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EB1 Viseu n° 5— S. Miguel A MARIA CASTANHA Ha muitos, muitos anos havia uma cabana no meio da floresia onde viviam seis duendes muito endiabradas. Usavam todos um barrete laranja'e uma roupa de cor diferente. Eles gostavam muito de brincar € cantar. O que tinha @ roupa azul chamava-se Azulinho. O outro que andava vestido de verde era o Verdinho, O que tinha a roupa cor de laranja chamavamdhe Laranjinha. O quarto andava vestido de Branco, era o Branquinho, O quinto tinha a roupa amarela e chamavam-ihe ‘Amareiinho. E 0 sexto andava vestido com uma roupa vermelha, era 0 Vermethinho, Cada manhé, um dos duendes encarregava-se das tarefas da casa enquanto 0s outros corriam ¢ brincavam na floresta. Mas quando chegava o domingo, j4 todos os duendes tinham feito as suas tarefas © nenhum queria trabalhar. Assim, as domingos, ninguém fazia as camas, nem varia a casa, nem limpava 0 pé e, @ pior de tudo, era que nenhum deles fazia a co- mida! Por isso, aos domingos, estavam todos de mau humor ¢ zanga- dos e acabavam quase sempre o dia a brigar uns com os outros. No outro lado da floresta, vivia um avé com a sua neta, que era uma menina muito bonita chamada Maria Castanha. Derarihe este nome porque ela € a.seu avd apanhavam casta nhas ¢ iam vendé-las no mercado da povoagao. Cada vez que iam para a floresta, o avé dida 4 Maria Gastanha: -Toma atengao, nao le afastes muito e sobretudo no passes para ‘0 outfo lado do rio. Lembra-te que vivem Id os duendes da cabana Os duendes so maus, avé? - perguntou a menina, - Nao, nao sa maus, mas.gostam muito de fazer travessuras. Jé ha muito tempo que nao havia passagem para o outro lado do rio, mas num dia de uma grande tempestade um castanheiro muito grande caiu ¢ ficou atravessado no rio. E naquela tarde a Maria Castanha foi & floresta apanhar flores e andando, andando, passou por cima da arvore para 0 autro lado do ria e encontrou a cabana dos duendes. Quando os duendes a viram, ficaram muito contentes. Depois, per- guntaram-the como é que ela se chamava, onde vivia e se queria ficar a brincar um bocado com eles. Assim, todos juntos, estiveram a tarde EB] Viseu n’ 5 — S. Miguel inteira a brincar: 8s escondidas, aos cinco cantinhos, ao lengo, ao gato a0 rato.. Mas, de repente, a Maria Castanha percebeu que estava a escure cer: - Bem, agora tenho que voltar para casa do meu avo -disse ela. Naquele momento, os duendes deram as maos e fizeram uma roda a volta da menina e comegaram a cantar: -Nao, nao; tu nao te iras embora. Nao, nao; nao regressarés. Aprin mas depois de um bocado, vendo que ja era quase de noite, io, a Maria Castanha pensou que eles estavam a brincar, disse: Pronto, jé chega. Agora é que me vou embora. Eos duendes tornaram a dar as maos e cantaram: no, nao, nao irs embora. ‘A pobre Maria Castanha, com a voz a tremer um bocadinho, per guntou: - Mas por que é que nao me deixam partir? Escuta bem: amanha 6 domingo, e aos domingos nenhum de és quer trabalhar nem fazer a comida! E nao fazemos nada, s6 bri- gamos uns com os outros. Mas, se tu ficares, trataras da casa e, sobretudo, poderas fazer 0 comer. -Mas 0 meu av6 vai ficar preocupado. - Basta que Ihe mandes uma mensagem a dizeres onde ests € pronto. Sim, mas aqui na floresta nao ha carteiro, - Nao faz mal, mas temos o velho Krock. Quem é 0 velho Krock? Os duendes bateram palmas e comegaram a gritar: «Velho Crock!” Nesse momento, ao longe ouviu-se «croc, oroc, croc”, o ruido de um passaro grande, e de repente viram chegar a voar uma espécie de corvo muito grande, azul da cabega aos pés, menos 0 bico que era amarelo. A Maria Castanha, ento, escreveu em letras grandes num papel: AV6, no fiques preocupado, fico até amanha com os duendes.” O velho Krock agarrou no papel com o bico ¢ voou até & casa do EBI Vi eu n’ 5—S. Miguel avé da menina. No dia seguinte, a menina levantou-se para amumar a casa: acendeu a lareira, fez as camas, fez a comida, e ficaram todos muitos contentes. ‘Quando chegou a tarde, a Maria Castanha quis ir-se embora..., mas os duendes deram as mos e fizeram uma roda a volta dela. Nao, nao, tu nao te irs embora. E amenina comegou a chorar. -Mas, por que @ que nao me posso ir embora? -Podes ir embora mas tens que prometer que vens todos os do mingos para arrumar a casa e... fazer a comida! ‘Maria Castanha prometeu. Mas antes de ela se ir embora ainda Ihe disseram: - Se no cumprires 0 que prometeste, nés ficaremos muito zanga- dos contigo e o velho Krock, como castigo, rouba-vos todas as casta- nhas antes de as poderem vender. ‘AMaria Castanha prometeu e por fim péde regressar a casa do seu avo. Nos dois domingos seguintes a menina foi arrumar a cabana dos duendes, mas no terceiro domingo a menina disse ao avo: -Acho que desta vez nao vou. Estou cansada. Est4 bem - disse 0 av6, .entdo temos que trancar bem as janecas, @ as portas, porque o velho Krock pode vir roubar-nos as castanhas. Quando ja estava tudo trancado e fechado e a menina @ o avé dormiam descansados, ouviram alguém a bater a porta e uma velhinha a gemer: - Sou uma pobre velhinha que me perdi na floresta; se me pudessem ensinar 0 caminho. O avé levantou-se e desceu para abrir, mas, em vez de uma velhi- nha, viu que era um dos duendes que tinha disfargado a voz e atras deles estavam os outros, que entraram a correr dentro da casa. Uns empurraram 0 avé contra uma parede para que nao fugisse, outros fo- ram ao quarto da menina para que ndo acordasse e os outros foram abrir as janelas para o velho Krock entrar. Este levava um saco muito grande e levou todas as castanhas que encontrou. O corvo saiu a voar e 0s duendes, mais espertos do que uma raposa, desapareceram sem deixar rasto. EB] Viseu n’ 5 — S. Miguel O avé e a Maria Castanha ficaram a chorar toda a noite enquanto la fora comegava uma grande tempestade de raios, trovoes e vento. No dia sequinte, 0 avé disse - Aqueles duendes sao uns ladréezecos. Vamos procurar 0 guarda da floresta. Ele vai ajudar-nos a fazer com que nos devolvam as castanhas. guarda da floresta, ao saber 0 que tinha acontecido, pegou no ‘seu cajado, chamou o cao e disse Vamos, vou ja dar uma liao a estes duendes, O av6e a Maria Castanha seguiram atras dele. Mas, por mais que procurassem, ndo encontraram a cabana dos duendes em lugar nenhum. A grande tempestade daquela noite tinha-a derubado e feito desaparecer. Passado um bocado, viram umas pegadas no chao, debaixo de um grande castanheiro. Em cima da ar- vore estavam os duendes, cansados, encharcados, sujos, a espirrar ea chorar. Estavam todos ao monte, cheios de fome e de frio. Noutro ramo, com as penas cheias de lama, todo molhado, estava o velho Krock. - Fomos bem castigados - disse um dos duendes. - Por pouco do morremos e ficamos sem casa. Perdoem-nos, nunca mais fare- ‘mos isso! O avée a Maria Castanha tiveram pena deles e disseram-lhes: - Se nao tém casa, podem ir viver connosco, la ficam bem. ‘Obrigado, obrigado! disseram os duendes. .Prometemos que vamos ser bonzinhos e que vamos trabalhar. Faremos todos os reca- dos, lavamos, varremos a casa, vamos apanhar lenha, nao precisam de fazer nada... 6 a comida, porque a Maria Castanha cozinha melhor do que ninguém. - Tudo isso esta muito bem - disse o guarda da floresta: mas vo cs tém que ir buscar as castanhas e devolvé-las agora mesmo! Entao, os duendes e 0 velho Krock desapareceram floresta dentro trouxeram de um esconderijo as castanhas que tinham levado, e até apanharam mais, enchendo trés grandes sacos. Depois, regressaram todos para casa do avd, muito contentes. Os duendes fizeram 0 seu quarto no palheiro, e 0 velho Krock encontrou no telhado um tronco bem forte onde fez a sua casa.

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