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“i Dos parques proletérios ao Favela-Bairro = as politicas ptiblicas nas favelas do Rio de Janeiro* ——. Marcelo Baumann Burgos Avmeu irmio Ricardo Taden is como a Igroja Catélica, iderando que ¢ inicio das politicas pablicas em favelas do Rio ‘cada de 40, essa retrospectiva percorre 50 anos de historia de » dado que jé indica a extrema dificuldade de resolugio do problema. E tio fol por fata de vontade politica que ulo de Favela Como ¢ sabido, a modernizagao conservadora promovida no perfo- do militar nao dispensou esforgos no sentido de abolir a luta por direitos dos excluidos da ordem social e politica.' Anélogo ao que se fez com aes. trutura sindical e partidria, também as organizegoes de favelas seriam desmanteladas nese periodo. Contudo, ao contrério do que ocorreu com as organizagoes operdrias, o mundo dos excluidos nfo conheceu um pro- cesso de reorganizagdo capaz de inseri-lo no contexto da transicao demo- ‘rética em curso nos anos 80. No Rio de Janei a presenga dos ex- clufdos na cena politica assumira importaneia inédita nas décadas de 50 € 60, a ques e a retomada da comunicagio de seus interesses com a nova institucionalidade construida com «ratizagao do pais. Assim, mais do que o déficit de direitos go 19 05 deficits de direitos civis e politicos que permanecem como principais obs- téculos a integracao da cidade, e sfo eles que ainda fazem do Rio de Janei- rouma “cidade escassa”,na arguta metéfora utilizada por Maria Alice Re- zende de Carvalho? : 2: A descoberta do problema favela: a alternativa parques proletdrios A distancia social que separa o mundo popular carioca da elite da ade, sobretuclo no Rio de Janeiro da Repablica Velha (Carvalho, 1987), retarda o ingresso das favelas na agenda das politicas piiblicas. A essa invisibilidace politica correspondem barreiras no plano societal, le- gadios da heranca escravocrata, ainda muito viva na meméria d ie. Sintoma disso 6 a interdigao dos negros nas equipes de futebol dos clu. bes da cidade, situagio que somente comeca a ser superada a partir de 1923, com © campeonato levantado pelo time de negros e mulatos monta- do pelo Vasco da Gama + sendo exemplo disso, segun- do aquele autor, a festa portuguesa da Penha, “aos poucos tomada por ‘negIOS € por toda a populacdo dos subtirbios, fazendo-se ouvir o samba a0 lado dos facios e das modinhas”, Emblema dessa aproximacio é 0 laco de amizade anos 30, une 0 sambista do “asfalio”, Noel Rosa, Poeta do “morro”, Cartola (Silva é& Oliveira Filho, 1989). Alids, também é nesse periodo, mais precisamente em 1935, que as escolas de samb: sam a fazer parte do programa oficial do carnaval da cicad va do Pocteas Renoato 4 Fin Dos Parques Proletarios a0 Favelo-Bal pecialmente da muisica popular, as favelas comesam a ser incorporadas vida social da cidade. Mas, aqui, cultura e politica permanecem como dimens®es aparta- das, até porque a restricéo a0 voto do analfabeto inibe qualquer tipo de participagio da grande maicria dos moradores das favelas na competi- 680 eleitoral ao longo da Repiiblica Velha. Tal situacko pouco se altexa no periodo de Vargas, cuja politica social, como se sabe, confere exclusivida- dea carteira profissional — a isso que Wanderley G. dos Santos denominou. ‘cidadania regulada’> Nao por acaso, a tinica politica habitacional entao existente para a pi ciava exclusivamente empregados de ramos de atividades cobertas pel Institutos ce Aposentadorias e Pensdes (IAPs). A restrigio 20 voto dos analfabetos e aos direitos vam fora do mer- cado de trabalho formal explica a i entao. © Codigo de Obras da cidade, de 1937, registra com preciso a si marginal ¢ 5 sere consideradas uma “aberraga ndo podem constar do mapa oficial da cidade; por iss0, 0 cOdigo propoe sua eliminagéo, pelo que também tomava proibida_a_constrigio de novas moradias, assim como a melhoria das existentes. E para solucionar Sugere a construgao de habitacoes proletérias “para serem a, 1981:6). Da orienta- dos parques proletiries, tefetivada no inicio dos anos 40. ‘Assim 6 que a “descoberta” do problema favela pelo poder publi- condo surge de ume postulagio de seus moradores, mas sim do incomo- do que causava a ubanidade da cida: 1e explica o sentido do pro- rama de consteugdo dos parques proletirios, que tem por finalidade, acima de tudo, resolver 0 problema das condigSes insalubres das franjas do Centro da cidade, além de permitir a conquista de novas reas para a expansio urbana, Bisa abordagem sanitarista do problema esta bem ca- racterizada pelo fato de o primeiro plano oficial voltado para as favelas da cidade ser organizado pelo entao diretor do Albergue da Boa Vonta- de, Vitor T. Moura, a pedido da Secretaria Geral da Satide do Distrito Fe- deral: Entre outras medidas, Moura sugere: a) 0 controle da entrada, no Rio de Janeiro, de individuos de baixa condi¢éo social; b) 0 retorno de in- nha de reeducagao social entre os moradores 18 pessoais ¢ incentivar a escolha de Um Século de Fovelo melhor moradia (Valla, 19843). O caréter autoritario e excludente das Propostas de Moura é evidente, mas néo deve surpreender. Afinal, em unt contexto dominado pela cidadania regulada, o problema favela nic fo pelo angulo dos direitos soci idadaos, os habitan- {cs das favelas nao sdo vistos como possuidores de direitos, mas como almas necessitadas de uma pedagogia civlizatria — eis a representagao fiue emoldura a experiéncia dos parques proletarios. A esse respeit, ¢ onhecida a descriclo feita pelos Leeds dos mecanismos de con- ‘ados nos parques: além de atestado de bons antecedentes, seus moradores tinham que se submeter a sessdes de ligées de moral® E como, no inicio dos anos 40, Vargas buscava estreitar seus vinculos com as camadas populares, os parques também seriam palco de festas ¢ ever. {os Politicos, através dos quais os seus moradores deveriam expressar sua gratidio ao presidente da Repiblica; consta que Vargas chegou a re- ceber as chaves de uma casa no Parque Proletério da Gavea para seu uso pessoal (Parisse, 1969:64) Bnire 1941 ¢ 1943, foram construidos trés parques proletérios (na ara onde se transferiram cerca de 4 mil pes- Sous, com a promessa de que poderiam retomar para dreas préximas da. duelas em que viviam, assim que estivessem urbanizadas (Valla, 1984:4) Mas, ao contrério do prometido, os moradores acabaram permanecendo fempo nesses parques (Valladares, 1978:23), deles saindo somente farce, expulsos, quando da valorizacio inbiliéria dos respocti_ articularmente os dois primeiros. A favela como um problema moral ‘Um efeito nao esperado da experiéncia dos parques proletérios foi por em contato 0 Estado e os excluidos, dando ensejo a uum processo em- briondrio de organizagéo dos moradores das favelas, preocupados com a Seneralizagao da alternativa dos parques. Era evidente que o auttoritars. mo da pedagogia civilizat6ria ensaiada e a precariedade des inslalagoes (concebidas como provisérias) nao faziath dos parques uma idéia atracn. te para os moradores das favelas, raz4o pela qual criaram, ainda em 1945, a8 comissdes de moradores, inicialmente no morro do Pavio/Pa. ‘Yaozinho e pouco depois nas morros do Cantagalo e da Babilénia, como forma de por resisténcia a um suposto plano da prefeitura de remover focios os moradores para os parques (Fortuna & Fortuna, 1974:103) Poutco depois, favorecidas pela restaurasao da ordem democratic, ess comiss6es formulariam, pela primeira vez, uma pauta de direitos socials Teferente a problemas de infta-estral Dos Parques Proletérios a0 Favela-Beirte Como se vé, despertados pela intervencio do poder piiblico e ante ‘2 ameaca de perderem suas casas e suas redes sociais pelo deslocamento forcado, os moradores das favelas comegaram a constituir-se em ator po- litico. B verdade que a preservacio, pela Constituicao de 1946, da restri- sfo a0 voto de analfabetos ainda mantinha fora da competicdo politica a grande maioria de seus moradores, inibindo sua participacao até mesmo em engrenagens de tipo clientelista De todo modo, 9 impulso organizativo dos excluidos foi para despertar nos setores conservadores da cidade o velho temo! rde traduzido no slogan “é necessério subir 0 morn gue 0s comunistas desgam” (Lima, 1989:73 e segs.). Foi instrumentalizan- do esse fantasma que a Arquidiocese do Rio de Janeiro © a prefeitura da Cidade negociaram a criagdo de uma instituicao dedicada 4 “assisténcia material e moral dos habitantes dos morros e favelas do Rio de Janeiro”. Dai surgiu, ainda em 1946, a Fundagio Leao XIII, que tinha por finalida. de principal oferecer uma altemativa 4 pedagogia po) vista. No lugar da idéia de Estado-nacio e do apelo a liderancas carismé- ticas, a Igreja oferece a cristianizagio das massas; no lugar da coercéo, Oferece a persuasio, motivo pelo qual nao se exime de incentivar a vida associativa nas favelas, “dentro de um espirito democratico sabilidade pessoal de cada um de seus membros, sendo totalmente bani do desse movimento qualquer idéia paternalista ou de protecionismo ial compreendido e preju recuperagao moral do homem” (Valla, politico, promete o diflogo e a compreen- pelo acesso a bens piblicos, o assistencialismo; no da critica, a resignagio; em vez, do intelectual orgénico, a formacao lerangas tradicionais” Entre 1947 e 1954, a Leéo XII estendeu sua atuacao a 34 favelas, implantando em algumas delas servigos baisicos como agua, esgoto, luz € tedes visrias, e mantendo centros sociais em oito das maiores favelas do Rio, entre as quais Jacarezinho, Rocinha, Telégrafos, Barreira do Vasco, Sio Carlos, Salgueiro, Praia do Pinto e Cantagalo (Leeds & Leeds, 19785199), Porém, ao que tudo indica, a escala e o modelo do trabalho rea. lizado pela Fundagéo nao foram capazes de inibir uma articulagdo maior “untre os moraciores das favelas e outros segmentos da sociedade carioca Especialmente a partir dos anos 50, nota-se o estabelecimento di Ses mais consistentes entre a favela e a politica, inclusive com o surgi- mento de licerangas que estabelecem. vinculos orginicas com os parli- cultural das favelas também comega a 1a aproximar os moradores das fave- lng de segmentos intelectuais da classe média da cidade. Sao estudantes, profissionais da imprensa tarntn biAwabnes rin rmembnnnn «: Canmtonnine 25 favelas a fim de partilhar, entender e revelar seu estoque de Segundo Maria Alice Rezende de Carvalho (19%4:102), constituem wma “intelligentsia sem lugar”, que havia permanecido “apartada do grande movimento de incorporacio da intelectualidade carioca as agéncias cul. turais do Estado, em curso desde Vargas”. Pelas mios desses intelec- tuais, as favelas ganham uma identidade positiva e estabelecem contatos ‘mais largos coma cidade, fora do controle do Estado e da Igreja® A politizacao do problema favela exige da Igreja e do poder piibli- £0 um aprofundamento do seu trabalho junto as favelas. Para tanto, em 1985, a Igreja cria a Cruzada So Sebastifo. For seu turno, em 1956, 0 go- verno municipal cria o Servigo Especial de Recuperacao clas Favelas ¢ Ha_ bitagoes Anti-higiénicas (Serfha). Em ambos os casos, esto em jogo inicia- tivas que procuram articular 0 controle politico a uma pauta minima de direitos sociais referente a problemas de infra-estrutura. O Seriha teria atuagao modesta até 1960, limitando-se a apoiar as duias instituigoes da Igreja. Quanto & Cruzada Sio Sebastiao, a diferenga da Fundagao Leio XII, buscaria reunir de forma mais concreta urbanizacio e pedagogia cristi vendo nisso “a condicéo minima de vivéncia humana e elevagio moral, intelectual, social e econémica” (Val Entre 1956 e 1960, a Cruzada realiza melhorias de servigas basicos em 12 favelas, executando 51 projetos de redes de luz, urbanizando par. cialmente uma favela (Morro Azul) ¢ completamente a favela Parque Ale- 19 Leblon, © conjunto habitacional que ficaria co- da, primeira experiencia de alojamento de moradores ras proximidades da prdpria favela que habitavam (Valladares, 1978.23). E interessante notar que, se a Ledo XIlltrabalhava com a perspecti- va de influir nas associacbes de moradares © na formagao de liderancas, # Cruzada atuaria de forma mais direta, posicionando-se, em alguns 110. ‘mentos, como interlocutor das moradores das favelas junto ao Estado, como ocorreu em 1958 € 1959, quando negociou com a administracao pti- Dlica a no remoco de trés favelas entéo ameacadas, Borel, Esqueleto ¢ Dona Marta (Valladares, 1978.2: © que nao impediu que, em 1957, 0s moradores das favelas crias- sem uma entidade auténoma para negociar seus interesses: a Coligacao os Trabalhadores Favelados do Distrito Federal, fundada com o objetivo de lotar por melhores condigées de vida para os moradores das favelas, Wvés do desenvolvimento de um trabalho comunitério” (Fortuna & ina, 1974:104). A presenca desse navo interlocutor indie Soria favelado, originariamente forjada para identficar nega ‘exclidos e justificar agies civilizatGrias arbitrérias do Estado ¢ da Igreja, fava sendo requalificada, Com presenca informal no mercado de traba- Iho @, portanto, desconectada da luta operdtia, a cal Jirvelado em. ura, Dos Parques Froletérios ae Favela-Goirro prestava uma identidade coletiva aos exchuidos, dando-Ihes maior possi- bilidade de lutar por direitos sociais. A demonstracdo de capacidade auténoma de organizacio denun- ciava, por outro lado, que a pedagogia cristi nfo assegurava o controle esperado. A chegada dos proprios moradores das favelas & arena politica exigia uma reformulagio do Estado; vai ficando claro que 0 véu do dis- is religioso devia ser retirado para que a negociagao pudesse ocorrer no terreno pr6prio da politica moderna, com sua crua linguagem dos inte- resses. De fato, jé no final dos anos 50, a Igreja comeca a ser criticada por segmentos da burocracia publica, que a acusam de assistencialista e pater- nalista, especialmente por sua atuagdo contra a remocao de algumas fave- las. Significativo, nesse caso, € 0 depoimento de Geraldo Moreira, entio al da Agricultura, & Sociedade de Analises Graficas ¢ Mecanogréficas Aplicadas aos Complexos Sociais (Sagmacs), por ocasiso do estudo sobre as das autoridades [piblicas] é esse: dar apoio moral a essa gente, dar-lhes ‘tesponsabilidade moral. Tanto a Fundacao Leao XIII como a Cruzada Sio Sebastiéo contribuem para 0 aumento da ‘miserabilidade deliberada’ e desperdicam dinheiros piblicos sem dar solugSes ao problema. Mas, a inde maioria da populacdo favelada é auto-suficiente, carecendo tao- somente de orientagio, apoio e boa vontade das autoridades” !? A favela como um problema politico ‘A resposta do poder priblico foi, a prinefpio, apostar na re\ $40 do Serfra, que, a partir de 1960, com a eriagio do estado da Guanaba- a, passou a fazer parte da Coordenagio de Servigos Sociais do Estado. Sob 0 comando de José Arthur Rios, 0 Sertha procurou, entre 1961 ¢ 1962, a aproximagio com as favelas, estimulando inclusive a formagao de ‘ssociagdes de moradores onde estas nao existiam — até maio de 1962, criaram-se 75 associagSes. Conforme salientou Rios, em entrevista conce- idida aos Leeds, o primeiro objetivo do trabalho do Sertha era “capacitar ‘0 morador como tal a ganhar certa independéncia para t toridades estatais em vez de ter de depender de favores 4 Leeds, 1978:212). Todavia, examinando bem, e em que pese ao seu dor, o que prevaleceu foi a tendéncia a subordinar poli- e 0g moradores das favelas. Assim, na pritica, a aciio do poder apenas acenava com a substituigao da Igreja pelo Estado. Revela- 380 € 0 acordo que cada uma das novas associagbes ¢ obrigada a as- sua identidade de representante dos moradores com a de interlocutor do Bstaclo junto aos mesmos. Séo compromissos das associagbes: * cooperar com a Coordenagio de Servigos Sociais na realizacio de pro- gramas educacionais e de bem-estar; * coopera na urbanizacdo da favela, recolhendo quaisquer contribuibes dos residentes para a melhoria local, responsabilizando-se pela utilizacao de tais contribuigdes e submetendo-as a supervisto da coardenacao; + contribuir para a substituicio progressiva dos barracos por constr $605 mais adequadas e cooperar através da mobilizaglo do trabalho para a realizagio de outras obras de emergéncia na f + Solicitar a autorizagao da Coordenasao para a melhoria de casas, espe- cificando as necessidades de reparo e manulengio; ipedir a construgdo de novos barracos, vindo, quando necessétio, a esta coordenacio para apoio policial; * contribuir para a manutengio da ordem e 0 respeito a lei nas favelas, Barantindo, ainda, o cumprimento das determinagdes da coordenacao ¢ do governo Fm contrapartida, o Estado compromete-se, entre outras coisas, a + fortalecer a associacdo da favela e nada fazer nas favelas ou vilas ope- rérias sem antincio ou acordo prévio; * supervisionar a utilizagio dos recursos recolhidos pela associagio e aplicados em melhorias na favela; ¢._substituir progressivamente os bastacos por construcoes mais adequa- das, com a ajuda dos proprios favelados; * autorizar a melhoria dos barracos existentes, tendo sido os reparos aprovados pela associagao (Leeds & Leeds, 1978:248-9). Os termos do acordo ndo deixam diividas: a moeda de troca da Promessa de urbanizacao € 0 controle politico das associacdes pelo Esta~ arranjo que deveria criar uma cumplicidade entre as © 0 poder piblico, situagio favorecida pelo fato de q 33 or iniciar seu trabalho em favelas que ainda nio estavam politicamente Organizadas, Em suma, no lugar da estratégia cat ler icionais, o Estado oferece uma alternativa com resultados mais imediatos — a cooptacio de liderancas. E claro que esse arranjo ainda poderia trazer algum beneficio aos moradores das favelas, na medida em que Ihes propiciaria um canal de acesso ao poder piblico e, com isso, algum poder de bargantha. Porém, essa experiéncia do Serfha nao duraria mais do que um ano e meio, sendo interrompida com a demissio de Rios pelo governador Carlos La. cerda. © motivo era evidente: o Serfha trazia a marca do governo anto- riot, tendo sido criado durante a gestio de Negrio de Lima, em sua répi- «la passagem, entre 1956 e 1957, pela prefeitura da entio capital federal, nomeado por Kubitschek. O esvaziamento do Sertha coincide com a cria. sao da Companhia de Habitagao Popular (Cohab), empresa que deveria ar una nova politica habitacional, baseada na construgao de unida- les para familias de baixa renda.! Enquanto 0 Estado procurava a melhor forma de negociag3o com 08 excluidos, as liderangas dos moradores de favelas continuavam avan- sando em sua estrutura organizativa, tendo fundado, em 1963, a Federa- io da Associagao de Favelas do Estado da Guanabara — Fafeg (Fortuna & Fortuna, 1974:104). Criava-se, assim, por meio de uma identidade basea- io-somente nas condigdes de habitagio, uma possibilidade de incor a dos moradores das favelas i vide da cidade. A destina- 1963, de 3% da arrecadagao estadual favelas denotava a capacidade de articu- alcancada por esse segmento.!? a resposta do Estado, Preocupado com 0 amadureci- mento organizacional das favelas, prevé, além da Cohab, a criagdo de me- smos mais acertados para 0 controle politico. A alternativa veio com reforma da Fundacéo LeAo XII, que em 1953 passou de érgao vincula- 0 4 Igreja a autarquia do Fsiado. A experiéncia acumulada em favelas Pela Ledo XIII seria de grande valia para que se pudesse exercer uma vi- lincia mais estreita da vida politica das favelas. Também & Tgreja isso Interessave, pois dave destinacao a uma instituicio a essa altura inteira- Mente esvaziada, Atribuiu-se entao a fundagéo, entre outras coisas, a res- lidade pelo reconhecimento oficial da existéncia das associagées, o de designar uma comisséo para coordenar ¢ fiscalizar as retorias. sem se definir entre a remogio e a urbanizagio, 0 go- no estadual trabalhou simultaneamente com as duas perspectivas. De Jado, construta, entre 1962 ¢ 1965, com financiamento norte-america- Srande tensio, em face da resistencia de seus moradores. O deslocamen- to para Areas distantes dos locais de trabalho, a deficiente oferta de trans. Portes, a ruptura dos lacos de sociabilidade desenvolvides na favela de Origem e a péssima qualidade das casas oferecidas seriam, segundo Perl. man (1977), as principais razies da regio dos moradores das favelas as remocbes. Nao obstante; com o golpe de 1964, criam-se as condigdes necessé- Tias & aventura “remocionista”. Agora, para furar a resisténcia dos mora. ores das favelas, a essa altura representados pela Fafeg, 0 Estado coloca- tia soldados armados, como no traumatico caso da favela do Pasmad ccorrido ainda em 1964. Diante do que estava por vir, pode- a escala das remocées realizadas até 1965 foi modesta, embor Bido cerca de 30 mil pessoas. De toda maneira, seriam julgadas twas, na elei¢éo para governador realizada em abril de 1965. A der de Flexa Ribeiro, candidato da situagio, para Negrao de Lima, da coal 240 PTB-PSD, teria sido fortemente determinada pelos votos dos pobres, chamando a atengao a esmagadora vitdria de Negrao nas urnas onde vo. faram moradores dos novos conjuntos habitacionais."? “Remocionismo” autoritdrio: a erradicagéo do probiema favela Com Negrio de Lima no governo, a tendéncia era retomar a trilha deixeda pelo Serfha, criado durante sua passagem pela prefeitura, em 1956, fazendlo supor que a via urbanizadora das favelas voltaria a ser pri- vilegiada e que, no lugar do controle duro e direto, tentar-se-ia restabele- cer a estratégia cle cooptagao. De fato, a principio a Cohab foi deixada de lado, atribuindo-se maior énfase ao trabalho da Fundacdo Leao XIll junto as associagdes de moradores. No entanto, distante da pedagogia crista los anos 50, baseada na percepgao dos habitantes de favelas como “‘ir- mos cristios’, agora a Leio XII pautaria sua agéo por uma leitura que ‘ela como o lugar do vicio e da promiscuidade, “reftigio de crimi- nosos”.! Diante dessa reelaboragao da identidade do fvelado, nem mesmo a logica de negociagao baseada na cooptacio de liderangas, experimentada no inicio dos anos 60 pelo Serfha, poderia ser implantada; afinal, ela for desenvolvida tendo em aue vinha sendo polit Dos Parques tuma entidade federativa, a Fafeg. A polarizagio entre o mundo da ordem © @ lugar da desordem devolve a representagao da favela aos termos da dlécada de 40, da favela como o habitat de individuos pré-civilizades, e Por isso, ndo cabe mais o didlogo com suas entidades politicas: a discus. Sho sobre o que fazer com as fayelas torna-se impermedvel d participagto de seus moradores. dlisso, reconhece a existéncia de apenas uma assoriacaa em cada comunide de, condicionando tal reconhecimento ao cumprimento de uma série de ext Séncias.* Ao fixar a competéncia das associngées, ease novo decreto ann lela a obra iniciada em 1961 pelo Sertha, subvertendo 0: papel das associagdes, que de representante dos moradores passam a fazer as vezes do poder priblico na favela, cabendo-lhes, entre outras attibul ‘at, autorizando-as ou nao (“‘consultados os érgios do Estad ‘mas e consertos nas habitacdes, bem com ao curso tomado pelo regime ipo de programa executiv hialo que 6 explorado por um grupo de intelec- ilizar uma proposta de urbanizacio democrati- Ct Assim, possivelmente pelos compromissos assumidos em campanha, Negrio de Lima autorizou um grupo de jovens arquitetos, planejadores, ‘economistas e sociGlogos a formar a Companhia de Desenvolvimento de Comunidades — Codesco (Perlman, 1977:276.7), que tinha por filosotie Sniatizar a “importancia da posse logal de terra, a necessidade de deixar {ut os favelados permaneceasem préximos aos lugares de trabalho, ¢ a ¥nlorizacio da participacio des favelados na melhoria dos servigos publi, £08 comunitérios e nos desenhos e construcio das proprias casas” ‘Tres Invelas foram selecionadas pela Codesco como projelo pi Morro Unido ¢ Mata Machado, tendo 0 plano se concretizado nas duas primeiras.!” Contudo, a altemativa Codesco seria atropelada pela retomada, Seguta, da via “remocionista”. que, pouco depois da organi agito cla Codesco, 0 governo federal criou, ainda em 1968, a Coordens. Ho dla Habitagto de Interesse Social da Area Metropolitana do Geancie Rio (Chisam), com 0 ebjetivo de ditar uma politica nina ae favo 36 Um Sécvle de Favela ‘Ao contrario da Codesco, que apostava na capacidade orgs va ¢ participativa dos moradores das favelas, a Chisam definia as favelas ‘como um “espaco urbano deformado”, habitado por uma “populacdo alie- nada da sociedade por causa da habitagdo; que nao tem os beneficios de servigos porque nao paga impostos”. Razio pela qual entendia que “a fa- favelada necessitaria de uma reabilitacio social, mozal, econdmica sanitéria; sendo necesséria a integracdo dos moradores & comunidade, nao somente no modo de habitar, mas também no modo de pensar viver” (Valla, 1984:17). Diante de tal diagnéstico, a solugdo do problema favela deveria conhecer uma resposta parecida com a que se tentou dar rnos anos 40: a sua erradicagéo. De fato, a misao declarada da Chisam era “exterminar as favelas do Rio de Janeiro”. E para essa misao subor- dinou a Cohab, que desde 1965 encontrava-se politicamente controlada pelo BNH — embora o governador continuasse responsdvel pela nomea- do de seu presidente. A propésito, ndo é dificil entender circunsténcias, politicamente isolado no plano nacional (era o verno de oposicdo restante no pais), Negrao de Lima nao tenha sequer es- tan bogado reacio & determinacdo federal sobre 0 rumo da politica de hi a0 no estado. Entao, comm recursos do BNH, a Cohab deu ini Programa macigo de consimacio de conjuntos habitacion: pados por moradores de favelas (con ‘mover 100 familias por dia) (Perlman, Ocorre que o plano de erradicagdo de favelas enfrentaria uma forte reagao dos moradores das favelas da cidade, jé esbocada nas primei- ras experiéncias — ainda no govemno Lacerda —, cujo custo polit cam associagdes de moradores, os habi desesperada para ndo serem removidos, entrincheirades na identidade politicamente construtda de favelado. * historia dessas remocoes, das sobretudo entre 1968 e 1975, representa um dos capitulos mais vi lentos da longa histérié de repressao e exclusio do Estado brasileiro. Na verdade, sabe-se muito pouco a seu respeito, mas 0 que se sabe permite supor a extensao da sua dramaticidade. ‘A jé comentada estrutura institucional montada pelo governo do estado, através da Fundacio Ledo XIII, e que previa um forte controle da vida associativa das favelas, embora nao estivesse diretamente articulada {a Chisam, era consoante com as suas exigéncias e foi posta a seu servico. De grande importancia, nesse sentido, foi o expurgo da Fafeg, logo apés 08 “memordveis congressos de favelados por ela organizados em 1967 ¢ ‘nos quais se fizeram representar mais da metade das favelas cari jornando explicito o desejo de seus moradores: urbanizagio, sim; re- niio (Gantes, 1984:36). A magnitude desses eventos teria criado a propicia para a cassagio da diretoria da Fafeg, “cujo presidente preso, morrendo logo depois", apds o que houve eleicio, sendo os mes das chapas submetidos ao exame da Secretaria de Seguranca” © expurgo, a Fafeg ganharia o status de “assessora” do governo do titaco, tendo poderes para, entre outras coisas, “indicar as associagbes ‘que possuem condigées para receber auxilio financeiro do governo”. O sumigo de muitas liderancas de moradores das favelas, o atrela- Mento das associagdes-ao Estado e a sensacéo de impoténcia causada ‘polo terror imposto nas favelas jé removidas fizeram com que muitas as- ‘oslagbes passassem a trabalhar pela remogao; ja no representavam os moraclores e sim o Estado, como fica claro no caso da favela da Catacum- ‘ba, descrito por Janice Perlman (1977:58), onde a “associagao foi coagida -# fransformar-se num comité de guardas uniformizados de 31 homens —_piara impedir qualquer tipo de melhorias nas casas, a entrada ou safda da ___fivela sem autorizagao e a mudanca de novas familias para la” 2? __ Apesar de tudo, um dado impressionante na experiéncia “remocio- fa” Ga capacidade de resisténcia dos moradores das favelas, Em meio lepressiio do inicio dos anos 70, e em que pese ao expurgo a que fora bmetida, a Fafeg organizou, em 1972, o IIT Congreso de Favelados do Jado da Guanabara, com a participacio de 79 associagdes, que mais na-vez. defendem a necessidade de urbanizagao das favelas! Tal resis- Nou o programa de remogées bastante custoso politicamente, ¢ doterminante para o seu esvaziamento a partir de é em conta se se quer entender como foi possivel a mimnéncia de 52 favelas em bairros tipicamente ocupados pelos seto- téclio @ alto da sociedade carioca, como Copacabana e Tijuca, entre ia dou lugar a estratégias alternativas de recusa as imposigées decor- da nova condigdo de moraclor de conjunto habitacional. Em seu una cast, Licia Valladares (1978) descreve em detalhe algumas isis estratégias que, no geral, revelam a fraca adesio dos removidos & uihativa conjunto habitacional, fato que, inclusive, fez com que muitos jos téenicos do BNE, que esperavam poder recuperar parte mento através das mensalidades que seriam pagas pelos novos nntos habi is. A forma forgada da remogio e a ‘qualidade das casas que thes foi imposta acabaram fazendo com ‘# inadimpléncia se convertesse em forma de reagao?2 Como respos- 10 Mio pagamento, o governo deu “uma espécie de castigo pela pobre- Um Século de favelo a, expulsando os inadimplentes para casas de triagem, construidas em regides afastadas do Centro da cidade, como as de Paciéncia, em Santa Cruz? Um dos fatores decisivos para esvaziar 0 “remocionismo” teria sido © deslocamento do pablico-alvo dos investimentos do BNH. Apesar de ssustentado por recursos extraidos dos trabathadores — FGIS —, 0 BNH passou a utilizar parte dos USS450 milhdes a principio disponiveis para a remogio das favelas no financiamento de projetos habitacionais para as lasses média e alta, Com isso, de acordo com Periman (1977245), apenas [US$100 milhdes seriam efetivamente gastos com o programa de remogio. Mas hé também que considerar uma hipétese complementar para explicar 0 esvaziamento do programa de remogies: como o “remocionis- mo” objetivava nao apenas desocupar éreas de grande valor imobilisrio, ‘mas também desmantelar a organizag3o politica dos excluides, é plausivel afirmar que, em 1975, esta ikima misséo jé pudesse ser dada como cum- rida. De modo andlogo ao que se fez com as organizagdes partidarias © Sindicais, também as liderancas de favelas foram torturadas e assassina- das. Além disso, a pr6pria identidade coletiva dos excluidos, baseada na condigéo de fvelado, patecia ter sido fragmentada pela presenca de uma nova categoria de excluidos: 0 morador de conjunto habitacional. Nese caso, entretanto, logo fica evidente que a condicio de habitante de uma casa equipada com infra-estrutura oficial e cuja propriedade é formalmen- te reconhecida pelo poder piblico nfo basta para confecir um status dife- renciado, a0 menos no que se refere A sua cultura politica. Até porque, aos pouces, esse nove espaco, ocupado por homens € mulheres oriundos de Siferentes favelas,”* vai sendo simbolicamente reapropriado, dando lugar ‘a novas identidades, herdando das favelas ndo apenas a sua sociabilidade, mas também a mesma distancia em relagdo a0 Estado e a institucional- dade politica. ‘Nao sio nada modestos os nsimeres da operagao remogaio: em tomo de 100 mil pessoas foram removidas no espaco de sete anos (1968-75), tendo sido destruidas cerca de 60 favelas, Nao obstante, 0s dados revelam aque foi quase insignificante o impacto sobre a participasio relativa dos mo- adores das favelas no conjunto da populago da cidade, o que se explica, fem parte, pelos efeitos imprevistos do programa, que, como salientou Valladares (1978:80), retroalimentou o crescimento das favelas, na medida em que muitos dos removidos retoram as favelas apés venderem suas casas nos conjantos habitacionais. Mas o impacto também foi atenuado pelas taxas de migracio, ainda allas na década de 70, e pela igualmente ele- vata taxa de crescimento vegetativo. Se em 1970 0s moradores de favelas representavam 13,2% da populacio da cidade, na década seguinte ainda representavam 12,3% (Valladares & Ribeiro, 1995:62). politico da operacio, ainda hoje estamos compu- stimar a profundidade do trauma por ela criado, qiéncias produzidas pelo aborto do processo de organiza- ipacao dos excluidos na vida politica da cidade. Clientelismo e ressentimento Jaco da estrutura politica dos excluidos, decorrente do destréi os vinculos horizontais que vinham sendo ela- década de 50 e, ao subverter a natureza represent es de moradores, tornando-as porta-vazes do Estadi impedindo também 2 democratizacao das relagoes infra- jf identificara Machado da Silva em texto de 1967, ten- yproduzir na favela o sistema de dominagao mais geral.”> A desfiguracio do fvelado como ator politico era, como se viu, um slos objetivos presentes no “remocionismo”, ¢ seu relativo sucesso deixa tico. Nesse vazio, duas logicas distintas porém complemen- yondo: de um lado, 0 ressentimento gerado pelo “remo- sta tende a distanciar a vida social das favelas e dos con- poder pubblico e a restrita vida politica existente. O resi lta, mas sobretudo tende a gerar afastamento a politica; e 0 clientelismo dos anos 70 reflete esse na pequena melhoria para o grupo, ou mesmo uma ajuda indivi- contexto, a tendéncia a oligarquizacao, identificada por Ma~ ilo da Silva, deixa de sofrer a concorréncia de uma légica democrati- 40. Um Sécvlo de Favela préprio espectro da remocio contribufa para reforgar essa légica maximizadora, pois, a essa altura, cada “migalha” conquistada junto a0 poder piblico, por intermédio do politico “amigo da comunidade”, tam- bém tinka como funcao latente a propria consolidagao da favela: nagfo de uma praca, o arruamento de uma via, a instalagdo de tanques ptilicos, enfim, qualquer beneficio, por pequeno que fosse, adquiria essa funcao latente de consolidagao da favela. No entanto, com a distensao relativa do regime militar a partir de \=" ao problema favela através do Promorat, o governo fede- ral optaria por um programa de urbanizagio.* Tendo sido o tiltimo grande programa integrado execuiado pelo governo militar em relagso as favelas, 0 Promorar basearia suas agdes “na preservacd0 do acervo po- pular local, dando prioridade para o saneamento basico, erradicagdo das palafitas e transferéncia de titulo de propriedade aos moradores’ 1984.69) A experiéncia “remocionista” encontrava-se estigmatizada, e 0 que ‘a moldura institucional do Promorar estava a indicar 6 que a polarizacto entre remogio e urbanizacao deixava de presidir o debate em torno das favelas; na década soguinte, o eixo da discussao seria outro: como inte- graras favelas & cidade. A partir de 1979, refletindo a aberiura do regime, ocorre uma reto- ‘mada do dinamismo da vida associativa no pais, ¢ nesse momento as a8s0- ciagies de moradores adquirem especial relevancia, No caso das favelas, do Rio de Janeiro, é de se notar o surgimento de uma dissidéncia da Faler), sendo os termos do debate estabelecido com a Fafer| oficial bastante eluci- dativos da tens8o que comega a se estabelecer entre a légica clientelista conformada nos anos 70 e as alternativas que comecam a ser visumbradas com 0 processo de abertura. Como obseiva Eli Diniz. (1982:156),a Fafeyj of- cial “nao vé como legitimo utilizar a entidade representativa dos interesses, de um dado grupo como instrumento de pressao junto ao govemno”, caben- do-the somenie “solicitar ao Estado, que deve conceder, de acordo com 0 principio de reciprocidade que deve nortear as relagGes entre a insténcia os interesses e a instancia do poder”. Diversamente, a dissidéncia "valori- ‘7.03 processos de organizagio e conscientizagio, encarando a pressio nao ta. que estava preservada uma altemativa & dialética da apatia. Mas 4 eleicao de Brizola, em 1982, de algum modo demonstrava que esse ainda nao era 0 sea momento. Do ponto de vista dos excluidos do Rio de Janeiro, as eleigies de 1982 dao ensejo & tradugao politica do ressentimento. Era a primeira ;portunidade, desde a eleicso de Negro de Lima em 1965, que teriam os -xcluidos de se manifestar diante do Executivo. Nessa hora, ao se ciirem. conta de que havia uma'alternativa desvinculada da ditadura e da Kégica clientelista construida pela méquina chaguista, despejam nela os seus 3s. O5 candidatos Miro Teixeira e Sandra Cavalcanti, de um modo ou de outro, tinham seus nom ligacios aquela histbria, Moreira Franco era partido do governo j4 0 candidato do PT, Lisineas Macc /a mais para 0 operariado, nao exatamente pa coube a Leonel Brizola capturar esse voto, 0 voto “super-revoltado”, a usar a expressio flagrada por Alba Zaluar (1985:255), & época fazen- pesquisa de campo na Cidade de Deus. Apesar de surpreendente, a vitéria de Brizola nao pode ser lida como uma ruptura completa com os anos 70, Ao menos no que se refere 10s excluridos, apenas revela a outra face da moeda, cunhada no ressenti- nto. No entanto, constitui clara indieagao de que a nova democracia teria de comportar a presenga dos excluidos numa escala impensivel no {odo democrstico de 1946 a 1964. A solugéo Brizola Fiel 20 perfil do voto que o clegeu, o governo Brizola desenvolve- ja uma agenda social especialmente voltada para as favelas do Rio de Ja 0, onde a situagao de infre-estrutura era muito precaria. Segundo le- to realizado pela prefeitura no inicio dos anos 80, apenas 1% por rede oficial de esgoto sanité- 6% possufam jo terreno. A coleta de lixo 56 foi considerada suficiente em cerca as dreas faveladas. Atrayés do Programa de Favelas da Cedae (Proface), desenvolvi- 1983 e 1985, 0 governo levaria sistemas de agua e esgoto a cerca ile 60 favelas, incorporando-as a rede dos seus bairras; a Comlurb com- ‘prow microtratores adaptados as condligdes das fevelas, 42 Um Século de Favela a coleta de lixo nas mesmas; um programa de iluminagio publica foi ini=

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