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INTRODUÇÃO
A partir do momento que se tem uma parte responsável pela acusação, mas
que ao mesmo tempo é também responsável pela fiscalização da correta
aplicação da lei penal, que pode, por exemplo, pedir a absolvição do réu,
verifica-se uma aparente contradição entre as normas jurídicas.
O segundo capítulo, por sua vez, foi empregado para explicar o Sistema Penal
Acusatório, suas características, e as diferenças com o Sistema Penal
Inquisitivo. Abordou-se ainda os princípios que regem a atuação do Ministério
Público no contexto do Sistema Penal Acusatório, sendo eles: o Princípio da
Legalidade e da Impessoalidade. Ainda no segundo capítulo foi necessário
explicar o papel das partes no sistema penal acusatório em especial o
Ministério Público como parte no Processo penal.
Para que isso fosse possível, foi utilizado o método dialético, no qual se
apresenta uma tese (no caso, a possibilidade do Ministério Publico atuar como
parte imparcial), estabelece seus pontos positivos e negativos, para determinar
o alcance de tal teoria, e por fim, estabelecer uma conclusão a partir da
pesquisa realizada.
Diante dessa nova atribuição constitucional temos que sua função ultrapassa a
imagem que muitos ainda possuem do Promotor de Justiça como “acusador”
no Processo Penal. No mesmo sentido Marcelo Barazal5 afirma que
Temos, portanto, que a Constituição vigente abre uma nova forma de atuação
ao Ministério Público, desvinculada, autônoma, independente, com o poder/
dever de operar segundo os mandamentos constitucionais.
8TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 9. ed.
rev. e atual. Salvador: Juspodivm, 2014. p. 672
9MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito
constitucional. 7ª edição.São Paulo: Saraiva, 2012. p. 1079
10 Que compreende o Ministério Público Federal, do Trabalho, Militar, do Distrito Federal e
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TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 9. ed.
rev. e atual. Salvador: Juspodivm, 2014. p. 674
12MENDES, op. cit, p. 13, nota 9.
13CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. – 21 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2014. p.182
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cumprir ordens no que tange à sua atuação nos processos, ou até mesmo de
seguir alguma orientação ou posicionamento específico.14
que o membro do parquet que oficia perante tribunal de segunda instância possa recorrer de
decisão neste proferida, mesmo que o acórdão coincida com o que haja preconizado o
integrante do Ministério Público com atuação em primeiro grau de jurisdição”MENDES, op. cit,
p. 13, nota 9;
18 DE OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 18. ed. atual. São Paulo: Atlas,
2015. p. 459/460;
16
21
CASARA, Rubens R. R.. A imparcialidade do Ministério Público no Processo Penal
Brasileiro: um mito a ser desvelado. In BONATO, Gilson (Org.) Processo penal,
constituição e crítica: estudos em homenagem ao Prof. Dr. Jacinto Nelson de Miranda
Coutinho. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p.751.
22
MAZZILLI, Hugo Nigro. O princípio da obrigatoriedade e o Ministério Público. São
Paulo:Complexo Jurídico Damásio de Jesus, 2007. Disponível em: www.damasio.com.br.
Acesso em: 04 jun. 2015.
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MAZZILLI, Hugo Nigro. O princípio da obrigatoriedade e o Ministério Público. São
Paulo:Complexo Jurídico Damásio de Jesus, 2007. Disponível em: www.damasio.com.br.
Acesso em: 04 jun. 2015.
24
SANTIN, Valter Foleto. Impessoalidade e imparcialidade do Ministério Público na Ação
Penal. São Paulo, 2008. Disponível em: http://www.revistajustitia.com.br/revistas/21awy2.pdf>.
Acesso em: 04 jun. 2015
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26 Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: I - tiver funcionado
seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar
da justiça ou perito; II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou
servido como testemunha; III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-
se, de fato ou de direito, sobre a questão; IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente,
consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou
diretamente interessado no feito. Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no
mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta
ou colateral até o terceiro grau, inclusive. Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não
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objetivo garantir que o julgador não tenha qualquer interesse no processo, seja
por questões de ordem objetiva ou de ordem subjetiva, corroborando a
necessidade do mesmo ser imparcial ao julgar o réu.
o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo íntimo ou inimigo
capital de qualquer deles; II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver
respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive,
sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das
partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou devedor,
tutor ou curador, de qualquer das partes; Vl - se for sócio, acionista ou administrador de
sociedade interessada no processo. Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente de
parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa,
salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes,
não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for
parte no processo. Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida,
quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la.
27TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 9. ed.
rev. e atual. Salvador: Juspodivm, 2014. p. 678
28 Ibid, p 679
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Alguns autores dizem que o Ministério Público seria parte material no Processo
Penal, entretanto isso não condiz com a realidade uma vez que “o direito de
punir que promove não é dele, mas do Estado soberano. O Ministério Público
não tem um interesse particular antes ou fora e durante o processo”.29
29MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime jurídico do Ministério Público. 6ª ed. São Paulo: Saraiva,
2007.p.544
30
Ibid. p.544/545
31CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. – 21ª Ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2014. p.181.
32 Em uma interpretação de acordo com as funções do Ministério Público na Constituição de
1988, o mesmo “deixou de ser o simples guardião da lei ( custos legis)(...) e assume o papel de
guardião do próprio direito (custos iuris)”, no entendimento de Gregório Assagra de Almeida “A
existência de um ‘custos iuris’ com possibilidade de empreender a defesa jurídico-prática da
democracia e de um ‘custos sociatis’ destinado a defender os direitos fundamentais da
sociedade, representa não apenas uma conquista efetivamente democrática da sociedade
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Dessa forma, tem-se que o Ministério Público possui natureza jurídica dúplice
no contexto do Sistema Penal Acusatório atual: de parte no Processo Penal e
de custos iuris.
brasileira, mas também uma autêntica possibilidade de ruptura com o positivismo do direito
liberal que desde o século passado sustentou, ‘nos termos da lei’, as bases oligárquicas do
poder social, econômico e político do país”. ALMEIDA, Gregório Assagra. O ministério
público no neoconstitucionalismo: perfil constitucional e alguns fatores de ampliação de
sua legitimação social. In: FARIAS, Cristiano Chaves de; ALVES, Leonardo Barreto Moreira;
ROSENVALD, Nelson (Org.). Temas atuais do Ministério Público: a atuação do Parquet nos 20
anos da Constituição Federal. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 29.
24
33AVENA, Norberto, Processo Penal Esquematizado. São Paulo: Ed. Método, 2014 p. 132
34
MAZZILLI, Hugo Nigro. O Ministério Público é parte imparcial? (*). Disponível em
<http://www.mazzilli.com.br/pages/artigos/mpimparcial.pdf>.Acesso em: 07 jun. 2015. p. 04
25
Alegar que o Ministério Público é uma parte imparcial no processo penal é uma
posição que encontra forte resistência na doutrina atual, um exemplo disso
pode-se destacar a posição de Aury Lopes Jr. ao citar Goldschmidt:
Contudo, tal argumento não deve prosperar, uma vez que a imparcialidade da
parte acusadora é possível nos termos da atual Constituição. A atuação do
Ministério Público ultrapassa a simples observância da legalidade e da
objetividade, como já abordado anteriormente, uma vez que a lei apesar de
direcionar a atuação do Parquet, e permitir sua “atuação imparcial” (como no
35
MAZZILLI, Hugo Nigro. O Ministério Público é parte imparcial? (*). Disponível em
<http://www.mazzilli.com.br/pages/artigos/mpimparcial.pdf>.Acesso em: 07 jun. 2015. p. 04
36
Ibid. p. 04
37 LOPES JR., Aury. Direito processual Penal e sua conformidade constitucional. 5ª ed.
Considerar o Ministério Público como parte imparcial não deve ser confundido
apenas com o cumprimento do princípio da legalidade, uma vez que tal
imparcialidade decorre de uma ordem subjetiva superior elencada pela própria
Constituição Federal.
São muitos os argumentos utilizados pela doutrina crítica ao afirmar que seria
uma incongruência defender uma parte como sendo imparcial, como por
exemplo, a violação ao princípio da igualdade entre as partes, uma vez que tal
posicionamento induziria o Magistrado a atribuir maior credibilidade a tudo
alegado pelo Parquet. Nesse sentido afirma Casara
Além disso, diz-se ainda que afirmar que o Ministério Público é “parte imparcial”
seria algo que vai de encontro à ideia do sistema penal acusatório visto
anteriormente, pois um órgão criado para acusar (no lugar do juiz no sistema
inquisitivo) não conseguiria atuar de forma imparcial.
Para BADARÓ41
39
CASARA, Rubens R. R.. A imparcialidade do Ministério Público no Processo Penal
Brasileiro: um mito a ser desvelado. In BONATO, Gilson (Org.) Processo penal,
constituição e crítica: estudos em homenagem ao Prof. Dr. Jacinto Nelson de Miranda
Coutinho. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 745-746
40 Ibid. p. 753
41BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da Prova no Processo Penal. São Paulo:
42Ibid.
p. 216/217
43Ibid
p. 217/218
44 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. O mito da neutralidade do juiz como elemento de seu
A neutralidade constitui, portanto, algo inatingível, não se pode exigir que uma
pessoa se abstenha de considerar suas perspectivas pessoais, de vida ou
ambiente ao analisar qualquer assunto, é algo inerente da condição humana
como demonstrado acima.
45
DE OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 13º ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2010. p. 458
29
46
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 11ª ed. rev.
atual. e amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p.495
47TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 9. ed.
Outra questão a ser abordada é o fato que “o Ministério Público não é órgão de
acusação, mas órgão legitimado para a acusação nas ações penais
públicas.”48A diferença entre os dois é, conforme elucida Paccelli49
não é por ser o titular da ação penal pública, nem por estar a ela
obrigado, que o Parquet deve necessariamente oferecer a
denúncia, nem, estando já oferecida, pugnar pela condenação do
réu, em quaisquer circunstâncias. Enquanto órgão do Estado e
integrante do Poder público, ele tem como relevante missão
constitucional a defesa não dos interesses acusatórios, mas da
ordem jurídica, o que o coloca em posição de absoluta
imparcialidade diante da e na jurisdição penal
É necessário deixar claro que o Ministério Público atuar como parte imparcial
não fere o sistema acusatório, e muito menos prejudica o acusado beneficiando
a acusação, pelo contrário, a Constituição Federal “optou por enfatizar o
princípio da ampla defesa e não o da ampla acusação. De outro modo: o
processo penal se realiza pela ampla defesa, não havendo previsão
equivalente para a efetivação dos interesses acusatórios.”50
48DE OLIVEIRA, Eugênio Pacelli Curso de Processo Penal. 18. ed. atual. São Paulo: Atlas,
2015 p. 460
49Ibid., p.460
50Ibid., p.460
51
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 11ª ed. rev.
atual. e amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p.494.
31
Dessa forma, o juiz é livre para verificar ao final do processo penal, as provas
produzidas tanto pela defesa quanto pelo Ministério Público, e que caso o
parquet pugne pela condenação o mesmo não é obrigado a condená-lo. Não
cabe à doutrina, ao criticar o papel de parte imparcial, supor que em algum
momento o juiz vai ser ou não de fato influenciado pelo promotor de justiça que
venha a pedir a condenação, mas de analisar a possibilidade ou não de ter o
Ministério Público como parte imparcial.
52NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 11ª ed. rev.
atual. e amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 60/61
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A partir dessas reflexões, apesar das críticas elencadas por parte da doutrina,
e conforme a análise constitucional das características e funções da Instituição
do Ministério Público nos ditames do artigo 127, tem-se como possível a
atuação do Ministério Público como parte imparcial no Processo Penal.
53DE OLIVEIRA, Eugênio Pacelli Curso de Processo Penal. 18. ed. atual. São Paulo: Atlas,
2015 p. 460/461
54DE OLIVEIRA, op. cit., p. 661, nota 51
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entretanto, tal conclusão não é obtida tão pacificamente, uma vez que parte da
doutrina brasileira não aceita a (aparente) contradição de haver uma “parte
imparcial”, além de elencar uma série de empecilhos para que isso possa
ocorrer.
Vale ressaltar ainda que adotar o Ministério Público como parte imparcial no
processo penal é um trabalho que encontra muita resistência na atual
sociedade, o que acaba sendo um empecilho encontrado até mesmo dentro da
Instituição, com Promotores de Justiça que ignoram sua função constitucional e
assumem um papel de acusador nato. Essa postura deve ser modificada o
quanto antes, a fim de tornar possível um desempenho em consonância com
os preceitos constitucionais a serem defendidos pelo Ministério Público.
REFERÊNCIAS
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. – 21ª ed. rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2014.
______. Curso de Processo Penal. 18. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2015.