Você está na página 1de 12

ESPECIAL

Por Cristina Tavelin

Quem produz
“verde”
no Brasil?
Levantamento feito por
Ideia Socioambiental
destaca as principais
tendências em produtos
verdes e revela quem
está aproveitando — e
como — oportunidades
de negócios associadas
à sustentabilidade

16  Ideia Socioambiental  DEZEMBRO 2009


N as últimas décadas, os produtos in­dus­tria­
li­za­dos trou­xe­ram uma série de facilida­
des de tal modo incorporadas ao co­ti­dia­no
que é difícil imaginar a vida moderna sem bens
de consumo, como a máquina de lavar rou­pas e
organizações receberam um
questionário com as seguintes
perguntas: (1) Sua empresa pos­
sui produtos sus­ten­tá­veis destina­
dos ao mercado bra­si­lei­ro? (2) Quais
o au­to­mó­vel, apenas para citar dois exemplos. são essas soluções, suas vantagens
Todo esse esforço de inovação, no entanto, não e a que públicos se destinam? (3) Qual
veio acompanhado da devida democratização o investimento destinado ao desenvolvimento
do acesso a tais benesses, tão pou­co da internali­ desses produtos?
zação dos custos dos impactos cau­sa­dos ao meio Finalizada a pri­mei­ra etapa, ­Ideia So­cioam­
am­bien­te para sua produção e consumo. bien­tal recebeu respostas de 20 com­pa­nhias,
Excesso de embalagens, utilização de ma­ cujo con­teú­do — apresentado, discutido e ana­
te­r iais não re­ci­clá­veis ou tóxicos, processos lisado a seguir — ajuda a refletir sobre o estágio
que demandam grande quantidade de água da produção verde no Brasil. Sai­ba o que pen­
e energia são algumas características da pro­ sam empresas, consumidores e es­pe­cia­lis­tas e
dução in­dus­trial do século 20, que em tempos tire também suas conclusões.
de escassez de recursos e aquecimento global
tornaram-​se objeto de preo­cu­pa­ção. Dian­te da Diferencial ou
pressão pública por soluções menos impactan­ pré-requisito?
tes em termos am­bien­tais e so­ciais, a susten­ Orgânico, am­bien­tal­men­te amigável, respon­
tabilidade tem ganhado ênfase nos processos sável, verde, carbono neu­tro, ecoe­f i­cien­te, sus­
de inovação e po­si­cio­na­men­to de mercado de tentável. São mui­tos os adjetivos utilizados para
mui­tas empresas, esforço que pode ser verifica­ descrever os atributos so­cioam­bien­tais de um
do pelo au­men­to do número de produtos dis­ produto. O  campo para desenvolvimento des­
po­ní­veis no mercado que oferecem vantagens sas vantagens também é bastante vasto. Vai des­
so­cioam­bien­tais. de a eliminação de subs­tân­cias tóxicas e redu­
A tendência, já consolidada em mui­tos paí­ ção de quantidade de matéria-​prima e energia
ses desenvolvidos, começa a dar si­nais nas eco­ por unidade produzida até a utilização de ma­
no­mias emergentes. E  o Brasil, devido às suas te­riais bio­de­gra­dá­veis ou re­ci­clá­veis e o prolon­
vantagens comparativas na­tu­rais (matriz ener­ gamento da vida útil dos produtos. Tais caracte­
gética limpa e rica bio­di­ver­si­da­de), além de um rísticas cons­ti­tuem um elemento importante de
mercado consumidor em expansão, apresenta di­fe­ren­cia­ção no mercado.
grandes oportunidades para o desenvolvimen­ No entanto, a responsabilidade pelos impac­
to sustentável. tos de todo o processo produtivo, assim como
No entanto, mui­tas empresas na­cio­nais ou no pós-​consumo, deveria ser um pré-​requisito
com atividades no País ain­da re­ceiam fazer gran­ para as empresas no ­atual contexto que coloca
des investimentos na área por não saberem a real de­sa­f ios urgentes como o combate às mudan­
disposição dos consumidores em recompensar ças climáticas. “Hoje, falamos de atributos so­
— por meio da sua decisão de compra — as solu­ cioam­bien­tais como algo es­pe­cial, que possui
ções “verdes.” Já os consumidores apontam como um di­fe­ren­cial. Mas, em breve, isso deve se tor­
bar­rei­ras ao consumo responsável a falta de op­ nar um padrão no mercado”, afirma Roberta Car­
ções e informações claras quanto aos atributos doso, pesquisadora do Centro de Excelência no
so­cioam­bien­tais e a di­fe­ren­cia­ção de preço em Varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGV ).
comparação aos itens con­ven­cio­nais. A trajetória mais comum percorrida pelas em­
À procura de respostas para este quadro, presas no campo da inovação sustentável co­
­Ideia So­cioam­bien­tal decidiu investigar quem meça com o lançamento de linhas de produtos
investe e quem consome produtos sus­ten­tá­veis ba­sea­das em atributos “verdes.” Desse modo, a
no Brasil. Nos últimos dois meses, a equipe de re­ grande maio­ria dos projetos nasce nos nú­cleos
dação levantou os prin­ci­pais estudos na­cio­nais e corporativos de pesquisa e desenvolvimento
in­ter­na­cio­nais sobre o tema e ini­ciou um levan­ que, em conjunto com as equipes de mar­ke­ting,
tamento que tomou como ponto de partida um assumem a missão de cons­truir soluções que in­
universo de 60 com­pa­nhias (B2B s, in­dús­trias de tegrem be­ne­fí­cios econômicos, am­bien­tais e so­
bens de consumo e varejistas). Contatadas, essas ciais, alinhadas às necessidades do consumidor.
DEZEMBRO 2009  Ideia Socioambiental  17
Para não errar a mão, algumas delas contam necessidade de uma medição padronizada das
com ferramentas específicas que orien­tam suas emissões de gases que cau­sam o efei­to estufa,
decisões de investimento. É o caso, por exemplo, além da importância de comunicar essas con­
da BASF, que implantou a análise de ecoe­f i­ciên­ clusões de forma clara ao consumidor. “O  pro­
cia, possibilitando a ava­lia­ção dos impactos ao duto acabado é ava­lia­do, inclusive, na fase de
longo do ciclo de vida. consumo. Essa pegada de carbono é mui­to mais
Hoje a empresa tem 350 projetos ma­pea­dos, significativa em detergentes, produtos de hi­gie­
entre eles produtos como o Ecobras™, um plásti­ ne pes­soal e cosméticos, nos ­quais grande parte
co bio­de­gra­dá­vel de fonte renovável que se com­ do ciclo de vida depende da forma de utilização
porta como um composto orgânico normal, po­ pelo consumidor”, ressalta Sergio Crude, gerente
dendo ser aplicado em diversas embalagens. de Engenharia e Sustentabilidade da Henkel.
A HP, por sua vez, conta, desde 2008, com um Até o final do projeto-​piloto, a empresa pre­
comitê executivo denominado HP  Eco ­Solutions tende fornecer análises para selantes utilizados
Team para atender à demanda de ne­gó­cios e na construção civil (de sua linha Sista) e de ade­
metas de sustentabilidade da empresa, com sivos para embalagem in­dus­trial (da linha Lio­fol),
foco em comunicação junto aos ­stakeholders. dis­po­ní­veis no mercado na­cio­nal.
Os  computadores da companhia foram os pri­ Responsável pela revolução do plástico no
mei­ros a atingir 80% de efi­ciên­cia energética. século 20, a indústria petroquímica começa a
Para Kami Sai­di, diretor de sustentabilidade desenvolver alternativas a esse ma­te­rial de uso
am­bien­tal da HP, quando se fala em sustenta­ intensivo de petróleo. O  po­lie­ti­le­no verde da
bilidade, só discurso vale pou­co: ou a empresa ­Braskem é um bom exemplo de investimento
exerce o con­cei­to na prática ou simplesmente nessa direção. Além de ser bio­de­gra­dá­vel, o ma­
não o faz. “Não é apenas um ato, mas um proces­ te­rial provém da cana-​de-açúcar, uma fonte re­
so que começa na concepção do produto, passa novável. O au­da­cio­so projeto para produção do
pela manufatura, e segue na dis­tri­bui­ção e pós-​ PE Verde (também chamado de plástico verde)
consumo. Mui­tas empresas podem alegar, por foi anun­cia­do em julho de 2007 e a planta para
exemplo, que trabalham com logística reversa a sua produção começou a operar em ou­tu­bro
e, por isso, seus produtos são sus­ten­tá­veis. Mas de 2009. O esforço da empresa também se dá em
não basta. É  necessária uma gestão completa”, ou­tras duas frentes: na divulgação do con­cei­to
ressalta o diretor. do po­lie­ti­le­no verde em todo o mundo e na bus­
ca de par­ce­rias com clien­tes e pesquisa em novos
Ciclos produtivos produtos. O investimento total, que com­preen­de
fechados a construção da planta, é de R$  500 mi­lhões.
Estabelecer ciclos produtivos fechados é uma A em­prei­ta­da tem estimulado a empresa a re­
das preo­cu­pa­ções das com­pa­nhias. Dessa forma, ver processos produtivos em ou­tros segmentos
além da retirada e transformação das ma­té­rias-​ que ain­da utilizam derivados do petróleo. “A área
primas, a destinação final dos produtos também de desenvolvimento de mercado au­xi­lia nossos
passa a ser considerada no projeto. clien­tes a reduzir o peso das embalagens e fa­
Na  Philips, o con­cei­to EcoDesign consiste zer estruturas mais leves, que ajudam a atender
em diretriz para o desenvolvimento de uma sé­ a demanda de produtos mais sus­ten­tá­veis”, des­
rie de produtos, com cinco focos prin­ci­pais de taca Leo­no­ra No­vaes, responsável pelo projeto
cria­ção, chamados ­green focal ­areas, que in­cluem PE  Verde da ­Braskem.
aspectos como peso, uso de subs­tân­cias tóxicas, No Brasil, a companhia já tem contratos as­
consumo de energia, reciclagem/descarte final sinados com a Brinquedos Estrela, que lançou
e embalagem. Para a produção de lâmpadas, uma edição limitada do Banco Imo­bi­liá­rio Sus­
existe uma preo­cu­pa­ção extra re­la­cio­na­da ao tentável, fabricando as peças plásticas do jogo
tempo de vida útil. em PE Verde. Outra par­cei­ra é a ­Cromex, líder
A Henkel, por sua vez, participa da ini­cia­ti­va bra­si­lei­ra de concentrados de cor, e a ­Acinplas,
global ­Product ­Carbon ­Footprint (Pegada de Car­ que produz sacos plásticos para hortifruti. Re­
bono de Produto), que visa mensurar as emissões centemente, a Braskem também firmou uma
de carbono dos produtos ao longo de todo o ci­ parceria com a ­Johnson & ­Johnson para produ­
clo de vida. O projeto, que teve seus pri­mei­ros re­ zir as embalagens da linha de protetores solares
sultados divulgados recentemente, identificou a ­Sundown a partir do verão de 2011/2012.
18  Ideia Socioambiental  DEZEMBRO 2009
A somatória de esforços, recursos fi­nan­cei­ multidisciplinar, com en­ge­nhei­ros, es­pe­cia­lis­tas
ros e expertises au­men­ta as chances de suces­ em métodos e processos, fornecedores e co­
so de qualquer projeto verde. Essa foi a aposta laboradores da fábrica, trei­nan­do-​os, quando
da ­Siemens e da Ele­tro­pau­lo ao desenvolverem necessário, na sede alemã.
conjuntamente o transformador a seco submer­ Atuan­do no mesmo segmento, a ­General
sível ­Drysub, que não utiliza óleo e não contami­ ­E letric dispõe de uma linha denominada
na o meio am­bien­te. Para ­criar soluções desse ­Ecomagination, que reú­ne soluções como a lo­
tipo, a empresa mobiliza um grupo de trabalho comotiva ­Evolution, capaz de reduzir as emissões

Empresas Exemplos de produtos: Alguns atributos ambientais: Investimento:


Linha Grun
◆◆ substituição de materiais por alternativas mais sustentáveis; redução/ Não divulga números
Adidas eliminação de toxicidade; utiliza material reciclado e orgânico em
produtos e embalagens
◆◆Linha MacBook corpos monobloco feitos de alumínio altamente reciclável; Não divulga números
◆◆iMac telas mais econômicas em termos de energia; redução/eliminação
Apple ◆◆Mac mini de toxicidade; baterias embutidas resultam em menor desperdício;
produtos e embalagens com baixo volume de material; maior parte
dos materiais é reciclável.
◆◆Toque de Seda ; Limpa Fácil, produtos à base de água; apresentam menor emissão de compostos Cerca de € 1,3 bilhão investidos
Fosco e Semi‑Brilho orgânicos voláteis (VOC); utilizam plástico biodegradável de fonte em pesquisa e desenvolvimento.
Basf (Tintas imobiliárias) renovável; tem decomposição sustentável
◆◆EcobrasTM

Braskem Polietileno (plástico verde)


◆◆ capaz de capturar CO2 da atmosfera; de fonte 100% renovável, RS 500 milhões para a construção
da planta

Bunge Creme vegetal Cyclus


◆◆ embalagem biodegradável; proveniente de fonte renovável. R$ 10 milhões para o desenvolvimento
Nutrycell: desta nova embalagem.
Bioplástico Ingeo
◆◆ substituto ao plástico; biodegradável; se decompõe na natureza em até Não divulga números
Cargil 4 meses; óleos industriais feitos a partir de óleos vegetais
Linha de óleos industriais
◆◆

Carrefour Linha Viver Orgânico


◆◆ produtos livres de agrotóxicos, pesticidas, antibióticos; vem de técnicas Não divulga números
de manejo que preservam o meio ambiente
◆◆Locomotiva Evolution locomotiva: economiza 40% comparado com os modelos anteriores; A média de investimentos anual
◆◆Pás eólicas economiza 10% menos no ciclo de vida (2008); Ecomagination: 80 em Pesquisa e Desenvolvimento de
GE ◆◆Linha Ecomagination produtos eco‑certificados no mundo e 38 em circulação no Brasil produtos da linha Ecomagination, é de
US$ 1 bilhão e a meta da empresa é
chegar a US$ 1,5 bi até 2010.
Chevrolet: Celta, Prisma,
◆◆ tecnologia flex fuel; economia de energia; reaproveitamento de água; nos últimos anos tem sido da ordem
GM Corsa, Astra, Vectra, Meriva, sistema de compostagem de US$ 500 milhões por ano.
Zafira, Blazer, Montana, S10
Cola Bastão Pritt / Linha de
◆◆ embalagens de material reciclado; materiais adesivos feitos a partir Cerca de 3% do faturamento total
Henkel selantes e adesivos para de produtos renováveis; redução/eliminação de toxicidade; produtos
construção biodegradáveis; geram expressiva economia de energia/material; mais
seguros na aplicação; redução nos custos/consumo de energia e água.
◆◆Impressoras multifuncionais ocupam menos espaço; utilizam até 40% menos energia; produzidos Não divulga números
◆◆Desktops com até 50% de plástico reciclado; Desktops de longa vida; incluem
HP ◆◆Notebooks Comerciais processador energético‑eficiente; embalagem reciclável.
◆◆PCs de Negócios

◆◆Servidor HP ProLiant.

Veículo Cityclass
◆◆ menores níveis de emissão de poluentes; veículos homologados Não divulga números
Daily elétrico
◆◆ para rodar com B5 (5% de biodiesel misturado no tanque); Utilizam
Iveco combustíveis renováveis, feito a partir de biomassa, soja, dendê, etc;
Baterias sem efeito memória e 100% recicláveis ao final da vida útil;
Significativa redução de ruídos; redução/eliminação de toxicidade
MOTOTM W233 Eco
◆◆ estrutura externa feita de material reciclado de garrafas plásticas; Não divulga números
Motorola embalagem e manual produzidos a partir de papel reciclado; oferece
bateria com maior vida útil.

DEZEMBRO 2009  Ideia Socioambiental  19


de carbono em 40% na comparação com os mo­ pela companhia. Hoje, o programa conta com 75
delos das pri­mei­ras locomotivas certificadas nos itens de quase 200 fornecedores já classificados.
EUA de acordo com as especificações am­bien­tais “A própria empresa toma a ini­cia­ti­va de procu­
da agência reguladora do governo. Além disso, o rar os fornecedores que possam se enquadrar
modelo pro­por­cio­na uma economia de custo de no perfil, levar o know-​how e au­xi­liar na adap­
manutenção da ordem de 10%. No Brasil, a com­ tação necessária do produtor para uma pos­te­
panhia desenvolve pás eó­li­cas por meio de uma rior certificação”, revela Pau­lo Pia­nez, diretor de
empresa par­cei­ra, a Tecsis. Lançada em 2004, a sustentabilidade do ­Carrefour.
linha ­Ecomagination, que contabiliza cerca de 80 O ­Walmart ini­ciou em 2009 o projeto ­Index,
produtos em todo o mundo, já tem 38 deles em um sistema de indicadores para produtos. A pro­
circulação no País. posta é desenvolver, em cinco anos, um sistema
Para o presidente e CEO da GE para a América por meio do qual se consiga conferir uma nota
Latina, Rogério Patrus, há uma demanda signifi­ de sustentabilidade para cada item, inserindo-​
cativa por soluções mais sus­ten­tá­veis. “O gover­ a na embalagem como se fosse um código de
no está investindo e requisitando mais tecnolo­ barra, de modo que o consumidor tenha aces­
gia, assim como empresas bra­si­lei­ras do porte so à informação de natureza so­cioam­bien­tal na
da Petrobras, Vale e Em­braer. Vemos um merca­ hora de decidir.
do crescente para compartilhar nossas soluções.
Há uma grande oportunidade para desenvolver Eco-design, design
produtos e projetos em transportes, energia, in­ sustentável ou
fraes­tru­tu­ra e recursos hídricos, entre ou­tros”, simplesmente design
destaca o CEO da GE . O desenvolvimento de um produto sustentável
Na área de varejo, as par­ce­rias do programa efi­cien­te só se concretiza com o envolvimen­
Garantia de Origem, do ­Carrefour, envolvem to de pro­f is­sio­nais que tenham o con­cei­to da
de pequenos a grandes produtores para aten­ sustentabilidade como parte da sua formação
der as exi­gên­cias so­cioam­bien­tais estabelecidas e atua­ção pro­f is­sio­nal. O  designer não foge à
20  Ideia Socioambiental  DEZEMBRO 2009
regra. É um dos agentes mais importantes nesse que diz res­pei­to a produtos concebidos e proje­
processo de mudança. tados para a produção manufaturada ou semi-​
Membro do quadro de con­se­lhei­ros do Insti­ industrial; e o ­design sustentável, con­cei­to re­
tuto de Design para Desenvolvimento Susten­ lativo à concepção de  milhões de exemplares
tável e pesquisador do Laboratório ­InterDesign, destinados à indústria e ao alto consumo. O de­
Fernando Mascaro distingue três frentes de atua­ sign, segundo Mascaro, só pode ser considerado
ção: o ­design da necessidade, resultado da cria­ti­ sustentável quando prevê, desde o início do pro­
vi­da­de de quem não tem acesso a um bem ou jeto, aspectos como matéria-​prima e redução de
produto e precisa (ou quer) tê-​lo; o eco-​design, ma­te­riais na concepção, entre ou­tros cri­té­rios.

Empresas Exemplos de produtos: Alguns atributos ambientais: Investimento:


◆◆Linha Ekos produtos formulados à base de ativos sustentáveis; embalagens com Em 2008, a empresa investiu cerca
Natura menor impacto ambiental; promovem o desenvolvimento social e de R$ 3,3 milhões em projetos
econômico de comunidades produtoras; o envase da linha Tem em relacionados às mudanças climáticas
sua composição 30% de PET reciclado
◆◆Nokia Evolve, XpressMusic capas em bioplástico; matéria‑prima proveniente de fontes Não divulga números
E55, Navigator, Classic renováveis; embalagens pequenas e recicláveis; fabricados
Nokia ◆◆Carregadores de Alta com material reciclado; menor consumo de energias
Eficiência
◆◆Produtos Orgânicos viabiliza os negócios entre pequenas organizações produtivas; Quando necessário, a empresa orienta
Pão‑de‑açúcar Disponibiliza um espaço nas lojas para a comercialização e indica possíveis caminhos para
desses produtos que os produtores desenvolvam
seus produtos.
◆◆SmartExam, produtos mais leves; redução no consumo de energia; menos material € 282 milhões em 2008 em Inovações
◆◆Aparelho para bronzeamento nas embalagens; vida útil prolongada; mais eficiência em termos Verdes – gasto em Pesquisa e
Innergize energéticos no caso das lâmpadas; eliminação de componentes Desenvolvimento relacionado ao
◆◆Televisor FlatTv 37PF7320A, externos; menos material nas embalagens; mais eficiência e maior vida desenvolvimento de novas gerações
Philips ◆◆Lâmpadas Mini MasterColor, útil; redução/eliminação de toxicidade de Produtos Verdes e tecnologias.
◆◆Módulo semicondutor BGY 504

◆◆Linha de lâmpadas e reatores

Eco MASTER
◆◆Samsung Solar (E1107), Samsung Solar é movido a energia solar; redução de toxicidade; Mundialmente US$ 6,3 bilhões em
◆◆Linha ECOFIT consomem 33% menos energia que outros equipamentos da mesma pesquisa e desenvolvimento em 2007.
Samsung ◆◆HD de 500 GB da série F2EG categoria (linha Ecofit); reduzem o consumo de energia em até 40% Possui dois centros de Pesquisa &
◆◆TVs com tecnologia LED (HD e TVs); dispõem de um modo de economia de energia (TVs); Desenvolvimento na América Latina,
equipamentos livres de componentes orgânicos voláteis. localizados em Manaus (AM) e
Campinas (SP).
◆◆Raios‑X Axiom Iconos R200 Drysub, primeiro transformador a seco submersível; não utiliza óleo; Investe cerca de € 3,4 bilhões em
◆◆Turbinas modelo SST 300 utiliza 70% menos componentes do que o modelo anterior pesquisa e desenvolvimento de
Siemens ◆◆Transformador Drysub produtos, cerca de € 1,4 bilhão de
euros é aplicado exclusivamente no
desenvolvimento de produtos verdes
◆◆C901 GreenHeart™ manual eletrônico incluso no próprio aparelho; Feito em plástico Não divulga números
◆◆GreenHeart Naite reciclado; possui display que economiza energia; pintura à base
Sony Ericsson de água; Feito com 50% de plástico reciclado; possui o aplicativo
Ecomate para escolhas ecologicamente corretas (Naite); Possui
calculadora de Emissão de Carbono (Naite); carregador de baixo
consumo de energia.
◆◆Polo BlueMotion proporciona redução de 15% no consumo de combustível do que O investimento total no
Volkswagen modelos convencionais Brasil destinado à pesquisa e
desenvolvimento no período de 2007
a 2011 é de R$ 3,2 bilhões.
◆◆Linha Sentir Bem preço mais baixo do que do que líderes da categoria com mesmo Não trabalha com esse número,
◆◆Sabão em pedra TopMax desempenho; produto de ciclo fechado (Sabão em pedra TopMax); porque para a empresa não existe
Wal‑Mart ◆◆Telefone Ecoline plástico feito de carcaça de computadores usados (Telefone Ecoline); uma definição clara do que é um
◆◆Cobertor Pet parceria com fornecedores; cobertor 100% feito de garrafa PET produto sustentável

DEZEMBRO 2009  Ideia Socioambiental  21


“Hoje no Brasil está mais forte o eco-​design, de energia e 5% nas emissões de CO ² durante
voltado para geração de renda em Ongs. São arti­ a fabricação. As embalagens devem chegar ao
gos de pou­ca escala, diferente do design susten­ Brasil a partir de 2010, com foco ini­cial na pro­
tável, que tem como fundamento atender a uma dução vinícola e futuramente na de cervejas e
indústria de grande porte”, avalia o es­pe­cia­lis­ta. destilados. A  empresa estima que 30% da sua
O design do produto em si tem sido um dos produção na­cio­nal será composta por garrafas
maio­res dilemas para os pro­f is­sio­nais da área — dessa linha.
o que revela a necessidade de transição do de­ Nos produtos de informática, o peso tem
sign au­to­ral, da produção de peças específicas, sido reduzido sem ne­ces­sa­ria­men­te interferir
para um processo cria­ti­vo ba­sea­do no grupo e na sua qualidade e fun­cio­na­li­da­de. Um  exem­
em produtos de grande escala. plo são as impressoras da linha Injet da HP, que,
De acordo com Mascaro, essa é uma questão há alguns anos, pesavam de 5 a 7 quilos, e hoje
mui­to importante para a área. Mas, para que se em dia não passam de 3 a 5 quilos, dependen­
concretize, o pro­f is­sio­nal deve ser multidiscipli­ do do modelo.
nar e conhecer melhor os ma­te­riais e processos. Segundo Carlos Werner, diretor de mar­ke­ting
“As  empresas colocam milhares de exemplares corporativo da ­Samsung, esse é um movimento
de um produto no merca­ geral do mercado de informática. “Todos os pro­
do por ano, e mui­tas vezes, dutos estão ficando mais leves, rápidos e econô­
Para não levar
o designer não está prepa­ micos. Com um produto mais leve, por exemplo,
gato por lebre… rado para projetar dessa for­ utiliza-​se menos ma­te­rial”, avalia.
ma porque os pro­f is­sio­nais Para Mascaro, o ­atual momento da produ­
Entenda o que significa alguns atributos so­cioam­bien­tais
desconhece a ca­deia produ­ ção mun­dial impõe um desafio con­cei­tual: ou o
Orgânico: produto obtido sem a utilização de químicos ou
tiva”, avalia. design é sustentável ou não é mais design. “Não
de hor­mô­nios sintéticos que favoreçam o seu crescimento
Na opi­nião do es­pe­cia­ faz mais sentido para a rea­li­da­de de hoje pen­
de forma não natural.
lis­ta, questões de consumo, sar design sem levar em conta o con­cei­to da
Ciclo produtivo fechado: além das etapas con­ven­cio­nais
matéria-​prima, água, eletri­ sustentabilidade. Refiro-​me ao desenho in­dus­
de um processo produtivo (transformação de ma­té­rias-​ cidade, re­sí­duos e produ­ trial, não ao design como objeto de decoração.
primas, produção e uso dos produtos), com­preen­de o ção, não devem ser dei­xa­das As  escolas acabam formando mais escultores
pós-​consumo. Dessa forma, o projeto dos produtos deve apenas para a engenharia. do que pro­f is­sio­nais preparados para entender
pro­por­cio­nar sua separação, reu­ti­li­za­ção ou reciclagem. Na medida do possível, pre­ todo o processo. Tanto os designers como as
Ciclo de vida: com­preen­de a trajetória de um produto ou cisam ser valorizadas e re­ empresas de­ve­riam se antecipar à demanda do
processo, desde o seu início (extração das ma­té­rias-​primas) solvidas no início do pro­ consumidor, assumindo o papel de agentes da
até a destinação final, consumo e pós-​consumo. Por essa jeto. “A  produção pode transformação”, avalia.
razão, a metodologia para ava­liar os impactos ao longo aper­fei­çoar ain­da mais um A quantidade de embalagem também tem se
do ciclo de vida de um produto ou processo também é produto, mas é obrigação mostrado um aspecto cada vez mais importante
chamada de “análise do berço ao túmulo”. do designer saber disso an­ para uma so­cie­da­de sustentável.
Pegada de Carbono de Produto: trata-​se de uma análise que tes — assim ele estará pra­ No início, o desenvolvimento de uma em­
tem como objetivo mensurar todas as emissões resultantes ticando o design susten­ balagem sustentável exige muito esforço de
do processo produtivo de determinado item e, em alguns tável. Senão ele pode até pesquisa e investimento por parte da empresa.
casos, considera-​se também os gases de efei­to estufa con­ti­nuar fazendo um bom “Há o custo econômico que envolve a intenção
gerados no consumo. desenho, com um bom re­ de tornar aspectos de um produto menos im­
Carbono neu­tro: produto ou processo, cujas emissões de sultado estético, mas não le­ pactantes”, avalia Sai­di, da HP. Quan­do a compa­
gases de efei­to estufa foram mensuradas e compensadas vará em conta a sustentabili- nhia buscou desenvolver a proteção e a emba­
a partir de me­to­do­lo­gias de sequestro de carbono, sendo dade”, ressalta. lagem das impressoras usando os seus pró­prios
a mais comum o plantio de árvores. No esforço de conside­ re­sí­duos, não encontrou fornecedores que a pu­
Biodegradável: todo ma­te­r ial que após o seu uso pode rar a ca­deia produtiva des­ dessem au­xi­liar nessa em­prei­ta­da por um custo
ser decomposto pelos mi­croor­ga­nis­mos ­usuais no meio de o início, a fabricante de ra­zoá­vel para concorrer com o isopor — fácil e ba­
am­bien­te. vidros ­Saint-​Gobain aposta rato de se conseguir, mas am­bien­tal­men­te mais
Reciclável: todo ma­te­rial que após ser utilizado pode ser na garrafa Ecova, cuja fabri­ pre­ju­di­cial, por ser de difícil reciclagem. “Arcamos
reu­ti­li­za­do para fabricação de novos produtos cação utiliza menos matéria-​ com o custo extra até que tivéssemos uma escala
Reciclado: pro­ve­nien­te do processo de reciclagem de algum prima por conter 10% de vi­ que permitisse a via­bi­li­da­de econômica. De­pois
ma­te­rial já manufaturado. dro reciclado — o que gera de dois a três anos, alcançamos o equilíbrio de
redução de 3% no consumo custo”, ressalta o diretor.
22  Ideia Socioambiental  DEZEMBRO 2009
Na ava­lia­ção de Mascaro, o designer contem­ feita à base de resina sintética, hoje é produzida
porâneo deve con­ci­liar a atratividade das em­ com poliglucosídio, um derivado de açúcar, que
balagens com total res­pei­to ao planeta. “Preci­ torna o produto bio­de­gra­dá­vel.
samos projetar para haver o menor consumo O PE Verde da Braskem também amplia o le­
possível de ma­té­rias-​primas, focar em embala­ que de opções para subs­ti­tui­ção de subs­tân­cias
gens com menos combinações de ma­te­riais, mais não-​biodegradáveis. Destinado à indústria au­
simples, porém, sem perder sua essência. Elas de­ to­mo­bi­lís­ti­ca, de embalagens ali­men­tí­cias, cos­
vem seduzir o consumidor, além de serem fá­ceis méticos e artigos de hi­gie­ne pes­soal, o ma­te­
de desmontar e ocupar o menor volume possível rial apresenta o mesmo aspecto e pro­prie­da­des
no transporte, estocagem e descarte.” dos plásticos tra­di­cio­nais, além de capturar CO ²
da atmosfera — uma tonelada de resina verde
Reduzir material, eliminar capta 2,5 t de gás carbônico. “Não estamos mais
substâncias tóxicas, preo­cu­pa­dos apenas com o que acontece den­
reciclar e reutilizar tro das nossas fron­tei­ras. Também buscamos
Um dos prin­ci­pais aspectos da nova geração de formas para que a ca­deia do plástico seja mais
produtos sus­ten­tá­veis consiste na difícil e fun­ sustentável, desenvolvendo, por exemplo, pro­
damental subs­ti­tui­ção de subs­tân­cias nocivas dutos que au­xi­liam os clien­tes a reduzir o consu­
ao meio am­bien­te por ou­tras mais ami­gá­veis. mo de matéria-​prima e emissões de CO ²”, ressalta
E  também pelo rea­pro­vei­ta­men­to de ma­te­riais Leo­no­ra, da Braskem.
fei­tos a partir de recursos finitos na composição Para o consumidor final, as opções do merca­
de novos itens. do bra­si­lei­ro abrangem os mais diversos segmen­
Na  Henkel, a clássica cola em bastão Pritt tos. A  coleção ­Adidas Originals, possui a linha
possui, atual­men­te, cerca de 90% dos ma­te­ Grün de rou­pas, calçados e aces­só­rios elabora­
riais adesivos compostos de produtos re­no­vá­ dos com ma­te­riais re­ci­clá­veis, orgânicos e bio­de­
veis. Há  tempos, sua fórmula trocou elemen­ gra­dá­veis. e a coleção Grün (palavra que significa
tos à base de petróleo por amido natural. Antes “verde” em alemão). A fabricação dos produtos
DEZEMBRO 2009  Ideia Socioambiental  23
da linha conta com fibras na­tu­rais como hemp, Destacam-​se soluções como celulares que
juta, bambu, fibra de milho e algodão mistura­ fun­cio­nam a partir de energia solar e emitem si­
dos à soja e sementes de girassol. nais quando a bateria já está carregada — evi­
Os produtos da linha demandam pou­cos tando o desperdício de energia dos carregado­
tingimentos e reu­ti­li­zam ma­te­riais como garra­ res. Esses, por sua vez, também têm reduzido
fas PET e borracha de ­pneus. “Existem cores es­ subs­tân­cias nocivas e utilizado ma­te­riais como
pecíficas obtidas a partir do algodão orgânico, plástico bio­de­gra­dá­vel.
o bambu e ma­te­riais reciclados”, destaca o ge­ Aparelhos como o ­Samsung Solar — alimen­
rente de comunicação da ­Adidas, Pau­lo Zi­liot­ tados pela energia do sol — tendem a ganhar
to. Por meio do projeto ­Better ­Place, a empresa espaço e importância com di­fe­ren­ciais significa­
planeja tornar sustentável toda a sua produção tivos para o consumidor final. Além disso, o es­
no longo prazo. forço para reduzir ma­te­riais agressivos ao meio
No segmento au­to­mo­ti­vo, as questões ma­ am­bien­te (como chumbo e cromo) também faz
te­riais re­la­cio­nam-​se ao consumo de energia e à parte dos planos da empresa. “Nossos produ­
busca de com­bus­tí­veis mais tos já estão praticamente livres dessas subs­tân­
limpos. A ­G eneral ­M otors cias. E mesmo as que ain­da não conseguimos ba­
Mercado promissor do Brasil, já possui toda a li­ nir, são controladas de forma mui­to mi­nu­cio­sa”,
nha de produtos no País com ressalta ­Werner, da ­Samsung.
Alguns números divulgados por algumas com­pa­nhias a tecnologia flex fuel, por Exemplos não faltam. Os monitores da Linha
revelam um cenário promissor para os produtos verdes. meio da qual os veí­cu­los po­ T – ­SyncMaster são fabricados com matéria-​prima
As vendas da ­Philips no mundo, por exemplo, au­men­ta­ dem utilizar os com­bus­tí­veis 100% reciclável, o monitor ECOF it dispensa pintu­
ram 12,5% em 2008, crescendo para 22,6%, ante 19,8% gasolina ou etanol, usando ra em spray e compostos orgânicos vo­lá­teis em
em 2007. Em 2006, foram introduzidos no mercado 57 qualquer proporção na mis­ sua estrutura e os da Série 6 não utilizam cola nem
produtos da linha ­Green ­Flagships, representando um au­ tura dos dois. A  picape S10 , parafusos em sua montagem. No quesito de re­
men­to de 24% em relação aos 46% de 2005. Atual­men­te, por exemplo, é a única no dução de energia, a nova geração de televisores
o ­Green ­Flagships possui mais de 200 itens, com vendas seu segmento que dispõe de LCD conta com a tecnologia LED, que gera até
to­tais de € 2,2 bi­lhões. dessa tecnologia. Anual­men­ 40% de economia. A linha foi mui­to bem recebi­
Na Sie­mens, a re­cei­ta originada da venda de produtos te, a GM dedica investimen­ da pelos consumidores. Mas, segundo Verner, não
sus­ten­tá­veis foi de cerca de € 17 bi­lhões (23% da re­cei­ta tos na ordem de US$  500 mi­ há como definir se um clien­te paga a mais por um
total). A empresa almeja chegar a € 25 bi­lhões em 2011, lhões ao desenvolvimento produto desse tipo porque ele é ecologicamente
con­tri­buin­do para abater 275 mi­lhões de toneladas de CO . de novas soluções. correto ou porque é mais sofisticado. Em seu pro­
²
A companhia fatura anual­men­te € 77 bi­lhões, 19 bi­lhões A Iveco, por sua vez, cesso de apuração, ­Ideia So­cioam­bien­tal des­
dos ­quais faturados por sua linha de produtos verdes. apresentou recentemente cobriu, desde logo, que inexistem pesquisas no
ao mercado o ­Daily elétrico, Brasil para ava­liar o peso dos atributos so­cioam­
pri­mei­ro veí­cu­lo do tipo na categoria de carga bien­tais na decisão de compra dos consumido­
da América Latina e que também conta com ba­ res na­cio­nais. “Não estamos lançando produtos,
te­rias 100% re­ci­clá­veis ao final da vida útil. A em­ cujo único apelo seja o fato de serem ecologica­
presa possui ou­tras linhas de pesquisas, como mente corretos. Do nosso ponto de vista, todos
em combustível renovável, fei­to a partir de bio­ os produtos devem ter essa característica”, avalia
mas­sa, soja, dendê, pinhão-​manso e girassol, en­ o diretor da ­Samsung.
tre ou­tras fontes. Foi uma das pri­mei­ras a adap­ Já a Motorola lançou no Brasil, recentemente,
tar seus veí­cu­los para o B5 (mistura de até 5% de o MOTO™ W233 Eco, pri­mei­ro aparelho do mun­
bio­die­sel e 95% de die­sel). do fei­to par­cial­men­te de garrafas plásticas — o
produto tem 25% da sua estrutura externa fei­ta
Melhores soluções a partir desse ma­te­rial reciclado. Através de uma
exigem pesquisa e parceria com a ­Carbonfund.org™, a empresa visa
desenvolvimento aplicados compensar todo carbono emitido na fabricação,
A  combinação design e tecnologia de ponta dis­tri­bui­ção e uso do celular com investimentos
costuma seduzir até mesmo o mais contido dos em projetos de preservação, reflorestamento e
consumidores. O setor de ele­troe­le­trô­ni­cos sabe energia renovável. A companhia também inves­
bem o poder dessa dupla. Aos pou­cos, felizmen­ te há cerca de dez anos no programa ECOMOTO,
te, as questões so­cioam­bien­tais começam a re­ que engloba, entre ou­tras atividades, a recicla­
presentar atributos relevantes nesse segmento. gem de ba­te­rias e celulares de qualquer marca,
24  Ideia Socioambiental  DEZEMBRO 2009
que podem ser depositados em urnas presentes ­ lueMotion. Essas pesquisas levantam claramen­
B
nos serviços au­to­ri­za­dos da companhia. te as expectativas e desejos dos clien­tes”, desta­
No segmento de informática, a HP avalia to­ ca Fabrício Bion­do, gerente executivo de plane­
das as etapas da ca­deia produtiva, ge­ren­cian­ jamento de ­marketing da ­Volkswagen do Brasil.
do o ciclo de vida de seus produtos por meio
do HP Eco ­Solutions. A sua linha de impressoras Educação de consumidores
de alto volume (grande porte) gera 40% de eco­ é palavra de ordem
nomia em energia. Já  os produtos de impres­ Representando o elo final entre produtores e
são e imagem são, normalmente, de 70% a 85% consumidores, o varejo desempenha papel cru­
re­ci­clá­veis ou re­cu­pe­rá­veis, enquanto ­desktops cial na educação para a sustentabilidade de mi­
e ­notebooks (até 90% re­ci­clá­veis ou re­cu­pe­rá­ lhões de pes­soas que passam por seus estabele­
veis em peso) economizam 25% de energia em cimentos todos os dias. Algumas redes, inclusive,
relação aos índices de 2005. desenvolvem suas pró­prias linhas de produ­
A ­A pple, por sua vez, tem desenvolvido tos am­bien­tal­men­te ami­gá­veis para estimular o
­notebooks com corpos monobloco fei­tos de alu­ consumo e ganhar vantagem competitiva.
mínio altamente reciclável e telas de LED re­troi­ Na ava­lia­ção de Roberta, da FGV, o varejo en­
lu­mi­na­das, mais econômicas em termos de ener­ frenta hoje o dilema da bai­xa demanda de pro­
gia e livres de mercúrio e arsênico. Os produtos dutos com aspectos sus­ten­tá­veis, tanto devido
iMac e Mac mini usam componentes internos e ao fato de o consumidor não com­preen­der o seu
cabos sem PVC nem brominato em sua composi­
ção, adotando embalagens que empregam bai­xo
volume de ma­te­riais, a ­maior parte re­ci­clá­veis.
Ao longo dos últimos anos, a Sony ­Ericsson
desenvolveu o con­cei­to ­GreenHeart, do qual fa­
zem parte os aparelhos C901 ­GreenHeart™ e
­Naite, ba­sea­dos em estruturas de bio­plás­ti­co, te­
clados de plástico reciclado, carregadores eco­
nômicos e ma­nuais dis­po­ní­veis na internet em
formato HTML .
Os aparelhos também pos­suem uma apli­
cação edu­ca­cio­nal em forma de jogo chamada
“Ecomate” para estimular a os consumidores a
considerarem aspectos so­cioam­bien­tais em suas
atitudes co­ti­dia­nas.
No setor au­to­mo­bi­lís­ti­co, o Polo ­BlueMotion,
da V­ olkswagen, lançado em março de 2009, pro­
por­cio­na ao usuá­rio um consumo de combustí­
vel e um índice de emissões 15% menores do
que o modelo con­ven­cio­nal. Para tanto, o veí­cu­
lo teve alterações mecânicas e eletrônicas, com
uma nova relação de marchas e a reprogramação
do ge­ren­cia­men­to da injeção eletrônica.
O fato de contar com novos di­fe­ren­ciais ae­ro­
di­nâ­mi­cos resulta em redução de atrito e conse­
quente di­mi­nui­ção de consumo. A sílica presen­
te na composição do jogo de ­pneus e a direção
com assistência eletro-​hidráulica exigem menos
esforço do motor, o que reduz o consumo de
combustível e as emissões de CO ². “A  empresa
rea­li­za sistematicamente pesquisas qualitativas
para ava­liar a acei­ta­ção dos consumidores a no­
vas propostas de produtos, que neste caso tam­
bém inclui produtos sus­ten­tá­veis, como o Polo
DEZEMBRO 2009  Ideia Socioambiental  25
por meio de um certificado, a boa origem da
carne bovina oferecida em suas gôndolas Des­
de então, passou a acompanhar todas as etapas
da cria­ção até o abate do rebanho. Atual­men­te,
a ini­cia­ti­va certifica cerca de 700 produtos em
todo o mundo.
No Brasil, essa ini­cia­ti­va teve início em 1999
e hoje disponibiliza cerca de 75 itens, entre le­
gumes, verduras, frutas, ovos cai­pi­ras, quei­jos e
carnes. Para integrar o programa, o produto pre­
cisa cumprir requisitos como, por exemplo, con­
trole de pragas e doen­ças por meio de agentes
na­tu­rais e a disposição de depósitos ou re­ser­
va­tó­rios para abrigar as embalagens va­zias até
que sejam en­via­das para reciclagem. Hoje, 15%
de tudo que é vendido na rede já contem o selo
“Garantia de Origem”.
De acordo com Roberta, da FGV, existe uma
pré-​disposição ­maior dos consumidores para
comprar produtos orgânicos ou itens com ori­
gem e regularidade dos processos atestados.
Já  os produtos com um apelo so­cioam­bien­tal
enfrentam mais dificuldades. “Há  diversas bar­
rei­ras cul­tu­rais dependendo da solução que se
apresenta. No caso dos orgânicos, os consumi­
dores sabem que esses alimentos pos­suem me­
nos agrotóxicos, o que mostra que o consumo
ain­da está mui­to ligado à questão in­di­vi­dual da
saú­de”, avalia.
No ­Walmart, a linha “Sentir Bem” possui
100 itens de venda e a rede pretende chegar a
di­fe­ren­cial, quanto pela falta de acesso econômi­ 200 ain­da em 2009. Alguns produtos exclusivos,
co para a maio­ria da população. “O setor enten­ como o sabão em pedra TopMax, (o chamado
deu que precisa disponibilizar esses produtos e produto de ciclo fechado). O produto é feito a
tem fei­to um esforço. Mas, mui­tas vezes, não há partir do óleo de cozinha arrecadado dos clien­
demanda su­f i­cien­te. Falta acei­ta­ção”, afirma. tes, que é enviado à fabricante do sabão e pos­
O ­Carrefour Brasil apresenta um portfólio de te­rior­men­te revendido no Maxxi Atacado do Rio
orgânicos, com destaque para o Viver Orgânico, Grande do Sul e Santa Catarina, uma loja de ata­
uma das prin­ci­pais fa­mí­lias da linha Viver, marca cado do grupo ­Walmart, e até o final do ano o
própria lançada em 2006. Os produtos são certi­ deve chegar a ou­tros estados.
ficados por empresas independentes que defi­ Esse produto, que já vendeu cerca de 11 to­
nem os cri­té­rios de certificação de orgânicos no neladas, tem o preço mais bai­xo do que o lí­
mundo — livres de agrotóxicos, pesticidas, an­ der da categoria e possui o mesmo desempe­
ti­bió­ti­cos, e objetos de uma produção susten­ nho de seus concorrentes. “No  pri­mei­ro mês,
tável. Segundo Pau­lo Pia­nez, do ­Carrefour, gra­ vendemos umas pou­cas unidades. No  segun­
ças à sua capacidade “única” de comunicação do, o volume começou a au­men­tar e hoje o sa­
com o consumidor, as redes de supermercado bão é líder. Fizemos ações de comunicação em
têm o dever de estimular a educação, exercen­ um ponto de venda tanto para estimular o con­
do um “papel fundamental na consolidação de sumidor a trazer o óleo quanto para falar so­
um mercado sustentável.” bre os be­n e­f í­cios do produto final. Trata-se
Em 1991, por cau­sa da doen­ça da vaca lou­ de uma solução b para o am­bien­te e também
ca, a rede varejista ­criou o programa Garantia para o bolso”, afirma Yuri Feres, consultor de
de Origem na França para assegurar ao cliente, sustentabilidade do Wal-​Mart.
26  Ideia Socioambiental  DEZEMBRO 2009
Disponível em todas as lojas da rede, No pós-​consumo está o ­maior desa­
ou­tro produto desenvolvido pelo Wal-​ fio re­la­cio­na­do ao desenvolvimento de NA CABECEIRA
Mart é o Eco​line, um telefone cujos com­ produtos sus­ten­tá­veis. Ainda que esfor­
ponentes de plástico são fei­tos de car­ ços sejam dedicados à redução de ma­te­
caça de computadores usados. A  rede riais, subs­ti­tui­ção de subs­tân­cias nocivas,
procurou uma empresa que lhe vendia não re­ci­clá­veis ou não bio­de­gra­dá­veis, o
aparelhos de telefone com a ­ideia de descarte inadequado prejudica a quali­
tentar ­criar um produto diferente e essa dade de todo o ciclo. Pou­cas empresas,
companhia par­cei­ra buscou sucata de no entanto, se dispõem a recolher seus
computadores velhos para produzir as produtos após o uso, até porque qual­
novas peças. A empresa também inves­ quer ação desse tipo requer coo­pe­ra­ção
te em um cobertor 100% fei­to de garra­ com o poder público e, principalmente,
fa PET. Cada unidade utiliza 200 garrafas com os consumidores. “Graças aos cata­
recicladas. Desde o lançamento em fe­ dores não estamos numa si­tua­ção caó­ti­
ve­rei­ro de 2008, já foram co­mer­cia­li­za­ ca. Como não há uma legislação clara so­
dos mais de 100 mil exemplares nas lojas bre o tema, a ­maior parte das empresas
do grupo. “Há empresas que já têm me­ se finge de morta e dei­xa essa responsa­
tas re­la­cio­na­das a produtos sus­ten­tá­veis bilidade na mão do consumidor. Já  que
para cada uma de suas ca­te­go­rias. Essa o Estado não se manifesta, as empresas
ligação entre o produtor e o varejo é o de­ve­riam tomar a ini­cia­ti­va e se engaja­ Ca­deia completa
que precisa ser trabalhado. Às  vezes, o rem em projetos de educação am­bien­tal”, Junto a ferramentas de responsabilidade social
varejo deseja ter mais produtos, porém propõe Mascaro. corporativa já consagradas, como os relatórios de
não sabe onde encontrá-los e os produ­ No caso da HP, o que a empresa tem sustentabilidade, o design passa a ser contempla-
tores alternativos desconhecem os ca­ fei­to é buscar formas de rein­se­rir os re­ do com grande destaque na corrida por processos
minhos para apresentar seus produtos”, sí­duos no próprio processo produtivo. produtivos menos impactantes. Design Sustenta-
destaca Roberta, da FGV. Cerca de 50% dos cartuchos novos da vel – Caminhos Vir­tuo­sos oferece a oportunidade
Trabalhar em parceria com fornecedo­ companhia contém re­sí­duos de antigos de vislumbrar os fenômenos so­ciais determinantes
res é uma questão central para a inserção cartuchos. Além disso, a companhia im­ para a transformação das formas de consumo e
da sustentabilidade no varejo. Na ini­cia­ti­ plementou, no último mês de fe­ve­rei­ro suas ime­dia­tas conseqüências: a am­plia­ç ão do
va intitulada “Pacto pela sustentabilidade”, de 2009, o centro de reciclagem de car­ compromisso das grandes empresas frente a toda
o Wal-​Mart firmou uma série de compro­ tuchos, por meio do qual os re­sí­duos, a ca­deia de produção e a demanda crescente tanto
missos com 300 fornecedores, 200 ONG s, após tratamento e rea­di­ti­va­ção no Ca­ por produtos quanto por embalagens am­bien­tal­
além de ou­tros ­stakeholders em relação a nadá, voltam a compor o processo pro­ men­te res­pon­sá­veis.
temas como desenvolvimento sustentá­ dutivo das impressoras, componentes, Para contar a história dessa transformação,
vel da Amazônia, redução de embalagens partes e peças. ­Fabrice ­Peltier e ­Henri ­Saporta abordam temas
e ca­deias produtivas mais sus­ten­tá­veis. “A diferença entre fazer isso e não fa­ como o au­men­to de­sen­f rea­do do consumo e o
Para a construção desses compromissos, zer são milhões de dólares investidos em progressivo descarte de embalagens, empregando
a empresa rea­li­zou os “Diá­lo­gos pela Sus­ pesquisa e desenvolvimento. Essa atitude o con­cei­to de design durável. Neste sentido, os
tentabilidade”, fórum com representantes diferencia mui­to as empresas que traba­ au­to­res apostam na explicação do uso de ma­te­
da so­cie­da­de civil, governo, fornecedores lham com uma visão sustentável de ou­ riais reciclados e re­ci­clá­veis como fio condutor do
e fun­cio­ná­rios. tras empresas nas ­quais a única preo­cu­pa­ relato que levantam dois pontos básicos aos ­quais
ção é coletar. Em logística reversa, coletar devemos dar atenção para otimizar o desempenho
Os desafios não é gestão de sustentabilidade. É bom da gestão de toda a ca­deia de consumo: a di­mi­nui­
do pós-consumo fazer, mas quando se coleta, está apenas ção do volume de re­sí­duos no pós-​consumo e a se-
O  esforço de desenvolver um produto se juntando o lixo, não conferindo-​lhe gunda vida das embalagens. Integram também a
sustentável não se encerra com a compra uma disposição sustentável no processo”, coleção as edições A Água – Fonte de Inovações,
deste pelo consumidor. Em  um ciclo fe­ avalia Sai­di, da HP. ❧ e A Lata – Solução de Futuro.
chado, o pós-​consumo inicia, na verdade,
ou­tra etapa fundamental, em que o pro­ Leia mais perspectivas do consumo Design Sustentavel – Caminhos Virtuosos
duto segue o ciclo contrário ao de produ­ responsável e sobre comportamento Fabrice Peltier e Henri Saporta
ção. Busca-​se formas de rea­pro­vei­tar ou do consumidor no Brasil na matéria Editora Senac
reciclar seus componentes, reduzindo ao a seguir (página 28) Preço R$ 40,00
mínimo os re­sí­duos gerados.
DEZEMBRO 2009  Ideia Socioambiental  27

Você também pode gostar