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Perfis Urbanos Terriveis em Edgar Allan Poe RESUMO Este é um estudo das imagens produzidas pela literatura diante do espeticulo do surgimento das gran- des cidades no século XIX. Solidao, crime, doenga e sedugio: trés signos da morte sob cujo emblema ater- rador Poe enguadra a cidade mo- derna. Nicolau Sevcenko (Depto. de Histéria da FFLCH/USP) ABSTRACT This is a study of the images created by literature in face of the remarkable emergence of the large cities in the nineteenth century. Lo- 85, crime, illness and seduction are signs of the death used by Poe to frame the modern city. “From childhood's hour have not been As others were — I have not seen As others saw — I could not bring ‘My passions. from a common spring. From the sdine source I have not taken My sorrow; I could not awaken My heart to joy at the same tone; And all I lov'd, 1 lov'd alone’ (“Alon ", Edgar Allan Poe) E extremamente significativa a coincidéncia cronolégica pro- digiosa existente entre o surgimento e declinio das fisiologias sobre a cidade de Paris, 1836-1841, a literatura panoramica de Dickens sobre a cidade de Londres, 1836-1841, ¢ as anotacées fragmentérias [ pp. 69-85 | set. 19847abr. 1985 | de Edgar Allan Poe sobre as metr6poles modernas, espalhadas pelos seus contos mais intensos, redigidos a partir de 1835 e publicados em 1840. Num de seus famosos ensaios sobre os efeitos que a con- solidaggo urbana de Paris como uma metropole moderna exerceu sobre a poesia de Charles Baudelaire, Walter Benjamin relaciona © aparecimento das fisiologias — narrativas do tipo Paris Pitoresco, Paris & Noite, Paris a Cavalo, A Grande Cidade, O Diabo em Paris etc. — com as leis draconianas de censura baixadas pela monarquia burguesa e corrupta de Luis Felipe que praticamente extinguiu a impetuosa tradico dos caricaturistas politicos oriunda das jorna- das herdicas da Revolugio Francesa Assim sendo, deve-se concluir que foram menos os estimulos decorrentes da metamorfose urbana ento em curso, do que as pressdes do poder politico que induziram os escritores franceses a passarem de uma tonica de critica social a um esforgo mais circunscrito de observagio material. O cendrio passa a contar mais do que os atores, a organizagio da paisagem mais do que o vicejamento da vida. $6 com Victor Hugo e Baude- laire esses termos se harmonizariam. A cronologia das obras de Dickens e Poe, entretanto, parece indicar que ou essa andlise é parcial para a mesma Paris, ou nfo deve ser generalizada para as metrOpoles inglesas e americanas, onde as condigées politicas cram bastante diversas e a tolerdncia bem maior. A consideraciio simultinea desses trés conjuntos parece antes indicar um impulso comum de incorporagéo de uma nova experiéncia hist6rica a0 repert6rio dos simbolos que compoem 0 se- dimento cultural de raiz européia. O periodo de 1830 a 1850 a chamada “era das ferrovias” — assinala a difusio da economia industrial ou de seus recursos de base para a quase totalidade do mundo conjugado 20 mercado europeu, multiplicando em larga esca- Ia a taxa de crescimento econdmico ¢ conduzindo a Inglaterra ao estado de “‘industrializaggo plena”? Da mesma forma, nos Estados Unidos, o predominio dos democratas jacksonianos, de 1828 a 1840, mudow definitivamente a paisagem econémica e social do pais. O infcio da imigragdo torrencial, a industrializacao da Nova Inglaterra e dos Estados do Centro, o surgimento das primeiras metrépoles com mais de 100 mil habitantes, o incremento tecnolégico e a propaga- Go das estradas de ferro, unificando o mercado nacional, inaugu- raram uma nova era, lastimada por um conservador escandalizado pelo fato de que “o reino do Rei Populacho parecia triunfar”? Na Franga, 0s indicios dessa transformacio adquiriam tonalidades dra- méticas, pois o crescimento demografico de cerca de 24%, elevando a populacio de 29 milhGes em 1815 para 36 milhdes em 1851, con- centrou-se na maior parte nas cidades, acarretanda um profundo es- 70 tado de tensdo e mal-estar social, que irrompeu nos violentos mo- tins urbanos de Lion ¢ Paris na década de 1830. © fato € que o surgimento das grandes cidades tornou-se a experiéncia social mais insdlita desses anos de 1830-1840 ¢, em vit- tude de seu ritmo acelerado e tumultudrio, também a mais critica. As cidades crescem incontrolavelmente, sem planejamento, infra- estrutura e condigSes bdsicas minimas. Dentre todos os transtornos e misérias suscitados por esse novo estilo de vida, o que parecia perturbar mais os espfritos era justamente o seu ineditismo que tor- nava os individuos envolvidos perplexos e destitufdos de recursos para entender e enfrentar uma situacdo completamente inesperada. Bentley revela esse desconcerto ao declarar, em 1840, que as gran- des cidades sfo “um sistema de vida construfdo sobre um principio totalmente novo”s Manifesta-se, pois, uma singular forma de angis- tia, constitufda por um sentimento de impoténcia e vacilagao diante de’ um surto vertiginoso de mudangas que nao se pode deter, mas As quais se tenta desesperadamente resistir. Nas palavras de um ur- banista contemporaneo, a situacéo era a seguinte: “A comprovacao dos incémodos da cidade industrial e 0 protesto dos seus habitantes se perfilam pois, no momento, em um vazio ideolégico que deixa a sociedade dos primeiros decénios do século XIX temporalmente carente de instrumentos para corrigit na pritica esses males: as anti- gas ferramentas insuficientes desacreditadas; as novas, entretanto, sem serem definidas”.* Era necessério primeiro simbolizar o fend- meno, para entdo torné-lo intelectualmente tratdvel. Essa situacio, se por um Iado proporcionou aos que a viveram uma certeza da originalidade de sua experiéncia, por outro lado Ihes incutiu uma dolorosa aflico quanto As vicissitudes de seu des- tino. Robert Vaugham, autor de A Era das Grandes Cidades, pu- blicado em 1843, demonstrou toda a densidade dessa irresoluco quando declarou sobre a Inglaterra que “se alguma nao deve perder-se ou ser salva pelo caréter de suas grandes cidades, essa nagdo 6 a nossa”? Segundo Asa Briggs, enquanto os ingleses se de- batiam aténitos e atormentados, perguntando-se insistentemente “O que faremos com nossas grandes cidades? O que nossas grandes cidades fardo conosco?”, os americanos diante da mesma contin- géncia pendiam para juizos moralizantes nefastos como o de J.N. Ingraham: “Adao e Eva foram criados e colocados num jardim; as cidades so 0 resultado da queda,” J4 Thomas Jefferson, no seu estilo bem menos sutil, as estigmatizava duramente como as “‘ilce- ras no corpo da politica”® Quanto a Paris, num relato de 1833, Parent-Duchatelet confi- gura uma situagfio de emergéncia e chega a sugerir 0 éxodo dos ha- bitantes mais antigos e mais regolados. “Desse aumefito da popula- nm gio nasceram duas causas que, agindo juntas sem cessar, fizeram desaparecer as vantagens que nossos pais vieram procurar na cidade e produziram aqui um estado de coisas que, atualmente, se aproxi- ma da barbérie e que, seja na cidade, seja nas povoagdes que a cer- cam, tornou-se intolerdvel para mais de 100 mil individuos. As duas causas concernem de uma parte ao agigantamento de Paris de outra 20 aumento da massa de matérias suscetiveis de produzir emanagées infectas.” Dois anos mais tarde, Mme. Trollope na sua ingenuidade enfurecida, vociferava indignada que “a paciéncia com ‘a qual os habitantes dos dois sexos suportam essa porcaria no meio do século é para mim um mistério”? O que talvez tenha dado a sugesto para Eugene Sue escrever seu célebre romance Os Misté- rios de Paris, entre 1842 ¢ 1843, descrevendo as misérias da popu- lagfo humilde e a criminalidade dos bairros populares ¢ inaugu- rando 0 género do folhetim didrio, destinado a um sucesso to enor- me quanto duvidoso. Ao contrério de Dickens, Sue, Hugo ou Baudelaire, Edgar Allan Poe jamais aborda diretamente o tema da cidade em sua obra. E no entanto, de forma marcante, ele ocupa um lugar decisivo no conjunto de seus textos. A predominéncia das mans6es sombrias, perdidas nos campos, dos solares abandonados ¢ castelos ruinosos definhando as margens de pantanos ou precipicios medonhos, to 20 gosto do romantismo noturno e de acordo com o melhor figurino da literatura gética, poderia nos sugerir a imagem de um poeta da paisazem rural, como da Emily Bronté do Morro dos Ventos Uivan- tes. Todos esses elementos esto profundamente enraizados na obra de Poe, sem dtivida, mas o que a torna extraordindria nesse con- texto é'a assimilagio que o poeta faz dos contos de E.T.W. Hof- fmann, com seus espectros urbanos e suas tragédias macabras inti- mamente envolvidas na vida das grandes cidades. Hoffmann trouxe 05 elfos dos bosques para as metrdpoles, adaptando a tradicao das narrativas populares para 0 consumo do novo piblico leitor bur- gués. Da mesma forma, Poe hauriu grande parte de sua inspiracao na fonte da literatura burlesca popular, estabelecendo uma ponte entre essa origem vulgar e 0 gosto mais afetado do piblico burgués, que ajudou a constituir, ao definir as bases do conto como a forma literéria mais adequada a0 ritmo da vida urbana moderna, Sua atuagio no Southern Literary Messenger como poeta, contista e cri- tico literério multiplicou prodigiosamente a circulagéo do jornal, do qual foi tornado editor-chefe, dandothe alcance nacional. Ele 72 foi provavelmente o primeiro autor que se colocou precisamente a questo de ajustar a tradicao literéria ao estado singular de sen- sibilidade produzido pela experiéncia da vida nas grandes cidades, como intuit. Baudelaire.” Seus contos em que a questéo da metrépole moderna magnetiza todos os sentidos da trama narrativa sio trés: “O Homem na Multi: dio”, tio finamente explorado por Walter Benjamin, “Um Aperto” e “A Esfinge”, esses dois menos conhecidos ¢, ao que parece, ainda nao traduzidos para o portugués em nenhuma das intimeras anto- logias dos contos de Poe em circulagdo até 0 momento." Nesses con- tos © escritor nos transmite uma visio trégica da grande cidade, identificando-a com a morte de trés maneiras diferentes. O notével € que nio se trata de uma censura de fundo moral, como as verti- nas condenatérias com que estigmatizavam as cidades os criticos con- servadores e mesmo os radicais.” O sentimento de Poe em relagio & cidade se assemelha ao de Baudelaire em vista da mulher © ao de Proust com respeito ao tempo: oscila entre a seducio embria- gadora e a amargura nostélgica, revelando um vazio que nfo se preenche, um elo perdido que nao se pode resgatar, rompendo uma cadeia que ligava o homem ao gozo da plenitude e abandonando-o na angistia de fragmentos soltos, desencontrados, desesperadora- mente desiguais e incompletos. Eis por que Yeats ¢ Valéry viram nele a chave da lirica moderna." Diferentemente de seus contem- pordneos, ele nfo fala sobre a cidade, mas parece antes metamor- fosear-se na voz pela qual a experiéncia desenraizada da vida na metrépole procura pronunciar a sua identidade inconsistente. Sua melancolia nfo procede da razdo, nem da moral e sim da solidéo em que a metrépole enclausurou cada um dos seus milhares ou milhGes de habitantes. “© Homem na Multidéo”, como observou Benjamin, é um pa- radigma da metrépole e da modernidade, O conto praticamente nao tem enredo e se sustenta gracas a uma atmosfera extremamente densa de impressdes e emocdes, que envolyem e como que hipno- tizam o narrador, arrastando-o a um comportamento impulsivo irre- sistfvel. A forca propulsora da narrativa se concentra portanto no jogo das disposicoes psicoldgicas peculiares desse personagem. Ele, por sua vez, transmite ao leitor uma sensagdo de estranheza ¢ des- conforto, na medida em que descreve situagdes familiares aos habi- tantes de uma grande cidade, arrastando-as porém a uma profun- didade de penetragio nos desvaos do cotidiano que ultrapassa de- mais a superficialidade com que os olhares comumente percorrem a fisionomia das metrépoles. No conto, um individuo nao nomea- do, apés um longo periodo de convalescenca, senta-se junto & janela de um café londrino e dali deleita-se apreciando a. movimentagao 73 massiva da populagio da cidade nas suas tribulagdes de um dia de trabalho. Durante muito tempo estivera s6 na clausura do quarto e agora a agitaco das ruas o atraia e fascinava. Nao estando ainda totalmente recuperado, preferia observar comodamente sentado a ingressar na multiddo. Primeiro sentia a massa como uma multidéo amorfa e homogénea, mas aos poucos vai passando a distinguir e fixar as caracteristicas dos varios individuos, na maior parte peque- nos funcionétios ¢ burocratas, mas também os pobres, marginais € pirias da cidade. Com o chegar da noite, as luzes artificiais Ihe chamam a aten- sd0 para os rostos dos passantes. Foi entio que “de repente apare- ceu um semblante (de um velho decrépito, com cerca de 65 ou 70 anos) — um semblante que de imediato prendeu e absorven total- mente a minha atencdo, devido & absoluta idiossincrasia da sua ex- pressio”. O narrador & assim tomado de um fascinio incontrolével pela figura do velho e sente-se obrigado a segui-lo de perto até ao raiar do dia seguinte. Ao alvorecer, ele desiste da perseguicao e con- clui o conto em tom sentencioso: “Esse velho, eu disse finalmente, € 0 tipo e o génio do crime insondavel. Ele se recusa a estar s6. Ele é 0 homem da multidao. Seria vao segui-lo, pois eu nada mais aprenderia sobre ele, nem sobre seus atos. O coragdo mais perverso do mundo é um livro mais grosso do que o Hortulus Animae!* e talvez seja uma das gracas de Deus que “er lasst sich nicht lessen” A anélise de Benjamin concentra-se no tema da multidéo, como © fator social decisivo que define o perfil psicolégico do homem das grandes cidades, Ele examina inicialmente a antitese pressuposta ha separacdo entre o narrador, aquele que observa solitério e a dis- tancia, 0 protétipo do flaneur, e a massa amorfa da multidao agita- da. O fldneur € 0 primeiro critico que, gerado existencialmente pela multidio, envolvido por ela, a goza com prazer e se angustia pro- fundamente com ela. “Essa grande desgraca de nao poder estar 86”, € a citagdo de La Bruyére que Poe escolhe como epigrafe para o conto. Mas a tensio que se observa na narrativa é justamente entre a massa disforme dos cidadaos, em confronto com a personalidade ‘inica ¢ irredutivel de cada um tomado isoladamente. A ironia con- siste em que todos esto irremediavelmente solitérios na multidao, mas essa constatag&o ¢ to apavorante, que todos preferem a cons. ciéncia técita de estarem condenados ao convivio da massa, S60 fldneur se deu conta desse engodo voluntério e prefere levar as tilti- mas conseqiiéncias a ambigiiidade dramética dessa situacgio. B por isso que, num segundo momento, a andlise de Benjamin identifica nas metrépoles uma tendéncia a transico espontinea da desordem bésica para uma disciplina rigorosa ulterior. A incorporagio de uma identidade coletiva impele 0 homem da cidade para um com- 4 portamento automatizado. O mito da massa passa a ser ritualizado pelos habitantes da metrépole moderna. Mas hé ainda um outro aspecto bastante inquietante nesse conto. Por que dentre tantos passantes, 0 narrador se fascina justa- mente por esse yelho? E por que razio esse fascinio é tamanho que © impele a persegui-lo, muito embora estivesse ainda conva- lescente € sem disposigéo nenhuma para andar? Para Benjamin h4 algo em comum entre o criminoso e o fléneur: ambos se utilizam do anonimato na multidéo para, simulando anuéncia ao comporta- mento automético da massa, darem vazao aos seus instintos anti- sociais, A multidio € 0 envoltrio anédino que ao mesmo tempo estimula, possibilita e oculta tanto o crime quanto a perversdo.” Se coube a Baudelaire em seus Tableaux Parisiens a descoberta de que as cidades sio altamente erdticas, Poe foi o primeiro a regis- trar como elas acalentam todo tipo de impulsos agressivos e auto- destrutivos. Néo é por acaso que ele foi o inventor das modernas histétias de detetives.” O que torna todos suspeitos na multidio e Jeva ao aperfeigoamento das técnicas de identificagéo ¢ controle social: fotografias, impressées digitais, ntimeros, enderegos precisos fe sempre atualizados etc. Diante disso fica mais facil entender o fascinio e a perseguigéo compulsiva do narrador: era a si mesmo, a dimensio mais profunda da sua propria identidade que ele bus- cava, Toda a indeterminacio que atravessa o conto, a goneralidade ¢ ambigiiidade do titulo nfo sio meras casualidades: todos somos homens na multidio. Hé sugerida no conto uma temivel cumplici- dade que envolve o narrador, o velho e 0 leitor. Sobre aquele cora- io sumamente insondavel e perverso, que ndo se pode ler, quase que se ouve a mesma maldigao langada por Baudelaire: “Tu 0 co- nheces por certo, 6 fragil monstro, 6 falso/Leitor, amigo meu, meu igual, meu irmao.”" © conto “A Esfinge” tem um cardter tio fortemente emblemé- tico, que antes atrai para Poe o mérito que Benjamin atribuiu a Baudelaire de haver introduzido a alegoria na lirica moderna.” A histéria se passa toda no campo, mas seu centro de forga, o cerne que a deflagra, é a cidade de Nova York. O narrador do conto, novamente ndo identificado, apavorado com o surto de célera que assola a metrépole na qual ele vive, aceita o convite para passar uma temporada na casa de campo de um patente, as margens do rio Hudson, nas cercanias de Nova York, Hé ali todos os recursos de lazer disponiveis para um trangiilo relaxamento e uma estada feliz: caga, pesca, barcos, cavalos, passeios pelos bosques etc. A proximidade da cidade entretanto e os mensageiros que trazem as novidades todos os dias mantém viva a imagem da peste, relatando ‘a morte sucessiva de parentes, amigos e conhecidos. © narrador ca- 5 minha assim para um estado depressivo agudo, acentuado pela Iei- tura de livros de temética ligubre na biblioteca do proprietério. Costumava Ié-los defronte a uma janela aberta, pela qual vislum- brava uma paisagem distante, composta pelas margens do rio, uma colina cuja face voltada para a casa tinha tido a vegetagio devas- tada por um deslizamento, possibilitando a visio mais distante da sihueta da cidade, quase desaparecida entre as sombras. Foi ali, correndo naquela colina, contrastando com o perfil longinquo da cidade, que subitamente o narrador viu um monstro de feigdes € proporcdes medonhas. A criatura tinha a seguinte descricdo: “Quatro asas membrano- sas cobertas com pequenas escamas coloridas de aparéncia metélica; a boca formando um probéscide cilindrico, produzido pelo alonga- mento das garras, ao lado das quais acham-se rudimentos de man- dibulas ¢ palpos peludos; as asas superiores presas as inferiores por um pelame duro; antenas com a forma de bastées alongados ¢ pris- miticos: abdome pontudo.” Quanto ao tamanho. “eu conclut ser maior do que qualquer navio de linha existente”. Havia, porém, ain- da algo mais apavorante na aparicio: “Mas a particularidade ‘prin- cipal dessa coisa horrivel era a representacio de uma Cabeca da Morte. que cobria quase que totalmente a superficie do seu peito, estando tio exatamente tracada em branco brilhante sobre a base escura do corpo. como se tivesse sido cuidadosamente desenhada por um artista. Enquanto eu observava esse animal terrivel, e mais especialmente 0 vulto no seu! peito, com um sentimento de ‘medo e terror — com o sentimento de um mal por vir. aue eu no conse- guia acalmar através de nenhum esforco da razio, eu percebi as imensas garras do probéscide repentinamente se expandirem e delas veio um som tao alto e to expressivo de dor, que tepercutiu em meus nervos como um toque fiinebre de sinos, ¢ assim que 0 mons- tro desapareceu aos pés da colina, eu caf imediatamente desmaiado no chi.” © conto termina com um anticlimax de comicidade constran- gedora tinico de Poe. A terrivel visio do nova-iorquino enlouquecido pelo medo nfo passava, como o pronrietirio o demonstra. numa calma irritante, de uma variedade de borboleta pequenina, de nome esfinge, cuias caracteristicas mais marcantes sio justamente uma mancha assemelhada & cabeca da morte no t6rax e a emissio de um sibilo pungente e continuo. O inseto se agitava preso a uma teia de aranha armada no caixilho da janela diante da qual o hés- pede costumava fazer suas leituras e observar a paisagem, Com a vista concentrada na perspectiva distante, 0 enfermico diletante nfio se deu conta de aue a pobre criatura se esbatia a poucos centi- metros do sew olho. O notvel desse conto, e aqui se revela toda 76 forca do seu cardter alegérico, é a somatéria prodigiosa de signifi- cados que o autor concentra na imagem emblemitica da esfinge. A esfinge, fica-se sabendo no fim, é uma pequena borboleta, mas por ilagao evoca também o monstro lendério, propositor de enig- mas, de cuja solucgdo dependia a vida ou a morte das pessoas. A esfinge assolava ‘Tebas, segundo a tradico mitolégica, dizimando- Ihe a populacdo, assim como a peste em Nova York. Nao por acaso, ‘© nosso mimoso inseto tem a propria imagem da morte estampada no peito. O nova-iorquino se depara com ela numa situagio igual- mente especialfssima: quando ele, lendo sobre pressdgios, assunto habitual de sua leitura, ergue os olhos para a paisagem exterior, fazendo-os incidir justamente na encosta desbastada da colina, que permitia entrever-se a silhueta umbrosa da cidade empesteada. O natrador vivia obcecado com a idéia da epidemia ¢ da morte a tal ponto que “a prépria brisa do Sul nos parecia trazer o cheiro da morte”. O que torna facil entender por que razio seus olhos vio do livro para a paisagem e na paisagem perscrutam o contorno so- turno da cidade, £ nesse momento entio que aparece 0 monstro, exibindo o semblante pavoroso da morte. O emblema da esfinge incorpora assim também os significados do insdlito, do terrivel, do monstruoso, da peste, da dor, da morte e da cidade. ‘A associacio da imagem da cidade com o sinistro, a doenca ¢ a morte tal como aparece aqui em Poe destoa claramente da critica moralista, como se pode perceber. Seu tratamento da questo é de uma sofisticacéo cultural surpreendente, Mais uma vez ele nio reflete sobre a situagio da metrépole pelo estudo da sua fisionomia, e sim pelo exame cuidadoso de uma sensibilidade altamente exci- tada. Toda a meditacéo em forma de delirio nfo procede de idéias ou valores cuja circulagio e vigéncia tenha sido legitimada pelo advento da cidade grande, mas de um esforco por soldar essa emer- géncia inédita na cadeia de uma tradicfo longamente assentada e consumida. O estartecedor do conto é que ha mais densidade hu- mana na simbologia complexa da imaginagéo delirante do héspede do que no prosaismo cientffico do anfitrido. Ha uma dimensao per- ceptiva na angistia febril do jovem diletante, a qual escapa total- mente ao sensato proprietério, que Ihe suscita, em funcdo mesmo do seu estado desvairado, um impulso de associagdo de imagens miticas imemoriais através das quais busca uma compreensio pro- funda da ameaca imposta pela nova realidade. Poe procura neutra- Tizar a modernidade circunscrevendo-a na alegoria, ao mesmo tempo em que a esconjura como um fantasma. Por isso era preciso que 9 diletante estivesse fora da cidade, para observé-la como um todo e encerré-la numa imagem emblemitica, assim como no conto ante- rior o flaneur esta fora da multidio. Mas ambos," diletante ¢ 0 7 flaneur, saem derrotados, o enigma nao se explicita, a alegoria afinal no passa de um fragmento a mais. ‘© conto “Um Aperto”® é uma das criagdes mais desconcertantes de Poe. Seu palco € a cidade de Edimburgo, também evocada na narrativa, muito significativamente, pelo seu’ nome tradicional de Edina” Uma vez mais Poe evita abordar a cidade pela exposigio da sua fisionomia, “Eu nao descreverei a cidade de Edimburgo™, diz ele. “Todo mundo j4 esteve em Edimburgo — a Edina classica” A hist6ria € narrada e protagonizada pela Signora Psyche Zenobia2 © coadjuvada por Pompeu, seu velho negro escravo, e Diana, a cadelinha poodle empertigada, Estavam os trés passeando numa visi- ta admirada pela cidade, quando a Signora Zenobia avistou a “vasta € venerdvel” catedral gética, com sua torre altfssima. “Que loucura me possuiu? Por que eu apressei meu destino? Eu fui tomada por um desejo incontrolavel de subir Aquele pindculo capaz de provocar vertigens e dali vislumbrar a imensa extensio da cidade.” Assim sendo, inicia uma estafante subida pelas escadarias, junto com © negro ¢ a cadela. Chegando ao alto da torre, percebe decep- cionada que nfo havia ali nenhuma janela aberta para o exterior. Apenas 0 complexo maquinismo de um imenso reldgio, cujo mos. trador ficava do lado de fora da torre, expondo as horas para os habitantes da cidade. A Signora Zenobia entretanto percebe uma Pequena abertura na parede. Ordena a Pompeu que a suspenda em seus ombros ¢ enfia-se pelo orificio, tio apertado que s6 permitia @ passagem da sua cabeca. Dé-se conta assim de que 0 orificio era uma espécie de pequeno buraco no mostrador do reldgio, destinado @ que algum encarregado, quando necessério, passasse por ali a méo para ajustar os ponteiros. Notou também que os ponteiros eram duas imensas laminas de ferro, rigidas e afiadas. A Signora Zenobia volta entfo os olhos para a cidade e fica como que hipnotizada por uma visio maravilhosa. “O panorama era sublime. Nada podia ser mais magnifico. (...) Eu me entreguei com prazer e entusiasmo ao gozo da cena que tio amavelmente se oferecia diante dos meus olhos.” E assim permaneceu quase que em transe por um longo tempo, até que, “estando cu profundamente absorvida pelo cenétio celestial sob mim, fui assustada por alguma coisa muito fria que aperiou com uma leve pressao a parte posterior do meu pescoco. (...) Voltando-me devagar eu percebi, para meu extremo horror, que o imenso e rutilante ponteiro dos minutos, em forma de cimitarra, na sua trajet6ria incessante, havia chegado 20 meu pescogo”. O ponteiro bloqueou em seu avanco o pequeno espago para que a velha senhora retirasse a sua cabeca. Nada mais podia ser feito, a Kamina continua seu avango lento e implacdvel afundando-se no pescogo da matrona, enquanto o negro foge e a 78 cadelinha 6 devorada pelos ratos. O sangue de Zenobia corre abun- dantemente, os olhos saltam-lhe das Orbitas ¢ a agonia se prolonga até que a cabeca, definitivamente separada do corpo, role pelos telhados indo espatifarse no meio da rua. Novamente aqui temos uma figura que observa a cidade como que de fora, Zenobia, tanto pelo nome quanto pelo tratamento de Signora e pelo escravo negro, sugere uma estrangeira em visita a Edimburgo. Uma estrangeira com intensa inclinaco para a cultura clissica® a ponto de sé chamar a cidade pelo seu nome arcaico. Como se nao bastasse, ela se encanta ao primeiro contato com a catedral gética, um dos monumentos mais antigos da cidade e, num impulso incontivel, escala sua torre até o cume a fim de observar das alturas a metrépole moderna. Fato notével, mas esperado, dessa senhora que tem o nome duplamente ligado as alturas do Olimpo @ aos atrativos de uma cidade encantada. O que surpreende por completo é sua execucao insdlita pelos ponteiros de um rel6gio gigantesco. Hé af uma flagrante reflexao sobre 0 tempo, consubs- tanciando 0 conceito de corte cronolégico numa metéfora crua e cruel. E todo o passado mitolégico e sacralizado que é truncado pelo maquinismo de um relégio, simbolo de uma nova visio racionali- zada do tempo e de uma nova civilizagao tecnolégica. Note-se que © conto nao conclui simplesmente com a morte de Zenobia: toda parte final do texto repisa insistentemente a idéia da fragmentacao e da autonomia assumida por cada uma das partes estilhacadas. O negro fugiu, a cadelinha foi devorada pelos ratos, mas sua alma permanece sentada num canto, observando melancolicamente 0 triste fim da sua dona. Os olhos saltados encontram-se na calha e ficam juntos (“possivelmente uma conspiragao planejada”, comenta ela), assistindo a agonia da infeliz vitima. A cabeca e 0 corpo se comu- nicam, jogando 0 corpo a caixa de rapé para a cabega, ja que no tinha mais o nariz. Nas frases finais a propria Zenobia percebe a magnitude irremediavel da tragédia que se abateu sobre ela, decidin- do seu destino. “Sem cachorro, sem negro, sem cabeca, 0 que sobrou agora para a desgragada Signora Psyche Zenobia? O Deus — nada! Eu deixei de ser.” A ruptura da cadeia da tradicao nao significa a génese de outra corrente, mas a dispersio dos elos — esse € 0 estigma da modernidade. Dessa vez a cidade nfo aparece identificada com o crime ou ‘a doenca. Sua imagem nesse conto é a de um encantamento irre- sistivel e por isso mesmo € com certeza a mais terrivel. As figuras que mais aterrorizavam os antigos nfo eram propriamente as cri turas que causavam espanto e portanto compeliam & fuga salvadora, mas aquelas que, por sua beleza irresistfvel, arrastavam os homens 79 para um fim inexorvel e atroz. A beleza sempre apavorou mais do que a feidra e também nisso Poe, Baudelaire ¢ os liricos viram mais longe que os moralistas de seu tempo. No rol dos espectros que mais assombram os antigos estéo as sereias, as forcfades, as gréias © as gérgones, seres de uma formosura inciutavelmente sedu- tora ¢ fatal. Todos seres de profunda ambigilidade, lindos e terri- veis, dotados de corpos heterogéneos, meio humanos, meio animais, meio divinos, meio mortais, atuando no cotidiano’ prosaico, mas através de forcas sobrenaturais. Na tradigGo medieval do romance cavalheiresco, esse papel seria assumido pelas bruxas ¢ fadas, lin- dissimas, ou demonfacas ou angelicais, dotadas de poderes mégicos terriveis, como Isolda ou Morgana, & esse tipo de encantamento mitico que Poe parece ter projetado sobre a cidade moderna, capaz de arrastar sua vitima hipnotizada pelo fascinio para uma cruel autodestrui¢o. “Que loucura me possuiu? Por que apressei meu destino? Eu fui tomada por um desejo incontrolavel de subir Aquele pindculo capaz de provocar vertigens e dali vislumbrar a imensa extensfo da cidade.” O monstro gracioso tem um aliado infalivel na arquitetura instintual da sua presa: 0 desejo. Eis por que ele € a mais terrivel das criaturas, ‘Uma das mais interessantes decorréncias dessa delicada opera- go de transfusio cultural produzida por Poe, 6 que ela se apresenta como um diagndstico do esvaziamento da experiéncia social impli- cita no convivio da cidade e revela a sua transformacao numa figura abstrata objetualizada. Quando Zenobia se entrega a0 goz0 de vis- lumbrar a metrépole das alturas, 0 que ela procura observar € a “extensfo, situago e aparéncia geral da cidade”. Esse gesto de pro- curar uma posigio elevada para ver de cima a totalidade da cidade se torna um ritual obsessive nesse periodo, atraindo historiadores, fisionomistas e jornalistas para os pontos mais elevados das metro. poles." Aos poucos 0 préprio piblico dos citadinos comeca a acor- Ter a esses pontos, desejosos de apreciar o perfil e o movimento continuo da urbe. Fato que leva alguns empresérios dotados de agudo senso de oportunidade a arrendar esses pontos, passando a cobrar ingressos ¢ alugar telescépios. A imagem da cidade se trans- forma assim numa mercadoria de alto valor, O monumento maximo que culmina esse percurso € a edificacdo da torre Eiffel por ocasiao da grande Exposicio Industrial de 1889. Os panoramas e dioramas encomendados aos pintores so outras obsessées desse perfodo. Olha- da ao rés-do-chio a cidade se dissolve em fragmentos, cuja disper- séo infinita € sumamente desagradavel. Vista, descrita ou repre- sentada de um ponto elevado, ela se toma um emblema abstrato imediatamente apreensivel. Com 0 auxilio do telescépio, junta-se © fragmento com o emblema, que sugerem uma falsa, porém recon- 80 fortante unidade.* O fato marcante, contudo, é que a cidade nao € mais pressentida como sendo o conjunto de emogées, gestos situagdes suscitadas pela vivéncia cotidiana de uma comunidade, mas, dado o estado de definitiva solidio dos individuos, como algo externo a cada um, algo unitdrio ¢ abstrato na sua exterioridade: como um objeto simbélico suscetivel de ser instrumentalizado para satisfazer os impulsos e fantasias de cada um. Solidiio, crime, doenca e seducdo: trés signos da morte sob cujo emblema aterrador Poe enquadra a cidade moderna. Fato no minimo curioso, se lembrarmos que Valéry viu nele 0 homem cere- bral absoluto, a fénix do intelecto puro.” Nem se creia ver af a rea- go de um conservador obstinado, decidido a estigmatizar qualquer mudanga. Se tomarmos como exemplo um dos seus personagens mais notayeis, protagonista de dois de seus contos, que na descri- go de Poe “era um poeta no mais amplo e no mais nobre senti- do”, veremos que esse artista considerava que “a mais completa, senao a tinica satisfagao adequada desse sentimento (poético), ele sentia que repousava na criacéo de novas formas de beleza”” Poe denota num sentido muito apurado, que o principal objeto da arte € 0 novo ¢ principalmente o éxtase diante da beleza do novo. Mr. Landor, 0 poeta perfeito que ele descreve téo embevecido, praticava uma arte muito especial e moderna, a jardinagem paisagistica, que consistia em dar um novo arranjo artificial e humanizado a grandes porcées da natureza, com o sentido de submeté-la a uma concepcao estética mais refinada, E portanto esse artista afetado, yenerador ardoroso do novo e do artificial, que nos assombra com suas terri- veis intuicdes relativas as metrépoles. Nao se trata, pois, do medo do novo, mas do doloroso pressentimento de uma forca irresistivel diante da qual nenhum espfrito mais esté livre e toda resistencia se extingue. Poe, o poeta, ouvia no murmtirio das grandes cidades © canto da sereia que anunciava o fim da sua espécie social. NOTAS 1 — Benjamin, Walter. Iuminaciones If (Baudelaire, un poeta en el esplendor del capitalismo). Madri, Taurus, 1972, pp. 49-50. Benjamin se_ utiliza das observagdes de Eduard Fuchs em sua hist6ria da caricatura européia para estabelecer esse paralelo. 2 — Hobsbawm, Eric. Industry and Empire, Bungay, Penguin Books, 1975, pp. 109-121. 3 — Nevins, A. e Commager, H. S. The Pocket History of United States. New York, Pocket Books, pp. 161-17 (citagio pg. 169); Bruchey, Stuart. As Origens’ do Crescimento Econdmico Americano. Rio, Record, 166, PP. 7486 © 144-150, j 81 4_— Cobban, Alfred. A. History of Modern France, vol. II. Londres, Penguin Books, 1962, pp. 95-127. 5 — Briggs, Asa. Victorian Cities, New York, Harper and Row, 1965, PE. 12, 6 — Beneyolo, Leonardo. Las Origenes del Urbanismo Moderno, Madri, Blume Ediciones, 1979, p. 55. 7 — Briggs, A. op. cit., p. 55. 8 — Idem, p. 75. 9 — Chevalier, Louis. Classes Laborieuses et Classes Dangereuses. Paris, L. G. F., 1978, respectivamente pp. 358 © 363. 10 — Para uma familiatizagGo critica e biogréfica com Edgar Allan Poe, sugerimos Spiller, R. E.; Thorp, W., Johnson, T. H.; Canby, H. S. (eds.). Literary History of the United States. New York, Macmillan, 1953, pp. 321-342. 11 — Utilizeime, para sondar a obra de Poe, da edigio The Complete Tales and Poems of Edgar Allan Poe, Harmondsworth, Penguin Books, 1982. Os trés contos citados encontram-se respectivamente nas pp. 475-481, 346353 ¢ 471-474, Todos 0s grifos dos trechos da obra de Poe citados nesse artigo silo do original, A anilise de Walter Benjamin sobre “O Homem na Multidao” encontra-se em Benjamin, W. Charles Baudelaire, un podte lyrique & Vapogée du capi- talisme, Paris, Payot, 1982, pp. 171-178. 12 — Lembremos a esse respeito a descrigio indignada que Engels faz das cidades inglesas cm La Sifuacién de la Classe Obrera em Inglaterra. Buenos Aires, Ed. Futuro, 1965. Welter Benjamin comenta esse texto, no que se refere a Londres em Charles Baudelaire..., op. cit. pp. 85-87. 13 — Spiller (et alli). op. cit., p. 321. 14 — Referéncia a0 Hortulus Animae cut Oratiunculis Aliquibus Supe- radditis de Grinninger. 15 — “Ele nfo se deixa ler.” Em alemfo no original. 16 — Benjamin, W, Iluminaciones 1, op. cit., pp. 52-65. 17 — Idem, ibidem, pp. 55-59. 18 — Baudelaire, Charles. As Flores do Mal, traduc&o, introdugfo © notas de Jamil Almansur Haddad, 3+ ed. S. P., Max Limonad, 1981, p. 85. 19 — Benjamin, W. Charles Baudelaire. op. cit., p. 254 e nota 43. 20 — O titulo original € “A Predicament”, 21 — As cidades escocesas de Glasgow ¢ Edimburgo também tiveram um surto de crescimento, passando por um proceso de metropolizagdo em torno dos anos 1850 ¢ 1840, cf. Briggs, A. op. cit., pp. 32-35 22 — O nome é extremamente significativo pelas aluses cléssicas a Psiqué, beldade mortal clevada aos céus pelos favores de JGpiter e transformada em divindade © Zenobia, princesa oriental a quem é atribuida miticamente a edi- ficagdo da exuberante cidade de Palmira, a mais importante capital do Oriente no perfodo do Imperador Aureliano. 23 — Como, aliés, 0 proprio Poe, ef. Spiller (et alli.) op. cit., p. 322. 24 — Benjamin, W. Iluminaciones II. op. cit., pp. 105-104. 25 — Esse tema de “olhar do alto”, com e sem o telescépio, € de funda- ‘mental importancia em Poe ¢ Hoffmann. Além desse conto que estamos anali- sando, lembrarfamos ainda, da parte de Poe, “O Diabo no Campandrio”, em ‘que agora uma figura mitolégica tradicional descontrola 0 relégio causando 0 caos numa pequena cidade, eo magnifico “O Escaravelho Dourado”. No caso 82 de Hoffmann, basta lembrar © conto, sul Areia”. 26 — Blocker, Ginter. Lineas e Perfiles de la Literatura Moderna. Madri, Guadarrama, 1969, pp, 126. 27 — Poe, E. A. The Complete... op. cit., p. 606. Essa citagao procede do conto ‘O Dominio de Arnheim", 0 outro, continuagio deste, é “A Casa de Campo de Landor”, 1e © apayorante, do “Homem de 83

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