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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

CURSO DE DIREITO

DIULIANE NAYARA RAMOS DE SOUZA – RGM: 11192500413

PESQUISA: CONCURSO DE PESSOAS

MOGI DAS CRUZES


2019
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4

2. TEORIAS SOBRE O CONCURSO DE PESSOAS .............................................. 5

2.1 PLURALÍSTICA .............................................................................................. 5

2.2 DUALÍSTICA .................................................................................................. 5

2.3 MONÍSTICA OU UNITÁRIA ........................................................................... 6

3. REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS ................................................... 6

3.1 PLURALIDADE DE PARTICIPANTES E DE CONDUTAS ............................. 6

3.2 RELEVÂNCIA CASUAL DE CADA CONDUTA .............................................. 7

3.3 VÍNCULO SUBJETIVO ENTRE OS PARTICIPANTES .................................. 7

3.4 IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PENAL ........................................................... 7

4. AUTORIA ............................................................................................................. 7

4.1 CONCEITO EXTENSIVO DE AUTOR ........................................................... 8

4.2 CONCEITO RESTRITIVO DE AUTOR .......................................................... 8

4.3 TEORIA DO DOMINIO DO FATO .................................................................. 9

5. AUTORIA MEDIATA ............................................................................................ 9

6. COAUTORIA ...................................................................................................... 10

7. PARTICIPAÇÃO EM SENTIDO ESTRITO ......................................................... 11

7.1 ESPÉCIES DE PARTICIPAÇÃO .................................................................. 11

7.1.1 Instigação .................................................................................................. 11

7.1.2 Cumplicidade ............................................................................................ 11

7.1.3 Participação em cadeia ............................................................................. 12

7.1.4 Participação Sucessiva ............................................................................. 12

7.2 PRINCÍPIO DA ACESSORIEDADE DA PARTICIPAÇÃO............................ 12

7.3.1 Teoria da acessoriedade mínima .............................................................. 13

7.3.2 Teoria da acessoriedade limitada.............................................................. 13

7.3.3 Teoria da acessoriedade extrema ............................................................. 13


8. CONCURSO EM CRIME CULPOSO E OMISSIVOS......................................... 14

8.1 CONCURSO EM CRIME CULPOSO ........................................................... 14

8.2 CONCURSO EM CRIME OMISSIVO ........................................................... 14

8.2.1 Crimes omissivos próprios ........................................................................ 14

8.2.2 Crimes omissivos impróprios ou Comissivos por omissão ........................ 14

8.2.3 Concurso de pessoas................................................................................ 15

9. AUTORIA COLATERAL ..................................................................................... 15

10. PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL.......................................................................... 16

11. PUNIBILIADE DO CONCURSO DE PESSOAS .............................................. 17

11.1 Participação de menor importância ........................................................... 18

11.2 Cooperação dolosa distinta....................................................................... 18


1. INTRODUÇÃO

Normalmente os tipos contidos na Parte Especial do Código Penal referem-se a fatos


realizáveis por uma única pessoa. Contudo, o fato punível pode ser obra de um ou de
vários agentes.
As razões que podem levar o indivíduo a consorciar-se para a realização de uma
empresa criminosa podem ser as mais variadas: assegurar o êxito do
empreendimento delituoso, garantir a impunidade, possibilitar o proveito coletivo do
resultado do crime ou simplesmente satisfazer outros interesses pessoais. Essa
reunião de pessoas no cometimento de uma infração penal dá origem ao chamado
concursus delinquentium. A cooperação na realização do fato típico pode ocorrer
desde a elaboração intelectual até a consumação do delito. Respondem “pelo ilícito o
que ajudou a planejá-lo, o que forneceu os meios materiais para a execução, o que
intervém na execução e mesmo os que colaboram na consumação do ilícito.”
Enfim, o concurso de pessoas, em outros termos, é a consciente e voluntária
participação de duas ou mais pessoas na mesma infração penal.
2. TEORIAS SOBRE O CONCURSO DE PESSOAS

2.1 PLURALÍSTICA
Segundo essa teoria, a cada participante corresponde uma conduta própria, um
elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular. À pluralidade de
agentes corresponde a pluralidade de crimes. Existem tantos crimes quantos forem
os participantes do fato delituoso.
Contudo, essa ideia era insustentável, já que, em regra, as condutas praticadas em
concurso de agentes dirigem-se à realização de um mesmo crime, mantendo-se a
unidade de imputação para todos aqueles que nele participam.
Imagine-se, por exemplo, a prática do crime de roubo quando quatro pessoas entram
em acordo para subtrair o dinheiro existente na caixa forte de uma agência bancária,
mediante o emprego de grave ameaça contra o diretor da sucursal. Nesse caso, não
estamos diante de quatro crimes de roubo, ou do “cri­ me de concurso”, mas, sim, de
um único crime que para a sua execução contou com a intervenção de quatro agentes.
O crime que se pune é o do tipo especificamente violado, e não uma suposta figura
particular para cada um dos participantes. O resultado produzido também é um só.

2.2 DUALÍSTICA
Para essa teoria há dois crimes: um para os autores, aqueles que realizam a atividade
principal, e outro para os partícipes, aqueles que desenvolvem uma atividade
secundária. Assim, os autores realizam a conduta principal, durante a fase executória,
constitutiva do tipo de autoria (ou de coautoria), enquanto os partícipes integram-se
ao plano criminoso, colaborando na fase preparatória ou mesmo na fase executória
contribuindo com conduta secundária, de menor importância, e realizam o tipo de
participação.
Contudo, apesar dessa concepção dupla, não estamos diante da prática de dois
crimes distintos, pelo contrário, o crime continua sendo um só, e, muitas vezes, a ação
daquele que realiza a atividade típica (o executor) é tão importante quanto a do
partícipe que atua no planejamento da ação executória que é levada a cabo pelos
demais. Mas a teoria consagra dois planos de condutas, um principal, a dos autores
ou coautores, e um secundário, a dos partícipes.
2.3 MONÍSTICA OU UNITÁRIA
Para essa teoria o fenômeno da codelinquência deve ser valorado como constitutivo
de um único crime, para o qual converge todo aquele que voluntariamente adere à
prática da mesma infração penal. No concurso de pessoas todos os intervenientes do
fato respondem, em regra, pelo mesmo crime, existindo, portanto, unidade do título
de imputação.
A essa teoria existem duas possibilidades: a) considerar todos os intervenientes no
mesmo crime como autores de uma obra comum, sem fazer qualquer distinção de
qualidade entre as condutas praticadas, ou b) considerar o crime praticado como o
resultado da atuação de sujeitos principais (autor, coautor e autor mediato), e de
sujeitos acessórios ou secundários (partícipes), que realizam condutas
qualitativamente distintas. O primeiro modelo é conhecido como sistema unitário de
autor, e o segundo, como sistema diferenciador.
O legislador penal brasileiro adotou a teoria monística, determinando que todos os
participantes de uma infração penal incidem nas sanções de um único e mesmo crime,
e, quanto à valoração das condutas daqueles que nele participam, adotou um sistema
diferenciador distinguindo a atuação de autores e partícipes, permitindo uma
adequada dosagem de pena de acordo com a efetiva participação e eficácia causal
da conduta de cada participante, na medida da culpabilidade, perfeitamente
individualizada

3. REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS

Para que ocorra o concurso eventual de pessoas, há certos requisitos de natureza


objetiva e subjetiva que devem ser preenchidos

3.1 PLURALIDADE DE PARTICIPANTES E DE CONDUTAS


Esse é o requisito básico do concurso eventual de pessoas: a concorrência de mais
de uma pessoa na execução de uma infração penal. Embora todos os participantes
desejem contribuir com sua ação na realização de uma conduta punível, não o fazem,
necessariamente, da mesma forma e nas mesmas condições.
Enquanto alguns praticam o fato material típico, representado pelo verbo núcleo do
tipo, outros limitam-se a instigar, induzir, auxiliar moral ou materialmente o executor
ou executores praticando atos que, em si mesmos, seriam atípicos. A participação de
cada um e de todos contribui para o desdobramento causal do evento e respondem
todos pelo fato típico em razão da norma de extensão do concurso

3.2 RELEVÂNCIA CASUAL DE CADA CONDUTA


A conduta típica ou atípica de cada participante deve integrar-se à corrente causal
determinante do resultado. Nem todo comportamento constitui participação, pois
precisa ter eficácia causal provocando, facilitando ou ao menos estimulando a
realização da conduta principal.
Por exemplo, aquele que, querendo participar de um homicídio, empresta uma arma
de fogo ao executor, que não a utiliza e tampouco se sente estimulado ou encorajado
a executar o delito. Aquele não pode ser tido como partícipe pela simples razão de
que o seu comportamento foi irrelevante, sem qualquer eficácia causal.

3.3 VÍNCULO SUBJETIVO ENTRE OS PARTICIPANTES


Deve existir também, um liame psicológico entre os vários participantes, ou seja, a
consciência de que participam de uma obra comum. A ausência desse elemento
psicológico desnatura o concurso eventual de pessoas, transformando-o em condutas
isoladas e autônomas.
O simples conhecimento da realização de uma infração penal ou mesmo a
concordância psicológica caracterizam conivência, que não é punível, a título de
participação, se não constituir, pelo menos, alguma forma de contribuição causal, ou,
então, constituir, por si mesma, uma infração típica. Tampouco será responsabilizado
como partícipe quem, tendo ciência da realização de um delito, não o denuncia às
autoridades, salvo se tiver o dever jurídico de fazê-lo, como é o caso, por exemplo, da
autoridade pública.

3.4 IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PENAL


Como último requisito para se configurar o concurso de pessoas, é necessário, em
face da teoria monista adotada pelo CP, que a infração praticada pelos concorrentes
seja única. É necessário, pois, que todos atuem conjugando os esforços com vistas a
consecução de um mesmo objetivo, ou melhor, de um mesmo crime.

4. AUTORIA

A relação do sujeito ativo com a conduta descrita pelo legislador no tipo penal, como
regras gerais que abrangem todas as modalidades da codelinqüência, pode ocorrer
sob as formas de autoria ou de participação. No tocante a autoria, é pacífico o
entendimento de que ela não se restringe a quem prática pessoal e diretamente o
fato devendo, pois, incluir, também, aquele que serve de outrem como instrumento
para realizar a figura típica como no caso da autoria mediata.
Assim, autoria pode ser individual se o autor pessoalmente realiza todas as etapas
do fato típico; pode ser mediata se o autor a pratica utilizando-se de outra pessoa
como instrumento; pode ser coletiva ou em forma de coautoria se vários autores
conjuntamente realizam todas as características do fato típico; pode ocorrer, ainda
que excepcionalmente em forma de autoria colateral, quando vários autores, sem
que um saiba dos outros, realiza a mesma figura típica.
É possível, ainda, que mais de uma pessoa, de forma voluntária e consciente, sem
praticar os atos descritos na figura típica, coopere para a sua realização, quer
induzindo, quer instigando ou auxiliando o seu autor ou autores.

4.1 CONCEITO EXTENSIVO DE AUTOR


O conceito extensivo tem como fundamento dogmático a ideia básica da teoria da
equivalência das condições, de tal forma que sob o prisma naturalístico da
causalidade não se distingue a autoria da participação. Todo aquele que contribui com
alguma causa para o resultado é considerado autor. Com esse ponto de partida,
inclusive instigador e cúmplice seriam considerados autores, já que não se distingue
a importância da contribuição causal de uns e outros.
Assim, para essa teoria, o tratamento diferenciado à participação (partícipes) deveria
ser visto como constitutivo de causas de restrição ou limitação da punibilidade.
Segundo essa teoria, é autor quem realiza uma contribuição causal ao fato, seja qual
for seu conteúdo, com “vontade de autor”, enquanto é partícipe quem, ao fazê-lo,
possui unicamente “vontade de partícipe”. O autor quer o fato como “próprio; o
partícipe quer o fato como “alheio”. Dessa forma, a extensão do tipo penal a todas as
condutas consideradas como causa seria mitigada pelo critério subjetivo.

4.2 CONCEITO RESTRITIVO DE AUTOR


O conceito restritivo de autor, por sua vez, tem como ponto de partida o entendimento
de que nem todos os intervenientes no crime são autores. Além disso, preceitua que
somente é autor quem realiza a conduta típica descrita na lei, isto é, apenas o autor
(ou coautores) pratica(m) o verbo núcleo do tipo: mata, subtrai, falsifica etc.
As espécies de participação, instigação e cumplicidade, somente poderão ser
punidas, nessa acepção, através de uma norma de extensão, como “causas de
extensão da punibilidade”, visto que, por não integrarem diretamente a figura típica,
constituiriam comportamentos impuníveis. De acordo com o conceito restritivo,
portanto, realizar a conduta típica é objetivamente distinto de favorecer a sua
realização. Ademais, somente a conduta do autor pode ser considerada diretamente
como típica, sendo necessário que o legislador especifique, normalmente na Parte
Geral, se as formas de participação são, por extensão, tipicamente relevantes e
puníveis

4.3 TEORIA DO DOMINIO DO FATO


Tratasse de uma elaboração superior às teorias até então conhecidas, que distingue
com clareza autor e partícipe, admitindo com facilidade a figura do autor mediato, além
de possibilitar melhor compreensão da coautoria.
A teoria do domínio do fato, partindo do conceito restritivo de autor, tem a pretensão
de sintetizar os aspectos objetivos e subjetivos.
Autor, segundo essa teoria, é quem tem o poder de decisão sobre a realização do
fato. Mas é indispensável que resulte demonstrado que quem detém posição de
comando determina a prática da ação, sendo irrelevante, portanto, a simples “posição
hierárquica superior”, sob pena de caracterizar autêntica responsabilidade objetiva.
Autor, enfim, é não só o que executa a ação típica (autoria imediata), como também
aquele que se utiliza de outrem, como instrumento, para a execução da infração penal
(autoria mediata).
Para que se configure o domínio do fato é necessário que o autor tenha controle sobre
o executor do fato, e não apenas ostente uma posição de superioridade ou de
representatividade institucional, como se chegou a interpretar na jurisprudência
brasileira. Ou seja, é insuficiente que haja indícios de sua ocorrência, aliás, como é
próprio do Direito Penal do fato, que exige um juízo de certeza consubstanciado em
prova incontestável.

5. AUTORIA MEDIATA

Como já se disse, autor não é apenas o que realiza diretamente a ação típica descrita
na lei, mas quem consegue a execução através de pessoa que atua sem
culpabilidade.
Originariamente a autoria mediata surgiu com a finalidade de preencher as lacunas
que ocorriam com o emprego da teoria da acessoriedade extrema da participação;
depois, mesmo com a consagração da teoria da acessoriedade limitada, ainda assim,
a autoria mediata não perdeu a importância, mantendo-se a sua prioridade diante da
participação em sentido estrito.
Como a principal característica da autoria mediata é a utilização de terceiros como
instrumento que realiza a ação típica em posição de subordinação ao controle do autor
mediato, pode se afirmar que não há autoria mediata nos casos: (a) em que o terceiro
utilizado não é instrumento e sim autor plenamente responsável, (b) nos crimes de
mão de própria, (c) nos crimes especiais próprios que exigem autores com
qualificação especial e, por fim, (d) nos crimes culposos em razão de não existir a
vontade construtora do acontecimento.
Por outro lado, pode-se afirmar que as principais hipóteses de autoria mediata
decorrem: (a) de erro, (b) de coação irresistível, (c) do emprego de pessoas
inimputáveis e, (d) nos casos do emprego de terceiro que age justificadamente sob o
amparado de um excludente de criminalidade provocada deliberadamente pelo autor
mediato.

6. COAUTORIA

O fenômeno da coautoria, também conhecido como autoria coletiva, pode ser


definido como sendo a realização em conjunto por mais de uma pessoa da mesma
infração. É domínio comum do tipo de injusto mediante divisão do trabalho entre os
coautores. Coautor é quem executa, juntamente com outras pessoas, a ação ou
omissão que configura o delito, razão pela qual se pode afirmar que coautoria é, em
última análise, a própria autoria. Funda-se ela sob o princípio da divisão do trabalho,
é por isso que cada um responde pelo todo.
Cabe por oportuno asseverar, que na autoria coletiva, já que todos aderem de forma
consciente à realização do comportamento típico, não é necessário que todos
pratiquem o mesmo ato executivo basta, pois, que a contribuição de cada um seja
considerada importante para a realização do tipo. Cada um desempenha uma
função fundamental na consecução do objetivo comum, por isso que, ausente a
relação de acessoriedade, só resta uma imediata imputação recíproca, com todos
respondendo integralmente pelo delito.
7. PARTICIPAÇÃO EM SENTIDO ESTRITO

7.1 ESPÉCIES DE PARTICIPAÇÃO


Várias são as formas de participar intervindo em um fato alheio: Ajuste, determinação,
instigação, chefia, organização, auxilio material, auxilio moral cumplicidade, adesão
sem acordo prévio etc. A doutrina, todavia, tem considerado apenas duas formas de
participação: instigação e cumplicidade, de vez que as demais delas fazem parte.

7.1.1 Instigação
Instigar é agir sobre a vontade do autor, acoroçoando, estimulando potencializando
ou reforçando a ideia já existente. Pode ocorrer também quando o partícipe induz o
autor tomando a iniciativa intelectual suscitando nele uma ideia até então inexistente.
Constitui, portanto, incutir na mente do autor principal o propósito criminoso quando a
ideia de praticar o crime não existe.
Essa forma de instigação é também conhecida como determinação porque o partícipe
provoca a decisão do fato mediante a influência psicológica que exerce sobre o autor.
Deve a instigação, todavia, ser dirigida a determinado crime, ficando excluída, pois,
da participação, a incitação genérica a prática de infrações penais que, se realizada
publicamente, poderá configurar a apologia ao crime, mas nunca a participação.
Como o conteúdo da instigação parece-nos traduzir em ação, posto que se materializa
na influência que o partícipe exerce sobre o psiquismo do autor com vistas a realizar
o fato definido como crime, é forçoso concluir pela exclusão da possibilidade de haver
instigação por omissão.

7.1.2 Cumplicidade
Cúmplice é aquele que presta auxilio material ao crime exteriorizando a conduta
através de um comportamento ativo, que pode se efetivar, por exemplo, através do
empréstimo da arma para a prática do crime, do empréstimo de um veículo para
facilitar a fuga do autor ou autores etc.
Necessário se faz consignar, que a cumplicidade pode perfeitamente se dá através
da omissão, nos casos em que o partícipe tem o dever genérico de agir como no caso
do criado que deixa a porta do armazém aberta propositadamente para facilita a ação
do autor do furto.
Para que seja configurada a participação, é necessário, como já foi dito alhures, que
haja por parte do partícipe, a consciência de que está participando na ação dolosa de
outrem e que a sua contribuição tenha efetivamente eficácia causal. Trata-se do nexo
material e nexo psicológico.

7.1.3 Participação em cadeia


Ocorre a chamada participação em cadeia ou participação da participação quando
se incita a instigar, se incita à cumplicidade, ou seja, quando se é cúmplice da
instigação ou cúmplice da cumplicidade. Assim, ocorre a participação em cadeia,
quando se instiga alguém a instigar outro a cometer um crime; quando se conserta a
arma que o outro vai entregar ao autor para que a use na prática do crime.
Em todos os casos citados a tipificação da participação em cadeia, dependerá, de
que o autor, ao menos, tente a execução do crime e não de que o outro partícipe
tente a participação, até porque a tipicidade desta depende, em última análise, de
que o autor inicie o injusto.

7.1.4 Participação Sucessiva


Existem ainda, além dos casos de participação em cadeia, os casos de participação
sucessiva. É o que se poderia chamar, pela semelhança com a autoria colateral, de
participação colateral. Ocorre quando um partícipe instiga o autor ao cometimento
de determinado crime e, o outro partícipe, sem saber da atuação do primeiro,
também instiga o mesmo autor ao cometimento dom mesmo crime. Ex.: “A” instiga
“B” a matar “C” e, “D”, sem saber da atuação de “A”, também, instiga “B” a matar “C”.
Por obra do obvio, como nos demais casos, a ação dos participes só terá relevância
jurídica se o fato principal chegou, pelo menos, a ser tentado. É preciso deixar claro,
entretanto, que a participação do participe sucessivo só terá relevância se a sua
atuação foi, de fato, decisiva para a decisão do autor.

7.2 PRINCÍPIO DA ACESSORIEDADE DA PARTICIPAÇÃO


Que a participação é uma ação secundária que adere a uma ação principal, a
doutrina é praticamente unânime nos dias atuais; agora, quanto a sua natureza
acessória existe sérias controvérsia. Várias são as teorias que procuram delimitar o
alcance da acessoriedade da participação num evento criminoso, destacando-se
dentre elas as seguintes:
7.3.1 Teoria da acessoriedade mínima
Segundo essa teoria, para se punir a participação basta que ela esteja ligada a uma
conduta típica, não sendo relevante a sua juridicidade. Isso equivale a dizer que uma
ação justificada para o autor, constitui crime para o partícipe.
Assim, aquele que induzir o autor a matar em legítima defesa será condenado como
partícipe do crime de homicídio, enquanto o autor será absolvido pela excludente de
antijuridicidade.

7.3.2 Teoria da acessoriedade limitada


Essa teoria, diferentemente da anterior, exige que, para se punir a participação, a ação
principal seja, obrigatoriamente, típica e antijurídica. Significa, pois, que a participação
é acessória da ação principal até certo ponto, posto que não exige que o autor seja
culpável. Para esta teria o fato é comum, mas a culpabilidade é individual.
Portanto, a punição da participação só depende do caráter antijurídico da ação
principal, podendo ocorrer impunidade nos casos em que a doutrina tem denominado
de provocação de uma situação de legitima defesa, quando o instigador induz um
terceiro a agredir alguém que sabe estar armado, o qual reage e, em legitima defesa,
elimina o agressor instigado que o instigador queria eliminar.
Neste caso, o fato de a ação principal estar justificada para o autor (não sendo
antijurídica), desnatura, pelos postulados da teoria da acessoriedade Limitada, o
caráter da participação, ficando o instigador impune.
Para a doutrina alemã, o instigador tem o domínio do fato da ação justificada do
executor e, por contas disso, a solução seria a sua punição como autor mediato do
homicídio. Os agentes foram utilizados com instrumento para satisfazer a sua
vontade.

7.3.3 Teoria da acessoriedade extrema


Para esta teoria, a relevância jurídica da participação está atrelada a uma conduta
principal que dever ser típica, antijurídica e culpável excetuando-se, somente, as
circunstâncias agravantes e atenuantes da pena. Assim, se o autor da ação principal
agisse em erro de proibição, fosse inimputável ou, por qualquer outro motivo, fosse
inculpável, o partícipe ficaria impune. Neste caso, a acessoriedade da participação
seria absoluta, ou seja, estaria condiciona a punibilidade do autor da ação principal.
Esta teoria vigorou na Alemanha até 1943. Hoje só é defendida pelos adeptos da
teoria causal da ação, porquanto, para eles, dolo e culpa integram a culpabilidade.
8. CONCURSO EM CRIME CULPOSO E OMISSIVOS

8.1 CONCURSO EM CRIME CULPOSO


A doutrina brasileira, à unanimidade, admite a coautoria em crime culposo,
rechaçando, contudo, a participação.
Os que cooperam na causa, isto é, na falta do dever de cuidado objetivo, agindo
sem a atenção devida, são coautores
Exemplo: Dois pedreiros jogam uma tábua do décimo andar de um prédio para jogá-
la no lixo com mais rapidez. Acontece que, sem querer, eles acertam a cabeça de
uma pessoa que estava passando, e essa pessoa morre. – Homicídio culposo com
coautoria
Nos crimes dolosos, o direito penal pune o resultado, já nos crimes culposos pune-
se a conduta. Portanto, no homicídio culposo, por exemplo, os dois pedreiros tinham
o domínio final da sua conduta (imprudente, negligente ou imperita) e por isso são
coautores.
No Brasil, toda contribuição causal a um delito não doloso equivale a produzi-lo.
Não se admite participação em crimes culposos, pois se uma pessoa instiga ou
induz alguém à prática de um crime, já é, automaticamente, um crime doloso. Não é
possível instigar ou induzir alguém à um resultado não pretendido. Possível seria
instigar ou induzir alguém à uma conduta negligente, imprudente ou imperita. Porém,
essas hipóteses serão de coautoria, tendo em vista que toda contribuição causal a
um delito não doloso equivale a produzi-lo.

8.2 CONCURSO EM CRIME OMISSIVO

8.2.1 Crimes omissivos próprios


Legislador equiparou um fazer com um não fazer.
Descrição de um não fazer, independentemente da produção de um resultado
Crimes que só podem ser praticados por omissão.
Exemplo: Omissão de socorro.

8.2.2 Crimes omissivos impróprios ou Comissivos por omissão


Crimes de ação, que podem ser praticados por omissão.
Não impedir a produção do resultado em face da posição de garante do agente (Art.13,
§2, CP) -quem tem o dever jurídico de agir ou assumiu o risco de produzir o resultado
Crimes materiais (dependem de um resultado físico)

8.2.3 Concurso de pessoas


A posição da doutrina não é unânime acerca da possibilidade da coautoria e
participação em crimes omissivos.
Posição 1: Não pode haver coautoria em crimes omissivos, por não ter a possibilidade
de divisão de tarefas. Isso porque, não é possível dividir um não fazer, a omissão é
indivisível.
Entretanto, a participação é perfeitamente possível
Exemplo: Duas pessoas, de comum acordo, deixam de prestar socorro a uma pessoa
gravemente ferida, sem risco pessoal- Cada uma seria responsabilizada pelo crime
de omissão de socorro individualmente
Posição 2: É perfeitamente possível a coautoria em crimes omissivos, bem como a
participação. Isso porque, houve consciência e vontade de realizar um
empreendimento comum, ou melhor, no caso, de não o realizar conjuntamente.
Exemplo: Duas pessoas, de comum acordo, deixam de prestar socorro a uma pessoa
gravemente ferida, sem risco pessoal – Seriam coautoras do crime de omissão de
socorro

9. AUTORIA COLATERAL

Há a autoria colateral quando duas ou mais pessoas, agindo sem qualquer vínculo
subjetivo, portanto, sem que uma saiba da outra, praticam condutas convergentes
objetivando a prática da mesma infração penal.
Alguns a identificam como coautoria lateral ou imprópria. Ocorre, por exemplo, quando
duas pessoas, pretendendo matar a mesma vítima, postam-se de emboscada,
ignorando cada uma a intenção da outra e atiram na vítima ao mesmo tempo vindo a
vítima a falecer. Nesse caso não há concurso de pessoas, mas sim autoria colateral.
A autoria colateral nada mais é do que o agir conjuntamente de várias pessoas, sem
reciprocidade consensual, num mesmo empreendimento criminoso. Tem como
elemento caracterizador a ausência de vínculo subjetivo entre os intervenientes.
Entretanto, não é a adesão a resolução criminosa que não existe, mas sim o dolo dos
participantes individualmente considerado que estabelece os limites da
responsabilidade jurídico penal dos autores.
Nesse aspecto a diferença prática que existe entre a coautoria e a autoria colateral é
marcante. Se duas pessoas se colocam de tocaia, sem que um saiba da existência
da outra, e ambas, ao mesmo tempo, disparam matando a vítima, cada um responderá
individualmente pelo crime cometido. Já se existisse o vínculo subjetivo, responderiam
como coautores do crime de homicídio qualificado.
A diferença se apresenta no fato de que, havendo a coautoria, se torna indiferente
saber quem foi o autor do disparo letal, vez que os dois responderão pelo crime
consumado. Já havendo a autoria colateral é indispensável saber quem foi o autor do
disparo fatal porque só ele responderá pelo crime consumando, o outro responderá
pelo crime tentado.
Por outro lado, se no mesmo exemplo não for possível precisar quem foi o autor do
disparo que matou a vítima, estar-se-á diante de um caso de autoria incerta, que não
se confunde com autoria desconhecida, porque nesta não se sabe quem praticou a
ação enquanto que, naquela, sabe-se quem praticou a ação, mas, não se sabe quem
produziu o resultado, levando os dois, em face do princípio “in dúbio pro reo” a
condenação pelo crime tentado.

10. PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL

A participação, materializada na contribuição dolosa a fato principal doloso de outrem,


por não ter conteúdo de injusto próprio, assume o conteúdo de injusto do fato principal,
ficando a sua tipificação condicionada a que este seja, pelo menos, tentado. É o
princípio da acessoriedade Limitada, acolhido pelo art. 31 do CP que faz com que a
participação fique limitada ao tipo de injusto principal.
Ressalta-se, todavia, que, além dessa dependência, a participação para se
aperfeiçoar depende, também, da sua eficácia causal e da consciência e vontade de
participar na ação comum.
Com efeito, pelo mandamento do art. 31, a participação num crime que não chegou a
ser iniciado não teve eficácia causal e, sem ela, não há que se falar em participação
criminosa. Logo, nessas circunstâncias, a participação, como atividade acessória que
é, em qualquer de suas formas não será punível, a menos é que, por si só, se
enquadre na ressalva do dispositivo, como crimes autônomos como é o caso da
formação de quadrilha e da incitação ao crime.
Ora, se num concurso de pessoas o próprio código prevê a possibilidade de algum
dos concorrentes ter querido participar de um crime menos grave do que o que
efetivamente foi praticado pelos demais, está claro que não se pode admitir de forma
simplista que adotou a teoria monista.

11. PUNIBILIADE DO CONCURSO DE PESSOAS

O Código Penal estabelece no art. 29, §1º, a participação de menor importância


(aplicável, apenas, à participação em sentido estrito), com natureza jurídica de causa
geral de diminuição de pena, cujo caráter obrigatório prevalece, majoritariamente, na
doutrina, de modo que a faculdade cinge-se ao grau de redução que, segundo
Bitencourt (2018, p. 844), deve se dar em função da intensidade volitiva do partícipe.
De outro modo, há cooperação dolosamente distinta ou desvio subjetivo de conduta,
quando o delito executado vai além do que foi aderido pelo coautor ou partícipe, que
ignoram a intenção do autor executor. Como consequência da natureza individual da
culpabilidade e do princípio da pessoalidade da pena, o art. 29, §2º, do Código Penal
dispõe que cada codelinquente responderá, somente, até onde alcança o acordo
recíproco, representando, portanto, uma matização da teoria monística, já que
“deixará de existir a unidade do título de imputação, respondendo cada interveniente
pelo tipo de injusto que praticou”.
No entanto, o mesmo dispositivo legal possibilita o recrudescimento da punição
(através de causa de aumento de pena de até metade) se o resultado mais grave
fosse previsível.
Ademais, no intuito de preservar a pessoalidade da pena, o artigo 30 do Código Penal
prevê o princípio da incomunicabilidade das circunstâncias ou condições de caráter
pessoal (subjetivas), as quais não se estendem aos coautores e partícipes (v.g.,
reincidência e menoridade). Assim, as circunstâncias operantes sobre a medida da
culpabilidade (subjetivas) possuem o efeito da incomunicabilidade, o que se
excepciona quando integrarem a definição do tipo (elementares), hipótese em que
haverá a comunicabilidade.
Logo, “a contrario sensu”, o aludido artigo 30 estabelece que são comunicáveis as
circunstâncias de caráter impessoal (objetivas, materiais ou reais). Comunicam-se,
dessa forma, os dados materiais do delito, como por exemplo, o tempo e o modo de
execução.
Todavia, seja em se tratando de circunstâncias objetivas ou de elementares
subjetivas, deve o coparticipante ter atuado ao menos culposamente em relação às
mesmas, sob pena de haver responsabilidade objetiva ou presumida. Destarte, para
que haja a comunicabilidade, é preciso que as conheça.

11.1 Participação de menor importância


Preceitua o § 1º do artigo 29 do CP, uma redução facultativa da pena entre um sexto
a um terço, se a participação for de menor importância, deixando, entretanto, a
cargo da doutrina definir o que seria participação de menor importância.
Está claro que a redação do citado artigo se refere a atuação do partícipe e não do
coautor, porque este atua no núcleo da figura típica, portanto, ainda que tenha dado
contribuição menor, atuou diretamente na execução do delito.
Não pode ser considerada participação de menor importância os caso em que a
instigação e a cumplicidade foram determinantes para o crime. Induvidosamente há
caso em o autor tem a ideia, tem os meios e lhe falta muito pouco para decidir. Há,
também, entretanto, casos em que a decisão do autor está muito mais distante e o
trabalho do autor tem de ser muito mais demorado, constante e até insidioso. Trata-
se, pois, a infração de menor importância, de uma questão de grau, que o julgador
deve estabelecer em cada um dos casos concretos.

11.2 Cooperação dolosa distinta


Conforme já se demonstrou, a doutrina moderna considera que a participação é
acessória de um fato principal, o que pode resultar, nos caso de instigação ou
induzimento que o resultado produzido pelo autor seja diverso daquele pretendido
pelo partícipe. O crime efetivamente praticado pelo autor principal não é o mesmo que
o partícipe aderiu, logo, o conteúdo do elemento subjetivo do partícipe é diferente do
crime praticado. Por exemplo, “A” determina a “B”, que de uma surra em “C”. por
razões pessoais, “B” aproveita o ensejo e mata “C”, excedendo na execução do
mandato. Antes da reforma Penal inserida pela Lei 7.209/84, os dois responderiam
pelo delito de homicídio.
Para regular os casos de cooperação dolosa distinta ou, Como preferem alguns, os
casos de desvio subjetivo de condutas, como no exemplo citado, de vez que as
decisões em casos tais eram severamente criticadas, porquanto reconhecidamente
injustas, o legislador ao reformar a Parte Geral do CP dispôs no § 2.º do art. 29 que
“se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada
a pena deste; essa pena será aumentada até a metade, na hipótese de se ter sido
previsível o resultado mais grave”.
Conforme se observa, o desvio subjetivo de condutas passou a ter tratamento
adequado e justo. No exemplo anterior, a reforma leva a punição de “A” pelo crime de
lesões corporais por ser o crime que efetivamente queria, podendo, entretanto, a pena
ser aumentada de até a metade se o homicídio era previsível. O concorrente só
responde de acordo com o quis, segundo o seu dolo e não de acordo o dolo do autor.
Apesar da aparente solução nos casos de participação dolosa distinta, a reforma
apresentou uma verdadeira “vexata quaestio” nos casos de participação em crimes
com dolo no antecedente e culpa no consequente, ou seja, nos crimes preterdolosos,
como no caso da lesão corporal seguida de morte.
O contrassenso é exposto inteligentemente pelo professor Damásio de Jesus.
Segundo ele, pela disposição da parte especial, o autor que, querendo produzir lesões
corporais, acaba causando a morte, mesmo não a desejando, responde pelo delito de
lesões corporais seguida de morte. Já o partícipe, nas mesmas circunstâncias,
segunda a norma em exame, responderá pelo delito de lesões corporais. Se o crime
mais grave for previsível sua pena será aumentada até a metade. O contrassenso
está no fato de que o autor ou coautor do crime receberia uma pena mínima de quatro
anos e, o partícipe, três meses de detenção, que, no caso de ser aumentado da
metade chegaria a quatro meses e meio.
Conclui-se, em face disse, que a reforma deu tratamento justo ao partícipe nos casos
de cooperação dolosa distinta quando o resultado diverso for doloso, criou, contudo,
um contrassenso nos casos de participação dolosa distinta em crimes preterdolosos,
posto que o partícipe fica praticamente impune.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal 1 - parte geral. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788553610037>. Acesso em: 29 de
novembro de 2019.

JESUS, Damásio de. Direito Penal, parte geral. 33 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v.1.

CONCURSO DE PESSOAS. DireitoNet. Disponível em: <


https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/352/Concurso-de-pessoas>. Acesso
em: 29 de novembro de 2019.

LIMA, BRUNA MARCELA NÓBREGA BARBOSA. CONCURSO DE PESSOAS:


BREVES APONTAMENTOS DOUTRINÁRIOS. Empório do direito. Disponível em: <
https://emporiododireito.com.br/leitura/concurso-de-pessoas-breves-apontamentos-
doutrinarios>. Acesso em: 29 de novembro de 2019.

CONCURSO DE PESSOAS. Âmbito Jurídico. Disponível em: <


https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/concurso-de-pessoas/>. Acesso
em: 30 de novembro de 2019.

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