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INÍCIO INTERNACIONAL
ENTREVISTA
Michael Löwy, sociólogo brasileiro radicado na França / José Eduardo Bernardes/Brasil de Fato
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29/01/2019 Anticapitalismo, Ecossocialismo E Movimentos Sociais: Uma Entrevista Com Michael Löwy | Brasil de Fato
Michael Löwy: Boa pergunta… É difícil saber se o período revolucionário aberto pela
Revolução Cubana segue até hoje, de alguma forma, ou se ele terminou logo depois de
1990 (derrota dos Sandinistas [Nicarágua], dos Acordos de Paz em El Salvador). Talvez
o futuro nos dê a resposta. Outra hipótese é considerar terminado o capítulo iniciado
em 1959 e de nir os últimos 25 anos como “a batalha antineoliberal”: é um período no
qual se ensaia, em vários países do continente, saídas do inferno neoliberal. Uma
hipótese mais otimista seria falar de um período de “socialismo do século 21”, mas
isso é, por enquanto, mais um horizonte de esperanças que uma realidade social. O que
caracteriza esse período é: 1) a grande dispersão da referência marxista, que já não é
limitada às correntes “clássicas” da esquerda; 2) a vitória eleitoral da esquerda na
maioria dos países, mas com uma diferenciação muito clara entre os governos social-
liberais (Brasil, Uruguai, Chile) e os anti-imperialistas (Venezuela, Bolívia, Equador),
com várias situações intermediárias.
Em primeiro lugar, acredito que nós, os marxistas, temos que estar dispostos a
aprender com os movimentos sociais: sejam os mais “clássicos”, como o movimento
operário e o camponês, ou os mais “heterodoxos”, como o feminismo, o indigenismo,
as redes de luta contra o racismo. Trata-se, nestes últimos casos, de problemáticas –
as formas não classistas de opressão – pouco desenvolvidas na tradição marxista. Vale
a pena também “reinventar” as outras correntes revolucionárias do socialismo –
incluindo as que Marx e Engels já haviam “refutado” – como os socialistas utópicos,
os anarquistas e o que eu chamaria de “socialistas românticos”: William Morris,
Georges Sorel, Charles Péguy. Temos também que estar abertos às contribuições do
pensamento social não marxista, de Max Weber a Sigmund Freud, ou de Karl
Mannheim a Hannah Arendt, o que não signi ca, claro, aceitar todos seus
apontamentos.
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Mas penso que a principal insu ciência da tradição marxista – ainda que se encontrem
alguns elementos importantes sobre essa temática na obra de Marx e Engels – é a
questão ecológica. Uma re exão marxista no século 21 tem que dar a isso uma
importância central pela ameaça que representa, para a humanidade, o processo de
destruição capitalista acelerada do meio ambiente e dos equilíbrios ecológicos
(mudança climática); isso implica uma revisão da visão tradicional do
“desenvolvimento das forças produtivas” e mesmo do socialismo. O conceito de
“ecossocialismo” busca traduzir essa nova visão ecológica e antiprodutivista da
revolução socialista.
O movimento da juventude estudantil no Chile e a luta dos Mapuches são alguns dos
movimentos sociais mais importantes da América Latina nos últimos anos. Creio que
os anticapitalistas devem apoiar sem reservas essas mobilizações, tratando de
impulsionar sua dimensão antissistêmica e fazendo propostas concretas que enfrentem
a lógica do capitalismo neoliberal.
Duas das referências históricas do marxismo que você estudou são Walter Benjamin e
Rosa Luxemburgo. Quais seriam, na atualidade, as principais contribuições ao
marxismo dessas referências?
O que os dois têm em comum é a ênfase na luta de classes como eixo central do
pensamento e da ação marxista. Rosa Luxemburgo representa uma das formas mais
radicais da loso a da práxis: é na ação coletiva, na luta, que se desenvolve a
consciência de classe e a auto-organização dos oprimidos. Por isso, a democracia, ou
seja, a participação efetiva da classe explorada nas decisões, é uma condição
fundamental do processo de transformação revolucionária da sociedade.
Você militou junto com Daniel Bensaïd [ lósofo francês, teórico do movimento
trotskista na França e dirigente da Quarta Internacional] durante muitos anos. Qual é,
no seu ponto de vista, o principal legado teórico dele?
São muitas as contribuições de Daniel Bensaïd, mas a mais importante me parece ser
seu apontamento – inspirado por Pascal e pelos trabalhos do marxista
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Você também escreveu bastante sobre Che Guevara. Onde você acredita que se
encontra a vigência de seu pensamento?
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Muitos ecologistas criticam Marx por considerá-lo um produtivista. Tal crítica nos
parece equivocada: ao fazer a crítica do fetichismo da mercadoria, é justamente Marx
quem coloca a crítica mais radical à lógica produtivista do capitalismo, a ideia que a
produção de mais e mais mercadorias é o objeto fundamental da economia e da
sociedade.
Quais seriam, na sua opinião, as principais tarefas das e dos militantes ecossocialistas
nos países da América Latina?
Para nalizar, você poderia falar sobre a importância que, na atualidade, adquire a
unidade das e dos anticapitalistas?
Permita-me citar um bonito artigo de José Carlos Mariátegui para o Primeiro de Maio
de 1924: “Uma variedade de tendências e grupos bem de nidos e distintos não é um
mal; ao contrário, é um sinal de um período avançado no processo revolucionário. O
que importa é que esses grupos e essas tendências saibam como atuar em conciliação,
frente à realidade concreta do dia a dia. (…) Que não empreguem suas armas (…) para
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ferir um ao outro, mas sim para combater a ordem social, suas instituições e seus
crimes”.
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produtividade”
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