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BAILINHO DA MADEIRA JÁ FEZ 80 ANOS, E VOU TE CONTAR...

No ano de 2018 o bailinho da Madeira fez 80 anos. Nasceu numa festa popular na
primeira festa da vindima que se realizou nos dias 18 e 19 de setembro de 1938 na cidade do
Funchal e que envolveu a população de todas as freguesias da ilha da Madeira, como relatam
os jornais da época.

Houve muito entusiasmo e foi uma das maiores manifestações públicas a contar com
muita exaltação e a participação do povo madeirense.

A razão era simples e objetiva. A primeira festa da vindima teve a sua origem numa
obra sócio caritativa. O objetivo era socorrer a obra de assistência social da Escola de Artes e
Ofícios instituída em 1921 pelo Padre Laurindo Leal Pestana, vigário de Santa Maria Maior.

A Escola de Artes e Ofícios, simples na aparência, mas grande em significado, tinha por
missão acolher menores abandonados por desleixo dos pais ou infelicidade. A escola tinha
como objetivo torná-los úteis a si próprios, à família e à sociedade, afastando-os da ociosidade
e da rua.

No ano de 1938 a escola contava com 200 alunos e estava prestes a fechar as portas
por falta de recursos, situação essa agravada pelo incêndio que a devorara pouco antes.

Os trabalhos de reconstrução estavam parados há meses por faltas de verbas, pois os


donativos dos seus benfeitores apenas davam para as despesas correntes. Para resolver esta
situação, O Pe. Laurindo Leal Pestana realiza diversas ações de angariação de fundos. Uma
delas foi a primeira festa da vindima que teve um duplo objetivo: o auxílio da escola de Artes e
Ofícios e a divulgação do vinho e da uva.

Nesta festa houve dois cortejos que percorreram as ruas da cidade do Funchal, no dia
18 de setembro, foi a romagem em que o povo trazia as suas oferendas, e é de salientar que
não foi feita com “indivíduos de abastados haveres”, mas por gente remediada dos campos, os
humildes trabalhadores da lavoura que, tendo uma pequena horta, ou um exíguo pomar,
quiseram repartir com os mais pobres. E no dia 19 de Setembro, um cortejo com os ranchos
folclóricos que percorreu as ruas da cidade. Depois seguiu-se um concurso para ver quem
obtinha o primeiro prémio de 1000 escudos, promovido pela delegação de Turismo da
Madeira.

Da Calheta participaram dois ranchos de folclore: o da Fajã da Ovelha e do Arco da


Calheta. É neste último rancho que participa o hoje conhecido Feiticeiro da Calheta, que
cantou pela primeira vez há 79 anos no Campo Almirante Reis, o famoso “Bailinho da
Madeira”. Sim, digo famoso porque o Max, no ano 1949, gravou o título na Valentim de
Carvalho e o internacionalizou, mas colocando um arranjo musical de Toni Amaral.

Hoje artistas regionais, nacionais e internacionais tocam e cantam o bailinho, bem


como os grupos de folclore pelo mundo fora, onde se encontra uma alma madeirense, pois
este é o verdadeiro hino do povo madeirense, o genuíno.
A Madeira deve cada vez mais preservar a sua identidade cultural. No caso do folclore
não pode ser visto como o parente pobre da cultura, e muito menos, para servir de arranjo
decorativo em muitas manifestações que se realizam na região.

O folclore não serve para tapar buracos festivos, pois há que olhar para as nossas
origens com seriedade e dignidade. Vejamos o que aconteceu em 1938, pois foi com muito
carinho e muito apreço que o povo madeirense participou, elevando a cultura popular na
“cidade”.

No próximo ano, faz 80 anos da criação do bailinho, e seria importante que a festa do
vinho tivesse uma recriação das origens, quer seja da primeira festa da vindima, quer da
manifestação do folclore, quer da origem do bailinho da Madeira.

Os turistas procuram a identidade cultural de uma região, pois é uma forma de valorizar ainda
mais aquilo que é nosso, como já acontece no festival de folclore da Ponta do Sol.
Fica a sugestão.

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