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Teste de Português –10.

ºA
Janeiro de 2016
TÓPICOS DE CORREÇÃO

Grupo 0
Partindo do teu estudo de Gil Vicente, preenche, na tua folha de respostas, os espaços com
a informação adequada. (15 pontos)

Gil Vicente foi um dramaturgo e poeta português. Criador de vários autos e farsas, é considerado o
pai do teatro português. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de
músico, ator e encenador. Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de Belém, mestre
da balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel.
A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para
o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram
regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem
instituída, ao questioná-la.
O seu nome apareceu pela primeira vez, em 1502, quando encenou a peça “Auto da Visitação”/
“Monólogo do Vaqueiro”, em homenagem ao nascimento do príncipe, futuro rei D. João III.
O valor do teatro vicentino reside na sátira/crítica, muitas vezes agressiva, contrabalançada pelo
pensamento cristão. Da sua observação não deixou ninguém de fora: papa, rei, clero feiticeiras,
alcoviteiras/outros, moças casadoiras, judeus/outros agiotas, escudeiros/outros, etc… Sua galeria de
personagens tipo é rica e variada.
Gil Vicente faleceu em Évora, Portugal, no ano de 1536.

Grupo I

Lê o texto com atenção e reponde às questões que te são apresentadas.

1. Divide o excerto em cenas e atribui-lhes um título sugestivo. (10 pontos)


3 cenas (ver texto). Títulos em resposta livre.

2. Atenta na personagem Inês no início da ação.


2.1 Carateriza o seu estado de espírito e relaciona-o com a informação contida na primeira
didascália. (15)
Inês é uma personagem revoltada com a sua condição de ter de “lavrar” (por isso ela finge
lavrar como indica a didascália…) e de não poder fazer o que quer… deseja libertar-se da vida
que tem…

2.2 Considerando os cómicos vicentinos, interpreta uma das comparações utilizadas pela jovem
para intensificar a sua situação emocional. (10 pontos)
Cómico de linguagem: “como panela sem asa” / “sam eu coruja ou corujo” dão a ideia da
inutilidade da sua vida (panela sem asa) ou da solidão e dependência em que se encontra
(coruja ou corujo)…

3. Atenta no diálogo entre a Inês e a mãe.


3.1 Descreve o tipo de relacionamento entre ambas e verifica a existência de pontos de vista
diferentes.(15)
Relacionamento pouco amistoso…pontos de vista diferentes… Inês detesta as tarefas
domésticas e quer casar para se libertar do jugo da mãe… a mãe, pelo contrário, acha que ela é
preguiçosa e apressada para se casar…
4. Atenta na conversa entre as três mulheres.
4.1 Comenta a primeira reação de Inês às palavras de Lianor. (10 pontos)
“E quando Lianor Vaz?” – esta pergunta revela a pressa que Inês tem em se casar e sair da
casa da mãe…nem mesmo pergunta quem é o seu pretendente… a sua principal preocupação é
o “quando” e não o “quem”…
4.2 Sintetiza as condições impostas por Inês para aceitar um marido. (15 pontos)
Inês quer um marido discreto e avisado, ou seja, um homem bem falante, sensato e culto que
saiba comportar-se em sociedade…

4.3 Identifica e explica o trocadilho presente nessa conversa. (10 pontos)


“Diz que em camisa vos quer”. Significa que casa com ela sem dote, mas simultaneamente
implica uma relação de intimidade que advém do casamento esperado…

5. Redige e introduz no texto uma nova didascália que consideres em falta. (Transcreve o verso
que se lhe seguiria.) (5 pontos)
Resposta livre.

Grupo II (50 pontos)

VERSÃO 1
1. Indica o referente do pronome pessoal presente no verso: “ao diabo que o eu dou”. (v.12)
O – o lavrar
(Eu- Inês)

2. Da mesma família do nome “enfadamento” (v.15) indica: um nome, um adjetivo, um verbo.


um nome - enfado
um adjetivo - enfadado
um verbo – enfadar

3. Divide e classifica as orações presentes nos versos: “Primeiro eu hei de saber se é parvo”
(v.122)
Primeiro eu hei de saber – oração subordinante
se é parvo – oração subordinada substantiva completiva

4. Analisa sintaticamente o seguinte verso: “eu mãe sam aguçosa” (v.79)


eu - sujeito
Mãe - vocativo
sam aguçosa - predicado
aguçosa – predicativo do sujeito

5. Indica o tempo e modo verbal das conjugações presentes nos versos: “Quem já visse esse
prazer” (v.84); “que assi o tenho assentado” (v.117)
Visse – pretérito imperfeito do conjuntivo
tenho assentado – pretérito perfeito composto do indicativo

6. Escolhe um verso que tenha um adjetivo e reescreve-o num outro grau à tua escolha. Indica-o.
Resposta livre.

7. Identifica um processo fonológico da evolução do latim para o português nas seguintes


palavras: assi; Madanela.
assi > assim - paragoge
Madanela> Madalena – metátese
VERSÃO 2

1. Indica o referente do pronome demonstrativo presente no verso: “Folgo mais de falar nisso”.
(v.95)
nisso – como queres tu casar/ nam estar tão singela, ou seja no casamento

2. Da mesma família do nome “cegueira” (v.16) indica: um adjetivo, um verbo, um advérbio.


um adjetivo - cego
um verbo - cegar
um advérbio - cegamente.

3. Divide e classifica as orações presentes nos versos: “sam algum caramujo que nam sai senão à
porta?” (v.46)
sam algum caramujo - oração subordinante
que nam sai senão à porta – oração subordinante adjetiva relativa restritiva.

4. Analisa sintaticamente os seguintes versos: “veredes vós minhas flores a discrição” (v.128)
veredes a discrição - predicado
a discrição – complemento direto
vós - sujeito
minhas flores - vocativo

5. Indica o tempo e modo verbal das conjugações presentes nos versos: “Leixemos isto, eu
venho” (v.104); “que assi o tenho assentado” (v.117)
Leixemos – presente do conjuntivo
Venho – presente do indicativo
tenho assentado – pretérito perfeito composto do indicativo

6. Escolhe um verso que tenha um adjetivo e reescreve-o num outro grau à tua escolha. Indica-o.
Resposta livre.

7. Identifica um processo fonológico da evolução do latim para o português nas seguintes


palavras: alevantar; naceu-te.
alevantar>levantar - aférese
naceu-te> nasceu-te - epêntese

Grupo III (50 pontos)

O que caracteriza o casamento no início do século XXI é a pluralidade de modelos de conjugalidade,


que vão desde os casais com vínculo matrimonial legal até aos coabitantes temporários ou
definitivos; dos casais hetero aos homossexuais; dos casais que optam por não ter filhos aos que
fazem inúmeras tentativas de inseminação artificial; daqueles que dividem as tarefas domésticas e
profissionais até aos que mantêm funções complementares ou optaram pela mulher trabalhar fora
enquanto o marido cuida da casa e das crianças; dos casais de dupla carreira, em que ambos
investem num projeto profissional e competitivo, aos que optam “por um amor e uma cabana”.
(Araújo, 2002; Fleck & Wagner, 2003; RochaCoutinho, 2004)

Num texto bem estruturado de 200 a 300 palavras, apresenta as tuas considerações sobre a instituição
do casamento na atualidade.
CENA 1 50 que possa estar à janela 100 Mãe: Aqui vem Lianor Vaz.
1 Entra logo Inês Pereira e é já mais que a Madanela Inês: E ela vem-se benzendo.
finge que está lavrando só em quando achou a aleluia. (…)
casa, e canta esta cantiga:
55 CENA 2 105 CENA 3
5 Quien con veros pena y muere Vem a Mãe da igreja e não na Lianor: Leixemos isto, eu
qué hará cuando no os viere? achando lavrando diz: venho com grande amor que vos
tenho
(Fala) Logo eu adevinhei porque diz o exemplo antigo
60 lá na missa onde eu estava 100 que amiga e bom amigo
10 Renego deste lavrar como a minha Inês lavrava mais aquenta que o bom lenho.
e do primeiro que o usou a tarefa que lhe eu dei.
ao diabo que o eu dou Acaba esse travesseiro. Inês está concertada
que tam mau é d'aturar. 65 Ui naceu-te algum unheiro4 105 pera casar com alguém?
15 Oh Jesu que enfadamento ou cuidas que é dia santo? Mãe: Até 'gora com ninguém
e que raiva e que tormento Inês: Praza a Deos que algum nam é ela embaraçada9.
que cegueira e que canseira. quebranto5 Lianor: Em nome do anjo bento
Eu hei de buscar maneira me tire de cativeiro. eu vos trago um casamento
dalgum outro aviamento. 70 110 filha nam sei se vos praz.
20 6
Mãe: Toda tu estás aquela . Inês: E quando Lianor Vaz?
Coitada assi hei d'estar Choram-te os filhos por pão? Lianor: Já vos trago aviamento.
encerrada nesta casa Inês: Prouvesse a Deos que já é
como panela sem asa 75 rezão 115 Inês: Porém nam hei de casar
25 que sempre está num lugar. de nam estar tam singela7. senam com homem avisado
E assi hão de ser logrados Mãe: Olhade lá o mau pesar inda que pobre e pelado
dous dias amargurados como queres tu casar seja discreto em falar
que eu posso durar viva com fama de preguiçosa? que assi o tenho assentado.
e assi hei d'estar cativa 80 Inês: Mas eu mãe sam aguçosa8 120 Lianor: Eu vos trago um bom
30 em poder de desfiados1. e vós dais-vos de vagar. marido
rico, honrado, conhecido.
Antes o darei ao diabo Mãe: Ora espera assi vejamos. Diz que em camisa vos quer.
que lavrar mais nem pontada 85 Inês: Quem já visse esse prazer 125 Inês: Primeiro eu hei de saber
35 já tenho a vida cansada Mãe: Cal-te que poderá ser se é parvo se é sabido.
de jazer sempre dum cabo2. que ante Páscoa vem os Ramos
Todas folgam e eu não Nam te apresses tu Inês Lianor: Nesta carta que aqui
todas vem e todas vão maior é o ano que o mês. vem pera vós filha d'amores
onde querem senam eu. 90 Quando te nam percatares 130 veredes vós minhas flores
40 Ui que pecado é o meu virão maridos a pares a discrição que ele tem.
ou que dor de coração? e filhos de três em três. Inês: Mostrai-ma cá quero ver.
Lianor: Tomai. E sabeis vós ler?
Esta vida é mais que morta 95 Inês: Quero-m'ora alevantar. 135 Mãe: Ui e ela sabe latim
45 sam eu coruja ou corujo Folgo mais de falar nisso e gramáteca e alfaqui
ou sam algum caramujo assi Deos me dê o paraíso e sabe quanto ela quer.
que nam sai senão à porta? mil vezes que nam lavrar. (…)
E quando me dão algum dia Isto nam sei que o faz.
licença como a bugia3

1
ocupada a bordar
2
estar sempre na mesma posição
3
criada negra
4
inflamação na unha
5
feitiço
6
convencida
7
solteira
8
tenho pressa
9
comprometida

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