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Wilhelm Reich - Psicologia de Massas Do Fascismo PDF
Wilhelm Reich - Psicologia de Massas Do Fascismo PDF
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Apresentação
Sobre a Psicologia de Massas do Fascismo de W. Reich
Dayse de Marie Oliveira e Maria Helena Simão Cruz*
Wilhelm Reich
Maine, agosto de 1942
Glossário
ANÁLISE DO CARÁTER: Modalidade, da técnica psicanalítica
habitual de analisar os sintomas, que recorre à inclusão do caráter e da
resistência de caráter dentro do processo terapêutico.
Este é o teor de uma das muitas orações típicas que as crianças têm de
repetir antes de se deitar. O conteúdo de tais dizeres passa, a maior parte das
vezes, despercebido. Mas neles se encontra, de forma concentrada, tudo
aquilo que constitui o conteúdo e o aspecto emocional do misticismo. Nos
primeiros versos, encontra-se o pedido de proteção; no segundo, a repetição
desse pedido, dirigido diretamente ao "pai"; no terceiro, há o pedido de
perdão por um pecado cometido: pede-se a Deus-Pai que não o veja. A que
se refere esse sentimento de culpa? Por que razão o pedido de desviar o
olhar? No vasto círculo dos atos proibidos, tem papel preponderante o
sentimento de culpa pelo jogo com os órgãos sexuais.
A interdição de tocar nos órgãos sexuais não surtiria efeito se não se
apoiasse na ideia de que Deus vê tudo; por isso a criança tem de ser
"boazinha", mesmo na ausência dos pais. Quem considerar fantasiosa esta
relação talvez se convença diante do fato impressionante que relatamos a
seguir, como exemplo concreto da inculcação da concepção mística de Deus
por meio da ansiedade sexual.
Uma menina de cerca de sete anos, que tinha recebido uma educação sem
qualquer ideia de Deus, sentiu um dia uma vontade compulsiva de rezar;
dizemos compulsiva porque ela própria se insurgiu contra essa vontade,
sentindo-a contraditória com aquilo que sabia. A origem dessa compulsão
para rezar fora a seguinte: a criança tinha o hábito de se masturbar todos os
dias, antes de se deitar. Uma noite, por alguma razão, ela teve medo de
fazê-lo; ao invés disso, teve o impulso de se ajoelhar aos pés da cama e
fazer uma oração semelhante à que transcrevemos acima. "Se rezar, não
tenho medo". O medo surgira no dia em que, pela primeira vez, resistira ao
desejo de se masturbar. Qual a origem dessa renúncia? Contou ao pai, em
quem tinha toda a confiança, que, meses atrás, tivera uma experiência ruim
quando estava em férias. Tal como muitas crianças, brincava de ter relações
sexuais com um menino, atrás de um arbusto ("brincava de papai e
mamãe"); de repente, surgiu outro menino que, vendo-os, teve uma
exclamação de desagrado. Embora os pais lhe tivessem ensinado que essas
brincadeiras não têm nenhum mal, envergonhou-se e passou a masturbar-se
antes de se deitar. Uma noite, pouco tempo antes de sentir a necessidade de
rezar, a menina vinha de uma festa, com outras crianças. Durante o
caminho, cantavam hinos revolucionários, quando cruzaram com uma velha
que lhes fez lembrar a bruxa do conto João e Maria. A velha gritou-lhes:
"Bando de hereges, que o Diabo os carregue!" Nessa noite, quando quis se
masturbar, ocorreu-lhe pela primeira vez a ideia de que talvez houvesse
realmente um Deus que visse esse ato e a castigasse. Inconscientemente,
associara a ameaça proferida pela velha à experiência com o menino. A
partir desse momento, começou a lutar contra a masturbação, a ter medo, e
sentiu necessidade de rezar, para dominar o medo. A oração substituiu a
satisfação sexual. Contudo, o medo não desapareceu totalmente, e a criança
começou a ter visões aterrorizantes durante a noite. Passou a ter medo de
um ser sobrenatural que a pudesse castigar pelos seus pecados sexuais. Por
isso, colocou-se sob a sua proteção, o que equivalia a buscar um apoio na
sua luta contra a tentação de se masturbar.
Este processo não deve ser considerado como um fenômeno individual,
mas sim como o processo típico da inculcação da ideia de Deus na
esmagadora maioria das crianças de ambientes culturais religiosos. A
análise dos contos infantis revela que essa também é a função de histórias
como a de João e Maria, que contêm, de forma encoberta mas
suficientemente clara para as crianças, a ameaça de punição da
masturbação. Não podemos examinar aqui os detalhes do processo de
produção do pensamento místico das crianças a partir desses contos
infantis, e nem as suas relações com a inibição sexual. Nenhum caso tratado
ou examinado pela análise do caráter deixa dúvidas quanto ao fato de que o
sentimento místico se desenvolve a partir do medo da masturbação, sob a
forma de um sentimento de culpa generalizado. É incompreensível que este
fato tenha sido ignorado pelo estudo analítico realizado até hoje. Na ideia
de Deus objetiva-se a própria consciência, as advertências ou ameaças
interiorizadas dos pais e dos educadores. Esse é um dado conhecido dos
estudos científicos. Há menos clareza quanto ao fato de que a fé e o temor a
Deus são excitação sexual energética com objetivo e conteúdo alterados. O
sentimento religioso seria, deste modo, equivalente ao sexual, mas
imbuídos de conteúdo místico, psíquico. Isso explica a frequência com que
elementos sexuais aparecem em muitas práticas ascéticas, como, por
exemplo, no delírio de muitas religiosas que julgam ser noivas de Cristo.
Mas tais fantasias só raramente terão expressão a nível genital, e por isso
mesmo enveredam por outras vias da sexualidade, como o martírio
masoquista.
Voltemos ao caso da menina. A necessidade de rezar desapareceu quando
ela compreendeu a origem do seu medo e voltou a se masturbar, sem
sentimentos de culpa. Por mais irrelevante que possa parecer, este fato
contém importantes conclusões para a economia sexual. Mostra como o
contágio místico da nossa juventude poderia ser evitado. Alguns meses
depois de ter desaparecido a compulsão para rezar, a menina escrevia ao
pai, de uma colônia de férias:
Querido Karli, há aqui um campo de trigo e é junto ao campo que
temos o nosso hospital (de brincadeira, claro). Brincamos sempre de
médico (somos cinco meninas). Quando alguém de nós tem dor no
"ding-dong", vai lá, porque temos pomadas, creme e algodão.
Afanamos todas essas coisas.
Isto é a revolução cultural sexual, sem sombra de dúvida. Revolução
sexual, sim — mas revolução cultural? A menina estava numa classe de
crianças um a dois anos mais velhas, e os professores comprovaram a sua
aplicação e grande capacidade. Em política e conhecimentos gerais, estava
muito além de outras meninas da mesma idade, e mostrava um vivo
interesse pela realidade. Doze anos mais tarde, era uma jovem sexualmente
sadia, brilhante do ponto de vista intelectual e socialmente estimada.
Inculcação do Misticismo na Adolescência
Tentamos mostrar, com o exemplo da menina, o modo típico pelo qual o
medo religioso se inculca já em crianças de tenra idade. A ansiedade sexual
é o principal veículo de inculcação da ordem social autoritária na estrutura
da criança, Vamos verificar agora essa função da ansiedade sexual no
período da puberdade. Para isso, podemos servir-nos de um dos típicos
panfletos anti-sexuais:
Vitória ou Fracasso
Nietzsche: Suas almas estão mergulhadas em lodo, e ai de nós se o lodo é
dotado de intelecto.
Kirkegaard: Se só a Razão for batizada, as paixões continuam pagãs.
Dois rochedos se erguem na vida de qualquer homem, que diante deles
vence ou fracassa, ergue-se ou cai: Deus e — o sexo oposto. Muitos jovens
fracassam na vida, não porque aprenderam muito pouco, mas sim porque
não conseguem ter ideias claras sobre Deus e porque não conseguem lidar
com o instinto que pode trazer aos homens uma felicidade indescritível,
mas também uma miséria insondável: o instinto sexual.
Quantos há que nunca chegam a ser verdadeiros homens porque são
dominados pelos instintos. Por si sós, os instintos poderosos não constituem
motivo para desgosto. Pelo contrário, significam riqueza e vitalidade. São o
grito vibrante da personalidade forte. Mas o instinto volta-se contra si
próprio e torna-se pecado contra o Criador quando o homem já não o
consegue controlar, perdendo o seu domínio sobre ele e tornando-se seu
escravo. No ser humano, ou domina o espírito ou domina o instinto, ou seja,
o bestial. Os dois são incompatíveis. É por isso que todo homem que reflete
se vê um dia colocado diante da importantíssima pergunta: Você quer
conhecer o verdadeiro sentido da sua vida, para iluminá-la, ou quer deixar-
se devorar pela chama incandescente dos instintos não domados?
Você quer viver a sua vida como um animal ou como um filho de Deus?
O processo de se tornar homem, ao qual nos referimos aqui, é como o
problema do fogo da lareira. Dominada, a força do fogo ilumina e aquece a
sala, mas que desgraça se as chamas se alastram para fora da lareira. Que
desgraça, também, se o instinto sexual domina o homem por completo, a
ponto de se tornar senhor de todo pensamento e de toda atividade!
A nossa época é uma época doente. Em tempos passados, exigia-se que
Eros se submetesse à disciplina e à responsabilidade. Hoje, pensa-se que o
homem moderno já não necessita de disciplina. Esquecemo-nos, no entanto,
que o homem de hoje, habitante das grandes cidades, é muito mais nervoso
e tem menos força de vontade, precisando, por isso, de mais disciplina.
E agora olhe ao seu redor: não é o espírito que reina na nossa pátria; a
supremacia pertence às pulsões indomadas e, sobretudo nos jovens, à
pulsão sexual indisciplinada que degenera em imoralidade. Nas fábricas e
nos escritórios, no palco e na vida pública, reina o espírito da prostituição; a
obscenidade está na ordem do dia. E quanto prazer juvenil e alegre se perde
nos castelos pestilentos da grande cidade, nas boates e nos cabarés, nas
casas de jogo e nos filmes pornográficos! O jovem de hoje considera-se
muito esperto quando adere à teoria hedonista! Mas, na realidade, podem-se
aplicar a ele as palavras que Goethe põe na boca de Mefistófeles: "Ele
chama Razão, usar a luz celestial Só para sobrepujar os animais, sendo
animal." Há duas coisas que tornam muito difícil o processo de se tornar
homem: a metrópole, com as suas condições anormais, e o demônio dentro
de nós mesmos. O jovem que chega pela primeira vez sozinho à grande
cidade, vindo talvez de um lar bem protegido, vê-se rodeado por uma série
de impressões novas: o ruído constante, imagens excitantes, livros e revistas
eróticas, ar poluído, álcool, cinema, teatro e, para onde quer que olhe,
mulheres com roupas provocantes. Quem poderá resistir a um ataque tão
maciço? E o demônio interior está sempre disposto a aderir à tentação do
exterior. Pois Nietzsche tem razão ao afirmar que "a alma está mergulhada
em lodo". Em todos os homens "os cães selvagens ladram no porão",
esperando que os soltem.
Muitos se submetem à compulsão da moralidade, porque não foram
esclarecidos a tempo sobre os seus perigos. Estes ficarão gratos por uma
palavra franca de conselho e advertência que lhes permita escapar ou
recuar.
A imoralidade começa, na maior parte dos casos, pela prática da
masturbação. Está cientificamente provado que ela se inicia muitas vezes
numa idade terrivelmente precoce. É certo que as consequências deste mau
hábito têm sido frequentemente exageradas. Contudo, a opinião de médicos
qualificados é de que se leve o assunto a sério. O professor dr. Hartung, que
foi durante muitos anos médico-chefe do departamento de dermatologia do
Allerheiligen-Hospital, em Breslau, emitiu a seguinte opinião: "Não há
dúvida de que a prática frequente da masturbação é muito prejudicial à
saúde do corpo, e que esse vício ocasiona, mais tarde, perturbações várias,
como o nervosismo, incapacidade mental para o trabalho e abatimento
físico".
Ele insiste particularmente no fato de que o homem que pratica a
masturbação comete um ato impuro conscientemente; perde também o
respeito por si próprio e a sua boa consciência. A consciência permanente
de um segredo repugnante, que deve ocultar das outras pessoas, degrada-o
moralmente perante a si mesmo. Ele continua, afirmando que os jovens que
se dedicam a esse vício tornam-se indolentes e fracos, perdem a vontade de
trabalhar, e que a sua memória e capacidade de trabalho são afetados por
estados de excitação nervosa de toda a espécie. Outros médicos eminentes
que também escreveram sobre esse assunto concordam com o dr. Hartung.
Mas a masturbação, além de ser prejudicial para o sangue, corrói as
forças espirituais e as inibições necessárias ao processo de tornar-se
homem; rouba à alma a sua integridade e, quando se torna um hábito, tem
os efeitos de um verme devorador.
Piores ainda são as consequências da imoralidade cometida com o sexo
oposto. Não é por acaso que o flagelo mais terrível da humanidade — as
doenças venéreas — é uma consequência desta transgressão. Só nos espanta
quão tolas as pessoas são neste domínio, enquanto que em outros aspectos
se consideram muito sensatas.
O dr. Paul Lazarus, professor da Universidade de Berlim, pinta um
quadro impressionante dos efeitos profundos das doenças venéreas para a
saúde moral e física do nosso povo.
A sífilis deve ser considerada como um dos coveiros mais eficazes da
nossa energia nacional.
Mas também a gonorreia, que muitos jovens, levianamente, não levam a
sério, é uma doença grave e perigosa. E o simples fato de a ciência médica
não ser capaz de curá-la com segurança deveria bastar para acabar com tal
leviandade.
O professor Binswanger diz o seguinte, a respeito das doenças venéreas:
"É notável que alguns casos de contágio, aparentemente simples, possam
provocar males tão graves, de tal modo que por vezes decorrem muitos anos
entre o contágio iniciai e a manifestação de uma doença nervosa incurável;
e que a doença hoje tão comum, a que os leigos chamam amolecimento
cerebral, tenha origem, em mais de 60% dos casos, nos primeiros contágios
sexuais".
Não é profundamente comovente pensarmos que, por esse pecado da
juventude, aqueles que nos são mais próximos — mulher e filhos — podem
sofrer de uma doença terrível?
Mas devo referir-me a outra aberração que hoje existe com muito mais
frequência do que se imagina: a homossexualidade. Digamos, já de início,
que de todo o coração nos compadecemos e temos toda a compreensão para
com aqueles que, por predisposição ou hereditariedade, travam um combate
silencioso, muitas vezes desesperado, para preservar a sua pureza.
Abençoados aqueles que conseguem vencer, pois que combatem ao lado de
Deus! Mas, do mesmo modo que Jesus amava o pecador e ajudava todos
aqueles que aceitavam a sua ajuda, opondo-se no entanto ao próprio pecado
com uma santa severidade, assim também nós devemos combater os
fenômenos da homossexualidade, que corrompem o nosso povo e a nossa
juventude. Já houve uma época em que o mundo esteve em perigo de
submergir sob a onda da perversidade. Só o Evangelho foi então capaz de
superar essa cultura que submergia na podridão desses repugnantes
pecados, e de promover uma cultura nova. Na Epístola aos Romanos, São
Paulo referia-se assim aos escravos e vítimas desses pecados: "...também os
homens, deixando o uso natural da mulher, arderam nos desejos,
mutuamente, cometendo homens com homens a torpeza... e Deus
abandonou-os..." (Romanos, 1:27-28). A homossexualidade é a marca de
Caim de uma cultura totalmente doente, destituída de Deus e de alma. É
uma das consequências da concepção dominante da vida e do mundo, cujo
fim máximo é a busca do prazer. É com razão que o professor Foerster
afirma, na sua Spxuatethik: "Quando o heroísmo espiritual é ridicularizado
e o gozo desenfreado da vida é exaltado, tudo quanto é perverso, demoníaco
e mau ousa vir à superfície, chegando ao ponto de escarnecer do que é
saudável, chamando-lhe doença, e transformando-se em norma de vida".
Hoje vêm à superfície coisas que o homem não ousa confessar a si
próprio, mesmo no segredo da mais completa depravação. Mas surgirão
ainda outras coisas diferentes, e então se compreenderá que só uma grande
força espiritual — o Evangelho de Jesus Cristo — pode constituir um
remédio para elas.
Haverá quem faça objeções aos que afirmamos. "Não se trata", talvez
você pergunte, "de um instinto natural que deve ser satisfeito?" Quando a
paixão é desenfreada, não se trata de algo natural, mas de alguma coisa
profundamente contra a natureza. Em quase todos os casos, é por culpa
própria ou por culpa dos outros que o mau desejo foi preparado,
incendiado g alimentado. Repare no bêbado ou no morfinômano. Será
natural a permanente necessidade de álcool ou de morfina? Não, essa
necessidade foi criada artificialmente pela entrega frequente ao vício. O
instinto com que Deus nos dotou, que conduz ao casamento para a
conservação da espécie humana, é em si mesmo bom e não demasiado
difícil de dominar. Milhares de homens conseguem dominá-lo de maneira
adequada.
Mas não é prejudicial para o homem adulto privar-se dessas coisas?" O
professor dr. Hartung, que voltamos a citar, diz textualmente a esse respeito:
"Respondo sem rodeios que não, que não é assim. Se alguém lhe disse que a
castidade e a abstinência podem ser prejudiciais para um homem saudável,
fez você incorrer em um erro gravíssimo, e se essa pessoa refletiu
verdadeiramente sobre o que disse. então ou é ignorante ou é um homem
mau.
Também é urgente fazer uma advertência contra o uso de meios
anticoncepcionais. A única proteção verdadeira é guardar castidade até o
casamento.
Tentei mostrar claramente e com honestidade as consequências da
imoralidade. Você vê os danos provocados no corpo e no espírito daquele
que se entrega a esse pecado. Mas é preciso acrescentar a desgraça que esse
vício significa para a alma. Asseguro-lhe com uma seriedade sagrada: A
não-castidade é um crime contra Deus. Rouba seguramente a paz do
coração e não permite a alegria e a tranquilidade. Esta é a palavra de
Deus: "Aquele que semeia na sua carne, da carne colherá corrupção..."
(Gálatas, 6:8).
O espírito do mundo inferior irrompe com uma necessidade imperiosa
sempre que se perde a relação com o mundo superior.
Mas ainda acrescenta uma palavra de conselho e de encorajamento para
todos os que não querem ser ou permanecer vítimas da imoralidade. Deve-
se romper totalmente com o pecado da imoralidade, em pensamentos,
palavras e ações. Esta é a primeira regra que devem observar aqueles que
não querem ser seus escravos. É evidente que se devem abandonar os locais
de corrupção e pecado, e evitar tanto quanto possível tudo o que possa
levar à corrupção. Assim, deve-se evitar absolutamente o contato com
rapazes e moças pervertidos, assim como a leitura de livros sórdidos, a
observação de imagens vis e a ida a espetáculos duvidosos. Para isso
devem-se procurar boas companhias e tratar de conservá-las. É
aconselhável tudo o que fortaleça o corpo e facilite a luta contra as práticas
imorais: ginástica, esporte, natação, passeios a pé, levantar logo após o
despertar. Moderação no consumo de comida e especialmente de bebida.
Deve-se evitar o álcool. Mas tudo isto ainda não basta; pois numerosos são
os que, mesmo seguindo estes conselhos, passam frequentemente pela
experiência dolorosa de serem dominados pelo instinto.
Onde encontrarmos a firmeza necessária para resistir, a força de que
necessitamos para a vitória, se não queremos perder o que há de melhor em
nós mesmos, a nossa personalidade? Quando a tentação se aproxima como
uma ardente excitação, quando surge o fogo ardente do prazer dos sentidos,
está provado que advertências só não bastam. Precisamos de força, de uma
força viva para dominar os nossos instintos, para vencer as forças impuras,
dentro e fora de nós. Só Jesus nos dá essa força. Não só nos obteve o
perdão, pelo seu sacrifício sangrento, de tal modo que podemos alcançar a
paz sob as acusações da nossa consciência, mas também é para nós, através
do seu espírito, a força viva de uma vida nova, de uma vida pura. Através
dele, mesmo uma vontade paralisada ao serviço do pecado pode tornar-se
novamente firme e ressuscitar para a liberdade e para a vida, alcançando a
vitória nos duros combates com o pecado.
Quem quer alcançar a verdadeira liberdade, que venha ao Salvador vivo
que combateu o pecado e tem para todos força e remédio. Isto não é teoria
cristã, mas sim um fato que foi provado e que é experimentado todos os
dias por muitos jovens, vítimas de fortes tentações. Se for possível, confie-
se também a um verdadeiro cristão e a um verdadeiro amigo, que lhe possa
dar conselhos e lutar com você. Pois haverá luta, mas uma luta com
promessas de vitória.
E, para terminar, deixe que eu lhe faça uma pergunta pessoal: o que se
passa com você, meu amigo, e o que você fará com esta advertência?
Será que você quer, para agradar a pessoas levianas e sem consciência, se
pôr a perder, ou quer se juntar a homens puros e nobres, cujo contato eleva
o seu interior e fortalece a sua vontade para a luta contra tudo o que é
impuro? Você quer ser alguém que, pelas suas palavras, pelo seu exemplo e
pela sua essência, é uma maldição para si e para os outros, ou você gostaria
de se tornar cada vez mais um homem que é uma bênção para o seu
próximo?
Será que você quer, por alguns momentos de prazer fugaz, perder seu
corpo e sua alma — agora e para sempre —, ou quer se deixar salvar,
enquanto é tempo?
Peço que você responda honestamente a estas perguntas e que tenha a
coragem de agir segundo o que Deus revelou à sua consciência!
Escolha honestamente! Mundo do Vício ou mundo Superior? Animal ou
Ser Espiritual? Vitória ou Fracasso?
Neste panfleto, o jovem é colocado diante da alternativa: Deus ou a
sexualidade. Ser um "homem verdadeiro" ou um "super-homem" não se
resume, é certo, à sexualidade, mas esse é o primeiro pré-requisito. A
posição entre "animal" e "ser espiritual" orienta-se pela oposição entre
"sexual" e "espiritual"; é a mesma antítese que constitui de modo constante,
a base de toda a filosofia moral teosófica. Manteve-se até aqui inatacável
porque não foi atingido o seu fundamento: a negação sexual.
O adolescente médio encontra-se num conflito agudo entre a sexualidade
e o medo, conflito para o qual foi preparado desde a infância pela família
autoritária. Um panfleto do tipo desse que transcrevemos vai conduzi-lo na
direção do misticismo, sem, todavia, eliminar as dificuldades. A Igreja
católica-encontra remédio para essa dificuldade, fazendo o jovem buscar
periodicamente, na confissão, a absolvição do pecado da masturbação. Mas
envolve-se assim em outra dificuldade. A Igreja conserva a sua base de
massas, recorrendo a duas técnicas: atrai as massas para si, através da
ansiedade sexual, e, por outro lado, acentua a sua posição anticapitalista.
Condena a vida das grandes cidades, com as oportunidades para a tentação
dos jovens, para lutar contra a força sexual revolucionária que a vida nas
grandes cidades desperta na juventude. Por outro lado, a vida sexual das
massas nas grandes cidades é caracterizada pela grande contradição entre
um alto grau de necessidade sexual e possibilidades material e estrutural
mínimas, para a sua satisfação. Essa contradição não é diferente, em sua
essência, daquela que faz com que a autoridade familiar seja definida por
todos os meios, ao mesmo tempo que é destruída pelas crises econômicas e
pela angústia sexual. O reconhecimento destas contradições é extremamente
importante porque proporciona amplas possibilidades de atingir, nos seus
pontos mais vulneráveis, o aparelho ideológico da reação política.
Onde deve o jovem procurar a força para reprimir a sua sensibilidade
genital? Na fé em Jesus! E o jovem encontra de fato nessa fé uma força
poderosa contra a sua sexualidade. Qual é a base desse mecanismo? A
experiência mística transporta-o a um estado de excitação vegetativa que
nunca chega à satisfação orgástica natural. A pulsão sexual do jovem acaba
se orientando num sentido de homossexualidade passiva; a
homossexualidade passiva é, do ponto de vista da energia pulsional, a
contrapartida mais efetiva da sexualidade masculina natural, pois substitui a
atividade e a agressão pela passividade e por atitudes masoquistas, ou seja,
precisamente as atitudes que determinam a base de massas do misticismo
patriarcal e autoritário na estrutura humana. Mas isto implica também
lealdade cega, fé na autoridade e capacidade de adaptação à instituição do
matrimônio compulsivo patriarcal. Assim, o misticismo religioso lança uma
pulsão sexual contra a outra força. Ele próprio se serve dos mecanismos
sexuais para atingir seus objetivos. São esses estímulos sexuais não
genitais, que ele em parte despertou e em parte desenvolveu, que vão
determinar a psicologia de massas dos seus seguidores: o masoquismo
moral (e muitas vezes também claramente físico) e uma docilidade passiva.
A religião vai buscar o seu poder na repressão da sexualidade genital, a
qual, como efeito secundário, leva a uma regressão no sentido da
homossexualidade passiva e masoquista. Assim, apoia-se, do ponto de vista
da dinâmica pulsional, na ansiedade genital e na substituição da
genitalidade por impulsos secundários que já não são naturais no
adolescente. Para conseguir resultados positivos no nosso trabalho prático
de economia sexual entre adolescentes religiosos, é preciso lançar a
exigência genital natural contra as pulsões secundárias (homossexuais) e
místicas. Este trabalho de psicologia de massas está completamente de
acordo com a linha objetiva de desenvolvimento do progresso social no
campo da economia sexual: abolição da negação genital p aprovação da
sexualidade genital dos adolescentes.
Mas o problema não se esgota com a mera revelação desses mecanismos
de intoxicação das massas. O culto da Virgem Maria desempenha também
um papel especial. Como exemplo, voltamos a reproduzir o texto de um
panfleto típico.
Veneração da Virgem Maria e o Jovem
por Gehard Kremer, dr. em Teologia
3 - Cf. Prefácio
4 - Os sublinhados são meus.
8 - Hitler, Adolf, Mein Kampf. Trad. inglesa de Ralph Manheim, Houghton Mifflin
Co., Boston, 1943.
11 - Isso é válido apenas para a Europa. A adaptação dos hábitos da classe média
baixa pelo trabalhador industrial na América contunde estes limites.
12 - Para melhor compreensão dessas relações, aconselha-se a leitura da obra Die
Moral der Kraft, do nacional-socialista Ernst Mann.
13 - O "complexo de Édipo", descoberto por Freud, não é tanto causa como, muito
mais, consequência da repressão sexual exercida pela sociedade sobre a criança, No
entanto, os pais realizam, sem o saber, os desígnios da sociedade autoritária.
15 - Quem não conseguiu superar a sua própria ligação à família e à mãe ou, pelo
menos, não aclarou nem excluiu tal influência do seu julgamento, deve-se abster de
estudar o processo de formação das ideologias, Quem classificar depreciativamente
estes fatos como "freudianos" só conseguirá provar a sua cretinice científica, Devem-
se apresentar argumentos objetivos, em vez de afirmações ocas e não fundamentadas.
Freud descobriu o complexo de Édipo. Só esta descoberta veio tornar possível uma
política familiar revolucionária. Mas Freud está tão distante de tal exploração e
interpretação sociológica da ligação familiar quanto o economista mecanicista o está
da compreensão da sexualidade como fator social. Podem-se apontar algumas
aplicações erradas do materialismo dialético; mas não se neguem fatos que já eram
conhecidos de qualquer trabalhador antes de Freud ter descoberto o complexo de
Édipo. E não se resolva o problema do fascismo com chavões, mas sim com
conhecimentos. Os erros são possíveis e reparáveis, mas a tacanhice científica é
reacionária.
28 - Welt von dem Abgrund, Der Einfluss des russischen Kulturbolschewismus auf
die anderem Volker, Deutscher Volkskalender, 1932, p. 47.
37 - [Meu Deus, vou dormir, Envia-me um anjinho./Pai, deixa que os teus olhos
Repousem sobre o meu leito./Se hoje pequei,/Meu Deus, desvia o teu olhar./Pai, sê
paciente comigo/E perdoa os meus pecados./Que todos os homens, grandes e
pequenos,/estejam sob a tua proteção.]
38 - Cf. Reich, Die Sexualilat im Kulturkampf. 1936; nova edição, de 1966, com o
título Die Sexuelle Revolution.