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Programa de Educação

Continuada a Distância

Curso de Arteterapia

Aluno:

EAD - Educação a Distância


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Curso de Arteterapia

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

MÓDULO I - FUNDAMENTOS DA ARTE E DA TERAPIA


INTRODUÇÃO
1 FUNDAMENTOS DA ARTE E DA TERAPIA
1.1 O QUE É ARTE?
1.2 A ARTE E SUA INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE E NA CULTURA
1.3 A ARTE COMO FONTE DO CONHECIMENTO E DA EXPRESSÃO
HUMANOS
1.4 A ARTE E A REALIDADE SOCIAL
1.5 TERAPIA OU PSICOTERAPIA
1.6 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA PSICOTERAPIA
1.7 IMPORTÂNCIA E UTILIZAÇÃO DA PSICOLOGIA E DA ARTETERAPIA

MÓDULO II
2 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA ARTE
2.1 IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA DA ARTE
2.2 A ARTE NO MUNDO
2.3 ARTE NO BRASIL

MÓDULO III
3 UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS ARTÍSTICOS NO PROCESSO TERAPÊUTICO
3.1 ENCONTRO DA PSICOLOGIA COM A ARTE
3.2 PRINCIPAIS LINHAS DE ATUAÇÃO DO ARTETERAPEUTA
3.2.1 Psicologia Analítica
3.2.2 Gestalt
3.2.3 Psicodrama
3.3 MODELO DE ESTRUTURAÇÃO DAS SESSÕES DE ARTETERAPIA
3.4 O CONSULTÓRIO

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MÓDULO IV

4 AS DIVERSAS FORMAS DE EXPRESSÃO


4.1 DESENHO
4.2 MÚSICA
4.3 TEATRO
4.4 DANÇA
4.5 ESCULTURA
4.6 PINTURA
5 OFICINAS DE ARTETERAPIA

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MÓDULO I

INTRODUÇÃO

Ansiedade, fobia, estresse, anorexia, depressão, introversão, agressividade,


transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, dificuldades de aprendizagem,
hiperatividade. Esses e outros problemas, de origem psicológica, são motivos de
preocupação e o número de pessoas que admite sofrer de algum mal-estar
psicológico cresce a cada dia.
Terapeutas estudam, constantemente, maneiras de lidar com os problemas
humanos, as dificuldades de relacionamento e as desordens psicossomáticas
(sintomas orgânicos com causas psicológicas).
No processo terapêutico a arte pode aproximar terapeuta e paciente, pois no
processo de criação ambos estão mostrando, de forma indireta, sua individualidade
e capacidade criativa. Parece um bom começo para um tratamento que pretenda um
autoconhecimento ou uma melhora na expressão dos sentimentos e no convívio
social. A arte, neste sentido, pode até tornar mais rápido o processo terapêutico,
pois estaria ela mesma agindo como facilitadora.

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A arte pode ser usada em um contexto terapêutico, de duas formas:
- Uma no sentido de perceber-se o significado da arte expressa pelo
paciente de determinada forma;
- Outra na exteriorização de inúmeros sentimentos (ansiedade, culpa,
frustração, tristeza) que fazem parte do cotidiano de todos e que usam a terapia para
encontrar sua válvula de escape.
Alguns objetivos do curso:
 Conhecer a história da arte;
 Conhecer a história da terapia (psicoterapia);
 Conhecer as bases da arteterapia, seus elementos principais;
 Dialogar sobre as diversas formas de expressão artística;
 Conhecer o campo de atuação da arteterapia em diferentes contextos;
 Exercitar a observação e a “degustação” de diversas formas de arte e
de obras de artistas de diferentes épocas e gêneros;
 Elaborar uma sessão de arteterapia;
 Visualizar modelos de intervenção arteterapêutica.

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1 FUNDAMENTOS DA ARTE E DA TERAPIA

Inicialmente, vamos desmembrar a palavra objetivo de nosso estudo e


aprofundar nossos conhecimentos nas áreas específicas: ARTE e TERAPIA.
Procurando dar bases históricas, filosóficas e científicas para as palavras chaves
deste curso.

1.1 O QUE É ARTE?

Muito se comenta sobre o fazer do artista, as obras de arte, mas, afinal de


contas o que é arte?
Segundo o conceito do dicionário Michaelis, arte é a "execução prática de
uma ideia (...) complexo de regras para a produção de um efeito estético
determinado”. Esse conceito elucida que o trabalho artístico nasce de um
pensamento do artista, o qual transmite uma emoção e desperta sensações no
observador.
Segundo o dicionário Houaiss, arte é a "produção consciente de obras,
formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou
para a expressão da subjetividade humana".
Vamos testar esse conceito? Será que realmente as imagens de uma obra
de arte podem despertar sentimentos, emoções?
Abaixo, seguem duas imagens de artistas consagrados mundialmente.
Vamos ver se você consegue perceber que tipo de reação a imagem desperta em
você.

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FIGURA 1 –“ A PONTE JAPONESA DE GIVERNY” DE CLAUDE MONET

FONTE: Disponível em: <http://www.allposters.com/-sp/Le-Pont-Japonais-a-


giverny_i2548998_.htm?aid=999354> Acesso em: 23 jan. 2009.

Olhe com atenção as imagens, os detalhes, as cores, o cenário utilizado


pelo artista. Analisar uma obra de arte é sempre um exercício de conhecimento e
sensibilidade que alarga nossa compreensão do real. E tal fato, é prova mais do que
suficiente do abismo que existe entre o instinto e a razão humana.

O instinto, do latim instinctu, é algo inato ao ser vivo, um tipo de inteligência


no seu grau mais primitivo. Ele guia o homem e os animais que possuem
um grau mais elevado em sua trajetória pela vida, nas suas ações, visando
justamente a preservação do ser. (SANTANA, 2007).

Assim, instinto diz respeito a um comportamento dominado por reflexos e a


estruturas biológicas hereditárias. Isso faz com que o comportamento de um inseto
seja praticamente igual ao de outro de sua espécie, hoje e sempre.

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Depois da breve observação, vamos passar para a próxima imagem,
trabalhando no sentido de aumentar nossa compreensão de arte, de mundo e de
subjetividade.

FIGURA 2 – “O GRITO” DE EDVARD MUNCH (1893)

FONTE: Disponível em: <www.pitoresco.com.br/espelho/destaques/grito/index.htm>


Acesso em: 17 jan. 2009.

E esse quadro, qual impressão ele lhe causa, em que o autor pensava ou o
que ele sentia ao pintar essa figura?
E então como foi a experiência? Foi possível perceber as relações entre
observador e imagem?
Ao fixarmos os olhos na imagem, por mais que não tenhamos consciência,
diversos sentimentos, ideias e pensamentos surgem, quase que automaticamente.
A Figura 1, uma tela de Claude Monet (1840-1926), artista francês, faz parte
da série “Ninfeias”, fase em que o pintor se dedicava à pintura de flores do jardim de
sua própria casa. Neste momento da vida artística, Monet reflete em suas telas um
ambiente de paz, natureza, vida, luz. As obras de Monet permitem que se mergulhe
no universo da pintura, fica fácil se transportar para a cena exposta e sentir a
emoção de estar ali, participando da imagem.

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As telas de Monet causam realmente uma “impressão”, não tem como ficar
indiferente, o trabalho com as cores, as luzes, os reflexos e as sombras, causam um
impacto.

Na fase em que se dedicou à pintura de lírios (1914-1922) o artista revelou


uma enorme habilidade no trabalho com nuances e luzes. Algumas obras de Monet
fazem uma ponte entre o real e o abstrato, pois partem de uma beleza real que os
olhos veem para uma beleza que se consegue apenas com o treino na observação e
na capacidade de deixar o pensamento fluir para além da percepção visual, rumo ao
imaginário criativo, e esse é mais um encanto nas suas obras, as quais permitem
serem visualizadas de várias formas, de acordo com as particularidades do
observador. A impressão é de visualizar a cena “ao vivo e em cores”. Quanta
singeleza e quanta perfeição.
As paisagens representadas são passagens para outro mundo, outra vida,
uma vida mais tranquila, menos estressante, com ar mais puro, flores, tempo para
descansar, cheiro de mato, som de água jorrando...
E quanto ao segundo quadro (Figura 2), uma obra de Edvard Munch (1863 –
1944), pintor expressionista (estilo este que preserva mais a expressão das ideias e
sentimentos do artista do que a própria realidade). As cores são utilizadas no sentido
de dar vida aos sentimentos do artista. O sentimento de angústia e dor que se tem
ao olhar para o quadro não é mera coincidência. A tela parece retratar fielmente
como Munch sentia-se na ocasião, retrato de sua revolta e desespero frente aos
infortuitos que a vivência terrena lhe proporcionava.
Munch recebeu do pai uma educação extremamente rígida, para seguir a
carreira artística acabou rompendo laços com o patriarca da família e seguindo para
Oslo na Noruega. Desde muito cedo, a imagem sinistra da morte deixou marcas em
sua vida, ainda na sua infância assistiu a morte da mãe, mais tarde perdeu duas
irmãs. A doença também o assombrou, sua irmã mais nova teve uma patologia
psiquiátrica e ele próprio vivia muito doente.

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A figura humana, aparentemente desestruturada, doente, retratada em “O
Grito” mostra o desespero de ver o mundo se desfazendo em uma grande fúria,
(note os tons de vermelho no céu) a perenidade da vida e a incapacidade frente à
morte. Certamente este cenário é capaz de retratar a impressão que se tem quando
um ente querido vem a falecer. Nós, ali, estagnados no caminho da vida, e a morte
roubando, sem misericórdia alguma, alguém importante em nossa vida.
A morte é uma imposição desleal ao ser humano, pois não oferece trégua ou
recursos adicionais para o combate, não se pode fazer nada, apenas se conforma,
ou se desespera. Por ser, assim, tão carrasca e provocar diversos sentimentos de
dor, esse tema é retratado frequentemente por inúmeros artistas.
Munch conseguiu uma maneira de sublimar toda essa angústia por meio da
pintura. O que restava a ele, senão pintar o seu grito, a sua dor? A ansiedade é
demonstrada não apenas no semblante do personagem, mas também no fundo,
todo estremecido pelo grito, uma percepção de mundo bastante distorcida pelos
sentimentos de quem vive em grande sofrimento.
A arte por seu aspecto subjetivo permite diversas interpretações, aqui
apresentamos uma delas, mas alguns estudiosos da obra de Munch acreditam que o
que é retratado no quadro é um episódio de Tsunami e uma erupção vulcânica (o
vermelho representaria a lava). Neste caso, o desespero representado seria das
pessoas da região da tragédia.
Contudo, provavelmente todos concordam que a angústia, a doença e a
morte são temas muito presentes em sua obra.
Trabalhar com a morte cria um clima de melancolia e tristeza, entretanto o
terapeuta deve tomar contato com esses temas, pois durante seu trabalho clínico
provavelmente vai se deparar com diversas psicopatologias que iniciaram com a
morte de uma pessoa querida.
Pausando nossa viagem pelas telas desses dois grandes pintores, voltemos
ao conceito de arte.
No seu original a palavra “arte” vem do latim e equivale ao verbete grego
“tékne”. A arte no sentido amplo significa o meio de fazer ou produzir alguma coisa,
sabendo que tékne se traduz em criação, fabricação ou produção de algo.

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De certa forma, as obras de arte também são formas de compreender a
realidade, dentro de uma dimensão histórica, social e cultural.
Portanto, por mais que tenhamos diferentes reflexões sobre o que é arte,
não possuímos uma definição ou um conceito completo, definitivo e acabado. As
conclusões são baseadas nos conhecimentos e vivências acumuladas ao longo da
existência, determinadas em grande parte pelas transformações sociais.
O desenvolvimento da arte não está enraizado em seu tempo, na realidade,
ele ultrapassa a dimensão da história e do contexto social, dinamicamente acaba
adquirindo formas de acordo com a percepção do observador e pela sociedade à
qual ele pertence. Podemos afirmar que ela é feita duas vezes, uma pelo artista e
outra pelo observador e assim se estabelece uma relação, vejamos o diagrama
abaixo:

CONTEXTO SOCIAL ARTISTA

PÚBLICO OBRA

Observando o diagrama percebe-se que a relação é cíclica, pois a obra do


artista é recebida pelo público de acordo com o contexto social e cultural, mas a
inspiração para a execução da obra também surge das influências sócio-históricas
de determinada época.
Esse é um conceito bastante amplo e significativo, pois permite que a arte
seja entendida, considerando, por um lado as experiências emotivas e cognitivas de
cada espectador e, por outro, o contexto social, histórico, político e cultural, tanto de

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produções quanto de análises processuais das diversas áreas da expansão artística:
artes visuais, música, teatro ou dança.

1.2 A ARTE E SUA INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE E NA CULTURA

Pela arte pensamentos tomam forma e ideais de culturas e etnias têm a


oportunidade de serem apreciados pela sociedade no seu todo. Assim, o conceito de
arte está ligado à história do homem e do mundo, porém não está preso
necessariamente a determinado contexto, é essencialmente mutável.
Para exemplificar, voltemos algumas décadas no tempo e analisemos como
a arte era entendida antigamente. Como será que nossos bisavôs definiriam a arte?
Possivelmente, na época, fosse difícil pensar em uma arte digital, ou no
desenvolvimento de uma ciberarte (manipulação das novas tecnologias e mídias
atuais para a construção de objetos artísticos), mas hoje esse fator é determinante
para compreendermos a arte num sentido mais amplo e completo.

Tudo passa pelas tecnologias e a humanidade está marcada pelos desafios


políticos, econômicos e sociais decorrentes de uma nova configuração da
realidade, em que campos da atividade humana, estão utilizando
intensamente as redes de comunicação e a informação computadorizada
(SANTOS, 2006).

O conceito de obra de arte é uma construção social, não pode ser um


trabalho isolado. A arte possibilita um diálogo com quem a observa, cria situações
que podem se tornar desafiantes para o apreciador e, algumas vezes, os materiais
utilizados na própria composição propõem uma reflexão sobre o significado da arte.

Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo de arte. Porque a


função da arte varia de acordo com as exigências colocadas pela nova
sociedade; porque uma nova sociedade é governada por um novo esquema
de condições econômicas; e porque mudanças na organização social e,

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portanto, mudanças nas necessidades objetivas dessa sociedade, resultam
em uma função diferente de arte (KOELLREUTTER, 1997).

Contudo, a arte está ligada aos fatores históricos e sociais, mas dialoga
ativamente com nossa sociedade, criando os estilos de época, e acompanhando a
evolução do homem e da tecnologia.

REALIDADE
EXPERIÊNCIAS FATORES
PESSOAIS HISTÓRICOS

PÚBLICO ARTE SOCIEDADE

POLITÍCA TECNOLOGIA

CULTURA

Quando se lida com as formas em artes visuais convive-se habitualmente


com as relações entre superfície, espaço, volume, linhas, cores e a luz.
Cada um desses elementos tem suas próprias possibilidades expressivas e
são ricos em significados, tanto em si mesmo como em relação aos demais.
E todos eles são intermediados pelos autores e observadores ao se
utilizarem de métodos e técnicas específicas para produzi-las e percebê-las
(SANTOS, 2007).

Ressalta-se ainda o valor de uma educação da práxis artística, preocupada


com o aprofundamento de conceitos, critérios e processos, considerando o universo
de visualidade do mundo contemporâneo e a complexidade do discurso visual, e

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nesse contexto, promovendo a ampliação e enriquecimento dos repertórios sensível-
cognitivos, aprofundando os modos de ver, observar, expressar e comunicar por
meio de imagens, sons ou movimentos corporais.
Muitas vezes, o primeiro contato que os indivíduos têm com a arte é na
escola, nas aulas de arte, obrigatórias no currículo do ensino fundamental. Espera-
se que os estudantes, nestas aulas, vivenciem intensamente o processo artístico, a
fim de contribuir significativamente em seus modos de fazer técnico, de
representação imaginativa e de expressividade. Ao mesmo tempo, espera-se
também que aprendam sobre os artistas e obras de arte de diferentes períodos,
complementando assim seus conhecimentos na área.
Mas, será possível que o professor de artes trabalhe com as funções
terapêuticas do fazer artístico?
O professor pode explorar, estudar e se especializar em arteterapia e, na
medida do possível, conversar sobre as produções de seus alunos, se algum caso
chamar sua atenção e ele não conseguir dar conta em sala, é aconselhável que ele
faça o encaminhamento do aluno para um atendimento psicológico.
A arte foi e é sinônimo de expressão de sentimentos, emoções, revoltas,
traumas... Nossa forma de ver a arte ou de fazer arte revela a compreensão que
temos do mundo. Vejamos isso mais a fundo no Módulo 3.

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1.3 A ARTE COMO FONTE DO CONHECIMENTO E DA EXPRESSÃO
HUMANOS

Nosso mundo é essencialmente visual, estamos cercados por imagens.


Viver nos espaços urbanos é deparar-se com múltiplos estímulos visuais. No
entanto, os apelos visuais não se limitam a espaços geográficos. Meios de
comunicação como a televisão e a internet fazem circular imagens em tempo real
por qualquer lugar do mundo. Isso faz com que um episódio do Japão possa ser
visto no Brasil paralelamente ao fato. Por isso, mesmo em uma pequena cidade
pode-se ter acesso ao mundo todo.
Os diversos apelos visuais interferem na compreensão que se tem sobre o
dia a dia, a vida, o trabalho, a política, os valores morais e contribuem para formular
ideias sobre lugares, culturas, fatos.

Nosso cotidiano está povoado de imagens da mídia, propagandas, folhetos,


fotos, imagens, reportagens, enfim, há muitas formas visuais. Todas essas formas
correspondem a maneiras de interpretar o mundo. São maneiras de se integrar ao
tempo e ao espaço.
As imagens postas em jogo no cotidiano instauram a necessidade de
interpretação, isso porque são formas criadas a partir de certa cultura, dentro de
uma ideologia, ou seja, não são neutras.

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Ao criar uma determinada obra, o artista se vale da matéria construída
socialmente. Como parte da cultura, a arte é a maneira de indicar os
caminhos poéticos trilhados por aquele grupo. Criar uma obra de arte vai
além da utilização da linguagem (desenho, pintura, escultura), vai além do
domínio técnico, porque criar uma forma demanda reflexão, conhecimento
sobre o objeto. Além disso, a obra de arte comunica ideias (PEREIRA,
2007).

A arte de rua, um muro grafitado, uma parede desenhada, são transmissões


de ideias, concepções de mundo, formas de pensar.

Os elementos de visualidade apresentam-se sempre articulados


expressivamente e em situações compositivas indicadas por: movimentos
(reais ou aparentes), direções, ritmos, simetrias/assimetrias, contrastes,
tensões, proporção, etc. E são percebidas por nós nessa totalidade, embora
seja possível discriminá-la quando aprendemos a fazer exercícios e análises
visuais. (SANTOS, 2007).

Para fins didáticos, o processo de leitura de imagens pode ser baseado na


estrutura abaixo:
 Elementos da visualidade: ponto, linha, forma, espaço, volume, textura,
cor observando a relação entre eles e dando uma especial atenção à
composição, ritmo, variação, contrastes, harmonia, tensão.
 Estilo: figurativo, não figurativo, abstrato, naturalista.

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 Técnica: desenho, pintura, escultura, gravura, grafite, instalação,
fotografia.
 Artista: informações sobre suas principais obras, traços de
personalidade, curiosidades.
 Período: pré-histórico, antigo, medieval, moderno ou contemporâneo.

A arte é uma ponte que nos leva a conhecer e expressar os sentimentos, e a


forma de nossa consciência apreendê-los é por meio da experiência estética. Na
arte, busca-se concretizar os sentimentos numa forma, que a consciência capta de
maneira mais global e abrangente do que no pensamento rotineiro (DUARTE JR,
2000).

Concebe-se sentimento enquanto apreensão da situação em que nos


encontramos, que precede qualquer significação que os símbolos
expressam. O sentir é anterior ao pensar, e compreende aspectos
perceptivos e aspectos emocionais (LANGER, 1980).

É preciso que se verifique como a arte se constitui num elemento


terapêutico; como ela provê elementos para que o homem desenvolva sua atividade
significadora, ampliando seu conhecimento a regiões que a percepção e o
simbolismo conceitual não alcançam.
Destaca-se a necessidade de traçar uma distinção entre os conceitos de
comunicação e expressão, para melhor compreender a abrangência destes nas
atividades artísticas. Quando se faz referência à comunicação, comumente o termo
traz à mente a ideia de transmissão de significados explícitos, por meio da
linguagem. Por outro lado, a expressão tem uma conotação de indicação,
desvendamento de sentimentos.
A imaginação é o que diferencia o homem de qualquer outro ser vivo, por
meio dela é possível transcender ao imediatismo das coisas e projetar o que ainda
não existe. Certamente somos movidos pela possibilidade do “vir a ser”, é a
dimensão da utopia, a capacidade de projetar algo novo sobre as antigas estruturas
tanto internas como externas.

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Nesse sentido, a atividade artística resulta de uma organização de
experiências individuais, pois o desenho, a pintura ou a escultura, a música, a dança
ou o teatro trazem importantes aspectos de um conjunto de experiências pessoais
(do autor), organizadas em um todo significativo.
A arte é muito mais que um simples passatempo, busca-se por meio das
diferentes expressões artísticas desenvolver uma consciência estética, ou seja, uma
atitude harmoniosa e equilibrada perante o mundo, em que os sentimentos, a razão
e a imaginação se integram.
A consciência estética é a busca de uma visão global do sentido da
existência; um sentido pessoal, criado a partir dos sentimentos e da compreensão da
realidade circundante. É a capacidade de decisão e escolha, o que exige atitudes de
análise e crítica para que o homem não se submeta à imposição de valores e
sentidos, mas que possa selecioná-los e recriá-los segundo sua própria realidade
existencial.

“Os espelhos são usados para ver o


rosto, a arte para ver a alma”.
George Bernard Shaw (escritor irlandês).

A arte é para o homem a possibilidade de manifestação de seus sentimentos


mais complexos, projetando por meio de formas, linhas, cores, sons, gestos e ritmos
uma nova realidade, um novo mundo.
Um mundo onde a harmonia se estabelece a partir da utilização de materiais
cuja natureza se opõem como, por exemplo: água e fogo, tinta e terra,
estabelecendo dessa forma uma relação de dependência e continuidade entre as
formas projetadas.

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As relações que se estabelecem entre os diferentes materiais, anunciam a
possibilidade do “vir a ser”, algo novo surge de estruturas antigas, é o resultado do
olhar criativo, que apesar de contextos existenciais diversos consegue sonhar.
Assim, todo fazer nasce de um sonho. O primeiro movimento do sonhar é a
idealização, ou seja, a possibilidade de imaginar, visualizar o novo, denunciar uma
realidade, tendo em vista a realidade vivenciada e a realidade sonhada.
Nesse sentido, a ação do arteterapeuta é de grande responsabilidade, pois
trata de conteúdos subjetivos e carregados emocionalmente. A função desses
profissionais parece ser duplamente desafiadora, já que também precisam ser
consideradas, durante o processo, pois “complexas questões da subjetividade de
cada homem e mulher, coparticipantes na árdua tarefa de reconstruir os caminhos
da própria sensibilidade, emoção e intuição” (SANTOS, 2006).

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1.4 A ARTE E A REALIDADE SOCIAL

Diferentemente de outros meios de comunicação e expressão, a arte torna a


vida e o cotidiano rico em significados, mesmo quando não há uma consciência clara
disso.
Sujeito e objeto se fundem em uma única composição, afirmando para o
mundo, que há beleza nas diferenças, que a beleza emerge de diferentes formas e
necessita do diferente para estabelecer uma nova forma.
O que se busca nas atividades artísticas é promover ao homem maior
liberdade para a autoexpressão, libertando-se de amarras que o impedem de ser
completo e viver plenamente sua condição humana.
Mesmo que aparentemente existam animais mais livres da dependência dos
instintos ou reflexos automáticos, podemos dizer que existe um grande abismo entre
o comportamento dos animais e o dos seres humanos. Para dar um só exemplo,
mesmo o chipanzé mais evoluído possui apenas rudimentos do que permitiria
desenvolver a linguagem simbólica e tudo o que dela resulta: aprender, reelaborar o
conteúdo aprendido e promover o novo (invenção).
Isso quer dizer que a vida animal é, em grande medida, uma repetição do
padrão básico vivido por sua espécie. Já o ser humano tem, individualmente e como
espécie, a capacidade de romper com boa parte do seu passado, questionar o
presente e criar a novidade futura. E a arte é prova disso, ou melhor, a arte pode
servir como instrumento de interpretação deste universo cultural humano que o
distingue dos outros seres vivos na face da terra.
Há estudiosos que veem na obra de arte uma manifestação pura e simples
da sensibilidade do artista. Outros a encaram como uma atividade plenamente
lúdica, gratuita, livre de quaisquer preocupações utilitárias ou condicionamentos
exteriores a sua produção artística.

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Não é preciso negar totalmente a validade de cada uma dessas concepções
para reconhecer na atividade artística outra característica importante: o fato de que a
arte é um fenômeno social. Isso significa que é praticamente impossível situar uma
obra de arte sem estabelecer um vínculo entre ela e determinada sociedade
(MAGALHÃES, 2008).
A arte é um fenômeno social, pois o artista é um ser social. Como ser social,
o artista reflete na obra de arte sua maneira própria de sentir o mundo em que vive,
as alegrias e as angústias, os problemas e as esperanças de seu momento histórico.
Tais mudanças na arte refletem as transformações que se processam na
realidade social. A arte evidencia sempre o momento histórico do homem, cada
época, com suas características, contando o seu momento de vida faz um percurso
próprio na representação, como questão de sobrevivência (SANTOS, 2006).

ARTISTA

SOCIEDADE

MOMENTO
HISTÓRICO

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O pensador húngaro Georg Luckács (1885-1971), afirma o seguinte
conceito: “Os artistas vivem em sociedade e – queira ou não – existe uma influência
recíproca entre ele e a sociedade. O artista – queira ou não – se apoia numa
determinada concepção do mundo, que ele exprime igualmente em seu estilo”.

A obra de arte é percebida socialmente pelo público – por mais íntima e


subjetiva que seja a experiência do artista deixada em sua obra, esta será
sempre percebida de alguma maneira pelas pessoas. A obra de arte será,
então, um elemento social de comunicação da mensagem de seu criador.
No que diz respeito ao artista, as relações de sua arte com a sociedade
podem ser de paz e harmonia, de fuga e ilusão, de protestos e revolta.
Quanto à sociedade – considerando principalmente os órgãos do Estado,
seu relacionamento com determinada arte pode ser de ajuda e incentivo ou
de censura e limitação à atividade criadora (MAGALHÃES, 2008).

“Como fenômeno social, a arte possui, portanto, relações com a sociedade.


Essas relações não são estáticas e imutáveis, mas, ao contrário, são dinâmicas,
modificando-se conforme o contexto histórico” (MAGALHÃES, 2008.). E envolvem
três elementos fundamentais: a obra de arte, o seu autor e o público. Foram-se em
torno desses três elementos os vínculos entre arte e sociedade num vasto sistema
solidário de influências recíprocas.
Entende-se que a arte é capaz de fazer flexibilizar pensamentos e relações,
em que o criador é sempre capaz de conectar e mudar as interações produzidas no
mundo da imagem pré-concebida. Percebe as transformações e se percebe
transformador.
De certa forma, a estética migra para a vida do sujeito preparando-o para o
entendimento e para a resolução, tornando-o cidadão, consciente de si e espelho
para o outro, utilizando-se de sua iniciativa e poder de decisão.

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FIGURA 3 - IMAGEM PAUL KLEE

FONTE: Disponível em:


<http://www.arscientia.com.br/materia/ver_materia.php?id_materia=471>.
Acesso em: 18 fev. 2009.

O indivíduo criativo supera a capacidade de imitar, produzir fatos, conectar a


outras relações. As relações criadas estarão sempre se conectando e formando
novas tensões que o suprem para outras formações estéticas e/ou vivenciais.
Verifica-se um cruzamento entre estética e ética e/ou caráter, quando se
descobre que o belo pode despertar as virtudes positivas no indivíduo e, por isso,
deve fazer parte de sua educação.

Vamos para mais uma atividade prática?

Olhe para a pintura abaixo e observe atentamente seus detalhes, tais como:
 As cores que foram utilizadas.
 A disposição da figura no espaço.
 É uma obra figurativa ou abstrata?
 E você, qual é a sua maneira de perceber o mundo?
 Que sentimentos ela melhor representaria?

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FIGURA 4 – O NASCIMENTO DE VÊNUS, DE SANDRO BOTTICELLI, SÉC. XV

FONTE: Disponível em: <http://stelladauer.wordpress.com/2006/10/31/renascimento-e-outros-


movimentos-secularismo/> Acesso em: 18 fev. 2009.

A pintura de Botticelli foi feita por encomenda de Lorenzo Di Médici para


servir de afresco para sua residência. A tela retrata a deusa Vênus surgindo dentro
de uma concha em meio ao oceano, possivelmente foi inspirada na mitologia grega.
A repercussão desta obra não foi muito positiva na época, pois a arte era repleta de
temas católicos, além de não se ater (necessariamente) a religiosidade acreditava-
se que a obra tinha influências pagãs.
E você que influências pode perceber nesta obra?

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1.5 TERAPIA OU PSICOTERAPIA

Nesta unidade vamos abordar a terapia propriamente dita. E neste


momento, é importante explicar o porquê da escolha da psicologia como base neste
estudo. Levando-se em conta que o termo “terapia” permite inúmeras formas de
abordagem e diversos profissionais atuantes.
De acordo com a Associação Brasileira de Arteterapia, “podem atuar como
arteterapeutas profissionais com graduação na área de saúde como medicina,
psicologia, enfermagem, fisioterapia, etc, e que tenham curso de extensão em
arteterapia”.
Contudo, independente da graduação que o profissional tenha cursado é de
extrema importância que estude ou atualize seus conhecimentos em psicologia para
dar suporte a sua atuação profissional, permitindo que o profissional esteja
capacitado para fazer avaliações e intervenções arteterapêuticas.
Para tanto, esse curso, permite um estudo geral da origem da psicologia e
da sua evolução no decorrer da história do homem. É importante para o trabalho
terapêutico que esses conhecimentos sejam ampliados, com ajuda de cursos, livros,
especializações. Lembrando sempre que este curso não pretende formar
arteterapeutas, mas sim atualizar sobre os conhecimentos de arteterapia.

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1.6 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA PSICOTERAPIA

FONTE: Clip-art Word


Um retrospecto e uma breve visão panorâmica da atual psicologia formam o
conteúdo das considerações iniciais desta unidade, pois é de relevante importância
a psicologia para o desenvolvimento do trabalho do arteterapeuta.
O termo psico tem origem grega, vem de psique Ψ, cujo significado é alma.
Já o termo terapia, também de origem grega, tem o significado de tratamento ou
cuidado com a saúde. Desta forma, psicoterapia significa tratamento da alma.
Aqueles que tratam ou cuidam de almas são os psicoterapeutas.
Falando de uma maneira mais científica, poderíamos dizer que: “a Psicologia
é a ciência que estuda o comportamento humano e seus processos mentais, ou
seja, estuda o que motiva, sustenta o comportamento humano, os processos
mentais, as sensação, a emoção, a percepção, a aprendizagem, a inteligência...”
(Disponível em: <http://arthurcapivari.blogspot.com/> Acesso em: 18 fev. 2009)
Assim, qualquer disfunção comportamental ou “mental” é objeto de estudo e
atuação psicoterapêutica.
O homem, desde os primórdios da humanidade, vem desenvolvendo ações
para com o cuidado com as almas e/ou mentes. O Homem dito primitivo, ou pré-
histórico, de cerca de 5 a 10.000 anos, não conhecia a escrita e seus conhecimentos
eram passados oralmente de geração a geração. De modo geral, todas as
sociedades primitivas, viviam de forma totalmente integrada à natureza.
A concepção adotada nesta época admitia que o ser humano era um ser
integrado à natureza e ao Cosmos. Assim, o homem era parte integrante do todo, da

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natureza, e também formado por elementos desse todo. Essa visão explicativa sobre
a natureza humana deu origem a um sistema de explicações para se compreender o
mundo e o próprio homem.
Essas explicações ou princípios são chamados de pensamentos míticos,
cuja preocupação é dar uma explicação plausível para a existência de determinado
fenômeno. Assim, por exemplo, se explica a origem do universo por mitos sobre
Tupã. O pensamento mítico é característico do ser humano, e mesmo hoje,
utilizamos essa forma de pensar quando explicamos determinado fenômeno não
tendo como base o pensamento lógico científico.
As dramatizações, os rituais, o uso de ervas, plantas e animais eram
comuns nesta época. Tudo para restabelecer o equilíbrio entre Homem x Natureza.
No Xamanismo, uma filosofia de vida bastante antiga, que busca o encontro
do homem com a natureza e com seu próprio mundo interior, as práticas ritualísticas
individuais ou coletivas, as danças tribais, os sacrifícios, entre outras, eram as
formas de tratamento das almas, que adoeciam por perderem sua capacidade de
integração com a natureza. Nesse sentido, surge a arte como elemento de cura. A
confecção de bonecos (vodus), o uso da pintura corporal e ritualística, a confecção
de objetos específicos para as curas ou para uso do doente, as músicas e danças
entre outras, são elementos da arte que se associam ao tratamento da alma.

FIGURA 5 – XAMANISMO E RITUAIS

FONTE: Disponível em: <http://img.socioambiental.org/d/239479-1/yekuana_10.jpg>.


Acesso em: 18 fev. 2009.

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Dessa forma, a arte passa a integrar um código ou uma
linguagem a serviço das necessidades humanas. A arte
passa a ser uma forma de expressão do pensamento
humano, de suas visões de mundo, de seus
pensamentos, de sua forma de viver o cotidiano. A
pintura, o desenho, a escultura (criação de objetos de
barro, de madeira, de pedra, etc.) passam a ter um
objetivo, não só de expressão, mas também de ações
de cura.
A partir do momento em que o homem domina a escrita, a transmissão dos
conhecimentos toma outra dimensão, bem maior e mais abrangente. O mundo
ocidental tem como referência do início desse período, chamado de Idade Antiga, o
ano 600 a.C. na Grécia.
“Os primeiros pensadores gregos começaram a questionar a forma de
explicação da natureza por princípios míticos. Não era mais plausível uma
explicação que se baseasse apenas em suposições” (Disponível em:
<http://www.tesesims.uerj.br/lildbi/docsonline/4/9/294-Denise_Scofano.pdf> Acesso
em: 18 fev. 2009.)
A partir desse ponto, as coisas deveriam ser explicadas por elas mesmas,
isso é, deve-se explicar a natureza, compreendendo como ela é a partir de seus
próprios elementos. Assim, as primeiras explicações sobre o universo, versavam
sobre sua estrutura e formação. Buscando analisar do que as coisas são feitas e
como funcionam é que o conhecimento é produzido. A esse processo denominou-se
pensamento lógico.
O pensamento lógico deve ser capaz não só de explicar as coisas do
universo, mas também as coisas da própria natureza humana. Pensar, por exemplo,
qual é a essência da natureza humana. Como podemos nos conhecer? Quais são
nossas capacidades? Quais são nossas virtudes? Como posso entender a alma
humana?
Para responder a essas questões os filósofos gregos passam a desenvolver
suas teorias ou explicações. Platão pesquisou e pensou sobre a natureza

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transcendente do homem. Sócrates vai questionar a própria essência do ser
humano, em sua famosa frase: “Conhece-te a ti mesmo”, que revela a essência de
seu pensamento. Esse período é chamado de antropocêntrico.
FIGURA 6 – PLATÃO E SÓCRATES

FONTE: Disponível em: <http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/platao/imagens/platao-15.jpg>.


Acesso em: 19 fev. 2009.

A partir desse ponto, a alma é considerada como algo a ser desenvolvido,


visto que a condição natural do homem é desenvolver-se, e a condição patológica
ou de doença seria a incapacidade de desenvolvimento da alma. A cura para a alma
seria a recuperação da capacidade de seu desenvolvimento, e aí a filosofia teria um
grande papel. A arte da cura está mais para o intelectual do que para as ações
materiais. A cura da alma passa a ser dissociada da materialidade e da natureza, é
preciso entender a alma por meio de sua expressão moral (as paixões humanas) e
por meio de seu pensamento. Daí surge a ideia de que Sócrates foi o primeiro
psicoterapeuta, pois começou a usar da indagação, do raciocínio, como forma de
investigação e desenvolvimento da alma humana.
O conceito sobre alma começa a mudar a partir do domínio do pensamento
cristão, já a partir dos primeiros séculos até os anos 1200 d.C. aproximadamente. No
chamado período teocêntrico (Deus é o centro de tudo) todo o conhecimento deve
estar sob a perspectiva da bíblia. Deste modo, a alma humana é considerada como
dissociada do corpo. O corpo é o lugar do pecado, das imperfeições, do mal. A alma,
ou espírito deve prevalecer sobre o corpo, salvando o homem do pecado.

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O tratamento dado para as almas doentes são
os exorcismos, privações (jejuns alimentares),
sacrifícios, sangrias e flagelações, eram as formas
mais comuns de busca da cura para a alma doente,
sempre buscando o fortalecimento do espírito.
A partir do renascimento e o declínio do período de domínio religioso sobre a
ciência e a arte, aos poucos as ideias sobre alma começam a se desvincular da
religião. O pensamento de Descartes foi primordial nesse sentido. Sua frase
máxima: “Penso, logo existo”, traduz o sentido a ser dado à alma a partir de então. A
alma passa a ser considerada como razão. O adoecer psíquico passa a significar a
perda da razão, e então se reforça o sentido de loucura como irracionalidade.
À medida que as ciências eram retomadas, os estudos
sobre a biologia, a medicina e engenharia avançavam,
também as bases para uma nova maneira de se pensar o
psiquismo humano foram se estabelecendo.
O cérebro é reconhecidamente o órgão responsável
pela coordenação de várias atividades corporais, como a visão, audição e
pensamento. Os novos conhecimentos sobre o corpo humano deram margem para
se pensar em fenômenos específicos, tal como a memória e a percepção.
Com o objetivo de se estudar o fenômeno de como se tem a consciência da
percepção dos sentidos vão surgir os primeiros psicólogos. Entre eles Wundt,
considerado o pai da psicologia moderna. Seus estudos em laboratórios específicos
deram à psicologia o status de ciência autônoma. Assim, aquilo que era considerado
a alma, ou psiquismo, passa a ser objeto de estudo, agora com o nome de
consciência do homem.

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FIGURA 7 – WILHELM WUNDT (1832 – 1920)

Os laboratórios de Wundt implantados na Alemanha em meados do século


XIX foram a base para a divulgação da psicologia como uma ciência investigativa da
consciência humana.
A emergência do capitalismo, do mecanicismo e do empirismo foram fatores
coadjuvantes para uma nova compreensão do ser humano.
A divulgação dos conhecimentos de Wundt começa a alçar a Europa e a
América. Na Inglaterra, unem-se as influências das descobertas de Darwin (a
evolução das espécies) e os estudos comparativos sobre as capacidades e
habilidades humanas começam a se desenvolver. Cientistas como Galton elaboram
estudos sobre a hereditariedade e as diferenças individuais.
Nos Estados Unidos, no início do século XX, influenciado pelo forte
pragmatismo os cientistas buscaram aliar os estudos da natureza humana ao senso
de utilidade. Surge então a psicologia aplicada. Desse modo, a psicologia vai
estabelecendo mais um ramo além da investigação e passa a ser uma profissão. Os
conhecimentos avançam, os testes psicológicos começam a ser aplicados nas
empresas, no exército, nas escolas e por fim chega aos consultórios.
Enquanto isso, na Europa, inicia-se a consolidação da psicoterapia por meio
das descobertas de Freud. Em seus estudos sobre histeria e sonhos, Freud
descobre o inconsciente, e com isso a comprovação de que nem todos os nossos
comportamentos são conscientes e racionais, independente de a pessoa ser ou não
doente. Todo o ser humano tem um inconsciente sob o qual é construído seu eu ou
ego.

FIGURA 8 – SIGMUND FREUD (1856 – 1939)

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Os estudos da psicologia relevam que alguns comportamentos são ditados
pelo inconsciente e que é possível se ter acesso a ele por meio do processo de
análise dos sonhos, dos atos falhos e das “piadas” ou chistes. A esse processo
Freud denominou de psicanálise.
O seu seguidor mais brilhante, Carl Jung, começa a aplicar a psicanálise em
pacientes psicóticos. No entanto, os métodos de Freud não surtem os mesmos
efeitos. Jung passa, então, a utilizar outras formas de contato com seus pacientes.
Ele propõe que seus pacientes pintem, desenhem, façam esculturas, e outros tipos
de arte para expressar seus sentimentos.
Jung, psiquiatra e psicoterapeuta, um dos maiores estudiosos da vida
interior e um dos precursores da Psicologia Profunda, descobriu que o inconsciente
e os conflitos e traumas podem ser expressos pela arte. Entre 1907 e 1912,
colaborou com Freud a ponto de ter sido cogitado pelo mestre Sigmund como seu
sucessor.

FIGURA 9 – CARL JUNG (1875 - 1961)

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Jung revela a função do simbolismo nas artes e nas expressões do
inconsciente. Identifica que há temas universais comuns a todos os homens,
independente de origem, idade ou cor. Os arquétipos seriam expressões desses
temas, tal como os relacionados às funções de mãe (o oceano, por exemplo) e de
pai (o sol, por exemplo).
Jung também passa a investigar os mitos (lembram do pensamento mítico
mencionado no início do texto) e descobre que eles continuam sendo produzidos por
nossas mentes, embora recontextualizados.

FIGURA 10 – QUADRO SINTÉTICO DAS RAÍZES DA PSICOLOGIA (FREIRE,1998)

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1.7 IMPORTÂNCIA E UTILIZAÇÃO DA PSICOLOGIA E DA ARTETERAPIA

No contexto atual, estamos permeados pela necessidade de agilidade, perfeição,


tolerância, autoestima, consumo, equilíbrio, sucesso, poder, beleza, bom relacionamento,
família.
Mas será possível em nossa formação humana preencher todos esses requisitos?
Possivelmente não. Neste contexto surge a Psicologia, no sentido de melhorar
nossa capacidade para tolerar frustrações, melhorando nosso convívio social, nossa
capacidade de trabalho e por consequência, nossa autoestima e qualidade de vida.
As três grandes áreas de atuação da psicologia são:

PSICOLOGIA
CLÍNICA ESCOLAR OU ORGANIZACIONAL
EDUCACIONAL

Atualmente, entende-se que essas áreas de atuação se ramificam em atuações


mais específicas, mas também muito importantes dentro da ação do terapeuta, tais como:
psicologia do trânsito, psicologia hospitalar, psicologia forense, psicologia comunitária,
psicologia do esporte, dentre outras.
Apenas como destaque, pois faz parte da psicologia clínica, é relevante lembrar a
psicologia de grupo ou dinâmica de grupo, herança da gestalt e que constitui uma ala de
interesse e de grande utilização no momento. É uma técnica que é usada para melhorar o
relacionamento dos diversos membros de um grupo. Serve, também, para facilitar a
discussão de problemas nas empresas, nas escolas, na família, etc., o que, fora de uma
dinâmica de grupo, seria difícil e complicado.

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Hoje é comum, nas escolas, nas indústrias e em
áreas do comércio, do desporto, etc., contar com um
departamento de psicologia, responsável pela aplicação
de testes de aptidão, pela orientação e ajustamento do
grupo. A psicologia está presente em todos os ramos
da sociedade e tornou-se parte integrante e
imprescindível da vida moderna. A era do profissionalismo
trouxe a era da especialização, e os campos de atuação
do psicólogo são, hoje, mais concretos e específicos.
A psicologia de hoje se caracteriza pela abertura e democratização do seu
sistema global, o que gerou a enorme diversidade de interesse, de pesquisa, a
multiplicidade de correntes, compondo um painel de minisistemas. O uso do método científico
constitui parte integrante de suas atividades, o que comprova sua identidade como ciência.

FIGURA 11 – PSICOTERAPIA EM GRUPO

FONTE: Disponível em: <http://www.isn.org.br/imagens/terapia_de_grupo.jpg>


Acesso em: 18 fev. 2009.

A arteterapia permite atuação em qualquer ramo da psicologia. Pode-se


trabalhar com expressões artísticas no consultório (nos atendimentos individuais e
no grupo); nas escolas. A arteterapia ajuda a despertar a capacidade criativa e a
expressividade dos alunos; nas empresas, aumenta a motivação e a interação entre

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a equipe. Existem pesquisas de trabalhos arteterapêuticos realizados em hospitais,
escolas, comunidades, consultórios, grupos de adolescentes, escolas especiais e
empresas.
Trabalhando com arteterapia muitas descobertas são possíveis, desde a
mistura de cores até a composição de imagens que comunicam emoções reprimidas
ou desconhecidas. A alegria de tocar a argila, que materializa objetos e
personagens.
Segundo Philippini (1994) ser arteterapeuta é partilhar do prazer:

Prazer de participar de pontes para aqueles que já não podem ou querem


falar, pontes frágeis ou sólidas, com fios, arames, madeira ou às vezes
apenas sonhos... Prazer de ver na metamorfose de velhas caixas, o
surgimento de cofres, casas, castelos, configurando proteção e abrigo de
lembranças e desejos. Prazer de ver o nascimento de criaturas fantásticas
aparecendo de repente, das dobras de um retalho ou das muitas sobras do
lixo doméstico. Prazer, enfim, de ver surgir o novo, a possibilidade, a
promessa. No dia a dia, sou observadora participante e privilegiada da
abertura de novos canais de comunicação, que facilitam o acesso do
inconsciente, através das múltiplas formas de expressão, da
experimentação, criação, destruição e recriação de diferentes materiais
expressivos. (PHILIPPINI, 1994).

Na vida não existem somente prazeres, é claro. Muitas vezes, há problemas,


desarranjos, frustrações, tristezas, resistências, mas as cores, as imagens
disformes, também comunicam esses afetos. Assim, cabe ao arteterapeuta ajudar o
paciente a se equilibrar entre a euforia da alegria e o sofrimento da dor, acreditando
que o trabalho terapêutico produtivo resulta de muita dedicação, desde a escolha
adequada de materiais expressivos até o favorecimento de estratégias que
favoreçam transformações.
Philippini (1994) afirma que um processo arteterapêutico bem-sucedido
depende da harmonia de um complexo conjunto de variáveis, que facilitam a
descoberta de si mesmo. E para isso é necessário não perder de vista que os
processos de criação, apesar de singulares, são regidos por princípios universais e

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arquetípicos, e que os materiais expressivos, como veículos da criação, possuem
propriedades terapêuticas que devem ser conhecidas e respeitadas.
Desta forma, os recursos de expressão em Arteterapia poderão permitir que
acontecimentos aprisionados no inconsciente sejam simbolizados e configurados em
imagens, que possam conduzir à consciência informações deste universo obscuro. A
simbologia configurada em materialidade, leva à compreensão, transformação,
estruturação e expansão de toda a personalidade do indivíduo criador.

----------- FIM MÓDULO I -----------

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