de essencia e de existéncia. Contudo, € impossivel conceber uma existéncla sem esséncia, Nem tampouco uma esséncia que seja natureza, forma in re, ¢ substancla, que nao seja oxistente, - A esséneia, enquanto possibilidade no ser, nfo € exis- tente ainda de modo natural, nem formal in re, nem subs- tancial. Como tais, sem duvida, € exisiente, e exis:ir im- plica a existencializagdo da esséncia, Contudo, a essen- cia, tomada apenas eidéticamente, na ordem do ser, sua existéncia sé poderia ser considerada de modo formal, mas ependente e especificamente limitada, nao por limi- tacdes reais-reais, Seria, portanto, ilimitada, especifica- mente, enquanto 6 0 que é, mas limitadamente, enquanto especificidade outra que outras, Déste modo, a identifi. cago entre esséncia e existéncia no seria absolutsmente simples, mss a que se dé entre a esséneia de um se’ espe- cificamente limitado num existir limitado, especifieamen- te, o que resolveria tédas as dificuldades, mostrando a va- lidez de cada uma das posigdes, entre os tomistas, que afirmam a distingao real de ésséncia e existéncia, e a dos escotistas, que admitem apenas uma distinggo formal, e a dos suarezistas, que afirmam haver apengs uma distin- gio de razo, Quanto as posiges dos chamados existencialistas, és- tes inchiem naquelas posigdes, contudo no oferevem a TECKCTTCKC TC CCC LLELLLLVRLVRRRRTALLLLLE QELELELELELELELELLVULELE ELE LER EELECOS 1st MARIO FERREIRA DOS SANTOS clareza de altitude © de doutrina apresentadas por aque: las. + Dizerse, pois, que a esséneia e a existéncia sempre se identifica simplesmente, de qualquer modo que se apresentum, @ unt Cro. Neste caso, sim, haveria absur- do, porque’ entio o ser consingente seria absolutamente necessirie de todo o sempre. AS magas, que eram pos- siveis num determinado momento histéri¢o do nosso pla- neta, teriam existido cronotépicamente sempre, 0 que se- ria absurdo, ‘Vé-se claramente que levar o tema da esséneia e da existéncia désse modo precipita, inevitavelmente, o pensa- mento no abismo do absurdo, 0 que se pode evitar pela maneira concreta como expusemos, que permite compre- ender claramente a distingac que ha entre esséncia e exis- téncia. DO NAO-SER, Eis um dos conceitos negativos, cuja especulagio pro- vocou 0 advento de intimeros erros na Filosofia, Entende-se por nio ser a negagdo de ser, a auséncia do ser. Ao falar-se de niowser ha duas referéneias: 1) 0 que nao existe em acto; 2) 0 que nao € apto para existir. Assim, pode-se falar na nfo existéncia do filho, desta crlanca que ora nasce, e falarfamos no primeiro caso, ou entao de algo impossivel de existir, como 0 quadrado-re- dondo, da impossibilidade. O térme mais usado para referirse a0 néo-ser é 0 térmo nada (nihilum), de tanto uso na Filosofia era todos os tempos. Entendese nada de varias maneiras: 1) Nihilum abselutum, de qualquer, ser, nada absoluto; auséncia total e absoluta 2) Nada relative = a auséncia de um determinado modo de ser, ou a auséncia de certo ser. £ tomado nega- tivamente, quando se trata de mera niio presenen de ser, © positivamente, quando se refere & irapossibilidade de ser. 3) Nada absoluto parcial = seria a total auséacia de ser apenas em parte, como 0 vieuo dos atomistas adina- micos; 4) © Meon = o nao-ser, que é a poténcia pura do acto puro, que estudamos en! Filosofia Conereta (4. edi- ao). Impée-se a distingdo entre alguns cone: dos, tais como; ‘os muito usa- ___caréneia, que 6 a auséncia de ser na coisa. x impos- sivel quando sua auséncia nfo pede nfo-ser, como a.ra- ty 136 MARLO FRIREIRA BOS SANTOS cionalidade no he existir como a cs ie; necessiria, se a coisa nado poderia cia; contingente, se a coisa poderia assim mesino existix, como 2 eigneia no homem, 0 Ea auséneia de ser devido & coisa, como ULITL Ko homom, «pie normalmente deve ter visio. Diz-se que un ente de razdo aquéle que so pode dar- sse ma menic. Mus o ente de razio pode ter um funda- mento na ordem real, quumndo ha, na coisa, algo real que permite, por abstraccie, aleangar o ente de razdo. As- sim, a humanidade ¢ uu ente de raze, mas tem funda~ mento ren] nos homens, Ora, 0 nada € um ente de razdo e pode ter fundamento na coisa (in re), comu sv ve com a eegueira, como as tre- vas, a sombra, que site entes que tém fundamento nas coisas, por auséneia de algo real, Dar ao nada uma entiade real em si mesmo, eis 0 tremendo Grro em que cairn muitos fildsotos, © nihilismo filos6fico fundamenta.se no nada como algo real em si mesmo. A filosofia positiva se fundamen: ta na realidade do ser; a filosofia negativista fundamenta- se na realidade do natia, v toré sempre que eroprestar a0 nada poder, o que € adsurdo. Gorgias, por exemplo, na antiguidade, negava a realidade do ser. Alguns existen- clalistas modcrnos, nsio sabcndo especular em torno do nada, terminaram por darThe uma realidade propria, Hegel chegou a identificé-lo com o ser, com a dife. renga de que 0 ser tornase em nada, enquanto o nada torna'se em ser, dislinguindo-se apenas pela intencionalida- de, pois enquanto um ‘ende para ser, outro tende para o nau-ser. © nihilisme niio sc manifesta apenas na Metafisica, mas tambem na I:lica, ao negar os valores; na Politica, a0 negar os fundamentos socials, ete. Herdclito, entre og kregos, reduzitt o sev ao (ranssunte, a0 deixar-deser-o-que- cimediatainenieivixa-de-ser, a0 devir puro, o que 6 alir- mar, como reatidace, » mida, como 0 expos Aristételes, pois, no fundo, a sua filosofia era negativista, Hegel, cm face da contradigio que seu pensamento levava, tetmina por alivmar a reelidade ¢ a compatibil dade dos contraditéries, Arirma apenas, e ndo demons- on bos GRA! 437 tra, argumenta © nao demonstra: “o puro ser e o puro nada sao idénticos”, e “ser é 0 que é € nilo €, 6 0 proprio nio-ser”. E como argumenta? Ser, tomado em si mes- mo, ¢ indeterminado, Ora, nada é indeterminado; logo, ser é nada (1 Hste é o silogismo famoso de He’ gel. Logicamente ésse silogismo ¢ falho, e peca contra as regras elementares da Logica. le expressa: que ser per- tence & ordem dos indeterminados e nada tambén per. tence amesma ordem, Dai conelui que siio idénticos, ‘Te- mos um silogismo: PM s—M S—P Ora, esta forma pertence & segunda figura e, nesta, se ambas as premissas sdo afirmativas, nZo € possfvel con’ cluir nada, porque o térmo médio nunca é tomado em sua universalidade, O ser ¢ nada pederiam ser ambos inde- terminados, sem serern idénticos por isso. Erro elemen: tar de Logica, ‘Heidegger, em sua fase existencialista, afirmava que do nada se féz 0 ser (ex nihilo ens fit), © verdace que, posteriormente, abandonou essa concepgo. Mas produ. ziu ela nas mentes inadvertidas e deficientes uma flora- ho espantosa die erros © mais erros. ‘Um literato de grande notoriedade, o sr, Jean-Paul Sartre, que também escreve sdbre Filosofia, tomou a po: sigao de Heidegger, e nela ainda se conserva: o nada 6 em si ser, afirma, 0 ser 6 em si nada, Gairemos, assim, na concepeo parmenidica? Con- trapondo a afirmacao do nada sé poderemos admiti: 0 ser plene de Parménides? Nao; € 0 que veremos em breve, depois de sancarmos devidamente o pensamento em t6rn0 de um teme de tan- ta importincia CKKOKKCKCKKC CK CEC CII CII GCC eee PECULELEUL ULL ELLE LLL L ULE LER ERE S ES ESS SER, NAOSER E PRIVAGAO Demonsiramos de modo apoditica, em Filosofia Con ereta, quo entre ser ¢ nada aasolute ndo ha meio térmo, pois menos que ser é nea, e mais que nada é ser. N&O 50 diga que S10 apenss conesites nossos, pois 0 que se entende por ser Gu aliemagio da presenca, e a negagao desta € auséncia, ¢ nada mais. De modo aigum poderia. mos encontrar um meio-térmo entre o nada absoluto, a auséneia total de ser, ¢ presenga, porque qualquer dife- Tenca jd seria preschen ¢, porlanto, ser. Conseqiiente- mente, ser ¢ sor. Contudo, a nossa éxperiéneia nos com: prova que ha austncias, e 6 nome genérice de tals ausén- cias 6 privagao. Come salientava Nicolau de Cusa, nic dera Aristételes @ Gevida inportincia que merecia’o te- na da privagio. Mas esta, aotese, tem de ser de algu- ma coisa (porlanto, ser), porque privagdo de nada é nada de privagio. conccile cie privagdo implica, pois, o ser, € fundameniase no voncvite de nio-ser relative, do nada relativo, e nio do nada ubsoluto. Ora, os entes’ de nossa experiéicia, alm de coniingentes, ou seja, além de ne cessitarem de tria causa eficiente que os faga, da qual de. pendem cssencial ¢ realmenta, revelam que $40 privados de algumas perfeicdes, pois ndo sho tudo quanto 0 ser pode ser. A privacao de perieigho revela, assim, que si0 les constiluidos da presenga de um ser, que é por sua veg, privado cv uma periviesio outra de ser. Yodo ser fi nito, que é 0 scr continyenia, agirma uma presenga, ¢ tam: bém a auséncia de perieiciws de ser. Foi precisamente essa realidade dos séres finitos e contingentes, que levou @ muitos filGsofos « especularem em térno do nao-ser, do nada. Afirmar que tais séres so nada, porque revelam privacdo, ott afirmar que s8o apenas sex, sic duas posi qOes polares extremmadns, falsas, porque ima nega © que & outra afirnia com base veal, "Os séres finitos no sio apenas ser (pois 0 sor, que é apenas ser, ¢ 0 Ser Supremo, ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 139 como 0 demonstrames em Filosofia Conereta), nem tam- pouco sio apenas nada, privagio, porque uma privagio absoluia seria um nada’ absolute. Déste modo, 03 séres finitos revelam uma hibridez de ser e de privagio. Ora, © ser finito 6, tanto o actual como 0 potencial, € privado de certas perfeigdes. Destas, algumas poderdo actuali- zar-se, que siio as suas possibilidades, outras no podero, porque sio desproporcionadas & sua’natureza, ou espécie, OU qilididade, etc. Remontando ao que estudamcs ante- riormente, toda privacao, que nfo é devida & natuceza da coisa, nao Ihe é uma deficiéncia no verdadeiro sentido, pols no pertence A conveniéncia da sua natureza, como & pedra nao ter olhos para ver, Mas hé auséncias que po- dem actualizarse, que sio as possibilidades proporciona das a natureza da coisa. Essa privagdo € ou pode ser apenas passageira, enquanto aquela é permanents € ne- cessaria, Compreendendo-se assim, é um principio ontoldgico quo ser € ser; ou seja, que ser n&o pode, ao mesmo tem- Bo, € Sob o mesmo aspecto, nao ser. O predicado ser per- tence A natureza do sujeito de modo necessério. Se tal juizo 6 por alguns julgado tautoldgico, basta que nos Iem- bremos daqueles fildsofos, que afirmat que ser é nao ser, para que desde logo compreendamos que desaparece a tautologia, porque 0 que se predica do sujeito ¢ cue éste se conserva ou permanece de certo modo em sua nature- za. No juizo 0 ser 6 ser, 0 sujeito 6 tomado corro algu- ma coisa (aliquid), ¢ 0 predicado afirma que é apto para existir, que algo é apto para existir. Revela, ademais, és- se julzo, cue 0 que 6 cogitado corresponde’ao que é na realidade, ‘pols € cogitade que 0 que chamamos alguma coisa 6 apto para existir, Fssa correlagio entre a ordem da cogitagio e a orem da realidade é de maxima impor. iancia. Em suma, tal juizo correspond aos seguintes: & afirma-se que é, ou ao que convém algo, algo Ih> 6 afir- mado, Todo ser € 0 que é O que nio é, mio & 0 que & tem uma esséneia, Todo ser tem uma’natarem deter- mminada que 0 constitui, etc. que Porque 0 ser é ser, 0 ser nao nio-ser. Ser 6 0 que é apto para existir, O que mio é apte para existir nao ¢ ser. Conseqiientemente, ser nao € nio- ser. 140 MALIO PHEREIRA DOS SANTOS guns [ilosotos menores, preoeupados com 0 devir, com a constante mutagiio das’ ¢oisas e as transformagées, chegaram a ufirmar que o ser 6 devir, ou algo que cons. tantemente deixt. de ser a que 6 para ser 0 que nao €. Desde o momenty que se compreenda que o devi (vir~ suscr) das coisas 1 passapem de um modo de ser para outro modo de scr, © compreensivel, que 0 que é, e deixa Ge ser o que &, para ser outro modo de ser, accidental ou substancial, no priuiciro caso, sofrendo wma mutagao apenas accidental 0, no sepimdo, uma substancial, trans. formando se (mudanco de forma) para outro, tudo isso acontece com alo que 6, © nio eom 0 que nao 6 (nada). © dovir de modo algun anulco ser, Sem o ser, € impos: sivel compreender o devir, nem poderia darse objective mente, pois ufirmar.se-la que 0 nada, a ausénela de ser, tomase outro sor. Ora, « aussncia de ser é nada, e come © nadia poderia perder scr, « cdquisir ser, se € nada e nao tem ser? Désse modo, os lefensores de iais idéias, caem, inevitavelmente, no abstirdo, ¢ afirmando assim o devin, afirmam apenas o nada; ov seja, que oO ser é nada, OW que 0 nada é ser, e, neste caso, 0 nada, sendo ser, 6 ser, 0 Que € afirmar o sur, Alirma: o devir € allrmar 0 ser, @ nio O nada. Esses fildsofos, que faze tais eonfusoes, re velam 0 estado deploravel de sua mente, Nao ha duvida que a mente filesctica (mens philesophica) ede uma ra Fidade espantosa, contudo no podemos perdoar que ho- mens de tanta notoriedade conielam tais erros. ‘Um grande érxo ¢ de funestas consegiiéncias tem sido © de julgar que o devir & outea coisa que ser. E Este decorre do érro de julgar que hé meio entre ser ¢ nads Na verdade: © que dev que dev 6 alguna evisa cue devém, e 1» Bois, neste caso, nd haveria devir. nada __ Apassagem de wm mode de ser accidental ou substan- cial para outre nio é ‘0 do aniquilamento do ser, mas de um mode de sev, «ue deixa de ser de certo modo, para vir a ser, de mod actual o que ainda nao era actual mente, mas ja era potencialmente, O ente, enguante cate, (© 6 ndio-ente, ORIGEN DOS GRANDES ERROS PILOSGFICOS 14) ser, que fem uma quail qualidade. Se se afirma a presenga de algo em alge, no se pode afirmar a auséncia do mesmo no mesmo. 0 pode nie ter essa Em suma: quando se predica a presence, é contradi- t6rio predicar a auséncia sob 0 mesmo aspecto e simulti- neamente. A posse a privacy do mesmo no mestao e, simulta neamente, 6 contraditério. (Diz-se simultaneamente, por que em cutro momento poderia nio o ter). Désse modo, © ser que tem uma qualidade, enquanto tem essa qualidade, no pode nio tla, Se se disser: 9 que tem existéncia ndo pode nao ter existéncia, em referéncia a um ser contingente, pode nao valido, porque & passivel de nao ter existéncia, | Mas se se disser: 0 que tem existéncia, enquanto tem existéneia, nio pode nio ter existéncia, dizemos verdade. Dai se conclui a formula: 8 impossivel efirmer e ne- gar 0 mesmo simultaneamente do mesmo, ‘Temos, aqui, o enunciado do principio de néo-con- tradicio. O enunciado de Parménides: 0 que ¢, & 0 qué no 6, ndo é, pode ser acoimado de tautoldgico, Mas di- zerse 0 que € ndo-ente, evita essa acusagao. O enun* ciado classico dos medievalistas é: 6 impossivel algo ser, e simultaneamente, e sob 0 mesmo aspecto, no sor. Es te enunciado, como se vé, reduz-se & Lérmula que propu- semos. nte, 9 pH ‘ipio de Demonstra-se, assim, apod nao-contradi¢ao. Contudo, ao comentar @ férmuta clissica dos medie- valistas, charnou Kant a atengio para o facto de epresen: tar uma modal (impossivel €,..), € temporalidade (si- multineamente), que tiraria © valor analitico do juizo. Contudo, é mister considerar que a modal nio indica uma certeza da mente apenas, mas uma certeza que decorre da objectividade da coisa (pois 0 ser afirma e nao nega). Ademais, simultaneamente no quer dizer apenas tempo- ralmente, mzs essencialmente, 0 que nao o restringe ape- nas ao tempo. O enunciado, que oferecemos, nao contém 08 defeitos acusados por Kant. FOECCCKCCKE CCK KKK KCCI ITT Te == = ” Pd Td a = a at a i nat w a DD a aD aD a al ed a a a ad = = ed = = al i ad 142, MARIO HUREKIA DOS SANTOS Contucio, bi os que alirmam que algo é, e algo nao & simultancamente © so} o mesmo aspecto.’ Nesse caso, desdobrando-se crn dois juizos: algo €, ¢ algo nao é, ambos juizos seriam falsos, pois 0 primeiro'o seria porque seria Valido o segundo, © 0 seviundo, por que seria valido 0 pri- meiro. Fsse torceisro termo, que é e ndo-<, & impossivel e ab- surdo, porque nao hi niciy-irmo entre ser e nada, pois menos que ser é nada © mais que nada 6 ser. Ademais se a algo que &, predicamoy que nfo é 0 negative seria positivo, porgia’ algo 6 quando nao €, Dai v emmeiido Jogico verdadeiro: algo de algo ou & afirmado ow é negado, Nao ba lugar para uma terceira posigao. Nola critica: Foran sempre improcedentes os argu mentos daqueles que combatem 0 principio de ndo-contra dicho. Muttos apegavamse % formula parmenidica, ow fros.cometeram a ceplorivel confusio entre ser e nada. 4: © proprio concuito de ser ¢ a afizmagdo que néle ha o gue permite extrair o principio de ndo-contradigao e, dés- te, 0 de identidade e 6 do terseiroexcluido. Nao se fun- aa ésse principio em outro, ¢ nds o aleangamos pela and- lise do proprio conceilo de’ ser, e do que 0 ser é. Bev. Gente de per si, © primetzo, porque deeorte do. proprio F.da conjugacio dos dois digao © do de identidade, conohuit © que € nao pode, sinultineamente, ¢ sob 0 mesmo aspecto, ser o que nao ¢, porque € 0 que & a PRINCIPIO DE RAZAO SUFICIENTE E OS ERROS CORRESPONDENTES ‘Vem 0 térmo raziio, do latim ratio, da expressio usa- da pelos contabilistas ¢ que se referla ao livro correspon dente do mesmo nome. Como nesse livro eram langados englobadamente os efeitos contdbeis segundo a sua espe- cificidade, serviu éle acs fildsofos para indicar a faculda- de intelectiva discursiva do homem. E no é de admirar que assim f6sse, porque a Filosofia, em seus primérdios, Tetirou da terminologia popular os voeabulos, com os quais, construiu 0 seu universo de discurse. Nés hoje, vamos ‘used-los no latim e no grego, e nao na linguagem popu- lar, ¢ essa € a Tazao porque perdemos a nogdo da orlgem de tais térmos, que nos parecem especialmente construi- dos para apentar as nossas intencionalidades intelectuais. Contudo, ésse térmo nao tomou afi®'# esse sentido, mas também o de causa que motiva algug acto. Assim, Gizse que a raxio de ser de alguma coisa € 0 que causa a sua exisiéncia, Também se emproga para signifiear a ilididade, as vézes a natureza, a espécie, € até a forma das coisas Na verdade, tomado in lato sensu, 0 termo tem. 0 sig- nificedo de o por meio do qual o ente é 0 que é 3 indi ca, também, a ordem da esséneia de alguma coisa (senti- do mais amplo), a ordem da existéneia, a ordem da sua inteligibilidade ou da sua verdade. Cortesponde 0 térmo ratio ao térmo grego logos. Empregouse muito na Filosofia a expresso raziio suficiente, A intencionalidade dos filésofos, em tal em- prége, era referirse ao que 6 requerido para uma c ser 0 que é na ordem em que é, © chamowse de rario in- suficiente quando nao atingia tal requerimento. ‘Tembém se tomaram a razdo sufieiente e a raziio insuffeiente em ——$—_—__ = waa DOS SANTOS sentido absolute © vm sentido relative, No primeiro ca- so, diz-se quando atencc plenamente ao ser; no segundo, quando apenas 0 utende parcialmente. Como as cuusas cle wna coisa sio ou intrinsecas ou extrinseeas, dividhise 9 ray40 suficiente em intrinseca ou exirinsiest. Assity 2 cust formal @ a material dayam uma razio inlrinseca do ser, e a eficiente, a final, a exem- plar, uma ra: 0 exirinse Como o mucia. acl pode e, conseatientemente, nic faz nada, porgite Laver uuplica poder, nem se transtnuta em nada porque ¢ nada o que hd, o que 6, 0 que existe, deve ter uma causa suficienle pera ser o que 6, € nao sero que néio é. Dai o cnunciado eldssico do principio de ra aio suliciente: Nada pode ser sem a sua razdo suficiente. E chamowse de principio, devido & sua necessidade e ab- solutuidade, pois como algo poderia ser se nao tivesse ne nhuma razio para ser? . Na esséncia, incluem-se nde $6 as notas essenciais, como as propriedades, © zté alguns accidentes. Dai o enunelado chissico: Qualyuer que tenha uma esséncia de- terminada, tem de ter uma razio suficiente de tal essén- cla deter! ‘Temos, equi, 0 emprégo do principio de razio stticionte quant) x ordem da esséncia, mbém o yue existe tem uma razio sneia, Fa apli ficiente da sua ute i ordem da existéncia, Jo tem uma razio sufieiente pela qual pode ser conhecido. 1 a aplicagio & ordem da inteligini lidade. ‘Tambcm se cxpressa do seguinte modo: todo jui- zo verdadelro tent umn raza suficiente da sua verdade, Dando se wn cnunciacs amplo, pode aizer-se © que quer qt seja, que existe ou) que pode ser en- tendido, tem de ter, inteinseea ou extrinsecamente (em sba emergéncia ou cm sua predisponéncia), parcial, ou to- falmente, wnt raze suficiente de sua esséncia, de sua existéncia ou de sun lutctigibilidade, Em suma: cis o que ¢ © principio de xazio suficiente ORIGEM DOS GRANDES ERROS FELASONICOS 14g Contudo, muitos filésotos, que nio sabem o quo élo soja, e que Géle constroem uma caricatura, apresentam seus inapro- priados argumentos para combaté-o. Vejamos 0 que pensam sobre éle. Afirmélo no todo ou em perte, ou negé-lo no todo ow em parte, tem sido a atitude tomada por muitos fit6- sofos através dos tempos. Propriamente, os gregos ndo 0 enunciaram, mas impli- citamente ja estava contido no pensamento positive, que vem desde’ Pitégoras, através de Sécrates, Platio ¢ Aristd- teles. Também nio 0 formularam, no inicio, 05 escolésticos. Foi precisamente Leibnitz quem 0 formulou como funda- mental da Metafisica, junto com o principio de nfo-con- tradico. Kant e os idealistas consideraram, de inicio, como um principio meramente subjectivo, negando-Ihe a necessidade objectiva. Os positivistas e os empiristas ndo negam totalmente © principio de razdo suficiente, mas julgam-no vilido ape- nas no campo dos fenémenos, pois no campo metafisico afirmam ser impossivel estabelecer a sua validez, Contudo, a tese positiva e concreta é @ afirmardo da validez désse principio, tanto em referéncia aos entes ne- cessirios como aos contingentes, e tanto na ordem da es- séncia, como no da existéncia e ho da inteligibllidade, Pela exposigiio que fizemos no inicio, vé-se que ésse prineipio se enuncia de modo universal, porque é impos- sivel o ser sem ume razdo de ser, o que revela sua aniver- salidade e necessidade. F universalissimo, porque se re- fere a toda espécie de ser, e convém a tOda espécie de ser, © convérn necessisiamente, porque, som. éle, nenhum ser teria razio de ser. & evidente na ordem’ da esséncia, porque ttido quanto é tem uma esséneia; na ordem da exis éncia, porque € innpossivel existir o que io tenho razio para tal, e 0 que existe é porque tem uma razo para exis- fir, Unia coisa s6 € inteligivel, enquanto tem ume razio de sua inteligibilidade, pois o nada € ininteligivel. Se 0 ser no tem notas coghoscivels, como conhecé-1? Por outro lado, um juizo ¢ verdadeiro na proporgiio da sua COOCOTETECTCCLUCLLLULLLLALLLR RAT RES SE VELEEELEL EEL ELLE LLL LEE EL ELE ESSS® 146 MANIO PuRICEHEA DOS SANTOS adequagiio, portanta, para que um juizo seja vetdadeiro, ¢ mister que lenha uma razio para tal, Sem qualquer ta- zA0 de Cognuscibilidade, nad poderemos conhecer, £ désse modo um Crro tomélo apenas, regional e par- cialmente, érro que cometeram muitos fildsofos, e que foi acentundy por aljuns, sGhretude autores modérnos, que © reduzem apenas a wn principio légieo. Sao precisamen- te aquéles mesinos autores, que julgam que a Logica é apenas uma expressiio Gx maneiza de funcionar a nossa, mente, sem qualquer possibilidade de ter um fundamento positive e concrete na realidade, da qual o homem, tam- bém perience. Sao uqucles que no sabem distinguir que a idealidade 6 0 rexo das coisas ideais, e que a realidade © nexo das coisas reais, e que também ha uma idealidade Ga realidade ¢ uma renlidece dg idealidade. © CONCEITO POSITIVO E CONCRETO, E O PRAXICO Néclo 6 aquile que repele ay aflrmacdes de um f116s0t0,, Julgando-ag falsas pelo sbmples facto de no poder compre ‘endé-las, Enquanto 0 predicado no constituir algo da esséacia do sujeito, ou Ihe ser absolutamente inadequado, 0 uizo, pelo qual afirmamos ou negamos 0 predicado a0 stijeito, nao € um jufzo apoditico. ‘No juizo apoditice, o predica- Co pertence ou nfo ao sujeito de modo necessario. A de- monstracio, para ser apoditica, e conter a valide que de- ta se exige, tem de fundar-se em ilagdes rigerosamente 16- fleas, decorrentes de juizos apoditicos. Rnguanto nao atingirmos ésse estagio, estamos apenas fundandonos em Juizos contingentes, que no nos podem dar a certeza de- Sejdvel na demonstracao. Para alguém afirmar que o ser infinito inexistente deverd demonstrar, apoditicamente, que a infinitude € um atributo contraditério ao ser. A conclustio nunca pode ter mais extensio nem forga que as premissas sdbre as quais se haseia, Quando um materialista relativista efirma que todos os séres sio relativos, contingentes, finitos, e nega, terml- nantemente, a existéncia de um ser infinito, sua negagdo ceve fundarse numa impossibilidade ontolégica, pozque Jamais do contingente e do limitado poderia afirma> ou hegar o necessdtio e 0 infinito. Para negar a infinitude, de modo apoditico 6 mister que a negagio se fundamente numa impossibilidade absoluta, De premissas contingentes, nfo 6 possivel extrair uma conclusio necesséria. A afirmacao pura e simples da nao existéncia de um ser infinite tem de reduzir-se ao juizo: 148 MAIO PEALINAIRA DOS SANTOS Necessariamente um ser infinito ndo existe por ser_absc- lutamente impossivel. Essa prova nenbum materialista até hoje foi cupay de fazer, nem 0 sera nunca. A oxperiéncia meramenie sensivel nao nos dé senso contingéncins, Os juiivia sensuam, 05 juizos dos sentidos, so todos contingenivs. A experiéncia sensfvel, sendo o fundamento tnico do conhesimento (como o é para mui. tos) nao dard nunca conclusoes necessdrias, senio hipo: teticamente, no xbsolutamente (simpliciter). Os agnés- ticos, que se fundam nessa Limitagao do nosso conheci- mento, sio cocrentes. At ai tém razio na sua atitude, Mas 0 seu érro principia quando negam qualquer outra via cognoseitiva além da sensivel. © nullius est in intellestu quod non prius fuerit in sensu indica apenas que o conheciitiénto ‘humano .comega nos sentidos, nfo, porém, que apenas néles se fundamen- te, o que néles se esgote. Nenhum escolastico de valor aceitou a tese empirista de modo absoluto, mas apenas relativamente, A posicao ¢ empirista-racionalista, e nio apenas empirista, nem apenas racionalista. ‘O conheci- mento comega pelos sentidos. Os dados sensiveis servem- -lhe de materia de exame, mas o intelecte actua sObre éles, para captar juizos, que a experiéncia nao nos da determi. nadamente, mas confusamente, O intelecto tem um pa- pel e o seu actuar ¢ proporcionado & sua natureza, natu- reza néo-material, pois alcanga a generalidades e a con- cellos, que no sfio sensiveis A abstraceilo niio comesa pela géneralizagio, Esta & ‘que se funda na capacidade abstractiva, ‘Tampouco a abs- tracgio se cinge apenas @ generalizagdo. Ela vai além, vai @ construcctio cidética, como o mostramos em nosso "Pratado de Hsquematotogia”. Sobre isso, porém, desejamos tecer ainda alguns co- mentérios, que sio importantes. Nossos concvitos tém um contetido pritico, 0 qual evidencia a influéncia historica. Podiam os rotnénticos afirmar que cada ciclo cultural tem, sua maneira de con: ‘ecber (eoneeptum, conceito) © tempo e 0 espago, como o afirmava Spengler. H realmente hé muito de’ verdado nesses postulsdos. Mas a mente humana néo se einge penas a consiruir esquemes préxicos (histéricos), condis ORIGEM DOS GRANDES BRROS FILOSOFICOS — 149 cionados pelas estructuras verlentes des divezses eonjun- turas, como o pretendem os roménticos, e entre ales os marxistas. Para o homem comum pode ser assim, nio, porém, para 0 {il6sofo espectlativo que segue a linha po: sitiva e concreta. A construcgdo do conceito obedece a uma decantagao préxica constante, pois busce-se a pureza eidética daquele. Assim, quando’ Scheler diz que pru- déncia é uma virtude distinta para o homem hieratico, ou- tra para o aristocrético ¢ outra ainda para o homem de negécios, hd, no sentido préxica (dentro da Filosofia Pré- tica), muito de verdade. Se prudéncia para o hierdtico € 0 saber que penetra no sentido mais profundo’ das col- sas; se para o aristocratico é 0 munirse de armas pode- roses para a defesa eo ataque; se para o homem de negé- clos, € 0 espitito alertado e astucioso para a conducta na vide econémica, embora tudo isso soja verdadeiro, para © fildsofo especulativo, que segue a linha positiva e a con cteta, 0 conceito de prudéncia 6 despojado de téda caps de facticidade, de toda influéncia histérica, de tods viven- cia cultural, tomando-o em sta pureza eidética, como a virtude, que consiste no conhecimento ¢ no emprégo ha- bitual de melos sdequados e aptos para alcancar fins dese- jados. Justos so todos ¢s meios ¢ fins que niio atentem a0 direito humano, considerado apenas como o que é devido & conveniéncia da natureza de uma coisa dinamica- mente considerada, Mas a prudéncia pode estar desassis- tida da justica. No filosofar especulativo, deve-se evitay, de todo mo- do, a influéncia axioantropoldgica, a valorizagao ou desva- Jorizagao que o homem emprests aos factos, segundo os seus interésses personalistas, de grupo, de estamento, ete. © a influéncia que pode exercer sobre éle a estructura cul tural. # inegdvel que tais intluéacias se dio. 8 inegivel que.os mimeros tém uma simbdlica. Mas consideré-los, Por isso mesmo, como portadores, nao s6 de uma simbo: Jizagio, mas de wna significabilidade objectiva, como real- mente portadores do que se hes atribui apenas simbolica- mente, 6 transformélos em valdres em si, ‘Trés pode simbolizar a trindade, mas consideriilo como a Trindade, € darine um valor e uma significabilidade diferente da primeira. COCO CKCCKCEC CC KEK ITT TLLLLALicinannnt TOUR LUC LURE ERLE LER ELE EEE EERE REESE 150 MARIO VERRBIRA DOS SANTOS Se no decorrer da historia, e através dos ciclos culty: rais, os séres humanos revelatam que davam valOres di- versos aos factos © ues seus simbolos, 0 papel do fildsofo especulativo de caricter positivo e concreto consiste em. dar 205 nimeros win papel simbélico, e ndo de simboli- zado, ¢ comprecnler qe siv anélogos, e néo 0 analogado. Feito esse truballio de despojamento’ do simbolo, busca seu significado verdadetro e puro, e compreenderé que trés 6 apenas tris e, enquanta tal, éle o é em todos os c= clos culturais do passacio & do presente, ¢ 0 sera dos do futuro, desde tor 0 sempre para todo o sempre. sse ~taballio de purificagio ¢ de busca cuidadesa do conteido eidético puro dos térmos filoséficos & 0 primeiro passo, e também o principal para cue a filosofia se torne positiva € concreta, ¢ possa, endo, tornar-se, realmente, uma cién- cia e no uma ari¢, uma verdadeira epistéme ¢ nao, uma doxa, uma construcciio séria e poderosa, e nao apenas um. ensaio literdrio ¢ estético. # por esta filosofia que Iutamos, porque s6 ela poder dar 40 homom os beneficios reais, ‘que éle sempre dese- jou. Ao alcancar ésses conceitos, atinge-se ao que é 0 mes. mo e eternamente 0 mesmo para todos, e sempre. So en- tio se atinge a verdadeira positividade e a verdadeira con- crecio, pois ¢ ai que se alcarga'ao que ¢ 0 mesmo em to- dos os tempos. No se tome o térmo concreto apenas no sentido do que € objecto dc um conhecimento sensivel. Concreto é © que eresce com, 0 que 6 positivo e real e 0 que é objec- tiva e real, salva de tida subjectividade, psicoligicamente considerada, despojado ce toda facticidade viveneial. © conceito ém sta pureza eidétiea, O eonceito, como es- quema eidético-noético, como um’ eidos que espirito (nous) constrdi, deve’ ser despojado de téda influén- cia axicantropoldgica, para cue alcance sua pureza eidéti- ca. E que tal € possivel e realizével, demonstramo-lo emt noss0s livros, sobretudo em “Filosofia Conereta”, nas obras que Ihe esto subordiradas. ¥ para Gsse filosofar que devemos partir, e é alean- gando-o que Ihe carcmos aquela seguranga que sempre foi desejada. A Citncia s6 conheceu um real progresso quando comecou a tribalher com conceitos despojados ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS — 15] da facticidade vivencial, FE quem pode negar que ésse tra- balho de despojamento, iniciado por Pitageras, desenvol- vido por Séerates, ampliado por Platao e Aristételes, niio foi cuidadosamente elaborado pelos escolasticos? Ese o leltor quiser um tema de meditagio, que pe- se bem as nossas palavras: nao deve a Ciéncia moderna A escoldstica ésse espirito, que Ihe permitiu penetrar num. campo de realizagbes grandiosas? % comum dizer-se 0 contrério, Multos afirmam que a escoliistica evitou 0 progresso da Ciencia. “Enganam-se, Os escolistices foram sempre um miimero diminuto de fi- losofos, ¢ jamais foram os sous grandes representantes obstdculos ‘a0 desenvolvimento da Ciéneia, Dentre éles, sairam 0s maiores eriadores no campo experimental e no cientifico, ¢ fot o seu espirito filoséfico que presidiu o desenvolvimento do conhecimento por caminhos distin- tos dos da influéncia mistica. Aademais, os maiores cons- tructores da ciéneia moderna foram discipules dos 2scolds- Hoos (1), (2) A Tuta contra a ei@ncla om formagtio no Renascimonto era promovida pelos peripatéticos e milo pelos grandes escoldsticos. Aque- les eram seguidares ineondicionals Ge Aristoteles, que era interpr {ado diferentemente do modo de faz8-lo dos grandes oacoléa:ieos. DAS PROPRIEDADES DO SER, Sabem todos que a Giéncia, devido as suas caracter{s- ticas e ao seu campo de acgao, einge-se a0 conhecimento das propriedades dos entes, como seu estégio mais ele- vado, Contudo, em torno do conceito “de propriedade, as confusées, que se fizeram, geraram muitas outras, que coperaram para o aumento do desprestigio da Filosofia, © para o desenvolvimento de perturbadores confusdes de graves conseqiténcias, Desde Aristoteles, considerase a propriedade um pre- dicado nao essencial de uma coisa, porque, se assim f6sse, nig seria uma propricdade, aigo que pertence a uma coi. Sa, mas algo que ¢ x propria coisa. "A propriedade € algo ‘que € do haver de uma coisa, Entretanto, é algo que se adita a esséncia, algo intimamente conjugado com esta ou aquela, de modo due mio se pode separar nem a pro- priedade da esséncia, nem a esséncia da propriedade. Es- ta flui de inodo necessirio Ga esséncia. Por isso, a de- finigio clissica de propriedade era: predicado nio’ essen- cial, contudo conveniente, necessariamente, a todo seu Sujeito, s6 © sempre, 2, em suma, o que se predica de muito necessiriamente flui da esstneia déstes, como algo que Um predicado pertence < todos os entes de uma de- terminada espccie, simente a éles, e sempre, e temos a propriedade em scu sentido pleno, Contudo, pode pertencer a todos, nao sémente, pois outras espécies pedem também élo, e sempre. Seré um ~redicado de gran menor. 153 As combinagées .possiveis.de predicados so es se guintes: 1). todos — nao tnicamente — semp: 2) todos — danicamente — nao sempre 3) a nao todos:— unicamente — ser sempre , finalmente, 0 modo pleno da prop: 4) 2 todos — tnicamente ~ sempre. PFE ou NEO © que € essencial & propriedade é de ser pradicada como algo que flui de modo necessirio da esséneic. Assim, segundo o exemplo de Aristételes, o ser bipede € um predicado de todos os homens, nao tnicemente, mas sempre. © encanecer ¢ predicado de todos os ho: mens Unicamente, nic sempre. O ser gedmetra nio se predica de todos os homens, mas, sim, apenas do tomem, nem sempre. Como exemplo de propriedade perieita, temos a uni- dade predicada a0 ser, porque todo ser, porque é, é uma unidade, e todos os séres, porque si, so unidade, e $6 © ser pode ser'unidade, porque 0 nada no pode formar uma, e aquéle é sempre tal, porque é ser. Assim os conceitos transcendentais (chamades trans: cendentais, porque so aplicados @ todos os entes), tais como unidade, verdade, bondade (valor), algums coisa (Aliquid), realidade (res) sio propriedades de todos os entes, s6'e sempre. Uma propriedade pode ser metatisiea se nfo se distin- gue realrealmente da esséncia, mas apenas por razio; sera fisica, se real-realmente daquela se distinguir. Como exemplo da primeira, temos os conceitos transcendentais; da segunda, as propriedades da Quimica. B atributo o que se predica de uma coisa, o gue se atribui a uma coisa, e, como tal, pode ser algo predicado accidental ou substancialmente (essencialmente). A pro: priedade é um atributo quando ldgicamente enunciada, Porque € logicamente distinta. CCOCKCKCC LCCC KCC ILULLAVLLLAULAULALITECE TS DULELE LE LUELELELELL LL VELL LEER Rates 154 MARIO RRVIRA, DOS SANTOS Alguns modernos, como cortos existenclalistas, ne- gam a unidate no ser tne hoeem, na realidade humana), Por Ser um coinposio do ser ede ndo-ser, Mas esquecent que um ser é o que €, « nso 60 que nio 6. A unidade re- ferese a0 que 6,60 hae sw 66 pode ser privagio de algo real, porque priviusw de soul @nada de privagas, O nie: -ser do ser finito & apenas o seu limite especifieo, porque tOda espécie indica apenas o que ela 6. A unidade refere- vse & parte positiva, que, como tal, exclui o que nao é ela, Consegiientenwnic, o facie de um ser finite ter algo posi Lvo, © nao ter algo posi unidade. ‘0, no impede que seja Cle uma DA INDIVIDUALIDADE Diz-se que ¢ individuo, 0 que é indivisivel, nio in duum (dois), 0 que nao pode ser dividido em muitos. Ve- rifica-se que uma coisa individua sob um aspecto, nao o & sob outro. Portanto, o verdadeiro conceito de individuo € 0 que, sob uma mesma razio, nie pode ser dividido em muitos, Dizse que ¢ individuo 0 que é tomado de mode a ter © eardcter de individuo, assim se pode individuar determi- hadas coisas, quando tomadas sob uma totalidade indivi- duada, cuja accdo se chama individuagio. © individuo pode ser a parte rei, objectivamente, quando sua indivisibilidade é em si mesmo (indiviso in se), e distinto dos outros (et diviso a quolibet alio), Caraclerizam, pois, a individuagao as seguintes notas: i) Incomunicabilidade — 2 individuagio em sua sin- gularidade, enguanto tal, é incomunicével a outros: Sécra- tes, enquanto Séerates, 6 Sdcrates, 2) _Indivisibilidade — Niio pode ser dividido en par- tes, Segundo a mesma razko. 3) Distinguibilidade — ¥ distinto de qualquer outro, € nio ¢ outro que sf mesmo. 4) Irreductibilidade — O conceito de individuo nio se teduz a0 género nem a espécie. Apenas se afirma que © género ¢ a espécie néle se dio. Contudo, o conceito de individuo nao se reduz & espécie nem ao género. Sdcra- tes, enquanto Sderatos, nio se reduz ao género enimal, ner a diferenca especifica racional. Ha algo que trans: cende ao universal, que é uma 5) diferenga absoluta, como o demonstramos ao es tudar a Analogia, em “Ontologia e Cosmologia”. { i | 156 MARIO BRUNIA DOS SANTOS Chamam-se notas individuantes aquelas que distin- guem um individuo de qualquer outro, Os antigos redu- ziam-na, quanto a0 individuo humano, nos seguintes ver- locus, tempus, stirps, patria, nomem: Haec ea sunt septem, quae non habet unus et alter. Através do tempo, o tems do individue provocou int meros trabalhos lilosifivos, ¢ foi matéria de longas and- lises. Quanto ao tema do individuo, duas sio as posigées genéricas que se podem tomar: 1) que a individuagio ¢ real a parte rei, objectiva- mente; 2) que a individuagzo ¢ apenas um ente de razio. Se alguém se coloca na primeira posicao, terd de bus- car qual © factor de individuacao extra mentis; se se co- loca na segunda, ésse factor seré buseado na mente hu- mana. Partindo-se da singularidade, que 6 evidente na nossa experiéncia, jd que a singularidade ¢ indubitavel para to- dos, esta s¢ mostra de modo evidente. Se se noga a sin gularidade, ter-so-i que afirmar que a tinica realidade € a universal, posigio que nao tomaria nenhum universalis- ta, nem muito menos nenhum dagueles que negam a rea- lidade da universalidade Para Aristoteles, a realidade € composta de singulaxi- dades, Essa ¢ a posigiic de todos que partem do empiris- mo. Essa ¢ a posicio cientiliea modema, ¢ nenaum 116- sofo de valor, em qualquer tempo, negou a realidade da Singularidade. De qualquer modo, admitese que, pelo menos, numéricamente, os entes se distinguem uns dos outros, pois entes da mesma espécie, e que nos parecem idénticos, seriam distintos numeéricamente e, também, se materiais, distintos quanto as condigées cronotspicas. e quanéo se quer precisar qual Esse principio tem de ser in- trinseco a coisa develhe pertencer. Deve ser uma razio pela qttal a coisa se individie, prinefpio radi- Cl, que seia o sett fundamento, de modo que a coisa seja Esse indivi do um s6 e de nenhum outro, © que individualiza Sécrates 0 que podemos apenes predicarihe, ¢ de nenhum outro ente humeno. Ante tais problemas, diverso tem sido ¢ comportamen- to dos fildsofos. FFagamos um resumo das varias posi ‘qual 0 prineipio de individuagio. a) Durando afirmou que era a forma substaacial. Esta, também se diz, foi a posigho de Aviceng e Averréis. 5 que postulam b)_ Para outros, 6 a existincia, o exercicio de ser do ente singular. ¢) Para os tomistas, provém da mstéria e ds quanti dade, Ha entre os tomistas variagdes de relativa impor- tancia. Para o Ferrariense, é materiam signatam quan. titate (a matéria assinalada pela quantidade), pos.cdo que, com variagdes de menor importancia, é aceita por todos os tomistas. @) Para os suarezistas © escotisias, 0 principio da individuacao ¢ a entidade da cvisa, Nao ba na distinto de si mesma que Ihe dé a individuacd mesma em sua propria entidade que se individia, Seu prdprio ser € 0 principio de sua propria individuagio. 2 allrmagao de si mesmo que faz que 0 ente seja individuo. Esta posigio afirmaria que a matéria, apenas assina- Jada pela quantidade, nao seria o factor de individuagao, ‘mas, sim, esta materia, com esta determinagao quantita: tiva, ou éste ser em sua oxistencialidade, ou éste ser pos sivel, enquanto éle mesmo. O que di & individualidade € a propria afirmacao de si mesina. E essa posicao, que ¢ positiva, co: posigo concreta, que ¢ a nossa, r: ‘mos a demonstrar a sua apoditicidade. ssponde melhor & (0 pela qual passare- © que individualiza, em primeiro luga: trinseco ao ser. E que ha de mais intrinseco em um ser que seu préprio ser? Tode ser forma uma unidade, mas © que forma esta unidade € 0 proprio ser co ser. Na summa Theologica”, Iq. 14 a, 1., afizma Tomds de Aqui- COCECT TTT TTCLTTALTIVALTLLLITITITGL TULLE LELELE LLL ELLE LE ELLLELELELE EEE LE SSS 158 MALUO PHILA DOS SANTOS 26: substantia individuatur per seipsam (a substéncia se individtia por si mesma). individuagko, ¢ a haccoeitas (@ qualidade de ser hhaee, isto aqui), que ¢ 0 seu prinefpio, a heceidade. A afirnmwao dx individuncdo no nega a realidade da universulidade, porque a individuagio do ente, enquanto ale, niio implica que pio possua polas em comum com ovtros. Quande nom as ¢ existencialistas negam a universalidade, pela afirmacio da individualidade, com- Provam que apenas confundiram © principio de singular. dade ¢ 0 de individaagio com ¢ factor de universalidade, que éa forms, ssa confusao 6 uma das pseudo-glérias de alguns filésofos modornos, as quais apenas evidenciam fraqueza € no pujanca, DA DISTINGAO Sem diivida, o tema da distingxo ¢ uma das matérias mais importantes para a Filosofia, apesar da oposi¢io de alguns filosofastros, pois Ihes tiraria a possibilidade de construfrem filosofemas a bel-prazer, e os obrigaria a uma disciplina mental, que nao agrada a estetas da filesofia, Também nés, quando jovem, julgamos que a Filoso- fia devia ser feita com Estética, também julgamos que o fildsofo poderia sacrifiear uma idéia pela beleza da frase, © um gosto grandilogiiente valeria mais que uma verdade. Mas tudo isso se debita aos arroubos juvenis, © a matu- ridade (pois a Filosofia é sempre obra de homens inadu- TOs) nos libertou désses exageros afectivos, que_mais nos afastavam do verdadeiro caminho, e aumentavam indteis preocupagées humanas, em vez de nos colocar no roteiro que nos leva a melhores ¢ mais abrigados portos. Nao se pode falar da distingao sem falar da identi- dade, A mente humana funciona polarmente sempre a tudo quanto dé um qualis, a tudo quanto qualifica, sepa- rando, nos extremos, 0 que afirma algo e o que representa ou © éstagio minimo ou até a sua negagio, Nao ha detinigdes da identidade por ser um cenceito simples e primitivo. Contydo, indica éle o cardcter de ser idem, de ser si mesmo. Diz-se, assim, que hé identidade, onde ha permanéncia perduracio, insisténcia do ser em si mesmo. Afirma a identidade que hé conveniéneia de uma coisa consigo mesma. © conceito de identidade implica o de unidade, pois 86 pode ser idem o que é um, EntGo, a identidade seria a Perduragio, @ permanéncia e'a insisténcia do que é um em ‘si mesmo, enquanto tal. Neste sentido, so ha identidade em algo, enquanto unidade em relagao 8 si mesmo, Con- tudo, fala-se na identidade entre duas coisas, que, por sua Nee En a *aquela que apenas se {undamenta na mente; ou melho} 160 MARIO PRIRIRA DOS SANTOS vez, formam, cada, wna unidade outra que a outra. Ora, ‘© conceito de distingio afirma a contraposigio da identi- dade. £ distinto tudo aquilo em que um nao ¢ outro, A distingio implica a negagio, a .ecusa da identidade entre muitos, pois, para haver distingao, é mister, pelo menos, dois. Por isso ©s pitagdricos de terceiro grau diziam que identidace & ui conccilo une, enquanto distinggo é um conceito dua., .S0 hm distingdo onde ha, peto menos, dois. ‘Trés conceitos sie muito usados como sindnimos, em: bora possuam sentidas outros: distingdo, diferenga © di- ‘versidade. HA distingio, onde de outro; ‘ha diferenea, quando os distintos nem sequer especl- ficamente se identificam; :4 simplemente negagiio de um hi diversidade, quando es distintos nem genéricamen- te se identifica, Assim entre uma coisa aqui e outra ali, héwma distin. ¢fo, Ha diferenca entre um cavalo e um homem, por- que especificamente nfo se idertificam, embora genérica- mente se identifiquem como gnimais; entre um homem © uma pedra hd diversidade, porque pertencem a géneros outros. Neste caso, a diferenca ¢ a diversidade séo graus da distingao. N identidade, porém, néo hé graus, Se na primeira hi mais cu menos, na segunda ou ba eu nao ha (aut... aut) A ntidade & indivisivel. E de qne mpdos podem ser as identidades? S6 se poderd dizer que uma identidade 6 real-real, quando se fundar no que ¢ in re, independentemente de uma operagio mental, quando a identidade se dé na coisa realmente, Chanxirsea de igentidade de razio ou légiea que apenas Subemes que mental, fundamenta numa operagao oRIGEM Dos GRANDES ERROS FILOSOFICOS 161 Sera uma identidade especifiea, quando se’ considera apenas a unidade que permanece em si mesma, e a espe cle; genérica, quando 0 genero. Tais modos de identidade so Légicos, porque espéeie ¢ género so entes de razdo. Assim 0 conceito de hemem, de cavalo e de passaro se identifica ne conceito de ani: mal, a0 qual se reduzem de certo modo (genericamente). Costumam os fildsofos falar em idéntidade adequa- dae inadequada, A primeira é a identidade do todo com © todo; a segunda é a conveniéncia entre 0 todo e a parte, ou entre parte e parte, sem identificagiio com 0 todo. As mesmas classificagies so aplicades & distingio. ‘A distingio ¢ reabeal, quando se dé indepeniente- mente da mente humana; é de razito, quando se fundamen- ta apenas na mente. Serd formal, se a sua base fér for mal; fisiea, se fisica; modal, se entre a coisa e um modo de ser dela, como o movimento de um mével ¢ 0 movel Entre @ causa ¢ 0 seu efeito necessirio néo conhece- mos qual a distingdo reat-real que se dé, pois sabemos que © efeito, na sua componénela, contém ainda erf parte as causa, B de certo modo a causa, pois contém ainds suas causas. Ha conhecimento da distingao real-real, quando ha separablitdade, quando esta & evidente. Quanto & distingdo de razio, costumara os esc2lds! cos, Sobretudo os tomistas, dividir em distingio de razio taciocinante e distineao de razi0 raciocinada. Ade rauio raciocinante ¢ aquela distingio que a men- te realiza, e que n&o corresponde a nenhuta fundamento na coisa; a de razio raciocinada é a realizada pela mente com fundamento na coisa, Assim os atributos de Deus sio distinguidos por distingdes de razio raciocinante; a entre a especie e 0 género, de raxdo raciocinada. 4 pri- meira nao tem fundamento na coisa, porque Deus é wn ser simplicissimo, pois nao se pode ter outro conceito coe rente de Deus; enquanto 0 género ¢ a espécie tém funda- mentos na coisa A validez dos exempios, porém, 6 mai na Filosofia, GEELELELELEL EEL ELELLELELLELULELE ELE LEO 162 MAO FE Um dos maiores problemas que surgem aqui é o da separabilidade dos distintos, 0 que nao é matéria desta obra. Pode-se, ainda, falar em distingio actual e distingio virtual: a primeira é « que antecede a qualquer operagio da mente; a sequpd, a que a mente pode captar no que forma a mesina realidade Os escotistus acrescentam ainda outra distingao: a dis- tingae formal ex natura rei, a distingao entre as formali- dades, mas com fundamento realformal, ou seja: entre as formalidades dislintas, hi uma realidade formal de sua distingao, que 6 outra que a fisica. Neste caso, as distingdes formais niio apresentem separabilidade fisica, mas apenas fornal. Temos, aqui, matéria nao pacifica na Filosofia, e as raxdes em favor desta distingao e as contratias foram por nés examinadas em “Ontologia e Cosmologia” © “Filosofia Conereta”, para onde remetemos, © leitor. Entre os graus metatisicos, para os defensores da dis- fingio formal ex natura rei dos escotistas, ba uma distin- do real formal, enquanto para os que nao a aceitam, tal distingao nao ¢ real, mas apenas de razdo raciocinad: ou seja, uma distinedo de razdo, com fundamento na coi sa, Nao nos eabe nesta obra tratar de tal matéria, Mas 0 de que descjamos tratar 6 do preconceito pri- mario de fildsofos modernas, que tém uma aversio, uma ogeriza, uma verdadeira alergia & distingao. E por que? A capacidade de distinguir revela uma acuidade men- tal acima da comuin, pois o homem de mente defieitéria costuma confundir ({undir ecm) o que é distinto e outro. Essa acuidade é que se chama subtileza, e tem cla graus, desde os mais baixos aos mais altos, desde os bem fundados até us subtilezas de quinta-esséneia, tio ridiculas, que tanto mal fizeram ao filosofar. Quando um fildsofo diz que nossos sentidos nos le vam 20 érro © que, portanto, nio podemos confiar ndles como fonte do conhecimento, e que 0 conhecimento huma- ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 163 no, fundando-se em bases tio frégeis, ndo tem valor al- gum, desde logo, quem tem acuidade’mental nota os di- ‘Yersos erros que ressaltam, ao se fazerem algumas distin- goes opertunas. Erram sempre os nossos’ sentidcs ow algumas vézes? Se errassem sempre, so fOsse da cssén- cia dos nossos sentidos nos darem erros, poderia haver al- gum fundamento na tese de tal filésofo, mas se tais ilu. Sdes'se dao algumas vézes, nfo sio elas da esséncia dos sentidos, mas algo que com éles acontece, accidente. Ora, (© que é accidental nao pederia fundar um juizo de neces. sidade, um juizo apoditico. Isto é elementar em Logica. Contudo, 0 filosofastro transforma o jufzo contingente num juizo necessdrio, e conclui que, sempre e necessaria- mente, nossos sentidos levam ao érro. ‘ facil compreender por que pseudos filésofos moder- nos tém tanto horror & distingio, E que ela nao prmi- te que seus erros prossigam, apresentando-se como verda- des. © pechibesque nao é ouro, e as pedras preciosas nfo passam de pedacos de vidro. O embuste € denunciado, a charlatanice é apontada, Em nossas obras, temos apresentado uma farta mes- ‘se désses erros, sofismas que uma simples distingao os - quida. Oferecemos inumeros exemplos, mais de ume cen- tena de erros famosos, em nosso “Métodos Légicos € Dia- lécticos", na parte onde estudamos a distingao ¢ em “Fi- losofias da Afirmacio e da Negagio”. ‘A inabilidade em distinguir, a falta de acuidade men- tal, @ auséncia de subtileza séo'as causas de tantos e re- tumbantes erros, que pernosticamente sho depois procla- mados em tom professoral por pseudos filésofos, e paupér- rimos professores de Fuosotia. DA VERDADE Um clos crros mais lamentdveis, que cometem os fi- Wsofos, afastacos da linha positiva’ e conereta, consiste naquele que se forma em toro do conceito de verdade, Nao faltam cépticos para argumentarem com os erros ¢o- muns dos homens, com a variedade das opinides, com a dificil verificabilidade da adequagio entre os. esquemas mentais © os factos, ¢ nio s40 poucos, ¢ alguns bem famosos, que exclamam: “A verdade de além-dos Pirincus nao é a mesma que a de aquém dos Pirineus”, “o que é vordade aqui é falsidade ali”, “tudo 6 mentira” Gnclusive a afirmaciio de que tudo é mentira, sem duvida), ou “a verdade nao existe”, ou a “verdade oculta-se aos homens, que jamais conseguem ver # beleza da sua face”, ¢ outras semelhantes, Nao vamos repetir 0 que ja’ estudamos sobre éste tema, mas vimos que ¢ conceite de verdade é dual: exige @le uma adequacdo entre dois térmos, dos quais um dé- les, no caso da verdade légica, € 0 intelecto. Quando se usa, porém, o Lérmo verdade, usa-se em sentido restrito; ‘ou soja, no de adequagao intencional entre o intelecto-e coisa, ou entre a coisa e o intelecto. Verdadeiro é o que oferece cssn aciequngio. Contudo, a verdade, tomada se- cundiriamente, esti nes coisas também. Hd a verdade material, aquota que esti na coisa, pois @ ser € verdadeiro, e 0 verdadeito com éle se Mentifica, jé que a falsidade uma caréncia de acequacio. Como demonstramos na “Fi- losotia Concreta”, o nada absoluto & absolutamente falso. Conseqtientemente, ¢ ser § sempre verdadeiro, embora possam nao ser verdadeiras as afirmativas de nossa men- te, por niio se adequarem com a coisa. Tulgava Aristileles que nossa mente € capaz de se adequar a toda renlidade. Essa posigao nao fol, contu- do, a admilida por todos 0s fil6sofos posteriores, pois in ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 165 elusive os escolésticos afirmam que, por si s6, a mente hu- ‘mana nao € capaz, intelectualmente, de aleancar a tédas as verdades, Na filosofia moderna, o racionalismo carte- siano eo intelectualismo levaram & mesma posigio de Aristételes, enquanto Kant reduzia a verdade a3 nossas condigdes subjectives, subordinadas &s prdprias leis aprio- risticas da nossa mente, de modo que umn X desconhecido ultrapassava as possibilidades de nossa mente. Hegel ja aceitava 2 posigdo intelectualista, Outros afirmam que as verdades transcendentais so incognoseivels por nds, enquanto ainda outros, os irracionalistas, voluntazistas, influidos pelo romantismo, negavam a possibilidace hu: mana de verdades intelectuais, mas apenas, quando mui- to, afectivas, vivenciais, ou, entio, meramente utilitérias, como os pragmatistas.' Revivesceram 0 agnosticismo, 0 cepticismo e 0 relativismo neo-protagérico, e muitos, es- timulados pelo romanticismo, chegaram & afirmacio das yerdades culturais, meramente histéricas, como Spengler, ou, influidos pela teoria da “Iuta pela vida” dos evclucio: nistas, a fundéle no infrahumano, como Marx, a toméla dependente do facto econémico, Alguns preferiram o ab- surdo 4 verdade, tenderam para o paradoxo meramente estético, enquanio outros extasiaram-se na contraiigio, como of existencialistas. Embora parega de menor importiincia, 6 precisamente aqui que se claboraram tremendos erros, que estio a dar 08 seus emargos e apodrecidos frutos, Em referéncia ao ser, a verdade é uma propriedade, E 0 € por uma raziio muito simples: o que € de todos, 36 e sempre, ou a algo convém, é uma propriedade. Ora, 0 que ¢, adequase a si mesmo e em si 6 verdadeiro, como Ja demonstramos. O verdadeiro e o ser se identificam. Portanto, 0 verdadeiro é uma propriedade de todo ser. Ademais, todo ser 6 adequado a uma mente, pois ja de- monstramos que todo ser, por ser inteligivel, deve sar en- tendido. S60 ser 6 inteligivel, j que 0 nada abso.uto é ininteligivel. E sempre, porque enquanto o ser ¢, éle 6, portanto, perdurando no ser, sendo, afirma-se como ver- dadeiro. Para aquéles que transformam 0 absurdo numa cate- goria (a absurdidad) e até na suprema, como 0 faz o no- torio escritor francés sr. Jean Paul Sartre, essa doatrina positiva € concreta € rejeitada. Mas rejeitada, como? CCCCC LELTLELELELELELL LL ELLE EEE EL ELE EELS 166 NATO PEREIRA DOS SANTOS Por demonstrayies? Nie, de modo algum; mas por argu mentos carentes de base. O seu argumento fundamental € que v enie Tinilo, uc & 0 homem, € composto de ser e de nio-ser; que calacuerizat 0 Ser NAO é a unidade, mas.a nuo-unidade, devido 4 contradigao Intrinseca do ser, que écomposto de ser ¢ de nae-ser; a bondade nao é uma pro: priedade do ente, porque, por Ser contraditério, € amoral (dia éle), ¢ assim como 2 beleza é 0 coragao do ser na Es- tatica, a’ absurdidade € 0 coragao do ser na Ontologia. Dai decorre tudo © mais que afirmam os seus ensaios fi Joséficos de tanta repercissho entre os desavisados e inad- vertidos Ja mostramos em que consiste o ser eo nao-ser do ente, O nfoser niin consiste na privagio do que é, mas na privagaio do que nio é, O que falta a um ente deter. minado € 0 que nao Ihe pertence, quer especificamente, quer genericamente. ‘Uma caceira nio 6 contraditeria porque nio é uma mesa, nem uma miesa € coatradigiio da eadeira. Na con tradigao, ha a relagio de posse e de privagio, ¢ consiste, portanto, em afirmar, simultaneamente, a posse do mes- mo e a privacio do mesmo. Um ser, que € 0 que é, e nao 60 que nio ¢, afirma a posse do que é, ¢ a privagae do que nao 6, mas o que 6 nao é o mesino, simultaneamente e sob o mesmo aspecto, 0 que no 6, Essa compreensao elementar faltou a ‘ais escritores que, depeis, afirmam que tudo € contraditorio, tudo 6 absurdo, porque se alguma coisa ¢ 0 que ¢, nio é o que nao 6,” E simplesmente de- plorvel que a mente humana chegue a ésses destuleci- mentos, contudo mais deplorayel ainda é a repercursao que tem éles em montis ainda mais deficientes, mais claw dicantes, © que deiram a loucura, Finalmente, bastanos rejeitar um ultimo argumento de alguns que escrevem sdbre Filosofia. Consiste no se- guinte: muitas coisas sao falsas, dizem; ora, o que ¢ falso nao é verdadeiro; logo, muitas coisas ndo sao verdadeiras, So falsas em si? Absolutamente nao; sao falsas enquanto sio erradaments inteligidas. Portanto, muitas coisas sio falsas por accidente, em relagao a outros, no enquanto em si mesmas: ‘Um pouco do uso regular da Logica evitaria erros co- mo éstes, DO BEM E inegivel que tedo ser forma uma unidade, pois um ente sem unidade seria nada, como vimos. E a unidade é afirmagio de si mesma, pols o ser, porque 6, af.rmase, ‘Tende por pedir a si mesino, Hé um verbo latino forma- do de ad e petere, pedir para, dirigir-se para appetere, que eu 0 nosso apetecer, em sentido mats freqtientative. ‘Com ésse verbo, pretendia-se dizer o que, para o qual, alguma coisa tende, por corresponder, de certo modo, & sua con- veniéneia. ‘Assim as raizes da’ drvore tendem para a umi- dade, para a dgua, que € conveniente & sua natureza, co mo tOdas as coisas apetecem o que Ihes é conveniente, 0 que, na linguagem comum, se diz que Ihes 6 hom (o que € um bem), que, per ser conveniente & sua natureza, Ines aumenta 0 que ha de conveniente em si mesmo e, por is- 50, S10 boas. Nao se ter compreendide nessa simplicidade de ex- planagio € de conteudo conceitual o que 6 hom, 0 que é bem, permitiu que muitos fildsofes construissem em tor no déstes térmos intimeras teorias e doutrinassem id¢ias tho destructivas, que elas sO serviram para aumertar ain- da mais a decebeao humana, agravar as suas magoas, ¢ apressar 8 queda no nibilismo e no desesperismo dos inais racos. Nao hé necessidade de longas e aprofundadas expla- nagées sobre éste tema, porque a sua meridiana clareza permite desde logo separar o joio do trigo, e mostrar em que erros fundamentais se baseiam aquéles que tudo fazem para aumentar o pessimismo humano e enfastiar os ho- mens da vida. Na Economia, chama-se bem a tudo quanto pode sa tisfazer uma necessidade, tomado aqui éste térmo no sen tido da caréncia, que ¢ mister preencher, no desejo que é 168 MARIO FI ERREIRA DOS SANTOS mister aplacar, na aus¢ncia dos meios indispensdveis & con- servagao do individue. Bem econdmico ¢ especificamen- te aquéle bem que & produzido pela acgao inteligente (tra- palho) do homem. Assim o ar é um bem, no 6, porém econdmico, porque nao ¢ produzide pelo homem, que a Ye normubncule se serve, de modo ilimitado, jd due é wn bem ilimitado, Todo ser apetece, pois, a si mesmo, o que é eviden- cindo pela unidade, que ainda afirma uma tensio de si mesma, que unifica’e fortalece a si mesma. Désse modo, como todo ser € unidade ¢ toda unidade 6 ser, todo ser € um bem (pelo menos para si mesmo) Conseqiientemente, era uma decorréncia rigorosa dos es. coldsticos afirmarem que bonum et ens convertuntur, que ‘bem (bom) e enie se convertem, e metafisicamente, como coneeitos transcencentais, de certo modo se univocam. Por outro lado, tna unidade, um ser pode ser apeteci. do por outro, por Ihe convir & sua natureza dinmicamen- te considerada o, portanto, ser um bem para outro. Nos séres inteligentes, pode darse a consciéneia (saber com saber) do bem apetecido. Bo homem, como ser intell- gente, tem conseiéneia do que Ihe seria bom, que e som- pre a’ completude do que the falta, a obtencio do que ca. Tece, a incorporagiio do que é mister & sua conservagao, & posse do que Ihe aumentaria o ténus vital e © ténus inte- ectual ¢ afectivo, etc. O horiem tem consciéncia do bem, € nada Ihe serin melhor que a imerso ou a posse do Ser Supremo, que lite splacaria todos os desejos. Como nao ¢ possivel admitirse que o mais venha do menos, pois, entno, 0 mua seria eriador do ser, 0 que é absurdo, todas as perfeicoos, que sio naturaimente pre. senga ¢ nic austncit de scr, devem estar contidas, desde todo sempre, no ser, que ¢ o principio de todos os outros, chamem-no matéria, cnergia eterna (como a chamam os soviéticos hoje), espirite cu outro nome qualquer. O que importa 6 que tal ser € possuidor de todas as perfeicoes actualizadas ontem, acitalizadas hoje e actualizaveis pa- Tao futuro, Tédas clis estio contidas no poder daquele ser, na sua omipotencia, porque ée pode tudo quanto pode ser, e € tudo, perfectivamente, tOdas as perfeicdes jd actualizadas ¢ as actunlizdvets, porque, néle, ser, ter, ha- ver € poder se identifiewm, Consegtientemente, 'é ie 0 ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 169 bem supremo, porque éle daria a solugio a tédas cs nos- sas. caréncias € 6, neste sentido, que as religides superio- Tes 0 concebem. Por isso é que o chamam de bem su- premo. E bem tudo quanto € apetecido enquanto se apetece, ou é apetecido. Como todo ser € apetecido, ja vimos, & @e bom. Bom é de todos os séres, sé dos séres, porque © nada, enquanto nada, nao pode ser objecto de ape:éncia, porque ¢ nada; e é sempre, por que sempre o ene apetece algum bem. Consegitentemente, 0 bom é uma propriedade trans- cendental do ser, pois ‘contém tudo quanto se requer ne- cessiriamente numa propriedade. Alguém poderd dizer, e muitos o dizem, que um ser pode desejar a sua destruigdo, e, portanto, a negacio do seu bem, 0 que é evidenciado & nossa experiéncia d2 raui tas maneiras, Negar tais factos seria estulticie, Nao de- monstram que nao hé apeténcia ac bem, porque € julgan- do v sua destruicZo um bem, que o ente pode desojéia. quem quisesse 0 mal pelo mal, jé que o mal, sendo 0 con- trario de bem, é a privagéo déste? Ora, o mal encuanto mal, é apenas’ relativo. O bem, contud¢, pode sr abso- Tuto, como 6 0, bem do Ser Supremo, como principio de tédas as coisas. O mal, sendo caréncia de bem, é carén- cia de ser, e € relativo ao ser carecido, Um mal absoluto seria uma caréncia absoluta, seria nada absolute. Como © nada absoluto impossivel, porque h4 o ser, o mal ab- soluto é absurdo, porque afizmaria o nada absolute, que € absurdo. O mal, portanto, € sempre relativo. Ora, 0 mal ¢ ¢ que contraria, perturba, o que obstaciiliza, o que Gestroi o bem apetecido de uma coisa. Desejar a caren- cia pela caréncia, seria desejar’o mal pelo mal; doseyar a carénela, porque a caréncia earece, seria desejar, =ntao, nada, nada desejar. Mas, como o nada absoluto é im: possivel, ésse desejar serd 0 desejar a ausncia de alg ma coisa, que é indesejada. Portanto, desejar o mal pe- Io mal, como 0 afirmam os satanistas, 6 a mesma coisa que desejar a destruicio como libertaglio de uma existe cia dolorosa, considerada insuportavel. Mais adiante, vol- veremos a este ponto, ao examinar e pensarnento dos pe simistas modernos, que encontram seguidores em deficien- tes € morbidos intelectuais de nossa época. et UU UU UL ERLE ELLE LE ELEEEELES 170 MAILIO FIGRIOURA DOS SANTOS Vése, facilmente, que bers nfo é sémente 0 que 6 cap- tado pela cognicao d um ser, nem muito menos o de que se tem conseidncia, bem ¢ que é conveniente & nature- za da coisa consideraia dindmicamente. Dass modo, o3 entes, que wareerm ile coinigao, também apetecem. ben: ftmbera sue apelericia tao sea eognoseitiva. - Apetecem na: turalmente, movem se para des, ordenam-se a dles. Ape. tite é, portato, ou natural, ou'elicito, ou seja, producto de uma deliboragio, ou de Um impeto consciente. Bem 6, pois, 0 perfective que 6 conveniente @ nature. za de alguma coisa dindmicamente considerada. A ausén- cia 6 considerac boa, quando impede a perturbagao da conveniéncia da nuturezi de tal coisa, A auséncia, con siderada como tal, nao ¢ um bem, o bem vai consislir na auséncia de alguma coisa que perturba um bem, que é sempre perfective. O bem ¢, portanto, ser, e no nio-ser. Consegiientemente, o bem 6 verdadeiro, porque, como vimos, ser e verdadeiro se convertem, ‘Um bem sera absoluto, se em si ou segundo a si mes. mo €, por si mesmo, conveniente. Serd relative, quando € conveniente para oulro e ndo para todos. O Ser Su- premo é um bem sbsoluto em si e para outros, enquanto, éste ou aquéle bem so relativos, em relagao aos outvos. Classitieavam os antigos os bens em: bem honesto, aquéle que apertvigoa uma natureza e é conveniente a ela, (© que ha per se conveniencia com @ natureza racional. Bem deleitavel, o que oferece algum deleite, 0 que aquicta_o petite; bem itil, @ que nao o de per si, mas em razdo de outro (henesto ou deleitevel), por meio do qual aque: le € obtido. Se se prestar bem a atengdo, verifica-se que € em téx- no do bem que gizam muitas idéias, ndo sé no campo da Filosofia, como no Ga Economia e, ‘sobretudo, ne da Po- litica. Na maneira de se conceber 0 bem é que se revela 0 optimismo ou 0 pessimismo, 0 desesperismo, 0 nihilism negro, etc, Vejamos pr 16sofos 0 bem. neiramente como foi concebide pelos fi | | | i | ORIGEM DOS GRANDES, ERROS FILOSOFICOS wm 1) Para Plato, o Bem € a suprema afirmagio,.e a suprema afirmagao'é 0 Bem, 0 supremo apetecivel,. do ‘qual tédas as outras coisas participam e sio boas aa pro. porgdo dessa participagao, Em outros térmos, Platao, afirmando que ¢ Bem ¢ a suprema afirmagio e a suprema afirmagio é 0 Bem, afirma que o Bem 6 0 Ser Supremo © Ser Supremo ¢ 6 Bem. Quem no compreende assim, € que nada compreendeu de Platéo. Como todo ser fint to € ser deticiente, e é proficiente na proporgao que ¢, @ deficiente na proporgtio do bern que Ihe falta, seu ser par- ticipa do Ser, ¢ é bom na proporgao dessa participagio, porque ser e bem se converte, 2) Aristételes, que sempre quis considerar Platio do Angulo idealistico, cclocou a bondade na imanéncia das coisas ¢ nao na transcendéncia, Na verdade, julgou dizer outra coisa do que afirmava Platiio, mas apenas disse 0 que ja estava parcialmente in- gluso naquele pensamento, porque o grande discipulo de Socrates nao negava o bem fmanente, por afirmar o bem transcendente, 3) Os neo-plat6nicos, como Plotino, Santo.Agestinho, Pseudo-Dionisio, Proclo, Boécio cutros'deram apenas um novo colorido ao que realmente afirmava Platéo, sem con- tradlizé-lo nem rectificd-lo, 4) A concepgdo de Tomas de Aquino é tamban pla tonica, embora muitos néo aceite essa classificagdo, pois afirma a bondade de ser na proporedo da participecao de ser. 5) No filosofar moderno, de caricter nogativista ¢ abstractista, é que surge 0 pessimismo, que ja se eviden- ciara entre‘es gregos menores. Um dos maiores repre sentantes do pessimismo moderno 6 Schopenhauer. Para Gle, a vida 6 um continuo desejo, cujo érmo € inaczssivel © mundo € vontade, e a realidade de todos os entes é que rerviver. A nica solugdo humana, jé que € impossivel 4 satisfacdo de todos os desejos, é a mortifieagio de todo © desejo. Ed. v. Hartmann, seu discipulo, chegou a atirmar que tudo tende para um ‘suicidio colectivo, Spengler pregou © pessimismo cultural, afirmando a inevitabilidade da de. cadéncia de tOda sociedade humana superior (ciclos oul- 172 MAMIO. PERKEIRA DOS SANTOS turais). Nietesche pregou uma atitude herdica ante 0 pes- simismo que o mundo oferece. Jaspers afirmou que mar- ehamos para unia catistrofe, Heidegger, que o homem tence para a morte, que 6 da sua esséncia, e o sr. Jean- “Paul Sarire afirmon que oda existoneia é tediosa e nau- Seabunda, Para os ¢xistencialistas, como os iltimos, 0 homem 6 um desesperacio, tende para o nada, condenado & morte inevitivel misias, odo ente 6 um obstéculo aos ou existir finito é um mal inevita- Para 0s pes tros, portanto um mal. vel © irrecuperavel ‘Mas, na verdadv, 6 um mal relativo e nao absolut. © érro dos pessimistas € tornar o mal, que ¢ relativo, em absolute. © que & fundamentat no pessimismo ¢ a afirmagio cde que o bem absoluto € inatingivel pelo homem, enquan- to ser finito, até ai ninguém discorda déles. Mas se ad- mitem que seria melhor e até éptime se pudesse o ser hu- mano alcangar © bem absoluto, afirmam, indirectamente, ‘que a suprema felicidade do homem, a sua quietagao f- nal, sua tranqililidade suprema, estaria na posse “désso bem. Nao podesn neyar cue o homem sabe que ésse ber supremo seria a sua solucas, Afitmam, porém, que é inatingivel. Mas aceitando o primeizo postulado, e com- parando.o com o segundo, concluirseia que o homem se- Tin justificado se 9 bem absoluto Ihe fOsse atingivel, actua- lizdvel. 0 que decorre da. répria concepgao pessimista. Mas o defensor de (ais idéias afirma que nao o é. Preci- samente, sio as religides que aflrmam em contrério. Para que uma ou outre posigéo seja verdadeira, é mister demonstrar que, necessariamente, 0 homem 10 pode atingir ae bem absolut, € déle nao pode participar Ge modo @ aquielar xs suas earéncias e satistazer as su apeténcias, Nao pode nenhum pessimista afirmar que ni haja aquiclagies, que no Laja momentos de satisfagio dos apetites © # deleitagio consegliente. Schopenhauer, ‘que tanto gostava do salsichas e de tocar flauta, conhecia © deleite 20 comelas ¢ so furer suas varlagdes’ musicais. ¥ também o sr. Jean-Paul Sartre ao fumar o seu charuto, © 0 sr. Heidegger ao tomar a sua cerveja. ‘A. vida humani nao é um perene sofrimento, uma imerséo absoluta no mal, nem para o maior sofredor. ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 173 Contudo, 0 homem sabe (e © sabe o pessimista tam- bem), que apetece ao que Ihe daria uma plena satistagao, 0 que ihe daria a plena satisfacdo é ser, e nfo nada ab: soluto. Nem o nirvana biidico era uma busca do nada, pois Buda profligou aquéles que afirmavam que ora éle um pessimista e que Daixamente lhe atribulam um desejo de nada absoluto. © nirvana era 0 aniquilamento Jo que impedo @ plenitude da felicidade. © que impede ¢ o limi- te, a determinacio, a frontelra fechada, 0 “muro da ver- gonha”, a cortina de ferro do ser. Sabendo 0 homem o que ihe daria a folicidade, éle te- x4 que admitir que a felicidade ¢ inteligivel. Ora, todo ser 6 inteligivel, ja © demonstramos em “Filosofia Conerota’ ¢ 0 inteligivel é ser, Se a felicidade € inteligivel é sor, em: ora ndo actual para nds, mas potencial. Afirmar os pos: tulados pessimistas como necessdrios, seria afirmar uma absurdidade, porque seria afirmar 0 nada absoluto, negar totalmente 0 ser, negar 0 bem, mesmo relativo, O mal ‘Ao ¢ essencial 20 mundo, mas accidental. Surge ce uma Telacdo, e nao é em si, porque o mal nao € em si, pois ¢ carénela. Ademais, a experiéncia nos comprova que dos males muitos podem ser evitados, ¢ muitos, que eranf julgados inevitaveis, hoje j4 néo o sio mais, © homem pode methorar o mundo e a si mesmo, Ade- mais, verifica-se que uns séo mais tristes que outros, mais infelizes que outros, enquanto outros mais alegres, mais afortunados. Ora, 0 que é escalar ndo 6 da esséncia, por- quo a esséncia nao € escalar, O que ¢ escalar sé pode ser accidental. Portanto, 0 mal ¢ accidental, e o que é accl- dental néo € absolutamente necessdrio. © pessimismo €, portanto, uma tendencia com raizes e causas psicoldgicas. Como posigio filosdfica, é uma mancira deficiente de pensar. Nao se pode negar ao ho- mem a esperanga, e esta é a virtude que consiste em con- fiar em valéres superiores. O que muitos desejam, hoje. € destruéla nes homens, dando vazdo aos seus impulsos mérbidos e vituperaveis. ‘Também néo se justifica um optimismo candido, mas a compreensio da realidade da nossa existéncia, Se 0 ho- mem sabe que ha algo que lhe poderia dar a felicidade desejada, essa esperanga, essa confianga nos valéras su- GULLELLEL ELLER LLL ELE EEL LSE LSS ESOS 174 NAHI: FE periores, tem ume raiz B 6 sobre essa esperanc: que ole devera meditar. c jucles que dizem que o bem € apenas sub- jectivo, respondemos-lics que confundemy bem relative ‘com hem absolute. © resto decorre chs confusdes feitas sobre tema de tanta importancia Os envenenadores de conseiéncias humanas e propug- nadores de tantos erros sio apenas pensadores menores, que jamais meditaram cevidumente sObre o bem, ou déle formaram um conceito falso. & de deplorar, contudo, os maleficios que tis pensucores tem propagado pelo mun- do, E inimeras vidas cm farrapos, e muitas desfeitas io a colheita obtida por esses indignos semeadores. DO FINITO E DO INFINITO Poucos temas, como éste, tém servido tanto &s explo- ragbes filosdficas, onde a confusao tem reinado com mais intensidade ¢ extensiio, e onde as caricaturas tém servido de ponto de referéncia para andlises, e onde tantas afir- magées sem fundamento foram propostas. Por nao se terem devidamente clareado tais conceitos, néo se poderiam evitar as confuses decorrentes. Em fi A6sofos modernos, desde Giordano Brano, posteriormente Hegel, 05 vitalistas modernos, e até entre os nihilistas, 0 tema do infinito esté presente. Qual a intencfio da mente ao pronunciar o térme fi. nito? O que ¢ finitizado, o que tem um fim, como térmo de si mesmo, o que é limitado. Ora, 0 térmo limitado, do latim limes, significa térmi- no, primariamente, significa limite quantitativo, término de'uma quantidade. Secundariamente, significa’ earéreia de ulterior perfeigio num ser. Mas essa porfeigio ulte- rior ou é devida & natureza do ser ou nfo, Se ¢, se essa perfeicéo the pertence, é da sua natureza téla actual ou potencialmente, e ¢ um ser finito, limitade. Mas se nfo é, se nao lhe pertence, no se pode chamar por isso limi- taco, porque um ser poderia ser ilimitadamente a sua na tureza. Q que nao pertence & natureza, se falta, nao é uma negagio daquele, nem propriamente uma privagéo. O que limita a cadeira nao ¢ nao ter vida. Tal cxplanacdo € clara e evidente, ¢ a intencionalida- de de nossa mente, quando dirigida ‘culdadosamente _e com o rigor l6gico © ontoldgico, que se tem de exigir, nao concluiria de outro modo. Contudo, hé fildsofos, ¢ de grande renome, que fazem tais conclus6es, e tumuliuar a tendéncia em torno de finito ¢ infinito, criando uma psew 176 MMAIUO FERREIRA DOS SANTOS do-problemiitica, que surge da confusio e nao do esclare- eimento. # comum confundir-se limite com determinagio. O limite indica até onde o ser € 0 que é, e ndo € 0 que nio ¢, distinto dos outros. © limite afirma apenas 0 que é post. Uvo no sor, Nosi sentido, podese empregar 0 tézmo It mite tanto para o ser finito como infinito. Determinar é dar a precisio especifica a alguma coisa, indicar-Ihe ou es tabelecerhe 0 quid, sua qiiididade, Determinagio é a facefio que Ihe segue Em suma, finidude inien o ter limite, nege a um! ser r i 088i uma outra qualquer perfeicko, quer existente, quer p. vel. O ser finite ¢ 0 que carece de ulterior ‘perfei¢ao, é aquéle ser que, em sua linba, podemos pensar que pode- ria.ser maior. Ora, tal conceito n6s ¢ tiramos da propria experiéneia, pois as coisas do nosso muado nos mostranr tal finitude Notamo.la materialmente ¢ formalmente. sls: i s ntudo, nem todos os filésofes julgam assim, Des carey arn us sianevamog a Hei de fio de r i ‘ros, com infinito pela interna cognigao de Deus. Outros, ontologistas, afirmavam que alcangdvamos a idéia de fi nitude pela idéia ce infinitude, ac pensarmos nas coisas fora de Deus. rimeira intengao da mente ao falar em infinito snaiear o que nGo tem Tint ow limite. otmnado apart cula negativa in, ctimologicamente, 6 éste 0 sentido que tem © que caruee de inl, de fim, Podiase, pensanda isso, falar-se néie ido privati- So como uma quanticade ifinite, ou Some 0 informe, © que nao tem forma nem figura. ‘Ora, ésse conceiio pri- marissimo de infinito nao € 0 que a Filosofia positiva con sidera, Infinito niio ¢ 0 negativo, roas o positive, € con- ceito que contém uma perfeigdo inexaurivel, perfeita, é 0 que contém toda porleigio de ser em t6da latitude, que carece de qualquer limite, € 0 omniperfeito, € 0 infinito simplesmente compreendide em t6da @ sua pureza. Fa- Jase, ainda, num infinite considerado apenas em sua li nha, e que, nessa linha, careee de limites:.€ 0 infinito, se~ gundo a qliididade, o infinitum secundum quid dos medic- Yalistas, enquanto © primeiro 6 0 infinitum simpliciter. ORIGHM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 477 © infinito, segundo a qiiididade, pode ser actua. ou potencial, Actual seria o que hf em acto, como ama quantidade sem fim, em acto; potencial, 0 que pode ser aumeniado ilimitadamente, como a quantidade, a série n mérica. O primeiro era chamado pelos antigos de ini nitum sceundum quid eategorematicum, ¢ 0 segundo de infinitum secundum quid sincategorematicum. Assim a quantidade infinita em acto, o infinito segun do a gijididace em acto, implicaria uma quantidade em acto sem fim, o que na Filosofia Conereta demonstramos ser absurdo. "A quantidade infinita om poténcia, como a a numeragao, é admissivel, pois esta é potencialmente ii. finita, néo actualmente infinita, porque so tltimo mimero poder-seia ainda acrescentar mais uma unidade, ‘Também se distinguem a infinidade extensiva ¢ a infi- nidade intensiva. A primetra indica posse perfeita de todas as perfeigdes possivel em tOda a linha do sar; a se gunda, o sume grau de perfei¢ao nas perfeigdes possuidas, E comum confundir-se infinite com perfeite. Dizse que ¢ perfeito o ser 20 qual nada falta que Ihe devera ca. ber. Assim Sderates, cnquanto homem, € perfeito, nio, porém, infinito, . Outros confundem com totalidade, Ora, a totalidade, ou melhor, 0 todo, ¢ 0 ao qual nenhuma parte esta fora, mas 0 intinito implica o que sempre esté além de, 0 due esté fora de... Outro conceite confundido € 0 de inde. terminado, quo implica a negagio de algum limite, mas indica 9 maxima potenclalidade para recebé-lo, enquanto © infinito ¢ 0 ser maximamente doterminado e exclui téda Potencialidade, Entre indefinide © infinite 6 costume também faxerem-se confusdes: indefinida u potencla que Pode alcancar ou transitar para o acto, enquanto o iri nito implica plena actualidace. Estabelecemse, assim, as propriedades do int 1) Nao 6 0 resultado de adigdes tinitas, 2) A diferenca entre intinito e finite néo pode, por- tanto, ser um finito, porque néio ha nenhuma proporgio entre’ um e outro, 3) 0 infinito nao pode ser aumentado nem diminut- do, por que seria potencial e no actual, e o infinito tem de ser necessariarente actual Betta bbe IRA DOS SANTOS 178 MARIO Biot 4) © inlinito ¢ indivisivel, porque se fésse divisivel, sé-loia em partes em ntimero quantitativo infinito e 0 nu: mero quantilativo so € potencialmente infinito, e no ac- tualmente infinite. Os niimeros infinitos, de que falam alguns mileniiticos iodernos, no sao quantitativos, mas valores. 5) Outras propriccades do infinito e do Hnito, dis. tintas entre si, sao as seguintes Infinito Finito Tene (ins) pasa si mies ‘Vendo (fim) além de pa. mio. Seu fii € inbvinse Ya si mesmo, para £070 £0 Ge si mesind tame tem un Simn extrinsoco. anto absolutamente E sempre relativo, e tem Piles, na tay un Injeloe principio em inicio, nem principio. out. Enquanto tomado segun Sua razio ontoléglea 6 oa aildidade, tem sempre em outro, N&o tuma rao ontoldgica vem raniio suficiente de em outro, ou no. si mesmo em si mes. mo. s caractoristicas decorrem do que jd es- pallises que faremos a seguir. Estas wltims tudamos e das ar Uma formalidade ¢ infinitamente ela mesma, como a humanitas é infinitamente humanitas, € um infinito se- gundo a qiiididade. Nao se discute por ora saber se ha ou nao a humanitas, mas hé, pelo menos, enquanto for malidade, com findamento in re. A humanitas 6 algo que Ti como esqueust tenia) come universal, gue len seu fundamento in re, no nos homens enquanto tais, en- quanto existentes, mas nos homens enquanto possibilida- de de ser que se actualizou. Se jamais houvesse homens, @ humanitas seria uma formalidade na ordem do ser. poderiam, dacas certas condigdes ¢ causas, existencializa- rem-se séres que partivipariam dessa formalidade: 0 ho- mem. Jd mosiramos que os universais nfo sio meras pela- ras, meras vOzos, nem meros conceitos. J4 mostramos demonsizamos a’ valiciez do realismo moderado, e nao & mister reprodtir as provus apresentadas, a 7 RE oa add aclu ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 7g Ha 0 eidos (a forma) do que & possivel, que pertenco & ordem do ser, porque o possivel, de certo modo, € no sei; hd 0 esquema mental, que 6 um esquema eidético. ‘noético, no homem:; ¢ ha o logos, a let de proporeionalida. de intrinseca, na coisa, que € uma participagto pela coisa do tidos da ordem do ‘ser, intencionalmente € referido pe- Jo nosso esquema mental (eidéticonoético), Tudo iso d foi desonstrado. © infinito simpliciter, tude ab tomado simplesmente, € pleni. luta de ser. Nio se deve confundir absoluto inito. Absoluto ¢ o que € solto de qualquer ou. ‘solutum), 0 que tem em si mesme sua razao su. ficiente de ser, e que nao precisa de outro para ser. O ser infinito simplesmente ¢ absoluto e, neste sentido, ab. soluto é tomado como infinito. Contudo, o infinito, to. mado segundo a gitididade, ndo 6 absolute, porque a sua razdo suficiente est no ser € no apenas em si mesmo, pois nao € de per si subsistente. Na verdade, um ser infinito simplesmente s6 pode ser um ¢ no muitos, como se demonstrou em Filosofia Gone ereta, jd que se fOssem muitos, um teria o que o oulro nio teria, e sendo ambos apenas ser, seriam, atinal,- mes mo, idénticos, Um dos maiores erros filoséficos tem consistide na aceitagtio do ser infinito quantitative, da magnitude em acto, cuja absurdidade jd se demonstréu, pois a quantida- de implica partes extra partes, partes apds partes, © num ser de magnitude infinita em acto suas partes seriam finitas e tomado de um ponto, de cada latitude, seria _n finito, o que, tomado integralmente, seria maior que o in finito, » que seria absurdo. Se pensarmos numa esfera infinite, em acto, © ralo seria infinito, mas 0 diametio, ‘que também seria infinito, seria maior que o raio, ¢, ent tao, haveria um infinito maior que outro, o que seria ab. surdo, De modo algun, e por muitas outras Tazdes, neo ha ura magnitude infinita em acto, embora possamos com, cebé-la em poténcia, porque, no limite da magnitude, ps, demos penser num mais adiante, Aquéles que imaginam o ser como quantitative em acto ¢ infinito cometem um dos erros mais elementares, tanto ldgica como ontologicamente. Contudo, cometerary Varios filésofos ésse érro. Alguns, por exemplo, imag 180 MARIO FERREIRA DOS SANTOS nam © espago coro infinito em magnitude, e como um. atributo infinito nfo pode ser predicado de um sujeito finito, como é a quantidade, pois 0 predicado nao pode ter mais ‘ealidade que o sujeito, termmam por consideré-lo como um atrinto do Ser Supremo, como o fazem alguns Mldsoos oricntais © também ocidentais. Tal surge pela impossibilidady, que cncontram, em conceber 0 espaco como limitado, pots tal limite implicaria um espago, no qual estaria o'espage, Mas aqui nos encontramos ante uma dificuldade cosmoligica, onde também surgiram es: pantosos eros, que perturbaram muitas teorias © hipote- ses da Fisica e’das Ciéneins Naturais, Mas os erros, nes- se sector, serio por nds estudados em obra especial, pois nesta, apenas estamos nos dedicando ao‘exame dos erros ontoldgicos, que sio os fuadamentais, pois os que sur- gem em outras disciptinas {iloséficas, serio tratados em Obras especiais Como niio se pode admitir o infinito quantitativo em acto, € como alguns nio podem conceber outro, sendo de tal espécie, muitos fildsofos menores preferem.negar qual- quer validez 20 concmto de infinito no toeante & sua, ob- jectividade. O infinito nao ba, dizem, por ser contradi- torio. Se apenas se cratasse do infinito quantitative em acto tais argumentos estaram certos. Mas ja vimos 0 que se entende por infinito, eo que expressamos née con: tém contradigao, como contém aquéle outro. A prova ¢ a demonstragéo da realidade do infinite simpliciter fizemo-lo cm Filosofia Gonereta, e de modo apoditico, que desafin refutagao. Mas se se meditar que néo ha meio termo entre ser @ nada, o ser como fonte ¢ origem de tudo o que é, ten de ser'a fonte e origem de todo poder o de Loca perfeigo e, como tal, tom de sor infinilo simpliciter, simplesmente'ser, e nada mais que ser, nem naca menos que ser; tem de ser simplesmente ser. Como tal, ¢ infinitamente ser, sem mescla de qual quer espécie, sem deficiéncia de qualquer espécie, porque 0 que the faitaria seria nada, e faltando nada, nada falta. Conseqiientomente, hs um Ser Supremo, ser infinito sim- plesinente. A tinica oposicio aparentemente séria contra essa afirmativa s6 poderia sor feita pelo atomismo. Nao pelo ORIGEA DOS GHANDES ERROS FILOSOFICOS 94 atomismo como o entende a citi 0 ciéncia moderna, mas omen {ginameo dos Brex08 (Demcerito), ¢ que Eve lente, © ainda os hd hi 5 : je, en seenatinor Seniicato tuoslica, “tem Fiosots Gore creta, rente 0 atomismo adi € obrigado a langar mao da didades ate 4 do das maiores absurdidades Cena Se Concepedo. Como é matéria cosmoloring fakaremios para tratar com mals pormenores em chee i nores em outros Restanos apenas di ier 80 0 facto do certos espinit concepedes cheias de dificulds c « ides tedricas gon etr0s ¢ asus, do que prefers er wae anles Te,bositive e concreto, que os evita, Tal se explien eee Qeleamente, por eerta morhides, guy adver ene fee ma oposigéo & ordem crista estabelant ‘dente, apenas num instramento ses Ge Poder, embora nos ldbios estejam sempae ee ees vias, que atirmam intengoes hasten de, no ha em seus coragses, nem aad acios, que sempre as Gesmanten: DEEELEGEELELELL ELE LELLELULELUEE LES Das STANCIA Bis um dos Lomas que maiores preocupagdes tem pro- voeacle aos filésofos pola problemdtiea que apresenta, cujas soluGes tem dado origem a muitos erros, de conse- qiléneias varias. B um tema de Onlologia, que examinamos em nossa obra “Ontologia e Cosinologix”, e a sua problematica, ana- lisada dentro dos canones da Filosofia Conereta, faz parte de um trabullo nosso ce préxima publicagdo“Tumatica e Problemitica da Filosofia Conereta”. . Vamos, aqui, apenas abordé-lo do angulo mais geral, apontando as raizes dos prineipais vicios, que abundam em torno desta materia. © térme substincia vem do latim substantia, que vem de sub e stare, estar sob, 0 que sub-esté, No grego, cor- responde a hipokeimenon, ce hipo, sob, e keimenon, 0 que esta sob, o que se doita, jaz, porianto Com o mesmo senti- do do lati. Se se passcun os olhos pela Filosofia, verificase que éste térmo for tomady cn varios sentides’ 1) coma esséneia das coisas: 2) como © que nao ¢ accidental, como substaneia 3) como a enlidade néo agcidental das coisas; 4) como o que € incormunicével nas coisas; 5) como 0 composto cas casas emergentes (intrin- secas) da coisa: forma e matéria, na inguagem aristoté hea. 6) Como 0 que pt cidentais, ra durante as modificagées ac- | ORIGEM DOS CRANDES ERKOS eMOSeRICOS 199 © térmo substancia, em seu sentido eti i ws ce acon wee wing, no Hao ao oalctmo Sistere, e dele sistentia, sisténin fo coon 20 do que se afta Se di pale ee ene san fener cio Gxsisténeta, adsistencia’ (assisisnels) ie Neste caso, ‘substan. Considerando-se assim, a substancia 6 - nsider im, © que perdura, Zendo si mesmo, 0 que tem constincia (no tempo, "por exemplo), som ser fenoméni s Se pode verificar como algo que se ad sey ig -parado no espa. g0 © no tempo de outros séres, rt ge , Como portador de acci- Comprende-se desde logo que o i cia implica: ue © conceit de substan 1) certa independéncia em relagio a outros entes; ®) algo que 6 em si e por si (ensidade ¢ perseidadsy; 3) algo que € distinto do que algo; Sucede em algo e por 4) algo que é bortador de acc Ig de aeidontes, ao quat mM algumas coisas fenoménicas ou nie. aur acon Assim se tem conocbido em linhas gerais a substin cia, o que permite, entio, tentar a $,2 We pent arse uma definigao de ca, tece E mister desde to 5 fens semoutn ot Hesde logo clarear as expressdes: emsi e nite Xm si quer dizer 0 que nao ¢ e no é te i acontece ern outre or aceidente, o que néio 164 MARIO IRA DOS SANTOS Nao-por-outro 0 ser por si, que pode identificarse a si mesmo (consigo mesmo, € que se Opde a0 ser-em-outro, Clareemos, pois, esses conceitos: a substincia tem uma unidade de esséneia, ¢ nio é um ente de outro, mas de si, © considerando-se ‘como aelma fizemos, 0 aspecto negativo e @ pusitivo se coordenam, de modo que © nega- tivo decorre necessiviamente do aspeeto positive, 0 que di a posilividade cesejuda. Quando se diz que nao 6 ou- tro, dizse que € um subjecto em si, e nao apenas uma no- ta ou aspecio accidental de cutro ‘ser. A substéncia ¢ 0 sujeit da sustentacae cos aceidentes, que dela dependem, € 0 sujeito de inhesiv, o que recede’ uma forma, # a substancia razio sufciente do ser. Para muitos escolasticos nio & da csséncia da substancia ser portado- ra de accidentes, pois o sex incinito (Deus) é uma substan- ia sem accidentes, uma “substancia plenissima e perfei- tissima”. Contudo, em Filesofia Conereta mostramos a inconveniéncia de considerar assim, pois 0 ser infinito nao é uma substancia no sentido que intencionaimente se di a ésse térma, cujo conccito implica sempre 0 de ser por- tador de accidentes, ja que @ discussie em tOrno da se- parabilidade real de Substancia e accidente 6 tema onto Adgico, que nao nos caberia tratar aqui, por nao ser pro- priamente fonie de erros prejudiciais a0 pensamento hu- mano, Mais adiante, porem, trataremos déste aspecto, depois de havermos cxaminado as diversas sentengas que 0s filésofos de maior noioriedade langaram sobre esta ra- teria, Para Descartes, “como substancia s6 se pode enton- der a coisa que existe, que nZo precisa de nenhuma outr: pare existir”. Ea sibcléncia umiea, nessas condigéos, ¢ Deus. Na verdade, sé Deus ¢ propriamente uma substin- cia, enquanto as oultras, dos séres finitos, so apenas and logas Aquela, e nunca univoca Aquela. Spinoza diz: “entendo por substéncia o que é em si © € por si concehido; ou seja, 0 eujo concelto nao necess\- ta do conceito do outsa coisa para ser formado”. A subs- tancia nao ¢ formada por outro ser, pois éste seria a subs- tancia. Conseqiientemente, a substaneia, verdadeiramen- te, nao se distingue uma de outra, o que leva a afirmar que a substancia 6 neccssiriamente infinita, o que c lan- cou decisivamente no panteismo, ORIGEM DOS GRANDES BRROS FILOSOFICOS 185, Para Leibnitz, € o “ser capaz do acgdo", a mate capaz de agir e de resistir. * © segdo", & matérie Rosmini afirma tem em acto. que € energia pela qual os entes exis- E © que contém em si o principio das mutagées, ° Para os escoldsticos, tal, que ¢ a entidade que mentos, a entidade néo ac te per se. S6 nesse sentici téncia. Mas deve-se: acre, Ad uma substincia transeenden- transcende a todos os predioa. cidental, que ¢ suficfente ¢ exis. o se pode dizer que Deus ¢ stbs seentar 0 atributo de ineriada, para distinguila da substancia eriada, Por sua ves divi, dem a substance oneda eon coy POE S08 en, i primeira 6 a que ¢ concebida como substandia integrs, et Guanto a segunda é concebida como composta. e * Aristételes subdivide a subs 64 matéria) e segunda (que é a forma), cule zi st , euja. composi constitui o synolon, a unidade substancial, 2a coon 8 © que se diz de qualquer subjecto, ou déle se predics wan estando, contudo, num subjecto.” " tncla em primeira (que Para os escolisticos, as a _ , 8S proprledades 880 as“ seguintes: Gs substinda 1) Nao esta num sub, magao, nem de sustent substancial; enquanto completo, tra substancia; enquanto subs Jecto de inhesio, jecto de inhesao, nem de infor- tagdu; € um ser completo de orden no pode ser parte de ou- tancial, néo pode ser su>- 2) Predica-se univocamente de seus inferiores, 3) Significa algo aqui. 4) Nao tem contrério, 5) No € sujeito a mais ou m é ria razio formal da substaneias © Ne & da pré- 5) Pode receber em si os contrarios, men mas sucessiva- eee ere 186 MAIO PHLEEIRA BOS SANTOS Problematicn Dois problemas fuundanentais surgem em tomo daste tema: 1) Se ha substancin? 6 a pergunta an sit? (se 2) ‘Mi que consist? Wa pergunta quid sit? Co que &) 2) Nenhum fijésofu pode negar a realidade do que € ac- cidental, porque sio fendmends, ou seja, sio captavets pe- Ia nossa sensibilidace, leu wna base empiric. Contude, a substincia 6 algo meLivempirico, acima da empiria comum. Ante essa provleniilica, es prineipais respostas foram fas seguintes, que passamos a sintetizar, para depois anal sar ¢ discutir. Entre os que afirmaram a realldade da substancia, além dos que cxaminamos, como Aristételes, os escoidsti- eos, os Tacionalistas, como Descartes, Spinoza, Lelbnitz, embora falseando 0 seu sentido, como vimos,-examinemos agora a posicao dos que nezam @ sua nao existéncia (os negativistas) Os empiristas ¢ sensistas negam a existéneia da subs- tAneia, por nio ser ela objecto de empiria, e nao ser cap- tada pelos sentidos, jx que a fonte do conhecimente (po- sigho de Locke) sito os sentides, e @stes nfo nos dio 0 conhecimento da substincia, © que se entende por subs: tancia é a representacio da unidade das diversas percep: Ges, realizaca pela avtividade intelectual, que unifica as pereepgves simp 262, depois, ¢ nome de subs. tAncia. Ein sua: a subslancia € 0 resultado de uma Ope- racio mental, que consiste em dar a representacao da uni- dade das pertepeirs. Noss: mente neo pode admitir que certos aspectos e propriedades existam sem urn ser subsis- tente que os conserve. Assim, conceitos como forga, ener- gia pertencem & nceao de substancia. J4 vimos que Berkeley também nega a existéncia da substancia das coisas, pois a tnica realidade destas, con- siste em serem perccbidas (esse est percipi). S6 a alma e Deus constituem, para Cle, séres reais. Os accidentes no tém um substractin, O empirista rrume ativma que a substéncia nfo 6 cap- tada nem pela uxperiencia interna nem pela externa, mas 1 | | | | ORIGEM DOS GRANDES ERKOS PILOSOFICOS gy fa idéia da substancia nada mais é aes simples que, pelo influxo da i naginagde nee, as imaginagéo, foram uni- Em suma, a substancia ¢ game gam tancia € algo desconkecido, que Jt Kant, influido por Hum cant, ne, reduzla a substancia a Gplteerla a prion, conceito no empirico, shee nee ten 2 Bale eperenciaeujo vos ebyeind 6 ausenge a 01 la lade, Substiuela'@ a pertnanenota no temapee® 8° emtende por Fichte Substdincia, salvo ado permanente, sustentado- Os positivistas nega: a og substan pan ture AlBune clentistas modernos heganvna, jd que toda na- ‘nos most O-quimica estd em. Constante mutagio, como 2m 08 setuals conneciniento a ase Nao se poderia discutis © em que consi: st a ‘ay sem gue primetramente se atlas of fanaa e lsténeia, “A questio an sit (ae Coie Aer a quid sit ein que consiste, o gue wane”) HO¥® PreC> Os que defendem a ob, ma objectivi ‘mentam do seguinte mocor ade da substincia argu. exterfor 20 hornem, Oise, realm al Pu A Phimeire premissa fo! demonstrads seg geet sain? Ge idealismo. “A segunda premise! reecte = 5 oisas realmente existentes, Ou istem em outras, Se 's. Se existem em cu- © subsequlente € subordit . o su inado 20 prec! éste altar, falta o segundo. Ora, numa sine eo ie Sedente a zazio do conseailonte, © se, por shave SUR TReto noutro anteoodente, se enh da sei fe >, con fem a série? Se faltar o pri : 10 2 tem a © prime 5 Rial a sévie, toda serie celia de ter pode eee 188 MAIUO FERREIRA DOS SANTOS fo toda a série teria una substaneia, feta a uh subvce Sin faaio de ser, sera per se Por tais Tacies, © smpossivel aeeitar & tese negative, F outro lado, afirmam que nio temos experiéncia, fat du sistant ft nodes ets Como 9 SentOS, 0 Concebernos?, ‘Como nus ot come agama colea? Gal éo ar gumento que pode negar a experiéncia interna do fu, da nossa pess ins literatos sistematicos ne- Xo stad de noice a que wet, ents do suse dan nos desacimenton dag tonto 6 GiSinegranto ysiuien mena, Mag oy Tamper Seon, ton Gut ong area 0 A una ens, j4 sto suficientes para mostrar ies tividade de si mesmos, por mals que a si mesmos neguem Hav nos, lela, vols ot eabora tans fee! sentimos como um'mesimo Cog : S i se exe ti realmente de tais mo. sae muta, ove eo cenguae relma ets i io ena detrminagao de tals estado. aptamos luc fas tnnediatamentes som necessiaadte Ge ine Srencias, percebenio-nos voio sutomatos, e140. como tneras figgbes de um outro se ‘A experiéncia externa junto com, © Taciocinio, ‘am mo algo que pode ou nao acontecer, como sujeito te antos m tOrno desta? Pe. E por que surgem tantos erros e Jas faaoes seguintes: no mundo corenotsiiee i coles vem, que estiio em constante mutagio. Contudo, Moen cohtbeornos cols que ane sorters aagoes, 60! mo a multipiicagio de 7 por 4, que dd, gu e dara sam pre, ede todo sempre, 28. Mas ninguém diré que, ou 4 & 28 So substancias, Muitos julgaram que a essén a gubstaneia forse a yermanoueia, E que entenderam por }? Entenderam a fa : i ari anata er Permanece girar oun tOino do Sol, © Sol perthanece, a i eer hho espaco. Para gue tals colsas se déem, ioe ree ee sy Sate i +r imutabilidade absoluta nao ha perm: Gontudo, nfo a permanencia & essencla da, substan, ORIGEM DOS GRANDES BRROS FILOSOFICOS 199 Pordue ent&o 3, que permanece sempre e de todo sem oy Gerla uma substancia, “A substancia permences, decide {Udo Gue permanece € substincia, porgus ue Secidente também permanece, sem ser. subsides “CG Fr Sg Pode & Se deve entender por substancia € o sey su Ino tak’ Mbtesdo, 0 que pode oxistir independentemente on. Rio fal, | Esta casa exisle como um sujeito de inheste oe neck, *ecldentes. Como éstes no se dio amparades us connareraue milo tein um existir independente, pols, do io, setiam substincia, e slo algo que scontecon Gam alguma coisa, esta deve permanecer, enquanto else ce G80, pois, do contrério, sustentados em que se decease A permanencia no tempo de ume substiinela pods sede come anlggao minima de tempo, instantinea, nao importa, como acontece com certos entes'subatdmicos, Se um accidente tem em si sua ragiio de ser, ¢ éle subs. Gncia. Ora, os adversirios da substancia AAG atime ke Baulle tenha razdo de ser em si mesmo. Entio onde ERard sua rauio de ser? Sustentada pelo nada? “Susten Hae POF, Glsuma coisa gue seja seu sujelto de inneeses Entéo afirmard a substancia, qodas &s razdes apresentadas padecem de fraqueza Crise de nao ser a substancia objecto sensivel, Meee Bia © sua nio-realidade, Seria mister provan, oT F object oaiticamente, que so pode ter realidade © quo cient gto ,Sonsivel. IE onde encontrariam a raze’ suk os cottage! afirmativa os sensistas? A substaneia ¢ yer ROS Captada numa experiéncla conjugada com a set conn SOS esta casa, mas, na verdade, ndo vemos a eee: Cina aide ve a wasa um eho. “A casa é'aigo que ja implant tet Getuematica mental, O que vemos so oy acedion tes, due tal casa mostra,” Para dizermos que Isto oat SAia de {Osforos, que aquilo € uma drvore, que esse wat inal & un cio, jd penetzam af conoeitos, esauicmas sien SAuoeticos diversos, uma operacio mental superior “Go seutidos podem ser w fonte de nossos conhecimentos, oo anor éstes principlam ali, mas sio estructurados, so gundo @ esquematica fundamental da nossa mente ‘son auvids, que eapta, nas coisas, o que estas tém de essen cial, 0 que nelas permanece sendo o que elas slo" {mobilidede © imutabitidade nio sao da esséneia ca substancia, Nem permanéncia se identifica cam acuéc Concelto. Os erros, que surgem sobre a substinela, nas, | PRVLVRAES TE + PEER E EEL EEE LELELLUELULEL LLL ELL LEELE OS do dar andes mes sas confusiies, que, depois, vdo dar g sere et i 2 ae Sea ee jondenies, para de- ols Gorse it ast ntosufieleretas proctarsrese: come Tina’ sentennzasitiniivn, que © movicnento vibrates ¢ 0 ‘ondulatsrio demonsteou de vez a invalidade do conceito de substancin. que os mnedivalistas, naviam ‘construid, io eequcarh ue 0 vibratono 0 ondulaton sho de Zigunna toise qu vibra stl ondutas @ 80.0 nada, Basta Spanas urs ponjuinho da bomsenso. to da onte, a idéie da substanoia € um conceit eS ee genese clas eiteworias telonais @ intulelonals, em nosso Sitlosotia © Cosmovisg Se ehegames f idéla da s\ ° Ania através do raeivenio, no quer tal Glzes gue mio tfinein alzavés do 1A 3 x tal deer cctivigade, porque ninguém poderie seo) de mode apeditico, que 9 captace pela Possa suato sofa apenas nea e Bao Set, apeser dos exces Sos dos racionalistas que, despojande eg ganclas ae on ted, terminatn por terneles nada. Ngo segulmnes @ It nha racionalisia, que, como is a forma. vcasa do fino. A razio dos racion Jadora de realidad, nig porem, a raeto eonerels dos Ge fequetn 1 isola joutiea o 3-conorets, O racionaisi pelmanecet Jungido A logiidade, mas 2 flosotia positiva ei oncretaperianeinn tanta na onolotcdae # { NOVOS COMENTARIOS SOBRE O TEMA Da CAUSA E DO EFEITO. Sem diivida em torno do tema Etioiogg nea de erros tunestos para a Fiiscoris La Etiotogia, como vimos, a discipline ontolégica que se de- sige. 20 estudo das eausus, © cabe a cla exsenenee Probie. miética que surge aqui, e dar as solugdee que se impéem, Sot Ganils sintéticos possivel na expla Cato desta matéria, pois o que nos Interesee ¢ apontar og, fics ehtmosos, que tanto periurbaram o proce fico, e que hoje dio wm: iloss. Dizse que é da causa tém surgio ¥@ Colheita de frutos bem ami principio o de onde alguma coisa $e ori. gine, de onde ela surge. O principio pose cree dois mo- Gos: um que realiza um influxo posiee c comunica se:t Proprio ser; outro, o.do qual surge outye, coisa, que na 6 Resitivo influxo ¢ comunicacao do ser cle primeiro, mas Satz ser, privado do ser do primeizo, © dependente, po. rém, daquele, argos. omnipoténcia, e 0 Fitho, omnipoténcia'ao eriar efpio 6 0 que iremos t a Vontade, a intelee! isto € nao aquilo. O se; tualidade, @ sgundo prin. ater com maior euidado. Uma série de caracteristicas apresenta 0 principio: 2 gf COUN & todo principio a prioridade sobre 0. PHinciplado, prioridade pelo menos ontologicas asta 2), Cott Conexio do princi éste € principio daquele, 3) Nem ha razio ‘haveria nenhum nexo), ipiado a0 principio, j4 que de eaitivocidade (do con nem de univ rio no ‘Ocidade (do contririg i i 492 MARIO FERREIRA DOS SANTOS seria 9 mesmo principio e principiado), mas de analogia entre ambos. Principio & 0 que pelo qual alge 6 procedente de certo “modo (Principium est id a quo aliquid procedit quocum. que modo), No conceito ie procedere, hd a implicancia da consecugan «da conexao. Essa definigho 6 de Tomas dg Aquino, que é mais ampla que a de Aristételes: id unde liquid est (o de onde alguma coisa 6), aut fit, aut cognos- citur (de onde ¢ feiia ou é conhecida). Nessa definicao, incluem-se © principio ca coisa, da cognigio e do devir (fieri). A causa 6 de certo modo um prineipio, porque ¢ 0 de que (ou pelo qual) alguma coisa procede, é dela proceden- te. Causa 6 um principio que influi por si ser em outro. Como principio ¢ razio de ser do outro. Mas eis aqui © que distinguv causa de condigZo, A chamada causa per- missiva, que permite que ou:ro principio infunda o ser em outro, é propriamente a condigéo, que nao obstaculiza a acgfio da causa, nio infundindo, porem, ser ao que daque- la resulta, Se’se doixasse, come se deve deixar, para o conceito de causa, o que acima dissemos, néo confundindo a condicao com ela, evitar-se-iam muitos erros graves, que povoam a filosofia. © causacto depence necessiriamente da causa. Se bd um ser que, para ser, é mister que outre the infunda o ser, necessiriamente tal scr implica outro, como analiticamen’ te decorre de sua propria conceituagao. Uma série de distingdes podem ser construfdas entre causa e principio. 1) _0 principio ¢ um conesito mais genérico que cau: sa, oferece uma razio genérica, 2) O causado depende necessbriamente da causa, en: quanto c principiado nao depende como é © caso do prin- eipio, que conitinicue positivamente o seu préprio ser a0 principiaco 3) QO cauisaclo 6 contingente e finito, enquanto o prin- cipiado nao 0 & necessitriamente. © outro no qual a causa influi por si ser, € 0 que se chama efeito. Conseaiientemente, na relagao causa e efei- to, ha uma distingio real, 9orque a natureza do efeito é ORIGEM DOS GRANDES ERROS FiLOSoFICOS prioridade de natureza € a causalidade, Poi; tt ente 6 ene im outro; ou seid. enguanto 6 eausante een eal Ser more. O'Gara cara cae een cy en Outro conceito, . , que merece clar silo. “Consiste esta em sore gaa causa 6 induzida a agi precisdo € 0 de o¢a. © que, por cuja presenga, a ¢ eanguldos causa ® efeito, ocasiiio & condicao do me Ee (inig suena Picco hon ’ side otto: emis ea 20 Se onan domo : GMD, 8s sorom ineigeee exe, ee ‘S20 2s emergentes, como ag chamat pois: qgrgem na natureza da coisa causada, ase indas’ (ue Eire Sau muna lu re st 12 0, mo costand Se attande te ana dre, Diz-se que uma causa & alone Sr ns ca eH, cao tan ‘us com outras causas para que ¢ efcita se Ggn nn? HE 8 enti ue uma causa 6 per se, quando, Accidens’ (poe aio fal, influi verdédeiramente sex eee G0 com Goer aaeetdente), a que influl somente es sone Spsnm Sutres, que or ai intuem o ser does OME at, uma causa per se, mas. , {Eig Provoet em auem passa, reaper ar fetiment ante Guo 187F@, 6 causa per se do sua acoso ee oe nents, fre pcescobre, & causa per accidens Comat chamese efeito per se 6 coreannn. neiza aento, cha ‘espondente 2 pri Suse, © Der accidens a’ segunda, O trap eerecee Pema "eno nos per se. “O herdi tragico ¢ nee pela prépria FSLCCCE Cee eee gece eeeraeae eer r EES SEELELELELLL ELLE EEL EELE ELE LEE LES ELS 194 MALI PREM DOS SANTOS Je que esta sujeito 4s causas per aceidens, que realizam néle efeitos per accidens, Diz-se que u ist 6 imediata, quando ela realize. © efeito sem qualquer oulra intermedidria; e mediata, quando nfo rzlizi imedialumente © efeito, mas empre- ga inlermediivios. conhecicla gniversalmente a diviséo aristotélica das quatro causas: a efieiente (a que faz), a formal (@ que constitui a forma cia coisa), a material (a matéria de que 6 constituida a coisa) ea final (ao para que tende a coisa feita). A formal c material sio causas intrinsecas (emer- gentes) do efeito; a cliciente e a final so causes extrinse- cas (predisponentes? de cfeito. ‘So essas causus, segundo a linguagem escolistica, a quo, ex quo, per quid et propter quid. © que esta no efelto tem de estar contido de certo modo na causa, sta tem de onter 9 efeito: virtualmente, ou seja, a cansa tem do poder realizar o efeito; formal mente, & pertvigio do efesto tem de estar contida na cau- so; eminentemente, nao estar eontida na mesma razio, porque entio o cfeito seria idéntico & causa, mas sua rar zo (seu logos) tem ce cstar contido no logos da causa. Conseqtientements: » efeite nao pode conter pervei- ‘que nio esicjam de certo modo (virtual, for- rentemente) contidas na causa, porlanto jamais ode scr maior que suas causas, pois 0 excesso 3 a do nada, © que é absurdo, O mais deve, pre- ceder 0 menos, portanto wma concepedo evolucionista, que afirme que mais vivia depois do menos (salvo em sentido quantitative), ¢ absurda e falsa, de ser vi ‘A causa tem de tor prioridade 20 efeito (prioridade 6gica, ontologica, onliva). O efeito dependerd da causa (Pender dela), nias essa dependéncia sera real e ndo ape: nas Igica (ser tambcin ontoldgica e Ontica).. Conscatienteiente, causa nfo & apenas ser anteceden- te ao efeito, ¢ este como consegiiente, E mister 0 nexo- -real de dependéncia, que se chama causalidade, Foi isso que no comprerndevan: muitos modernos, entre bles Ku me e Kant, que divulguram erros tremendos nesta maté- ria, como veremos. a 4 CRIGEM DOS GRANDES ERROS BILOSoFIcos 195 vat jente, , 6 em act, 80, a de Infunaie ser em alguna colge (eae séres, € particular, cuan- a um ser, - saP OME Sor sdoquad ou i diata, necessaria ou livre, te, adequada, mediata ou ime. acima ja expostas, Segundo as mesmas razdes A causa eficiente, por que € feito, efeiign% POF ue fax, actua uma acgic no Principal ¢ instrumental. A principal ¢ ie meios, ex mente conside’ luto (Deus), po- Uma causa cticiente implica os seguintes adagios: ® $6 actus enquanto 78r 0 que nio é prineipio as operecaoe Me b) a0 modo de 5 operar segue, GE 0 efelto nso pode superar a causa; MCC? Set) Dor ©) nfo actua de bém pelas mesmas Taz0es); “perior 10 pode ope. sua espécie (tam. a) realiza no eteito ai efelto ce cert eiCteHo algo sememante a st; ou seja, 0 ©) guanto mais pod: s 2sses cinco posiula dos sii Le ‘ jue oncre Foun noe eel, eta aa ent ia potas Sete so ac a egam, se ley a as Ultimas conseqiléncias, Wado 0 seu Densamento até Podemos ale; angar agora a0 oxigen eso Gue $e chama principio de nia causa para sero ente 196 MAIIO FERREIRA DOS SANTOS © que 6, foi expressada pelos fildsofos positives de varias maneiras, que passamos a enunciar: 1) O que é feito tem causa; 2) nada € feito sem causa; $) nada transite do mio ser para o ser, sem causa; 4) nio hi efeito som causa; todo efeito tem causa; p aa s causa eficionte pa- 5) 0 que principia a sor tem uma . za ser, pois‘o aie comsega a ser antes nio fol como 6, e tem lama causi cficiente realmente distinta de sl, que o faz ser; aqueél ser, 6) todo ser contingente (que 6 aquéle que, para ser, precisa de cutro) tom incense etieiente dest, sealments cida a mate: minada, no modo como fize- mos, estamos ifort apis & estidar i manoire como fol icebida 4 causa, ¢ revelir, assim, as origens dos gran- des erros perpetrados por filésetos de enone, erros que ainda perduram na filosofia moderna sobretudo, ‘Um dos conceltos mals euros de certos filsofos mo- demos ¢ 0 de devi, do vitaser, do flesh, como 62 esto £05- se outro que 0 ser, Julgam ésses senhores que, afirm: do 0 devir, negam’» ser, enquanto outros pensam que 0 devir ¢ outro due o ser, seria, portanto, Rlo-ser, como ef ir conhece o homem Oser seria um nio-devir. Mas que devi homem se ndo a passagem do quo ¢ potencial para o actual? Ade is, que pode huver entie sere nada? O de é ta helo crm ear see a, rae ose ems ata ada mais, ido, ésse conc i , sind o\, por mits, eonrn ta wefitagan ao ser corn se 0 que duvens 1 ir pudesse sustentar- © que devém fOsse nails, ese o devir pu E de onde proven esse tre? Vem de julgarem que ser é Jmobllidade, Imulabilidede totale absolut, por nBo have rem compreendido nitidamente a doutrina da enérgeia e dynamis de Aristoteles a razio suficiente do devir, mostra- Ao exuminarmos a razio suficiente - mos que to quanto ht tem uma raato sultelente intrin- seca ou exirinseca para viraser. O que coreg 8 ser Ti ode comecar a ser por si mesmo, porque, . Bria antes do exislir’ o que é absurdo. "Nem pode surgir a ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 97 Go Badls, porque éste no pode influir ser em alguma coisa, Have nao tem, ¢ nao pode dar o que no tem para das’ pom. ser © que nio ¢ coisa slguma, nada. O que coniece a.ser exige algo que infunda o ser. ‘Negar'se tal pensamen gethundarse, avassalarse no absurdo. Mes ha os que preforem 0 absurdo hoje, que julgam 0 absurdo a suproiea Tranifestacio da inteligencia. Mas absurdo, aqui: ane af apenas 0 que ensurdece, o que deixa surdo. Theor og MesmMo no mesmo e sob o mesmo aspecto, quer Sheer Cd ¢ tira. Ora, nossa experiéneia ja mostra que vos glee ¢ tirar o mesmo termina por privar, por negan Teo € Possivel & nossa experiéncia que algo esteja ¢ao manne Rao esteja no mesmo lugar e sob as mesmas condigses (ambémn nao ¢ admissivel ontologicamente, como ‘ase oo Gaiicamente, Mas, para tals cavalheizos ¢; pura a mente Ge tais cavalheiros €. O absurdo nao Ihes Soa surdo cs Ubrante, musical, harmenioso, Tais ouvidos “cures Som Cuarezs © que 6 36 Lrevas e contusio, E quando que. fas orRCr,° sue para éles 6 clareza, entio escrevem sagi, Fas Comnais pdginas Gas mais stbilinas idéias, das cokes sal {pelaPallirdias, dos conceitos mais arrojados, exrennn 36 fidélas mais eriptices, que ninguém entende nem eee ¢ Sgbretudo Gles, porque a falta de clareza na exposigas’ ¢ ginal evidente de idéias confusas. Quem nao clareou sere Si uma idéia, nao é capaz de clared-la para os outres Maior refutacdo désses filosofastros esta na mixordla dos Sgneeitos sibilinos e na obscuridade indevassavel de suse idéias, que alguns “afortunados” dizem que entendem, mac guando procuram explicé-las tomam-nas ainda male oe ‘curus e Contusas que os seus miestros Facamos um répido panorama da maneira de coneeber A fausa através de processo filosofico, acentuando os que negam validez a tal conceito, Entre os gregos, Hnesidemo, Sextus Empirieus ¢ os GfEticos em geral negara valor ao principio de cause Gide ¢ ceclaravam nada saber sobre a causa, ou meller, GUS causa no pode existir nem antes, nem durante, new, Gepois do efeito. “Na Idade Média, fundandose em Arean FECCEC ECC CK KCC ECT T TK TTTKK ETE CCEr CE TULLLLELLLULELLLL LLU LER RRR bette ee 198 MARIO FERREIRA DOS SANTOS teles, sobretude emi seu itdkigio: o que é movido é por outro movido, afirmava-se a causalidade, posta em duvida por filsofos modernos, entre dles Nicolau de Beguelin, porque © adagio de Aristoteles nao 8 um juizo analitico, pois o que se Move, serie tnvico por Si mesmo, nao implica con- tradigio cot o prinicivo juzo, A maioria dos escolisti cos maiores reconhecem que tal juizo nao € analitico, e no é sobre ele que Fundam « causalidade. Os principais acversirios da idéia de causa sio: Loc: ke, que firmava que chamames causa a0 que precede a um fenémeno ¢, sobreiudo, Hume. ste afirmava que 0 prineipio “o cue comeca a'existir deve ter uma causa de sua existencit” eva destituide de fundamento. Nao temos certeza iniuitiva dessa proposigao, que s6 seria verdadeira Se provissemos ser impossivel que alguma coisa comegas- 50 4 scr sem um principio produeilvo. E tal, afirma Bux me, é impossivel lazer, poraue a idéia de causa é separada Ga idéia de efeito. Sd alcangamos a éstes conceitos pela observacio da sucessio, pois a experiénela niio nos di o nexo interno. Como stirge para éle a idéia: de causa? Causa o efeito nan suo inherentes & qualidade de qualquer objecto. A idéia de causalidade deriva de alguma relagao. Qual € ela? © que chamamos causa e efeito sao algo con- tiguos num ohjecto, Essa contingttidade é percebida co- mo essencial & nogaio de causa, Observa-se alguma prio Tidade ne tempo ca causa sobre o feito. O que apenas captamos na nossa cxporiéneia ¢ contiglidade e sucesso, duas Telagdes, que nfo sio por si s6s suficientes para ex: licar a idéia de cansa, na cual se inclui uma connexio en- tre cla co eivito. Nata mcis nos ad a experiéneia, ¢ na- da mais construiinos semio 9 que cabe wos trés modos de fascociagac: semclhongs, contigiidade, sucessio, © im Possivel penelrar na conexio intima entre causa ¢ efeito Acompanhou a Hume em suas eritiens, Stuart Mil. O fundamento, ric sc oferece para a causalidade, € apenas a ordem de antucedéneia ¢ conseqiiéncia, 0 que nao implica que seja objective, mas cuje unica base ¢ psicoldgica, Influido por tais criticas, Kant afirma que 0 postula- do da causalidacle ¢ wm juizo sintético a priori, pois acres- centamos 20 sujrilo ui predicado que Ihe ¢ extranho, ¢ 6 a priori, porque ¢ um juiz0 necessario, universal e inde- pendente ‘di experiencia, & e producto de uma sintese das categorias de causa ¢ efeito (pois, para Kant, so ape- Bebta ee ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 199 nas categorias) com o “esquema” sensivel da sucessio re- gular. Portanto, sé tem um valor subjective, e cuando aplicado as coisas trans{enomenais, leva, inevitavelmente, conclusdes transcendentes e eminentemente probleméti- cas. Alguns cientistas modernos, que fazem também filoso- fia, negam objeclividade ao princfpio de causalidade, que implicaria a existéncia de leis naturais, supostamente reais, ‘© que nao é possivel provar, nem tampouco que ha leis es- téticas, que regem os fendmenos, cula fixidez é necessiria para dar base 20 principio de causalidade, Em oposigao a t6da essa postulagio negativa, os flld- sofos positives e conoretos afirmam a objectividsde do principio de causalidade, e que ésse principio é analitico © apoditicamente verdadeiro, Pela exposigdo que fizemos até aqui, notase, feilmen: te, que os negativistas, nesta materia, tem um conesito de causa ¢ efeito, que nao é o que na filosofia positiva e con. crea se considerou como tais, Contudo, pode-se demenstrar a validez da posiefio po- siliva e concteta de modo rigoroso e apoditico. Necessiiriamente 0 que comega a ser, antes que come- casse a ser, era um mero possivel. Ora, 0 que é um mero possivel nde pode surgir na existéncia, 2 nao ser que outro Seracomunique. Conseqtlentemente, o que comega a exis- tir, necessiriamente exige outro ser que Ihe dé a cxistén- cia, ou seja, exige causa, Provemos apoditicamente, com tode 0 rigor da Filosa- fia Conereta, as premissas expostas ___O mero possivel nao ¢ existente, enquanto 6 mero pos. sivel, pois do contrério nAo seria apenas um mero possi vel, mas um possivel jé actualizado, _ O que ainda nio 6, ¢ vern a ser, comega a ser 0 que é. ‘Tém tais argumentes um rigor de necessidade, Se 9 mero possivel comoga a ser, 86 pode ser por si, por Outro ou pelo nada. Por si nao é caivivel, porque ainda nao ¢, pois ¢ um mero possivel; pelo nada, ninguém poderd aflrmar que 0 nada é capaz’de infundir, de comunicar ser, pois nao o tem. Resta apenas ser por outro, jd que é impossivel ad- mitir outra saida, © mero possivel é 0 que ¢ indi‘erente 200 MARIO PERRICIRA DOS SANTOS para sor ou para nfo sex, G que € por si indiferente & existéncia, como poderia realizar a sua existéncia? Ne- cessita de outro para ser, sua causa, © ser contingente @ mero possivel e de per si insufi- ciente pur esiolin, Necessita, pois, de outro ser que Ihe comunique ser. E (cnt de ser outro ser, porque como o nada poderia comunicar ser? Nao pode vir de st mesmo, pois, entiio, nao seria um mero possivel de ser, mas jt existente, Restirin apenas admitir que 0 que comega’a ser nao coma a ser, © jt 6 desde todo o sempre. Nesse caso, ter-se-ia de negar o deviz, 0 viraser das coisas, para afirmar a imutabilidade abscluta de tude, pensamento a que chegou © parmemidismo pela mesma’ dificuldade de compreender o devir. ‘Tais argumentos sio logleos @ ontoldgicos. Nao fa- riamos, porem, uma prova conereta sem o fundamento 6n- ico, que nos ci a experiéncia externa e a interna, que de- vemos conexionar cor © logico e 0 ontolégico para alcan- garmos a verdade concreta. 5 Nossa experiéncia nos demonstra que bd séres que principiam a scr no precipuo instante que comegam a ser, e que antes nao eram. Se tal se dé, tém uma causa. Nosso psiguismo, nosso corpo, nossa experiéncia in- terna e externa nos revelam a realidade de tais casos. Po- demos fazer coisas, realizi-las, tomar um pouco de barro, cosélo, transformé-lo num solido tijolo, ete. A nosso sa- bor, fazemos artefact, realizamos a técnica, escrevemos li- vros, construimos casas, pensamos, adquirimos conhect menios, formulamos juiros, A experiéncia interna, como @ externa, nos provain cue entes comegam a ser os quais antes nig caistican, Plantamos a semente, ergue-se 0 ar busto, alteiase a arvore, desabrochamse as flores, surgem 0s frites... Se niio ha causas, se néo hd o que snfunce, (0 que comunica ser a tals coisas, entdo o nada seria cria- dor, infundiria e comuniearia © que nfo tem. Alguns pre- feririo éste absurdo. E por que? Na verdade, em toda a histéria do homem, no seu de- senyolvimento, desde as formas mais primitivas as mais civilizadas, houve wma intensa huta entre o bom senso e a loucura, entre a snidade ‘nental e @ insanidade, entre a proficiéncia mental e 2 debilidade, A luta entre a lou- cura e 0 bom senso nio terminou, e talvez nao termine ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 201 nunca, Ha momentos em que uma ou outra prepondera. Diziam os pitagdricos que quando o érro venee, o fildsofo positivo e concreto deve recolher-se ao siléncio, e aguardar que 0 érro malogre, e a verdade outra vez surja dominado- Ta, Sécrates fol urn pitagorico, mas compreendeu diferen- temente essa miixima dos Versos Aureos, Foi para a rua, para os antros do érro, para denunclar os fariseus da cul. ‘ura grega, os falsos sdbios, que inundavam 0 mundo de erros. Grande e portentosa figura de heréi da Glosofia essa do mestre de Platao. Nio era de admirar que os fa- riseus de entéo 0 condenassem a morte, quando éle os ha- via condenado ao escarnio na meméria do povo. Outros fariseus de nossa época também surgem, os mesmcs, com a mesma auto-suficiéncia de um Hipias, com semelhantes titulos e com iguais eros. ‘Também éstés hoje envenenam consciéneia da juventude e acusam os Sécrates de impie- dosos, de corruptores da mocidade, porque dar bom-senso aos jovens ¢, para éles, a suprema das afrontas, o crime mais indigno 'e infame, e que merece a pena maxima. Es- tamos realmente, sobretudo entre nds, numa época de in- versio dos valores: os valéres mais baixos sobem para 0 pice da hierarquia, enquanto os mais nobres, e que sem- pre dignificaram ¢ homem, descem para as regides inferio. Tes, £ que realmente assistimos uma invasio vertical de barbaros na cultura ocidental, mas barbaros no sentido cultural, barbaros da honra e da dignidade, homens volta- dos apenas para os interésses mais baixos, para as meras satisfagdes dos seus desejos escusos. Nao 6 de admirar que sejam punidos os que dignificam uma vida, ¢ exaltados 0s patifes afortunados. Nao é de admirar que, nesia épo- a, tais coisas se déem, cujos exemplos enxameiam as ps ginas disso que se chama jornais, Contudo, nao se jludam 0s inadvertidos: 0s maus ado sfiv a muicria, nem 0s cra- pulas os dominadores senac eventuais, A hutanidade ain da tem uma parte si poderosissima, ¢ quando ela decidir- -se @ lutar péla dignidade humana, higienizaré e likertaré © mundo désse virus facto de muitos homens, que escrevem sobre filoso- fia, ndo terem compreendido 0 conceito de causa, 0 que se entendem, positiva e concretamente, sdbre ela, fol 0 que provocou tantos erros neste sector. Entende-se por causa 0 que infunde, 0 que comunica ser a alguma coisa. ECE ROREEEEREREORRERRERREREREOEE! UU UU UL RULE ELL EEE EEEEES 202 MARIO FERIEIRA DOS SANTOS No exame das causas, como ainda veremes, elas, de certo modo, permanecem no efeito, causando-o ainda, como a causa material permancce na coisa material, constituindow Se ndo houvesse causus, (Oda a ciéncia se afundaria na in compreensio. Destle: SGcrates, excléricamente (pois exotericamente Jd © bavia feito Pifgoras), 0 primeiro papel do filésofo consiste em clarear os conceitos, buscando alcangar a pu- reza cicisticn: dos mvsias, eomd 0 precurava Séerates. Ora, se partimnos da intencionalidade humana 20 conside rar 0 concvilo causa, descle logo se entende o que poe em causa, © que di surgimento a alguma coisa, qitididativa: monte distinta; ou £0}, outa que o que a poe em causa. % algo que inunde ser, que comunica ser, que dé ser, ou que constitui ser de alguma coisa, Como 0 influxo e 2 eo muunivacao de ser sv dio de varios modos, os antigos clas- sificavam as cousas segundo tais modes, 0 que levou Aris- toteles a compondivias cin qaatro causas principals: a efi- iente, a formal, u material e a final, que passarao a ser materia por nds examinada a seguir, Como um cnie que comega a ser no pode comuniéar © sor a si mesmo, pois entiio jé existiria antes de existix, © que é absurdo, ¢ aceito esse ‘absurde, tudo ja era, desde sempre, 0 que ¢, v isso nos levaria a outros absurdos, & impossive!, ¢ invencivel, o ¢ cinda necessério, que 0 ser Se- Ja comunicado av ente que comega a ser, O conceito de ‘causa, tomade assim (e so assim € apoditicamente certo, e 86 assim é adequado a intzncionalidade eidética), quan: do pronunciamos 0 tcrmo causa, na Filosofia, destazem-se tédas as confisoes que filésofos modernos espalharam, Ha argimentos, vindos de todos es quadrantes, que objectam a concepeio de causa e efeito, De alguns, que jd 0s examinamos, mostramos a completa invalidez, senio a insanidade. Mas itt outrcs, apresentados por vultos de grande renome, eomo seguinte: na verdade, o principio de causalitade ‘nos ¢ dado pela experiéncia ¢ pela indue- Gao. Ora, a experiencia ¢ a induegtio nao tém validex uni- versal. Loge... Mas esquecem tais senhores, que comba- tem a experi¢ncia ea inducedo, ou pelo menos que restrin gem 0 scut valor, que o prinefpio de causalidade, em senti do materialiter, ponde da experiéncia e da inducgao, nae, porém, formaliter, pois, formalmente, 0 que néle se pre: dica, decorre, necessiriamente, da natureza do sujeito.. O 4 ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 203 ter 0 que comega a ser uma causa decorre, necessiriamen- te, do comecar a ser o que €, pols, do contrarie, ndo pode- ria comegar a ser 0 que 6. Outros partem do lado inverso: afirmam que 6 uma criagao 4 priori, e nao fundada na experiéncia, por isso nao tem valor abscluto. Nao ¢ verdade que tal principio nos surja apenas a priori. O ser humano apreende pela expe riéncia tais factos, e pelo entendimento capta a razio de conexio entre o que infunde e comunica o ser, ¢ 0 novo ser que surge. principio de causalidade no é apenas um enunciado aprioristico, mas o resultado de uma o2eragio do espirito humano, fundando-se nos factos da experiéncia. Alguns mais recentes afirmam 0 que segue: ha muitos fendmenos, cientificamente comprovados, gragas aos mi- croscépicos electrénicos, que nos revelam acontecimen- tos que se realizem sem leis, ao acaso, 0 que prova que o principio de causalidade no 6 universal. Tais argumentos causem d6 por pertirem de homens de Ciencia, que tambem contribuem com seu esforgo para aumentar a confusdie nas idéias, Em que se baseiam €s- ses senhores para afirmar que hd auséncia de leis? Ape nas no desconhecé-las. Mas desde quando a ignorancia é argumento em favor da negagio de alguma coisa? Pode a Giéncia desconhecer hoje tais leis, mas dai afirmar que tu- do isso se da sem leis, teriam tais cientistas que apresentar & prova apoditica de que tals fendmenos se dio sem leis, ¢ tal nae 0 fazem, A Ciéncla nao conheceu suas leis desde 0 inicie, Bas: ta que procedamos ao estudo da sua evolugio, pera ver mos que muitos factos, que pareciam obedecer ac acaso, foram, depois, compreeudides como obedlentes a las. On! de a Ciencia nao capta as lels, estabelece leis provaiveis, formula hipoteses, mas dai afirmar a auséneia de lels € um salto sem justificagao, Se so to exigentes para os ou- tos, por que niio 0 sto para si mesmos? Em. que funda- mento apeditico baseiam a sua alirmativa? Em nenbum; apenas na ignordncia. Nao de admirar que a ignoréncla se torne para muitos um galardao de glérias. Impée-se, aqui, que se esclarega éste conceito lei, ‘Tem. ésse térmo sta origem no latim lex, legis, do mesmo radi- cal lec, log, lig, que encontramos em intelecto, selecgao, ler, de legere, eleger, liccio, logos (palavra, verbo, lel, princi 204 MARIO FERREIRA DOS SANTOS pio, efe.), © terme tex vem de ligare, ligar, o que liga, 0 Gue conexions, 0 yue prende a... Na idéia de tet, hd o Sentido do que 6 obrigado a... quando se fala em leis Ga natureva, entende-se (« inteneionalidade}, as inclinagies esidveis, que regem nas coisas, e exigem © mode constan- tee uniform cle sit Os escokisticos adinitiam dois tipos de leis: as in actu primo, que sid as proprins inclinagées, e as in actu secun- do, que 6 o exercicio da constineia é da uniformidade no operar; ow seja, b modo consante e uniforme pele qual surgem os acontceimentus natarais, No primeiro caso, a lei 6 imniivel; no sesudo “possunt esse quaedam varia- tionem iusta div cunstantiarum vel concausa- rum et dependente ‘ou seja, podem sofrer certas va: rlagoes, dependentes da diversidade das varias causas que cooperam no evento, Quando alguns cientistas falam em leis provaveis pen- sam que, na natureza, ha essa probabilidade que éles afir- mam, esquecendo que a probabilidade surge apenas do no conhecimento preciso de tais leis, julgadas assim, que, provavelmente, scjam elas as que regulam os factos em exame. Os antigos ainds admitiam leis racionais, empiricas, € inclusive estatisticas, Ieis chamadas din&micas, fundadas apenas na regularidude verilicada, que ainda subdividiam em leis Iégicas e leis ontoldgivas, que, neste sector, no da Logica e no da Ontologia, sic certissimas, embora nfo 0 sejam no da Ciéneia Natural, Como éste tema ¢ matéria de Cosmologia, em outra cbr nossa, onde examinaremos a origem dos grandes erros cosmolégicos, (2° volume des ta serie), tereius ovasiio de verificar menor este tema, mostrar quantos erros funestos para a humanidade surgi- ram do exame pouco aprofundado dos factos cosmoldgi- cos, de que sip cillpados muilos cientistas famosos, e que serviram depois, de base para néles se fundarem débeis mentes filoséficas. Clareado por ora éste ponto, é féeil verificar que os argumentos apresentaclos por adversérios do prineipio de causalidade pacccem de base. Se eonsideram as leis como algo estiitico, rigido de modo absoluto, sao éles que assim pensam, néo os que pensaram melhor’ sobre tais temas. | EXAME DE TEMAS SOBRE AS CAUSAS Um dos térmos, que tém servido de tema para mui- tas confusées, foi 0 de fim, ¢, conseatientemente, o que se tem chamado de prinefpio de finalidade. ‘Tem sido éste ponto campo de gdz0 de muitos pseudo- “filésofos. Muitas gargalhadas explodiram, ¢ houve tolos e mais tolos que disseram tolices e mais tolices em tom professoral e catedratico. Entio, palravam tais cavalhei Tos: 0 trigo foi criado para transformar-se em pao para os homens? Ab! as pulgas sfio escuras para mais facilmente serem achadas na roupa branca? i coisas désse quilate, que, outros tolos, sem diivida, disseram para indicar a fi nalidade, e estultos aceitaram’ como o supra-sumo de pen- samento dos que admitem a finalidade. ‘Vamos esclarecer esta matéria, onde tantas confustes e erros foram praticados. Fim significa a meta, um para onde tende alguma coi- sa, é um térmo para o qual algo se dirige. Ora, onde ha acgdo, hé um térmo para o qual a accao tende, sem. 0 qual agutela nio hé, pols, seria absolutamente estatica, endo tentleria para nada.” Tender para o nada no pode ser a mota de uma accio, mas sim, para algum termio Fositivo. Pois bem, ésse térmo, para o’ qual tende a accao, é o tim, proximo ou remote, pouco importa, ‘Tudo o que devém (que se torna), realiza-so em direcgac a algo. B isto nada mais do que isto é 0 que se pode entender conereta- mente por fim. Ora, se téda acgio, tudo 0 que devém, tende para algo, ésse tender tem de ser proveniente, essa vendencla tem de preceder a acgéo, pois o que tende pa- ra,.., esté potencialmente disposto para o que tende, do conirario 0 térmo, para o qual tende, seria impossivel, o que ¢ absurdo, pois seria tender para nada, o que seria ha- da tender. O'fim tem de ser de certo modo da tendéncia OC CCTEETTACITTRLAIVAVALTLLLVLLILEEEE See U hao SSSKSSS ESSE dSSEREHESEOS 206 LUO FERREIKA BOS SANTOS de agente. Os antigos dividiara o fim em: finis qui, é 0 fim objectivo, o objectivo, o abjecto para o qual tende; finis eui, 0 fim subjective para que tende 0 objecto, & finis quo, o fim formal, o pelo qual a intengdo se aquieta a0 atingi-o (1). Deisimos de consignar aqui as diversas ou- tras divisies cle fing, que Gs antigos estudavam, para ape- nas sulientar «GU fin intrinseeo € & do fim extrinseco. 0 primelro ¢ 0 que ¢ imanente 4 coisa, como a conservagio indiviauial ¢ win fin inieinseco de t6da unidade fisica, eo fim que & cado A coist, que 6 9 fim extzinseco. Assim o pao 6 uma [inalidacte cxtrinseca do trigo, porque éste, in- “inseeamente, nao tende para tornarse’ pio, mas para conservarse, perpetuarse, multiplicarse, reproduzirse, Ohomem 6 gue Ihe da outro fim, extrinseco ao trigo. As mals famosas soptengas sObre © principio de fina- lidade se reduzom aos scyuinites adégios da filosofia posi tiva e eonereia: 1) Todo agente actus em direegdo a um fim. Toda actuacio implica um térmo de partida e um térmo para onde tende, sem o qual a actuagao seria nula. “E neces: sGrio, peis, que quem acita, actue em direcgao a um fim, Dai a senicnga: 2) ‘Rode agente, necesstriamente, actua tendente a um fim, que j4 expressa apoditicidade que faltava a pri meira sentenca, © fim conexiona, pois, a acgao do agente @ 8 sua realizagiio, 0 seu producto, a obra, Conseqtiente mente: 3) Toda obra est conesionada Cordenada) a um fim, Esta sentenga decorse necessariamente das outras. 4) © que devem, devem tendendo para um fim, © outra sentenca que décorte das anteriores. 5) Todo efeito 6 terme de uma acgie. ‘Toda causa, enquanto actua, tende para um fim. 6) que é contingente (o que exige uma causa efici- ente para ser) tem wna causa final (é térmo de uma acgio). ¥ uma decorréncia do principio de causalidade jé demons- (a) Assim Sabino, juss © Homem gue trabalha, 6 um finks Aqui, mas cont él pads ar esllyts x9 £0RE (nis evi), para que, cox feaja eullurs, poses nents forse xe vm omer de mals valor (tials fan) 8 via souk | Piet oRIGEM D GRANDES ERROS FILOSOFICOS 907 trado, pois toda acgao tendendo para um fim, comanica a0 que faz uma tendéncia para um térmo. 7) Um agente intelectual, enquanto o &, actua com ciéncia do fim, mas o fim 6’ considerado formalmente. Portanto, o agente intelectual actua formalmente em diree- io aunt fim. © agente nio intelectual actuars material mente, Oj agente intelectual tem uma intengao do fim, Examinemos agora os argumentos dos negativistas. Comecemos pelos empiristas e Hume, que negavam o prin. cipio de findlidade, porque negavam 0 principio de causa. Udade, como vimos. Kant chamava-o de prineipio teleo- logico (do gr. telos, fim), que considerava apenas uma renga dos homens, producto de nossa mente, e nada mais. Schopenhauer e Ed. von Hartmann consideravam apenas uma intengio inconsciente da natureza. Outros, ebora aceitando a finalidade, deram-lhe diversos sentidos, e de- fenderammna de modo’ deficiente. ‘Nenhum negativista nega a finalidade do agente inte- lectual, enquanto o é, Negam apenas nas coisas niointe- Jectuais a presenga de idéia do fim? Mas, entdo, nao se ram nfontelectuais, mas intelectuais. Como nao tém, Resse caso no actuam segundo um fim, uma meta, Mas © @rro esta ai. A finalidade nao € apenas uma nota cons. ciente, Todo agente actua por natureza ou pelo intelecto. © que age pelo intelecto, age tendendo para um fim. O que age por natureza, age tendendo para um fim, porque © efeito é sempre proporcionado &s suas causas. ' Na ver- dade, o verdadeire nome de causa é fim. ‘Toda cause, en- quanto tal, tende a realizar um efeito, que lho é propcreio- nado, Honve um tolo famoso, cujo nome nao vamos citar, que, para combater o principio de finalidade, usou éste ra. ciovinio: o que ¢ posterior nfo pode ser causa de alguma coisa, que € anterior. A finalidade, estando no fim, como pode causar desde ¢ principio? fsse argumento foi divulgado na Russia em tédas as escolas, como a iiltima palavra contra a finalidade. Esta nos manuais de filosofia daquele pais, e causa a alegria de todos os filésofos marxistas. Mas esquecem tais senhores, ou nao o notam, que a finalidade é posterior na ordem da execugdo, nao na ordem da intengio, Mas essa subtileza Jd exige mentes mais sélidas, DA CAUSA MATERIAL E DA FORMAL SA0 estas ns causas chamadas intrinsecas, ou como as chamamos, emergentes, por emergirem na natureza da coi- sa, constiluirem a Sua natureza, © que nasce com a coisa. Sem discutirmos 0 que seja matéria, cujo exame j4 fi- zemos anieriormente, pois 6 concelto cosmoldgico € distin- to do ontoldgico, aqui, o temo € tomado neste tiltimo sen- tido, como o de que ¢ feito ama coisa. Esse de que infun- de e comtnica ser ao ente, e como constitu ¢ seu ser, & uma causa intrinseca co mesmo (emergente). A coisa é feita ex quo (do que) @ coastitui intrinsecamente. Dividiam os escolisticos a matéria em ex qua, in quae cirea quam, [x qua significa a a matéria constitutive da coisa; in qua, a cm que ¢ introduzida a forma, © cirea quam, aquela na qual opera 0 agente. A matéria ex qua ¢ dividida em transeunte e manente. Armatéria ex qua transiens é a matéria que nao s6 € causa material, mas tambem inclai o térmo pelo qual; assim a Jenha € matéria ex qua para que 0 fogo se realize. Nao é propriamente # causa material do que se trata. A mate ria manente ¢ a causa material que mana no composto {matéria e forma) A forma (causa formal) é uma causa intrinseca, cons- tituinte do composto, que tem o papel de parte especifica, que indica a qitididace (o que) a coisa & Para os pilauoricos, a forma 6 0 legos de proporcio- nalidade intrinseca do ser, ou melhor, a relag&o formada entre a disposiyav harmonica das partes, obedientes & nor- mal dada pela (vlal:dade, pois em todo ser, que é qllidi- dativamente formaciy, os’ clementos constituintes da sua ‘estructura, embora opostos entre sl, analogam-se, segundo uma normal dada pela totalidade, ¢ funcionam, nesta, so- ORIGEN DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 999 undo essa normal, o que constitul a harmoni a Es mh nc rou te simples, cuja estructura € apenas éle mesmo, sem com: posicdes, como o Ser Supremo, sua forma identitica-se com éle mesmo, e nfo ¢ ela. um logos de proporcionalidade, mas © préprio logos, sua propria lei, seu proprio principic, ¢ a1 mesmo, Este object é um livro, porque tem a fornia do Livro; ou seja, suas partes estio dispostas de modo 1 cons, Utuir 0 que ckige o logos do livro. AS confuses apontadas sébre 0 conc varaim muitos filésofos modernos, por inaies tent deficiéncta, julgarem que eram 0 que nao eram, aflrmange que tais conceltos tinham uma significagao que, 1 verde de, nao se thes deu, nem so poderia dar, sob pena do tor narem-se confusos e eminentemente Lalsos, T{L{ CCU FURR aS Edad ddd dd dddddssddad PALAVRAS FINAIS Examinamos nesta obra a origem dos grandes erros criterioldgicos ¢ dos erros ontelégicos. Dekxamos, propo: sitadamente, de tratar dos grandes erros cosmoldgicos e dos logicos para trabalhos posteriores, que esperamos nos dé Deus f6rca para realizi-los. Foi nosso desejo apenas mostrar de onde tém provin- do os grandes erres modernos, que perturbam 0 pensamen- to humano, € tm semeado tanto desespéro e tanta con fusio, Verifica.se, faciimente, que as mais estrepitosas idéias propugnadas nos dias de hoje, as doutrinas mais ba: fejadas pela propaganda, siio precisamente fundadas em oficos. EB. assim como se deu no pas- sado, hoje, t ismo de catedra, o literato sis- tematico, a auto-suliciéncia aliada & ignorancia e & tolice, tém conseguido disseminar idéias perturbadoras, que ger- minaram tanias brulalidades, Mentes desavisadas, inad- vertidas, despreparadas para 0 so raciocinio, tém ‘sido 0 grande campo onde os fomentadores de trevas tém traba- Thade com afinco, obtendo resultados .espantosos. Talves nunca, cm toda a histéria humana, propaga- ramvse tanto os crros, ¢ Liveram éles tanto éxito. Se o re sultado feliz fosse a indiencic da verdade, essas vitorias provariam a verciade das falsas doutrinas. ' Um érro pode ser aceito por milhoes, pode ser proclamado de eétedras, pode receber o apoio de Oda a publicidade organizada, mas sera sempre um Grro, ¢ déle nfo se poderé esperar sendo desilusdes © cescsperos. 18 mister, hoje, um cuida- do extremado contra a proliferagdo de tais idéias, é mister ‘combaté-las com energin, mostrar a sua improcedéncia, nao com berros, nao com citamagSes, no com guinchos fero- zes, néio comm esbravejainentos, mas com sélidas demons. tragdes, com wna prova férrea, que desmonte uma a une as pegas da mentira proctamada, ORIGEM DOS GRANDES ERROS FILOSOFICOS 211 Sabemos que nossa obra provocaré, em muitos que nos Jerem, uma oposigao, porque ferimos multas de suas caras idéias, Mas, como’sempre dissemos em nossos tra- balhos, o valor do que postulamos esté no valor das nos- sas demonstragbes. Nossas obras valem 0 que valerem as suas demonstragdes. Na Filosofis, s6 hé uma autoridade: ademonstracéo. O'resto € a falsa autoridade do titulo, da propaganda, do elogio fécil. A Filosofia nao pode prosse- guir sendo 0 campo do torneios estéticos, nem de faganhas meramente intelectuais, sem outra finalidade que dar va- 240 a0s impetos patéticos de uma afectividade admissivel no campo da Estética, mas completamente extemporanea & inactual no campo da Filosofia, & mister distinguir a Filosofia Especulativa da Filoso- fia Prética, Enquanto esta ultima se dedica & accdo hu mana, @ primeira se empenha no estudo da eldeticidade da realidade da idealidade, e da idealidade da realidade, ou se- Ja, do nexo real dos eide (conceitos, J purificados de to- ‘do 0 axioantropoldgico, da influéncia das valorizagies ¢ desvalorizagdes hurmanas), bem como do nexo eidético que hd na realidade. Poderé um aristocrata dizer que a prudéncia revelase no cuidado de possuir armas e meios capazes de defender- -se de qualquer eventual ameaga, e garantir com seguran- ga as posigdes conguistadas. Podera um burgués afirmar que prudéncia ¢ 2 cautelosa providéncia de munirse de bons documentos e meios econdmicos e finance-ros, que assogurem a garantia dos direitos e 0 prosseguimento s6. lido da vida econémica. ‘Mas, seguindo as licées dos pitagéricos ¢ de Sécrales, e procurando a eideticidade do conceito de prudincia, al: cangaremos que € a inteligente aplieagiio dos melas melhor adequados para obter os fins convenientes a quem os eu: prega, ou € 0 conhecimento dos meios methor adequados 0s fins desejados, Se nos primeiros casos poderemos fa- lar da prudéncia do aristocrata e da do burgués, no ultimo falaremos da prudencia em sua pureza eidética, E se em Marte ou em Venus houver séres inteligentes, prudéncia 1 também sera como o dissemos, e 0 seré em qualquer ordem onde haja séres inteligentes. Com és» ultimo enunciado, alcangamos 0 aspecto especulative mais eleva: do do conceito, e podemos tratar déle como algo ja intem- poral e inespaciel. A prudéncia, tratada assim, jé nio per- 212 MARIO FERREIRA DOS SANTOS tence nem ao tempo nem ao espago: pois onde e desde o sempre, para todo o sempre, ¢ em téda a parte, onde hou- ver séres inteligentes, prudéncia serd 0 que dissemos. A Filosofia Pratica, por cuidar da acgdo e do devir hu manos, nfo impede que a Filosofia Especulativa nela pe- notre @ possa examinar e usar os seus métodos e seus pos tulados para dar aqueles um contetido mais seguro. Se a Cosmologia pertence 2 Filosofia Especulativa, tal nao im- pede que as suas conquistas apoditicas nao’ possam ser aplicadas no campo das Ciéncias Naturais. Também na- da impede que se trate a Moral, que pertence a Filosof’a Prética, com o rigor espectllativo que se pode fazer na Etica, que preferimos sempre distinguir daquela, dando a esta um sentido especulativo e aquela um sentido pratico. Nada impede que se trate da Eeonomia, que é uma ciéneia prética, e pertence ao ambito da filosofia prética, dando- Ihe um rigor matematico crescente (a Matemgitica per- tence & Filosofia Especulativa), de modo a dar maior e me- Ihor cideticidade aos seus conceitos, e permitir examinar, com 0 maximo cuidado, os seus postulados, dentro do ri. gor apoditico que a Filosofia Especulativa exige. Assim se deve procurar proceder no ambito do Direito, da Historia, da Sociologia, da propria Axiologia, porque © caminho para levar a Filosofia dos meros ensaios, do bosquejo, de campo das asseryées para o da especulagao rigorosa, da ciéncia no sentido da epistéme cos gregos. Esta ai a grande vitdria humana, E se exigirmos de todos os que propsem idéias, posigdes, teses, que as de- monstrem rigorosamente, e néo apenas juntem argumen- tos e mais argumentos, estaremos dispondo-nos a seguir o ‘yerdadeiro caminho da ciéncia, aquéle que nos podera per- mitir aleangar cada vez mais a Mathesis Suprema (Mathe- sis Megisthe), a Suprema Instrucgao, o Conhecimento Ele- vado, que é 0 objecto de amor do 'sdbio, cujo afanarse por éle 6 realmente a Filosofia, que nada mais 6 que 0 ca- - minho que 0 amante do saber percorre para atingir aquela.

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