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Copyright © Fins du Sei, 1998 “Titulo origina: La domnaron masculine Cop: Simone Villas Boas Revisio da tradugdo: Gustavo Sora Editor: DFL, 2n2 Impresso a0 Bri Printed in Brsil, Cire Catlogasao ma fote Sina Nasal ds stores de Lo, RD Bouse, Pier, 19302002 ‘airs Aaminnte mac! Pee Bours rade Maria Helena TPES Kuler "Ile Rind apts Bernd Br 2012, | Tent de: La dominion cine oct ares IAN Ste Hsaseo7oss 1. Papel seul 2 Dominate (sicaoa) 3. Poder (Cociae sects, Home ~Psolog Tilo seas EDU 316 3062 “Todas os diits eservados ple EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA. Rua Argentina, 171 ~? andar —Sto Crist 20921-380 — Rio e Janeiro RI Tels (OXXDN) 2585.2070-~ Fax: (ONX21) 2885-2087 [Nio¢ permitde reprodstottal ou parca desta br, por gusisquer _mcios, sem a previa autoriagao por eserito da Editor. -Atendimento vend ita etor snueto(erecand.com bo (OXX21) 2585-2002 ALETERNIZAGAO DO ARBITRARIO Ber cm au pe prey efor corte inhas nios nero seo mene gee ee pan ramen deat stron pe atrcnmecgee penne lt ‘Seoul deems Saosin caiman deta srs na € ‘eros mutagen pci oar ea ig ae ‘Se onset tanner nn dog us ino uel poi er et ‘Speen sean cee xa oe i ie ‘Sern nc dss on) rs nant rte oat eerstistpnanisccwmmeanens Cpr aac pepe aa ot ‘nes emg oma um a ae Seton maar on po nk oan ipo np ‘Somos nao ¢ ma ur ooo 6 bodes gor ome ata ‘Sone fhmlato tus ngs ty sue aga iar sng Se i enn a pre (ges vata patria as darts eh cm gra me et ate ‘ines hntcneri rere pepo tea crn ee toe res pie ren tn nay sano prev tas hissed (Stott ana tame le a ‘Sonepat deur soca ert orn ei ‘tec pepe nisms ee Inivatons ou 4 ees hupenigeSceavar sempre ecsmeyadn Ge psn cas ‘Sen rcs ince dn oc oe arr [eke ans na epsom as, map ed a pone maa at ste ec er ap nm nue dca a oe Sem mene es sane ‘Soto sau poperes sen semen oa ue sam ab ROME acai te oma ras leaps mr sa uc cnn st, eb {Symmes ign ms cpr en en tions UMA IMAGEM AMPLIADA, Como estamos insluidos, como homern os mulher, no préprlo objeto que nos esonjamaus por apreender, incorporames. soba fora de esquerasincanscientss de percep 0 ede aprcigi, a stators bisrieas da ordem matclin arviscamo-nos, pois a seorses, para pensar a donsnggao maseu- Tina, modos ce pensament quest eles propos produto da onninaio. No yodemos espera sai deste circu eno encon- trarmos uma etratgiaprtica para eftvar una objetagso do suelo da objetaya ceca. Bact, que 6a que vamos aqui adatar, consist em transforma um exerelcio de refexdo {wanscendentalvsindoa explora as “categorie do etenize to" ou, na expressdo de Durkin, “as formas de elsitiagto” com at qua constrameso mundo {mas que origin deste ‘mundo, etao ewencialneste de seordo com ele, aes que per rmanegam desapereebidar) em uma espcie de enperiencia de luboratri: 3 ue conssird em trata a analiseetngzafica das cstruras objet e das formas cogs ce una sociedad hi térica especies, a0 mesmo tempo exci @ Intima, estonia @ familar 2dos berberes da Cebfia, mo instrument dw (ae bay de socianitise do incunsciente andzocénticocapaz de operat objethagan das categoras deste incmscente Bet Gi ns wr a cpa ch maser a Co Pansat 0 pre Fann orld tegen wade so choramclns tes toa ee Sere eines Say Wr reas Soa se sp realizagio no erotismo) nos fez perder o senso da cosmologie sexualizada, que se enraica em uma tapologia senual d& corpo sodalzado, de seus movimentos ¢ sens deslocarrentos, imediat revertidas de significasao social —o movimento para 0 alto endo, por exemplo,asiociade ao masculno, como a eregio, ‘01 2 posiedo superior uo ato sexta, Abitriria em estado isolado, adivisio das cosas e das ativi- aces (sexuais e outta} segundo opusicao entzeo masealinoeo feminino secebe sua necssidade objetivae subjetive de sua inser ‘40 em um sistema de oposgdes homdlegs,cltofbaix, em cima Jembaixo, na frentefatris, diveta/equerda,reto/euzvo (e flso), sevofiimido, Guro/mole, temperacofinsosio,clarolescun, fora (Piblico}denito (privado} etc. que, par alguns, carespondem ‘8 movimentes do corpo (alto/beixo/fsubitideseer, fora/dentro/) sairfentear), Semelhantesna diferenga,taisopasigness40 afisien femente concordes para se sustentarem mutuamiette, no jogo € pelo jogo inespotavel de transferdncias priticas ¢ metéforas; e também suficientemente divergentes para confetin a cada uina, "uma espécie de espessna semintica, pastes da sobredetermina ‘lo pelos has snniny cananayors © au eapondenelas> Essesesquemas de penssmento, de apicagio univers regi ‘ram como que diferengas de natureza,inseritas na objetividade, ss variagDes € das tragos dstintivos (por exemplo em mattis ‘corporal que eles conteibuem para fret exstis ao mesmo tempo ‘que a8 “naturalizam’ inserevendo-as em um sistema de difecen ‘95 todas igualmente naturas em aparéacta; de modo que as pre visoes que elas engendram sto incessantemente eonfirmads pelo ceus0 do mundo, sobretudo por 1od0s os ciclo bioligicos € cs ‘micos. Assim, ado vemos como poderiaemergir na conseiéncia a ‘elagdo socal de dominagéo que esti em saa base e que, por uma inversdo completa de cusas e efeitos, surge como ume aplicagio ‘ene outras, de um sistema de zelagdes de sentida totalmente fore Serra ape. p 38. independente das relayoes de forga © sistema mitico-ritaal ‘Assim, a definigd social dos 6rgios sexuas, longe de ser um simples registro de propriedadesnaturais,dretamente expostas percep¢io,é produto de uma construgioefetuada a custa de uma série de escolhas orientadas, ou melhor, através da acentuagao de certasdiferengas, ou do obscurecimento de certas semelhangas. A representagio da vagina como um falo invertido, que Marie~ Christine Pouchelle descobriu nos escritos de um cirurgito da [Kade Média, bedece as mesmas oposibes fundamentals entre 0 positivo eo negativo, 0 diretoe 0 avesso, que seimpem a partir Uo unnuents eau v priya enculae € tonido sono toed a de todas as coisas.16Sabendo, assim, que © homem ea mulher dors hao Sit ont, non age te pode sn Uno So pe (be) soe eeu 2 tie nade ates tooo ene som, tres gu ob Oe a re oe So {Tad mon lon sworn mca por ba de wed ge a ‘mopar scone sono iin nl wa ‘Sedan ov anak oo fonene ma un co mbuaor cane {se pon mc ar ugparn aarncsr, Sngoosor mewren Toei aco tiartedoewaconr cnn oft Suge ou hee 8 ono ces Neos oke teromerw ot ores TSE oor anton dip eo 16. Face Cope Cha eon Mayen A a own, so vistos como duas variantes, superior e inferior, da mesma Fisiologia, compreendemos por que, até 0 Renascimento, nao se lispusesse de terminologia anatdmica para descrever em detalhes ‘osexo da mulher, que érepresentado como composto das mesmios ‘rgios que o do homem, apenas dispostos de maneira diversa.!? Por isso, como demonstra Yvonne Knibiehler, os anatomistas de principio do século XIX (sobretudo Virey), ampliando 0 discur- so dos moraisastentam encontrar no corpo da mulher ajustii- Satna do estate sia yueIics € impos apelaly pata opest= es tadicionais entre a interior ¢o exterior a sensibilidade e a ‘240, a pasividade ea aividade.!" Bastaria seguir a historia da “descoberta” do clitérs tl como areata Thomas Laqueut,” pro Jongando-a até a teorafreudiana da ligasio da sexualidade femi- nina doclitris para a vagina, para acaba de demonstrar que, lon- ge de desempenhar o papel fundante que Ihes éatibuld, as dife- engas visves entre os 6rgiossexuais masculino e feminino sto "uma construgdo social que encontra seu principio nos pricipios Ge divisto da razto androcéntrica ela propria Fundamentada na Aivisto dos estatutos soca atebuidos a0 homem ¢8 mulher.” Os esquemas que estruturam a percepeio dos érgios sexuais «¢, mas ainda, da atividade sexual se aplicam também ao préprio corpo, masculino ou feminino, que tem sew ato e seu baixo — Sa ty he NC bly, Evy one ‘roa 3 187s poets 7 ‘08 Tos ed Zon Poe New or Zoe 989. i ‘uit pa near dor arn el oa 9 ge anes oad eon eg ea ‘ui, Sande east op 0994) earn ans maa a Soman dn ole dst rep ake sendloa fronteiradelimitada pela cintua, signo decausura (aque Ja que mantém sua cintura fechada, que nao a desamarra, é consi- derada virtuosa, esta) e limite simbotico, pelo menos para a mulher entze 0 puro eo impure, ‘A cintura & um dos signes de fckamento do corpo feminino, bragos cruzados sobre o peito, permas unidas,veses amarradas, ‘que, como iniimeras analistas apontaram, ainda hoje se impoe 35 ‘heres nas sociedades euro-americanasatuis2! Hla simboliza a barreicasagrada que protege a vagina, socalmente constitulda em objeto sagrado, e portanto submetido, como o demonstra aanali- se drkheimiana, a regas esritas de exquivanga ou de aesso, que ‘A intengdo da sociodicta se afirma aqui sem subterigios: 0 mito fundador institu, na origem mesma da cultura entendida como ordem social dominada pelo principio mascuino, a oposi- so constituinte(j4inltrad, de fato, através, por exemplo, da ‘oposiio entre afonte ea casa, nos dads que servem para justif- cla) entre a natureza ea cultura, entre a “sexualidade” da natu- re2a € "sexualidade” da cultura: ao ato andmico, realizado na TET east aarlogdea po Fone, lugar feminino por excelénci,e iniciativa da mulher, ini- ciadora perversa, naturalmente instrufda nas coisas do amor, ‘opde-se ato submetido a0 némos, doméstio e domesticado xe ‘extado por exigencia do homem econformea ordem das coisas, hierarquia fundamental da ordem social eda ordem cosmica;€ realizado na casa, lugar da natura cultvada, da dominasdo leg ‘ima do prinipio masculino sobre o principio feminino, simbolt- 2ada na supremacia da viga mestra (asalasalemmas) sobre plat central vertical (thigh, forquilhafemininaaberta para o ef. ‘Mas em cima ow embaixo, avo ou pasiv, ess alternativas paral descrevem o ato sexual como wma regio de domingo, Demodo gerl, poss sexualment, com em francés Baiserow emt inglés to fuck €dominar no sentido de submeter a seu poder, mas signa também enganar, abusar ou, como nés dizemos, “possi” {ao paso que resist a sedugao & na0 se dear enganar, nao se de- xar“possait"). As manifestagdes (legitimas ou lgitimas) da virii- dae se situam na logic da proers, da exploragio, do que tz han- ra. B,emboraa extrema gravidade de qualquer transgressio sexual reto imtegridade ‘masculina dos outros homens, que encerra toda afiemagao vir coatém o principio da visto agonistica da sexualidade masculina, «que se declara em outras regides da éea meeiternea ealém dela, proia de expressilaabertament, 0 defo in ‘Uma sociologia politica do alto sexual faria ver que, como sempre sedi em uma relagao de dominas20, as riticas eas repre sentagdes cos dots sexos nao sto, de maneiraalguma, simétricas. [N20 56 porque as mogas-os rapazestém, até mesmo nas socieda- es euro-americanas de hoje, pontos de vista muito diferentes Sobre arelacao amorosa na maior parte das vees pensada pelos homens coma logica da conquista(sobretudo nas conversasentee amigos, que fo bastante expago atm contarvantagens a resp to das conquistasfemininas)," mas também porque ato sexual ‘em si €concebio pelos homens como wna forma de dominss2o, ‘de apropriacio, de “posse”: Da a distincia entre as expectativas provavess dos homeas e das mulheres em matéria de sexualidade = €0s mal-entendidos que dele restltam, ligados a mas inter pretagGes de “sinais, as vezes deliberadamente ambiguos ou ‘engamiadores. A iferenca das mulheres, que esto socialmente preparadas para viverasexualidade como uma experiéneia intima « fortementecarregada de aletivicade, que no inclui necessa rente a penstragio, mas que pode inclutr um amplo leque deat Vidades (falar, tocar, aaricia,abragar ee.},osrapazestendem a “compartimentac’asexualidade, concebida como um ato ageess- vo, esobretudo fsico, de conquistaorientada paraa penetcagio e orgasim. Eimbora neste ponte, como em todos os outros, as variagdes sejam evidentemente considersvels, segundo a poscio social" aidade — eas experiéncias anteriores —, pode se inferit, ‘por una série de enirevistas, qu priticas aparentemente simstri ‘cs (comu a felacdo 0 mtn) tendem a revels de sign fcagdes muito diversas para os homens (que tender a vet nelas tos de dominio, pela submissio ou o gozo ebstidos! e para as ‘mulheres. O gaz masculine, por um lado, gor0 do go20femini- ‘no, do poder de fazer gorar: assim Catharine MacXinnon sem sve tem razdo de ver na “simulacto do orgasmo” (faking ‘orgase) uma comprovasto exemplarda poder masculino de fazer ‘com que interagio entre aesexos.se dé decor com a visio das homens, que esperam de argssmo feminino wma prova de sa Virliade e do gozo garantie por ess forma suprema da submis: slo Do mesmo modo, oasséio sexual nem sempre tem por fim SE'D atthe fale of ape NewYork, Sand By 975, 2720. Kal See. twee en ens mor inne ne pone snc kn rca deme ‘itnde leer ees en cols cra se epcimnro aced (siesta 56.C°R tan foi maid Dat on ion Law, Conon (Sesser Marley Pe 98% 6 38 exclusivamente a posse sexual que ele parece perseguir: 0 que acontece & que ele visa, com a posse, nada mais que a simples sfirmagio da dominasso em estado paro-* Se 4 elagao sexual se mostza como uma selagto social de ddominagzo, € porque ea esté construida através do principio de dlivisio fundamental entre 0 masculino, atvo, ¢ feminino, pass vo, ¢ porque este prinepio eri, organiza, expresso edivge o dese jo—o desejo masculine cama desejo de posse, como dominacso ‘erotizada eo deseo fersinino coma desejo da dominagio masc lina, como subordinasio erotizada, ou mesmo, em ktm insti ci, como rexonheciniento eroizado da daminagdo, No caso emt ‘que, comose di nas relagbes homossexuss, a necprocidade pos sivel, oslacos entre a sevulidade eo poder Se desvelam de manei ra particolarmente clara, eas posigdes eos papéis asumnidos nas relagbes sexuais,ativos ou pussivos principalmente, mestrant-se indissocisveis das relades entre as condigdessocais que determi: pam, a0 mesmo tempo, sua possibiidade e sua signiticagdo. A penetracd, sobretudo quando se ere sobre um homem, uma fae afirmagioe da Thida dominondi, qne jamais oct de toda asutente na libido masculina. Sobe se que, em inimeras socieda <2, a posse homossexual é vista como uma manifestagbo de “poténcia um ato de dominag2o (exercido como tal, em certos ‘cass, para afirmar a superioridade “fminizando” o outro) e que 4 este ttulo que, entre os gregos, ela leva aquele que a sore a sonra e perda do estatuto de homvem integro ede cided: a passo que, para um cicadao romano, a homossexualidade “passiva” com um escravo & considerada algo “monstruoso"” Do :musmo modo, segundo John Boswell, “peaetragio e poder esta ‘vam eotreas inimeras prercogaivas daoite disigente masculinat ceder 3 peneiragao era uma ab-rogagio simbolica do poder e da TGS TE Grin opener cn Eads tl La ake nnd fr iors Sen iar gp. 30891 36. Cl ps wp. K Doe, Hono owe. Fo ta for ones TPitige Hoey autoridade’>* Compreende-se que, sob esse ponto de vist, que liga sexualidade a poder, a pior humithagio, para um homem, consiste em ser transformado em mulher E poderiamos lembrar gui as testemunhos de homens a quem torturas foram deliber

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