Você está na página 1de 148
ROBERTO SAUL ‘Autor da trilogia “O Divino Jogo do Ser” SONHANDO COM 0 MUNDO REFLEXOES ESSENCIAIS PARA O DESPERTAR EDITORA PANDORA PREFACIO Foi com muita alegria que © empreendi__esta “fantdstica viagem” com Roberto Saul. Que seja dito que “Sonhando com © mundo” & um convite amoroso para nos auxiliar em nossa jornada espiritual. Apesar de tratar de temas de grande profundidade, a sua leitura flui com leveza e no process, podemos sentir como se 0 autor estivesse conversando conosco enquanto sorvemos uma xicara de cha. Além disso, hd uma familiaridade com a sabedoria de mestres e luminares que encanta © nosso coraco. Particularmente, me prendeu a atenco 0 modo como lida com conceitos, usualmente drduos. Por meio de relatos de experiéncias e exemplos, ele esclarece temas de modo a torné-los facilmente compreensiveis. O leitor vai se deparar com analogias interessantes e esclarecedoras sobre assuntos que sem elas, seria de dificil entendimento. As tematicas abordadas sdo todas fundamentais para quem esté na senda espiritual. “Sonhando com 0 mundo” trata do despertar. Partindo de verdades universais e sob influéncia do classico_livro “Um Curso em Milagres”, Roberto nos auxilia, com seus insights para nos darmos conta de que precisamos acordar para nossa verdadeira identidade. A premissa que norteia suas ideias, é de que este plano material consiste numa projecdo da mente que acredita ter se separado de Deus. Dai surge toda ordem de problemas que experimentamos em consequéncia da mente equivocada, mergulhada num sono profundo. Através de reflexes sobre este estado mental, é feito um chamamento para tomarmos consciéncia das ilusdes e empreender a jornada de volta & realidade. Ele inicia pensando sobre um dos mais intrigantes questionamentos que assoma nosso ser: 0 livre arbitrio. Ora, a propria indagacio sé é possivel no mundo dual, onde ha opcdes entre as quais escolher. Na unidade, esta é uma questo impossivel. Por isto Roberto afirma: “O auténtico livre arbitrio sé pode ocorrer quando vocé néo estiver mais sob 0 dominio do ego”. E completa: “...neste estado de unicidade, a questéo do livre arbitrio néo fard mais sentido”. A maneira como o autor nos apresenta este paradoxo é muito instigante, além de enriquecer esta reflexdo com varios relatos, o que cativa muito a leitura. Este mundo, tal como o percebemos, é palco de sofrimento. A causa disto reside, justamente, na falsa_crenca na separagdo. Ela é falsa porque nunca poderiamos nos separar de nosso proprio Ser. Divino, Infinito, Eterno. Mas, pelo poder da crenca, acreditamos que o que fizemos 6 real. Para desfazer 0 equivoco cometido com a crenca na separagio, o recurso que podemos langar mao é o perdao. O perdao aqui concebido nao ¢ condenar algo real e conceder nossa benevoléncia, mas. € 0 reconhecimento de que sofremos uma distorcdo perceptiva. Perdoar é desfazer esta distorcdo. E reconhecer de que nao hd nada a ser perdoado, pois se trata de algo ilusério que a mente gerou para dar realidade a ideia de separacao: dai vemos um mundo em que a doenga e © pecado parecem ser reais. Em verdade sao reais para nds até que tenhamos entregado nossa percepcao ao Espirito Santo (A memdria de nossa esséncia) para ser corrigida. Com a percepcao curada recuperamos a consciéncia de que nunca deixamos nossa fonte. Portanto, a percepc3o de um mundo em dualidade é iluséria. Estamos apenas “sonhando com 0 mundo”. Coma restauracao da Mente a Verdade de Quem somos, deixaremos de nos sentir seres miseraveis e carentes, pois deixaremos de_mendigar favores e condigdes através da oracio, na tradicional acepgdo da palavra. Roberto Saul nos apresenta, também, a concepgio do Curso do que vem aser uma oracio: uma cancSo de jbilo na comunhao com Deus. Hé 0 reconhecimento de que, sendo UM com odivino, Somos Tudo e Temos Tudo. Neste estado de ser, no precisamos suplicar por nada, pois foi sanada a mente que acreditava na escassez. 0 mundo da dualidade € a condig&o em que acreditamos viver a experiéncia de sermos separados, vulnerdveis e suscetiveis a toda gama de dor e sofrimento. Cumpre, pois, nos libertarmos deste estado de ser. Assim, adotamos como propésito a expiaco (Correcdo) a jornada de volta, 0 despertar do sonho, o perdao. Como nos diz Roberto: “existe apenas um propésito, o reconhecimento da Verdade de Quem Somos Nés". Quando nos tornamos UM na comunhao com Deus, nos lembramos de que jd somos iluminados e de que tudo isto nunca foi. Enquanto “sonhamos com © mundo”, vivenciamos conflitos, pois ele é a expresso da mente dividida. Parte desta mente é guiada pelo ego (que se acredita um ser separado e especial). Por isto vivemos a caréncia que alimenta a gan4ncia, a corrupséo, a sede de poder e controle. Problemas mundanos séo reflexos desta mente que em si mesma vive 0 conflito. Como nos afirma © autor: “sempre o mundo externo 6 uma projeciio do nosso mundo interno”. Portanto, o fim dos conflitos sé pode ocorrer no nivel da mente. Necessério se faz restaurar a mente a unidade. Sanar a mente é 0 Unico propésito que tem significado. Saul nos Iembra_ de uma afirmacdo muito oportuna dada pelo Curso: “No tente mudar 0 mundo, mas antes, mudar a tua mente sobre o mundo”. Somos todos seres de luz, vindos da luz - iluminados. Mas carregamos impurezas que impedem que reflitamos nossa plenitude. Este livro nos brinda com Verdades que nos ajudam no processo de purificacao e sair do estado onirico. Com o despertar, hd o reconhecimento que nao precisamos nos tornar quem 4 somos. Feliz leitura, feliz jornada. Claudia Pierre Professora universitéria graduada em ciéncias sociais com mestrado em sociologia. Possui artigos publicados abordando tematicas nas éreas da espiritualidade. E autora do livro “Culpa, Cura e Relacionamentos” baseado no “Um Curso em Milagres”. Este livro é dedicado a todos nés, para despertar a nossa esséncia, e perceber que 0 que vocé nunca perdeu, jamais poderé ser encontrado. SUMARIO 5 19 37 5 123 141 177 199 239 285 299 313 331 345 Prefacio Introdugao Existe o livre arbitrio ? A importéncia do perdéo Num mundo em dualidade Existe iluminagao e iluminados? Sonhando com 0 mundo A nossa principal jornada A verdadeira oracdo Por um mundo sem contlitos Eu Sou Razao & intui¢ao Epilogo Afirmacoes Bibliografia & Filmografia ORAGAO Do Mooll* Pai amado que reside dentro da alma do meu Ser, cujo nome é “Eu Sou "0 Veneragéo ao vosso Santo Nome. Ovosso rein é aqui. A vossa vontade prevalece por toda a Terra, como prevalece nos terrenos celestiais da minha alma. Abres as tuas maos e satistazes a fome de todos os seres vivos. Sara todos os coragées do sofrimento. £ntéo, que esse dia interno possa demonstrar perdao aqueles cujas mentes estao encobertas na ignorancia do Ser. ‘Mae amada, que transmites a todos 0 senso de escolha para que chegue finalmente, o momento de te escolher, tu que és verdade, para assim encontrarmos a liberdade eterna. Gi6ria a0 teu nome, ou verdade, pols é teu reino Da existéncia, da paz e amor. Todo o poder e gléria emanam de tiem todos que transmites a sabedoria, a luz, 0 amore a coragem, para se refertrem a eles prépiios como “Eu Sou”. Amém! Om! INTRODUCAO Para quem esta comecando a ler estas primeiras linhas desta introducdo, posso dizer que este novo livro possui uma histéria um tanto curiosa. Ele surgiu e se desenvolveu a partir de um site no facebook, que foi criado por um grupo que encontrei num retiro espiritual em Nazaré Paulista. A cada més os participantes tinham como meta escrever sobre uma determinada questo e publicd-la na internet. De forma que estes textos constituem a reunido de diversos temas publicados em que colaborei entre o final de 2013 e inicio de 2014. Confesso que sempre sinto uma certa inquietacdo, antes de entregar uma nova obra para o ptiblico. Apés meses ou anos de trabalho, comego a sentir uma constante ansiedade, pois sei que existe sempre a possibilidade em aprimorar ainda mais a minha criacdo. Existe sempre uma insatisfacdo intima, até mesmo quando a obra é publicada, elogiada e até premiada. Isso é assim, porque é praticamente impossivel transmitir todas as minhas ideias e sentimentos num sé trabalho. Além disso, sempre me encontro em constante muta¢do. Minhas concepcées com o passar do tempo, sofrem alteracées pois adquiro mais conhecimentos e mais experiéncias. E por isso que todo artista possui a sensago que a sua melhor obra sera a proxima. Porque se ele tiver que aperfeigoar cada vez mais a sua criacdo, provavelmente sua obra jamais estaria terminada. E por essa razdo que dizem que o pintor francés Pierre August Renoir disse em seu leito de morte: --“Ainda estou aprendendo” e o vocalista Koshi Inada do grupo de rock B‘z comentou: --- Quando estou fazendo um album eu sinto: “Este é o melhor de todos!”. Mas quando termino, no sei porque eu penso: “Nao, ainda tenho um longo caminho pela frente”. Para entender ainda melhor essa questo, vou usar o cinema como exemplo, por ser hoje uma das artes mais completas. Eu mesmo durante alguns anos estudei cinema e cheguei a dirigir alguns filmes. Hoje me considero apenas um cinéfilo. Como tao bem definiu o mestre Eckhart Tolle* o cinema se tornou a nova mitologia de nossa época. Podemos perceber ao longo do seu desenvolvimento a realizacao de varias versées da mesma histéria, dirigidos por diversos diretores, e até pelo mesmo diretor como foi o caso de Alfred Hitchcock* e muitos outros. O Cecil B. De Mille* por exemplo filmou duas vezes “Os Dez Mandamentos, uma em 1923, e outra em 1956, apenas para citar dois dos mais conhecidos cineastas da década de 50. Isso é muito raro ocorrer em outras artes, como na musica, na pintura ou escultura, mas com o cinema e também em peas teatrais, isso tende a ser possivel. Outros cineastas como Steven Spielbergt e George Lucas* conseguiram modificar e melhorar tecnicamente algumas sequéncias dos mesmos filmes, como “ET, o Extraterrestre”, e “Guerra nas estrelas” produzidos na década de 70. Isso também sé foi possivel em consequéncia dos avancos na area da informatica e da digitalizacao de imagens permitindo assim apés cerca de 25 anos aprimorar seus efeitos especiais. Isso também possibilitou a remasterizacao de filmes antigos, recuperando sua fotografia original, e a inser¢do de dois ou trés finais alternativos em filmes em DVD. Ridley Scott* diretor de “Blade Runner — O cagador de androides”, um classico de ficgao cientifica, também apdés muitos anos de censura, consegui reeditar o filme de acordo com a sua versao original. Talvez estejam achando um tanto estranho estar comentando esses fatos sobre cinema em se tratando de um livro de autoconhecimento, mas foi apenas para demonstrar como um criador sempre procura se superar quando possui condigées para isso, até mesmo depois de sua obra ser publicada. J4 na literatura, isso iré. depender do escritor e do tema abordado, ou em suas adaptac6es para 0 cinema ou teatro. Mesmo uma peca teatral, ela nunca é repetida da mesma maneira, até mesmo quando encenada com os mesmos atores, porque sempre surge momentos de improvisag3o no desenrolar da peca. Sempre haverd pequenas alteragdes em seus didlogos muitas vezes quase imperceptiveis. Eu mesmo na reedicao do meu primeiro livro da trilogia “O Divino jogo do ser” nao pude resistir € fiz algumas alteragdes para melhorar e burilar certos capitulos, e atualizar novos conceitos. Sim. Existe um fundo de verdade, quando os criticos e até mesmo os proprios autores admitem que grande parte de suas obras, se repetem em novas versdes, apenas modificando os personagens, seus didlogos e seus cenarios. £ claro que a esséncia de suas mensagens permanecem quase a mesma, seja ele um cineasta, um escritor um dramaturgo, ou um artista plastico. Cada autor possui uma determinada linha de pensamento que quase sempre se mantém ao longo de sua carreira. € por isso que o nome do artista 6 logo reconhecido pela sua técnica, estilo ou conceito. Portanto nao estranhe, para quem ja teve a oportunidade de ler meus livros anteriores, encontrar muita semelhanca neste novo langamento. Na verdade sempre procuro enfatizar para 0 leitor, que o livro seja lido mais de uma vez. Isso possui um grande beneficio, porque certas verdades devem ser repetidas com outras palavras e outros exemplos para serem incorporadas mais profundamente em nossa mente, principalmente em se tratando de um tema que transcende o paradigma materialista. Como to bem afirma “Um curso em milagres” “A repeticdo ndo é apenas necessdria, mas obrigatéria” Desta forma, espero que muitos ensinamentos que talvez tenham passado despercebidos ou nao totalmente compreendidos, em meus primeiros livros, possam ser agora assimilados com mais facilidade para uma nova interpretaco. Este livro possui novas ideias, novas concepgGes, mas sempre com o mesmo propésito de poder contribuir para o despertar de uma nova e atemporal realidade. Assim nao espere que este livro venha agradar as suas crencas. Ele é um livro para destronar a sua mente, tird-lo de sua zona de conforto e inspird-lo para despertar e se conectar com a sua verdadeira natureza. Como sempre ao escrever um livro, procuro citar afirmacées de outros autores ou mestres, para tornar mais compreensivel as minhas ideias. Neste livro em particular ele possui mais referéncias do “Um curso em milagres” do que nas outras publicagdes. Conforme uma cita¢do de Kenneth Wapnick*, “o curso é a melhor integracdo que eu ja vi entre a psicologia e espiritualidade”. Eu concordo plenamente com ele. O curso ndo pode ser confundido com a interpretaco tradicional de realizar milagres no plano fisico. Ele é um treinamento mental para mudar a nossa percepcio sobre o mundo e remover os bloqueios a verdade. Este é o verdadeiro milagre. Para quem ainda no leu o livro “Um curso em milagres”, considerado hoje um verdadeiro classico da espiritualidade, recomendo ler antes alguns livros introdutérios, para facilitar a sua compreensao, ou participar de grupos conduzidos por facilitadores. Gostaria de aproveitar esta introdugao, para estender meus agradecimentos ao meu amigo Sergio Padilha, por compartilharmos longos e ricos didlogos sempre acompanhados por saborosos cafés e chocolates quentes, e que muito contribuiu para novos insights. Este novo livro procura em sua esséncia nos alertar, para estarmos sempre vigilantes quanto a interferéncia do ego, porque ele sempre tenta fazer mil transigéncias, e justificativas. Mas nenhuma pode ser aceitével pois sem diivida, ela no seria verdadeira dentro da realidade do Ser. “OQ que é real jamais em nenhuma hipétese pode ser ameacado, alterado ou destruido. Mas o que ¢ irreal ou mutavel nao possui realidade permanente. Por mais draméatico ou assustador que ele possa aparentar, ele é apenas uma projecaio temporaria dos nossos sonhos e devaneios. A nossa verdadeira religiosidade sé pode florescer dentro do nosso coracdo. Ele é o nosso verdadeiro altar, que nos elevard acima das nuvens tempestuosas da ilusdo, onde o sol sempre continua a brilhar. Roberto Saul ‘*Mooji — Mestre espiritual que compartilha sua sabedoria através de satsang (didlogos em grupo) “Alfred Hitchcock — Cineasta Inglés, considerado 0 rei do suspense. Refilmou “O Homem que sabia demais” "Cecil b, De Mille ~ Diretor e produtor americano ~ 1881-1959. ‘Steven Spielberg ~ Um dos mais bem sucedidos diretores americanos. “Ridley Scott - Diretor e produtor britanico. *George Lucas — Diretor, produtor e empresério americano '*Kennet Wapnick ~ Considerado como 0 professor mais importante do “Um cursoem milagres, e por ter participado com a Dr. Helen Shucman na Preparacdo do curso para sua publicacdo. Liberdade, libertacdo. Essa deveria ser a meta do homem.. Para ele é a unica saida, pois nada mais é possivel, enquanto permanecer escravo. Tornar-se livre, escapar & escraviddo — eis aquilo porque um homem deveria lutar assim que se torne, por pouco que seja, consciente da sua situacao. Georges Gurdjieff EXISTE O LIVRE ARBITRIO? Antes de adentrar nesta instigante e polémica questo, sera de suma importancia fazermos a nds mesmos a seguinte pergunta: 0 que realmente “eu sou”? E necessario reconhecer que “eu sou” jamais pode ser objeto do conhecimento. Nao pode ser discutido, analisado e armazenado na meméria. Como sempre enfatizo, as palavras so extremamente limitadas. SA0 apenas simbolos que tentam expressar uma verdade. Mas a verdade nao pode ser um conceito intelectual. Ela tem que ser uma experiéncia vivencial. Existe o livre arbitrio? A resposta mais curta seria dizer que sim e no ao mesmo tempo. Isto pode nos parecer um paradoxo, e pode nos fazer lembrar dos enigmaticos e insoluveis koans do zen-budismo, que nao podem ser resolvidos pela mente légica/racional. Se faz necessério um salto quantico. Isto é assim, porque para responder & esta questéo devemos saber em qual nivel espiritual 0 homem se encontra. Como ja mencionei em meu terceiro livro da trilogia” O Divino jogo da consciéncia, a ”humanidade trilha varios caminho que dao origem a dois grupos principais e bem distintos. Os do primeiro grupo so movidos pelos seus instintos e dominados por um ego ilusério e sem substancia. Vivem em plena e total “Dualidade”. Os do segundo grupo que podemos chamar de aspirantes espirituais se destacam por uma busca mais profunda para alcangarem uma verdade mais elevada. “O conhecimento de si. Podemos dizer que vivem numa “Semi- dualidade”. Eles comecam a perceber que ha algo de errado no mundo, e que deve existir uma outra realidade mais consistente. Como ja mencionei, este segundo grupo passam por uma tempestuosa busca do ser, como téo bem classificou o psicdlogo transpessoal Stanislav Grof, através de suas profundas pesquisas. E como estar demolindo as paredes, que acreditamos ser a nossa morada. Isso nos causa um grande conflito interior. Temos que nos desvencilhar gradativamente de antigas e falsas crengas, e incorporar novas verdades. E como se fosse a morte de um antigo eu, para o nascer de um novo eu, ainda nao totalmente conhecido. Por esta razéo a senda da espiritualidade é frequentemente chamada “Senda da Afli¢ao0”. Isso ocorre quando a alma aprisionada e limitada no corpo, comeca a ter vagamente recordacées oniricas do lar divino em que vivia. Mas existe também um terceiro grupo que transcendendo essa turbulenta fase que também pode ser chamada "A noite escura da alma”, atingem um novo nivel de consciéncia, que pode ser classificado como um estado de “NGo-dualismo”. OS TRES ESTAGIOS DO LIVRE ARBITRIO Somos levados a acreditar que temos um livre arbitrio. Porém sé temos aparentemente duas escolhas. Uma ¢ falsa e a outra é verdadeira. © nosso unico livre arbitrio que temos 6 quando escolhemos a falsa. Se esta for a nossa escolha, ela teré uma permanéncia curta. Assim podemos escolher entre o caminho do ego (Falsa e tempordria realidade) ou o Ser (A nossa verdadeira identidade) A maioria das pessoas hoje, se identificam com o ego. Este é 0 primeiro estgio do livre arbitrio. Esta escolha acontece porque 0 ego nos proporciona temporariamente uma seguranca e um conforto mais palpavel, mais concreto, pois sé vejo 0 mundo através dos meus sentidos. Contudo esta escolha com o passar do tempo esta fadada ao fracasso. Isso ocorre como ja mencionei por estarmos identificados num mundo de dualidade onde tudo é impermanente. © Segundo estégio do livre arbitrio ocorre quando hi o reconhecimento cada vez mais consciente de estar vivendo sob 0 dominio do ego, interpretando diversos papeis. Embora ele nos proporciona uma relativa seguranga, surge aos poucos um grande vazio interior. Hé um sentimento que falta alguma coisa, mas ndo se sabe ainda o que possa ser. A vida parece ndo fazer sentido, mesmo tendo realizado a maioria dos nossos desejos. Um sentimento de tristeza e angustia se manifesta cada vez com maior intensidade. Oterceiro estagio do livre arbitrio, é o que podemos chamar do inicio do caminho espiritual. Surge um irresistivel desejo de autoconhecimento. Um anseio em busca de livros, filmes, palestras e mestres que possam apaziguar este vazio devastador. Hé 0 desejo de encontrar uma razdo concreta que possa nos proporcionar a verdadeira felicidade. Descobrir a nossa verdadeira natureza. Quando se vivencia este conhecimento de “Quem sou eu” uma serenidade e paz passa e a incorporar 0 nosso ser. Surge entdo a percep¢ao que a Unica escolha é 0 caminho do amor. Espantosamente se percebe que nao existe nenhum livre arbitrio. Ele parece existir, mas como uma miragem do deserto, ele comeca a desaparecer. Quando se transcende os opostos (Dualidade) fica muito claro que nao existe escolhas. A unica escolha € apenas resgatar a minha verdadeira identidade. Ser o que sempre fui. Um ser divino além de qualquer tipo de limitaco. Esta pequena introducio foi necesséria, para poder entender com clareza e sem preconceitos o tema deste capitulo. Assim a primeira e importante pergunta que devemos fazer é:“Até que ponto tenho consciéncia de quem realmente eu sou”? e em que nivel me encontro? E claro que devemos ser honestos para conosco, pois do contrario estariamos distorcendo a nossa verdadeira condi¢ao. Assim se vocé ainda acreditar que é meramente um corpo, que um dia nasceu e um dia ira morrer ou sentir ainda uma excessiva dependéncia em relacdo ao mundo exterior para se sentir seguro, ou perceber muita resisténcia em perdoar 0s seus supostos inimigos, ou ainda estiver acreditando em um Deus separado e temido e convicto que este mundo é real, entdo vocé ainda continua escravo de seus sentidos, e preso na matrix com seus falsos e equivocados conceitos. Continua ainda identificado ao antigo e ultrapassado paradigma mecanicista*. Nesta condi¢do embora possa estar consciente intelectualmente da dualidade ainda nao despertou do sonho do mundo, e consequentemente nao possui livre arbitrio. O mestre Gurdjieff* chamava este homem de uma maquina programada, porque sua vida tornava-se quase toda ela muito previsivel. A mesma coisa jé dizia Jiddu Krishnamurti*: “Nés fomos programados biologicamente, _mentalmente, intelectualmente....0s computadores foram programados por especialistas....0 homem foi programado para ser catélico, protestante, para ser italiano ou inglés e assim por diante”. Seria como um barco a deriva, sem motor, sem velas e sem remos. Estaré a mercé dos ventos e das tempestades, e sem muita dificuldade podemos prever com muita exatidao o seu turbulento destino. No entanto, embora o homem esteja vivendo nesta cega situagdo o ego muito ladino, fara de tudo para convencé-lo que é senhor de si, e governando muito bem a sua vida. £ muito dificil persuadir um homem inconsciente de sua situacdo e tentar convencé-lo que esta adormecido. Automaticamente respondera que esta perfeitamente desperto, até pelo simples fato de estar respondendo a pergunta, ou se sentir livre entre beber entre uma xicara de cha, ou um chocolate quente. Desnecessério. dizer que neste estado de amnésia espiritual, sua vida sera de altos e baixos, causando muito sofrimento, com pequenos intervalos de calmaria e de prazeres efémeros. E o que a cldssica psicologia continua a fazer. Reintegrar 0 paciente dentro das regras estabelecidas e vistas como normais dentro de uma sociedade insana e controlada pelo poder do ego. € por esta raz3o que os mestres sempre enfatizaram que quando procuramos obter algum conhecimento que nao seja sobre nés mesmos, este conhecimento é apenas informages sobre 0 mundo das formas. Este tipo de conhecimento pode ser titil na vida pratica, mas n&o nos traz a felicidade duradora por ser algo externo a nés. Foi com muito humor que o mestre Mooji, respondendo uma pergunta sobre o livre arbitrio respondeu: “Se vocé realmente tivesse o livre arbitrio e o poder de moldar o seu destino, de criar a sua vida ideal, vocé iria, muito provavelmente tirar todos os desconfortos, tudo que desafia o seu ego, tudo que expée sentimentos de culpa ou vergonha ou qualquer coisa que desafiasse os seus apegos. Vocé excluiria tudo isso e os substituiria por momentos sabor chocolate”. Sabor chocolate quer dizer, buscar apenas o prazer e 0 conforto, sem enfrentar os nossos apegos, vicios, medos, caréncias e outras fraquezas, e sempre buscando Id fora a solugdo de nossas frustragdes. A luz da sabedoria 0 que vocé nunca perdeu, jamais pode ser encontrado. A sua busca s6 revela que esta inconsciente de sua propria verdade. E como procurar pelo seus éculos que imagina ter perdido, enquanto ele esta bem na frente de seus olhos. Enquanto vocé ignorar a realidade espiritual, estara em constante aflicdo, e ansiedade, tentando encontrar em todos os cantos algo do qual vocé nunca se separou. Despertar significa, se dar conta que nao hé nada para ser procurado. Iludido pelo irreal, 0 homem passa a dar realidade as imagens projetadas pela sua propria mente. A dualidade do mundo é extremamente convincente e passam a ser vistos por ele como reais. Ludibriado pelas aparéncias, e preso pelos seus apegos e fraquezas, cria o seu proprio sofrimento. Enquanto se identificar com 0 corpo e com o mundo, as frustragdes serio inevitaveis. Tentar satisfazer os seus desejos neste mundo impermanente e em constante mutacao, nao ird diminuir o sentimento de vazio que estard tentando preencher a todo custo. Paradoxalmente ele sé ira aumenté-la. Somente quando estiver em conex3o com sua verdadeira natureza, podera extinguir esta caréncia interior e alcancar o “Puro ndo- dualismo”. Quando Buda’ disse: “Estou desperto”, ele quis dizer que saiu do mundo de sonho. Percebeu claramente que néo era um participante da ilusio, mas o criador de toda a ilus3o. £ como criador poderia desfazé-la. £ claro que sempre deve prevalecer o bom senso. Hoje nao precisamos ser tao radicais. E por isso que Gary Renard, escritor e estudioso do “Um curso em milagres”, explica em suas palestras e livros esta aparente incoeréncia entre 0 real e 0 irreal: “Nao existe algo errado em experimentar que vocé esté no mundo e que é um corpo, pois obviamente esta é a nossa experiéncia. Nao estou negando esta experiéncia. Estou aqui apenas para dizer que é uma falsa experiéncia”. Ela néo é verdadeira. Utilizando da mesma explicacdo do Gary e fazendo uma analogia com o cinema, posso dizer com outras palavras que nao existe algo errado em experimentar as imagens que vocé vé numa tela de cinema, pois obviamente esta é sua experiéncia. Ndo estou negando ao que vocé vé, mas quero te dizer que é uma iluséria experiéncia. E apenas uma projecdo. Quando se dé conta verdadeiramente que se trata de uma ilusdo, entéo qualquer cena seja ela cémica ou triste, ndo teré a mesma intensidade emocional para afetd-lo. E 0 mais surpreendente é que ele possui varios finais, que poderao ocorrer ou nao, de acordo com seus pensamentos e acées do aqui-agora. Isto acontece porque o tempo néo é linear, e interagimos em varias dimensées ao mesmo tempo. Nao percebemos isso, porque mantemos na mente a crenga da separacio. Para um auténtico mestre iluminado, a certeza que se trata de uma projecdo é absoluta. Ele no depende de algo externo para alcancar a felicidade, pois nao esté acorrentado e nem em dependéncia do mundo externo. Livre dos apegos e ndo mais identificado com o mundo das formas, ele se torna o diretor de sua prépria vida, e experimenta um estado de pureza e bem-aventuranga. E consciente que sua felicidade & sua prépria natureza, e que nao necesita fazer nada, nem lutar para manté-la. Sabe vivencialmente que a raiz do desejo é a dor, e toda a dor surge do desejo. Reconhece com clareza que a angustia da caréncia que 0 desejos tentam preencher se manifestam por desconhecermos a nossa verdadeira esséncia, que sempre foi e sera “Sublime, atemporal, amorosa e totalmente livre”. Para ilustrar a verdade do “Nada fazer”, existe uma historia que comprova que a nossa prépria natureza se manifesta de forma natural. Nada é preciso fazer para crié-la porque ela jd se encontra em nosso interior. Na verdade é um fazer sem nada fazer. A histéria se passa na época de Buda, quando ele e seus discipulos estavam atravessando uma floresta. Como o dia estava muito quente, Buda pediu para seu discipulo Ananda voltar para o cérrego que tinham cruzado a cerca de um quilometro atras para trazer um pouco de agua. Porém quando Ananda voltou, a agua tinha ficado barrenta, pois algumas carrocas tinham passado por ela, tornando a agua imprépria para beber. Quando Ananda voltou sem a dgua, Buda pediu para que voltasse novamente ao cérrego. Para nao desobedecer ao mestre, ele voltou contrariado. Chegando ao local, a dgua continuava barrenta. Quando retornou sem sucesso, Buda olhou para ele, e ordenou que voltasse novamente para o cérrego. Mais uma vez ele retornou, mas a 4gua continuava barrenta. Foi somente quando Buda pela terceira vez ordenou para que voltasse novamente, Ananda encontrou a agua cristalina. Encheu seu cantaro e voltou contente. Ao chegar disse ao mestre que tinha apreendido uma grande licdo: “Que sé é preciso ter paciéncia. Nada é permanente”. Pela sua propria natureza o barro se assentou deixando a dgua novamente clara. Devemos perceber que esta impermanéncia esta em tudo. Nao tente fazer nada. Apenas espere com paciéncia. Nesta histéria, é um fazer sem nada fazer. Ir ao corrego é o fazer. Sem nada fazer é esperar o barro se. assentar. A verdade nunca muda com o passar do tempo. Ela sempre continuara verdadeira. Vamos encontrar em pleno século XX, outro grande mestre Sri Nisargadatta* que também nos mostra como nada é permanente. Em um de seus satsang*, ele disse: “O mundo que acreditamos existir 6 um oceano de dor, de medo, de ansiedade e desespero. Os prazeres que sentimos so como os peixes. Chegam raramente e depressa se vao. O homem chega a acreditar apesar de todas as evidéncias que ele é uma excecéo, e que o mundo Ihe deve felicidade. Mas o mundo néo pode dar 0 que nao tém. Tentamos buscar 0 real, porque estamos infelizes com 0 irreal. Isso é assim porque o irreal no possui realidade. A felicidade é a nossa propria natureza, e nao descansaremos até que a encontremos. Porém raramente sabemos onde buscd-la. Uma vez que vocé tenha entendido que o mundo é apenas uma falsa realidade, e que ndo é o que parece ser, vocé se livra de suas ilusées”. © que o mestre Sri Nisargadatta quer dizer, é que cada um possui o seu préprio mundo de acordo com a visio que ele tem de si proprio. A ideia de um “eu” como uma pessoa independente, se deve a ilusio do tempo e do espaco. Sua personalidade (Persona*) e a crenca iluséria da solidez material, faz com que se identifique com seu corpo, que parece estar separado dos outros. Acreditamos que o tempo e o espaco parecem existir em vocé, mas o seu verdadeiro “vocé” é independente deles. Devemos transcender a mente pensante, que s6 nos causa perturbacao. Uma maquina de pensar dominada pelo ego e alimentada por constantes pensamentos intiteis e negativos. Devemos nos dar conta que estamos adormecidos, e sonhando mesmo quando estamos no estado de vigilia. © mais correto seria chamé-lo de sonho desperto. Os sonhos podem variar a cada dia, a cada noite, mas o sonhador é sempre “um”. Acreditar que podemos clarear a agua barrenta mexendo nela, ela se tornara ainda mais barrenta, Temos a falsa ideia de que devemos fazer algo para melhorar ou salvar o mundo. Porém trata-se de uma ilusdo. E como tentar mudar as imagens projetadas na tela de um cinema. Na verdade tudo que vocé precisa fazer se livrar da ideia de sua aparente existéncia. Nao existe nenhum mundo para ser salvo. Vocé é o mundo. O que deve ser feito é despertar, e quando despertar se dara conta que nada existe para ser salvo. Tudo esté salvo. E como um jogo de fliperama. Vocé pode derrotar os adversdrios, mas 0 jogo quando termina, comeca outra vez. Nada foi perdido, nenhum adversdrio desapareceu. Nao importa o quanto a vida pode parecer dificil, existe apenas dois caminhos a escolher, e somente um representa a realidade. Essa realidade é o amor. Vocé é 0 préprio amor. Entaéo podemos dizer que o tinico livre arbitrio, estd exatamente nesta escolha. Somente o amor é real. Tudo é um, e tudo est contido no “eu sou”. Nao existe outra coisa. Ele no possui principio nem fim. Ele é puro, atemporal, impossivel de ser descrito em palavras. Segundo “Um curso em milagres*” "NGo busques mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente sobre 0 mundo.....estamos apenas empreendendo uma jornada que jd chegou ao fim. Todavia parece reservar um futuro que ainda nos é desconhecido. O roteiro esté escrito. Pois nés vemos a jornada apenas do ponto em que ela terminou, olhando em retrospectiva, imaginando que a empreendemos novamente, revisando mentalmente o que ja se foi.... isso devolve a mente ao presente infinito, em que nem o passado nem o futuro podem ser concebidos”. Como devem ter notado, sempre procuro em meus livros fazer uma analogia com o cinema. As imagens aliadas a mtsica, penetram mais fundo em nosso emocional. Acredito que um dos filmes que melhor retratou esta questo do livre arbitrio, foi o “Sétimo selo” do genial diretor Ingmar Bergman*. Uma obra prima sobre o questionamento humano em relac&o aos valores de nossa existéncia e de nossa fé. Existe o livre arbitrio, ou tudo ja esta determinado? 0 filme conta a historia de um cavaleiro da época medieval em seu retorno das cruzadas totalmente sem fé, mas em busca da verdade. Quando ele se depara com o senhor da morte que veio buscé-lo, ele entra em desafio através de uma partida de xadrez, numa tentativa de alterar o seu destino. Os didlogos entre 0 senhor da morte e 0 cavaleiro, poderiam ser facilmente comparadas as obras de Shakespeare, e sio realmente sequéncias antoldgicas de extrema beleza. Bergman consegue mostrar este tenso confronto em imagens de pura poesia. Um filme que vale a pena assistir. auténtico livre arbitrio, sé pode ocorrer quando vocé nao estiver mais sob o dominio do ego (falso eu) desfazendo o sentimento de culpa, perdoando e amando o préximo como a si mesmo. Somente quando ha uma conexao com seu “Ser,” eu superior ou (Espirito Santo) pode perdoar verdadeiramente. O perdao constitui o principal remédio que desfaz as nossas crengas de uma falsa realidade, e nos cura de nossa dor. Ele possui a capacidade de nos libertar de um pesado fardo que vinhamos carregando até entdo. Somente nesta condi¢ao vocé poderd se sentir muito mais leve e ter condicdes de experimentar a sua verdadeira esséncia. Estard totalmente livre do exilio que vocé mesmo se impés e que depois esqueceu. Estard com os olhos abertos (Nao com os olhos do corpo, mas os olhos do seu cora¢io) e unificado com o todo, transbordando amor e em perfeita unicidade com Deus. Um estado atemporal de éxtase e liberdade sem limites. Um estado de “Puro néo- dualismo” Este texto talvez possa nos parecer a principio um misto de fantasia e pessimismo, pois retrata com fidelidade _e sem maquiagem a nossa atual condigdo. Entretanto aqui devemos estar bem atentos para compreender uma importante citagdo do “Um Curso em Milagres” que afirma “Assim como tu vires, veré a ti mesmo” Por esta razio, no podemos passar pela vida vendo o mundo e as pessoas como ilusdes. Pode parecer paradoxal, porque embora de fato sejam ilusdes, ainda fazem parte do nosso sonho, e que a mente inconsciente ir traduzir os Nossos pensamentos como uma mensagem a nosso respeito. Pensar desta forma, enquanto estivermos no sonho poderd ser muito conflitante. © nosso sentimento de vazio poderd aumentar causando muita angustia. Seria como por acreditar ndo ser 0 corpo, deixar de alimenta-lo e protegé-lo. Mas podemos através do nosso conhecimento, meditaco e auto-investigacao, viver no mundo sem ser do mundo, e desfrutar de muitas coisas positivas, belas e construtivas. Tornar o nosso sonho, um sonho feliz. Nao devemos deixar de nos encantar com a beleza exterior, porque em realidade ela representa simbolicamente a nossa beleza interior. Podemos apreciar sem culpa uma musica ou um filme que nos emociona, as maravilhas da natureza, um belo quadro, uma bela flor que nos fascina, Um relacionamento intimo com 0 parceiro que amamos, e sentir por momentos uma intensa unificagao, Podemos estabelecer verdadeiras e sinceras amizades, degustar um bom vinho porque nao, ler um bom livro, e rir de si mesmo. O riso é muito importante, porque ele é um rapido lampejo que nos mostra que a vida nao é t3o séria como acreditamos. Quando mantemos 0 animo através do riso, energizamos o nosso espirito que abre as portas do nosso “Ser” permitindo irradiar 0 nosso ilimitado amor. Desta forma podemos desempenhar com mestria € entusiasmo o nosso papel neste emocionante e empolgante filme de nossa vida. Para isso, devemos ficar acima do campo de batalha, sempre atentos e vigilantes. Este deve ser _o caminho para se alcancar a paz. Ser apenas um observador desapegado. Quando mergulhar em seu interior através do siléncio da meditacao e da oracao, isso faré desabrochar aos poucos a sua real natureza e voltar a ser o que sempre foi: Suprema e atemporal felicidade Lembre-se sempre que estd aqui, para ser a luz do mundo. Aceitando, inspirando, perdoando e amando tudo incondicionalmente. Existe o livre arbitrio? Sim existe, mas no podemos nos afastar do nosso destino. Gosto muito de uma frase da Marianne Williamson“, autora internacionalmente conhecida por suas obras sobre espiritualidade, que conseguiu sintetizar esta questdo quando disse maravilhosamente: “Livre arbitrio significa que vocé pode pensar 0 que quiser. Mas vocé nao pode, claro transformar em mentira 0 que é verdade, nem em verdade o que é mentira”. Livre arbitrio também pode ser traduzido como em permitir a criangas do jardim de infancia, brincarem no hordrio do recreio com qualquer um dos brinquedos expostos na area. Cada um poderd escolher livremente o brinquedo de seu agrado. Pode ser a gangorra, o balango, 0 escorregador ou o carrossel. O destino seria ndo sairem da area de recreio. O grande paradoxo é que na realidade este aparente destino, 60 que mais desejamos. Retornar para a fonte (Deus) que imaginamos ter nos separado. E quando nos damos conta disso, comecamos a perceber que estamos numa espécie de prisio com todas as suas limitagdes. Mas quando aos poucos percebemos que possuimos todas as possibilidades para nos libertar, no fard mais sentido perder tempo para enfeitar a nossa proviséria cela. O nosso tempo e propésito ser sem duivida dedicado para encontrar todas as alternativas para nos evadir. Somente a verdade pode nos libertar. O que precisamos 6 permitir que ela penetre fundo em nosso DNA. Por esta razdo, a pergunta mais importante que devemos fazer é por quanto tempo ainda iremos permanecer na prisdo que nds mesmos construimos em nossa tela mental. Tente por um momento imaginar se vissemos um homem viajando e carregando muita bagagem, todo suado e exausto e perguntassemos a ele, para onde estaria indo com tanta pressa e tanto peso. Imagine se ele olhasse para nés com ar de espanto e respondesse que nunca havia pensado nisso. Certamente nés 0 qualificariamos de um homem insano. Um homem que perdeu a razdo, no minimo um pobre ser, digno de compaixdo. Nao obstante é exatamente 0 comportamento da maioria das pessoas. Seguem esta trajetéria do nascimento até a morte, trabalhando duramente, acumulando coisas, e em nenhum momento param para pensar para onde estado indo. Se alguns o fazem, pensam na questao de modo muito superficial, sem se empenhar para encontrar a verdadeira resposta. Muito diferente da parabola do filho prédigo, que por ter se distanciado do Pai, e por estar sofrendo pela sua imaginaria condico de caréncia, teve um insight e lembrou-se do caminho que devia trilhar. Com vontade e determinacao foi em busca da sua verdadeira morada. Neste estado de unicidade, a questo do livre arbitrio nao faré mais sentido. O despertar 6 0 fim da ilusdo da separac3o, e também o fim de todas as perguntas. “Eu e meu pai somos um” Ent&o vocé estard de volta para casa e surpreendentemente se dara conta que em nenhum momento se afastou da fonte. Foi apenas um simples pensamento quando teve essa impossivel ideia de separacao. Ela na verdade nao aconteceu. Jamais poderia acontecer, mas vocé pode sonhar e acreditar que esté acontecendo. Neste estado nao existe mais dualidade. Os opostos negativos e positivos desaparecem no nada, e vocé é arrebatado por um sentimento de total completude. Sua taca de amor simplesmente transborda. Na verdade o aparente determinismo que pode parecer um imposto contra a liberdade de escolha, é exatamente o verdadeiro e Unico propdsito que nés mais desejamos. Nao poderia haver outra escolha. Ou seja o aparente (determinismo) 0 levou onde vocé queria estar. “Ser 0 que sempre foi”. Um simples exemplo pode elucidar melhor esta quest3o: Se uma semente de maga enterrada na terra pudesse pensar diria:---- Aqui estou bem. Ela ainda nao possui nogo dos perigos que ter que enfrentar no mundo externo como; raios, ventos e tempestades. Mas apés algum tempo, a semente comeca a estufar e comeca a despontar para a superficie. Como ela nao possui uma viséo completa de todo o processo ela diria:--- Cadé meu livre arbitrio? Porque ndo posso continuar protegida e segura na profundidade da terra? No entanto apés alguns anos, quando ela se torna uma frondosa drvore repleta de belas mags, atinge o seu verdadeiro e tnico destino. O paradoxo é que elasetorna aquilo que emesséncia mais desejava. A macieira estava 0 tempo todo em seu interior. Através deste exemplo, podemos sentir que existe um amplo reino de inteligéncia que esta além dos pensamentos, além da mente, e que nunca muda. Esté sempre em vocé. “A sua atemporal esséncia”. Citando mais uma vez “Um curso em milagres” “Qualquer coisa que seja verdadeira é eterna, e ndo pode mudar nem ser mudada. O espirito é portanto inalterével porque jé é perfeito, mas a mente pode eleger a que escolhe Servir”..... Realidades diferentes nao tem significado, pois a realidade tem que ser uma sé. Ela nao pode mudar com 0 tempo, o humor ou 0 acaso. A sua imutabilidade é que faz com que ela seja real. Isso ndo pode ser desfeito. O desfazer é para a irrealidade. E isso a realidade faré para ti” Antes porém de terminar este capitulo, no poderia deixar de relatar uma histéria que ocorreu com minha mae, e que me fez perceber que o livre arbitrio e © determinismo estdo acoplados. Segundo mestres ascensionados e também confirmado por médiuns videntes, e terapeutas de vidas passadas, existe como uma programacio carmica que popularmente chamamos de destino. Nada acontece por acaso. Desde a escolha do pais, da familia e de seus futuros relacionamentos, tudo é programado para direciond-lo para as ligdes que devem ser aprendidas, e também pelo tempo que ficard para completar o seu tempordrio estdgio, aparentemente dentro do seu corpo bioldgico, até o termino de sua missdo planetdria, ou mais um sonho, dentro de seus inimeros sonhos, Foi o que ocorreu com minha mae, quando ainda adolescente, por volta de seus 17 anos estava viajando para uma distante vila no interior do Egito. A razdo era que sua irma mais velha queria se consultar com uma renomada médium, para saber se iria se casar com um rapaz que tinha conhecido num clube esportivo. Segundo algumas pessoas de seu convivio a médium era confidvel, e de uma capacidade de vidéncia incontestavel. Quem me conhece sabe que nasci no Egito-Cairo, assim como toda minha familia, Na verdade grande parte dela, eram descendentes de judeus europeus que se radicaram no Egito no século dezenove. Também devo mencionar que este fato, ocorreu em torno do ano de 1942, onde os meios de comunicagées eram bastante precérias. A principio minha mae, no aceitou o convite, pois era uma viagem muito longa. Além disso era um tanto perigoso duas jovens mulheres viajarem desacompanhadas. Mas por insistncia da irma, acabaram indo na data programada. Chegando na vila, nao foi muito dificil encontrar a casa da médium, pois todos da vila a conheciam. Era uma casa extremamente modesta, como quase todas as casas do interior. Havia também algumas pessoas que estavam presentes para serem atendidas, mas ndo demorou muito para ela ser chamada. Segundo descricdo de minha mie, ela entrou numa sala onde a médium sentada num pequeno e baixo banco, fez sinal para que se aproximasse mais perto e que fechasse a porta. Apds cerca de 15 minutos, saiu entristecida, pois a predi¢ao nao foi o que ela esperava ouvir, ou seja, nao iria casar com o tal do namorado. Quando estavam se preparando para sair da casa, minha futura tia insistiu para que minha mae também se consultasse, considerando que ja estavam ld ea médium praticamente nada cobrava pela consulta. Havia apenas uma pequena caixa, ao lado do pequeno banco, onde as pessoas voluntariamente depositavam a quantia que quisessem. foi assim que convencida entrou na sala um tanto amedrontada. Para minha mae, tentar conhecer o futuro era instigante, e também muito assustador. A médium continuava sentada no pequeno banco, quando de repente levantou-se de estranha maneira, e depois de redopiar varias vezes em torno do banco entrou em transe, balancando todo seu corpo. Com os olhos fechados, esbogou um leve sorriso e com uma voz que parecia de crianca comegou a falar: --Vocé é a Lily que veio com sua irma. O namorado dela esté apenas se divertindo, mas ela vai casar com outro e teré varios filhos. Quanto a vocé, vejo que conheceu alguns dias atrds um rapaz dentro de uma alfaiataria, Este rapaz de nome Raymond sera seu futuro esposo, Minha mae deu um sobressalto, porque era exatamente o que de fato se confirmou mais tarde, e o nome era correto, considerando ser um nome ocidental muito raro no Egito. Além disso minha mae nao estava ainda na fase de namoro, ela o tinha visto apenas algumas vezes na alfaiataria, e em nenhum momento contou estes encontros para ninguém. A médium continuou: --Ele € um bom rapaz. — um artista, tem talento, porém esteja preparada, porque teré alguns aborrecimentos com a dona Renée, a sua futura sogra, mas ndo dé importéncia pois isso passard. Apés uma década haveré uma tempordria separacgéo do seu companheiro. Isto ird durar dois pontos. A sequir terd que atravessar dois mares. E claro que minha mae achou tudo isso muito confuso e muito dificil de acreditar. Ela nem chegou a comentar com a irm§, curiosa em saber as predi¢des, que o tempo veio a confirmar. A minha mae de fato se casou com Raymond meu pai que era desenhista e pintor e todas as previs6es da médium se confirmaram em todos os seus detalhes com o passar dos anos. A separac3o com meu pai ocorreu durante a guerra com a Franca € a Inglaterra, quando as forgas armadas ocuparam o governo, e nacionalizaram o canal de Suez. O ent3o coronel Nasser que ocupou a presidéncia resolveu expulsar grande parte dos estrangeiros do pais. E os dois pontos foram os dois anos em que ela ficou separada do meu pai, por ter ficado no pais para tentar vender uma casa que tinham acabado de construir com muito sacrificio. Quanto aos dois mares, uma foi uma viagem maritima para atravessar 0 mediterrdneo, e 0 outro foi o atlantico quando imigramos para © Brasil onde meu pai nos acolheu. Este acontecimento me foi contado repetidas vezes por minha mie, e muitas outras realmente surpreendentes. Eu lembro que desde pequeno eu tinha uma fascinagao por histérias de mistério, magia, discos voadores, extraterrestres, e por tudo que era sobrenatural. Acredito que quase toda crianca se sente atraido por estes assuntos que transcendem o mundo convencional com suas leis fixas e estabelecidas. Penso que isso acontece porque a crianga conserva a sua pureza, e ainda possui um olhar de encantamento, mas que gradativamente vai perdendo pelo condicionamento social e conceitos estabelecidos. Estou contando este caso pessoal, s6 para demonstrar que hoje com 0 avanco da tecnologia e a diminuicdo de tabus @ preconceitos, vamos encontrar milhares de eventos considerados sobrenaturais nos mais diversos povos do mundo, mas que hoje ocorrem com maior frequéncia, e divulgadas com maior rapidez, e sem aquele temor do passado. Na atualidade, com a divulgaco de livros canalizados, terapias de vidas passadas, experiéncias de EQM, comprovagées na fisica quéntica, e depoimentos de astronautas* tudo isso pressupdem que existe um roteiro pré- determinado. Para quem for ler os livros do Gary Renard, facilitador do “Um curso em milagres”, seus relatos nao deixam duvidas quanto a verdade da predestinacao. Segundo seus mestres, 0 tempo além de ser uma ilusdo ele nao é linear. Contudo este destino nao. é fixo. Ele pode ser ligeiramente alterado de acordo com o despertar de cada um. Desta forma certas situacées podem ser anuladas, e os obstaculos removidos. No entanto creio que as bases principais do nosso inerario dificilmente podem ser alteradas. Podemos ficar confusos e nos questionar como tudo isso é possivel? Serd que o nosso destino foi programado? No entanto se refletirmos nesta questo iremos perceber que o tempo, nada mais é que degraus de uma escadaria. Ent&o quando acreditamos que estamos nos conectando com o futuro estamos também nos conectando com o passado. Talvez este seja o feitico do tempo. Os médiuns videntes conseguem prever o futuro, ndo porque est’o vendo imagens do futuro, mas sim esto vendo imagens do passado. Podemos até dizer usando a analogia da escada, que quando alcancamos 0 tiltimo degrau, quando nos conectamos com a fonte, a escada desaparece, ou seja o tempo desaparece porque em realidade ele nunca existiu. Foi apenas um truque para o nosso despertar. Um filme que deixa muito claro a ilusio do tempo 6 “Alta frequéncia” do diretor Gregory Hoblit que nos apresenta um historia que colapsa o tempo. Passado e futuro se mesclam e entSo nos tornamos cada vez mais como um observador acima do campo de batalha. Comecamos aos poucos a nos desprender de qualquer sentido de culpa e nos libertamos do peso de um suposto passado. Mas existem muitos outros como; Senhor Ninguém, O vidente, Contra o tempo, Solaris, X-men: Dias de um futuro esquecido e a trilogia Matrix. Acredito que estes filmes representam uma sintese brilhante dos ensinamentos do “Um curso em milagres”, e das comprovagées da fisica quantica. Quando estava praticamente no final deste pardgrafo, li um link na internet que me surpreendeu porque focava exatamente esta questo, e conseguia com poucas palavras sintetizar através de um didlogo a pergunta deste capitulo: Existe o livre arbitrio?. E do mestre Satyaprem* Transcrevo este texto aqui porque pode nos proporcionar um insight deste paradoxo. -Satya, como é que eu faco para minha vida ficar melhor? -Sua vida jé estd étima! Ela ndo tem essa perspectiva. Ela é 0 que elaé. -Ento eu niio tenho escolha? -Tem! Descobre quem vocé é! ~~ Entéio se eu descobrir quem eu sou, eu vou ter escolha? NGo. Vocé vai descobrir que vocé néo tem escolha, porque ndo tem vocé para escolher coisa alguma” Sem diivida estamos vivendo numa era de grandes transformacées, e de muitas revelacdes. Temos que perceber que estamos passando por uma profunda mudanga de paradigma, e isso resulta inexoravelmente em disturbios e conflitos no interior de cada alma. O lado positivo desta crise € que nos forga a uma interiorizagdo. Este é 0 tempo em que devemos reforcar a nossa fé e confianga, e adquirir uma certeza intima que tudo que acontece é sempre para o nosso despertar. No final todos nés somos um. Quando tirarmos os véus do esquecimento, iremos reconhecer a nossa verdadeira identidade. Isto nao sera no futuro, mas sera no aqui e agora. Tempo/Espaco e Matéria sao ilusdes. Os véus apenas nos impedem de reconhecer que somos seres iluminados. E como um homem que teve uma amnésia numa terra distante, e no sabe quem é. Vive na pobreza, sem ter a menor ideia que é dono do maior banco do seu pais. A parabola do filho prddigo de Jesus, traduz de forma sublime essa verdade. “Onde existe a luz da sabedoria, a escuridiio da ignorancia no pode permanecer”. *Annoite escura da alma — Mistico Carmelita, autor de varias, obras - 1542-1580 *Paradigma mecanicista ~ Conceito filosofico onde o universo é visto como uma grande maquina, separada or partes, como um sofisticado relégio. *Gurdlieff — Mistico, filésofo e psicdlogo ~ 1871-1949. *siddu Krishnamurti — Mestre espiritual cujas palestras e escritos tém inspirado milhares de pessoas ~ 1895-1986 "Buda - 0 Desperto, **Um curso em milagres — Livro editado sob influéncia espiritual, pela psicéloga Dr. Helen Schucman, ‘Sri Nisargadatta — Mestre indiano — 1897-1981. *Persona- Mascara na lingua grega. ‘Ingmar Bergman ~ Cineasta Sueco. Considerado um dos pioneiros do cinema de autor. Marianne Williamson — Escritora e palestrante do” Um Curso em Milagres” E fundadora do projeto “"Comida dos Anjos” para aidéticos. ‘Satsang — Prética espiritual na companhia de mestre e discipulos. *EQM — Experiéncias de quase morte *Ex-astronautas ~ Vejam 0 depoimento oficial dos astronauta Edgar Mitchell e Gordon Cooper no Google, sobre averdade dos extraterrestres. *Satyaprem — Mestre brasileiro discipulo do mestre indiano Osho. Podemos ver o perdéo como a travessia de uma ponte imagindria em que deixamos para trés um mundo onde estavamos sempre reciclando nossa raiva e chegamos a um lugar de paz. Esta ponte nos conduz a nossa esséncia espiritual e ao coracéo de Deus. Nessa realidade, existe apenas o amor. Gerald G. Jampolsky AIMPORTANCIA DO PERDAO NUM MUNDO EM DUALIDADE. A cada capitulo, procuro sempre examinar os principios filoséficos mais importantes a serem estudados e relatados, e os refino diversas vezes para possibilitar uma maior compreensao. Considero isso importante, porque existem diversos angulos que devem ser observados e analisados. Este capitulo portanto nao discorre sobre uma nova filosofia ou um novo modelo psicoldgico, mas sobre a nossa condicao fragmentaria e dualistica em que vivemos, e a grande importancia do perdao. Como conseguir voltar a se unificar com 0 todo, corrigindo as nossas percepcées entre o real e o irreal, e como perdoar verdadeiramente. Embora sejam dois temas aparentemente opostos, existe uma grande corelac3o entre eles, que no transcorrer deste texto seré claramente perceptivel. Sabemos que todo tipo de conflito é consequéncia de pensamentos dualisticos. Como tao bem P.K.Nesbit* afirmou: “A forma como vocé se sente, esté em proporgio exata ao que vocé pensa” Santo-pecador, Consciéncia, Inconsciéncia, Belo, Feio, Justo, Injusto, Paz-Guerra, Rico-Pobre, Vida, Morte, Amor, Medo. Todo este contraste entre uma condicao e outra, sio apenas alguns exemplos, que fazem parte do nosso estado mental de dualidade. Eles nos dao a percepcao de existirem como duas pessoas em nosso interior. Consequentemente nossa mente fica dividida e em constante conflito. Essa sensaco ocorre porque de fato existem em nés como duas forgas ou tendéncias. 0 ego e 0 “Ser”. O ego, como ja expliquei em diversos livros é a nossa falsa identidade, grande parte dele inconsciente. E 0 “Ser” corresponde em realidade a nossa verdadeira natureza. Entre estas duas tendéncias, somente uma é real. A nossa esséncia. O “Ser” que habita em nds. “Ela é Perfeita, Completa, Amorosa e Imutdvel”. Isto no € algo que ainda vai acontecer. Ela é a verdade sempre presente do que vocé é. O ego é irreal, porque surge em consequéncia da nossa aparente separacao da fonte (Deus). Ele provoca em nés um sentimento de culpa e reforga a ilusdo de uma constante caréncia. Na verdade o ego 6 como uma sombra, um sonho que se projeta na tela do espago/tempo. No entanto, mesmo que haja uma compreensio intelectual em relagao a interferéncia do ego, nao podemos dispensé-lo de uma hora para outra, enquanto no tivermos a experiéncia do estado do “Ser”. Qualquer tentativa de fugir dele, sé ira fortifica-lo. Devemos ser neutros, e nao lhe dar muita importancia. Ele por si s6 iré desaparecer de forma natural, sem nenhum esforco. Da mesma forma quando acordamos de um sonho, ndo se pensa mais nele, pois reconhecemos que foi apenas uma criacdo mental. © grande paradoxo é que embora estejamos sentindo um desamparo, em menor ou maior grau, pela ideia de nos sentirmos em desunido, ela ndo é verdadeira. Se acreditarmos que ela é real, entdo inevitavelmente iremos sofrer suas consequéncias. Podemos ainda nao sentir plenamente esta verdade, até mesmo adquirindo este conhecimento. No entanto de acordo com a sabedoria dos grandes mestres, estamos sempre em perfeita unicidade com a Fonte. Independente de nossas crengas, o fato é que nunca estamos separados mas unidos com toda criacéo. Somente a verdade do “Ser” é real. Nao podem existir duas verdades. Conforme o evangelho de Tomé: “€ impossivel para um homem montar em dois cavalos, ou retesar dois arcos. E é impossivel que um servo sirva a dois senhores, pois ele honra um e ofende o outro”. Esta é uma citacdo do mestre Jesus, que com muita sabedoria enfatizou em seus ensinamentos esta analogia segundo o evangelho de Tomé, e que hoje podemos compreender com maior clareza. Quando desfazemos a ideia equivocada de estarmos separados da Fonte e mais conectados com o “Ser”, temos condicdes de perdoarmos verdadeiramente, pois deixamos de dar realidade a uma ilusdo. Deve ficar bem claro que a ideia da separacdo é a raiz de todo o nosso sofrimento. Sempre quando estamos em conflito, esquecemos onde ele comecou. Assim a nossa tendéncia é sempre procurar fora de nés um culpado, para onde projetamos a nossa insatisfacao. Acreditamos que foi aquela pessoa que nos magoou, ou nos sentimos vitimas do destino quando passamos por uma dificil situagdo. Queremos responsabilizar alguém fora de nés pela dor que sentimos. Pode ser os pais, a esposa, 0 patro, o colega ou até o préprio Deus. Na verdade o que ocorre de forma inconsciente é que ocorréncias externas so os agentes que fazem aflorar 0 vazio e o estado dualistico em que a nossa mente se encontra. Nos identificamos quase que automaticamente com o ego, que sempre encontra uma boa justificativa para provar que estamos com a razdo. Desta forma esquecemos que a unicidade esté em nds. Esquecemos quem somos realmente. Se observarmos 0 comportamental humano quando subjulgado pelo ego, iremos constatar que ele se utiliza de diversas mascaras, dependendo da situagdo em que se encontra. Pode ser a mascara da humildade, da vaidade, do orgulho, da prepoténcia da inveja e tantas outras. Quando reconhecemos claramente que estas médscaras tentam esconder a fraqueza, que ele no consegue se desvencilhar, temos que ter uma atitude de compaixdo, por reconhecer que ele ainda nao alcancou a consciéncia de sua verdadeira identidade. Se em nossa trajetéria nos defrontamos com alguém que se encontra ainda na escuridao, perdido pelas adversidades da vida, temos que intensificar a luz do nosso coracdo, para iluminar 0 seu caminho. Esta é a missio dos grandes mestres, mas que deve ser também a missdo de todos nés, se tivermos condigées de poder orienté-lo com amor sem exigir nada em troca, porque dar e receber, sio a mesma coisa. A dualidade portanto é uma irrealidade que experimentamos no mundo, e que gera conflitos quando passamos a acreditar que ela é verdadeira. Novamente Jesus através de “Um curso em milagres” nos confirma com mais profundidade esta verdade: “E impossivel ver dois mundos que ndo coincidem de modo algum. Busca um deles, 0 outro desaparece. Mas um permanece. Eles constituem © raio de escolha, além do qual a tua decisdo ndo pode ir. $6 hd o realeo irreal entre os quais escolher e nada mais”. E claro que a principio o ego dificilmente ira aceitar ficar no escanteio. Ele quer ser 0 escolhido. Como ele possui por base o sentimento de medo, e sempre projeta a culpa em alguém, ou para uma determinada situagao, ent&o sustentamos ao longo dos anos esta iluséo ao invés de nos libertar. Como algemas que nés mesmos colocamos em nossos punhos, eles nos prendem ainda mais e dificulta a nossa libertacio. O ego faz de tudo para nos convencer que determinadas pessoas, ndo merecem o nosso perdao, e que temos que estar sempre prontos para nos defender ou atacar. No entanto basta um pouco de discernimento para perceber que somente quando vocé perdoa, estd na verdade perdoando a si préprio. Neste sentido as adversidades acabam indiretamente se tornando os nossos mestres. Sdo testes que o destino nos preparou para despertar. Um simples exemplo pode nos ajudar a compreender este aparente dilema. Existem dois anéis de diamantes. Um deles é verdadeiro, enquanto que o outro embora semelhante aparenta ser maior e mais brilhoso. Por ser mais atrativo a nossa tendéncia é escolher o mais brilhoso. Aquele que mais nos atrai e chama mais a nossa atencao. E claro que um joalheiro profissional e experiente perceberd que devido anossa ignordncia fomos enganados. Acabamos por Escolher 0 falso anel sugestionados pela sua bela aparéncia. Este é 0 papel do ego. Ele nos faz acreditar que escolhemos a joia de maior valor, mas que nao passa de uma simples bijuteria. Devemos inverter a nossa costumeira maneira de pensar. Qualquer tipo de desafio que tivermos que enfrentar, trata-se na verdade de uma bengdo porque nos forga a rever os nossos pensamentos, e examinar atentamente as nossas crengas para serem corrigidos. Sabemos que nestes momentos 0 ego nao aceitaré de mao beijada a situacdo. Ele fara de tudo para nos persuadir, mas como no exemplo acima quando adquirimos conhecimentos através de um auténtico joalheiro (Mestre) nao iremos mais incorrer em erro. Entdo como bons negociantes iremos reconhecer a joia verdadeira. Somente com o perdo podemos adquirir uma real vis, reconhecendo os nossos verdadeiros valores. Assim através desta necessdria mudanga, revertemos todo o processo da crenga da separacao. Talvez a maior dificuldade em perdoar as pessoas é a impressao de estar abandonando a nossa verdade. Perdoar pode parecer uma infidelidade, como se tivéssemos cometendo uma injustica por no sermos sinceros aos nossos sentimentos. Normalmente o perdao é visto por este Angulo. No entanto o verdadeiro perdao é totalmente isento de julgamento. € 0 reconhecimento que absolutamente nada aconteceu. Na verdade nem o perdao é necessario, porque vejo 0 outro com os olhos da inocéncia, mesmo que aparentemente alguém tenha causado um mal temporario. Se houver condigdes, posso fazer algo para nao perpetuar um erro cometido, mas sempre com o poder do amor. Ele é a chave que abre 0 nosso coracdo. Ele é a esséncia divina interior que se expressa no exterior. Mas preciso estar sempre vigilante, porque o ego muito esperto voltara novamente para insistir para permanecer na defensiva. Esta é uma de suas grandes artimanhas. Chegamos até a escutar sua voz muito convincente que nos diz: -- Como é. Nao vai fazer nada? Vai permitir esta humilhacGo? Quem ele pensa que é? Este é o seu usual discurso. Enquanto estivermos identificados pela voz do ego, existiré uma parte de nés que inconscientemente ird tropegar na tentacao de julgar e condenar. Ele quase sempre utiliza o seu proprio conhecimento intelectual em relacao ao perdao, para estimular a sua vaidade e orgulho. No entanto nao se pode perdoar o préximo para tentar se convencer de que somos espiritualmente superiores. Este seria um falso perdao. “Tudo bem, vocé esté perdoado porque sou um homem do bem, mas nunca vou esquecer o que vocé aprontou” Isto nao tém valor. Este tipo de perdao é uma espécie de barganha, apenas uma fachada. E 0 lobo travestido de cordeiro. Esta atitude demonstra apenas que o seu perddo no foi de coragdo. Perdoar verdadeiramente é no ver pecado algum em seu irmo, ou um castigo numa determinada situagio. Como téo bem define “Um curso em milagres”: “Todo ataque é um pedido de amor... Vocé quer ter razao, ou ser feliz”? Enquanto estava escrevendo sobre este tema, fiquei surpreso quando almogando com um grande amigo meu que domina varios idiomas, este me revelou que o significado da palavra perdoar significa em portugués paradoar. O mesmo ocorre na lingua francesa Pardonné, na italiana perdonarre, e na inglesa forgive. Ou seja todas as palavras enfatizam a palavra, “DOAR” que significa se libertar das amarras que nos prendem ao ego que no quer doar, mas sé quer receber. Outro ponto muito importante a registrar, é que em caso de tropegar, isto é sentir dificuldade em perdoar, e isso certamente ira ocorrer no inicio o que é muito natural, devemos evitar nos auto-punir reconhecendo humildemente que o nosso “Ser” no esta ainda fortalecido. Por isso devemos persistir e tentar outra vez, e mais outra vez. Com certeza no faltardo outras oportunidades para isso. Entdo apdés certo tempo, iremos nos surpreender. Notaremos que nosso perdao se torna cada vez mais natural, e comecamos a sentir um alinhamento vertical, permitindo uma conexo cada vez mais intensa com 0 nosso “Ser”. Viver com a mente dividida é viver uma alucinacao que precisa de um tratamento como qualquer disfuncao mental. Além da angustia que ela provoca, ela se reflete no corpo fisico causando diversos distUrbios psicosomaticos. Sempre o nosso corpo ird refletir como um espelho os nossos pensamentos. Quem possui o dom de ver a aura que circunda o nosso corpo sabe disso. De acordo com as tonalidades que a aura apresenta, podemos ver em que estado de consciéncia a pessoa se encontra. Raivosa, serena, deprimida, alegre, temeroso e assim por diante. O poder da mente é implacavel. © que vocé sente vocé atrai, 0 que pensa vocé cria, e no que acredita torna-se realidade. Estar num mundo em dualidade, nos forca em cada cruzamento de nossa vida fazer uma escolha. Vemos as pessoas aparentemente separadas uma das outras, com seus conceitos e preconceitos, suas virtudes e fraquezas. Damos um grande valor ao corpo, procurando satisfazer todas as suas exigéncias, e evitamos a todo custo a dor, sem nos darmos conta que todo tipo de prazer fisico ou mental vem acompanhado mais cedo ou mais tarde do seu oposto. Impossivel separa- los. Desejamos que o prazer seja constante, mas a dor vem junto £ como uma moeda em que vocé nao consegue separar a cara da coroa. Tudo isso nos parece um gigantesco quebra-cabeca, todo fragmentado e espalhado em diversas regides deste misterioso universo de sonho. Esquecemos que a felicidade no pode ser encontrada em pessoas ou objetos, pois nao possuem durabilidade. Sdo impermanentes, se transformam e desaparecem. Enquanto estivermos adormecidos e encalhados em nossas préprias crengas e ilusdes, ficamos como que sonambulos e em constante movimento circular do qual fica dificil romper o seu rodizio. Como numa churrascaria, temos que virar 0 nosso totem para o vermelho, para que 0 garcom nao volte mais a nos empanturrar com mais alimentos em nosso prato. Somente o verdadeiro perdao pode te libertar da falsa imagem que vocé imagina ser, permitindo o despertar de quem verdadeiramente vocé 6. Quando um dos frequentadores dos satsang: do mestre Sri Nisargadatta fez uma pergunta para tentar entender as razdes de sua infelicidade, 0 mestre respondeu com profunda sabedoria, mas com um toque de malicia: “Vocé estd infeliz porque tem o que ndo quer, e quer 0 que nao tem. Entdo sugiro que inverta a situacGo. Queira o que vocé tem, e nao se importa com o que nao tem”. A verdade néo precisa de defesa e jamais pode ser ameacada. Nao existe a inverdade, da mesma forma que nio existe escuriddo. Ela pode até nos dar a impresséio de durar por um certo tempo, mas um dia a verdade como um sol, volta a iluminar a nossa alma desfazendo a escuridao da nossa ignorncia. Isso me faz recordar da emogo que senti, quando ainda adolescente li o extraordindrio romance “Os miseraveis” de Victor Hugo’. No posso deixar de descrever um importante trecho, pois retrata de forma comovente um verdadeiro exemplo do perdao. Produziram-se varias versdes teatrais e cinematogrdficas desta obra prima da literatura, mas recomendo ler o livro também, pois contém indiscutivelmente uma maior profundidade. O romance aborda a vida de um ex-prisioneiro chamado Jean Valjean, condenado injustamente a cinco anos de priséo por ter roubado um po para seus famintos sobrinhos. No entanto devido a varias tentativas de fugas, ele acaba cumprindo um total de 19 anos de trabalhos forcados. Por fim ¢ libertado, mas marginalizado por todos que encontra em seu caminho por ser um ex-prisididrio. Mas 0 destino o leva ao encontro de um bondoso bispo que sensibilizado pela sua situagao, Ihe dé comida e abrigo. No entanto havia tanta raiva e rancor em seu cora¢o que na escuridao da noite rouba-Ihe 0 talheres de prata. No dia seguinte por estar maltrapido ele levanta suspeitas por parte de alguns policiais que o prendem e ¢ levado até a residéncia do bispo para confessar o seu crime. Quando chegam, para 0 espanto de todos e do préprio Jean Valjean, o bispo muito serenamente demonstra contentamento em revé-lo, e confirma ter Ihe dado a prataria como presente, e ainda pergunta para o ex-presididrio, por qual motivo ele esqueceu de levar os dois casticais que tinham um valor muito maior. Apés os policiais terem se retirado, o bispo o faz lembrar da promessa que ele tinha feito de usar a prata para se tornar um homem honesto. (Na verdade néo houve nenhuma promessa) Mas com este nobre gesto de bondade e verdadeiro perdido, o bispo consegue devolver a fée o amor que aquele homem sofrido e amargurado tinha perdido. Quando nossa experiéncia humana est alicercada no amor e no perdao, estamos na verdade vivendo a partir da nossa esséncia divina. Nao importa o tempo que possa passar, porque uma forca viva e poderosa se revela em nés, e percebemos que quando mais amor e admiragio sentimos por alguém € porque estas qualidades estdo afloradas em nosso interior. O nosso semelhante se torna como um espelho que reflete as nossas mesmas qualidades. Assim toda situaco, seja ela aparentemente dolorosa ou triunfante, desaparece quando o seu significado mais profundo se revela na tela de nossa mente. **Gerald.G Jampolsky — Psiquiatra e autor de vérios livros. E fundador do primeiro centro de cura das atitudes dos quals j4 existe mais de 130 centros ; Nesbit — Psicélogo, mestre em educacibo fisica e tradutor do “Um curso em milagres” na lingua tcheca. “Aurea — Energia invisivel que circunda 0 corpo fisico. ‘Satsang — Pratica espiritual na companhia de um mestre e seus adeptos. "Victor Hugo ~ Novelista, poeta, dramaturgo, ilustrador e estadista francés com mais de 70 obras 1802-1885. A percepcao da iluminagao traz consigo a repentina compreenséo de que néo hd ninguém ou Nada para se tornar iluminado. A iluminagao simplesmente é...NGo pode ser atingida como um troféu...A totalidade de tudo o que existe é unidade, e tudo 0 que fazemos € interpormos no caminho dessa unidade, ao nos esforgarmos para encontré- la Tony Parsons EXISTE ILUMINAGAO E ILUMINADOS? O que vem a ser a iluminagao? Sera que existem pessoas iluminadas? Qual é 0 profundo significado destas palavras? Popularmente dentro de uma sociedade onde predomina as regras do ego*, quando se diz que uma pessoa é iluminada ela é vista como uma pessoa especial, talentosa, carismatica e que se sobressai dentro de um grupo social. Mas neste capitulo vou tentar transmitir o que vem a ser um iluminado dentro de uma dimensao mais sutil. A diferenca esta em estar mais préximo ou mais distante da nossa verdadeira natureza. Assim podemos dizer, sem incorrer em erros de interpretaco, que um ser iluminado se encontra em conex3o com sua prépria esséncia. Estar iluminado é um estado de consciéncia, em que ha um sentimento de interconexdo amorosa com o todo, num absolute ndo dualismo. Qualquer tentativa de ser descrito em palavras jamais poder corresponder a verdade. Seria como ver a foto de um belo e decorado prato exético, impresso num cardépio. Ele sera apenas visualizado, mas no poderd ser experimentado. Na tradig3o védica*, a palavra iluminado que na lingua inglesa é “enlightened” vem da traduco da palavra “Budhi”. £ interessante saber que esta palavra surge da raiz “Budh” que significa “conhecer” ou aquele que conhece. E muito comum nos Vedas associar 0 conhecimento a luz, ea ignordncia a escuridao. O préprio termo “Guru” significa “Aquele que remove a escuridéo” Ento ele passa a ser considerado um sdbio iluminado pois possui a luz do conhecimento. Aqui o termo conhecimento nao se refere ao conhecimento intelectual, mas sim a uma experiéncia vivencial. Como esta luz se encontra em todos nés, podemos dizer que a iluminagao estd em todos nés sem excec3o. O que ocorre é que para alguns este potencial se manifesta num grau muito elevado. Entdo ele passa a ser considerado “Um mestre iluminado”. No entanto nao podemos acreditar no falso conceito que os iluminados possuem algo que vocé nao tenha, ou que vocé nao possa alcangar. Na verdade o que mais buscamos em toda a nossa jornada, sempre esteve, esta e estard em nosso interior. Esta busca nunca foi como acreditamos ser a conquista da natureza, sofisticar a nossa tecnologia ou obter vantagens materiais sobre os outros, mas sim resgatar a nossa verdadeira identidade. Este é 0 nosso verdadeiro propésito. Ela ndo esta Id fora, mas esta onde poucos tiveram a coragem de olhar. Nao sentimos este desejo com intensidade, porque de acordo com as sébias palavras do mestre Soham Jfiana*: “Enquanto alimentarmos a ideia do eu e do outro, estaremos contribuindo para a tecelagem dos véus da iluséo da separacdo. Mas se soubermos eliminar esses véus, 0 que haverd ainda para enxergar se néo existir mais fronteiras entre o que era eu e o que era o outro? Nao mais havendo um ponto de ilusdrio espaco ou consciéncia, onde um comeca e 0 outro acaba”? O grande paradoxo é que quando vocé se torna um ser iluminado, nada se ganha. Ao contrdrio vocé perde. Vocé perde seus apegos, seus habitos, seus pensamentos equivocados, seus desejos, seu ego. Quando sentir que nada mais hd a perder, entéo podemos chamar este estado de iluminago. Ele é um estado atemporal, no pode ser encontrado no futuro, ele sé se manifesta no momento presente. Os grandes mestres a definem como um dangarino, que em algum momento apenas a danca permanece e o dancarino desaparece. Podemos dizer que é como morrer para 0 mundo ilusério do ego, e passar a viver no mundo real. Um mundo do qual jamais nos separamos. Nao nos damos conta disso, porque o véu do esquecimento nao nos permite lembrar que estamos em constante conexdo com a fonte. Somente através da pratica do siléncio, podemos escutar com 0 cora¢3o a voz do nosso verdadeiro eu. Esta afirmaco pode ser incompreensivel para uma mente ldgica racional. Sempre acreditamos que devemos nos empenhar arduamente para alcancar qualquer coisa, inclusive a iluminacdo. Isto funciona até certo ponto dentro das regras do mundo das formas, porque sempre para conseguir algo, devemos nos dedicar para obté-la. Acreditamos que somente através de grandes esforcos poderemos alcangar o despertar. O ego ird perguntar:--O que eu irei ganhar com isso? Porque o ego que vive totalmente vinculado com o mundo externo, algo gratuito, algo que nao exige esforco, algo que todos possuem, nao faz nenhum sentido, e portanto nao possui valor. O ego quer ganhar, quer se destacar. Deseja ser especial, enquanto o “Ser” j4 é completo pela sua prépria natureza. Nada nele pode ser acrescentado. A pergunta mais importante que devemos fazer a nds mesmos é: “o que posso fazer para readquirir algo que jé est intrinseco em nosso “Ser”? Pode parecer mais uma charada, mas da mesma forma que uma planta procura pela sua propria natureza se infiltrar na terra em busca de Agua, o homem deve se infiltrar em seu interior para se conectar com seu “Ser”. Para isso deve procurar um mestre para orientd-lo. Ele no inicio ira fortalecer o seu intelecto através de livros de autoconhecimento, praticar técnicas meditativas e respiratérias, participar de palestras, filmes e se possivel fazer parte de um grupo de pessoas que também estejam nesta mesma busca. Mas tudo isso séo apenas como faréis iluminando 0 oceano, para alcangar a terra firme. O que pode ocorrer neste estagio, é passar por algumas experiéncias misticas que podemos chamar de “Lampejos do “Ser*”. Sdo momentos onde se experimenta uma espécie de flash de iluminago, que os hindus chamam por “Samadhi*” Mas também eles vem acompanhados por periodos de tristeza, ansiedade e angtstia em maior ou menor grau. Isso acontece devido a esta fase de transicao de um estado de consciéncia a outro. Podemos usar como analogia a transmutacao da lagarta em borboleta. Esse processo é inevitével para que a lagarta possa manifestar todo seu esplendor e todo o seu potencial. Foi por essa raz3o, para quem leu os meus livros da trilogia, pode entender porque utilizei a imagem da borboleta em uma das capas. Podemos dizer que quase todo mestre iluminado passa por estas fases. Mas depois quando ele se estabelece firmemente em sua esséncia divina, estas oscilagdes desaparecem, e a maior parte das praticas ja nao serao tao necessérias. Um verdadeiro mestre no procura formar discipulos, O que ele faz é entrar em seus sonhos para desperté-los. Assim podemos compreender que é impossivel tentar alcangar a iluminagao, porque se ele pudesse ser alcangado, isso iria significar que ele nao esta aqui-agora. Se ele tiver que ser alcancado como se fosse algo externo, ent3o 0 que pode ser alcangado pode também ser perdido. O que podemos fazer é apenas criar as condigdes necessarias para seu desabrochar. A iluminagdo jé esté em voce. Nao é algo que estd fora, é algo que estd dentro. Ele jamais poderia ser algo que jé nao estivesse em vocé. Todos nds possuimos essa esséncia. Como uma pequenissima semente, ela tem por meta florescer. Quando recebe um raio de sol, e 4gua da chuva, ela se sente nutrida, e passamos a acreditar que foram os fatores externos os principais responsaveis pelo seu desabrochar, mas na verdade eles foram apenas os estimuladores. Da mesma forma, nés acreditamos que a nossa alegria vem de fora, mas na verdade toda a felicidade que sentimos ao longo de nossa vida, surge desta pequena semente, que é um imenso e inesgotdvel oceano de amor. Isso é assim, porque a felicidade e a bem-aventuranca é a nossa prépria natureza. Segundo as palavras do mestre Muktananda: “VYocé nao é apenas o que pensa que é; vocé é mais sublime e magnifico. Uma grandiosa luz divina existe em vocé. Interiormente, hd um mundo sublime que vale a pena conhecer”. Assim podemos afirmar que dentro da realidade nao existe essa ideia de pessoas iluminadas ou nao iluminadas, mestres ou discipulos, jovens ou velhos, sabios ou ignorantes. Estas diferengas sé surgem num mundo em dualidade. Isso sé cria separacdo e conflito. E claro que essa classificacao dentro do mundo dual, é utilizada por uma questao de praticidade. Mas na unicidade no existe absolutamente nenhuma divisdo ou classificagao. O absolut nao tem nada a ver com a dualidade, nem com a unidade. A verdade simplesmente é. O mestre Nisargadatta responde a esta questao com estas sdbias palavras: ~"O pai e o filho sao (aparentemente) dois, existe a necessidade de um terceiro termo para novamente ser Um. (Eu e meu pai somos Um. Jesus.) Onde esté 0 terceiro termo? Pode descrevé-lo? Tu o viste”? E muito compreensivel que sentimos muita dificuldade em entender esta questo, considerando que vivemos grande parte do tempo mergulhados na dimensao dual, e limitados pelo tempo/espaco. Por mais que a iluminac&o possa ser descrita ela serd apenas um conceito, uma ideia. Quando ela se manifesta a pessoa ja no é a mesma. E uma total transformagao. Simplesmente ele volta a ser 0 que sempre foi. Na verdade nao existe muita diferenca na superficie, mas muito em profundidade. Embora um ser iluminado esteja (aparentemente) ocupando os limites de um corpo fisico, e sente a influéncia de seus sentidos, ele nao se identifica com eles. Assim experimenta também os seus atributos divinos. Na tentativa de descrever o estado de consciéncia que ele experimenta, podemos dizer que é como estar flutuando acima do mundo fenoménico e sente intensamente a sua pura radiansia. Ele se torna de acordo com a afirmago de todos os mestres, como uma tela de cinema branca e vazia. As imagens passam sobre ela e desaparecem, deixando-a branca e vazia como antes. Existem cenas em que vemos 0 fogo consumindo casas, vemos grandes navios naufragando no mar, e terremotos desabando prédios. Mas a tela permanece intacta, incombustivel e totalmente seca. A tela nao é afetada de nenhum modo pelas imagens, nem as imagens so afetadas pela tela. A tela intercepta e reflete as imagens, ela nao as forma. Nada tem a ver com a pelicula. Eles so como blocos do destino, de pessoas e de cendrios que aparecem na tela. Sem ditvida este é um tema por demais vasto e profundo, para caber neste capitulo. Seria tema para um livro inteiro, e mesmo assim seria ainda como ver mais fotos de pratos sofisticados num cardapio. Mas afinal existe os iluminados? Claro que sim, eles existem. Quem sao eles? Somos todos nés”. “Tony Parsons - Mestre espiritual e escritor. Nasceu em Londres em 1933 ‘Tego ~ Falsa identidade. *Védica — Tradicio filoséfica hindu, que ensina que a realidade é nio dual. “Lampejos do Ser ~ Mais informacies ver o livro "0 Divino jogo da consciéncia” *Soham Jfiana — Filésofo, escritor e palestrante internacional, autor da obra: Jesus, a trilogia. "Samadhi — Estado de unio meditativa com 0 absoluto. “*Trilogia — 0 Divino jogo do ser ~ 0 Divino jogo do amor © Divino jogo da consciéncia. *Muktananda ~ Mestre iluminado hind, perten 8 linhagem dos Shidas ~ 1908-1982 Sua visdo se tornard clara somente quando vocé Othar para dentro do seu coracéo. Quem olhar fora sonha. Quem olhar para dentro acorda. Carl Jung SONHANDO COM OMUNDO Escrever sobre a realidade ou irrealidade do mundo, constitui um gigantesco desafio, e sei que jamais as palavras com suas limitagdes conseguirao confirmar aquilo que s6 pode ser sentido e experimentado em nosso proprio “Ser”. No entanto acredito que este capitulo pode nos trazer alguns insights, sobre este mistério que sempre desafiou as mentes mais brilhantes no decorrer dos milénios. Nao estranhe se no decorrer do texto se deparar com mais alguns paradoxos, mas eles sero inevitaveis pela complexidade do tema. Somente sdbios iluminados podem ser as Unicas testemunhas que podem nos transmitir uma pequena ideia da verdade, por estarem fora do sonho, e num estado de unicidade com a fonte. Por ser uma experiéncia muito pessoal e intransferivel, eles quase nada escreveram. Sabemos mais pelo depoimento de seus discipulos mais diretos, e de livros contendo seus ensinamentos. Assim tive que me inspirar através do contato indireto de seus seguidores, e conduzido pela minha intuicdo e experiéncias poder transmitir algumas concepgdes deste tema que ird exigir um pouco mais de atenco e reflexdo. A resposta para esta questao € unanime. “O mundo e a mente sdo irreais” Esta afirmacao a principio pode nos chocar, e nos deixar estonteados porque a experiéncia que temos a todo instante nos confirma que o mundo é real. Nao apenas acreditamos em sua realidade, mas também interagimos com ele e também com as pessoas. Pensar ou acreditar que 0 mundo e todo este gigantesco universo é uma criacdo mental nos deixa sem chao. Sentimos uma sensagdo de vazio, e a vida parece néo fazer sentido. O grande paradoxo é que a prdpria mente associada ao ego, procura desmentir este fato, e nos apresenta provas relativamente consistentes para nos convencer que 0 mundo é real. N30 podemos esquecer que uma das caracteristicas do ego é sobreviver, e ele fara de tudo para mudarmos de ideia. No entanto se nos questionarmos de que modo acreditamos na existéncia do mundo, a resposta sé pode ser através dos nossos cinco sentidos. Porém até que ponto estes sentidos podem ser confidveis? Seria possivel 0 mundo existir sem a mente? Mas pesquisando um pouco sobre os pensadores do passado, vamos encontrar na filosofia ocidental, muitos filésofos que se questionavam sobre esta enigmatica questao. Emanuel Kant um dos mais respeitaveis fildsofos do século XVIII por exemplo, demonstrou minuciosamente em uma de suas obras que aquilo que percebemos nao é 0 mundo, mas uma varidvel de sensagées; sons, contatos, formas, sabores e odores. Estas sensagdes podem nos induzir em acreditar que elas possuem sua existéncia no exterior, independente de nossa mente. Mas de acordo com os sébios, o mundo sé é sentido em nosso interior. Hoje com o avanco da fisica quantica, esta comprovacdo se tornou muito mais evidente através de pesquisas cientificas. Sabemnos que os atomos séo compostos por particulas subatémicas, que ndo possuem nenhuma solidez. So apenas pacotes ou ondas de informades e energia, e que vibram em diferentes frequéncias. A aparente solidez e continuidade sé existem em nossa mente, estimuladas pelos nossos sentidos que ndo conseguem distinguir as ondas de energia, e de informagées. Porém a um nivel mais profundo os sdbios, nos confirmam que até mesmo a energia é inexistente. Ela é apenas um truque criado pelo pensamento. Segundo o grande avatar Sri Ramana*: “O mundo néo é outra coisa sendo 0 corpo. O corpo néo é outra coisa sendo a mente. A mente néo é outra coisa sendo a consciéncia primeira. E a consciéncia primeira nao é outra coisa sendo a Realidade”. Em outras palavras, 0 mestre nos diz que somos 0 eterno “EU SOU” que é imutavel, sem substancia, Ele se manifesta de forma natural, e nunca muda sua natureza, apenas aparenta se modificar, mas permanece no puro “EU SOU”. Entdo temos a certeza que a Realidade é um estado sem ego. Do ponto de vista da verdade absoluta, 0 mundo é irreal, mas enquanto estivermos adormecidos e sob o dominio do ego, como num sonho ele nos parecerd real. Para que possamos nos orientar sobre esta questo, os sdbios estabeleceram um padrao de realidade. Eles nos afirmam que “Sé é real, aquilo que existe sem mutac3o e sem interrupcao”. Este padrao é sempre confirmado por mestres e avatares e também nas escrituras da antiga india. Vamos encontrar na milenar obra “Bhagavad Gita” uma citaco de Krishna* quando declara para seu discipulo: “O que é irreal néio existe, e 0 que é real nunca deixa de existir” Podemos ver que esta citacdio é muito parecida com o “Um curso em milagres” “Nada real pode ser ameacado. Nada irreal existe. Nisso esté a paz de Deus”. Outro grande mestre Acharya Gaudapada também explica que: “Tudo que ndo tem existéncia antes e depois, nao existe nem mesmo agora” Entre os varios métodos que os sdbios se utilizam para demonstrar a irrealidade do mundo, um deles ¢ 0 sonho. No mundo do sonho, o sonhador sente diversos desejos e emoces. Tudo no sonho parece estar acontecendo, mas quando acorda, percebe que tudo que sentiu foi irreal. Foi apenas um sonho. Porém o sdbio consciente da verdade por estar desperto, sabe que o mundo no estado de vigilia é tao irreal quanto o mundo onirico. No entanto, para quem nao despertou, 0 mundo no desaparece até mesmo quando possui provas da sua irrealidade. A explicacao deste enigma é que saber apenas teoricamente, no altera os fatos. A verdade tem que ser experimentada. Um bom exemplo disso é a miragem no deserto. A sua aparéncia como um lago no desaparece mesmo que vocé receba dezenas de informacdes e provas que ele ndo passa de mera ilusdio. Mas somente quando estiver perto do imaginario lago, perceberd que sua visio te ludibriou. Encontrard apenas areia. Tal é © caso da aparéncia do mundo. Somente através do despertar, o mundo desaparece por ser uma miragem da mente. Mas podemos nos questionar para saber porque temos tanta dificuldade em despertar? A resposta é devido a habitual tendéncia da mente, que sempre se dirige para o mundo exterior e nao para 0 “Ser”. Mesmo quando meditamos a mente possui muita dificuldade em permanecer em_ siléncio, subjulgada constantemente pelo ego que alimenta constantemente a ideia de que o mundo é real. Outra analogia que os sdbios se utilizam, é quando se tem a ilusdo de que uma corda é uma cobra, por ela estar na penumbra. Enquanto acreditarmos que a corda é uma Cobra, ela nao seré vista como a corda que realmente ela é. A falsa cobra oculta a corda real. A mesma coisa ocorre com 0 “Ser”. Devido a esta ilusdo, sentimos um grande vazio e uma sensacio de angistia que nos invade em consequéncia do obscurecimento do Eu real. Entdo em nosso estado de delirio 0 substituimos inconscientemente pelo ego, que é 0 falso eu. O ego como a falsa cobra nos afasta da realidade da nossa esséncia divina e da nossa verdadeira morada. Entdo para suprir esta caréncia o ego nos oferece falsos valores. para diminuir 0 nosso desamparo. No inicio esta decisdo parece resolver a nossa frégil situagao. Entretanto com o passar do tempo percebemos que por mais que possamos ganar, acumular, conquistar e consumir, no se consegue o suficiente para saciar a nossa sede de plenitude. Permanecerd sempre em nosso coracdo uma sensagdo de incompletude, como um saco sem fundo, fadado a jamais ser preenchido. Outra impressionante comprovagao da irrealidade do mundo sdo as experiéncias de EQM. (experiéncias de quase morte) que parece que hoje ocorrem com maior frequéncia, e pesquisados cientificamente por médicos e psicélogos. Normalmente isso acontece quando a pessoa passa por um grande impacto emocional, um acidente ou uma complexa cirurgia, ocasionando uma morte clinica, que pode durar alguns minutos, horas ou varios dias. Neste espaco de tempo, ele passa por uma alteracdo de nivel de consciéncia, e se conecta com outras dimensdes. Como ja mencionei, todas as diferentes dimensdes fazem parte do nosso sonho. Dependendo do seu estado mental em que se encontra ele pode penetrar numa dimensdo de baixa vibracdo, chamado umbral, causando-lhe sentimentos de panico e visdes terrificantes, ou em outra de indescritivel beleza, dando-lhe a impressao de estar no céu ou paraiso. Na maioria das vezes é acolhido por seres amorosos, e é com muita relutancia que aceita voltar para o aparente corpo fisico. Eu mesmo passei por esta incrivel experiéncia que relatei em meu terceiro livro da trilogia “O Divino jogo da consciéncia” no capitulo “Lampejos do “Ser”. Uma_outra analogia bastante convincente é a do vaso. Um vaso recebe este nome por pura convengdo. Na verdade ele é apenas feito de argila. Antes de ser fabricado, era argila e quando um dia se quebrar voltard a ser argila, e mesmo como vaso ainda continua sendo argila embora com a forma e o nome de vaso. A forma do vaso nao possui existéncia independente. O vaso portanto é algo que a ilusdo imagina. S6. a argila 6 essencialmente real. Da mesma forma, o mundo, que é apenas uma aparéncia dentro do real, é convencionalmente chamado de mundo, no tendo existéncia propria e independente. De acordo com os sabios, a irrealidade do mundo pode ser comprovada por meio destas analogias. A corda que pode ser confundida por uma cobra. A miragem do lago no deserto, e os sonhos no estado onirico. Todas estas analogias so importantes e devem ser vistas e compreendidas, porque sao provas das nossas limitacdes. Nao podemos esquecer que uma analogia é apenas uma tentativa de explicar simbolicamente a diferenca entre o real do irreal, e que sé pode ser compreendido e vivido em sua totalidade quando ele 6 experimentado. Em lugar de ser apenas uma expressdo do pensamento, ele passa a ser uma realizacdo. E algo que vivenciamos e que impregna todo nosso “Ser”. Tendo por base os ensinamentos do “Um curso em milagres” vamos encontrar no livro de Gary Renard “O Desaparecimento do universo” escrito sob a orientacao de dois mestres ascensionados, surpreendentes e reveladoras citacdes, que so muito semelhantes com as afirmacées do sdbios orientais. Como um sussurro em nossos sonhos, eles tentam nos explicar, porque o mundo ¢ irreal e seu desaparecimento no instante do nosso despertar. Ndo quando a alma se liberta do corpo biolégico, mas o verdadeiro despertar quando transcendendo matéria/espaco/tempo, nos tornamos uma extensio do divino. Portanto deixar 0 corpo, em nossa atual condic¢do de adormecimento, nao significa que despertamos do sonho, ele ainda continua, mas em outra dimensdo vibratéria mais sutilizada. “antes do inicio, néio havia inicios nem fins; havia apenas o eterno Sempre, que ainda esté Ié - e sempre estard. Havia apenas uma consciéncia de uma unicidade imaculada. O que Deus cria em sua extensdio de Si Mesmo é chamado de Cristo. Mas Cristo nao é de maneira nenhuma, separado ou diferente de Deus. Eles séo exatamente a mesma coisa. Cristo néo é uma parte de Deus, Ele é uma extenséo do todo. O resultado de tudo isso é o compartilhar sem fim do Amor perfeito, que esté além da compreensao. Entao algo parece acontecer que como um sonho realmente nao aconteceu — apenas parece fazé-lo. A ideia insana de se sentir separado de Deus”. Aqui fica claro que esta ideia de separacao, jamais aconteceu. Vocé realmente nunca se separou. Vocé ainda esta I4, mas entrou em um estado de ilusio. Um sonho as vezes feliz, mas muitas vezes um verdadeiro pesadelo. Este foi em realidade o verdadeiro instante do Big Bang. Como um gigantesco espelho, este se fragmentou em incontdveis fragmentos. Cada fragmento é aparentemente uma alma individualizada da nossa Unica mente sonhadora. Como uma foto holografica, cada fragmento contém o todo. Por isso a grande importancia dos relacionamentos, porque sem outras pessoas atuando como espelhos, seria muito dificil perceber tudo que precisa ser visto e perdoado em nés. Assim 0 mundo que chamamos de material em todas as suas dimensées, fazem parte deste grande sonho. Ele nos parece extremamente real, mas na realidade espaco/tempo inexistem, e o mundo é uma projecdo que se manifesta na mente coletiva inconsciente. Um universo virtual que esté em nossas mentes. Tudo isso nos demonstra que Deus jamais teria criado este mundo, mas por sermos sua extens3o, ele esta em cada um de nds, assim como também somos uma extensdo com as outras pessoas, e com toda a esséncia viva da natureza. £ por isso que nos sentimos bem quando trilhamos o caminho do amor. Por ser 0 outro uma extensio de nds mesmos, os nossos pensamentos, sentimentos e atitudes, sao refletidos de volta em nosso “Ser”. Se isso ficou bem compreendido, ent3o podemos dizer sem nenhuma duvida que todos nés somos o “Cristo”. Embora este termo seja uma adaptacaio da palavra hebraica “Mashiach, que significa 0 “Ungido”, ela foi traduzida pelos gregos como “Christés” que significa “Messias”, Portanto ungido é alguém sobre quem se derramou dleo, simbolizando aquele que possui autoridade. No entanto existe versdes em que a palavra “Cristo” possui sua origem na palavra cristal, para designar nossa pureza original. Todos esses conceitos podem nos surpreender, porque fomos condicionados desde a infancia em acreditar que Deus criou o mundo, e viu que era bom, de acordo com os textos biblicos. Mas se ele o tivesse criado, estaria dando realidade a uma alucinagao, e ficariamos presos eternamente nesta priséo. De acordo com outra citago do “Um curso em milagres” “Se esse fosse 0 mundo real, Deus seria cruel, Pois Pai nenhum poderia sujeitar Suas criangas a isso como preco a ser pago pela salvacéo e ser amoroso” Podemos é claro duvidar de todos estes argumentos contra a irrealidade do mundo, porque achamos que quando acordamos de um sonho, podemos perceber a sua irrealidade, mas a nossa experiéncia durante o estado de vigilia ¢ constante e desta forma nao temos condigées de observar a sua ilusdio. Entretanto embora este argumento parece fazer sentido, ele ndo deixa de ser uma outra ilusdo. Em verdade existem muitas evidéncias que nos provam da irrealidade do mundo, mas que nao s3o percebidas, por acreditarmos que as ocorréncias no mundo so naturais e as aceitamos sem as questionar. Mas se estivermos atentos, vigilantes e observadores, iremos perceber intimeros fatos que nos escapam de nosso campo de consciéncia. E como um ponto cego. Olhamos mas nao vemos, tocamos, mas no sentimos. Talvez seja semelhante, quando as caravelas espanhdis quando pela primeira vez chegaram na América, nenhum indigena podia vé-los se aproximando. A explicagdo € que as caravelas eram totalmente desconhecidas em seus registros mentais. Além disso, se prestarmos um pouco mais de atenco iremos ver que este aparente mundo nos frustra a cada instante, comecando pela sua propria condicio de mutagdo. Vemos que tudo é efémero, impermanente, transitério e perecivel. Podemos afirmar que absolutamente nada escapa a essa lei geral. Acreditamos na ilusdo da separagio, sentimos as nossas fraquezas e medos. Os acidentes, a violéncia, as doengas, as perdas, o envelhecimento, e a morte. Acreditar que tudo isso é normal e natural, demonstra o quanto estamos adormecidos. Tudo isso impede a nossa consciéncia condicionada de perceber todas estas evidéncias, que confirmam a irrealidade do mundo ( Maia") Isto pode abalar muitas crengas que nos foram impostas ao longo dos tempos, principalmente pelas organizacées religiosas, e passamos a acreditar nelas. Mas se investigarmos a fundo, iremos perceber que nfo so nossas auténticas experiéncias. Si ideias emprestadas. Elas aparentemente nos proporcionam uma temporaria seguranga e achamos dificil nos desvencilharmos delas. Ninguém quer sair da zona de conforto. Porém a verdade é uma s6. Vird o dia em que ela acabard prevalecendo. Quanto tempo o homem levou para aceitar que a Terra era redonda? E tantas outras crencas, que o tempo alterou. Por ser 0 mundo um sonho de separacao, ndo devemos levd-lo muito a sério, porque estariamos reforcando sua falsa realidade. Da mesma forma que ndo podemos levar a sério um sonho, seja ele feliz ou um pesadelo. Este pode ser um grande paradoxo dificil de _compreender, porque ao mesmo tempo que a vida é um sonho, ela também é uma grande brincadeira. A propria vida é sempre comparado a um jogo que os hindus chamam de “Lila.” £ quando afirmam ser esta a nossa verdade, eles nao esto brincando, esto falando muito a sério. Na verdade como no existe passado, nem futuro, a ideia da nascer num corpo, no tem significado. Assim a reencarnagao é como se fosse um sonho dentro de outro sonho, Assim dentro desta realidade, a ideia da reencarnacao como algo real é impossivel. Se isso for plenamente compreendido, nao é apenas uma mudanca de paradigma, mas uma verdadeira destrui¢3o do paradigma. Neste estado sentimos que no existe mais escravidéio nem libertacao, no existe pecado nem santidade; a ilusdo da dualidade é removida e assim termina toda nogio de diferenga. Estamos apenas sonhando com o exilio, mas totalmente seguros, amados e unificados com Deus. Um filme que pode facilitar muito o entendimento desta questo é “O Show de Truman” dirigido por Peter Weir. Truman o personagem principal, por ter nascido numa cidade artificial, ndo se da conta que vivia num gigantesco cendrio. Um reality-show televisionado e transmitido em cadeia internacional 24 horas por dia. Ele ndo percebe que vivia num mundo irreal. Atentem no filme para a resposta do diretor do show, quando Ihe é perguntado sobre as razbes de Truman nio ter chegado perto de descobrir a iluséria natureza do seu mundo. “Aceitamos a realidade do mundo que nos é mostrado. £ muito simples.” Mas Truman jd adulto est a ponto de descobrir o quanto seu mundo aparentemente real, era completamente anormal, através de varias evidéncias que ele descobre aos poucos, e que no faziam sentido. Na verdade o que ele mais ansiava, era descobrir a sua verdadeira identidade. Entéo o amor da mulher amada, o estimula e Ihe da coragem para trilhar o caminho de sua libertagdo. A mulher amada representa simbolicamente o estimulo para o despertar de sua esséncia divina. Desta forma depois de passar por toda esta brincadeira (Lila) de esconde-esconde, ele finalmente acorda de seu longo e curto sonho, e volta a ser o que sempre foi. Vale a pena assistir ao filme, porque 6 uma maravilhosa e divertida alegoria de nossa condig&o de amnésia espiritual Depois de muitos anos ou existéncias, vivendo numa consciéncia em que acreditamos estarmos separados de Deus, 0 que ocorre é que 0 nosso “Ser” se enfraquece e se distancia. E como se estivéssemos cobertos por uma lama que o préprio tempo endureceu, obscurecendo 0 nosso brilho. A nossa esséncia se torna uma fraca luz que mal consegue iluminar um mintisculo fragmento de nossa real identidade. Entéo compactuamos com 0 ego e passamos a ter um comportamento mecAnico e instintivo. Amar 0 préximo como a sim mesmo de forma incondicional, se tornou apenas um belo e roméntico conceito filoséfico. Isso faz com que a vida se torna como uma gangorra que oscila constantemente. Sim, as vezes temos bons momentos. Sentimos uma plenitude e uma felicidade que invade nosso coragao, mesmo com as coisas mais simples. Mas isso sé ocorre quando estamos mais conectados com nossa esséncia, porém nao conseguimos manter este estado por longo tempo. Esquecemos da nossa verdadeira esséncia, e vamos buscar [4 fora algo que possa nos completar. Mas ¢ impossivel fazer durar algo num mundo em dualidade. Um mundo em constante transformagao. Algumas coisas duram mais tempo, outras s6 duram o tempo de uma respira. Mas quando nos conectamos com a fonte suprema, como um lampejo de luz, ele consegue clarear instantaneamente a nossa consciéncia e lembramos que temos a mesma natureza do criador. Dentro da realidade sé existe amor e unicidade. No entanto existe outra questo um tanto intrigante, e muitos se questionam sobre ela, sem encontrar uma explicacéo coerente. Como podemos compreender depois de milhares de anos, e com a frequente presenca de mestres e avatares, ao longo dos séculos, uma estagnaco moral e espiritual em que nos encontramos. Amar 0 préximo como a si mesmo, e outros sublimes ensinamentos de Jesus, dificilmente sao praticados em nossos dias. Vemos que ainda impera a violéncia, conflitos, guerras em diversas regides, e um sistema politico competitivo beneficiando a poucos, enquanto grande parte das pessoas sobrevivem nas piores condigées. Sera que é tao dificil perceber que o amor é 0 melhor investimento? Pode parecer um grande mistério. No entanto isso tem uma explicacdo. Nao podemos esquecer que todas as pessoas que viveram ha milhares de anos, no se encontram mais no plano fisico. Com certeza se encontram em dimensdes mais elevadas, e muitos jé despertaram do grande sonho. Os habitantes atuais, nao so os mesmos do passado, salvo alguns que por compaixdo se tornam mestres missiondrios. A grande maioria sio outros seres vindos de outras dimensdes para aprender novas ligdes. Temos que considerar este fato, porque ficaria sem sentido que passados milhares de anos, estes seres no tenham evoluido ao longo de suas numerosas encarnacées. Sabemos que nada permanece estatico. A cada dia somos diferentes. Um bom exemplo disso, foi a vida do senador romano Publio Léntulus. Uma alma atormentada pela ambicdo politica, abusando de sua autoridade para servir 0 império, e atraindo para si e para sua familia terriveis desventuras. Apés varias encarnagdes (sonhos) em diversas regiées, encontra por fim a luz salvadora do arrependimento. Sua ultima encarnacao foi em Portugal como padre catdlico, cujo nome foi Manuel da Nobrega, que junto com o padre José de Anchieta viajam para o Brasil recém descoberto, com a miss3o de catequizar os indios, e em 1554 fundam a cidade de Sao Paulo. O tempo passou e em pleno século XX, pouco antes da segunda guerra mundial, ele volta como mentor espiritual do grande médium brasileiro Chico Xavier*. Juntos produzem diversas obras psicograficas, sendo um deles o livro “Ha dois mil anos” Um romance onde descreve a sua vida como um perverso senador romano. Um classico da literatura espirita. *Carl Jung Psiquiatra e fundador da psicologia analitica Fez parte do movimento psicanalitico criado por Freud, mas do qual se separou. 1875-1961 *Sri Ramana - Avatar- 1879-1950. ‘*Maya ~ Poder que vela e obscurece a verdadeira natureza do “Ser.” "Krishna — Avatar- encarnacao do Senhor Vishnu, cujos ensinamentos esto contidos no Bhagavad Gita *Lila- 0 jogo divino. “Peter Weir — Cineasta Australiano. *Chico Xavier — Médium com mais de 450 obras psicografadas, 1910-2002 A vida é uma pega de teatro que no permite ensaios. Por isso, cante, ria, chore e viva intensamente cada momento de sua vida, antes que a cortina se feche e a peca termina sem aplausos. Charles Chaplin A NOSSA PRINCIPAL JORNADA Tente imaginar apenas por um momento, que vocé acorda de manhi ainda meio sonolento, e de repente se depara que est em outro lugar, como se estivesse em outro mundo. Vocé esfrega os olhos para ter certeza que nao esta sonhando, e aos poucos comeca a perceber que este novo cenério é um tanto diferente do mundo até entdo conhecido através de seus sentidos. Para sua surpresa comeca a ver simples habitagdes mas de extremo bom gosto, todas interligadas por amplos jardins floridos, e sem nenhuma demarcac3o entre elas, Majestosas montanhas, bosques € lagos complementam este extasiante paisagismo. Vocé esfrega novamente seus olhos ainda estonteado por essa repentina e totalmente inesperada mudanca, e se da conta que todas as coisas a0 seu redor possuem um intenso brilho e colorido nunca visto antes. Tudo parece surreal e vocé sente um grande deslumbramento em presenciar este majestoso local. Porém na medida em que passa a observar com mais atencSo este novo habitat, percebe a existéncia de pessoas, habitantes deste mundo. Vocé nota muita amorosidade em suas interacdes uns com 05 outros, € seus rostos refletem felicidade e harmonia, muito diferente do nosso estressante mundo conhecido. Entdo vocé se pergunta um tanto desnorteado, em que mundo poderia estar. Estaria por ventura em outro planeta? Mas para sua surpresa vocé constata que est no planeta Terra. “A Terra do néio dualismo”. Esta introdugao pode parecer uma mera fantasia. Um belo sonho, talvez uma antevisao de um futuro mundo perfeito. Mas nao. Este mundo de fato existe e esta aqui e agora. N3o no mundo externo, mas sim em nosso mundo interno. O verdadeiro e real mundo, onde so poucos os seus exploradores. Habitar esse mundo é possivel. Ele no exige nenhuma burocracia, documentos, dinheiro, passaporte. Nao exige meio de transporte e nem tampouco bagagens para serem transportadas. Basta apenas o seu desejo e seu desempenho. Em um determinado momento de nossas vidas, sentimos que chegou © momento de abandonar muitos vinculos que com o tempo acaba perdendo nosso interesse inicial, e que nao nos satisfazem mais. Nos desvinculamos de relacionamentos afetivos, de antigos amigos ou colegas de trabalho, nos afastamos de uma organizacao religiosa, tradigées politicas e muitos outros lagos. Isto tudo acontece em decorréncia de um despertar espiritual, e fica cada vez mais dificil manter ou conviver com eles. Eu préprio jé passei por muitos deles, e sei que é muito dificil administrar os sentimentos e emocdes quando atravessamos estes estados. Algumas delas podemos até manter, contanto que isto nao venha a interferir em nossa nova jornada. Sempre que rompemos um vinculo sobretudo afetivo, é um tanto doloroso. Mas nao podemos permanecer estagnados. Temos que ter a coragem de mudar. Quando somos criangas estas mudancas sdo mais faceis, e ocorrem de forma natural. Mas na fase adulta fica mais dificil, porque assumimos varias responsabilidades e os relacionamentos acabam como se cristalizando. Ficamos temerosos, e com o passar dos anos muitas vezes acabamos nos conformando com a situa¢ao, como se fosse 0 nosso destino. Mas o destino também nos reserva surpresas, e de repente situacdes inesperadas nos forgam compulsoriamente a mudar. Neste processo de despertar, atravessamos varios estégios. Um dos mais dificeis a ser superado, é em relacdo ao conceito de que para se alcancar a felicidade devemos ter um propésito na vida. “Sucesso profissional e econémico, 6tima sade, exercicios fisicos, saudével alimentacdo, além de um harmonioso relacionamento afetivo. £ 0 que a sociedade nos impée e espera de nds. Para isso vamos encontrar muitos livros de autoajuda que proliferam hoje nas livrarias, e que tentam nos oferecer as mais variadas receitas para atingir este propésito. Na verdade tudo isso deveriam ser chamadas de metas. Nao que essas metas ndo sejam necessarias, e desejaveis, mas elas nao constituem 0 nosso real e mais importante propésito. Esta é uma pergunta que devemos fazer a nés mesmos, e sé poderd ser respondida a partir do momento em que nos damos conta que vivemos adormecidos. Acreditamos ser o que nao somos, e desacreditamos do que realmente somos. Somente quando adquiro consciéncia da minha verdadeira situagao, poderd existir condigdes e possibilidades em despertar deste nosso hipnético sono. Somente entdo é possivel voltar a ser 0 que sempre fui: Unificado com a fonte. Ele é a0, mesmo tempo muito simples, mas também dificil de alcancar. O ego fara de tudo para impedir esta percepcao. Eu pergunto: —Poderia existir um propésito maior? Por ter se distanciado de sua real verdade, o homem se restringiu em conquistar apenas determinadas metas, Na verdade as metas so como brinquedos educativos para uma crianca. Neste estado de consciéncia ele sente a necessidade de estar sempre fazendo algo. Pode ser qualquer tipo de atividade somente para diminuir o vazio que sente. Outros provavelmente mais carentes, sentem que precisam realizar algo de grandioso para serem reconhecidos e prestigiados. Existe uma imperiosa necessidade de alimentar 0 ego, (a nossa falsa identidade.) Sem ele o que seriamos? Um nada devastador que parece aumentar cada vez mais. Uma angustia to insuportavel que pode acabar conduzindo-nos drasticamente ao suicidio. A nossa amnésia espiritual 6 t3o forte, que no nos damos conta que 0 nosso unico problema é acreditarmos na iluséo da separacdo. Esta 6 a primeira e verdadeira causa de nossa caréncia. Podemos até afirmar sem exagero que todos os outros aparentes problemas decorrem desta falsa, mas penosa sensacao de se sentir excluido. Repetindo uma sabia citagdio do psicélogo Augusto Cury: “Qs que pensam em suicidio ndo querem matar a vida, terminar com a existéncia, mas matar a dor emocional, a angustia, o desespero que abate suas emogées. £ uma tentativa desesperada de procurar transcender a dor da existéncia, e ndo o fim dela”. A prépria condicao existencial do ser humano, 6 como um imenso palco, onde por mais estranho que possa parecer, seus atores se sentem estranhos uns com os outros. Neste surrealista cendrio dirigido e produzido pelo ego, impera as mais diversas atuagdes. Isso acaba provocando constantes conflitos e um sentimento de temor, insatisfaco e estados de depressdo. Basta assistir as novelas televisivas. Um prato cheio de oscilagGes emocionais. Mas em um determinado momento de nossa vida, principalmente quando enfrentamos um grande desafio, parece que desperta em nés uma energia oculta que nos motiva em buscar algo mais substancial do que apenas nutrir e proteger nosso corpo, ou acumular bens materiais. Desta forma somos impulsionados a desfazer os véus que encobriam a nossa verdadeira identidade, buscando ‘em nés mesmos o sentido da nossa principal jornada. Este profundo e intenso sofrimento humano, quando é analisado e compreendido com muita clareza nos mostra que uma das razes desta constante condicio de ansiedade, é a nossa crenga de nos sentirmos culpados, e mergulhados num mundo em dualidade. Em vez de predominar a unido e o amor que fazem parte de nossa verdadeira natureza, sentimos um temor e uma desuniao cada vez mais intensa. No entanto ndo podemos terminar com esta dualidade através do intelecto, num mundo em que prevalece o poder do ego. Porque tanto a felicidade como a infelicidade sao interdependentes. Impossivel separa-los em curto espaco de tempo. Eles constituem a frente e 0 verso da mesma moeda. Para se alcangar 0 “Ser” que na realidade jd est em nés, nada é preciso fazer. Devemos perceber com lucidez que o despertar nao pode ser atingido pelo esforco. Qualquer tipo de esforco sé ird retardar o nosso despertar. E como um peixe fazendo todo um esforco mental, para compreender o que vem a ser a ‘gua, sem se dar conta que esta o tempo todo mergulhado nela. Somente através do silenciar da mente, é que podemos criar as condigdes necessdrias para uma verdadeira conexdo. Entéo como um lago de aguas serenas, podemos enxergar com clareza os tesouros que se ocultam em sua profundeza. Enquanto estivermos dominados pelo ego, iremos nos identificar com aquilo que é formado, produzido, criado e ficamos dependentes de suas causas. Isto significa ficar submetido em sua matrix, como escravos, presos no tempo, na caréncia, na decadéncia, e na morte. Nossa principal jornada, longe de ser um caminho de aquisicées e acumulagées, é ao contrario, um caminho que se assemelha mais ao ato de despir-se do que ao ato de vestir-se. Compreender o profundo significado da nao identificagao com o mundo das formas, pode ser considerado até como um preluidio para o despertar. O mestre Ramesh S. Balsekar* definiu isto com muita sabedoria quando diz: “O ser humano quer dar continuidade 4 sua vida e as suas realizacées, mas ao mesmo tempo reclama pelo “Ser”. Néo desiste da guerra, mas exige paz” Quando reconhecemos que o nosso principal equivoco estd no esquecimento de nossa verdadeira natureza, nao podemos desejar exclusivamente a felicidade, a prosperidade e satide perfeita, tentando a todo custo evitar o seu oposto. Tentar endeusar 0 mundo das formas, sé pode resultar em maior frustracio e maior conflito. Tentar viver no mundo como se ele fosse a nossa Unica morada, é tentar enganar a si proprio. Impossivel eternizar algo que por sua propria natureza é impermanente. Sim, podemos trabalhar, preservar a nossa satide, viaj se entreter e desfrutar do prazer que eles nos proporcionam, mas sem esquecer que em realidade a vida é como estar assistindo a um filme que nos parece extremamente real. Sem duvida ele possui um grande poder de seducdo, e fica muito dificil acreditar que se trata simplesmente de uma projegao numa tela branca. Sempre o mundo exterior serd o reflexo do nosso mundo interior. Para isso temos que estar atentos e vigilantes. — Administrar os nossos pensamentos e emocées. - Ser um observador desapegado. - Estar acima do campo de batalha. - Viver no mundo sem ser do mundo. - Amar e perdoar sempre. Estes sempre foram os ensinamentos dos grandes mestres. Entao gradativamente comecamos a sentir, que a influéncia do ego se torna cada vez menor. Isto ocorre desta forma, porque caso vocé despertasse repentinamente seria extremamente assustador. Como “Um curso em milagres tio bem explica: “Téo amedrontador é 0 sonho, téo aparentemente real, que ele no poderia despertar para a realidade sem o suor do terror e um grito de medo mortal, a nao ser que um sonho mais gentil precedesse 0 seu despertar e permitisse que a sua mente mais calma desse boas-vindas & Voz que chama com amor para que ele desperte ao invés de temé-la; um sonho mais gentil, no qual o sofrimento foi curado e seu irméo veio a ser seu amigo”. Somente desta forma podemos nos sintonizar com a voz por Deus ou do espirito santo, que 6 0 nosso eu superior. Entdo estaremos preparados, para sermos conduzidos com tranquilidade em direcao da nossa pura esséncia. Ela pode ser temporariamente esquecida, mas jamais perdida. Tudo isso significa que se tivermos fé de que a vontade de Deus é também a nossa vontade iremos perceber com total clareza que jamais houve separacdo e que nada pode manter-nos longe do seu amor. Ent3o 0 nosso coracio sera apaziguado. Todos os nossos pensamentos sombrios, os nossos negros pesadelos nada irdo significar. Eles jamais prevalecerao contra a nossa paz. A verdade nao vacila. Vamos encontrar novamente no “Um curso em milagres” uma comovente citacdo que confirma que nao existe nenhuma perda na realidade: “Perdoa todos os pensamentos que querem se opor & verdade da tua completeza, unidade e paz. Tu ndo podes perder as dédivas que o teu Pai te deu”. Somente quando o ego é destronado, todas as nossas ilusdes sdo removidas, e como uma extensio divina vocé aceita a voz por Deus como sua nica fonte. Somente aceitando serenamente a vida como ela é, podemos reencontrar no siléncio do nosso coraco, a nossa bem- aventuran¢a. A vida 6 como um sonho. Existe apenas um propésito no qual todas as pessoas deveriam buscar. “A verdade de quem somos nés”. Ea verdade é tudo aquilo que néo mudas. Nao poderia terminar este capitulo, sem 0 majestoso e sublime texto do mestre Nisargadatta, que nao deixa de ser uma sintese deste capitulo. “Tudo aquilo que foi obtido, pode ser perdido novamente. Somente quando vocé perceber a verdadeira paz, a paz que vocé nunca perdeu, essa paz permanecerd com vocé, pois ela nunca foi embora. Sempre permanece em seu interior. Em vez de procurar aquilo que vocé nao tem, descubra aquilo que vocé nunca perdeu. Aquilo que estd Id antes do inicio, e apés o fim de tudo; Aquele estado atemporal, que ndo é afetado pelo nascimento e nem pela morte de um corpo, ou de uma mente. Este estado vocé deve perceber. Ele é 0 seu eu verdadeiro. Charles Chaplin ~ Ator, diretor e produtor Considerado um icone do cinema mundial. 1889-1977 *Ramesh S. Balsekar —Discipulo do sabio Nisargadatta Maharaj. E autor de mais de 25 livros. *“Nisargadatta ~ Gurru hindu na linha de Advaita Vedanta ~ 1897 - 1981 Vocé deveria orar a Deus com intimidade, como seu filho, e é 0 que vocé é. “Eu sou Teu filho. Tu és meu Pai. Tu e eu somos um. Paramahansa Yogananda AVERDADEIRA ORACAO Neste capitulo, vamos procurar compreender 0 verdadeiro significado da ora¢ao, e as razdes pelas quais as pessoas recorrem a esse intimo didlogo, seja ele feito no lar, em contato com a natureza ou no interior de uma igreja. Por estarmos vivendo num mundo em dualidade e grande parte do nosso tempo somos dominados pelo ego, temos a tendéncia em recorrer a orac3o. Porém ela quase sempre é um pedido no mundo das formas, seja para diminuir 0 nosso vazio, procurando preenché-lo através do mundo exterior, ou para nos livrar de um determinado obstéculo que nos causa sofrimento. Sao raras as excegdes quando a oracio é feita em agradecimento pelas boas situaces que nos s80 dadas. Porém ambas esto ainda no campo da caréncia e refletem a nossa incompletude. Somente através de uma conexdo espiritual, esta caréncia pode ser preenchida. Nao uma espiritualidade de segunda mao, mas sim uma verdadeira conexdo com a nossa esséncia que sabemos ser muito maior que a nossa individualidade. Constatamos também que investir no mundo das formas, no ir nos proporcionar a real felicidade, porque é como construir uma casa na areia, que a maré fatalmente ird dissolver. € preciso que haja fé em nosso coracao, e sentir que temos uma forca maior, onde tudo pode ser possivel. Foi com esta viso que o mestre Jesus confirma esta verdade quando diz: “Em verdade vos digo que se tiverdes fé como um gréo de mostarda (Uma mindscula semente) direis a este montanha: passa daqui para acolé, e hé de passar; e nada vos serd impossivel” (Mateus). A questo é que nao sabemos como manifestar este grande poder. Anossa mente é invadida constantemente por inumeros pensamentos, 0 que dificulta enormemente a nossa concentracao. Desconhecemos as ferramentas que devemos utilizar para direcionar a mente em direcdo da nossa esséncia. Fica claro neste ensinamento de Jesus que as montanhas representam simbolicamente os obstdculos da vida. So montanhas de orgulho, de inveja, édio, avareza, ressentimentos e muita outras fraquezas que sé retardam o nosso crescimento espiritual. Quando adquirimos esta consciéncia, quando de fato nos damos conta da nossa situag%o, devemos procurar aos poucos desfazer estas falsas e distorcidas crengas para ndo continuar subjugados pela voz do ego. Sentimos no mago da nossa alma a necessidade de algo que seja imperecivel. Desejamos sentir uma plenitude que no pode ser encontrada neste mundo de dualidade e em constante mudanga. O que em verdade mais ansiamos é obter uma visio panoramica da vida e nao fragmentada. Queremos sentir a paz ¢ o amor, que esto em nosso “Ser” mas que 0 ego e as regras sociais nos iludem e nos impedem de encontrar. O ego quer nos manter adormecidos, e nos transformar em verdadeiros androides para servir a este sistema corrupto e materialista onde o homem esqueceu de sua alma. Isto sé pode ser desfeito libertando a nossa mente das inverdades que nos foram impostas, e direcionando os nossos pensamentos para aquilo que é real. Para aquilo que é constante. Podemos chamé-lo de Deus, 0 Absoluto, o Ser, Espirito santo, a Fonte, pouco importa o nome. O mais importante é sentir que existe este extraordindrio poder que estd em nés, capaz de através de uma pura e verdadeira oracao eliminar nossas crencas para um novo renascimento. Sempre que ocorre a aparente separaco de um amigo, parente, ou um antequerido, é quase sempre um dos maiores desafios da alma, porque neste momento, somos levados compulsoriamente a nos questionar sobre o sentido da vida. Quando convivemos por um longo periodo com uma determinada pessoa, sabemos que um dia teremos que nos separar, seja por incompatibilidade, ou através da desencarnacdo que ainda por ignorancia a chamamos ainda de morte. Quando isso ocorre 0 que deveria ser motivo de celebracdo, pois a alma apés cumprir com sua missio se liberta finalmente do pesado fardo do corpo, ocorre exatamente o contrario. Lamentagées, lagrimas, tristeza, e angustia. Caso © corpo ainda esteja em estado de coma, oramos pela sua recuperacio, ignorando que estamos tentando prolongar seu sofrimento na pris3o do corpo, devido ao nosso apego. Porém se nos aprofundarmos mais nesta questo, iremos verificar que esta aparente separagdo possui um lado positive, porque faz reviver inconscientemente a nossa prépria e imaginaria separacSo da fonte. Dificilmente as pessoas percebem esta sutil verdade. Acreditamos que sofremos pela separa¢ao do outro, mas na verdade sofremos pela nossa propria separacio. Como ja me referi diversas vezes, 0 homem vive numa profunda amnésia espiritual. Desconhece a sua verdadeira identidade, e permanece inconsciente do seu verdadeiro potencial. Acreditamos estarmos separados da fonte (Deus) e em consequéncia de tudo isso sentimos um vazio que nao conseguimos preencher. Desta forma a oragdo na maioria das vezes, se torna apenas uma espécie de mendicancia. Um ritual que sé fortalece a crenga de uma forca externa que acreditamos ira solucionar os nossos aparentes problemas. Se fosse assim estariamos numa dependéncia sem fim. Este tipo de oragdo, quase sempre envolve um sentimento de baixa autoestima, e que jamais seriam sentidos por um ser que reconhece o poder de sua divindade. A verdade é que este poder jé se encontra em nosso interior. Ele no est fora de nés em algum lugar do universo. Com certeza o grande desafio é descobrir de que modo podemos nos conectar com ela e saber utilizd-la. Como podemos ser livres e nos evadir da prisdo que nés mesmos construimos e que obscurece a riqueza que est4 em nés? Mais uma vez o mestre dos mestres nos diz: “Pai. Tudo o que é meu é seu, e tudo o que é teu é meu, e neles sou glorificado”. Esta afirmacao ¢ muito semelhante quando Jesus em outra situacao di “Eu e meu pai somos um”. Segundo “Um curso em milagres” existe como uma espécie de ponte entre o ego € a fonte. No curso ele é chamado de Espirito Santo por utilizar uma terminologia crist, mas podemos chamé-lo de Eu Superior, Ser, Jesus, Esséncia guru, ou o nome que preferir. O ponto principal e com certeza 0 mais dificil de ser praticado 6 nao dar ouvides para o ego, pois seu propésito é manter em sua mente a ideia da separagio. Ele ird te persuadir constantemente a se sentir um individuo independente e especial. Podemos dizer que a maior parte da humanidade vive sob as regras do especialismo. Sempre tenho razéo. Eu sei o que faco. Sou um homem importante. Sou ‘mais rico, A minha religiGo é a verdadeira, Sou mais esperto, e assim por diante. Desejar ser especial, cria uma fronteira que s6 nos causa conflitos e nos separa uns dos outros. Como jé mencionei, mas no custa enfatizar novamente, que é nesta falsa sensag3o de separatividade que se encontra exatamente a raiz de todos os nossos aparentes problemas. Ele € 0 ponto central de toda a nossa tristeza e angustia. Porém como ja constatamos, acreditar ser uma entidade especial sé reforca a ilusdo da separagSo. Esta é a raz3o pela qual criamos e nos apegamos a um eu artificial que chamamos de ego, e que procuramos defender a todo custo, como se ele fosse nosso melhor amigo, e que temporariamente tenta preencher o nosso vazio através de falsos idolos. Por isso, a real e unica solucdo é procurar desfazer esta falsa crenca utilizando o Espirito Santo. Ele nos oferece a simples verdade, ao invés da complexidade do ego. Através deste entendimento podemos comecar a perceber que a verdadeira oracdo ocorre quando estabelecemos um contato com este poder interior. Ent&o comecamos a ouvir uma antiga cancdo quase esquecida, que nos encanta pela sua doce melodia. $6 ent3o podemos ter certeza que é a voz por Deus. Como um iceberg, este poder esta submerso na profundidade do oceano. O ilimitado oceano do nosso interior. Temos que fortalecer a nossa fé e coragem, e mergulhar em busca do nosso estado natural. A nossa verdade absoluta jamais pode ser encontrada fora de nds. Ela ndo pode se manifestar em toda a sua totalidade através de palavras ou conceitos, ou fazendo parte de uma organizacao religiosa. E impossivel descrevé-la até mesmo quando os grandes mestres tentam explicd-la. Muitas vezes eles permanecem em profundo siléncio. As palavras se tornam impotentes para descrever uma experiéncia de enorme magnitude. $6 existe uma Unica possibilidade. $6 existe uma Gnica alternativa. Mergulhar profundamente no santudrio do nosso coracdo, e encontrar o maior de todos os mestres: “O Siléncio”. Somente através do siléncio podemos experimentar a nossa plenitude. Porém fazer este mergulho sozinho sem saber nadar, é muito dificil no estgio em que nos encontramos. Precisamos de um experiente nadador que vem em nosso auxilio. Este é 0 trabalho do Espirito Santo. Na verdade ele é a memoria da nossa esséncia. Em outras palavras temos que compreender que nds somos esta memédria antes da ilusdo da separagao. Isto é, antes de imaginar estarmos separados da fonte. Ele é como um completo e perfeito arquivo do nosso “Ser”. Devemos procurar acessd-lo porque ¢ Id que se encontra 0 nosso verdadeiro eu. Como ja mencionei, jamais nos separamos dela, mas acreditamos nesta louca e ilus6ria ideia. Nés somos 0 prdprio Espirito santo mas nao lembramos que ele estd em nés. Ele é 0 guia em que podemos confiar e que iré nos levar amorosamente para 0 nosso sagrado e imaculado estado natural. Ent3o seremos capazes de sentir intuitivamente que existe a semente de uma verdade, talvez uma suave e vaga lembranca que fara vibrar 0 nosso coracao, e recordar gradativamente que isso é verdadeiro. Esta memoria estd em todos nds. Podemos ser santos, pecadores, ou bandidos, no importa a atuac3o do nosso papel neste nosso palco da vida, ela jamais pode ser extinta ou perdida, pois esté fora do tempo/espaco. Ela nao possui por meta a manutencao de valores pereciveis, mas sim recuperar gradativamente a lembranca do que sempre fomos; Um com Deus. Esta é a verdadeira oragdo. E claro que neste estado de plenitude e bem-aventuranga, a oragdo sera totalmente desnecessdria por nao existir mais nenhum tipo de caréncia. Gosto muito de um texto do Gary Renard* quando diz: “Enquanto estiver experimentando a separacéo nunca vai realmente se sentir abundante. Quando desfizer a experiéncia da separaco, nunca vai se sentir em falta. Vocé vai se sentir em abundancia até mesmo se estiver falido. Mas com a separacdo, vai sentir escassez mesmo se for rico” Essa necessidade em pedir ajuda ao Espirito Santo, é universal. Ela esté em todas as religides e indicada por todos os grandes mestres iluminados. E por isso que o mestre Jesus continuamente enfatizava que: “Nada posso fazer por mim mesmo, mas da vontade daquele que me enviou” E muito importante entender esta citacdo. Quando Jesus diz: “da vontade daquele que me enviou”, ele estava se referindo da vontade do seu divino interior. Do contrario seria uma contradi¢o acreditar que existe uma separacao entre o “Ser” ea Fonte. Mas foi a maneira de se fazer entender naquela época. Hoje usaria outras palavras como: Nada posso fazer através da minha individualidade (ego) mas sim através da vontade do meu Eu superior, ou Espirito Santo. Podemos encontrar também nos conhecimentos esotéricos do cabala, que datam a cerca de 5.000 anos, uma antiga histéria, de Rav Ashlag, considerado um dos misticos mais profundo do século XX, que em uma de suas reuniées ouviu por parte de um de seus alunos, a grande dificuldade em se livrar da escuridao. Assim se expressou 0 aluno com muita tristeza: “Mestre. Esforcei-me para diminuir meu ego. Fiz tudo que o senhor me ensinou. Mas tenho que admitir uma coisa. Apesar de ter tentado tudo em meu poder, nao consigo fazé-lo. Para 0 espanto do aluno, Rav Ashlag bateu palmas com alegria. “Mas mestre”, disse o aluno, eu sei o quanto 0 desaponto por meu fracasso em entender seus ensinamentos. Por que 0 senhor esta tao feliz?” Rav Ashlag entdo falou. “ Vocé n&o pode alcangar a transformagéo que tenho Ihe ensinado sem a ajuda do Criador. E vocé néo pode receber a ajuda de Deus a ndo ser que compreenda profundamente que sem ela vocé é incapaz de mudar’”. Se juntarmos todas as gotas do mar, elas formariam um sé oceano. Todas idénticas em sua estrutura. Nés seres humanos, somos como gotas de Deus, Idénticos em esséncia, mas sonhando como individuos pela ilusio da separacio. Como gua queremos fazer parte do oceano. Desejamos nos conectar com Deus. Como se trata de uma analogia, aqui Deus deve ser visto, ndo como uma entidade separada, mas fazendo parte do nosso eu real. Ela é como uma semente em nés. Ela ndo se encontra no corpo. Ela esta além de todos os limites. Ela desabrocha, recupera a sua verdade tornando-se um com Deus. Somente quando estabelecemos esta conexdo com o Espirito santo, ou Eu real, entao ele poderd nos guiar em direcdo do nosso verdadeiro propésito. No entanto por ser este conhecimento uma terrivel ameaga aos alicerces do sistema egdico, sabemos que ele nao ird desistir ou facilitar essa decisdo. O ego fard de tudo para vocé nao acreditar nesta ideia. Por isso a necessidade de vigiar os nossos pensamentos, e estar atentos, para nao nos deixar ludibriar por este falso eu. E claro que se estivermos no inicio da nossa jornada, e identificados com o mundo material, as nossas oragdes estarao mais voltadas para o nosso conforto e bem estar fisico. Isso é assim porque nao tivemos ainda o insight do despertar. Nao percebemos que estamos quase cegos e tateando no escuro. Uma existéncia muito parecida com a famosa alegoria da caverna de Platao*. Somente na medida em que nos libertarmos das nossas crengas e apegos, as nossas oracées estarao fortificando o nosso “Ser” para encontrar o caminho mais répido para despertar e voltar para casa. Na verdade tudo que precisamos fazer é desfazer 0 falso eu (ego) que nos faz acreditar que nada existe fora do mundo material. Quando escutamos a voz do Espirito santo, e permitindo que ele esteja no comando, estamos em verdade nos unindo ao nosso verdadeiro eu, em vez de reforcar a iluséria ideia da separaco. No entanto jamais devemos nos sentir culpados ou desanimados nos momentos em que o ego acaba levando uma vantagem temporaria. Como 0 “Espirito santo” é a nossa realidade, o ego ser derrotado, ou seja deixar de existir, porque ele ndo passa de uma criacdo mental. Ele jamais existiu. Somos nés que o projetamos. Por isso sempre que tropecarmos e nos sentirmos impotentes, devemos nos levantar de novo e de novo, e mais uma vez de novo. Nestes momentos é muito importante termos consciéncia da nossa situagdo para sermos mais vigilantes da préxima vez. Temos que reconhecer que ainda estamos no caminho do despertar, e sem duvida é muito dificil se desvencilhar deste aparente mundo, por ele ser extremamente convincente. Nestes momentos devemos procurar estar em siléncio, e tentar ouvir apenas a voz do Espirito santo. Aos poucos a voz do ego comega a se enfraquecer até o ponto de se tornar quase inaudivel. Neste instante que podemos chamar de “Instante santo”, predominara somente a voz do eu maior. A voz do nosso eu real. Neste estado de consciéncia sentiremos que nada pode nos ferir ou nos entristecer. Isto quer dizer, que néo podemos ser ameacados por ninguém, porque esta é uma ideia totalmente impossivel de ocorrer. Somos uma extensao da fonte, e a fonte é puro amor. Este é 0 trabalho do sistema de pensamento do Espirito santo, que ele nos oferece. Recuperar a lembranga de quem somos verdadeiramente. Unos e perfeitos como Deus nos criou. Um dos pontos principais, a ser entendido é no permanecer com a mente dividida pela interferéncia do ego, porque qualquer tipo de orac’io que tenha por base a caréncia material, ndo faré muito sentido para quem est em busca de sua real identidade. Nao existe nenhum problema em estarmos ainda identificados com nossos desejos, no entanto, com isso acabamos permanecendo presos por falsos idolos e retardando a nossa libertag3o. De acordo com a psicoterapia do “Um curso em milagres, vamos encontrar uma sublime explicado sobre a oracdo: “Orar néo deve ser confundido com qualquer tipo de suplica porque é um meio de lembrar-te da sua santidade. Porque deveria a santidade suplicar se tem direito pleno a tudo o que o amor tem a oferecer? E é para 0 Amor que vais na oracdo. A oragdo é uma oferta, um abandono de ti mesmo para seres um com o Amor. Ndo hd nada a ser pedido, pois nao hé nada mais que possa querer. Esse nada vem a ser o altar de Deus”. Se estivermos atentos, podemos observar que grande parte do nosso tempo, estamos fora de nds, e muito pouco dentro de nés. O que devemos fazer é inverter esse processo. Procurar estar mais tempo em nosso interior e menos no exterior. Se entendermos com absoluta clareza que 0 mundo externo é apenas um sonho, entdo o que de fato mais ir importar & despertar desta alucinagdo. Temos muita dificuldade em enxergar 0 mundo desta forma, porque acreditamos que tudo que acontece ao nosso redor é real. No possuimos um outro referencial, a no ser as afirmacées dos grandes mestres, mas que ndo damos a devida atengo. Preferimos algo sélido e visivel, um prazer imediato, do que algo invisivel e desconhecido. Com esta visio passamos a viver no temor ena inseguranga, criando 0 nosso préprio sofrimento. Mas se desejamos estender 0 amor, temos que nos tornar o préprio amor. Ndo podemos compartilhar 0 que ndo temos, e acreditar que somos diferentes dos outros, criando uma fronteira com os outros, ou uma dependéncia com 0s outros. Inconscientemente esta 6 a dindmica dos relacionamentos especiais. Faco de alguém, um ser do qual ndo posso me privar. Isto acontece pela nossa prépria caréncia, e nao pela indiferenga daquela determinada pessoa. O fato é que a raiz da nossa caréncia ocorre por estarmos aparentemente separados da fonte. Isso nos faz sentir uma esmagadora solidao que procuramos diminuir através do mundo externo. Da mesma forma quando queremos nos distanciar do nosso suposto inimigo, é porque ele nos mostra as nossas fraquezas, as nossas sombras que no queremos ver. A nossa esséncia jamais pode ser substituida por objetos materiais, porque a ilusdria abundancia material esta sob o comando do ego. Se todos tivessem tudo que desejam, o ego sempre encontraria alguma outra coisa que supostamente estaria faltando. Foi por esta razdo que Jesus enfatizou que devemos buscar em primeiro lugar © reino do céu, que o resto Ihe seré dado por acréscimo. Um dos exercicios que podemos fazer durante o transcorrer do dia, é verificar se tomamos nossas decisdes através do ego ou do Espirito santo? Se estiver em dvida sobre quem esté no comando, é sé prestar atencdio de como estd se sentindo no momento. Em paz ou com raiva? No amor ou no medo? Isto me faz lembrar de um episédio que ocorreu na minha vida profissional. Irei relaté-la apenas como exemplo, porque comprova os beneficios de entregar 0 comando para um poder maior. Eu era diretor de criagio de um grande laboratério farmacéutico, e era muito competente pelas experiéncias adquiridas trabalhando nesta drea em diversas agéncias. Era constantemente elogiado por todos os gerentes de vendas, e pela criatividade do material. No entanto isso causava ciumes € muita inveja por parte do diretor de marketing que achava que estava em competicao com ele, o que nao era verdade. Mas pelo fato de ele estar na empresa a mais tempo e pela influencia que ele tinha com a diretoria, ele simplesmente me demitiu sem mais nem menos, inventando uma razdo inconsistente. E claro que senti no momento como uma pancada no estémago, pois nao fazia a minima ideia de que ele fosse tomar uma atitude tao radical, e que no fazia sentido. Naquele instante eu simplesmente olhei para ele, fiquei um tempo em siléncio e calmamente me retirei de sua sala. Acredito que ele deve ter ficado espantado, pois provavelmente esperava uma reagdo de minha parte. Mas nada fiz. Entregueia situacdo para o Espirito santo. Eu sabia no fundo as razBes que o levaram a tomar essa atitude. Sabia que ele era uma pessoa temerosa e insegura. Entao naquele instante senti a paz e o amor de Deus, como uma luz inundando meu coragao. Sem quase nenhum esforco, uma semana depois, jé estava trabalhando numa outra agéncia de publicidade e com 0 mesmo salario. Outro ponto importante que precisamos entender, é n3o fazer do Espirito santo um relacionamento especial. Isto pode parecer um tanto estranho, mas se suas expectativas ndo forem atendidas como gostaria, haveré inevitavelmente conflito e sofrimento. Assumir uma atitude de desanimo por passarmos por determinados obstaculos, seria totalmente contra 0 principio do “Espirito santo”. Nao podemos criar anseios e acreditar ingenuamente que o espirito santo iré resolver os nossos aparentes problemas. Ele sabe melhor do que nds da nossa situacdo. A sua visdo é total e abrangente. O que muitas vezes pode nos causar uma certa confusio, é acreditar que 0 Espirito santo ir resolver os nossos desafios quando solicitado. Ao aceitar com humildade a ajuda do Espirito santo, ele corrige a nossa percepcdo equivocada. Nao podemos esquecer que 0 desejo do ego difere da escolha do Espirito santo. Isto é totalmente diferente da oragSo tradicional. Ele sabe que para desfazer 0 ego devemos ter como prioridade sempre o perdi. Como ja vimos ao longo dos capitulos somente ele desfaz a ilusdo. E uma nova maneira de pensar e de sentir. Ele nao torna real tudo aquilo que é irreal, desta forma ele desfaz a projegao da culpa. Vemos claramente através da luz da sabedoria que a suposta cobra sempre foi uma corda. Através deste insight, se encontra a ideia central da importancia do perddo, porque perdoando uma pessoa ou uma situacao, na verdade estou perdoando isso em mim mesmo. Um grande exemplo disso, foi quando perguntaram para Gandhi* como ele tinha perdoado todas as injurias e as mais clamorosas injustigas de seus inimigos, ao que respondeu, surpreendendo os repérteres: "Nao tenho nada a perdoar, porque nunca ninguém me ofendeu”. Repetindo um trecho de um de meus livros; somente 0 ego pode se sentir ferido ou magoado. Mas quando através da lucidez espiritual, percebemos com clareza que o ego é apenas um falso eu, prevalece a forga eterna do “Ser”. O ego entio é destronado e passa a ser apenas um simples servidor. Somente neste estado de consciéncia, a oracao adquire um poder extraordinario. O prdprio Jesus e tantos outros mestres iluminados, sabiam dos beneficios da oracdo. Segundo “Um curso em milagres, a oragao do pai nosso, era apenas uma introdug3o como uma invocagao ou convite a Deus. Isto também é confirmado por parte do Gary Renard quando diz em seu livro: “A oracéo real é quando vocé fica em siléncio e se une a Deus em perfeita unicidade e se perde no amor de Deus. E como se estivesse em uma condicéo de gratidéo e completa abundncia. Porque na perfeita unicidade vocé tem tudo. Nada pode estar faltando na completude”. A Oracao do Pai Nosso, sofreu alteracées e modificagdes ao longo dos séculos por parte da igreja. Aqui esta a transcricao original de acordo com 0 curso: “Pai, perdoa-nos as nossas ilusGes e ajuda-nos a aceitar 0 nosso verdadeiro relacionamento Contigo, no qual ndéo hd ilusées e onde nenhuma jamais pode entrar. A nossa santidade é a Tua. O que pode haver em nés que precise ser perdoado quando a Tua é perfeita? O sono do esquecimento é apenas néo querermos lembrar 0 Teu perdGo e o Teu Amor. Nao nos deixes cair em tentacao, pois a tentagao do Filho de Deus néio é a Tua Vontade. E permite que recebamos apenas 0 que Tu nos deste € que aceitemos apenas isso nas mentes que Tu criaste e que Tu amas. Amém”. Podemos notar nesta versio que a verdadeira orago é mais uma forma de gratido Ha 0 reconhecimento que nada existe para ser pedido, e nada para ser perdoado. Compreendemos que a tentasao ¢ a influéncia do ego que tenta nos persuadir para nos manter no mundo da ilusao. Este n3o 6 0 desejo do nosso eu maior. Quanto ao sono do esquecimento, 6 no lembrar da divindade que habita em nés. Este 6 0 maior pecado (Erro) “Nao saber quem somos.” Devemos reconhecer que em nossas mentes, s6 existe o amor. Esta 6 a nossa natureza. Nesta oracdo, vemos que se trata de uma vers3o mais profunda e que exige uma maior reflexdo. Vemos que nio existe nenhum pedido material. Assim podemos ver que a verdadeira oragdo é sentir paz e alegria em nosso coracio. “Aqui estd o poder da oragdo. Nao pede nada e recebe tudo*”. Yogananda — Mestre espiritual da ciéncia da Auto-realizacdo - 1893-1952 *Gary Renard — Facilitador, escritor ¢ palestrante d“Um curso em milagres” *Platdo — Filésofo e matemético, discipulo de Sécrates. Foi autor de diversos didlogos € ajudou a construir os alicerces da filosofia ocidental. 427 A.C~347 A.C **Gandhi— Pacifista indiano, e principal lider no processo da independéncia da india. A Cangéio da oragéo - Suplemento do "Um curso em milagres O melhor governo é 0 que menos governa. Levado ds ultimas consequéncias este Jema significa que o melhor governo é 0 que ndo governa de modo algum. Henry D. Thoreau POR UM MUNDO SEM CONFLITOS No se pode ignorar hoje o desdobramento de um grande conflito mundial. Organizagées religiosas contra outras. Ideologias politicas em confronto. Pais e filhos em constantes divergéncias, maior indice de criminalidade e a incontroldvel ploriferac3o de drogas como um lenitivo para fugir deste insuportdvel pesadelo. Quanto ao amor humano ele se manifesta de forma descartével, cauteloso e quase sempre por interesses ou condicBes. Diante deste perturbador cenério podemos nos perguntar: —- Onde podemos encontrar a paz e a felicidade? A verdadeira paz que possa realmente acalmar 0 nosso coraco carente, e poder sentir e recuperar a nossa real natureza? A resposta é uma sé, e ndo se espante por ser muito curta “Em nossa esséncia interior” Toda a infelicidade que sentimos possui uma unica origem, e que acaba se multiplicando em infinitos conflitos. Se rastearmos até seu inicio, veremos que ela é consequéncia de termos nos separado da fonte. Podemos substituir a palavra Fonte por Origem, Absoluto, Eu sou, ou Deus. Ele ndo se encontra em algum lugar secreto do universo, ou escondido atrés de uma estrela de quinta grandeza, mas esta no interior de cada um de nds. Em consequéncia da ideia de termos aparentemente nos afastado da fonte, sentimos em nosso intimo um desamparo e uma angustia avassaladora muitas vezes independente de nossa condicao social ou financeira. Para tentar diminuir esta sensagio de caréncia, 0 nosso falso eu (ego) nos sugere € nos convence de procurarmos algo Id fora no mundo para nos proteger e preencher este vazio que nos incomoda. “Bens materiais, relacionamentos, sexo, fama, drogas, poder sucesso etc... Nao que devemos nos privar da satisfa¢ao e do prazer que essas coisas nos trazem, contanto que sejam saudaveis, o que precisamos é estar sempre atentos e vigilantes para no ficarmos numa continua dependéncia delas. Devemos reconhecer que elas s3o efémeras e transitérias. Qualquer tentativa de desejar perpetuar o impermanente é nadar contra a corrente da vida. & por isso que uma disciplina espiritual 6 necessdria e fundamental para desfazer 0 ego que é a nossa falsa identidade. Quando ele é desfeito, aos poucos a nossa esséncia divina se manifesta, fazendo brilhar com mais intensidade a luz de amor que se irradia sem limites no espaco/tempo. O mais importante a fazer é remover todas as barreiras (fraquezas) que impedem que este eu real possa se manifestar. © nosso maior desafio num mundo cada vez mais globalizado, é percebemos que tanto a tecnologia como a politica assim como as religides no acompanharam as grandes mudancas do paradigma holistico que comecou a despontar nos anos 50/60. Ainda como ineficientes mastodontes, a maioria das pessoas ainda nao incorporaram esta nova viso de mundo em seu dia a dia. Assim grande parte da humanidade ainda vive sob o paradigma mecanicista* que nao condiz mais com a realidade do nosso ser. — muito raro ver hoje ideias ou projetos onde a ciéncia e a espiritualidade se entrelacam. E extremamente raro presenciar um politico expor uma_proposta unificadora em beneficio da sociedade, sem que exista por tras um beneficio pessoal. Os governos continuam assumindo um comportamento paternal e populista sobre 0 povo que em sua maioria os elegem pelo poder de um marketing muito bem estruturado. Este é 0 jogo do poder que infelizmente ainda continua vigente sobretudo em paises pobres e subdesenvolvidos. Nunca foi mais atual nos dias de hoje, do que a declaragao de Henry D. Thoreau* em seu livro “A desobediéncia civil” escrito em 1848. Sua defesa e rebeldia como forma substantiva de acdo politica esté hoje presente nos movimentos contra a descriminacao étnica, racial, sexual, na luta pela preservacao do meio-ambiente, nos movimentos pacifistas, € na restauracao as leis autoritérias e opressivas. Segundo ainda suas palavras: -"0 governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artificio conveniente; mas a maioria dos governos é por vezes uma inconveniéncia, e todo governo algum dia acaba sendo inconveniente” Tanto os sacerdotes quanto os politicos sdo muito vulneraveis; eles ndo possuem base sdlida sob seus pés. Basta uma forte oposicao e eles so afastados. Eles podem parecer fortes em seus discursos, mas so apenas mascaras para esconderem as suas caréncias e fragilidades. E quando estiverem afastados, a sociedade experimentard o autentico gosto da liberdade. A verdade é que nenhuma pessoa criativa busca 0 poder. O principal e mais importante objetivo do ser humano é conhecer- se a si mesmo. Ele nao estd interessado em ser lider ou ter mais poder sobre os outros. Sua meta é conectar-se com sua verdadeira natureza. Um individuo movido apenas pela ansia do poder sofre de um complexo de inferioridade. Ele sente inconscientemente uma caréncia que aumenta seu vazio interior. N3o apenas nao se conhece, mas é levado a crer por ignorancia que se conhece. Sua visdo é restrita, e mesmo que venha a se tornar presidente, qual seria a diferenca se ainda mantém os mesmos conflitos interiores. Como tao sabiamente disse 0 mestre Osho: “A politica nGo o transforma, mas apenas o encobre. Ele continua o mesmo homem doente, 0 mesmo homem que estava se sentindo inferior”. E por esta razdo que 0 partido comunista na india nao possui poder. Isso ocorre pelo fato de que os comunistas nao acreditam em Deus. Para um indiano isso ¢ algo totalmente imoral; eles tém o seu proprio poder. Quando vocé tém o seu préprio poder, nao fica na dependéncia de um poder mundano e efémero. O sistema comunista esta muito aquém. Ele € muito sugestivo na teoria, mas na pratica é um verdadeiro fracasso. Ele na verdade nunca existiu. Trata-se de uma utopia como tao bem definiu © escritor Kevin D. Willamson. “Todas as pessoas sGo iguais. Todes recebem somente o que precisam, ndo existe competi¢Go, ndo existe dinheiro e todos sdo felizes”. Na teoria é maravilhoso, mas na pratica ele ndo consegue se sustentar. Exemplos como Cuba, Bolivia, Venezuela, Egito, Sudao, Correia do Norte, Siria e alguns outros, comprovam a sua ineficdcia. Nem em paraisos socialistas como a Suécia deram certo. (Dados 2014) Quem ainda defende este tipo de regime, ndo percebe que para se manterem no poder, limitam a midia e a livre expressao popular. De fato a principio, ele parece muito sedutor. Segundo as ideias marxistas do inicio do século XX, havia um temor de que a expansao industrial capitalista fossem escravizar a populag3o mais pobre, transformando-os em escravos. De fato naquele periodo houve essa preocupacao por parte de pensadores e intelectuais. A filosofia comunista seria entéo uma solucdo que teria como ideal um governo central que pudesse administrar o capital de forma mais justa e equilibrada. Para isso ao invés de existirem varios patrdes, haveria apenas um. Assim no haveria os muito ricos e os muito pobres dentro da sociedade. O paradoxo é que quando foi implantado na antiga Unido soviética tendo por base as filosofias de Karl Marx, Engels e outros, tiveram que usar da forca e da violéncia para impor esse tipo de regime, para aqueles que se opusessem contra essa ideologia. Nao deixa de ser obviamente uma contradi¢4o, porque o que é bom nao precisa ser imposto pela forca psicolégica ou violéncia fisica. Isto acaba ocorrendo devido a ideia equivocada de que somente duas classes podem existir; 0 povo em nivel homogénio, e o governo para manter e fiscalizar essa homogeneidade. £ por essa razdo que é simplesmente impossivel o comunismo se manter em um pais onde a classe média é a maioria. Com © passar do tempo 0 mundo evoluiu sobretudo em diversas dreas do conhecimento, seja em novas correntes da psicologia, nas descobertas da fisica qudntica, na espiritualidade, na medicina vibracional, na astrondutica, na inteligéncia artificial, e na propagac3o mundial das comunicagées via satélites, e redes sociais através de celulares e computadores. Tudo isso encurtou o tempo e aproximou muito mais 0 intercambio entre as nages. Sem diivida todo este progresso contribuiu para que o marxismo ficasse ultrapassado e os conceitos dos seus percussores, muitas delas se tornaram antagénicas e destorcidas por entre diversos pensadores e cientistas politicos. Hoje a prépria histéria demonstrou que este poder central, acaba se tornando corrupto e ineficiente, transformando-se numa politica de dominacio. “A esséncia do socialismo no era a igualdade, mas o controle” Estas foram as palavras pronunciadas por Gorbachev sem nenhum constrangimento quando o regime na Unido soviética no consegui se manter. Embora ele fosse um fervoroso socialista que acreditava salvar a Unido Soviética por meio de reformas, ele acabou por desistir de igualar salérios, pois percebeu que possui um impacto destrutivo nao apenas na economia, mas sobretudo na moralidade. Ele diminui a criatividade, enfraquece a disciplina, destrdi o interesse pelo aperfeigoamento e prejudica o espirito competitivo. Mais recentemente (2014) 0 economista francés Thomas Piketty autor do Best-seller “O Capital do Século 21” afirmou “Nao tenho a menor tentacao pelo comunismo tipo soviético. Isso ndo me interessa. Creio no capitalismo, na propriedade privada e nas forcas do mercado”. O fato é que tudo o que foi executado em favor do socialismo durante mais de um século e de toda a violéncia cometida por seus defensores, ndo foram suficientes para que esta ideologia pudesse funcionar. O grande paradoxo é que o comunismo que tanto combateu a classe rica, se transformou ela prépria na elite do poder, com todos os seus privilégios. Desta forma invertem-se os valores. Ao invés do governo servir 0 povo, é 0 povo que acaba servindo ao governo. Nao deixa de ser uma contradicao pois o governo depende da economia produzida pelo povo. £ claro que esse tipo de regime fracassou e nunca funcionou por uma razio muito simples. A esséncia do marxismo foi totalmente mal interpretado. Na verdade Karl Marx em seu livro “O Capital’ sua obra mais importante, tentou esclarecer que para uma sociedade pudesse ser livre da exploragao econémica, era para que aquele que produzisse o excedente (0 trabalhador) fosse 0 mesmo que também distribuisse esse excedente, ou seja para que o excedente ficasse com o trabalhador e decidisse como distribui-lo. Foi desta forma que surgiu o termo “Comunista”; pessoas vivendo em comunidade. Porém quando os revolucionérios tiraram o Czar do poder, apenas produziram despotismo e corrupcao desenfreada. Assumiram o poder e nada mudou, a nao ser o nome e os novos chefes. Desta forma o comunismo nunca foi colocado em pratica, e por esta razdo ele ndo pode ser responsavel pelo genocidio de milhares de pessoas. Chamar de comunistas pessoas como Mao, Stalin, Kim Jong-il, Fidel, Gaddafi, Mussulini, Pinochet, Chaves, Maduro e de tantos outros ditadores é falta de conhecimento. Na verdade em seu inicio a questo de como se deveria desenvolver este processo, ou seja a modificago das estruturas politicas pacificamente ou nao, era para Marx de importancia secundaria. Além disso Marx assumiu as mais diversas posigdes a esta questo em épocas diferentes. Ele acreditava que a violéncia seria a parteira que geraria 0 nascimento de uma nova sociedade. Assim a previsio de uma revolucio era fatal de acordo com a ascensio do capitalismo e do aumento da miséria que cada vez seria mais acentuada para os proletarios. No entanto esta previsdo nao ocorreu, muito pelo contrario, © regime capitalista, o livre mercado e o grande avanco tecnoldgico ultrapassou este diagnéstico negativo. Tanto que um dos escritos do velho Marx ele afirma que “Um fim que requer meios injustos nao teré um fim justo” Infelizmente por falta de maior conhecimento os que se intitulam hoje marxistas ainda consideram inevitavel a revolugo porque ainda acreditam como disse Lénin em 1906 que: “Grandes questées na vida das nagdes resolvem-se apenas pela forca das armas para o controle da histéria e do destino da humanidade”. No entanto a frase do Gandhi em 1947 que libertou a India pacificamente até entao colénia da Inglaterra, e sem derramamento de sangue, soa cada vez mais forte quando disse em um de seus discursos que: “A violéncia jamais resolver uma questo que nao pode ser resolvida pacificamente” Em um capitulo intitulado” Dos graus do assentimento” o filésofo Locke analisa e prova a veridicidade da frase do Gandhi que com perplexidade viveu dois séculos antes deste. Acho muito importante transcrever o seu pensamento “Como podemos esperar que qualquer pessoa abandone pronta e obsequiosamente suas préprias opinies e abrace a nossa com resignagGo cega a uma autoridade. Se a pessoa que quiserdes atrair para a vossa maneira de pensar for uma dos que examinam a questdo antes de assentir, deveis dar-lhe tempo para que reexamine com vagar a questdo e recordando o que no momento néo Ihe ocorra ao espirito, examine os pormenores para ver de que lado esté a vantagem. De que modo podemos imaginar que ela deva renunciar a crengas que o tempo e o costume estabeleceram de tal forma em sua mente que ela considera evidente e de uma certeza inabaldvel. Como podemos esperar que opinides assim enraizadas sejam abandonadas ante os argumentos ou a autoridade de um estranho ou adversdrio, principalmente se houver qualquer suspeita de interesse como nunca deixa de acontecer quando os homens se sentem maltratados? Fariamos bem em sentir piedade por nossa mutua ignoréncia, e esforcar-nos mediante todos os meios corteses e racionais € de informagées ao nosso alcance por elimind-la, e néo em tratar instantaneamente mal os outros como obstinados, perversos ou aproveitadores porque ndo renunciam as suas opiniGes e aceitam as nossas. Pois onde estd 0 homem que tem prova incontestavel da verdade de tudo aquilo que afirma, ou da falsidade de tudo aquilo que condena”, Nao irei me aprofundar neste tema, pois nao é o propésito deste capitulo. O que podemos constatar é que a maioria das pessoas jamais leram uma linha sequer sobre o marxismo ou de outros regimes politicos. Discutem apenas sobre a tirania sanguindria de ditadores que se utilizam do nome de uma ideologia como escudo para por em aco suas maléficas intengdes de dominacao. Para que possa haver uma mudanca efetiva nas instituigdes politicas € de suma importancia mudar primeiramente o nivel de consciéncia interior. O que isso significa? Isto significa eliminar as nossas sombras, que muitos ndo percebem ou nao querem ver. £ fundamental um trabalho de auto- cohecimento que ird permitir as condigdes de poder mergulhar com coragem em nosso interior, e nos darmos conta das nossas fraquezas e ilusdes como a vaidade, o orgulho, a mentira, a inveja, a prepoténcia, 0 egoismo, a intolerancia, a vaidade, a gandncia etc... Esta é a verdadeira transformagao. A verdadeira revolucio. Este é 0 ponto cego que estd oculto em nosso inconsciente. Sem essa reforma intima, sem elevar a nossa consciéncia espiritual, nenhum tipo de regime ira funcionar com eficiéncia. Ela nado pode vir do exterior via decreto, mas sim do florescimento interior do ser humano. Do contrério ao invés de unificar pacificamente as pessoas, vocé as divide, porque ele acaba se tornando um regime imposto através da forca e ndo de uma forma harmoniosa e voluntaria. O pais acaba se tornando estagnado como um lago poluido e sem nenhuma oxigenacio pela falta de estimulo e de competicao. O grande entrave segundo a visio do jornalista e escritor Kevin D. Williamson* é que: “O problema do socialismo néo é ferir a economia, mas 0 fato de que ndo pode coexistir com a liberdade” Este sempre foi 0 grande impasse do comunismo. Sabemos que até mesmo um regime politico dito democratico ou liberal possui ainda muitas imperfei¢des pois também nao se desvencilhou de muitos preconceitos e fraquezas. A diferenca é que ele possui muito mais flexibilidade, sendo a principal delas a liberdade de expressao, e 0 rodizio do poder através de novas eleices. Este é 0 conceito da verdadeira democracia. (Do grego “DEMO” que significa povo e “KRATOS” poder.) Isto significa: 0 poder exercido pelo povo. E claro que o futuro da democracia/capitalista devera sofrer profundas mudancas nas préximas décadas. Isso é bom porque a democracia deve evoluir cada vez mais, e procurando sobretudo manter um equilibrio entre o progresso tecnoldgico, e a evolucdo da consciéncia. (Sempre o mundo externo é uma projegao do nosso mundo interno) Até onde posso vislumbrar, acredito que no futuro um governo eficiente sé poderd ser um governo livre. Ele nao iré interferir na liberdade e privacidade do cidadéo. Um governo ditatorial e intervencionista como ainda existem em alguns paises, ndo conseguirso se manter no poder por muito tempo, principalmente se a sociedade como um todo tiver alcangado um elevado grau cultural e espiritual. Penso que num futuro ndo muito distante os politicos serio apenas administradores e constitu(dos pelas pessoas que mais irdo se destacar nas diversas areas da sociedade. Nao seria uma democracia como hoje impera, mas uma espécie de meritocracia. Seria um sistema politico baseado na eficiéncia de seus representantes, ¢ provavelmente nem teria a existéncia de partidos. Os candidatos seriam votados pelo préprio povo em razo de sua integridade moral, eficiéncia e sabedoria. Deverao exercer seus cargos com total transparéncia, revelando a cada periodo as obras e os investimentos realizados. Para grandes e custosas obras deverd ser feita uma votago nacional para que o cidadao tenha de fato uma maior participacdo social. Campanhas e propagandas politicas serao coisas do passado, pois elas sempre foram injustas em raz3o de volumosos investimentos nas campanhas eleitorais por parte das grandes incorporacées, ou até mesmo fazendo uso indevido do dinheiro publico. © presidente nao teré mais esta idolatria como ainda existe na atualidade. Nao seré mais o salvador da patria, mas apenas mais um administrador geral tanto quanto um diretor de uma grande empresa. Este novo modelo de governo deverd priorizar a 4rea da educacio proporcionando aos jovens um estimulo para que possam com a mente livre e no condicionados por falsos valores, desenvolver todo seu potencial criativo e espiritual. A preservacio do meio ambiente tera atengdo especial para manter intacto o eco sistema. Olhardo a Terra como uma coisa sé. Sem nenhuma divisdo politica ou religiosa. Nao mais cristos, n3o mais hindus, nao mais muculmanos, judeus, chineses, americanos, franceses ou brasileiros. Hoje ficou mais do que evidente que as naces e as religides so criagées dos homens pela 4nsia do poder e do controle. Suas armas: “Criar medo, separacdo e dependéncia” Quando estes estiverem afastados do poder, as religides, a politica e as nacdes também acabardo. Seré um mundo livre, um mundo sem guerras sem lutas, predominando a paz e a cordialidade. Isto por certo ird ocorrer, pois faz parte do nosso destino. Faz parte do nosso DNA espiritual. Nao saberia dizer quando isso poderé ocorrer, mas sabemos que sempre nas vésperas de uma crise social sempre ocorre uma grande transformacao. No inicio sentimos muita inseguranca e muita resisténcia. Tememos a mudanca, e procuramos teimosamente defender as nossas conviccSes que podem estar muito enraizadas. Isto resulta em conflitos e muitas vezes em violéncia, por nao aceitar outros conceitos. Desconhecemos o futuro e procuramos justificativas para manter o mesmo padrao. Isto vale tanto para os politicos insanos, como para grande parte da sociedade que acabam sofrendo suas consequéncias. O pais fica estagnado, e seu indice de crescimento cultural e econdmico diminui, gerando desemprego, criminalidade e mais pobreza. Como em todos os meus livros, sempre cito um filme que retrata 0 contetido do tema abordado, nao poderia deixar de mencionar neste capitulo o filme “Mulher de Areia” de Hiroshi Teshigahara’s. Uma obra prima do cinema japonés. Trata-se de um homem que sente todas as consequéncias negativas por estar vivendo numa grande cidade. Exerce um trabalho burocrdtico, responsabilidades obrigatérias, baixo salério, impostos, poluic%o sonora e ambiental, grande numero de habitantes, e muitos outros inconvenientes préprias de uma grande metrépole. Uma vida em que ele se sente aprisionado pelo sistema. Para aliviar esta artificial condigao, ele é um estudioso e pesquisador de borboletas e insetos raros em seus momentos de folga. Um hobby levado a sério o que Ihe proporciona uma espécie de auto- terapia para diminuir o stress. 0 filme se inicia quando ele consegue uma semana de férias e viaja para o interior num vilarejo cercado por uma grande extensdo de areia. Local ideal para descansar e propicio para encontrar raros insetos talvez ainda no catalogados. 0 filme é como uma parabola da condi¢3o do homem contempordneo. Imaginando encontrar tranquilidade e liberdade, ele acaba prisioneiro de um grupo de pessoas que habitavam aquela pequeno vilarejo que o escraviza para cavar areia dentro de uma vala em que era impossivel escapar. Depois de um longo periodo se conforma com sua situago. Este isolamento foi para ele como um retiro espiritual involuntério. Sua mente se acalmou até que um dia inesperadamente faz uma incrivel descoberta que Ihe permite se evadir a qualquer momento. Mas ao mesmo tempo percebe que a verdadeira libertacaio n’o depende das circunstancias externas, mas sim do seu estado interior. Além de sua extraordinaria direcio, e trilha sonora, possui uma_plasticidade fotografica incomum. Um filme que merece ser visto. Como 0 mundo esté em constante transformagdo pela prépria lei da ascensdo, aos poucos o homem alcangaré um elevado nivel de consciéncia. Quando finalmente forem dissipados os véus das ilusées (Maya)* veremos como foi tao estupido, que por milhares de anos as pessoas tenham matado uma as outras em nome de um suposto Deus, religido ou de uma ideologia politica. Nenhuma delas é verdadeira. As organizacées religiosas ndo possuem nenhuma evidéncia de que Deus, Ald, Adonai, Moamé, interferre em nosso destino, ou que tenha preferéncia em beneficiar uma determinada nacio do que outras. Infelizmente nenhum regime politico proporcionou verdadeira justica social. Muito pelo contrdrio, ainda em nossos dias, (2014) assistimos perplexos crimes e genocidios agora em online transmitidos pela internet e redes sociais. Estimulados por governos ditatoriais, continuam as cruzadas de destruico. Jihads, palestinos, judeus radicais, e terroristas islamicos, carregam em suas mentes o ddio e a vinganca destruindo e matando todos aqueles que nao aceitam as suas verdades. Acreditam cegamente que lutam em defesa de seus principios, e que qualquer outro conceito é criacio do deménio. 0 paradoxo é que esto tentando salvar a humanidade matando homens, mulheres e criancas. (Os meios justificam os fins) As pessoas acabam sendo controladas e se tornando nada mais que androides manipulados por ditadores insanos, que por sua vez, ainda est3o presos no paradigma mecanicista* Movidos pela gandncia material travam guerra apés guerra, defendendo um populismo arcaico e opressor. Esto adormecidos e nao se dao conta que a Terra ndo possui linhas diviscrias. Bastaria olhar a Terra do espaso e sentir que somos todos irmaos, e interconectados uns com os outros. A verdadeira e Unica verdade é 0 amor. Somente o amor pode vencer e curar a doenca que se alastrou na sociedade, em consequéncia de uma equivocada crenga de separaco entre os homens e de sua fonte. (Deus) Sabemos que grande parte dos politicos ndo so santos. Ainda carregam os resquicios do ego em maior ou menor grau. Alguns se destacam durante seus mandatos, outros sdo afastados ou renunciam e em alguns casos sio assassinados. Sdo raros os artistas, poetas ou filésofos que enveredam na carreira politica ou em manifestagées sociais. Entre o século XX e inicio deste século podemos destacar alguns lideres que causaram grandes e positivas transformaes na sociedade. Podemos citar 0 Mahatma Gandhi, Matin Luter King, Anwar El-Sadat, Nelson Mandela e o presidente americano Ronald Reagan. Se faco aqui a sua citacdo é porque iniciou sua carreira como ator de cinema durante a década de 1950, mas principalmente devido ao seu importante pronunciamento quando terminou seu mandato de oito anos, e que revelou maturidade e patriotismo em que tinha alcancado. Acho importante neste capitulo transcrever sua bela mensagem, muito parecida com o fildsofo e ativista politico Henry D. Thoreau em que foi citado na introdugao deste capitulo. O presidente Reagan nos mostra como um ex-ator acabou se tornando um verdadeiro estadista pela sua conduta politica. Aqui esta parte do seu discurso: ..Somos nés (a povo) que dizemos ao governo o que fazer e néo o contrario. Nés, (0 pova) somos 0 motorista e o governo é 0 carro, e somos nés que decidimos para onde ele deve ir, por qual rota e em qual velocidade. Quase todas as institui¢des do mundo sdo documentos nos quais o estado diz aos cidaddes quais sGo seus privilégios. Nossa constitui¢do é um documento pela qual nds (o povo) dizemos ao governo aquilo que the é permitido fazer. Nés (0 povo) somos livres. Quando comecei 0 meu governo, parecia que comecdvamos a inverter a ordem das coisas. Foram surgindo mais e mais regras e regulamentagées e tributagéo predatéria. O governo confiscava mais 0 nosso dinheiro, mais de nossas op¢ées e mais de nossa liberdade. Entrei na politica para poder levantar a minha mdo e dizer: “PARE” Eu era um politico cidadao e isto parece sero correto para um cidadéo fazer. Consegui parar muito do que precisava ser detido. Espero ter lembrado as pessoas que o homem néo é livre a néo ser que 0 governo seja limitado. Hd uma relacdo de causa e efeito aqui, téo clara e previsivel quanto as leis da fisica: “A MEDIDA QUE O GOVERNO AUMENTA O SEU PODER, A LIBERDADE DO POVO DIMINUI” A CORRUPGAO Podemos constatar ao longo da civilizacéo que todos os regimes ditatoriais sempre acabaram de maneira tragica. Neste momento podemos nos questionar: Serd que sao as circunstancias sociais que estimulam as pessoas para a pratica da corrup¢ao? Nao. Mas revela e manifesta o corrupto que estava escondido em seu interior. Ou como tao sabiamente dizia o mestre Buda: “Nao sdo os teus amigos ou inimigos que te levam a praticar o mal. E a tua prépria mente” Os regimes ditatoriais como um cancer, acaba se alastrando em todos os ministérios e instituigdes do governo. A ambicao pelo poder se torna incontrolavel e os corruptos nao conseguem se desvincular do sistema, pois as mentiras se multiplicam, além dos politicos estarem economicamente de rabo preso com 0 partido. Nesta situacao, as circunstancias Ihes so favoraveis para a pratica da corrupgo, e isto acaba se transformando numa bola de neve. Do ponto de vista psicolégico, o anseio em apaziguar o seu vazio interior é irresistivel. Ele se torna como um narcético viciante do qual nao consegue se libertar. Aos poucos acaba se transformando numa conduta compulsiva. Um individuo de formacao ética e moral, que até mesmo tendo todas as circunstancias e as tentagdes de se corromper, ele ndo o faré. Nao para cumprir um mandamento social ou religioso, mas nao o fara pelo nivel de consciéncia em que ele se encontra. Podemos observar também, que a maioria dos regimes ditatoriais sempre se utilizam de uma ideologia sécio/politica ou religiosa que serve de bandeira para justificar as suas acdes. claro que essas ideologias so alteradas e desvirtuadas, pois o verdadeiro propésito de um regime nao visa beneficiar 0 pov mas sim controlé-lo, para que o ditador e sua elite politica possam se perpetuar no poder. Quem for contra é marginalizado, preso ou assassinado. Nao é sem razo que sua populacio deseja se evadir do pais como acontece em Cuba e mais recentemente no oriente médio, que no desespero resolvem atravessar os oceanos através de frageis embarcacées para fugir do clima de terror e escraviddo em que sdo submetidos. Preferem sofrer 0 risco de morrer num naufragio, do que permanecer escravizado. Existe também um grande mal entendido no termo “Comunista.” Afinal qual é 0 seu verdadeiro significado? Ele tem origem na palavra “Comuna!” que significa comunidade. Uma sociedade que possui as mesmas ideias. “Ideias em comum”. No entanto é impossivel num mundo em dualidade todos terem ideias em comum. A nfo ser por intimidacio ou repressio. Todas as tentativas de se estabelecer este tipo de regime nunca deram certo pelo simples fato de no se considerar trés principios basicos e imutdveis. "Amor, Perddo e Liberdade”. & simplesmente impossivel alterar as leis da verdade espiritual. Isto deveria ser ensinado desde o primeiro ano escolar, para que o homem possa ter condicées de trilhar mais tarde o caminho que o conduziré para a verdade do seu Ser. Muitas vezes nos sentimos impotentes & sombra dos interesses politicos, econémicos ou ideolégicos que exercem muito poder e restrigdes sobre nossa vida. Podemos nos perguntar: O que posso fazer? De que modo posso efetuar uma mudanga no sistema? De que modo posso interferir nos acontecimentos e fazer com que minhas ideias possam ser aceitas? A resposta para todas essas indagacées vem do indiano Mahatma Gandhi.* Ele disse: “Seja a mudanca que vocé deseja ver no outro”. Porque como jé vimos neste capitulo, qualquer mudanca politica permanecerd superficial e temporaria sem que haja uma mudanca interior. Dentro do mesmo foco, 0 monge Satish Kumar, também confirma as palavras de Gandhi quando definiu com extrema precistio em um de seu livros. Ele diz: “Sem uma agdo individual a mudanca politica sé acontecerd quando um grande numero de pessoas praticarem aquilo em que acreditam. Se houver um grande e suficiente movimento de opiniéo publica e bastante participagdo popular, os governos serdo obrigados a apresentar leis e criar transformacées estruturais. Nés temos de fazer mudancas de baixo para cima a fim de forcar a transformagao de cima para baixo” Tenho constatado nestes tltimos tempos diversos artigos nas redes sociais via internet, que abordam questdes politicas e que nao precisariam de maiores comentarios, pois quase todos esto alicercados por falsos e equivocados conceitos. Devemos entender primeiramente que toda forma em se criar fronteiras tentando separar os outros, rotulando e classificando as pessoas, acabam resultando em julgamentos e condenagées. Na verdade nao existem os outros. Sé existe VOCE. O que chamamos de outros é vocé mesmo. Independentemente do nivel psicoldgico e espiritual em que o (OUTRO) se encontra, ele possui a mesma esséncia divina em seu interior. Persistir na ilusdo da separagdo ‘ou comparacao é prolongar o sofrimento. Desconhecer esta verdade 6 0 que podemos chamar de ignor4ncia. Ignorar a verdade é acreditar em falsos conceitos. Isso s6 aumenta a nossa caréncia e desamparo. Esta situagdio politica em que o mundo vive hoje, nada mais é que o desconhecimento da nossa verdadeira natureza. Como ja me referi diversas vezes ao longo deste livro, o ego (falso eu) se fortalece e cria uma distorg’o do “Ser” com todas as suas fraquezas. (AmbicSo, violéncia, corrup¢3o, preconceitos raciais e religiosos, ideologias politicas etc. Pode a principio parecer normal possuir estas tendéncias, mas na verdade trata-se de uma anomalia do “Ser”. Uma defesa do ego. Podemos afirmar que sio doencas da alma. Um comportamento antinatural provocada por falta de auto-conhecimento e adormecimento espiritual. E quando uma nagiio 6 governada por politicos dominados pelo ego, a sua populacdo é subjulgada por falsas promessas, e isso gera uma turbuléncia social com todas as suas nefastas consequéncias. Parece que todas as terriveis guerras e genocidios que foram cometidas no passado, ainda nao foram provas suficientes para evitar os erros que continuam a serem perpetuados no presente. Todo conflito externo é sempre resultado de um conflito interno. Esta visio macrosocial e espiritual que dispensa anilises isoladas, pois que sdo desdobramentos da ilusio da separagdo. O unico e eficaz remédio para curar esta situagdo pela raiz, ¢ despertar 0 amor que existe em cada um de nés, e perceber de forma clara que somos todos um. £ simples assim, mas muitas vezes uma vida é insuficiente para incorporar e viver esta verdade. Se estudarmos com profundidade a esséncia dos ensinamentos dos grandes mestres da humanidade, iremos constatar que todos eles reverenciavam a importancia da vida, da ética, da justi¢a e sobretudo do amor. No entanto como estamos num mundo em dualidade, sabemos que nada dura para sempre. Nenhum tipo de regime seré perfeito num mundo de provas e expiacées e limitado na dimensdo em que nos encontramos. A grande diferenca que existe entre um ditador totalmente voltado para o mundo material, e um mestre iluminado, é que o mestre percebe com total clareza a grande ilusdo de um “eu” independente. Tudo que envolve a percepsao dos sentidos apresenta limitacdes. Hoje a fisica quantica comprova cientificamente que de fato vivemos num mundo virtual, e que nada neste universo é sdlido. Trata-se de uma projecio da conscincia. Quando por fim grande parte da humanidade remover todas as barreiras e preconceitos que tinham nos separado de nossa verdadeira esséncia, o mundo ndo sera mais o mesmo. Sera o inicio de uma nova era. Uma era que ird nos conduzir para a nossa verdadeira realizag3o como seres divinos que sempre fomos. Assim podemos afirmar que a verdadeira corrupcio no poder ndo é apenas econdmica, mas é a corrupgo da nossa real natureza, nao permitindo o seu florescimento. A certeza da divindade da alma em cada um de nds, é a base espiritual da verdadeira democracia e liberdade. Como tao sabiamente diz o “Um curso em milagres” “Todo ato de violéncia em sua raiz, é um desesperado pedido de amor £ importante voltar a enfatizar que todo comportamental individual e social com todas as suas turbuléncias, conflitos e guerras descritos neste capitulo, possui como principal protagonista a interferéncia do ego com todos os seus desdobramentos. Assim podemos dizer que quase grande parte da histéria da humanidade descrita por historiadores, socidlogos e politicos, constitui um grande calidoscépio do ego em aco. Sao apenas consequéncias na crenca no ego, que nada mais é que um falso eu. Uma projecao mental. Como ele é extremamente convincente, ele é visto como algo normal e natural, pois a maioria das pessoas compactuam com ele. No entanto 0 ego é uma verdadeira insanidade. Nao possui realidade independente. Isto tem que ser levado em grande consideragao, pois caso contrério os acontecimentos _histéricos permanecem apenas na superficie. E como descrever um iceberg sem se dar conta de sua profundidade. Enquanto isso no for compreendido, se no houver uma ampla visdo espiritual, 0 ego iré se manter no poder causando muito sofrimento como vem ocorrendo ao longo dos tempos. Nao poderia deixar de citar no final deste capitulo, mais um inspirador filme de Martin Scorsese* “A Ultima Tentac3o de Cristo” baseado na obra do escritor Nikos Kazantzakis*, onde vamos encontrar um didlogo entre o mestre Jesus e Judas, onde fica claro a verdade da Unica mudanga em que é possivel ser feita. Prestem bem atengao neste profundo ensinamento: Judas: Vocé disse que se alguém te bater vocé ofereceria a outra face, mas eu nGo gostei disso. 6 um anjo pode fazer isso ou um cachorro. Sinto muito mas eu sou um homem livre. Nao dou a outra face para ninguém. --- Jesus: Nos queremos a mesma coisa. Judas: Queremos? Vocé ndo quer a liberdade de Israel? Jesus: Nao. Eu quero liberdade para a alma. Judas: Nao. Isto nao posso aceitar. Néo é a mesma coisa. Primeiro se liberta do corpo depois 0 espirito! Os romanos vem primeiro. Vocé néo comeca construindo a casa pelo telhado, mas pelo alicerce. Jesus: O alicerce é a alma. Judas: O alicerce é 0 corpo. £ dali que devemos comegar. —Jesus: Ndo. Se vocé néio muda o espirito, mudando 0 que tem dentro, entdo vocé sé estard trocando os romanos por outras pessoas, sem mudar nada. Mesmo que vocé seja vitorioso ainda estar cheio de veneno. Precisa quebrar essa cadeia do mal. Judas: Entéo como se pode mudar? Jesus: Com amor. Neste curto didlogo é revelado o poder do amor. Somente ele pode nos proporcionar as condigdes de uma verdadeira transformagio. Somente ele pode ser vitorioso. De qualquer forma 0 grande desejo de estabelecer uma sociedade socialista, ird sempre permanecer na mente das pessoas, porque ele nao deixa de ser um eco espiritual de que nossa verdadeira esséncia divina é a mesma. Estamos todos interligados como numa gigantesca tapesaria, do qual é impossivel se desprender. *Henry D. Thoreau — Autor estadunidense, poeta, ativista, historiador filésofo. 1817-1862 *Paradigma mecanicista - Ele concebe 0 universo como uma grande maquina. Foi moldado por fildsofos e clentistas. Mas quem ‘mais influenciou este paradigma foi o fldsofo René Descartes. “Maya - Forca césmica iluséria que encobre a visio da realidade, limitando a percepso de inimeros universos em vez de uma tinica realidade. unsan - Jornalista politico. ‘Autor do 0 Livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo. *Mahatma Gandhi - Fil6sofo, estadista, escritor, um dos maiores pacifista da nossa época. 1869-1948 *Martin Escorsese — Cineasta, produtor e roteirista norte americano "Kevin D *Nikos Kazantzakis - Escritor grego. Sua obra mais conhecida é Zorba o grego. 1885-1957. “Martin Luther King - Pastor protestante e ativista politico. Um dos mais importantes Ifderes do movimento dos direitos civis dos negros americanos edo mundo. Prémio Nobel da paz. King foi assassinado em 4 de Abril de 1968. "Anwar El-Sadat ~ Presidente egipcio de 1970 a 1981. Visitou Israel em 1977, fato que marcou 0 reconhecimento daquele pals por uma nacao arabe - Nobel da paz em 1978 +*Nelson Mandela -Foi o primeiro presidente da Africa do Sut Vencedor do prémio Nobel da paz &considerado um dos maiores Ifderes morais € politicos da Africa do Sul. 1918-2013 “Ronald Reagan - Presidente americano de 1981 a 1989. Trabalhou por quase 3 décadas como ator Accrenga no “Eu sou” como corpo, como um individuo é a causa de todo o medo. Na auséncia do “eu sou”, o que é que pode ser temido. Nisargadatta EU SOU Compreender 0 “Eu sou”, que significa 0 seu sentido de “Ser” ou “Presenca” é fundamental porque representa o primeiro ato da aparente separacao da fonte. Seu senso de “presenca” ou a sensacdo “Eu sou” é consequéncia para qualquer coisa que possui continuidade no tempo. O que devemos fazer é apenas permanecer serenos e com firmeza estabelecer-se no “Eu sou”. Temos que rejeitar inicialmente tudo aquilo que nao seja “Eu sou” que também pode ser chamado de ego (falso eu) Temos que perceber com maior conviccao que o “Eu sou” nao representa a minha verdadeira identidade. Tendo compreendido 0 “Eu sou” em todos os sentidos, a préxima coisa é nao tentar se desviar desta situac3o. Se vocé comegar a pensar em alguma outra coisa, pode estar certo de que houve “acréscimo” na base de “Eu sou,” seja por relacionamentos, crengas, ideias e outros temores. Este sentimento de “Eu sou” esté dormente no momento do seu nascimento. Ele s6 floresce em torno dos primeiros anos de idade. Ele é composto dos cinco elementos que formam o corpo. © corpo é uma projecao do “Eu sou” e por esta condicao nao possui liberdade, ele adoece, envelhece e a morte é inevitavel. Podemos dizer que 0 corpo nao deixa de ser um refuigio do ego, Eternidade ou imortalidade s6 é possivel quando vocé estiver livre do “Eu sou” Mas que aconteceré quando o “Eu sou” se for? O que restard? Esta situagao agora é mais preocupante porque algo além do “Eu sou” comega a ser sentido. Ele comega a se manifestar causando um conflito entre dois mundos. Este sentimento deve ser agarrado e servir como um meio para ir além, em direcdo do eu no sou isto e aquilo. Veré que as condigdes sempre estiveram ao seu alcance. A porta nunca foi fechada. Este “Eu sou” é entao desmascarado € aos poucos se dilui como um sonho que apareceu a vocé, e ao acordar ele desaparece. Isto é assim porque tudo que aparece e desaparece nao pode ser verdadeiro. Qualquer coisa que sofre mudanga é irreal. Vocé é apenas uma testemunha em total protecdo. Foi com muita sabedoria que © mestre Mooji explica esta condigao com outras palavras : —"Vocé nunca pode estar perdido. O que pode estar perdido é a sua maneira de pensar sobre vocé mesmo, sua identidade com limitagao. E a mente condicionada que diz: "Eu estou perdido". Deixe a mente estar perdida. Perca a sua mente dentro do seu Coracéio. Por maior que seja 0 seu conhecimento, se 0 seu ego ndio for removido, vocé permanece na ignoréncia. Existe uma perseguicdo insana em busca de uma identidade para preencher um vazio extremamente incémodo. Quero ser milionario, famoso, presidente, quero ser isto e aquilo. O paradoxo é que esta tentando ser o que nao é. A identificagdo com o corpo o engana e agora estd encarcerado na priséo que vocé mesmo construiu. Vocé pode até ter ganho muito dinheiro, vocé pode ter se tornado miliondrio ou muito famoso, mas tudo isso é intitil comparado com o valor da sua esséncia. Este conhecimento € 0 Unico e verdadeiro capital que vocé possui para gradativamente visualizar esse aparente quebra-cabeca por completo. Do contréario a vida muitas vezes de forma completamente imprevisivel, ira te ocasionar angustia e sofrimento. A fim de voltar para o seu verdadeiro estado, vocé tem que permanecer no “Eu sou”, mas com o entendimento de que vocé é anterior a ele. Seja apenas um observador desapegado, pois do alto vocé tém uma visdo mais ampla. Oconhecimento “Eu sou” é também um dos muitos nomes atribuido a Deus, mas segundo os mestres iluminados, vocé esta além. Vocé é o absoluto sem forma. “Quando vocé refletir sobre a questio : O que eu era antes de nascer? Vocé percebe que “eu ndo era”, ou que eu no era como eu sou no momento. Portanto hé trés coisas: “Eu nao era. Eu sou. e Eu nao vou ser”. Quem sabe isso? £ 0 absoluto imutdvel ou o verdadeiro Eu. Ele é e para sempre sera”. Foi com estas surpreendentes e profundas palavras que o mestre Nisargadatta se pronunciou “O que eu era antes de nascer? Ele nos indica com muita clareza que existe um Eu imutavel antes do “Eu sou”. Sabemos que as palavras sdo extremamente limitadas e nao se pode ter confiabilidade que elas irdo nos revelar a verdade. £ por esta limitac3o que a verdade sé pode ser compreendida somente através da experiéncia. Em relagao a questdo de onde estava o “Eu sou”? os mestres nos afirmam que vocé nao era “nada”. Mas este nada ou vazio, é também a totalidade que foi desaparecendo aos poucos, reforcando a ilusdo da separaco e do surgimento do corpo, do mundo e do universo. Eles séo transitérios, de modo que nenhum deles é verdadeiro. O “Eu sou", é uma abstracdo. Na verdade ele nao possui realidade independente, ele também é conhecido como “moolmaya” (a raiz da ilusdo) O que resta entdo? Somente o Absoluto. Lembre-se, este “Eu sou” tem te enganado fazendo-o acreditar no irreal. E praticamente impossivel tentar descrever em palavras o estado de antes do “Eu sou” As vezes ele é descrito como vacuidade, plenitude, vazio, nirvana ou “parabrahman” No livro “Um curso em milagres” vamos encontrar um texto que explica esta aparente dualidadi £ impossivel conceber luz e escuriddéo ou tudo e nada como possibilidades conjuntas. Sdo todos verdadeiros ou todos falsos. E essencial que reconhecas que o teu pensamento serd erratico até que um firme compromisso com um ou outro seja feito. Assim podemos considerar a "Consciéncia" como sendo a primeira ignorancia a se manifestar. Uma percepcao fragmentada da verdade. A consciéncia s6 pode surgir no estado de dualidade. Vocé pode encarar estas duas etapas como um processo de auto-realizacao, considerando a primeira como a compreensio do conhecimento “Eu sou” e permanecendo nele. Pouco a pouco vird o segundo passo que constitui a realizacdo que vocé esté além do “Eu sou” Somente entdo vocé estara livre dele. Com este despertar estard vivenciando com toda a clareza que 0 “Eu sou” é dependente, uma ilusdo da separago, uma falsa identidade. O seu verdadeiro EU nao esta em nenhuma localizacao, (espago) em nenhum tempo e isento de substancia material. Quando sonhamos tudo nos parece verdadeiro enquanto o sonho durar. O “Eu sou” também é um sonho, ele sé aparentemente parece verdadeiro enquanto ele durar. Com 0 desaparecimento do “Eu sou” vocé volta para seu estado original. Uma boa analogia que escrevi em um dos meus livros, pode facilitar a compreensdo sobre o “Eu sou” (ego) “Ele é como uma temporaria embarcagao para levé-lo ao continente. Nao importa que ele seja um iate de luxo ou até mesmo uma simples canoa. Ela teve sua importancia, porque chegando ld a embarcacao nao sera mais necesséria”. Ela ndo tera nenhuma utilidade. Nao faria nenhum sentido carrega-lo nas costas. Neste estado vocé se dé conta que a sua esséncia (Ser) é indestrutivel, sem inicio e sem fim, e nada pode ameagé-lo. Vocé é 0 Absoluto. O continente representa simbolicamente 0 seu verdadeiro lar. Vocé 6 uma extensdo da fonte (Deus). £ a testemunha de ambos os estados. Eles apareceram em seu sonho, mas nunca pertenceram a vocé. Neste misterioso paradoxo, o mundo de dualidades desaparece no nada que nunca existiu. *Nisargadatta Maharaj — Guru hindu na linha de Advaita Vedanta. 1897-1981 A mente intuitiva é um dom sagrado e a mente racional é um fiel servente. Temos criado uma sociedade que honra o servente e esqueceu o seu dom. Albert Einstein. RAZAO & INTUICAO Para muitas pessoas que sentem o chamado espiritual, ou que jé esto engajadas nesta busca, sentem enorme dificuldade em conviver com um sentimento que transcende a mente racional. A palavra intuigo vem do latim “intueri” que significa ver interiormente. Ela é dificil de definir, porém exerce um papel fundamental em nossas vidas. E como saber de algo sem saber como chegou até mim. Steve Jobs* disse uma vez que “ela é mais poderosa que o intelecto” ou como o psiquiatra Carl Jung definiu que “cada um de nds possui uma sabedoria e o conhecimento que necessita em seu proprio interior” A verdade & que durante muito tempo seguimos a orientacéo da légica e da razio como Unicos instrumentos para investigar a verdade. No entanto sao instrumentos muito limitados para algar voos mais altos. Seria como comparar 0 voo de um pombo correio com 0 envio em tempo real de um e-mail via computador. A intuigao dificilmente poderd se manifestar se a mente racional permanecer encarcerada dentro dos limites da razdo. Isto acontece porque todos os nossos sentidos esto voltados para o externo, Somente quando nos voltarmos para nés mesmos, a intuicao ird nos conduzir a um estado de liberdade e independéncia. Ela surge como um salto quantico, e até podemos afirmar que toda a ciéncia e as grandes descobertas nao resultaram apenas do intelecto mas sim da intuicdo. Em um dos seus intimeros pronunciamentos, 0 mestre Osho nos revela a riqueza e os beneficios da intui¢do quando ele diz: - A intuigéo traz significado, esplendor, alegria e béngaos. Ela Ihe proporciona os segredos da existéncia, Ihe proporciona um tremendo siléncio e uma serenidade que nao podem ser perturbados e que na podem ser tirados de vocé. Ela se tornard uma festa constante. E claro que isso nao se consegue de um dia para 0 outro. Para alterar esta visio, se faz necessério, vontade, determinaco e disciplina para pr em pratica diversos exercicios que iréo gradativamente ampliar as nossas percepsées e possibilitar uma conexdo para estados superiores. Isto nao quer dizer que a légica e a razio nao devem ser utilizadas no mundo pratico. Na analogia do pombo correio seria como mandar um e- mail, ou conversar pelo celular com uma pessoa que estivesse bem na nossa frente. Seria considerado no minimo um comportamento bizarro. Além disso existe um falso conhecimento de que somente os sentidos fisicos e a mente racional podem nos garantir a veracidade de um determinado fenémeno. Mas serd que podemos confiar inteiramente na raz3o para nos revelar a verdade absoluta num mundo dualistico e em constante mudanga? Em uma passagem do “Um curso em milagres’ fica mais facil entender esta questao: “Pois os olhos e os ouvidos sdo sentidos sem sentido, e o que veem ou ouvem, eles apenas relatam. Quem ouve e vé nGo sao eles (os sentidos), ‘mas tu (ego) que juntas cada pega recortada, cada fiapo sem sentido e cada farrapo de evidéncia e fazes um testemunho do mundo que queres” E verdade que existem pessoas que mesmo em tenra idade ja nascem com uma intui¢do mais desenvolvida. Porém a grande maioria vivem na matrix do paradigma materialist, em que predomina a crenca que a verdade sé pode ser confirmada através dos sentidos. Crenca esta que esta sendo hoje colocada em cheque com os avangos na fisica quntica, e das pesquisas dos fenémenos paranormais. Como afirmou magistralmente o fisico Sir James Jeans*: “Trinta anos atrds, pensdvamos que estévamos caminhando para a realidade de um modelo mecénico. Hoje hd um consenso, que no lado fisico da ciéncia, se aproxima quase a unanimidade que o fluxo de conhecimento esté caminhando para uma realidade néo-mecénica; 0 universo comeca a se parecer mais como um grande pensamento do que uma méquina” Vamos encontrar hoje muitos cientistas e pesquisadores que realizam um trabalho sério com 0 objetivo de compreender todos estes fendmenos que ainda séo chamados de paranormais, porque ele predomina para a maioria da humanidade. Mas aos poucos comeca a ficar cada vez mais evidente que a ciéncia e a espiritualidade finalmente iro se encontrar formando um sé conhecimento. Mais uma pega do quebra cabega serd encaixada, permitindo um vislumbre muito mais completo de quem somos nés. Conta-se que Albert Einstein citado na abertura deste capitulo, que tinha um estranho hébito de permanecer mergulhado em sua banheira por horas seguidas brincando como uma crianga com as bolas de sabSo. Quando um dia perguntaram para sua esposa deste incomum habito, ela respondeu que era os momentos em que surgiam suas melhores ideias. Isto é mais uma comprovacao de que as descobertas cientificas sempre surgem a partir da intuic3o e nao da raz%io. Acostumados a darmos mais prioridade a razio, fica muito dificil controlar a mente e nossas atitudes e escutar a voz do siléncio. Nas sdbias palavras dos padres do deserto*,vamos encontrar uma outra analogia quando afirmam que é enorme o esforgo e arduo o trabalho daqueles que se aproximam de Deus. Mas que depois ver uma alegria indescritivel. “E como acender uma fogueira: no inicio hé muita fumaga e os nossos olhos lacrimejam, mas em sequida obtemos o resultado desejado. Do mesmo modo devemos aticar o fogo divino em nés mesmos com Iégrimas e grande labor.” Com a difuséo dos meios de comunicagdes cada vez mais sofisticados e globalizadas, constatamos hoje que muitas pessoas passam a relatar sem constrangimento experiéncias de quase morte (EQM) ou por terem tido um vislumbre de consciéncia césmica. Outro fenémeno a nivel mundial é a canalizacdo de entidades espirituais que através da mediunidade se comunicam por voz e por escrito através da psicografia. Talvez um dos exemplos mais marcantes que podemos relatar, é a extraordindria produgao de livros do médium brasileiro Chico Xavier, e de muitos outros ao redor do mundo. Quando aceitamos a realidade destas manifestagdes alcangamos uma absoluta conviccéo da existéncia de outros niveis vibratérios, que embora nfo possam ser vistas ou controladas elas existem, e nos convidam a uma nova forma de interpretar o sentido da vida. Estas experiéncias podem ocorrer de forma espontanea, mas isso acontece quando a pessoa ja é possuidora deste dom, consequéncias em grande parte de muitas encarnacdes, que nada mais so do que novos sonhos. Como jé mencionei no inicio deste capitulo, para quem ainda nao alcancou este estagio, elas podem ser desenvolvidas mediante técnicas como a meditago, hata-yoga e auto- investigacao. O ideal seria fazer parte de um grupo de estudos, ou de preferéncia estar na companhia de um mestre que ja alcancou este estado. Sabemos que ao longo dos milénios sempre houve a presenca de Mestres, Gurus, Santos; que nos legaram profundos ensinamentos e que ultrapassam os limites da nossa percep¢do. Vamos encontré-los através dos ensinamentos do Budismo, do Advaita Vedanta, do Sufismo, do Cabala, do Cristianismo, do Judaismo, da Ciéncia crist, do Xamanismo e de muitos outros caminhos espirituais, que surgiram na nossa era contemporanea. Entre elas podemos destacar “Um curso em milagres” que teve sua origem em 1965 e publicado em 1976. Ele foi canalizado pela Dr. Helen Schucman e auxiliada pelo Dr. William Thetford, ambos professores de psicologia médica na faculdade de medicina da universidade da Colimbia em Nova York. Ele é considerado hoje um classico espiritual. O curso ndo é uma religio, porque nao existe organizacao hierdrquica. Em sua introducdio ele resume o curso muito simplesmente desta forma: “Nada real pode ser ameacado. Nada irreal existe. Nisto estd a paz de Deus”. Ele também significa que temos que deixar de lado a falsa ideia de estarmos separados da fonte (Deus). E por isso que sempre que estivermos passando por uma situagao perturbadora, devemos nos questionar fazendo a nds mesmos a seguinte pergunta: “Eu quero ter razGo ou ser feliz” Esta pequena frase constitui um dos pilares do conhecimento do curso, ¢ enfatiza que a felicidade possui um valor muito maior que a razo. A felicidade ¢ um estado do ser, enquanto a razdo é quase sempre mais uma defesa do ego. “Albert Einstein - Fisico teérico. Desenvolveu a teoria da relatividade geral ao lado da fisica quantica. Considerado um dos maiores génios do século Xx *Steve Jobs — Inventor, empresério e magnata Americano no setor de informatica ~ 1955-2011 **Sir James Jeans ~ Fisico quantico, astronomo e matemético britanico — 1877-1946 ‘Padres do deserto — Eremitas e manges que viviam no deserto da Nitria a partir do século Il d.C. Chico Xavier — Médium com mais de 450 obras psicografadas. 1910-2002 EPILOGO Termino mais um livro. E como todo autor, sinto um estado de arrebatamento por ter expressado minhas ideias, e poder compartilhd-las com outras pessoas. Enquanto estava concentrado escrevendo e burilando os textos, fui sentindo cada vez mais através das afirmagGes dos grandes mestres que estdo presentes em cada capitulo, a grande importancia do siléncio e do autoconhecimento. As vezes sentia a presenca destes seres elevados, e entrava em sintonia com suas poderosas vibragdes. A exploragdo do nosso mundo interior, é de suma importancia, se estivermos preparados e amadurecidos em trilhar o caminho espiritual. Com efeito este trabalho de autotransformagao que procurei relatar ao longo deste livro, precisa ser praticado, até se incorporar em nds, a ponto em que ele passa a ser a nossa autentica natureza. Trata-se portanto de um trabalho ndo de evolugao , mas de recordacio. “Recordar quem vocé é”. Nesta fantastica viagem que fizemos juntos, tivemos momentos em que a verdade foi vislumbrada. Fomos estimulados a nos questionarmos até que ponto somos livres ou determinados. A grande importancia do perdao para despertarmos do nosso sonho. A possibilidade de alcangar a iluminag3o que constitui a nossa principal jornada, e de como devemos orar verdadeiramente para nos conectarmos com a nossa esséncia. Ha aqueles que conseguem alcancar éxito com maior rapidez, enquanto outros sentem muita dificuldade, correndo o risco de serem novamente dominados pelo ego, o que indicaria que até mesmo possuindo um conhecimento espiritual, ndo conseguem praticd-los no dia a dia quando surgem algumas situagées que devem enfrentar. Por isso este trabalho no tem data para terminar. Ele pode durar um ano, dois ou uma vida inteira. Em ambos os casos recomendo a pratica regular da auto- observaco, conforme expliquei nos capitulos precedentes. O meu objetivo foi desenvolver certas questdes que nao tinham sido abordadas nos livros anteriores, mas em esséncia ele é sobre a importancia do despertar, escolher a paz ao invés do conflito, o amor ao invés do medo a unificag3o em vez da separacdo. E claro que existem outras questdes que so praticamente impossiveis de serem explicadas, pois esto muito além de nossa capacidade de entendimento. 0 certo a fazer 6 deixar fluir, porque com certeza com o poder da fé e da pratica da meditaco, a nossa esséncia sem esforco, iré recobrar a sua meméria. Talvez a parte mais dificil para quem esta ainda no inicio do caminho espiritual é ter a coragem e a determinagdo de fazer esta verdadeira transformagao. Uma rigorosa faxina, para retirar de nossa mente todo tipo de crengas e inverdades que foram se depositando ao longo do tempo, e que constitui a nossa falsa e proviséria personalidade (ego.) E um esvaziamento imprescindivel, para que a sua verdade atemporal, possa encontrar um novo espaco para florescer. Agora que estou chegando no final deste epilogo, volta novamente a minha inquietacao que jé tinha comentado no inicio da introducao, em dar por terminado este livro, pois sempre existe a possibilidade em aprimorar ainda mais o seu contedido. Reconheco que muitas coisas deixaram de ser ditas ou abreviadas, e posso nao ter desenvolvido com maior profundidade certos pontos. Por isso considerem essa obra apenas como um pequeno esboco. Um livro com o propésito de apenas desfazer alguns véus que obscurecem e desfocam a nossa verdadeira imagem. Isso nao poderia ser diferente, considerando se tratar de um tema tao vasto, que nem mil livros poderiam abranger. Na verdade nem seria necessério. Seria apenas prolongar com mais palavras, a nossa verdade que jé esté em cada um de nés. Creio que o material aqui exposto, pode ser considerado como uma pequena semente que pode desabrochar para aquele que esta preparado, e que sente uma urgente necessidade em mergulhar em seu interior, para se conectar na paz e no amor que sempre esteve em seu coracao. Para quem possui nogdes bésicas de “Um curso em milagres” ou conhecimentos da filosofia oriental “Advaita” penso que conseguiu compreender na leitura do texto, o significado dos termos “Aparentemente no mundo ou no corpo” Mas para nao deixar diividas, aqui esta uma breve explicagdo. O fato é que nao estamos no corpo e nem no mundo, embora os nossos sentidos confirmam a sua existéncia. Para se ter uma ideia aproximada, vou utilizar mais uma vez outra analogia, que acredito ird facilitar a sua compreensdo. Tente imaginar que esta tendo uma conversa com um amigo através do Skype e vendo sua imagem através do Webcam. Nenhuma pessoa de bom senso nos dias atuais, pensaria que a pessoa contatada, esteja dentro do monitor. Ele sabe que é uma imagem virtual, transmitida por ondas através de sofisticados satélites, e que 0 monitor nada mais é que um receptor. Poderia entéo dizer que ele “aparentemente” est na tela do meu monitor. Mas em caso do monitor deixar de funcionar, meu amigo ndo teria desaparecido. Tudo indicaria que temporariamente a transmissao foi interrompida por problemas técnicos, ou meu computador estaria com algum defeito. Da mesma forma que no acreditamos que 0 corpo de uma pessoa no esta no monitor, a alma nao est no corpo. Os nossos sentidos nos fazem acreditar nesta ilusdo. A verdade é que a alma esté além do tempo/espaco e matéria. Ela 6 uma extensdo de Deus, e portanto nao possui localidade. Ela é atemporal. No possui inicio e nem fim. Estamos passando por uma imaginaria experiéncia no plano fisico, para recordar a nossa verdadeira identidade. Reconhego a dificuldade em entender tudo que foi exposto, mas talvez esta analogia possa ajudar a entender um pouco este mistério, e da raz3o de me utilizar da palavra “Aparente.” Eu a utilizo porque nao corresponde a nossa real condi¢ao. Ela no é verdadeira. E por essas razdes que os antigos mestres do passado, encontravam muita dificuldade em transmitir conhecimentos metafisicos, pois a ciéncia e a tecnologia estavam dando os primeiros passos. Mesmo assim, embora a fisica quantica que jé existe hd mais de 80 anos e com comprovadas evidéncias cientificas, no incorporamos esta nova visdo em nossa vida cotidiana. Nos comportamos ainda de acordo com a fisica classica, pois ainda predomina em nossas vidas o paradigma mecanicista. Se os sdbios iluminados do passado tivessem que utilizar hoje de uma linguagem cientifica, usariam palavras muito parecidas como a do famoso fisico quantico Niels Boht “As particulas materiais isoladas sao abstragées, e suas propriedades sdo definiveis e observaveis somente através de sua interacdo com outros sistemas Enquanto que os mestres do passado, expressavam esta mesma verdade de forma mistica intuitiva: “Entrando-se no samadhi da pureza, obtém-se a compreensdo que tudo penetra, 0 que nos torna conscientes da unidade absoluta do universo” Hoje estamos como nunca, interligados através de uma sofisticada tecnologia, que nos permite um intercdmbio instantaneo (online) entre todos os povos, permitindo assim uma constante interacdo cultural e espiritual. A tendéncia desta globalizacao se alastra cada vez mais, e ficamos surpreendidos em constatar como cada vez mais as verdades misticas do passado, resurgem hoje através de comprovacées cientificas. Posso até afirmar, 0 que pode até nos surpreender, mas 0 surgimento da Internet, celulares, aplicativos, whatsapp etc... que sem duivida foi um grande avanco, nao passa de uma mini amostra para nos sentirmos interconectados no todo. Embora estas surpreendentes avancos tecnolégicos podem nos impressionar, elas so ferramentas limitadas, pois dependemos delas. Como jd abordei esta questdo em outros livros, 6 suficiente dizer aqui que o desenvolvimento tecnoldgico nao passa de uma primitiva ferramenta que nos ajudam a ultrapassar os limites do corpo fisico. Embora considerado um sofisticado organismo, sabemos que apresenta muitas restrigdes. Muito diferente de um mestre iluminado que possui este poder em si proprio, e que ndo depende de ferramentas externas. Hoje vemos cada vez mais pessoas buscando uma espiritualidade independente das tradicionais organizacOes religiosas, que em verdade 6 nos afastaram da nossa conexéo interior. Somente quando o homem despertar e reconhecer o “Ser” que verdadeiramente ele é serd o alvorecer de uma nova era. A humanidade passaria entdo por uma inimaginavel transformagao. Talvez o inicio de uma verdadeira civilizagao. Esta transformac3o no entanto nio pode ocorrer de fora para dentro, mas de dentro para fora. O fim do mundo, téo anunciado nestas ultimas décadas, nada mais é que o fim da nossa ignoréncia. E 0 relembrar da nossa divindade. Ela nao ocorre através da destruic¢go do mundo das formas, mas da destruicao de nossos falsos conceitos. Tal qual um rio, ndo importa se ele se desviar de sua rota, Nao importa se ele se distanciou por um tempo do seu destino, porque mais cedo ou mais tarde retornaré ao mar. Embora os conhecimentos contidos neste livro, ndo apresentem nada que de alguma forma ja ndo tenha sido falado e escrito pelos mais diversos mestres, fildsofos e cientistas, acredito que a maneira pessoal que um escritor tem em se expressar, sempre poder contribuir para uma maior compreensio. Espero que ele possa inspirar o leitor para uma nova reflexdo sobre o despertar. Como extensdo divina, somos todos um - Amorosos, perfeitos, atemporais e bem aventurados. Quando estava para colocar um ponto final neste epilogo, escuto para minha surpresa como uma voz interior. No inicio eram murmtrios quase inaudiveis, mas aos poucos o som comecou a clarear. Nao sei quem poderia ser, mas fui tomando nota. Assim que terminou, a voz simplesmente silenciou. Eu senti como se as palavras fossem dirigidas a mim, como uma orientagao. Assim decidi compartilhar esta mensagem para que elas sejam as Ultimas palavras do meu epilogo, e que poderao ser também de muita ajuda para inspirar muitos leitores. “Nao pense que por ter lido tantos livros e por ter escrito alguns, vocé pode se considerar um mestre. Somente através do siléncio, e do autoconhecimento terd as ferramentas necessdrias para enfrentar com leveza os obstéculos e adversidades. Eles séo fundamentais para reconquistar a sua mestria. E por isso que estd aqui neste aparente mundo de dualidade. Com certeza terd as oportunidades para desfazer algumas fraquezas, e se libertar de falsos conceitos. Aplique tudo que vocé apreendeu. Permanece calmo, e mantenha a sua fé em sua natureza divina. Procure viver as virtudes dos grandes mestres que vocé tanto admira, Jamais tenha nenhum pensamento de violéncia ou de vinganga em sua mente endo faca nenhum tipo de julgamento ou comparacéo com os outros. Nunca esqueca as duas principais licdes; amar incondicionalmente e perdoar verdadeiramente. Afinal, as outras pessoas so abstracées. Nao existe outras pessoas. Tudo é um. Nao existe divisto, nem separagdo. Apenas um sonho do qual vocé iré despertar.” Om Shanti AFIRMAGOES CONTIDAS NESTE LIVRO Se houver uma excessiva dependéncia em relacgdo ao mundo exterior para se sentir seguro, e perceber muita resisténcia em perdoar 0s seus supostos inimigos. Se ainda estiver acreditando em um Deus separado e temido, ou tiver ainda a convicgao que este mundo ¢ real, entao vocé ainda continua escravo de seus sentidos, e preso na matrix com seus falsos e equivocados conceitos. A luz da sabedoria 0 que vocé nunca perdeu, jamais pode ser encontrado. A sua busca sé revela que estd inconsciente de sua prépria verdade. Despertar significa, se dar conta que nao ha nada para ser procurado. lludido pelo irreal, o homem passa a dar realidade as imagens projetadas pela sua prépria mente. Nao existe algo errado em experimentar as imagens que vocé vé numa tela de cinema, pois obviamente esta é sua experiancia. Nao estou negando ao que vocé vé, mas quero te dizer que é uma iluséria experiéncia. E apenas uma projecao. Cada um possui o seu préprio mundo de acordo com a visdo que ele tem de si prdprio. A ideia de um “eu” como uma pessoa independente, se deve a iluso do tempo e do espaco. Devemos nos dar conta que estamos adormecidos, e sonhando mesmo quando estamos no estado de vigilia. O mais correto seria chamé- lo de sonho desperto. No importa o quanto a vida pode parecer dificil, existe apenas dois caminhos a escolher, mas somente um representa a realidade. Essa realidade é 0 amor. Vocé € 0 préprio amor. O perdao constitui o principal remédio que desfaz as nossas crengas de uma falsa realidade, e nos cura de nossa dor. Ele possui a capacidade de nos libertar de um pesado fardo que vinhamos carregando até entao. Nao devemos deixar de nos encantar com a beleza exterior, porque em realidade ela representa simbolicamente a nossa beleza interior. Quando mergulhar em seu interior através do siléncio da meditacaio € da oracdo, isso fard desabrochar aos poucos a sua real natureza e voltar a sero que sempre foi: Suprema e atemporal felicidade A pergunta mais importante que devemos fazer é por quanto tempo ainda iremos permanecer na prisio que nés mesmos construimos em nossa tela mental. Temos que reforcar a nossa fé e confianga, e adquirir uma certeza intima que tudo sempre acontece para o nosso despertar. Onde existe a luz da sabedoria, a escuridao da ignorancia no pode permanecer. Independente de suas crencas, 0 fato é que nunca estamos separados mas unidos com toda criac%o. Somente a verdade do “Ser” é real. Néo podem existir duas verdades. Quando desfazemos a ideia equivocada de estarmos separados da Fonte e mais conectados com o “Ser”, temos condi¢gées de perdoarmos verdadeiramente, pois deixamos de dar realidade a uma ilusdo. © poder da mente é implacdvel. O que vocé sente vocé atrai, o que pensa vocé cria, e no que acredita torna-se realidade. Enquanto estivermos adormecidos e encalhados por nossas préprias crengas e ilusées, ficamos como que sonambulos e em constante movimento circular do qual fica dificil romper 0 seu rodizio. Nao existe a inverdade, da mesma forma que no existe escuridao. Ela pode até nos dar a impressao de durar por um certo tempo, mas um dia a verdade como um sol, volta a iluminar a nossa alma desfazendo a escuridao da nossa ignordncia. Quando nossa experiéncia humana est alicercada no amor e no perddo, estamos na verdade vivendo a partir da nossa esséncia divina. Estar iluminado é um estado de consciéncia, em que hd um sentimento de interconexdo amorosa com o todo, num absoluto ndo dualismo. Qualquer tentativa de ser descrito em palavras jamais podera corresponder a verdade. A verdadeira religiosidade sé pode florescer dentro do nosso coracio. Porque sempre acima das nuvens turbulentas da ilusio, o sol continua a brilhar. Por mais que a iluminacao possa ser descrita ela serd apenas um conceito, uma ideia. Quando ela se manifesta a pessoa jd ndo 6 a mesma. £ uma total transformacao. Simplesmente ele volta a ser o que sempre foi. Como uma foto hologréfica, cada fragmento contém o todo. Por isso a grande importncia dos relacionamentos, porque sem outras pessoas atuando como espelhos, seria muito dificil perceber tudo que precisa ser visto e perdoado em nés. Somente quando o ego é destronado, todas as nossas ilusées so removidas, e como uma extensio divina vocé aceita a voz por Deus como sua Unica fonte. Somente aceitando serenamente a vida como ela é, podemos reencontrar no siléncio do nosso coragao, a nossa bem- aventuranca. que em verdade mais ansiamos é obter uma visdo panoramica da vida e no fragmentada. Queremos sentir a paz e o amor, que esto em nosso “Ser” mas que o ego € as regras sociais nos iludem e nos impedem de encontrar. A nossa verdade absoluta jamais pode ser encontrada fora de nés. Ela nao pode se manifestar em toda a sua totalidade através de palavras ou conceitos, ou fazendo parte de uma organizacio religiosa. Somente na medida em que nos libertarmos das nossas crencas e apegos, as nossas oracées estardo fortificando 0 nosso “Ser” para encontrar 0 caminho mais rdpido para despertar e voltar para casa. Somos uma extensdo da fonte, e a fonte é puro amor. Este é 0 trabalho do sistema de pensamento do Espirito santo, que ele nos oferece. Recuperar a lembranga de quem somos verdadeiramente. Unos e perfeitos como Deus nos criou. Somente o ego pode se sentir ferido ou magoado. Mas quando através da lucidez espiritual, percebemos com clareza que 0 ego é apenas um falso eu, prevalece a fora eterna do “Ser”. Tal qual um rio, ndo importa se ele se desviar de sua rota. No importa se ele se distanciou do seu destino, porque mais cedo ou mais tarde retornard ao mar. BIBLIOGRAFIA SUGESTOES DE LIVROS Um Curso em Milagres Perdéo Antes do Eu Sou O Poder da lluminacéo Culpa, Cura e Relacionamento O Amor néio esqueceu ninguém Maha Yoga Cure-se através da Paz Os Miserdveis Fundagdo para a Paz Interior Gerald G. Jampolsky Editora Cultrix Mooji Qualitymark Otdvio Leal Fditora Alfabeto Claudia Pierre Novo Século Gary Renard Grupo Mera K. Lakshmana Sarma Abone Publicacées P. K. Nesbit Grupo Mera Victor Hugo A Yoga do Bhagavad Gita Eu Sou Aquilo Paramahansa Yogananda Self Realization Fellowship Nisargadatta Maharaj Editora Advaita FILMOGRAFIA SUGESTOES DE FILMES 0 Sétimo Selo Ingmar Bergman O Amor néo esqueceu ninguém Gravado por Polestra de Gary Renard Pathways of Light Os Miserdveis Glenn Jordan Baseado na obra de Victor Hugo Como conhecer Deus Ron Frank Baseado na obra de Deepak Chopra O Rei dos Reis Nicholas Ray Fronteiras da fisica Nova/Pbs Baseado na obra de Brian Greene OAtivista Quantico Bluedot productions Baseado na obra de Amit Goswami AConvocacéo Emmanuel Itier Dos Produtores de “Quem Somos Nés” A Origem Christopher Nolan (Os Dez Mandamentos A ultima tentagao de Cristo Blade Runner 0 Show de Truman Chico Xavier 0 Vidente Contra o Tempo Alta Frequéncia X-Men Dias de um future esquecido Siddhartha A Mulher de Areia Sansara Cecil B. De Mille Martin Scorsese Ridley Scott Peter Weir Daniel Filho Lee Tamahori Duncan Jones Gregory Hoblit Bryan Singer Conrad Rooks Hiroshi Teshigahara Pan Nali Contato com 0 autor: robbysaul@gmail.com CONTRA CAPA Q unde nose experiénce humane eat aliergade no amore no pre, estamos naverdade uvendo a partir de nossa ssénca ving. Uma forge peroan se apossa em ne pereebemos ave quand Imai amor e admire sertimos por aluér @ porave cat ‘Qaldades est aloradas em noss9 terior (nosso semethantese toma como un espoho que reflete as nose rmesmas quaidades Asim toa siuaao, sla ea aparentamente Dovorots ou trifente, deseparece quando o seu signed mal (que 6 ea jamais em nenhuma hnétese pode ser amearado, aerado ou [Sertroldo. Ma 0 que rreai ou mtv no sotul aide permanente Por mas sromético ou essustador que ele possaaparenta, ele ¢ apenas ‘un prego tempoctria dos nowioesomoredevaneiog A verdadetrerligosdn ie 6 pode foresee dentro do ness craslo. Porque sempre ama Gas mavers turbulent d Hsso, ‘Tudo is signin que se termes de ques vontade de Deus & também ‘noses vontade iremos percebe’ com total darera que fra howe SeparagSoe qe nods poge marter nos ge do s2u amor Entdoo nosso coracd esters apeniguedo “Todor c= nortospenssmentorsombriar, oF RotEDE Negro Deradelon nada ro signi tes amas prevalecerdo contra * po.

Você também pode gostar