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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO MESQUITA FILHO

BRAYAN LUCAS LIMA DE ALMEIDA


EVELYN MARINO ROSA
LUIZ ANTONIO DE OLIVEIRA SOUZA
MARIANE MAZZONI DE MELO E SILVA
NÁDIA GALVÃO LAURENTINO DA SILVA
RAQUEL SANTANA DE JESUS

PROPOSTA DE ANÁLISE DA OBRA “ANGÚSTIA” DE


GRACILIANO RAMOS ATRAVÉS DO FORMALISMO RUSSO

ASSIS
2019

RESUMO
Luís da Silva nunca fora um homem que teve facilidades na
vida. Nascido e criado em Alagoas, tinha uma vida muito humilde
quando seu pai faleceu, vivendo de favor na casa de cada conhecido,
totalmente desamparado, até começar a pedir esmolas e dormir em
bancos de praça. Tudo culmina para que seu fracasso aumente cada
vez mais. Até que é aprovado num concurso público, começa a
trabalhar na Diretoria do Tesouro, em Maceió, e para gerar uma renda
extra, escreve artigos sob encomenda para jornais locais.
O emprego o faz conseguir ter uma vida minimamente
razoável, pois o salário é baixo e as dívidas são muitas, vivendo de
forma precária numa casa decrépita assim como a vizinhança, que se
preocupa prioritariamente em cuidar da vida alheia. Completamente
– e até mesmo insanamente – apaixonado por Marina, sua vizinha,
inicia um relacionamento com ela e ficam noivos. A situação
financeira do personagem piora ainda mais, pois agora precisaria
também gastar com o enxoval do casamento que assumira.
A personalidade de Luís da Silva é marcada por tudo o que
vivera. Seu histórico de vida, sua precária e pressionada criação e
toda a opressão que lhe cercava não o fizeram um homem submisso,
que simplesmente abaixaria a cabeça para os contratempos da vida
sem questionar os motivos pelos quais vivia daquela maneira. Seu
desejo íntimo era de também oprimir, tanto quanto era oprimido.
Quando expressava opiniões sobre pessoas ou mesmo sobre outro
assunto, revelava um caráter amargurado e rude, como se durante
toda a vida estivesse remoendo e ruminando suas decepções e
tristezas. A sua existência poderia ser considerada ordinária, não era
relevante para outros, para a sociedade e nem para si próprio, mas
seu interior era deveras perturbador, sempre se atormentando por
lembranças da infância e frustrações intelectuais. Julião Tavares era
um homem gordo, rico, risonho e conquistador. Luís da Silva não
poderia evitar odiá-lo, dada a discrepância entre as condições de
cada um, mas o ódio passou dos limites quando Tavares conquistou
Marina. Encantada com a vida que poderia ter ao lado de um homem
rico, a moça simplesmente desmancha o noivado com Luís, sem lhe
dar qualquer explicação plausível.
A mágoa, a decepção e o ódio que nutria aumentavam cada
dia mais, fazendo crescer um Luís um espírito de vingança perigoso.
O personagem extremamente negativo e pessimista ganha ainda
mais motivos para nutrir seu desejo de vingança quando descobre
que sua amada e desejada Marina fora frivolamente seduzida por
Tavares, utilizada como um objeto qualquer e abandonada grávida,
enquanto Julião já estava relacionando-se com outra mulher.
Tirar a vida de seu concorrente tornou-se para Luís um ato do
qual ele não podia mais escapar, e nem queria deixar de cometê-lo.
Para ele seria uma questão de honra. Assim, começa a trabalhar a
idéia de matar Tavares incessantemente, até concretizá-la
estrangulando-o com uma corda. Para simular um suicídio, Luís o
pendura pela corda em um galho. Narrando a própria história, Luís
confessa no fim da obra o homicídio que cometera, não apenas pelo
ódio contra o concorrente, mas também por toda a frustração e
angústia acumulada que sofrera em sua vida, libertando-se do rival
ao matá-lo, mas também das decepções que o rondavam.

O Formalismo Russo:
O Formalismo Russo surge em 1910 e vai até 1930, essa proposta de analise
presa pela literariedade, ou seja, a utilização de variados artifícios de linguagem
que causam estranhamento ao leitor, assim como a literatura por ela mesma.
Sendo assim, a prioridade a ser estudada e a organização da obra,
principalmente sua estética.
Na obra de Graciliano Ramos, percebe-se vários aspectos formais dos quais
destacaremos os mais relevantes. A começar pelo personagem principal que tem
tendência a ser redondo, considerando a sua complexidade expressa na narrativa,
que foi escrita em primeira pessoa trazendo a perspectiva do protagonista, que
exprime suas opiniões e pontos de vista. Dessa forma, a única voz no livro é a do
Luís da silva, que vem a ser o narrador personagem, ou seja, autodiegético; sendo
ele autoritário. Foi observado que o narrador também tenta ser onisciente, pois no
decorrer da narrativa o protagonista faz suposições acerca dos acontecimentos em
que ele não presencia envolvendo outros personagens, como nesse trecho:
“[...] Mas quando se calavam, vinham-me suposições que me davam
tremuras. Provavelmente d. Adélia tinha ido à cozinha preparar o café. E os
dois aproveitavam o tempo. Sem dúvida. Imaginava o que eles faziam. Era
aquilo, sem dúvida.”

O tempo é psicológico já que não é marcado, pois o protagonista, em suas


memórias, acaba retornando ao passado. Seu espaço é aberto, visto que Luís da
Silva transita em locais da cidade, sendo esse o espaço macro; e o espaço micro se
dá na casa do mesmo. A narração é In Ultima Res, dado que vem a ser um ciclo,
começando pelo seu desfecho.
Atentando-se, a partir daqui, para a linguagem e para a noção de motivação do
formalismo, percebe-se o fluxo de consciência, pois há uma reprodução do que se
passa na mente de Luís da forma como ocorre em sua consciência, exprimindo suas
sensações, sentimentos, entre outras impressões de mundo. Podemos dizer que o
narrador consegue se expressar de maneira simples, próxima a oralidade, com a
presença de algumas figuras de linguagem e um palavreado do cotidiano como
palavrões. Por exemplo a utilização da Hipérbole, que está muito presente nas
expressões populares utilizadas na narrativa, conforme em “Vida de sururu” e “[...] não
sei para que diabo[...]”.

Há também a presença de muitas metáforas, como; "Moisés é uma coruja”, “[...] avistei
Marina pela primeira vez, suada, os cabelos pegando fogo.”, entre muitos outros.
Igualmente são caracterizadas metáforas, a repetição dos “olhos’’ que perseguem o
personagem, representando a repressão; ou seja, os olhos que o acompanham o
fazem suprimir-se, enfatizando deste modo a prosopopeia.

“ “Matos têm olhos, paredes têm ouvidos”, dizia Quitéria sentada na prensa do
quintal.”

Em suas impressões acerca dos acontecimentos, o personagem é ambíguo; isso


contribui para a caracterização dos personagens e da obra, colaborando para seu
aspecto sombrio e imprevisível. Em relação à escolha de palavras, há descrições em
todo o texto que o protagonista faz sobre outras pessoas:

“Até dez linhas vou bem. Daí em diante a cara balofa de Julião Tavares
aparece em cima do original, e os meus dedos encontram no teclado uma
resistência mole de carne gorda.”

Assim, as palavras escolhidas reforçam o caráter do protagonista em seus


julgamentos, contribuindo para a concepção criada na narrativa em relação aos
personagens, e gerando sentimentos nos leitores (fazendo com que este aspecto da
obra influa na Estética da recepção). Ocorre, em abundancia, ênfase em palavras
que se referem à sufocamento, tal como “corda” (o objeto que Luís recebe para
matar Julião). Isso também se dá as suas lembranças referentes a seu avô Trajano
Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, que morreu asfixiado por uma cobra. Esses
aspectos se relacionam ao estrangulamento, escolhas importantes para a atmosfera
criada no livro, se relacionando ao tema e causando angústia no leitor.
Ainda se referindo à escolha formal do texto, observa-se que sua linguagem é
gordurosa, repleta de “rodeios”; não é objetiva ou concisa, há uma desorientação, do
mesmo modo colabora para aquilo que o autor quis transmitir em relação à sua obra,
e ao tema abordado; para evidenciar o sentimento do personagem principal.
Portanto, tais escolhas formais se relacionam com as motivações do texto, e que
contribuem para a singularização, visto que o livro se trata do tema “Angústia”,
porém, não se encontra frases como “Estou angustiado” ou “Estou triste”; pois ele já
se evidencia através desses elementos formais.

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